XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. COMPORTAMENTO ESTRATÉGICO NO PÓLO CALÇADISTA DE SÃO JOÃO BATISTA ANA CRISTINA HEIL BELLI (Univali ) [email protected] Ronaldo Telles (Univali ) [email protected] Rafael Pereira Ocampo More (Univali ) [email protected] Carlos Ricardo Rossetto (Univali ) [email protected] A proposta do artigo consiste na investigação dos tipos de comportamento estratégico do Pólo Calçadista de São João Batista em Santa Catarina, de acordo com a tipologia de comportamento estratégico apresentada por Miles e Snow (1978). O Póllo Calçadista de São João Batista constitui um importante Arranjo Produtivo Local para a região, investindo sempre em inovação, tecnologia e P&D para o mercado. Para o desenvolvimento da pesquisa empírica foi utilizado o questionário validado por Conant, Mokwa e Varadarajan (1990) adaptado para Pólo Calçadista de São João Batista. A escala proposta pelo questionário de Conant, Mokwa e Varadarajan (1990) é de fácil administração e possui valor no diagnóstico para os estrategistas e suas organizações. Dentro do ciclo adaptativo de Miles e Snow, 50 gestores das indústrias calçadistas responderam sobre a sua percepção em relação ao comportamento estratégico da organização. A pesquisa concluiu que 30% das organizações apresentam comportamento defensivo, 27% apresentam comportamento prospector e analista (cada uma) e 16% apresentam comportamento reativo. Palavras-chaves: Comportamento Estratégico, Ciclo Adaptativo, Miles & Snow XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 1 Introdução O termo Arranjo Produtivo Local é derivado do conceito de Sistemas Inovativos Locais (SIL), que trouxe uma clara divisão de foco nos estudos sobre inovação e cooperação entre empresas. Segundo Lastres e Cassiolato (2002), arranjos produtivos locais são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais com foco em determinado segmento de produção, que apresentam vínculos, mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e interação entre as empresas – desde as produtoras de bens e serviços, comercializadoras, prestadoras de serviços, clientes até as mais variadas formas de associação e representação. O polo calçadista de São João Batista foi escolhido por ser tratar de referência nacional. Atualmente produz dois milhões de pares/mês, índice que o coloca em posição de destaque na economia da região e como centro lançador de moda. Para acompanhar as crescentes exigências do mercado consumidor, é preciso conquistar novos mercados e o Sindicato das Indústrias de Calçados de São João Batista – SINCASJB trabalha intensamente na busca de consumidores internos e externos, organizando rodadas de negócios e participação em feiras. Participar do crescimento econômico nacional é um desafio do polo calçadista de São João Batista, de acordo com o cenário social do país. Dessa forma, é de fundamental importância compreender o comportamento estratégico dos gestores das indústrias da região. O comportamento estratégico dos gestores de diferentes organizações tem sido alvo de discussão constante em estudos científicos, pois influenciam diretamente nas estratégias adotadas pelas empresas. Num cenário cada vez mais competitivo é fundamental que o comportamento do gestor esteja alinhado com as estratégias da organização, para um aproveitamento eficaz dos recursos e foco nos resultados. Miles e Snow (1978) desenvolveram um modelo de adaptação que denominaram de ciclo adaptativo, composto pelos problemas: de empreendedor, de engenharia e administrativo. O problema empreendedor é visto em todas as organizações, mas tornam-se mais visíveis nas organizações que estão em fase de crescimento rápido. O problema de engenharia que está relacionado com a escolha da tecnologia para os problemas de produção e 2 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. distribuição. E o problema administrativo envolve as questões de liderança, estrutura e processo. Desta forma, evidenciamos a lacuna de pesquisa sobre o comportamento estratégico do gestor que vem sendo estudado ao longo dos anos e continua como tema presente nas mais respeitadas revistas científicas, reforçando a importância deste estudo que visa investigar o comportamento estratégico dos gestores do polo calçadista de São João Batista, utilizando o ciclo adaptativo de Miles e Snow: prospector, analisador, defensivo e reator. O objetivo da pesquisa é analisar o tipo de comportamento estratégico das empresas do ramo calçadista de São João Batista, com o propósito de minimizar os efeitos que as transformações têm impactado nas organizações. Desta forma, pretende-se identificar o tipo de comportamento estratégico predominante em cada um dos problemas do ciclo adaptativo de Miles e Snow (1978) e as relações com as características do polo e das próprias organizações. 2 O Comportamento Estratégico: perspectivas de Porter, Mintezberg e Miles e Snow. A literatura nos tem apresentado ao longo dos últimos 30 anos inúmeras tipologias e conceituações no do campo da estratégia, com o intuito de compreender e explicar o framework nas organizações. Apesar de expressiva a literatura a respeito do tema, não existe um conceito universal da definição de estratégia. Segundo Ginsberg (1984), o termo é usado muitas vezes sem as necessárias clarificações, o que dificulta o desenvolvimento de abordagens integrativas no estudo de estratégia organizacional. Quadro 1- Conceituação de estratégia segundo autores AUTOR Ansoff (1977) Bourgeois (1980) Porter (1986), Mintzberg (1987) CONCEITUAÇÃO DE ESTRATÉGIA Considera estratégia como o conjunto de regras de decisão para que a empresa possa ter um Estratégia são os meios que a administração de uma organização estabelece objetivos e persegue estas propostas através do co-alinhamento dos recursos organizacionais com as oportunidades e ameaças do ambiente. A estratégia está vinculada ao posicionamento da organização frente ao meio em que está inserida, visando a obtenção de uma posição favorável. Mintzberg apresenta em suas obras algumas definições para o termo estratégia: um curso de ação conscientemente definido para a organização; um padrão percebido em um conjunto de ações, fruto de decisões empresariais e gerenciais; uma busca de posição competitiva no mercado; uma visão ou perspectiva que surge através do líder principal da organização. 3 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. Fonte: Adaptado de Cancellier e Blageski Junior (2009) Dentre as várias tipologias existentes para descrever a estratégia, as que mais tem sido testadas empiricamente destacam-se a de Mintzberg (1973; 1978), Miles e Snow (1978) e Porter (1996). Gimenez (1999), Costa e Silva (2002), Silva, Brandt e Costa (2003) e Brandt (2008) destacam as tipologias de Porter, Mintzberg e Miles e Snow como as mais expressivas e que vem suportando grande quantidade de testes empíricos, caracterizando-as como as principais entre os estudos de administração estratégica. A teoria de Porter tem sido apontada como limitada para explicar o comportamento de mercado competitivo de grandes empresas (SMITH; GUTHRIE; CHEN, 1989). Porter (1980) fundamentou sua teoria sob três estratégias competitivas genéricas: liderança no custo, diferenciação e foco. Várias críticas também são identificadas ao trabalho de Porter, destacando o declínio desta tipologia no número de pesquisas realizadas nos últimos anos, ao mesmo tempo que descreve a importância da obra para os estudos da administração estratégica. Mintzberg (1988) apresentou uma nova tipologia de estratégias genéricas, a partir da mesma variável de diferenciação de Porter (1980), mas com um nível maior de detalhamento (CARNEIRO; CAVALCANTI; SILVA, 1997). A estratégia é tratada como representação cognitiva do grupo de dirigentes do nível estratégico que, ao ser compartilhada ou imposta aos demais membros de outros níveis organizacionais orienta o comportamento e a ação (MINTZBERG, 1988). Doty, Glick e Huber (1993) realizaram um teste empírico e constataram que os resultados não suportam a teoria de Mintzberg (1978), que a organização será mais eficaz na medida em que eles se assemelham a seus cinco tipos ideais. A pesquisa apontou o modelo de Miles e Snow com maior variação na eficácia global da organização. Mintzberg centrou 4 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. esforços para desenvolver um modelo de estratégias genericas mais abrangente, mas segundo Fernandes, Silva e Cândido (2007) o modelo de Porter (1980) ainda continua sendo o mais conhecido. Diante do exposto, verificou-se que ambos os modelos de Porter (1980) e Mintzberg (1992), foram amplamente testados e utilizados na literatura como referência para explicar o framework de comportamento estratégico dentro das organizações, ao mesmo tempo que sofrem críticas por não suportarem todas as lacunas que identificasse de forma confiável o comportamento estratégico do gestor. Miles e Snow (1978) desenvolveram um modelo teórico de comportamento estratégico com foco no alinhamento estratégico da organização, através de um framework conceitual, com abordagem mista no contexto ambiental, nos processos e recursos, denominado de ciclo adaptativo. O modelo se situa entre a escola do posicionamento, que defende a estratégia como decorrente da estrutura da indústria e a teoria de recursos, que defende a idéia de que a organização possui o desempenho superior devido as suas características internas. O modelo do processo de adptação de Miles e Snow (1978) foi chamado de ciclo adaptativo e afirma que as escolhas na organização perpassam por três problemas de adaptação organizacional: problema empreendedor, de engenharia e administrativo, conforme apresenta a Figura 1. Figura 1 - Ciclo Adaptativo 5 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. Fonte: Adaptada de Miles e Snow (1978) O problema empreendedor normalmente está mais presente em empresas novas, que estão definindo seu portfólio de produtos e serviços. O problema de engenharia aborda a criação de um sistema que possa oferecer soluções ao problema empreendedor. O problema administrativo resume-se a organizar e estabilizar as atividades que resolveram os problemas da fase empreendedora e de engenharia (MILES; SNOW, 1978). Neste contexto, os autores identificam quatro tipos de comportamentos estratégicos: prospectores, analistas, reativos e defensores. Os comportamentos podem variar de acordo com o dinamismo e capacidade de processo de adaptação ao ambiente organizacional, de acordo com sua complexidade e incerteza. A percepção que os gestores possuem das organizações é que define esta variação, como as decisões são tomadas e as escolhas estratégicas são definidas a fim de garantir a competitividade. No comportamento estratégico Prospector as empresas buscam oportunidades no mercado, atentas as tendências do ambiente. No Analítico os gestores observam as novidades dos concorrentes, optando pelas que apresentarem-se mais propícias, podendo operar no domínio de produto ou de marcado. O Reativo retrata os gestores como limitados à percepção das mudanças do ambiente e suas incertezas, mas só realizam ajustes na estrutura se forçados por pressões ambientais. Por fim, o comportamento estratégico defensivo apresenta um estreito domínio do produto e mercado, em que os gestores normalmente são especializados em determinadas áreas de operações e acabam não procurando oportunidades fora do domínio (MILES E SNOW, 1978). Dentre os modelos de análise do comportamento estratégico, introduzidos ao longo dos últimos 25 anos, a tipologia de Miles e Snow (1978) tem sido a mais duradoura, crítica e utilizada. Essa metodologia foi submetida a vários testes de validade, em uma ampla gama de configurações (MARTINS, 2012). Diante dos aspectos apresentados, a tipologia de Miles e Snow (1978) foi utilizada para fundamentar o presente estudo, observado que a teoria se sobrepõe e preenche as lacunas deixadas por Porter (1980), Mintzberg (1988) e outras abordagens, perpassando uma análise confiável e sustentadora do comportamento estratégico do gestor. 6 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 3 Procedimento Metodológicos Metodologia representa o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade, ou seja, ela inclui, simultaneamente, [...] “a teoria da abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador (sua experiência, sua capacidade pessoal e sensibilidade)” (DESLANDES; MINAYO, 2008, p. 14). Dessa forma, para atingir os objetivos descritos, assim como, permitir a reconstrução da pesquisa decorre a necessidade de apresentação metodológica da pesquisa, que compreende: o tipo de pesquisa, a abordagem da pesquisa, as técnicas de coleta de dados, a delimitação do estudo, o tratamento dos dados e suas limitações. No quadro abaixo apresenta-se a síntese do procedimento metodológico utilizado para no artigo: Quadro 2 - Resumo da metodologia adotada Classificação da Pesquisa Aplicada; Quantitativa-Qualitativa Exploratória; Descritiva População e amostra Gestores de 48 empresas do Pólo Calçadista de São João Batista Técnica de Coleta de Dados Documental; Aplicação de questionárioestruturado; Fonte: Elaborado pelos autores A população desta investigação compõe-se de Pequenas e Médias Empresas do Polo Calçadista de São João Batista do Estado de Santa Catarina. O arranjo produtivo local de São João Batista está situado no Vale do Rio Tijucas – SC. Abrange 135 empresas produtoras de calçados. O Polo é focado na produção de calçados femininos adultos e infantis. Informações da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados) mostra que em 2009 gerava 7.370 empregos. O Polo Calçadista Catarinense se destaca como um dos cinco maiores do País. Com uma produção diversificada, desde calçados populares até os de alto valor agregado. O polo produz atualmente dois milhões de pares mês e exporta 10% da sua produção, que fica em torno de 25 milhões de pares ano. 7 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. Devido à dimensão da população e dificuldade de acesso, adotou-se a amostra intencional por acessibilidade. Utilizando também o critério de representatividade, assim os profissionais que responderam ao questionário são profissionais que ocupam funções chave dentro da organização, portanto com os conhecimentos necessários para participar desta pesquisa. A amostra abrange 50 empresas, sendo dois questionários anulados, pois parte das questões não estavam respondidas. A amostragem é de caráter não probabilístico por representatividade. O levantamento dos dados ocorreu in loco nos meses de março e abril de 2013. O questionário utilizado como instrumento de coleta de dados para a identificação das variáveis do comportamento estratégico foi o do estudo de Conant, Mokwa e Varadarajan (1990), adaptado para Polo Calçadista de São João Batista. A escala proposta pelo questionário de Conant, Mokwa e Varadarajan (1990) é de fácil administração e possui valor no diagnóstico para os estrategistas e suas organizações (CONANT; MOKWA; VARADARAJAN, 1990). A mensuração do comportamento estratégico foi realizada através de 11 questões que reproduzem os seguintes aspectos: a) caracterização dos produtos oferecidos; b) imagem no mercado; c) tempo gasto em monitorar as mudanças e tendências no mercado; d) motivos do crescimento ou diminuição da demanda; e) metas mais importantes; f) caracterização das competências e habilidades dos funcionários; g) mecanismo de proteção dos concorrentes; h) concentração do gerenciamento; i) preparação para o futuro; j) descrição da estrutura; e k) procedimentos de avaliação do desempenho. Originalmente, para cada questão existe uma resposta atrelada a um tipo de comportamento: prospector, defensor, analítico e reativo (MARTINS, 2012). Os dados serão tratados através de análise estatística. 4 Análise dos Dados Conant, Mokwa e Varadarajan (1990) testaram a tipologia de Miles e Snow (1978) utilizando uma nova escala multi-item para analisar os tipos estratégicos de marketing, competências distintivas, e desempenho organizacional. O estudou reforçou que as organizações com ênfase maior em estratégias de marketing, tendem a ser mais prospectoras. 8 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. Na pesquisa realizada no Polo atacadista de São João Batista, podemos perceber que as empresas tendem a ser mais analistas no problema empreendedor (Figura 1). Este dado nos aponta uma ênfase menor nas estratégias de marketing, visto que a pesquisa de Conant, Mokwa e Varadarajan (1990), verificaram que as empresas intensivas em estratégias de marketing possuem um comportamento estratégico mais prospector. Figura 2 - Problema Empreendedor Fonte - Elaborada pelos autores No problema empreendedor os gestores foram questionados sobre: a) como são melhores caracterizados os serviços e produtos que são oferecidos aos clientes; b) imagem da organização no mercado; c) o tempo investido pela empresa para monitorar as mudanças e tendências no mercado; e d) motivos do crescimento ou diminuição da demanda. Na dimensão do problema empreendedor as empresas possuem mais características do comportamento analista, dada a sua natureza híbrida, tornam-se mais complexas e equilibradas funcionalmente. Em domínios de produtos/mercado estáveis analisadores acentuam a produção e esforçam-se pela eficiência melhorada. Em mercados de produtos mais turbulentos controlam 9 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. concorrentes-chaves e adotam as inovações que parecem ter o potencial de mercado forte (CONANT; MOKWA; VARADARAJAN, 1990). Ao serem questionados pelas dimensões do Problema de Engenharia, os gestores do Polo Calçadista de São João Batista, responderam sobre: e) as metas mais importantes da empresa referente a dedicação e compromisso; f) caracterização das competências e habilidades que os funcionários da empresa possuem; g) proteção da empresa contra os concorrentes. Nesta etapa do Ciclo Adaptativo, os gestores apresentaram comportamento estratégico novamente analista, mas nesta dimensão observamos um aumento no percentual do comportamento prospectivo, que teve um percentual muito próximo ao analista, conforme apresenta a Figura 3. Aqui observa-se que, além de sua natureza híbrida, mais complexa e equilibrada funcionalmente, destaque ao comportamento prospectivo, analisado como sendo a dedicação maior a recursos e tarefas empresariais, monitoramento de tendências em evolução no mercado, e desenvolvimento de novos produtos, conduzidos por uma coalizão dominante que possui uma especialização em marketing e P&D. Figura 3 - Problema de Engenharia Fonte - Elaborada pelos atores Na última etapa da pesquisa os gestores responderam sobre o Problema Administrativo, composto pelas dimensões: h) concentração do gerenciamento da empresa; i) como a organização se prepara para o futuro; j) características da estrutura da empresa; e k) como são descritos os procedimentos que a organização usa para avaliar seu desempenho. 10 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. Conforme ilustrado na Figura 4, observa-se que o comportamento estratégico tende a ser prospector, supondo que as empresas buscam maior oportunidade de mercado, atentos as inovações, novas oportunidades de negócios e ampliação da linha de produtos e serviços. Figura 4 - Problema Administrativo Fonte – Elaborada pelos autores Na análise dos dados há um percentual significativo de organizações defensivas e reativas, sendo que não podem ser ignoradas da pesquisa. As organizações defensivas normalmente se concentram em tarefas de engenharia, alta prioridade em melhorias na eficiência, e são conduzidos por uma coalizão dominante composta de finanças e produção pessoal. Já as organizações com o comportamento estratégico reativo respondem aos desafios do ciclo adaptativo de formas irregulares e transitórias, pois eles tendem a ser de curto prazo e ambientalmente dependente (MILES; SNOW, 1978). Engajar-se em uma análise multidimensional de diagnóstico tem o potencial de fornecer aos gestores e organizações uma base para melhorar o grau em que as empresas respondem aos desafios do ciclo adaptativo de uma forma consistente, e a tomada de um compromisso de mudar a sua orientação estratégica, como por exemplo, alteração de um reator, defensor, prospector ou analisador (CONANT; MOKWA; VARADARAJAN, 1990). Verificou-se que os prospectores são significativamente maiores do que os analisadores em duas dimensões, os analisadores são maiores em cinco dimensões, os 11 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. defensores em quatro dimensões, e reatores não apresentaram percentual maior que os demais em nenhuma das dimensões, conforme apresenta o Quadro 3. Quadro 3 – Ciclo adaptativo, as dimensões e os tipos de comportamentos Ciclo Adaptativo Problema Empreendedor Problema de Engenharia Problema Administrativo Questões Prospector Questão 1 - Os serviços e produtos que 25% são oferecidos aos nossos clientes são melhores caracterizados como? Tipos Estratégicos Analista Defensivo 31% 40% Reator 4% Questão 2 - Nossa empresa tem uma imagem no mercado de uma organização que? 21% 29% 27% 23% Questão 3 - O tempo investido pela empresa para monitorar as mudanças e tendências no mercado pode ser melhor descrito como sendo? Questão 4 - O crescimento ou diminuição de nossa demanda é devido muito provavelmente à? 33% 44% 6% 17% 2% 44% 40% 14% Questão 5 - Uma das metas mais importantes da empresa é a dedicação e compromisso com? 27% 44% 25% 4% Questão 6 - As competências e habilidades que os funcionários da empresa possuem podem ser melhores caracterizadas como? 17% 12% 40% 31% Questão 7 - Uma proteção da empresa contra os concorrentes é? 44% 33% 8% 15% Questão 8 - O gerenciamento da empresa tende a concentrar-se em? 15% 44% 23% 18% Questão 9 - A organização se prepara para o futuro da seguinte forma? 54% 8% 27% 11% Questão 10 - A estrutura de nossa empresa é? Questão 11 - Os procedimentos que a Organização usa para avaliar seu desempenho são melhores descritos como? 21% 2% 44% 33% 42% 6% 44% 8% Fonte - Elaborado pelos autores Apesar de termos observado um comportamento estratégico analista e prospectivo mais expressivo na pesquisa, na análise do ciclo adaptativo, onde obtivemos no problema empreendedor 37% de analistas, no problema de engenharia 29% de prospectores e 30% de analistas e no problema de engenharia 33% de prospectores, na análise geral do comportamento estratégico dos gestores do Polo Calçadista de São João Batista, o comportamento defensivo aparece com o maior percentual com 30%, seguido do comportamento analista e prospector com 27% cada. 12 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. O comportamento dos gestores prospectores apresentou em três dimensões maior incidência: proteção da empresa contra os concorrentes; como a organização se prepara para o futuro; descrição dos procedimentos que a organização usa para avaliar seu desempenho. No comportamento analista quatro dimensões de maior destaque: melhor descrição do tempo investido pela empresa para monitorar as mudanças e tendências no mercado; motivo do crescimento ou diminuição da demanda; dedicação e compromisso como metas mais importantes da empresa; concentração do gerenciamento da empresa. No comportamento defensivo encontramos cinco dimensões com maior percentual: sobre a estrutura da empresa; como são descritos os procedimentos que a organização usa para avaliar seu desempenho; caracterização dos serviços e produtos que são oferecidos aos nossos clientes; caracterização das competências e habilidades que os funcionários da empresa possuem; motivo do crescimento ou diminuição da demanda. Figura 5 - Comportamento Estratégico Fonte - Elaborada pelos autores Conant, Mokwa e Varadarajan (1990) confirmam em sua pesquisa que um grande número de estudos que examinaram a relação entre os tipos estratégicos e de desempenho sugerem que o desempenho organizacional será igual nas organizações com comportamento defensor, prospector, e nos analíticos, ou seja, maior do que em organizações de comportamento estratégico reativo, o que nos remete a uma perspectiva promissora para o Polo Calçadista de São João Batista. 13 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. 5 Considerações Finais O presente estudo buscou identificar o comportamento estratégico dos gestores das organizações que compõe o Polo Calçadista de São João Batista. Do ponto de vista dos objetivos, o presente trabalho contribuiu para a identificação dos tipos predominantes de comportamento estratégico, as suas características e a relação com as dimensões propostas por Miles e Snow (1978) em seu estudo. Destaque para a dimensão “Como a organização se prepara para o futuro?”, com percentual de 54% prospector, maior índice apresentado na pesquisa, o que remete a preocupação dos gestores com o fortalecimento do Polo e a continuidade do trabalho na região. Snow e Hrebiniak (1980) destacam que os gestores superiores das organizações de Comportamento Prospector buscam oportunidades de mercado, e regularmente experimentam respostas potenciais a tendências ambientais emergentes. Miles e Snow (1978) retratam ainda que o desempenho organizacional está voltado a um dos três modelos estratégicos caracterizados como estáveis (defensores, prospectores, e analisadores), tendo a mesma probabilidade de obter um bom desempenho, uma vez que eles respondem aos desafios do ciclo adaptativo de uma forma consistente. Já as organizações reativas são "lutadoras", não apresentando fortes orientações estratégicas competitivas, compressões de política, ou tomada de decisões práticas, em que alguns autores caracterizam como estando em fase de amadurecimento da organização. As limitações da pesquisa e sugestão de novos estudos voltam-se as correlações que podem ser feitas relacionando o perfil estratégico com o setor de atuação dos profissionais da organização, analisando se há relação do comportamento estratégico com área de atuação profissional. Referências ANSOFF, H. I. The emerging paradigm of strategic behavior. Strategic Management Journal, v. 8, p. 501-515, 1987. BOURGEOIS III, L. J. Strategic goals, perceived uncertainty, and economic performance in volatile environments. Academy of Management Journal, v.28, n.3, 548-573, 1985. BRANDT, E. A. Truelo de tipologias nas arena das franquias de fast food no Brasil: Porter x Miles & Snow x Mintzber. Estratégia e Negócios. v. 1, n. 2, 159-176, 2008. 14 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. CANCELLIER, E. L. P. L.; BLAGESKI JUNIOR, E. J. Comportamento estratégico, monitoramento do ambiente, características organizacionais e desempenho em empresas de pequeno porte. In: ENCONTRO DA ANPAD, 33., 2009, São Paulo. Anais... São Paulo: ANPAD, 2009. CARNEIRO, J. M. T.; CAVALCANTI, M. A. F. D.; SILVA, J. F. da. Porter revisitado: análise critica da tipologia estratégica do mestre. Revista de Administração Contemporânea, v.1, n.3, 7-30, 1997. CASSIOLATO, J. E. e LASTRES, H. M. M. “O enfoque em sistemas produtivos e inovação locais”. In: T. FISCHER (org.) Gestão do desenvolvimento e poderes locais: marcos teóricos e avaliação. Bahia: Casa da Qualidade, 2002. CONANT, J. S.; MOKWA, M. P.; VARADARAJAN, P. R. Strategic types, distinctive marketing competencies and organizational performance: a multiple measures-based study. Strategic Management Journal, v.11, 365383, 1990. COSTA, L. S. de V.; SILVA, J. F. da. As tipologias estratégicas “realmente” existem? In: Encontro da Anpad, 26., 2002, Salvador. Anais... Bahia: ANPAD, 2002. DESLANDES, S. F.; MINAYO, M. C. S. Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. 27 ed. Petrópolis: Vozes, 2008. DESS, G. G.; DAVIS, P. S. Porter’s (1980) generic strategies as determinants of strategic group membership and organizational performance. Academy of Management Journal, v.27, n.3, 467-488, 1984. DOTY, D. H.; GLICK, W. H.; HUBER, G. P. Fit, equifinality, and organizational effectiveness: a test of two configurational theories. Academy of Management Journal, v. 36, n. 6, p. 1196-1250, 1993. FERNANDES, P. A. A.; SILVA, L. M. F. E.; CÂNDIDO, G. A. Posicionamento estratégico sob o enfoque da diferenciação: um estudo exploratório numa empresa de telecomunicações. In: Encontro Nacional de Engenharia da Produção, 27., 2007, Foz do Iguaçu. Anais... Paraná: ENEGEP, 2007. GIMENEZ, F. A. P. et al. Estratégia em pequenas empresas: uma aplicação do modelo de Miles e Snow. Revista de Administração Contemporânea, v. 3, n. 2, p. 53-74, 1999. GINSBERG, A. Operationalizing organizational strategy : toward an integrative framework. Academy of Management Review, v. 9, n. 3, p. 548-557, 1984. GULINI, P. L. Ambiente organizacional, comportamento estratégico e desempenho empresarial: um estudo no setor de provedores de internet de Santa Catarina. 2005. 160f. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Administração) – Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu, 2005. HAMBRICK, D. C. On the staying power of defenders, analyzers, and prospectors. Academy of Management Executive, v. 17, n. 4, 2003. MARTINS, E. S. Comportamento estratégico, ambidestria, incerteza ambiental e desempenho no processo de formulação de estratégias de empresas vinícolas brasileiras. Tese de doutorado – Programa de PósGraduação em Administração, Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu, 2012. MILES, R. E. et al. Organizational strategy, structure, and process. Academy of Management Review, v. 3, n. 3, p. 546-562, 1978. MINTZBERG, H. Strategy-making in three modes. California Management Review, v. 16, n. 2, p. 44-53, 1973. MINTZBERG, H. Patterns in strategy formation. Management Science, v. 24, n. 9, p. 934-948, 1978. 15 XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013. MINTZBERG, H. Crafting strategy. Harvard Business Review, v. 65, n. 4, p. 66-75, 1987. MINTZBERG, H. Generic strategies: toward a comprehensive framework. In: Advances in Strategic Management, Greenwich, 1988, v. 5. p. 1-67. MINTZBERG, H. Five P's for strategy. In: MINTZBERG, H.; QUINN, J. B. The strategy process. Englewood Cliffs, NJ : Prentice-Hall, 1992. p. 12-19. OHMAE, K. Mundo sem fronteiras: poder e estratégia em uma economia global. São Paulo: Makron Books, 1991. PORTER, M. E. Competitive strategy: techniques for analyzing industries and competitors. Free Press, 1980. PORTER, M. E. Estratégia Competitiva: Técnicas para Análise de Indústrias e da Concorrência. Rio de Janeiro: Campus, 1986. PORTER, M. E. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência. 7. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1996. SILVA, J. F. da; BRANDT, E. A.; COSTA, L. S. de V. Truelo de tipologias estratégicas na arena das franquias de fast food no Brasil: Porter x Miles & Snow x Mintzberg. In: In: Encontro Anual da Anpad, 27., 2003, São Paulo. Anais... São Paulo: ANPAD, 2003. SMITH, K. G.; GUTHRIE, J. P.; CHEN, M. Strategy, size and performance. Organization Studies, v. 10, n. 1, p. 63-81, 1989. SNOW; C. C.; HREBINIAK, L. G. Strategy, distinctive competence, and organizational performance. Administrative Science Quartely, v. 25, p. 317-336, 1980. ZAHRA, S. A.; PEARCE II, J. A. Research evidence on the Miles-Snow typology. Journal of Management, v.16, n. 4, 751-768, 1990. ABICALÇADOS. Associação Brasileira das <www.abicalcados.com.br/>. Acesso em: 09 fev. 2013. SINCASJA. Sindicato das Indústrias de <www.sincasjb.com.br/>. Acesso em 09/02/2013. Indústrias Calçados de de São Calçadas. João Batista. Disponível Disponível em: em: 16