CONCEITOS E DENOMINACOES: RELACOES EM LEXICOLOGIA,
LEXICOGRAFIA E TERMINOLOGIA
Maria Aparecida BARBOSA (Universidade de Sao Paulo) - Coordenadora
Jeni Silva Turazza (pontificia Universidade Cat6lica de Sao Paulo)
Guiomar Fanganiello CALCADA (Universidade de Sao Paulo)
Luiz Carlos COSTA (Universidade Federal de Uberlandia)
ABSTRACT: This paper examines some epistemological and methodological aspects
of Lexicology, Lexicography and Therminology, the relations between the concepts of
"concept" and "denomination", the lexical discription, the terminological production,
the lexicographical production and also its importance in the development of
discourse of the different areas ofknowledege.
Este Grupo de Trabalho examina aspectos relevantes do processo
constitui~o e permanente reconstitui~o de vocabulanos e de tenninologias
metalinguagens tecnico-eientificas. Estuda processos de produ~o de conceitos,
denominay5es, de reestruturay5es de significados, em mvel conceitual, sistemico e
discurso manifestado. Procura ver sua importfulcia e decorrencias
ensino/aprendizagem das linguagens de especialidade e da lingua geral.
de
e
de
de
no
1. Processos de cientificidade e banaliza~ao em tenninologia: a tenninologiza~o e a
vocabulariza~ao
A sessao foi coordenada por Maria Aparecida Barbosa, que apresentou
trabalho sobre 0 tema "Processos de cientificidade e banaliza~ao em tenninologia: a
terminologiza~ao e a vocabulariza~ao". Foram examinados, em seu trabalho, os
seguintes aspectos: 0 discurso metalingiiistico de uma ciencia ou de uma tecnologia; a
tipologia de processos de tenninologiz~ao e de vocabulariza~ao; rela~oes possiveis
entre os elementos do conjunto termo e os elementos do conjunto vocabulo; fun~o
termo e fun~o vocabulo.
Preliminarmente, importa observar que, ao longo do processo hist6rico,
sempre existiram rela~oes de domina~o entre paises, Estados e na~oes. As formas
tradicionais de imperialismo, como, por exemplo, os imperios persa, grego helemstico,
romano, retomadas no Renascimento com as grandes navegacOes, notabilizaram-se por
sua eficacia na constituicao e consolidacao dos imperios portugues, espanhol, holandes,
belga, atingindo seu apogeu com 0 imperio britanico. Esse tipo de dominacao imperial
sustentava-se em aspectos comuns, como ocupacao fisica dos territ6rios, com tropas e
esquadras, controle da burocracia, eficiente e universalizante, imposicao da lingua da
metr6pole e, conseqiientemente, da visao de mundo e dos valores socioculturais do
colonizador, exploracao extrativista, apropriacao de terras, controle da producao
agropecwiria e das trocas comerciais. Essa forma de imperialismo tradicional comecou
a entrar em declinio no secuIo XIX e miu completamente, em conseqiiencia das duas
grandes guerras mundiais do seculo XX. 0 imperialismo, em sua forma tradicional,
tomou-se inviavel e nao rentavel. Assim, a partir do fim da segunda guerra mundial,
surgiram novas formas mais sofisticadas de imperialismo ou dominaC§o entre nacOes,
paises, Estados e sociedades, mais eficazes, rentaveis e seguras para 0
colonizador/dominador.
Em sua forma atual, neste fim de secuIo, a dominacao imperial sustenta-se em
ciencia, tecnologia e informafliio. 0 desenvolvimento tecnico-eientifico tomou-se
condicao sine qua non da sobrevivencia economica e social de Estados e nacOes, da
geracao de empregos, da manutencao do ordenamento social. Os grandes centros de
producao cientifica e tecnol6gica vendem (ou alugam) tecnologia aos paises menos
desenvolvidos, que passam, entao, a fase do 'desenvolvimento dependente'. A
transferencia de fundos e capitais financeiros faz-se por rede virtual, incontrolavel
mesmo para 0 Estado tradicional. Organizaram-se blocos economicos, como 0 Nafta e
a Uniao Europeia, de paises ricos e desenvolvidos, e blocos de pobres, como 0
Mercosul. A velha politica do idioma, de imposicao da lingua da 'metr6pole' nao foi
abandonada mas aperfeicoada. 0 controle do processamento da informacao tomou-se
mais eficaz na medida da imposicao de terminologias tecnico-cientificas. Assim, a
lingua geral da 'metr6pole' e privilegiada e, ao mesmo tempo, os pesquisadores, os
cientistas, os administradores de empresa, os tecnicos sao levados a empregar, na
pr6pria lingua materna, a terminologia 'normalizada' por grandes agencias
internacionais, encarregadas do controle da informacao (ISO, AFNOR, etc.). A midia
encarrega-se da difusao da terminologia especializada, condicao de acesso a
informacao para especialistas e, simultaneamente, da banalizacao, da vulgarizaC§o, de
forma que 0 sistema de valores dominante se imp6e ao conjunto das populacOes,
levando a uma homogeneizacao, a uma padronizacao de linguagem e valores
socioculturais. Convem, pois, examinar aspectos dos processos de constituiC§o e
permanente reconstituicao da cientificidadelbanalizaC§o, da terminologizacao
Ivocabularizacao, de grande impacto na vida cientifica, economica e social.
Observa-se que 0 universo de discurso metalingiiistico da ciencia representacao e sintese de suas descobertas e saber construido - se preciso e hem
elaborado, leva a aprimorar a pratica profissional, seus modelos conceituais e
epistemol6gicos. 0 crescimento e a produtividade do discurso cientifico demonstram a
necessidade de construcao e permanente reconstrucao de urn vocabulario proprio,
preciso e consensual, instrumento de analise e descricao, que nao s6 permite definir e
circunscrever areas e subareas cientificas, como tambem lhes proporciona aplicacao
mais rigorosa, produtiva e eficaz dos seus principios. metodos e tecnicas. Ressalte-se
que a constru9&oda ciencia e indissociavel da elabora~ao de sua metalinguagem: a
propor~ao que esta se vai constituindo, consolida-se a ciencia e sua identidade
epistemologica.
Examinando-se 0 conjunto tenninologico de areas cientificas e tecnicas,
chega-se a classifica9&o: a) subconjunto de termos criados em detenninada area,
exclusivos e caraeterizadores dessa area; b) subconjunto de termos provenientes da
lingua geral, que sofrem altera9&ode conteudo; c) subconjunto provenientes de outras
areas cientificas e tecnicas, que sofrem altera9&o parcial ou total de conteudo; d)
subconjunto de termos complexos, em que urn termo e emprestado de outra area e
combinado com termo da propria area.
Analisa-se 0 termo terminologiza9iio, definido na Norma ISO 1087 como 0
processo pelo quai urn vocabulo e transformado em termo. Nessa acep9&o,considera-se
terminologiza9iio stricto sensu como transposi9&o de urna unidade lexical da lingua
geral para uma linguagem de especialidade. E necessario, segundo a Autora, ampliar a
conceP9&odesse processo, acrescentando 0 termo terminologiza9lio lato sensu, como
processo de conversiio do conceito em termo. A rela9&o,no primeiro caso, estabelecese entre plano lingUistico e plano lingUistico; no segundo, estabelece-se entre plano
conceitual e plano lingUistico (la mise en terme ou denomina9iio).
PropOea Autora, tambem, 0 termo vocabulariza9iio para 0 processo inverso, 0
de transfo~o
de termo (de metalinguagem) em vocabulo (da lingua geral).
Conforme a conceP9&ote6rica, chma-se esse processo bana/iza9iio, vulgariza9iio ou
populariza9iio. PropOe, ainda, 0 termo metaterminologiza9iio,
a transposi~ao de urn
termo de ulna area cientifica elou tecnica para outra area. Subdivide-se em dois tipos:
os que conservam parte do significado original e os que modificam totalmente, ou
quase, 0 significado.
Examinam-se, entao, os diferentes tipos de rela~
entre os elementos do
conjunto termo e os do conjunto vocabulo. Duas conclusOes oosicas sao apresentadas:
uma unidade lexical nao e vocabulo ou termo, por sua propria natureza, mas esta em
fun9iio termo ou em fun9iio vocabulo, ou seja, 0 universo de discurso em que se insere
determina 0 seu estatuto em cada caso; dai decorre a possibilidade de distribuir a
unidade lexical em urn eixo continuum do maior grau de cientijicidade ao maior grau
de bana/iza9iio (Barbosa, 1998).
2. Nomear ~ designar: processos que se mobilizam na palavra e se dinamizam no
texto processo pela constru9&oda coesao.
Jeni Silva Turazza examina aspectos de nomea~ao/designa~o no processo
textual. Esse texto, reflexao tematizada na palavra, produto de objetiviza9&opelo qual
o homem expressa pelo c6digo lingUistico 0 que foi subjetivizou pela linguagem.
Discute-se a palavra, tendo como ancoragem fundamentos teoricos da LingUistica de
Texto: vertente cognitiva-s6cio-interativa da LingUistica Textual, desenvolvida a partir
de 1960, e melhor sistematizada a partir de 1980. (.Kock:1990). Segundo estudiosos do
texto - unidade de observa~ao, analise e descri~o dos fenomenos lingUisticos - 0
principio basico para 0 tratamento adequado deste fenomeno e a textualidade: processo
pelo qual se constr6i a textura para os enunciados produzidos em situa~ao de intera~o
comunicativa; em que 0 enunciado e compreendido como produto da enuncia~ao,
frases contextualizadas por situa~OeSde 050 efetivo e nao produzidas por urn falante
ideal. Essa textura se explica por urn conjunto de fatores dentre os quais tern merecido
maior aten~ao a coesao e a coerencia, categorias que garantem a unidade textual: a
referencia tematizada e designada na mieroestrutura do texto produto por elementos
lexicais e por regras gramaticais. Os estudos que tratam dos processos de coesao tern
sido organizados por duas modalidades: "(...)formas de coesiio realizadas atraves da
gramatica e outras, atraves do lexico." (Kock, 1989:17), que se revelam insatisfat6rias
para 0 tratamento coesao referencial - "(".J a coesiio referencial e, sem ditvida muito
mais complexa do que jicou esbo9ado nas rejlexoes desse capitulo" (Kock, 1989: 48).
Tal insatisfa~o parece decorre do fato de haver necessidade de conceber a coesao
numa dimensao psicolingiiistica, visto serem dessa natureza os fundamentos te6ricos
que a postulam e, assim sendo, situar tanto os conhecimentos lingiiisticos como os
"nao-lingiiisticos" no homem e, no ambito do lingiiistico, diferenciar lexico de
gramatica, visto ser este Ultimoformalizado pela gramatica, mas nao equivalente a ela.
Entende-se 0 lexico como 0 espa~ de estrutura~o e reestrutura~o de conhecimentos
de mundo, formalizados pela gramatica da lingua; de sorte que, ele e tentacular,
remetendo-se ao lingiiistico e ao nao lingiiistico, especificamente, no caso de lexias da
classe de designa~o.
A conce~o de coesao referencial deve ser tratafa a partir dos processos de
constru~o da referencia textual, por itens lexicais relevantes, manifestados na
microestrutua do texto processo, urna vez que 0 lexico 0 espa~o pelo - no qual se ciaoos
processos de designa~o das coisas e/ou estado de coisas do(s) mundo(s). Tais
processos tern sido compreendidos como represebta~Oesconstruidas por mediatiza~s
com os acontecimentos da realidade e 0 texto, como sendo 0 lugar de manifesta~o de
novas representa~Oesde mundo. Dessa forma, a coesao referencial implica a adequa~ao
entre designa~Oes,(re)classifica~ao, ancoragem que ocorrem durante os processos de
nominaliza~ao (a~o pela qual se transforma 0 estranho em familiar, nominalizando)
de representa~s de estados de mundos por itens lexicais, selecionados no lexico ativo
e passivo do produtor. Nesse processo complexo de dar nome as representa~s, 0
homem condensa na designa~o urn conjunto de predi~s
que compreendem
proposi~Oesque buscam descrever as representa~Oesno que elas sao, como sao e como
ele as ve, ou as concebe, 0 que implica novas classifica~s. Assim, na dimensao do
discurso, ele tanto formaliza as designa~Oespor condensa~s, quanto por predica~s;
pois, ao predicar, ele vai inserindo no que e aquilo que ele ve ou ere ver. Como as
designa~Oes, na dimensao vocabular, abarcam 0 vocabulario do grupo, inserido no
vocabulano da lingua, os conhecimentos condensados pelo grupo em forma de
predica~Oesvao seno redimensionados pelo seu novo ponto de vista. Ancorando no
velho 0 novo, os conteUdos semiolingiiisticos vao sendo redimensionados, a medida
que, pela designa~ao, ele vai tecendo conhecimentos grupais com os individuais,
valendo-se do principio da elasticidade do discurso e das regras gramaticais, para ir
construindo, pelas categorias lingiiisticas, e manifestando, por substancias fono16gicas
ou ortognificas, seu texto processo na dimensao da linearidade do c6digo (GREIMAS
& COURTES, 1979). Nesse sentido, a constru~o da referencia textual da-se pelo uso
de estrategias de condensa9ao e de expansiio: a primeira condensa na designa~o as
predica95es que expressam conhecimentos de mundo que silo parcialmente partilhados;
a segunda predica para a designa9ao conhecimentos que abarcam a tessitura do novo
como 0 velho conhecimento, de maneira que, ao repetir a designa~o por rela95es
anaf6ricas ou cataf6ricas, as pro-fonnas lexicais vao incorporando 0 novo na tessitura
do velho. Por essa razao, 0 retomado nao se configura pela rela~o de total identidade
e, ainda, por ser urn processo integrado aqueles da nominaliza~o, ao designar ja se faz
referencias a representa95es que, por terem uma ancoragem, vilo redesenhando novos
referentes textualmente construidos. Nesse sentido, tratar a coesilo referencial por
mecanismos de remissao, cancelando os processos de designa~o, nao parecer
possibilitar explicitar a constru~o dos sentidos locais e globais do texto, tambem
articulados por uma rela~o necessaria, cuja compreensilo implica a conce~o de
palavra como sinal detonador dos processos de produ~o de sentidos que, se por urn
lado mobiliza conhecimentos de mundo parcialmente partilhados, por outro, dinamizaos por processos de re-significa~o, quando em rela~o intralexical.
Guiomar Fanganiello Cal93da discute as rela90es entre lexico e sentido,
particularmente no tocante aos neologismos.
o desenvolvimento da comperencia lexical e condi9iio indispensavel para a
compreensao e para a interpreta~o das mensagens escritas e orais. Ele se toma
imprescindivel para 0 acesso aos diferentes tipos de textos. Ressaltamos aqui aqueles
de cunho literano, tendo em vista nao somente 0 uso poetico da linguagem mas
tambem as diferentes epocas de sua produ~o. Como 0 lexico responde a leis de
organiz~o estrutural, 0 conhecimento dessas leis permite-nos verificar que as
palavras nao silo elementos esparsos de urn inventario desordenado: situam-se umas
em rela~o as outras por urn jogo de rela90es e de oposi96es que, sozinhos, lhes
conferem uma fun~o lingiiistica em nivel de organiza~o do significado (Galisson,
1970).
Lembramos que todo sistema lingiiistico contem unidades lexicas, inventario a
disposi~o dos falantes, unidades estruturadas de acordo com regras que permitem aos
usuarios a cria9ao de novas palavras mais adequadas as suas necessidades de
comunica~o. Assim, unidades neol6gicas como as demais unidades lexicas, devem ser
consideradas em seus aspectos formal e semantico na lingua, no enunciado e no ato de
enuncia9ao dentro de urn processo dinamico de motiva9ao, desmotiva~o e remotiva9ao
(Barbosa,1996).
Segundo Martin Alonso (1982), a lingua deve ser estudada como urn artificio
psicol6gico e social, sujeito a continuas muta90es, exposta, por urn lado, ao desgaste e,
por outro, dirigida para seu gradual aprimoramento. Nesse dinamismo constante, as
palavras seguem as varia90es dos objetos e sentimentos que representam. Elas ativam 0
processo semfuttico, mediante a mudan<ra dos conceitos, 0 que pode ocorrer por
necessidade de clareza, por problemas de classifica<raoou de matiza<raodo significado.
As ideias de urn mesmo objeto podem oferecer diferentes matizes e acep<r6es
variadissimas, donde a presen<rados neologismos para enriquecer uma serie lexical ou
a serie de empregos de uma palavra, sem que a base lexical ou os empregos anteriores
da mesma palavra desapare<ram de vez.. Conseguir expressar as coisas com
propriedade, com 0 matiz adequado a ideia concebida, e a maior fortuna dos escritores.
Por esse motivo, focalizaremos 0 neologismo bilingua/idade, criado por
Raquel de Queiros, na cronica 0 bilingiiismo emergente, publicada no jornal 0 Estado
de Slio Paulo, em 23 de maio do corrente ano.
Sob a alega<rao de que apenas deseja reclamar 0 mal que considera
irremedilivel, Raquel de Queir6s preve a oficiliza<raodo ingles como segunda lingua do
Brasil e assim se manifesta:
"Pena que essa bilingualidade (perdoem 0 neologismo) nao nos tenha
chegado, ja nao digo por meio emdito, mas pelo menos por oralidade
conseqiiente: 0 que recebemos e a giria do "show business" (e proibido falar
"espetaculo") dapub/icidade desenfreada (vide anUncios da televisao)". (grifos
nossos)
Como se observa, a autora, ao tratar de urn futuro bilingilismo, faz sua
inova<rao lexical, focalizando mudan<ras s6cio-culturais para as quais procura
direcionar nossa aten<rao. No texto, 0 neologismo bilingua/idade encontra-se em
processo sinonimico com 0 termo do titulo em que se detaca 0 bilingiiismo.
Temos ai uma cria<rao individual da escritora para atender as suas
necessidades de expressao, face as mudan<rasque se operam em nossa sociedade e
justificam 0 aparecimento de novos lexemas. A palavra usada por Raquel de Queir6s,
dentro das possibilidades do sistema. surge devido a exigencia de urn novo conceito
adequado a tradu<raoda realidade atual.
o neologismo sintlitico criado intencionalmente, nesse processo sinonimico,
refor<raa presen<ra do atributo de duas "linguas" presentes na base do processo
derivacional por sufixa<rao. Enquanto em bilingiiismo a forma indica apenas a
existencia de duas linguas ( da qualidade ou propriedade ), em bilingua/idade temos a
indica<raode algo que tem rela<raocom a qualidade ou propriedade das duas linguas.
Logo a qualidade ou a propriedade deixa de ser intrinseca e bilingualidade nao se
refere a oficializa<rao do portugues e do ingles, propriamente ditos, mas sim do
portugues e da lingua inglesa reduzida a urn falar proprio dos brasileiros de Miami, 0
miames, segundo a autora.
A presen<radesses dois neologismos empresta ao texto uma tonalidade ironica,
evidenciando a sua fun<raoconativa em concorrencia com a referencial. Ha assim, alem
da informa<raodo novo designatum urna informa<raocritica, ideo16gica, satirica, cuja
descri<raodetlhada escapa ao objetivo deste trabalho.
4. Problemas do ensino/aprendizagem de terminologias de disciplinas do segundo
grau
Luiz Carlos Costa examina questOesrelevantes do ensino de terminologias das
ciencias que figuram como disciplinas nucleares no ensino do segundo grau. Ressalta
que sempre houve uma grande insatisfa~ao das gera~Oes mais velhas, quanto ao
dominio do vocabulcirioativo e passivo das gera~s mais novas, e que, nos dias atuais,
o sentimento do debito das crian~s, adolescentes e jovens se agravou bastante, devido,
principalmente, a chamada democratiza~ao da escola pUblica. A peniuia verbal foi tao
longe que alguns jornais diarios, como a Folha de Sao Paulo, alem de deliberadamente
empobrecerem lingiiisticamente 0 seu texto, 'traduzem' sempre toda e qualquer palavra
considerada dificil pela sua pretensa natureza especializada ou abstrata.
A escola fundamental e media, que responde pela educ~o geral dos
cidadaos, mantem, diante da pobreza vocabular dos seus alunos, atitude de inercia e de
grande perplexidade. Desassistidos e desorientados, os professores se ressentem da
falta de orienta~o mais segura a respeito do ensino/aprendizagem do vocabulcirio da
lingua portuguesa, porque a profusao das tecnica e caminhos apontados sao
extremamente variaveis e confusos. Nao hci,presentemente, na programa~o dos cursos
de lingua portuguesa, no ensino brasileiro, uma preocupa~o com os aspectos
qualitativos e quantitativos do vocabulcirio. 0 como ensinar vocabulcirio tambem
permanece sem rumo claro e definido.
Torna-se necessaria uma mudan~ de dir~o no ensino/aprendizagem do
vocabulario da lingua portuguesa. Reconhecer a natureza dos fatos vocabulares talvez
seja urn born com~. Aceitar que existe urn grau bastante elevado de entropia e ruido
textual, que tern origem no desconhecimento das palavras, constitui uma importante
tomada de consciencia, para 0 inicio de urn trabalho efetivo no ensino. Estudar e
assimilar que as palavras apresentam numerosos niveis de uso - geral, culto, erudito,
insolito, literano, popular, gino, terminolOgico, grosseiro, regional, arcaico,
estrangeiro, neolOgico - constitui constitui condi~ao oosica de direcionamento do
trabalho escolar. De posse desse conhecimento, 0 professor podera avaliar 0 verdadeiro
filtro vocabular do ensino formal que seleciona rigorosamente 0 nivel vocabular com
transito permitido em sala de aula, da norma cultural aceita pela comunidade.
Sera possivel verificar que, em classe, somente transitarao livremente os
niveis de uso geral, culto, literario e terminol6gico. Dentre estes, curnpre privilegiar 0
vocabulario terminol6gico, em razao da pouca aten~o que a escola the dedica.
Prosseguindo nessa reflexao sobre 0 vocabulcirioveiculado na e pela escola, contatas-se
que existe urn autentico dialeto escolar - uma variante, uma subdivisao da lingua,
formada por coIijuntos e subcoIijuntosvocabulares.
Estabelecer e trabalhar sistematicamente esses conjuntos e subconjuntos
constitui tarefa oosica, para alcan~ar urn ensino vocabular de qualidade. Nessa linha de
tratamento lexical, no ensino medio, podem organizar-se os diversos conjuntos das
disciplinas do nucleo comum - lingua portuguesa, literatura brasileira, matematica,
geografia, historia, biologia, jisica e quimica, com seus respectivos subconjuntos,
como sucede, por exemplo, com a biologia: citologia, histologia, genetica, anatomia,
jisiologia. No conjUntovocabular da fisio10gia, poderia ser destacado 0 subconjunto da
digestao, exempli gratia.
Outro trajeto possive1, na procura do conhecimento mais aprofundado e
fecundo do vocabulario esco1ar, seria a fixa~o de crirerios norteadores do seu
estabe1ecirnento.A tarefa prelirninar da e1ei~0 de urn corpus de extra~o seria seguida
pe1aesco1hade urn criterio (freqiiencia, exaustividade).
Uma questao que sobre1eva pe1a sua impomncia para a atual sociedade
funcional e pragrnatica e 0 estudo do vocabulario terrnino16gico, que deve ser,
essencialmente, multidisciplinar. Firrnaclo ern adequada teoria 1exico16gica e
1exicogrlifica, 0 professor tern me1hores condi~s tecmcas para exarninar, avaliar,
exp10rar e aplicar os produtos 1exicogrlificos existentes no mercado editorial e
destinados, a principio, a ajudar os alunos nas suas atividades vocabulares (Costa,
1996).
RESUMO: Este trabalho examina alguns aspectos epistemologicos e metodolOgicos
da lexicologia, da lexicograjia e da terminologia, mais precisamente as relat;oes entre
"conceitos" e "denominat;oes", a descrit;iio lexical, a produt;iio lexicognijica, a
produt;iio terminolOgica e, tambem, sua importancia no desenvolvimento do discurso
de areas do conhecimento.
BARBOSA, M. A. (1998) Terrnino10giza~0, vocabu1ariza~o, cientificidade,
nanaliza~o: re1a~s. In: Acta semiotica et linguistica, V. 7. (Sao Paulo, P1eiade)
p.25-44.
-----------(1996)
Lingua e Discurso: contribuit;iio aos estudos semanticosintaticos. 4. ed. (Sao Paulo, P1eide)
COSTA, L.c. (1996) Os rninidicionarios e 0 ensino aprendizagem do vocabulario da
lingua portuguesa. In: Letras & Letras, V.l2., n.o 2. (UberIandia, Universidade
Federal de Uberlandia) p. 215-221.
GALLSSON, R (1970) L' apprentissage systematique du vocabulaire. (paris,
HachettelLarousse).
GREIMAS, A . 1. et COURTES, 1. (1979) Semiotique. Dictionnaire raisonne de la
tMorie du langage. (Paris, Hachette GREIMAS).
MARTIN ALONSO (1982). - Ciencia del lenguaje y arte del estilo. (Madrid,
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KOCK, I. V. (1990)A Coesiio Textual (Sao Paulo: Contexto).
TURAZZA, J. S. (1996) Uxico e Criatividade. (Sao Paulo, P1eiade).
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