ATIVIDADE ANTIOMICROBIANA E ANTIOXIDANTE DE EXTRATOS DE PRÓPOLIS OBTIDOS ATRAVÉS DA EXTRAÇÃO POR FLUIDO SUPERCRÍTICO Juliana Cristina Pereira Calado1; Leticia Cavalcanti dos Santos2; Fernando Antonio Cabral3; Maria Cristina Marcucci4 Área do Conhecimento: Ciências da Vida. Palavras-chaves: própolis; atividade entimicrobiana; atividade antioxidante; extração supercrítica INTRODUÇÃO A própolis é uma resina natural produzida pelas abelhas e utilizada pela população para o tratamento de inúmeras condições médicas, incluindo inflamação, dor e infecções bacterianas. Quimicamente, a própolis apresenta diversos compostos, sendo que na denominada de “verde” estão presentes vários compostos fenólicos. Recentemente, foi demonstrada a tipificação das amostras de própolis no Brasil, associando-as a atividades biológicas específicas. A tipificação é um processo importante que emprega marcadores químicos para caracterizar amostras de própolis provenientes de regiões geográficas distintas. A finalidade deste projeto é quantificar os marcadores químicos da própolis verde e de frações obtidas através da extração por fluido supercrítico, empregando-se a CLAE. Concomitantemente, será avaliado o teor de Artepillin C, o principal marcador da própolis em questão, em amostras de alecrim, a principal fonte vegetal para a elaboração desta própolis. Paralemente, será avaliada a atividade biológica desta própolis, frações e de amostras de alecrim em ensaios biológicos, tais como ação antioxidante e atividade antimicrobiana, entre outros. Para isso, serão utilizados métodos químicos através de CLAE, e métodos e ensaios biológicos in vitro, além da quimiometria que será empregada para estabelecer correlações entre a composição química e as atividades antioxidante e antimicrobiana. Midorikawa et al (2001) identificaram a presença de Artepillin C, ácido 4-hidroxi-3-prenilcinâmico, ácido p-cumárico e canferide em amostras de própolis brasileira. Sawaya et al (2004) usaram cromatogramas obtidos por “electrospray ionization mass spectrometry” para caracterizar e identificar amostras de própolis oriundas da Europa, EUA, África e das diferentes regiões do Brasil, identificando os seguintes componentes: ácido p-cumárico, 3-metoxi-4hidroxicinamaldeido, 2,2-dimetil-6-carboxietenil-2H-1- benzopirano, ácido 3-prenil-4-hidroxicinâmico, crisina, pinocembrina, ácido 3,5-diprenil-4-hidroxicinâmico (Artepillin C), ácido dicafeoilquímico, entre outros. Pelo exposto, baseando-se no fato de que a própolis é um produto de alto valor no mercado internacional e o Brasil possui um grande potencial para a sua produção, já que produz própolis de excelente qualidade (considerada hoje a melhor do mundo), verificou-se a não existência no Brasil de nenhuma pesquisa usando CO2 supercrítico para fracionar a própolis. Porém, esta técnica que emprega a propriedade anti-solvente para o fracionamento da própolis já é realidade no Japão (JAFRA, 2004), produzindo assim um produto diferenciado e de altíssimo valor agregado. Considerando também a possibilidade de encapsular os princípios ativos de própolis usando o dióxido de carbono como solvente ou anti-solvente, os objetivos que serão especificados no próximo item foram estabelecidos como proposta para este trabalho. OBJETIVOS Avaliar o conteúdo de substâncias fenólicas através da cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) quantitativa dos extratos de própolis obtidos através da técnica de extração por fluido supercrítico. Comparativamente, determinar o teor de Artepillin C em amostras de alecrim, a fonte vegetal para a elaboração da própolis verde. Verificar a atividade antimicrobiana e antioxidante das amostras. Estudante do Curso de Biomedicina; e-mail: [email protected] Estudante do Curso de Biomedicina; e-mail: [email protected] Professor da Universidade Estadual de Campinas; e-mail: [email protected] Professor da Universidade Bandeirante de São Paulo; e-mail: [email protected] -- METODOLOGIA Uma amostra de própolis bruta do tipo verde, de boa qualidade, proveniente da região sudeste do Brasil foi fornecida pela Bioessens Ltda. A amostra contém 8,2 mg/ g de ácido p-cumárico e 44,0 mg/g de Artepillin C. Esta amostra foi fracionada no Laboratório Extrae (Laboratório de Extração Termodinâmica Aplicada e Equilíbrio) da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp. As amostras de alecrim (Baccharis dracunculifolia) foram cedidas pelo Centro Plurisdisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Unicamp. Metodologia para a Obtenção do Extrato Etanólico da Própolis (EEP) O extrato etanólico de própolis foi obtido através da mistura de 3 gramas de própolis bruta com 10 ml de álcool etílico p.a. (ou na mesma proporção) em agitador magnético na temperatura ambiente por 1 dia. Após esse procedimento, a amostra foi filtrada para a separação da porção insolúvel, o filtrado armazenado em freezer por 24 horas e filtrado novamente para a redução do teor de gordura no extrato. O solvente foi evaporado em estufa a temperatura de 50°C até a obtenção do extrato seco de própolis. Cálculo do teor de sólidos solúveis Para cada um dos extratos, tanto o etanólico como os obtidos por extração supercrítica com CO2, foi observado o seguinte procedimento: foi pesado um becker de 25 ml e anotado o peso. 5 ml do extrato foram pipetados no becker e este levado à estufa a 60 ºC até a secura. O becker foi retirado e resfriou-se o que nele havia no dessecador. Pesou-se e repetiu-se a operação até peso constante. O procedimento foi realizado em triplicata. Análise da própolis por CLAE Uma quantidade de aproximadamente 50mg da própolis bruta e de todas as frações obtidas por extração em fluido supercrítico foram solubilizadas com 5ml de metanol a quente, filtrada em papel de filtro e passada por um filtro Millipore (0,45µ, Sartorius) para a análise por cromatografia líquida de alta eficiência em fase reversa (CLAE). A composição química das amostras da própolis foi avaliada por CLAE (cromatógrafo LaChrom, modelo D-7000, Fapesp proc. 95/09306-5) empregando-se uma coluna C18 em fase reversa e um gradiente linear (fluxo de 1 ml/min) composto de metanol e água acidificada com 5% de ácido fórmico. Foi utilizado um detector de rede de diodos na detecção dos picos. Atividade biológica e antioxidante Aatividade antioxidante foi avaliada empregandose o radical difenil-picril-hidrazila, conforme o método descrito por Hatano et al, 1989 e Banskota et al, 2000. Atividade antimicrobiana in vitro Os microrganismos empregados nos testes foram: Staphylococcus aureus (S.aureus) ATCC 29213, Salmonella ATCC 33277, Escherichia coli (E.coli) ATCC 25922, Candida albicans (C.albicans) ATCC 10231 e Bacillus cereus (B.cereus). As culturas de bactérias foram mantidas a –20ºC em TSB + 15% de glicerol e reativadas em meio apropriado para cada cepa. Difusão em disco A atividade antimicrobiana da amostra de própolis e das frações dela obtidas e dos extratos de alecrim foi avaliada pelo método de difusão em disco (ensaio preliminar) para confirmar suas atividades contra os microrganismos C. albicans, E. coli e S. aureus, sendo estipulada qualitativamente pelo método de difusão em disco preconizado pelo Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI, 2005). As placas foram incubadas a 37o C, exceto para a C.albicans (24oC) por 24 horas e, em seguida, o halo de inibição (em mm) foi medido com um paquímetro. Diluição em agar O método de diluição em agar, descrito pelo CLSI (2005), foi utilizado para ser comparado com o da macrodiluição descrita a seguir. A concentração inibitória mínima (CIM) da amostra de própolis, das frações dela obtidas e dos extratos de alecrim foi avaliada como se segue. As concentrações finais dos extratos hidroalcoólicos, a partir do estoque a 1%, foram 0,005%, 0,010%, 0,015%, 0,020%, 0,025%, 0,030% e 0,035%. Estas foram individualmente diluídas em meio de cultura ágar MullerHinton (Merck). O inóculo (C. albicans, E. coli, S. aureus, Salmonella e B. cereus) foi preparado através de suspensão direta de colônias com turvação equivalente a 0,5 da escala de McFarland em 5,0 ml de solução salina a 0,85%. Em seguida, foi diluído 1/10 para ser obtida uma concentração de 107 UFC/ml (unidades formadoras de colônias por mililitro). 1 μl de cada inóculo foi distribuído na superfície do ágar, sendo que a concentração final do inóculo foi de aproximadamente 104 UFC. Uma placa contendo somente meio de cultura e os inóculos bacterianos foi utilizada como controle. Todas as placas foram incubadas a 35o C por 20h. A CIM foi determinada a partir da placa em que não houve crescimento bacteriano. Este teste foi realizado somente com o material que apresentou halo de inibição, conforme descrito no item anterior. Leitura e interpretação dos resultados Para o método de difusão em disco, os resultados foram interpretados de acordo com halo de inibição alcançado pela própolis para cada microrganismo sendo a leitura dos resultados realizada a partir da medição do diâmetro dos halos em milímetros. Para o método -- de diluição em Agar, a CIM foi determinada a partir da placa em que não houve crescimento bacteriano, sendo os resultados expressos como positivo (houve inibição) e negativo (não houve inibição). RESULTADOS E DISCUSSÃO Com respeito à atividade antioxidante, empregando-se o DPPH, as amostras se comportaram de maneira distinta, isto é, algumas apresentaram boa atividade antioxidante, quando comparada com a da própolis bruta. O valor de CE50% expressa a concentração que elimina 50% dos radicais livres, isto é, quanto menor esta concentração, maior a atividade. A amostra C3 foi a que apresentou a melhor atividade antioxidante (CE50% = 7,91) sendo comparada a da própolis bruta (CE50% = 7,58). Os valores são mostrados na tabela 1. A atividade antimicrobiana das frações foi avaliada contra alguns microrganismos. A maioria das frações da própolis não inibiu os microrganismos testados, sendo que as amostras C1 a C9 apresentaram halo de inibição, empregando-se o método de difusão em disco. A amostra PB101 foi a que apresentou o maior halo de inibição (10 mm). Outras amostras da série Pb e SC também apresentaram halos de inibição. O extrato etanólico de própolis avaliado, apresentou halo de inibição somente contra S.aureus (10 mm) sendo que não foi possível realizar o ensaio com o microrganismo E.coli pois foi necessária a sua reativação. As amostras C5 e C9 apresentaram atividade antimicrobiana na concentração de 50 µg/ml contra o B.cereus. A amostra Pb101 aprensentou atividade comprovada contra B.cereus e S.aureus na concentração de 100 µg/ml, bem como o EEP contra os mesmos microrganismos nesta concentração. Nenhuma das amostras apresentou atividade antimicrobiana contra C.albicans. A amostra C5 inibiu a Salmonella numa concentração de 300 µg/ml. A tabela 6 mostra o controle microbiano, indicando a ausência do crescimento da E.coli, motivo pelo qual não foi realizado o ensaio de diluição em agar. As amostras de alecrim foram avaliadas quanto à sua atividade antioxidante e antimicrobiana (difusão em disco). As amostras testadas não apresentaram boa atividade antioxidante, quando comparadas com a própolis (resultados não mostrados). Estas amostras também não apresentaram atividade antimicrobiana. CONCLUSÕES Os resultados encontrados mostram um caminho promissor para o uso da extração supercrítica na obtenção de frações de própolis ricas em compostos fenólicos, com atividade antioxidante e antimicrobiana, conforme indicam os resultados. Os dados foram incorporados ao projeto com própolis do laboratório Extrae do Prof. Dr. Fernando Cabral da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp. A parceria firmada com o prof. Cabral foi consolidada através dos resultados mostrados no presente relatório. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BANSKOTA, A. H., TEZUKA, Y., ADNYANA, I.K., MIDORIKAWA, K., MATSUSHIGE, K., MESSAGE, D., HUERTAS, A. A. G.,KADOTA, S. (2000). Journal of Ethnopharmacology 72, 239-246. CLSI (2008). Clinical Laboratory Standards Institute. www.clsi.org. HATANO, T., EDAMATSU, R., MORI, A., FUJITA, Y., YASUHARA, T., YOSHIDA, T., OKUDA, T. (1989). Chemical and Pharmaceutical Bulletin 37, 2016-2021. JAFRA (2004) http://jafra.gr.jp/propolis-e-html SAWAYA, A.C.H.F., TOMAZELA, D.M., CUNHA IBS, BANKOVA, V.S., MARCUCCI, M.C., CUSTODIO, A.R., EBERLIN M.N. (2004). Analyst, 129, 739-744. Tabela 1 Resultados da atividade antioxidante expressos em CE50 (concentração que elimina 50% dos radicais livres em µg/ml) --