CONCEITOS E DENOMINACOES: RELACOES EM LEXICOLOGIA, LEXICOGRAFIA E TERMINOLOGIA Maria Aparecida BARBOSA (Universidade de Sao Paulo) - Coordenadora Jeni Silva Turazza (pontificia Universidade Cat6lica de Sao Paulo) Guiomar Fanganiello CALCADA (Universidade de Sao Paulo) Luiz Carlos COSTA (Universidade Federal de Uberlandia) ABSTRACT: This paper examines some epistemological and methodological aspects of Lexicology, Lexicography and Therminology, the relations between the concepts of "concept" and "denomination", the lexical discription, the terminological production, the lexicographical production and also its importance in the development of discourse of the different areas ofknowledege. Este Grupo de Trabalho examina aspectos relevantes do processo constitui~o e permanente reconstitui~o de vocabulanos e de tenninologias metalinguagens tecnico-eientificas. Estuda processos de produ~o de conceitos, denominay5es, de reestruturay5es de significados, em mvel conceitual, sistemico e discurso manifestado. Procura ver sua importfulcia e decorrencias ensino/aprendizagem das linguagens de especialidade e da lingua geral. de e de de no 1. Processos de cientificidade e banaliza~ao em tenninologia: a tenninologiza~o e a vocabulariza~ao A sessao foi coordenada por Maria Aparecida Barbosa, que apresentou trabalho sobre 0 tema "Processos de cientificidade e banaliza~ao em tenninologia: a terminologiza~ao e a vocabulariza~ao". Foram examinados, em seu trabalho, os seguintes aspectos: 0 discurso metalingiiistico de uma ciencia ou de uma tecnologia; a tipologia de processos de tenninologiz~ao e de vocabulariza~ao; rela~oes possiveis entre os elementos do conjunto termo e os elementos do conjunto vocabulo; fun~o termo e fun~o vocabulo. Preliminarmente, importa observar que, ao longo do processo hist6rico, sempre existiram rela~oes de domina~o entre paises, Estados e na~oes. As formas tradicionais de imperialismo, como, por exemplo, os imperios persa, grego helemstico, romano, retomadas no Renascimento com as grandes navegacOes, notabilizaram-se por sua eficacia na constituicao e consolidacao dos imperios portugues, espanhol, holandes, belga, atingindo seu apogeu com 0 imperio britanico. Esse tipo de dominacao imperial sustentava-se em aspectos comuns, como ocupacao fisica dos territ6rios, com tropas e esquadras, controle da burocracia, eficiente e universalizante, imposicao da lingua da metr6pole e, conseqiientemente, da visao de mundo e dos valores socioculturais do colonizador, exploracao extrativista, apropriacao de terras, controle da producao agropecwiria e das trocas comerciais. Essa forma de imperialismo tradicional comecou a entrar em declinio no secuIo XIX e miu completamente, em conseqiiencia das duas grandes guerras mundiais do seculo XX. 0 imperialismo, em sua forma tradicional, tomou-se inviavel e nao rentavel. Assim, a partir do fim da segunda guerra mundial, surgiram novas formas mais sofisticadas de imperialismo ou dominaC§o entre nacOes, paises, Estados e sociedades, mais eficazes, rentaveis e seguras para 0 colonizador/dominador. Em sua forma atual, neste fim de secuIo, a dominacao imperial sustenta-se em ciencia, tecnologia e informafliio. 0 desenvolvimento tecnico-eientifico tomou-se condicao sine qua non da sobrevivencia economica e social de Estados e nacOes, da geracao de empregos, da manutencao do ordenamento social. Os grandes centros de producao cientifica e tecnol6gica vendem (ou alugam) tecnologia aos paises menos desenvolvidos, que passam, entao, a fase do 'desenvolvimento dependente'. A transferencia de fundos e capitais financeiros faz-se por rede virtual, incontrolavel mesmo para 0 Estado tradicional. Organizaram-se blocos economicos, como 0 Nafta e a Uniao Europeia, de paises ricos e desenvolvidos, e blocos de pobres, como 0 Mercosul. A velha politica do idioma, de imposicao da lingua da 'metr6pole' nao foi abandonada mas aperfeicoada. 0 controle do processamento da informacao tomou-se mais eficaz na medida da imposicao de terminologias tecnico-cientificas. Assim, a lingua geral da 'metr6pole' e privilegiada e, ao mesmo tempo, os pesquisadores, os cientistas, os administradores de empresa, os tecnicos sao levados a empregar, na pr6pria lingua materna, a terminologia 'normalizada' por grandes agencias internacionais, encarregadas do controle da informacao (ISO, AFNOR, etc.). A midia encarrega-se da difusao da terminologia especializada, condicao de acesso a informacao para especialistas e, simultaneamente, da banalizacao, da vulgarizaC§o, de forma que 0 sistema de valores dominante se imp6e ao conjunto das populacOes, levando a uma homogeneizacao, a uma padronizacao de linguagem e valores socioculturais. Convem, pois, examinar aspectos dos processos de constituiC§o e permanente reconstituicao da cientificidadelbanalizaC§o, da terminologizacao Ivocabularizacao, de grande impacto na vida cientifica, economica e social. Observa-se que 0 universo de discurso metalingiiistico da ciencia representacao e sintese de suas descobertas e saber construido - se preciso e hem elaborado, leva a aprimorar a pratica profissional, seus modelos conceituais e epistemol6gicos. 0 crescimento e a produtividade do discurso cientifico demonstram a necessidade de construcao e permanente reconstrucao de urn vocabulario proprio, preciso e consensual, instrumento de analise e descricao, que nao s6 permite definir e circunscrever areas e subareas cientificas, como tambem lhes proporciona aplicacao mais rigorosa, produtiva e eficaz dos seus principios. metodos e tecnicas. Ressalte-se que a constru9&oda ciencia e indissociavel da elabora~ao de sua metalinguagem: a propor~ao que esta se vai constituindo, consolida-se a ciencia e sua identidade epistemologica. Examinando-se 0 conjunto tenninologico de areas cientificas e tecnicas, chega-se a classifica9&o: a) subconjunto de termos criados em detenninada area, exclusivos e caraeterizadores dessa area; b) subconjunto de termos provenientes da lingua geral, que sofrem altera9&ode conteudo; c) subconjunto provenientes de outras areas cientificas e tecnicas, que sofrem altera9&o parcial ou total de conteudo; d) subconjunto de termos complexos, em que urn termo e emprestado de outra area e combinado com termo da propria area. Analisa-se 0 termo terminologiza9iio, definido na Norma ISO 1087 como 0 processo pelo quai urn vocabulo e transformado em termo. Nessa acep9&o,considera-se terminologiza9iio stricto sensu como transposi9&o de urna unidade lexical da lingua geral para uma linguagem de especialidade. E necessario, segundo a Autora, ampliar a conceP9&odesse processo, acrescentando 0 termo terminologiza9lio lato sensu, como processo de conversiio do conceito em termo. A rela9&o,no primeiro caso, estabelecese entre plano lingUistico e plano lingUistico; no segundo, estabelece-se entre plano conceitual e plano lingUistico (la mise en terme ou denomina9iio). PropOea Autora, tambem, 0 termo vocabulariza9iio para 0 processo inverso, 0 de transfo~o de termo (de metalinguagem) em vocabulo (da lingua geral). Conforme a conceP9&ote6rica, chma-se esse processo bana/iza9iio, vulgariza9iio ou populariza9iio. PropOe, ainda, 0 termo metaterminologiza9iio, a transposi~ao de urn termo de ulna area cientifica elou tecnica para outra area. Subdivide-se em dois tipos: os que conservam parte do significado original e os que modificam totalmente, ou quase, 0 significado. Examinam-se, entao, os diferentes tipos de rela~ entre os elementos do conjunto termo e os do conjunto vocabulo. Duas conclusOes oosicas sao apresentadas: uma unidade lexical nao e vocabulo ou termo, por sua propria natureza, mas esta em fun9iio termo ou em fun9iio vocabulo, ou seja, 0 universo de discurso em que se insere determina 0 seu estatuto em cada caso; dai decorre a possibilidade de distribuir a unidade lexical em urn eixo continuum do maior grau de cientijicidade ao maior grau de bana/iza9iio (Barbosa, 1998). 2. Nomear ~ designar: processos que se mobilizam na palavra e se dinamizam no texto processo pela constru9&oda coesao. Jeni Silva Turazza examina aspectos de nomea~ao/designa~o no processo textual. Esse texto, reflexao tematizada na palavra, produto de objetiviza9&opelo qual o homem expressa pelo c6digo lingUistico 0 que foi subjetivizou pela linguagem. Discute-se a palavra, tendo como ancoragem fundamentos teoricos da LingUistica de Texto: vertente cognitiva-s6cio-interativa da LingUistica Textual, desenvolvida a partir de 1960, e melhor sistematizada a partir de 1980. (.Kock:1990). Segundo estudiosos do texto - unidade de observa~ao, analise e descri~o dos fenomenos lingUisticos - 0 principio basico para 0 tratamento adequado deste fenomeno e a textualidade: processo pelo qual se constr6i a textura para os enunciados produzidos em situa~ao de intera~o comunicativa; em que 0 enunciado e compreendido como produto da enuncia~ao, frases contextualizadas por situa~OeSde 050 efetivo e nao produzidas por urn falante ideal. Essa textura se explica por urn conjunto de fatores dentre os quais tern merecido maior aten~ao a coesao e a coerencia, categorias que garantem a unidade textual: a referencia tematizada e designada na mieroestrutura do texto produto por elementos lexicais e por regras gramaticais. Os estudos que tratam dos processos de coesao tern sido organizados por duas modalidades: "(...)formas de coesiio realizadas atraves da gramatica e outras, atraves do lexico." (Kock, 1989:17), que se revelam insatisfat6rias para 0 tratamento coesao referencial - "(".J a coesiio referencial e, sem ditvida muito mais complexa do que jicou esbo9ado nas rejlexoes desse capitulo" (Kock, 1989: 48). Tal insatisfa~o parece decorre do fato de haver necessidade de conceber a coesao numa dimensao psicolingiiistica, visto serem dessa natureza os fundamentos te6ricos que a postulam e, assim sendo, situar tanto os conhecimentos lingiiisticos como os "nao-lingiiisticos" no homem e, no ambito do lingiiistico, diferenciar lexico de gramatica, visto ser este Ultimoformalizado pela gramatica, mas nao equivalente a ela. Entende-se 0 lexico como 0 espa~ de estrutura~o e reestrutura~o de conhecimentos de mundo, formalizados pela gramatica da lingua; de sorte que, ele e tentacular, remetendo-se ao lingiiistico e ao nao lingiiistico, especificamente, no caso de lexias da classe de designa~o. A conce~o de coesao referencial deve ser tratafa a partir dos processos de constru~o da referencia textual, por itens lexicais relevantes, manifestados na microestrutua do texto processo, urna vez que 0 lexico 0 espa~o pelo - no qual se ciaoos processos de designa~o das coisas e/ou estado de coisas do(s) mundo(s). Tais processos tern sido compreendidos como represebta~Oesconstruidas por mediatiza~s com os acontecimentos da realidade e 0 texto, como sendo 0 lugar de manifesta~o de novas representa~Oesde mundo. Dessa forma, a coesao referencial implica a adequa~ao entre designa~Oes,(re)classifica~ao, ancoragem que ocorrem durante os processos de nominaliza~ao (a~o pela qual se transforma 0 estranho em familiar, nominalizando) de representa~s de estados de mundos por itens lexicais, selecionados no lexico ativo e passivo do produtor. Nesse processo complexo de dar nome as representa~s, 0 homem condensa na designa~o urn conjunto de predi~s que compreendem proposi~Oesque buscam descrever as representa~Oesno que elas sao, como sao e como ele as ve, ou as concebe, 0 que implica novas classifica~s. Assim, na dimensao do discurso, ele tanto formaliza as designa~Oespor condensa~s, quanto por predica~s; pois, ao predicar, ele vai inserindo no que e aquilo que ele ve ou ere ver. Como as designa~Oes, na dimensao vocabular, abarcam 0 vocabulario do grupo, inserido no vocabulano da lingua, os conhecimentos condensados pelo grupo em forma de predica~Oesvao seno redimensionados pelo seu novo ponto de vista. Ancorando no velho 0 novo, os conteUdos semiolingiiisticos vao sendo redimensionados, a medida que, pela designa~ao, ele vai tecendo conhecimentos grupais com os individuais, valendo-se do principio da elasticidade do discurso e das regras gramaticais, para ir construindo, pelas categorias lingiiisticas, e manifestando, por substancias fono16gicas ou ortognificas, seu texto processo na dimensao da linearidade do c6digo (GREIMAS & COURTES, 1979). Nesse sentido, a constru~o da referencia textual da-se pelo uso de estrategias de condensa9ao e de expansiio: a primeira condensa na designa~o as predica95es que expressam conhecimentos de mundo que silo parcialmente partilhados; a segunda predica para a designa9ao conhecimentos que abarcam a tessitura do novo como 0 velho conhecimento, de maneira que, ao repetir a designa~o por rela95es anaf6ricas ou cataf6ricas, as pro-fonnas lexicais vao incorporando 0 novo na tessitura do velho. Por essa razao, 0 retomado nao se configura pela rela~o de total identidade e, ainda, por ser urn processo integrado aqueles da nominaliza~o, ao designar ja se faz referencias a representa95es que, por terem uma ancoragem, vilo redesenhando novos referentes textualmente construidos. Nesse sentido, tratar a coesilo referencial por mecanismos de remissao, cancelando os processos de designa~o, nao parecer possibilitar explicitar a constru~o dos sentidos locais e globais do texto, tambem articulados por uma rela~o necessaria, cuja compreensilo implica a conce~o de palavra como sinal detonador dos processos de produ~o de sentidos que, se por urn lado mobiliza conhecimentos de mundo parcialmente partilhados, por outro, dinamizaos por processos de re-significa~o, quando em rela~o intralexical. Guiomar Fanganiello Cal93da discute as rela90es entre lexico e sentido, particularmente no tocante aos neologismos. o desenvolvimento da comperencia lexical e condi9iio indispensavel para a compreensao e para a interpreta~o das mensagens escritas e orais. Ele se toma imprescindivel para 0 acesso aos diferentes tipos de textos. Ressaltamos aqui aqueles de cunho literano, tendo em vista nao somente 0 uso poetico da linguagem mas tambem as diferentes epocas de sua produ~o. Como 0 lexico responde a leis de organiz~o estrutural, 0 conhecimento dessas leis permite-nos verificar que as palavras nao silo elementos esparsos de urn inventario desordenado: situam-se umas em rela~o as outras por urn jogo de rela90es e de oposi96es que, sozinhos, lhes conferem uma fun~o lingiiistica em nivel de organiza~o do significado (Galisson, 1970). Lembramos que todo sistema lingiiistico contem unidades lexicas, inventario a disposi~o dos falantes, unidades estruturadas de acordo com regras que permitem aos usuarios a cria9ao de novas palavras mais adequadas as suas necessidades de comunica~o. Assim, unidades neol6gicas como as demais unidades lexicas, devem ser consideradas em seus aspectos formal e semantico na lingua, no enunciado e no ato de enuncia9ao dentro de urn processo dinamico de motiva9ao, desmotiva~o e remotiva9ao (Barbosa,1996). Segundo Martin Alonso (1982), a lingua deve ser estudada como urn artificio psicol6gico e social, sujeito a continuas muta90es, exposta, por urn lado, ao desgaste e, por outro, dirigida para seu gradual aprimoramento. Nesse dinamismo constante, as palavras seguem as varia90es dos objetos e sentimentos que representam. Elas ativam 0 processo semfuttico, mediante a mudan<ra dos conceitos, 0 que pode ocorrer por necessidade de clareza, por problemas de classifica<raoou de matiza<raodo significado. As ideias de urn mesmo objeto podem oferecer diferentes matizes e acep<r6es variadissimas, donde a presen<rados neologismos para enriquecer uma serie lexical ou a serie de empregos de uma palavra, sem que a base lexical ou os empregos anteriores da mesma palavra desapare<ram de vez.. Conseguir expressar as coisas com propriedade, com 0 matiz adequado a ideia concebida, e a maior fortuna dos escritores. Por esse motivo, focalizaremos 0 neologismo bilingua/idade, criado por Raquel de Queiros, na cronica 0 bilingiiismo emergente, publicada no jornal 0 Estado de Slio Paulo, em 23 de maio do corrente ano. Sob a alega<rao de que apenas deseja reclamar 0 mal que considera irremedilivel, Raquel de Queir6s preve a oficiliza<raodo ingles como segunda lingua do Brasil e assim se manifesta: "Pena que essa bilingualidade (perdoem 0 neologismo) nao nos tenha chegado, ja nao digo por meio emdito, mas pelo menos por oralidade conseqiiente: 0 que recebemos e a giria do "show business" (e proibido falar "espetaculo") dapub/icidade desenfreada (vide anUncios da televisao)". (grifos nossos) Como se observa, a autora, ao tratar de urn futuro bilingilismo, faz sua inova<rao lexical, focalizando mudan<ras s6cio-culturais para as quais procura direcionar nossa aten<rao. No texto, 0 neologismo bilingua/idade encontra-se em processo sinonimico com 0 termo do titulo em que se detaca 0 bilingiiismo. Temos ai uma cria<rao individual da escritora para atender as suas necessidades de expressao, face as mudan<rasque se operam em nossa sociedade e justificam 0 aparecimento de novos lexemas. A palavra usada por Raquel de Queir6s, dentro das possibilidades do sistema. surge devido a exigencia de urn novo conceito adequado a tradu<raoda realidade atual. o neologismo sintlitico criado intencionalmente, nesse processo sinonimico, refor<raa presen<ra do atributo de duas "linguas" presentes na base do processo derivacional por sufixa<rao. Enquanto em bilingiiismo a forma indica apenas a existencia de duas linguas ( da qualidade ou propriedade ), em bilingua/idade temos a indica<raode algo que tem rela<raocom a qualidade ou propriedade das duas linguas. Logo a qualidade ou a propriedade deixa de ser intrinseca e bilingualidade nao se refere a oficializa<rao do portugues e do ingles, propriamente ditos, mas sim do portugues e da lingua inglesa reduzida a urn falar proprio dos brasileiros de Miami, 0 miames, segundo a autora. A presen<radesses dois neologismos empresta ao texto uma tonalidade ironica, evidenciando a sua fun<raoconativa em concorrencia com a referencial. Ha assim, alem da informa<raodo novo designatum urna informa<raocritica, ideo16gica, satirica, cuja descri<raodetlhada escapa ao objetivo deste trabalho. 4. Problemas do ensino/aprendizagem de terminologias de disciplinas do segundo grau Luiz Carlos Costa examina questOesrelevantes do ensino de terminologias das ciencias que figuram como disciplinas nucleares no ensino do segundo grau. Ressalta que sempre houve uma grande insatisfa~ao das gera~Oes mais velhas, quanto ao dominio do vocabulcirioativo e passivo das gera~s mais novas, e que, nos dias atuais, o sentimento do debito das crian~s, adolescentes e jovens se agravou bastante, devido, principalmente, a chamada democratiza~ao da escola pUblica. A peniuia verbal foi tao longe que alguns jornais diarios, como a Folha de Sao Paulo, alem de deliberadamente empobrecerem lingiiisticamente 0 seu texto, 'traduzem' sempre toda e qualquer palavra considerada dificil pela sua pretensa natureza especializada ou abstrata. A escola fundamental e media, que responde pela educ~o geral dos cidadaos, mantem, diante da pobreza vocabular dos seus alunos, atitude de inercia e de grande perplexidade. Desassistidos e desorientados, os professores se ressentem da falta de orienta~o mais segura a respeito do ensino/aprendizagem do vocabulcirio da lingua portuguesa, porque a profusao das tecnica e caminhos apontados sao extremamente variaveis e confusos. Nao hci,presentemente, na programa~o dos cursos de lingua portuguesa, no ensino brasileiro, uma preocupa~o com os aspectos qualitativos e quantitativos do vocabulcirio. 0 como ensinar vocabulcirio tambem permanece sem rumo claro e definido. Torna-se necessaria uma mudan~ de dir~o no ensino/aprendizagem do vocabulario da lingua portuguesa. Reconhecer a natureza dos fatos vocabulares talvez seja urn born com~. Aceitar que existe urn grau bastante elevado de entropia e ruido textual, que tern origem no desconhecimento das palavras, constitui uma importante tomada de consciencia, para 0 inicio de urn trabalho efetivo no ensino. Estudar e assimilar que as palavras apresentam numerosos niveis de uso - geral, culto, erudito, insolito, literano, popular, gino, terminolOgico, grosseiro, regional, arcaico, estrangeiro, neolOgico - constitui constitui condi~ao oosica de direcionamento do trabalho escolar. De posse desse conhecimento, 0 professor podera avaliar 0 verdadeiro filtro vocabular do ensino formal que seleciona rigorosamente 0 nivel vocabular com transito permitido em sala de aula, da norma cultural aceita pela comunidade. Sera possivel verificar que, em classe, somente transitarao livremente os niveis de uso geral, culto, literario e terminol6gico. Dentre estes, curnpre privilegiar 0 vocabulario terminol6gico, em razao da pouca aten~o que a escola the dedica. Prosseguindo nessa reflexao sobre 0 vocabulcirioveiculado na e pela escola, contatas-se que existe urn autentico dialeto escolar - uma variante, uma subdivisao da lingua, formada por coIijuntos e subcoIijuntosvocabulares. Estabelecer e trabalhar sistematicamente esses conjuntos e subconjuntos constitui tarefa oosica, para alcan~ar urn ensino vocabular de qualidade. Nessa linha de tratamento lexical, no ensino medio, podem organizar-se os diversos conjuntos das disciplinas do nucleo comum - lingua portuguesa, literatura brasileira, matematica, geografia, historia, biologia, jisica e quimica, com seus respectivos subconjuntos, como sucede, por exemplo, com a biologia: citologia, histologia, genetica, anatomia, jisiologia. No conjUntovocabular da fisio10gia, poderia ser destacado 0 subconjunto da digestao, exempli gratia. Outro trajeto possive1, na procura do conhecimento mais aprofundado e fecundo do vocabulario esco1ar, seria a fixa~o de crirerios norteadores do seu estabe1ecirnento.A tarefa prelirninar da e1ei~0 de urn corpus de extra~o seria seguida pe1aesco1hade urn criterio (freqiiencia, exaustividade). Uma questao que sobre1eva pe1a sua impomncia para a atual sociedade funcional e pragrnatica e 0 estudo do vocabulario terrnino16gico, que deve ser, essencialmente, multidisciplinar. Firrnaclo ern adequada teoria 1exico16gica e 1exicogrlifica, 0 professor tern me1hores condi~s tecmcas para exarninar, avaliar, exp10rar e aplicar os produtos 1exicogrlificos existentes no mercado editorial e destinados, a principio, a ajudar os alunos nas suas atividades vocabulares (Costa, 1996). RESUMO: Este trabalho examina alguns aspectos epistemologicos e metodolOgicos da lexicologia, da lexicograjia e da terminologia, mais precisamente as relat;oes entre "conceitos" e "denominat;oes", a descrit;iio lexical, a produt;iio lexicognijica, a produt;iio terminolOgica e, tambem, sua importancia no desenvolvimento do discurso de areas do conhecimento. BARBOSA, M. A. (1998) Terrnino10giza~0, vocabu1ariza~o, cientificidade, nanaliza~o: re1a~s. In: Acta semiotica et linguistica, V. 7. (Sao Paulo, P1eiade) p.25-44. -----------(1996) Lingua e Discurso: contribuit;iio aos estudos semanticosintaticos. 4. ed. (Sao Paulo, P1eide) COSTA, L.c. (1996) Os rninidicionarios e 0 ensino aprendizagem do vocabulario da lingua portuguesa. In: Letras & Letras, V.l2., n.o 2. (UberIandia, Universidade Federal de Uberlandia) p. 215-221. GALLSSON, R (1970) L' apprentissage systematique du vocabulaire. (paris, HachettelLarousse). GREIMAS, A . 1. et COURTES, 1. (1979) Semiotique. 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