JOGO E RESISTÊNCIA: PERCEPÇÕES
DO MALANDRO NA LITERATURA BRASILEIRA
Leandro Nascimento Cristino (UFRJ)
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A variedade de perspectivas com que o personagem malandro
é abordado na ficção brasileira demonstra a riqueza dessa figura e
ajuda na compreensão do fascínio e interesse que desperta até hoje.
Desde Leonardinho em Memórias de um sargento de milícias,
romance de Manuel Antônio de Almeida, até Passistinha em Cidade
de Deus, escrito por Paulo Lins, são observados aproveitamentos
distintos nos textos analisados: ora como o tipo brejeiro ou sedutor,
mais próximo de sua idealização, como em Ópera do malandro
(Chico Buarque), ora como um sujeito bem pouco simpático, no
papel de antagonista, como em Clara dos Anjos (Lima Barreto).
Contudo, a habilidade de trânsito e negociação se confirma em todos
os exemplares. De igual modo, o jogo se manifesta como um dos
traços mais básicos da malandragem. Independentemente da
modalidade, a prática lúdica pode se revelar como emblema de um
comportamento singular, ousado e criativo. Essa percepção é mais
evidente quando se analisa o conto Malagueta, Perus e Bacanaço, de
João Antônio. Seus protagonistas percorrem bares de São Paulo em
busca de grandes apostas nas mesas de sinuca. Ao conjugar sua
técnica sobre o pano verde e o acaso, nem sempre favorável, esses
malandros aproximam jogo e vida, cuja imprevisibilidade demanda
coragem e habilidade para superação dos obstáculos. Essa leitura
revela um malandro flexível e dinâmico, capaz de contrariar o
pessimismo de muitos analistas contemporâneos, afirmar sua
vitalidade e resistir ao tempo.
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