XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
ARTICULAÇÕES TEÓRICO-PRÁTICAS EM CURSO DE FORMAÇÃO DE
LÍNGUA ESTRANGEIRA: ENSINANDO ESPANHOL POR MEIO DE
MÚSICAS
Nildiceia Aparecida Rocha (FCLAr/UNESP)
Este texto pretende abordar a articulação entre a teoria veiculada em sala de aula por
professores formadores e a prática docente de alunos no curso de Letras PortuguêsEspanhol, através de um curso de extensão sobre aprender espanhol utilizando a música
como instrumento motivador no processo de ensino e aprendizagem de língua
espanhola. Focalizamos o Curso de Extensão “Aprendendo espanhol através de
músicas”, ministrado no segundo semestre de 2010, pelas professoras Nildicéia
Aparecida Rocha e Miriam Palacios Larrosa. Ao falar de ensinar uma língua estrangeira
disparam-se vários conceitos, como o conceito de língua, de língua estrangeira, de
ensinar e de ensinar língua estrangeira, de aprender e de aprender língua estrangeira,
entre outros conceitos que envolvem o cenário do processo de ensino e aprendizagem.
Esses conceitos em uma perspectiva comunicativa são traçados de acordo com
interesses e necessidades específicas dos aprendizes, da cultura de ensinar do professor
de sua competência linguístico-profissional, mas também do contexto sócio-educativo
no qual se instaura tal aprendizagem. Para não cair na desmotivação, segundo Bergillos
(2004), o curso de extensão foi concebido com objetivos que propiciassem o trabalho
com a música como elemento motivador em sala de aula e articulador entre a teoria e a
prática de modo crítico e autônomo. O referido curso de extensão teve como objetivo
central ensinar a língua espanhola vislumbrando o contato e convívio com a cultura
hispanoamericana por meio da variedade musical que representam algumas regiões e
estilos musicais do mundo hispânico, por exemplo: Argentina, Chile, Espanha, México
e Uruguai entre outros. Como resultados efetivamente concretos os alunos que
frequentaram o curso de extensão puderam articular o conteúdo aprendido no curso ao
veiculado em suas aulas de prática de ensino na formação acadêmica, propiciando
momentos coerentemente articulados entre teoria e prática em seu processo de
aprendizagem e ensino de língua espanhola.
Palavras-chave: Língua Espanhola; Motivação; Ensino de Língua Estrangeira;
Formação de Professores; Teoria e Prática.
Introdução
Este texto pretende abordar a articulação entre a teoria veiculada em sala de aula
por professores formadores e a prática docente do aluno em curso de Letras Português-
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Espanhol, por meio de um curso de extensão sobre aprender espanhol utilizando a
música como instrumento motivador no processo de ensino e aprendizagem de espanhol
como língua estrangeira. Para tal focalizamos as aulas ministradas no Curso de
Extensão “Aprendendo espanhol através de músicas”, ministrado no segundo semestre
de 2010, pelas professoras Nildicéia Aparecida Rocha e Miriam Palacios Larrosa.
Quando falamos em ensinar um idioma estrangeiro disparamos vários conceitos,
por exemplo, conceito de língua, conceito de língua estrangeira, conceito de ensinar e de
ensinar língua estrangeira, conceito de aprender e de aprender língua estrangeira, entre
outros conceitos que envolvem o cenário do processo de ensino e aprendizagem de
Língua Estrangeira. Estes conceitos em uma perspectiva comunicativa são traçados de
acordo com interesses e necessidades específicas dos aprendizes, da cultura de ensinar
do professor de sua competência linguístico-profissional, mas também do contexto
sócio-educativo no qual se instaura tal aprendizagem.
De acordo com Francisco José Lorenzo Bergillos (2004, p. 318):
Efectivamente, desde la revolución comunicativa en la metodología de
enseñanza de lenguas, la relación entre método comunicativo y
desarrollo de la motivación se convirtió en axiomático. Todos los
principios que sustentaban este enfoque metodológico convergían en
favorecer el incremento de la motivación, ya fuese bien mediante la
descripción de nuevos niveles de competencias lingüísticas, como la
competencia pragmática y la sociocultural, que superan la visión de la
lengua como mero código […]
Portanto, a abordagem comunicativa está diretamente vinculada à questão da
motivação, por gerar atitudes mais positivas, níveis de motivação mais elevados e
garantir maior nível de aprendizagem adequada. Possibilitando afirmar que o principio
de que todo acto de comunicación en el aula de L2 es un acto de aprendizaje
(BERGILLOS, 2004, p. 319), no sentido em que comunicação e motivação han sido
sólo uno, con afirmaciones como que la comunicación en el aula desarrolla la
motivación como factor esencial que conduce al aprendizaje (LITTLEWOOD, 1984, p.
31 apud BERGILLOS, 2004, p. 319).
Motivação, em uma perspectiva mais geral, é vista como um “construto
hipotético”, o qual explica os processos que sustentam a atividade direcionada a um
objetivo específico. Ao longo dos estudos sobre motivação, esta passa a ser considerada
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como fator dominante e único de aprendizagem quando há uma grande exposição do
aprendiz ao novo idioma. De acordo com Gardner (apud BERGILLOS, 2004) a
pesquisa motivacional advém da teoría de las orientaciones: orientação instrumental,
quando o sujeito em seu processo de aprendizagem implica-se como meio para adquirir
outros objetivos; orientação integrativa, quando os objetivos são de imersão na
comunidade da L2. A Teoria de Gardner costuma ser revisada a partir de cinco
princípios, os quais tem sido hegemônicos até o ponto que casi todos los estudios sobre
motivación han resultado ser, de una o otra forma, um comentário em la agenda
establecida por Gardner. (BERGILLOS, 2004, p. 309).
Por outro lado, Dörnvei (1994) sobre o desenvolvimento motivacional, distingue
três níveis diferentes: níveis linguísticos, nível do aluno, nível da situação de
aprendizagem; todos estes elementos explicam o “resultante motivacional”. Portanto, o
estudo sobre motivação passa a ser visto como construto modificável e não mais como
estudo diagnóstico.
Segundo Bergillos (2004, p. 311), os índices “motivacionais” altos trazem
consigo a energización de la actitud y la autorregulación del comportamiento, ou seja,
por um lado, haverá maior intensidade do sujeito, a qual será mantida durante mais
tempo; por outro lado, poderá ativar mais intensamente os mecanismos inatos de
aquisição da linguagem e as estratégias acadêmicas que a facilitam.
Considera, também Bergillos, que los recursos memorísticos, la localización de
la atención o el repertorio de estrategias, tanto lingüísticas como metalingüísticas,
pueden ser alterados por el grado de motivación.(2004, p. 312) Como resultante desse
processo, há duas estratégias fundamentais, as quais incidem na aprendizagem implícita
da L2: capacidade de notar o perigo, perceber as propriedades linguísticas
desconhecidas da L2; e, gerar hipóteses linguísticas sobre propósitos discursivos da
aprendizagem. Para tal, é necessário um aprendiz ativo, que se arrisque na nova língua,
sem inibição, com autoconfiança e que esteja atento na aula e em todo seu processo. Os
efeitos dar-se-ão em nível fonológico, possibilitando adquirir o novo sistema fonético e
as características suprassegmentais, propiciando a correção e aprendizagem da
entonação do novo idioma; tende a confirmar-se o nível léxico-morfológico, maior
atenção no nível de variedade lexical, com atenção para elementos formais e semânticopragmáticos.
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Especificamente trabalhamos observando o curso de extensão: “Aprendendo
espanhol através da música”, o qual recebeu um público advindo da comunidade
acadêmica da UNESP do Campus de Araraquara, sendo formado especificamente por
alunos dos cursos de Letras, Ciências Sociais, Administração e funcionários da
Unidade, compondo, portanto, uma gama muito diversificada de interesses e
necessidades, mas que apresentava em comum o seguinte elemento: pensavam em
aprender uma língua estrangeira de modo agradável, prazeroso e lúdico.
De acordo com Bergillos (2004, p. 317), a motivação em situações formais como
foi o curso anteriormente mencionado, segundo estudos realizados, permite concluir
[…] que la carencia de contacto con la comunidad o la cultura de L2,
propia de los contextos de aprendizaje con la L2 como lengua
extranjera, apuntan a que las orientaciones hacia la lengua resultan
indicadores deficientes de los niveles motivacionales. Si a este hecho
se une una más que probable percepción por parte del alumno de fala
de aprendizaje significativo en los niveles iniciales de estudio de la
L2, consustancial a la propia naturaleza del fenómeno de adquisición
de idiomas, el terreno está abonado para que la cuestión de la
motivación se torne en la de la desmotivación. (BERGILLOS, 2004,
p.317)
Com a intenção de não cair na desmotivação, como sugere Bergillos (2004), o
curso de extensão foi concebido com objetivos claros e precisos que propiciassem o
trabalho com a música como elemento motivador em sala de aula de modo crítico e
autônomo.
Para que aconteça a motivação efetiva e significativamente em sala de aula
Bergillos (2004) propõe as seguintes macroestruturas de motivação para se trabalhar em
L2 (Segunda Língua ou Língua Estrangeira), a saber:
- Transmitir um exemplo de compromisso com a disciplina e assumir os
objetivos do ensino como parte do professor; entende-se a língua como um construto
social e para tal supera-se a visão de se trabalhar com esquemas estruturais, o professor
deverá criar “reder de interação” na sala de aula de L2;
- Criar uma atmosfera relaxada na aula; desde a contribuição da abordagem
humanista, sabemos da existência de um filtro afetivo (STEPHEN KRASHEN, 1988)
que pode impedir a aquisição de L2, portanto este deve ser sempre baixo e relaxado;
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entram em jogo as correções que devem ser adequadas ao processo de aprendizagem e a
avaliação sempre contextualizada.
- Apresentar as atividades de forma ordenada, com objetivos definidos e
graduados aos níveis dos alunos.
- Fazer as aulas interessantes; identificam-se variáveis que podem incrementar o
grau de interesse com certa objetividade; ferramentas apropriadas para aumentar o
interesse: fatores como a relevância temática dos conteúdos ou o conhecimento prévio
dos conteúdos temáticos que sejam possibilitadores de aprendizagem.
- Promover a autonomia na aprendizagem; os aprendizes em geral possuem
estilo de aprendizagem próprios e definidos antes mesmo de começar um curso ou uma
disciplina; o professor deve propiciar o desenvolvimento da autonomia do aprendiz
segundo seu estilo próprio de aprendizagem.
- Familiarizar os alunos com a cultura da língua 2 (L2); a apresentação de
elementos culturais proporciona um grande grau de autenticidade e apresenta a
verdadeira dimensão da aprendizagem de língua; a inclusão de elementos culturais
recorrentes que podem servir como elemento motivados para a aprendizagem.
O autor afirma, ainda, que
[...] como la propuesta del currículo multidimensional, promueve la
interculturalidad y competencia propias de la lengua como
sociocultural. La labor del profesor en servir de puente y hacer
accesible la cultura en entornos formales resulta esencial para aliviar
futuros choques culturales cuando el proceso de aprendizaje continúe
en entornos naturales. (BERGILLOS, 2004, p. 322)
Observando os pontos acima descritos, passamos a concretizar a proposta
didática, por meio da metodologia assinalada a seguir e com o desenvolvimento que
discutimos na sequência. Queríamos saber qual seria a reação perante a particular
idealização de um curso sobre música em espanhol, sobre artistas majoritariamente
desconhecidos ao público brasileiro, e abordando uma série de estilos entre os quais se
encontravam os mais populares, mas também outros menos celebrados. A seguir,
relatamos a experiência.
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Metodologia
Quandoocurso foi planejado, as responsáveis pensaram em uma maneira
diferente de abordar o assunto. Obviamente, a música no estudo de língua estrangeira é
um dos maiores atrativos para os alunos, tendo o poder de reunir um grande público
como, com efeito, ocorreu ao ser lançado o prazo de inscrição, obrigando-nos a
aumentar o número de vagas disponibilizadas inicialmente. O fato de oferecer um curso
de formação complementar, que incluísse não apenas algumas músicas no programa,
mas cujo programa fosse composto, em sua totalidade, por músicas, constituiu a
novidade. Este, no entanto, tornou-se também o desafio: o emprego exclusivo de
elementos geralmente usados para aumentar a motivação virar o inimigo por conta do
abuso deles, resultando na impossibilidade de continuar mantendo altos os níveis de
motivação.
Assim, optou-se por apostar na diversidade e na novidade nos conteúdos
apresentados. Privilegiamos a representatividade dos mesmos nos vários panoramas aos
quais pertenciam, por cima do impacto comercial que pudesse ser atribuído a eles.
Apesar de saber que nesta última questão, as músicas tocadas pelos mais bem sucedidos
artistas à escala mundial, garantiria o apreço dos alunos, preferiu-se, na maioria dos
casos, essa outra forma de trabalho para dar corpo a uma perspectiva diferente até o
momento.
O curso de extensão “Aprendendo espanhol através de músicas” teve como
objetivo central ensinar a língua espanhola vislumbrando o contato e convívio com a
cultura hispanoamericana através do trabalho com a variedade musical que representam
algumas regiões e estilos musicais do mundo hispânico.
Ao focalizar o ensino e aprendizagem de espanhol como Língua Estrangeira
(ELE), entramos em um campo de muitos distanciamentos e aproximações.
Aproximações, porque herdeiras de um latim vulgar trazem em seu bojo linguístico uma
vasta semelhança, a qual muitas vezes pode ser motivo também de distanciamentos e
falsas confusões, falando especificamente, por exemplo, dos falsos cognatos,
heterotônicos e outros fenômenos linguísticos próprios da língua espanhola quando na
aprendizagem por um aprendiz luso-falante.
Estas questões de distanciamentos e aproximações possibilitam que o tratamento
de ensinar espanhol a falantes brasileiros seja um elemento possibilitador da
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aprendizagem e não ao contrário, portanto partimos destes elementos como facilitadores
da aprendizagem.
Com relação à música especificamente associada ao ensino diz Martins Ferreira
(2010) que
A principal vantagem que obtemos ao utilizar a música para nos
auxiliar no ensino de uma determinada disciplina é a abertura,
poderíamos dizer assim – de um segundo caminho comunicativo que
não é verbal – mais comumente utilizado. Com a música, é possível
ainda despertar e desenvolver nos alunos sensibilidades mais aguçadas
na observação de questões próprias à disciplina alvo. (p.13)
Como afirma Martins Ferreira, esta abertura atenta em nosso caso ao mundo da
música hispânica utilizando o verbal, para ensinar a língua espanhola, associado ao
despertar e desenvolver sensibilidades na aprendizagem de língua espanhola, a qual
funcionou adequadamente no curso anteriormente mencionado. Inclusive proporcionou
a autonomia quando os aprendizes procuram músicas hispânicas de seu interesse na
Internet e trouxessem para compartilhar com os colegas de classe no último dia de aula,
como um momento de dividir saberes e aprendizagens.
No tocante ao público-alvo, a turma foi composta por cerca de 40 alunos;
possuíam diferentes níveis de conhecimento da língua; na maioria entre 18 e 30 anos;
eram universitários de Letras, Ciências Sociais, Economia e Administração Pública ou
funcionários da Universidade, todos eles inscritos no Curso por opção pessoal.
A carga horária total foi de 30 horas aulas, distribuídas em 15 sessões semanais
de 2 horas cada uma, ministradas por uma das docentes – exceto a última, que teve
encaminhamento especial – e dedicada a uma temática diferente, em geral, contendo
entre uma e quatro músicas por aula. A divisão temática básica foi estruturada, primeiro,
de acordo à procedência dos artistas por país e, dentro dessa classificação, por estilo,
percorrendo, ao longo das 15 sessões, diferentes estilos e ritmos musicais de uma ampla
variedade de países de língua espanhola, de maneira a apresentar seus representantes,
suas carreiras e sua contribuição à cultura musical popular nos âmbitos nacional e/ou
internacional. Com esse intuito, foram desenvolvidas atividades para a sala de aula
abrangendo as quatro habilidades: expressão oral e escrita, e compreensão auditiva e
compreensão leitora, além de fornecer conteúdos léxicos e morfossintáticos do espanhol
e, notadamente, socioculturais.
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Discussão
A aprendizagem de línguas estrangeira utilizando músicas não é um
procedimento didático-pedagógico novo, há muito este procedimento tem sido usado
por professores de línguas estrangeiras, principalmente no momento mais atual
relacionado a uma abordagem mais comunicativa. Entretanto, novo foi o procedimento
proposta no curso de extensão “Aprendendo espanhol através da música”. A proposta
inicial seria ensinar língua espanhol de tal modo que os aprendizes fossem aprendendo
indutivamente a língua espanhola, utilizando-a o tempo todo em sala de aula, mesmo
sendo um curso de nível básico.
Durante o curso, com o objetivo de propiciar a aprendizagem de espanhol para
luso-falantes em nível inicial, principalmente na desenvoltura da fala, e tendo como
segundo objetivo conhecer a variedade musical do mundo hispânico, traçamos,
metaforicamente um passeio geográfico pelos países de fala hispânica através da música
hispânica. Especificamente fomos “passeando” pelos ritmos que representassem certas
regiões da América Hispânica. Partindo da Argentina, começamos por um estilo
próximo ao “gosto” dos aprendizes, portanto, levamos a música “Trátame suavemente”,
de Soda Stereo, apresentado uma pequena biografia do grupo, comentando sua
importância no momento histórico dos anos 80 e a repercussão deste grupo de rock no
mundo hispânico. A música foi bem aceita, a professora procedeu a escuta da música e
o visionado do vídeo, disponível no You tube, por três vezes, depois passou a explicar
questões básicas de língua espanhola, em seguida passou a leitura da letra por parte dos
alunos, praticando assim a fala. Como o interesse pelo grupo foi importante, a
professora trabalhou também várias outras músicas deste grupo, dentre elas: “Nada
personal”, “En la ciudad de la fúria”, e “De música ligera”, esta última também
gravada em português por dois grupos de rock nacional brasileiros.
Ainda neste passeio pelo Rock Argentino, foram trabalhadas as seguintes
músicas: “Un vestido y un amor” e “11 y 6” de Fito Páez, assim como “Superhéroes”
de Charly García (ainda no grupo SeruGiran), estas músicas foram tratadas como
audição da letra, leitura da mesma, interpretação do texto e compreensão do contexto
em que foram veiculadas, além disso em cada música havia a sistematização de algum
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aspecto lingüístico, como por exemplo: na música “En la ciudad de la fúria”, está
presente o uso de Voseo (emprego do pronome vos em lugar de tú para a segunda pessoa
do discurso, variedade aceitável em algumas regiões hispano-falantes, mais
especificamente el Voseo rioplatense).
Neste percurso musical pela América Hispânica, passeou-se pela Argentina de
Jorge Cafrune e AtuhualpaYupanqui, folclore argentino; viu-se a música folclórica em
Mercedes Sosa; pelo Caranavalito de Jaime Torres; por Violeta Parra e a canção mais de
protesto e romântica de Chile; no Uruguai de Jorge Drexler; pelo México do grupo
Maná e sua música romântica, além de Julieta Venegas; entre outros.
No último dia de aula, os alunos apresentaram a música preferida deles, com
vídeo e letra, dentre as quais foram trabalhadas: Te siento de Wisin e Yandel, Que
canten los niños de José Luis Perales, No te reprimas de Menudo, La tortura de
Shakira. Neste dia, os alunos além de apresentarem suas canções hispânicas prediletas
puderam verbalizar a sua autoavaliação do curso, em sua maioria positiva. Avaliação
que possibilitou oferecer novamente o curso de extensão “Aprendendo espanhol através
da música hispânica” no primeiro semestre de 2011.
Considerações finais
Como resultados concretos, relatamos que os alunos do curso de Letras
Português-Espanhol que frequentaram o curso de extensão puderam articular o conteúdo
aprendido no referido curso de extensão ao que realizaram em suas aulas de estágio
supervisionado junto a disciplina de prática de ensino de língua estrangeira, propiciando
momentos coerentemente articulados entre teoria e prática no seu processo de ensino e
aprendizagem de língua espanhola.
De acordo com os relatos de experiência com relação às aulas ministradas no
estágio supervisionado de língua espanhola, por exemplo, um grupo de alunos relatou
que durante as aulas que ministraram levaram para a sua sala de aula atividades de
escuta, leitura, discussão e compreensão de textos a partir de músicas como elemento
motivador. Além disso, relataram que a apresentação da canção partia da explicação do
momento cultural e histórico no qual a música havia surgido e que as atividades
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desenvolvidas partiam das possibilidades linguísticas da música e do momento de
aprendizagem do grupo. Esta estratégia didático-pedagógica propiciou grande interesse
por parte dos alunos que mobilizaram gostar ou não gostar das músicas apresentadas
com argumentos explicitados e em geral já utilizando a língua espanhola. Deste modo,
ativaram uma atitude de criticidade no aluno da escola pública, local de estágio, e nos
alunos da graduação do curso de Letras. Portanto, momento de crítica e reflexão sobre a
articulação entre teoria, aprendida na sua formação acadêmica, e sua prática na escola
pública.
Tomamos como exemplar as palavras de Dolores Rodríguez Cemillan (2010)
sobre como a importância de se possibilitar uma aula motivada prazerosamente com a
utilização da música em sala de aula servem como motivação para trabalhos futuros:
Para o aluno a música significa uma abordagem de língua estrangeira
mais prazerosa, espontânea e com isso também menos ansiosa, pois a
música “portadora” de texto é marcada emocionalmente e diverte,
espontânea e livre de ansiedade, pois o aluno pode e deve exteriorizar
suas emoções, sua fantasia, suas experiências, seu conhecimento, ou
seja, pode e deve mostrar-se como indivíduo. Isso resulta num
aumento da motivação para trabalhar como o tema da aula e com isso
também com a língua estrangeira e suas principais habilidades.
Referências bibliográficas:
BERGILLOS, Francisco José Lorenzo. La motivación y el aprendizaje de una L2/LE
In: SÁNCHEZ LOBATO, Jesús; SANTOS GARGALLO, Isabel (Dir.) Vademécum
para la formación de profesores. Enseñar español como segunda lengua (L2)/lengua
extranjera (LE). Madrid: SGEL, 2004, p. 305-328.
CARIONI, L. Aquisição de Segunda Língua: A Teoria de Krashen. In: BOHN, H. I;
VANDRESEN, P. Tópicos de Lingüística aplicada: o ensino de línguas estrangeiras.
Florianópolis: Editora da UFSC, 1988, p.50-74.
CEMILLAN, Dolores Rodríguez. Música na aula de língua estrangeira. Disponível
em: < http://www.manfred-huth.de/fbv/unterricht/sek/lola.htm>. Acesso em 30 março
de 2010.
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FERREIRA, Martins. Como usar a música na sala de aula. São Paulo: Contexto,
2010.
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