ID: 33032953
06-12-2010
Tiragem: 25428
Pág: 16
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 26,39 x 31,24 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 1 de 2
ENSINO SUPERIOR
130 cursos de Gestão
e de Educação correm
risco de encerrar
A Agência para Avaliação e Acreditação do Ensino Superior revela que há
cursos, principalmente mestrados, que não cumprem as condições mínimas.
Ana Petronilho e Andrea Duarte
[email protected]
É já certo que entre 250 a 300 cursos de universidades e institutos
politécnicos com os graus de licenciatura, mestrado ou doutoramento vão encerrar no próximo
ano lectivo. Quem o diz é o presidente da Agência de Avaliação e
Acreditação do Ensino Superior
(A3ES), Alberto Amaral, que
acrescenta que há 90 cursos na
área da educação e 40 de gestão
que correm o risco de fechar.
Estes cursos que vão encerrar
fazem parte de uma lista de 1.200
que foi enviada pela A3ES, durante a semana passada, para todas as
universidades e institutos politécnicos. Destes, entre 250 a 300
são cursos que “foram retirados
pelas instituições” do processo de
avaliação, o que resulta no seu
encerramento. No entanto, este
número é ainda provisório e pode
vir a subir quando forem lançados
os resultados definitivos do processo de avaliação que estão previstos para as próximas semanas.
O presidente da Agência de
Acreditação diz que é cedo ainda
para antecipar quais as áreas dos
cursos mais afectados pelos fechos, mas ainda assim Alberto
Amaral revela que Educação e
Gestão são algumas das atingidas:
“As áreas da Educação no ensino
superior têm 90 cursos e a Gestão
40”, explicou. São sobretudo
mestrados e nas áreas de Educação e Gestão, depois de uma primeira triagem da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino
Superior (A3ES).
Da lista global fazem parte os
cursos que estão em funcionamento e que apresentam dúvidas
quanto às suas condições, ou
porque não tinham alunos inscritos ou porque as qualificações
dos professores não eram adequadas, explicou ao Diário Económico Alberto Amaral.
Dos 1.200 cursos que figuram
na lista cerca de 800 cursos são de
universidades e 400 de politécnicos. Dentro das universidades, há
270 licenciaturas, 400 mestrados
e 130 doutoramentos, de acordo
com o presidente da A3ES. Restam cerca de 500 cursos que seguirão o processo de acreditação,
continua Alberto Amaral.
“Foi constituída uma base de
dados e foi a partir de indicadores
aplicados a essa base que vimos
os cursos que ofereciam dúvidas”, continua Alberto Amaral.
Desses ciclos de estudo, distinguiram-se “cerca de 400 cursos
que foram aprovados pela Direcção Geral do Ensino Superior depois do prazo de entrada dos alu-
nos, portanto no ano 2009, mas
que já podem ter alunos em
2010/2011” e que poderão entrar
em funcionamento, diz o presidente da agência.
O que é certo é que o universo
de 4.376 cursos do Ensino Superior português vão ser reduzidos.
Os alunos inscritos nos cursos
cujo fim se confirme podem ser
transferidos para ciclos de estudo
semelhantes, mas Alberto Amaral
explica que a decisão sobre o destino destes estudantes está nas
mãos do Ministério da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior e
das instituições.
Instituições aplaudem avaliação
Alberto Amaral
Presidente da A3ES
“Os cursos que apresentam
dúvidas quanto às condições
de funcionamento não têm alunos
inscritos ou as qualificações
dos professores não são
as adequados”.
Luis Reto
Reitor do ISCTE
“Já era tempo de haver,
em Portugal, uma avaliação
para que se aumente a qualidade
e os níveis de exigência”.
Todas as instituições de Ensino
Superior contactadas pelo Diário
Económico vêem com bons
olhos a avaliação: “Já era tempo
de haver, em Portugal, uma avaliação para que se aumente a
qualidade e os níveis de exigência”, diz Luís Reto, reitor do ISCTE. Uma opinião partilhada pelo
vice-reitor da Universidade de
Lisboa, Vasconcelos Tavares,
para quem “é necessário separar
o trigo do joio”.
O ISCTE vai encerrar seis mestrados e doutoramentos nas áreas
das Ciências Sociais e Tecnologias, mas ainda vai submeter nove
cursos a avaliação. Já a Universidade Técnica de Lisboa, segundo
Ana Fonseca, encerrou cinco
mestrados, dos quais três do ISEG,
e duas licenciaturas do IST: a de
Química e a de Ciências da Engenharia e Engenharia do Território.
Maria de Lurdes Correia Fernandes, vice-reitora da Universidade do Porto, considera o trabalho da A3ES essencial já que “é
importante que haja uma entidade independente que levante algumas questões e que leve as instituições a ponderar o que faz
sentido, a decidirem na perspectiva do bem público”.
Um optimismo dos responsáveis das instituições de Ensino
Superior que se alastra aos resultados definitivos da avaliação da
A3ES, que deverão ser divulgados
nas próximas semanas. ■
CURSOS EM RISCO
● Foi enviada para as
universidades e politécnicos uma
lista, na semana passada, feita
pela Agência de Avaliação e
Acreditação do Ensino Superior
(A3ES), com 1.200 cursos que
estão em risco de encerrar.
● Dos 1.200 cursos da lista
da A3ES, cerca de 800 são
de universidades e 400
de institutos politécnicos.
● Dos 800 cursos das
universidades, fazem parte cerca
de 270 licenciaturas, 400
mestrados e 130 doutoramentos.
A falta de alunos
ou de qualificação
dos professores
são alguns dos
critérios a ter em
conta na avaliação
dos cursos.
ID: 33032953
06-12-2010
Tiragem: 25428
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País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 26,77 x 33,10 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 2 de 2
Paulo Alexandre Coelho
ENTREVISTA MIGUEL COPETTO
Investigador da Universidade Autónoma de Lisboa
“O ensino
superior não pode
ser um logro”
Miguel Copetto defende que os
cursos têm que ser dignos das
instituições de Ensino Superior.
Ana Petronilho
[email protected]
”Concordo que exista uma avaliação e acreditação da oferta de
cursos do Ensino Superior”. É
esta a posição do investigador
da Universidade Autónoma de
Lisboa, Miguel Copetto, que
acredita que este processo é essencial porque só a partir dos
resultados da A3ES é possível
conseguir “dados quantitativos
e qualitativos sobre o que se
passa no Ensino Superior”.
Concorda com a avaliação feita
pela A3ES?
Claro, sem dúvida. Existem algumas questões que necessitavam de ser vistas, mas, seja
como for, concordo que exista
uma avaliação e acreditação da
oferta de cursos de Ensino Superior.
Porquê?
Porque, por um lado, não se tem
uma verdadeira noção da maisvalia dos cursos que existem em
Portugal e, além disso, é preciso
ver se todos os cursos respeitam
os critérios previstos na lei e que
são os padrões mínimos de qualidade. É importante também
para analisar melhor a questão
do ‘ratio’ do número de doutores em relação ao número de estudantes. Com esta avaliação é
possível verificar-se como é que
estão as formações em Portugal.
É pertinente fazer-se isso. No
caso do particular e cooperativo
isso já era feito pela DGES, mas
no Ensino Superior do Estado
ainda não era feito.
O encerramento de cursos pode
acentuar as diferenças entre as
instituições do interior do país e
as dos centros urbanos?
Acho que a questão mais importante é que o Ensino Superior
não pode ser um logro. A oferta
dos cursos tem que ser digna do
local onde está. Se existem formações que não correspondem
a patamares de qualidade para o
Ensino Superior, isso é um logro. Nesses casos, penso que é
preferível o encerramento. Mas
atenção que, mesmo no litoral,
existem cursos que não dispõem
dos recursos humanos que exis-
tem no país. Dou-lhe dois
exemplos: não existe um número de doutores em Artes que
permitam que os cursos nessa
área respondam aos requisitos
legais. Não existem em Portugal. Em Direito também não.
A avaliação pode pôr em risco o
cumprimento do Contrato de
Confiança?
Se já tivesse sido feita a avaliação, poderia responder a essa
questão. Neste momento, ainda
estou na expectativa.
A diminuição de cursos pode
incorrer no risco de virmos a
ter, no futuro, menos estudantes universitários?
Não, de maneira nenhuma.
Aquilo que se está a procurar fazer é uma racionalização do número de cursos, que era importante fazer. Quer no número de
cursos, quer no número de instituições em Portugal.
Que expectativas tem para o futuro, a nível da reestruturação e
da oferta de cursos? Que impacto vai ter esta avaliação?
Vamos ficar a ter dados quantitativos e qualitativos sobre aquilo que se passa no Ensino Superior português, que é uma coisa
que não existia. As pessoas falam
relativamente à qualidade, ou
das instituições ou dos cursos,
sem terem dados. A partir do
momento em que se faz a avaliação e a acreditação vai ser possível, de uma forma qualificada e
quantificada, poder passar a ter
dados sobre isto. ■
“
Não existe um
número de doutores
em Artes que
permitam que os
cursos desta área
respondam aos
requisitos legais.
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130 cursos de Gestão e de Educação correm risco de encerrar