Banco de imagens do CFM ANO XXVIII • Nº 226• NOVEMBRO/2013 Fiscalização médica Resolução estabelece critérios para funcionamento de serviços O texto estabelece as exigências que devem ser atendidas para que a medicina possa ser exercida sem problemas em consultórios e postos de saúde Págs. 6 a 8 CFM e MPT reforçam críticas ao Mais Médicos junto ao STF Pág. 4 Mais Médicos Urgência e Emergência Saúde da Criança Denúncias de ilegalidades chegam à OMS e OIT Vistorias atestam caos em hospitais públicos Recomendação estimula ingestão de ácido fólico Pág. 3 Pág. 5 Pág. 10 2 EDITORIAL Reforço à fiscalização Cabe aos conselhos de medicina atuarem em defesa do bom exercício profissional, assegurando condições para a atuação dos médicos Como autarquias públicas especiais, cabe aos conselhos de medicina atuarem em defesa do bom exercício profissional, assegurando condições para a atuação dos médicos e da oferta de assistência de qualidade para a população. Em seu artigo 2º, a Lei 3.268/57 não deixa dúvidas sobre esta missão. “O Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Medicina são os órgãos supervisores da ética profissional em toda a República e ao mesmo tempo, julgadores e disciplinadores da classe médica, cabendo-lhes zelar e trabalhar por todos os meios ao seu alcance, pelo perfeito desempenho ético da medicina e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exerçam legalmente”, afirma o texto. Nesta edição do jornal Medicina detalhamos um importante instrumento na luta por melhores condições de trabalho e pela oferta de uma assistência digna e de qualidade, como a população merece e tem direito. A Resolução 2.056/13 representa um marco para a fiscalização dos serviços de saúde do país ao agregar modernidade, objetividade e eficiência. Com ela, os CRMs poderão apontar as irregularidades em nível local nos serviços públicos, chamando os gestores à responsabilidade. Se antes os relatórios poderiam levar semanas para ser concluí dos, agora, com o auxílio da informática, os documentos ficarão prontos em horas. Além disso, com a definição de parâmetros nacionais, será possível traçar diagnósticos sobre a qualidade dos serviços oferecidos e detectar os problemas mais comuns de Norte a Sul. Os ganhos serão de todos, mas principalmente dos cidadãos que contarão com o apoio qualificado dos conselhos de medicina na luta por uma saúde melhor. Também apresentamos aos leitores a cobertura da audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF) que analisou diferentes aspectos relacionados ao programa Mais Médicos. O ministro Marco Aurélio Mello adiantou que sua decisão sobre as ações diretas de inconstitucionalidade em tramitação, das quais é relator, ficará para 2014. No entanto, será difícil esquecer os argumentos apresentados por aqueles que enxergam nesta inicia- tiva uma sucessão de equívocos legais e técnicos. Em seu pronunciamento, o presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila, acusou a irresponsabilidade do governo. No que foi apoiado por diversos outros que compareceram ao STF. Além da crítica técnica, teve destaque a leitura jurídica feita pelo Ministério Público do Trabalho, cujo representante – procurador Sebastião Caixeta – foi veemente: trata-se de uma ação eivada de ilegalidades. Finalmente, nesta edição registramos mais uma homenagem do CFM ao conselheiro Luiz Nódgi, representante do Piauí no plenário, que nos deixou em setembro. A partir de agora, a Câmara 2 do CFM – onde são realizadas reuniões e sindicância – tem seu nome, uma forma de enaltecer seu compromisso com o fortalecimento do sistema conselhal e de toda a classe médica. Mais uma vez, o CFM expressa seu pesar pela perda do amigo. Desiré Carlos Callegari Diretor executivo do jornal Medicina Cartas* Comentários podem ser enviados para [email protected] Sugiro que o Ministério Público Federal seja convidado a se alinhar com o CFM no debate sobre os baixos salários dos médicos. Acredito que há espaço para fortalecer as lutas da categoria. Carlos Barreto [email protected] CRM-ES 3.670 CFM Responde: Encaminharemos sua sugestão para a direção do CFM. E lembramos que há boa relação entre o Conselho e o MPF. Inclusive, em agosto, houve fechamento de parceria institucional para análise conjunta de temas relativos à saúde. Quero parabenizar o CFM pela postura em defesa da saúde do povo brasileiro, que merece ser respeitado. Querem fazer política barata, enganando a população com a importação de profissionais não qualificados. A classe médica está revoltada com o descaso dos políticos. Mais uma vez, parabéns ao CFM por estar alerta com relação a este atentado e contra o desprestígio da medicina. Saul Berdi [email protected] CRM-RS 5.108 Onde está a valorização do profissional que investiu neste país e que lutou para passar nos vestibulares mais concorridos? É inadmissível pensar que o governo rejeita o seu próprio povo e dá preferência a médicos cubanos! Não à importação de médicos sem revalidação! Política nunca foi meu assunto predileto; por isso, nem tenho lado definido (direita ou esquerda). Procuro sempre estar do lado certo. Mas tenho dito que não adianta trazer médicos de Cuba porque o problema não é falta de médicos, mas falta de recursos. Então, fica óbvio que se ao invés de estádios tivessem sido construídos hospitais e postos de saúde, talvez aí, sim, se reforçaria a medicina preventiva. Me considero parte dessa causa e vou lutar ativamente por uma saúde melhor para o nosso país. Temos que mostrar à população e ao governo que há médicos em demasia, concentrados nos grandes centros por falta de uma política adequada de interiorização. CFM, AMB, Fenam e ANMR devem estar unidos. Assim, poderemos nos investir de nossa verdadeira força. Vanessa Claudia de Lima Penteado [email protected] CRM-SP 95.309 Giovani Lacerda [email protected] CRM-BA 13.456 João Vicente de Souza Filgueiras [email protected] CRM-RS 37.527 * Por motivo de espaço, as mensagens poderão ser editadas sem prejuízo de seu conteúdo jornal MEDICINA - NOV/2013 Publicação oficial do Conselho Federal de Medicina SGAS 915, Lote 72, Brasília-DF, CEP 70 390-150 Telefone: (61) 3445 5900 • Fax: (61) 3346 0231 http://www.portalmedico.org.br [email protected] Diretoria Presidente: 1º vice-presidente: 2º vice-presidente: 3º vice-presidente: Secretário-geral: 1º secretário: 2º secretário: Tesoureiro: 2º tesoureiro: Corregedor: Vice-corregedor: Roberto Luiz d’ Avila Carlos Vital Tavares Corrêa Lima Aloísio Tibiriçá Miranda Emmanuel Fortes Silveira Cavalcanti Henrique Batista e Silva Desiré Carlos Callegari Gerson Zafalon Martins José Hiran da Silva Gallo Dalvélio de Paiva Madruga José Fernando Maia Vinagre José Albertino Souza Conselheiros titulares Abdon José Murad Neto (Maranhão), Aldemir Humberto Soares (AMB), Aloísio Tibiriçá Miranda (Rio de Janeiro), Cacilda Pedrosa de Oliveira (Goiás), Carlos Vital Tavares Corrêa Lima (Pernambuco), Celso Murad (Espírito Santo), Cláudio Balduíno Souto Franzen (Rio Grande do Sul), Dalvélio de Paiva Madruga (Paraíba), Desiré Carlos Callegari (São Paulo), Emmanuel Fortes Silveira Cavalcanti (Alagoas), Gerson Zafalon Martins (Paraná), Henrique Batista e Silva (Sergipe), Hermann Alexandre Vivacqua Von Tiesenhausen (Minas Gerais), Jecé Freitas Brandão (Bahia), José Albertino Souza (Ceará), José Antonio Ribeiro Filho (Distrito Federal), José Fernando Maia Vinagre (Mato Grosso), José Hiran da Silva Gallo (Rondônia), Júlio Rufino Torres (Amazonas), Luiz Nódgi Nogueira Filho, in memoriam (Piauí), Maria das Graças Creão Salgado (Amapá), Mauro Luiz de Britto Ribeiro (Mato Grosso do Sul), Paulo Ernesto Coelho de Oliveira (Roraima), Pedro Eduardo Nader Ferreira (Tocantins), Renato Moreira Fonseca (Acre), Roberto Luiz d’ Avila (Santa Catarina), Rubens dos Santos Silva (Rio Grande do Norte), Waldir Araújo Cardoso (Pará). Conselheiros suplentes Ademar Carlos Augusto (Amazonas), Alberto Carvalho de Almeida (Mato Grosso), Alceu José Peixoto Pimentel (Alagoas), Aldair Novato Silva (Goiás), Alexandre de Menezes Rodrigues (Minas Gerais), Ana Maria Vieira Rizzo (Mato Grosso do Sul), Antônio Celso Koehler Ayub (Rio Grande do Sul), Antônio de Pádua Silva Sousa (Maranhão), Ceuci de Lima Xavier Nunes (Bahia), Dílson Ferreira da Silva (Amapá), Elias Fernando Miziara (Distrito Federal), Glória Tereza Lima Barreto Lopes (Sergipe), Jailson Luiz Tótola (Espírito Santo), Jeancarlo Fernandes Cavalcante (Rio Grande do Norte), Lisete Rosa e Silva Benzoni (Paraná), Lúcio Flávio Gonzaga Silva (Ceará), Luiz Carlos Beyruth Borges (Acre), Makhoul Moussallem (Rio de Janeiro), Manuel Lopes Lamego (Rondônia), Marta Rinaldi Muller (Santa Catarina), Mauro Shosuka Asato (Roraima), Norberto José da Silva Neto (Paraíba), Renato Françoso Filho (São Paulo), Wilton Mendes da Silva (Piauí). Conselho editorial Abdon José Murad Neto, Aloísio Tibiriçá Miranda, Cacilda Pedrosa de Oliveira, Desiré Carlos Callegari, Henrique Batista e Silva, Mauro Luiz de Britto Ribeiro, Paulo Ernesto Coelho de Oliveira, Roberto Luiz d’Avila Diretor-executivo: Editor: Editora-executiva: Redação: Copidesque e revisor: Secretária: Apoio: Fotos: Impressão: Desiré Carlos Callegari Paulo Henrique de Souza Thaís Dutra Ana Isabel de Aquino Corrêa Milton de Souza Júnior Nathália Siqueira Rejane Medeiros Vevila Junqueira Napoleão Marcos de Aquino Amanda Ferreira Amilton Itacaramby Márcio Arruda - MTb 530/04/58/DF Esdeva Indústria Gráfica S.A. Projeto gráfico e diagramação: Mares Design & Comunicação Tiragem desta edição: 380.000 exemplares Jornalista responsável: Paulo Henrique de Souza RP GO-0008609 Mudanças de endereço devem ser comunicadas diretamente ao CFM pelo e-mail [email protected] Os artigos e os comentários assinados são de inteira responsabilidade dos autores, não representando, necessariamente, a opinião do CFM POLÍTICA E SAÚDE 3 Ilegalidades no Mais Médicos CFM faz denúncia contra programa na OMS e OIT PALAVRA DO PRESIDENTE Roberto Luiz d’Avila Para a entidade, o governo desrespeitou acordo internacional para contratação de estrangeiro, entre outras irregularidades O Conselho Federal de Medicina (CFM) encaminhou denúncia formal às organizações Mundial da Saúde (OMS) e Internacional do Trabalho (OIT) por ilegalidades na contratação de profissionais estrangeiros para atua rem no programa Mais Médicos. Para o CFM, neste processo o governo brasileiro desconsiderou termos do Código Global de Prática para Recrutamento Internacional de Profissionais de Saúde da OMS, do qual é signatário. De acordo com o documento encaminhado, ao mascarar a contratação de mão de obra para atuar no atendimento direto aos pacientes como suposto programa de ensino médico, o governo trata com desigualdade os médicos que vieram de outros países. Também preocupa o CFM a existência de um esquema de intermediação/exploração de mão de obra – estabelecido no contrato firmado entre o Mi- nistério da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) que receberá 5% de todos os salários dos médicos cubanos, sem justificativa ou previsão legal para tanto – o que poderá representar até R$ 510,9 milhões para esse organismo internacional. Na denúncia, o CFM aponta que a contratação dos médicos estrangeiros não atende aos princípios da transparência, equidade e promoção da sustentabilidade dos sistemas de saúde dos países em desenvolvimento. “Em síntese, as denúncias do CFM fazem parte dos esforços despendidos pela instituição contra a implementação do programa Mais Médicos", disse o 1º vice-presidente do CFM, Carlos Vital, um dos formuladores da denúncia. Segundo ele, “trata-se de um processo de contratação de médicos, sem avaliação de suas competências, para assistência à saúde da maior e mais carente par- te da população brasileira, com revestimento de pseudocurso em pós-graduação, promovido com outras intenções e com ações de marketing milionário, em desperdício do erário, em detrimento daqueles que dependem de assistência da saúde pública”. Preocupado com o impacto da medida, afirmou que “essa pseudoforma de assistência à saúde é imposta ao cidadão sob o argumento coator de que esqueça a falta de infraestrutura e aceite esse médico sem revalidação do diploma obtido no exterior ou permaneça doente”. Carlos Vital lembrou ainda que “de modo paradoxal à ética da responsabilidade social e às necessidades do SUS, nos últimos 12 anos deixaram de ser realizados ou aplicados R$ 94 bilhões do pífio orçamento destinado ao Ministério da Saúde. Portanto, as denúncias do CFM vêm ao encontro de amplo exercício de cidadania.” Desrespeito a Código afeta transparência e equidade O Código Global de Prática para o Recrutamento Internacional de Profissionais de Saúde * é um documento aprovado na 63ª Assembleia Mundial de Saúde, em 21 de maio de 2010. Confira abaixo alguns dos itens que estão sendo descumpridos pelo governo federal. Item 3.5 Esta cláusula estabelece que o recrutamento internacional de profissionais de saúde deve ser conduzido segundo os princípios da transparência, equidade e promoção da sustentabilidade dos sistemas de saúde dos países em desenvolvimento. Item 4.2 Determina que recrutadores e empregadores devem estar cientes e considerar responsabilidades legais de profissionais de saúde para o sistema de saúde de seus próprios países, tal como um contrato de trabalho justo e razoável. Item 4.4 Orienta os países que optarem pelo recrutamento a garantir aos profissionais contratações justas, sem submissão a condutas ilegais ou fraudulentas. Pela regra, os recrutadores e empregadores devem fornecer aos profissionais de saúde migrantes informações pertinentes e precisas sobre todos os cargos oferecidos. Item 4.5 Reforça a necessidade de isonomia entre os profissionais de saúde (estrangeiros e nacionais). Pela cláusula, devem ser assegurados aos que vêm do exterior os mesmos direitos e responsabilidades legais que os formados no país em termos de emprego e condições de trabalho. *A íntegra do Código está disponível (em inglês) no seguinte endereço: http://www.who.int/hrh/migration/code/code_en.pdf jornal MEDICINA - NOV/2013 Não durou um minuto, mas foi o suficiente para mostrar como alguns gestores são incapazes de lidar com a crítica e com outras formas de pensamento. Num dos intervalos da audiência pública do Supremo Tribunal Federal (STF) para discutir as denúncias de ilegalidades contra o programa Mais Médicos, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, me procurou – em meio a várias testemunhas – para falar sobre um comentário que fiz. Em minha exposição ao ministro Marco Aurélio Mello disse que, no meu entendimento, o Mais Médicos é feito por "profissionais de calça curta que chegaram agora e pensam que estão construindo o SUS". O comentário não foi pejorativo e nem direcionado ao ministro, mas ele se sentiu ofendido e usou de ironia para tirar satisfações. Num diálogo rápido, me agarrou pelo braço e alfinetou: "Da próxima vez, venho de bermuda para agradá- lo". A provocação foi o suficiente para me fazer dar uma resposta à queima-roupa. Informei-lhe que não seria necessário fazer isso, apenas bastava adotar ações coerentes, que não desvalorizem o médico brasileiro. Aproveitei a deixa e reclamei ao ministro Padilha da campanha milionária que tem sido orquestrada pelo governo com vistas a desmoralizar a medicina brasileira, utilizando como desculpa o Mais Médicos. Afinal, são bilhões de reais investidos em anúncios e propagandas que mostram os intercambistas cubanos como “heróis da saúde” e os médicos brasileiros como profissionais insensíveis. Tamanha injustiça e desrespeito são agressões gratuitas a uma categoria que, historicamente, é corresponsável por todos os avanços alcançados no país no campo da saúde pública. Desde sua criação, os médicos apoiam e lutam pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Se este modelo tem êxitos, os deve em grande parte à dedicação de milhares de colegas que fazem medicina em lugares onde falta tudo. No atual momento, ao adotar esta postura, o governo faz um jogo de marketing, aproveitando-se da fragilidade da maioria da população. Omite-se de apresentar soluções reais, cria um programa de “ faz de conta” e atira sobre os médicos a responsabilidade por seu próprio fracasso. O Ministério Público do Trabalho denunciou, por exemplo, que o Mais Médicos – apesar de jogar luz sobre um problema real que deve ser atacado – coleciona uma sucessão de equívocos legais. E nada justifica desobedecer a lei para resolver questões que poderiam ser sanadas com outras medidas, como aporte de mais recursos, profissionalização dos processos de gestão e criação de uma carreira de Estado para os médicos e outros profissionais do SUS. Entendemos que o embate em torno deste programa ainda está longe do fim. Continuaremos a acompanhar seus equívocos, atropelos e a denunciá-lo em todas as instâncias possíveis. Até porque todos temos na mão um poderoso instrumento para mostrar que as escolhas feitas foram erradas. Como profissionais e cidadãos, o exercício do voto num ano de eleições – como o é 2014 – pode ser um alerta definitivo para aqueles que acham viável a manipulação impune das massas. Para eles, é importante ressaltar que os tempos são outros, de consciência plena sobre direitos e deveres. E é assim que a sociedade mostrará que, ao contrário do que afirmam pesquisas tendenciosas, o marketing não tem o poder de influenciar decisões tomadas pelas urnas. Política e Saúde Ilegalidades do Mais Médicos Julgamento no STF fica para 2014 Audiência pública deve influenciar decisão sobre duas ADIs contra o programa O ministro Marco Aurélio Mello, relator no Supremo Tribunal Federal (STF) de duas ações diretas de inconstitucionalidade (ADI) contra o programa Mais Médicos, acredita que os julgamentos acontecerão no primeiro semestre de 2014. A informação foi dada durante audiência pública convocada pelo Supremo para angariar subsídios acerca do tema. As ADIs em tramitação são as de número 5.035 e 5.037, ajuizadas, respectivamente, pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU). Representantes de entidades médicas, do Ministério Público do Trabalho (MPT) e parlamentares apontaram, durante audiência realizada nos dias 25 e 26 de novembro em Brasília, equívocos e problemas do programa do governo. Críticas do CFM – O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Roberto Luiz d’Avila, criticou a falta de validação de diplomas dos intercambistas do programa afirmando que a medida cria dois tipos de pacientes no país. Além de abordar a negligência com que o governo trata questões como a desestruturação do atendimento, o baixo investimento no Sistema Único de Saúde (SUS) e a falta de empenho da atual gestão em resolver tais problemas, d’Avila apresentou denúncias da imprensa sobre erros cometidos no atendimento à população. Depoimentos – O presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Florentino Cardoso, e o Fotos: Assessoria STF 4 Audiência: o ministro Marco Aurélio ouviu, por dois dias, diferentes críticas ao programa Mais Médicos diretor da entidade, José Bonamigo, bem como o presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Geraldo Ferreira, também esclareceram equívocos cometidos com a medida. Marco Aurélio Mello também ouviu o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o advogado geral da União, Luiz Adams, técnicos do governo e representantes de outras entidades. MPT aponta série de problemas na iniciativa O procurador do Trabalho Sebastião Vieira Caixeta disse, durante a audiência, que é “nobre” e “necessário” suprir a necessidade de atenção básica de saúde no Brasil, mas que “isso tem de ser feito sem o comprometimento de outros valores constitucionais”. O relatório parcial do Ministério Público do Trabalho (MPT) sobre o tema, divulgado em 30 de outubro, revela, “com muita clareza, que o que se tem de fato é uma relação de trabalho que, infelizmente, está mascarada por um programa de aperfeiçoamento, que seria uma pós-graduação, com foco no ensino, na pesquisa e na extensão. Na prática, o que se vê, de fato, é uma relação de trabalho”. Arbitrariedade – Caixeta observou que a Medida Provisória (MP) 621/13, convertida na Lei 12.871/13, não poderia, arbitrariamente, contrariando os seus próprios pressupostos, fazer configuração legal destoante do que ocorre na prática. “A atividade de serviço [dos participantes do Mais Médicos] é preponderante”, destacou, observando que das 40 horas semanais de dedicação do profissional, 32 são de atividade laboral. “Os direitos sociais trabalhistas têm alcance coletivo e geral”, e acrescenta que “a regra de investidura no serviço público é o concurso público. Quando se excepciona isso, deve haver, no mínimo, um processo público de seleção, ainda que simplificado. E a seleção deve observar critérios objetivos”. Sem sucesso – Caixeta também questionou o fato de os profissionais cubanos não receberem a bolsa de R$ 10 mil, haja vista que o dinheiro é repassado pelo Brasil, por meio de convênio, para a Organização Pan- Americana da Saúde (Opas), a qual, por sua vez, o repassa para Cuba, responsável por remunerar esses profissionais. O procurador do Trabalho relatou ter tentado, sem sucesso, acesso ao convênio entre a Opas e Cuba. “Não obtive formalmente a informação e, ao que parece, nem o governo brasileiro tem esse acesso”, informou. Acrescentou que o MPT fará inspeções das atividades do Mais Médicos in loco e que os resultados colhidos serão juntados ao processo no STF. Para assistir a íntegra da audiência pública, acesse o canal do STF no Youtube: http:// www.youtube.com/stf . jornal MEDICINA - NOV/2013 D’Avila: foco na falta de revalidação dos diplomas obtidos no exterior Homenagem – Na noite de 28 de novembro foi realizada a cerimônia de colação de grau da 74ª turma de formandos em Medicina da Universidade Gama Filho. A classe é conhecida como “Turma Dr. Roberto Luiz d’Avila”, em homenagem ao presidente do CFM, que também recebeu o título de patrono. Para os estudantes, d’Avila é hoje um referencial da consciência médica atual por seu empenho, responsabilidade, austeridade e forma como conduziu as discussões e o andamento dos movimentos em prol da melhoria do caráter médico junto às entidades de classe. Em nome do CFM, d’Avila agradeceu o prestígio e lembrou da importância da juventude para o futuro da medicina: “Fico feliz por ver tantos formandos fazerem esse compromisso com a profissão". Integrante do programa faz críticas Um dos destaques da audiência pública foi a participação do médico William José Bicalho Hastenreiter Paulo, integrante do programa Mais Médicos, que não poupou críticas ao governo federal. Ele classificou a iniciativa como eleitoreira, disse que a tutoria recebida do governo é precária, apontou a ausência de direitos trabalhistas e afirmou que, ao trazer médicos de fora, o governo pretende evitar críticas sobre a precariedade da saúde pública no país. Eleitoreira – “O objetivo real do Mais Médicos é eleitoreiro. Um marqueteiro, João Santana, já fez o mesmo na Venezuela”, relatou William Paulo, para quem a ação tem relação com as pretensões políticas da presidente Dilma Rousseffe do ministro Padilha. Ao encerrar, afirmou que espera não sofrer perseguições. Na sequência, o ministro Marco Aurélio Mello repetiu o desejo de que não haja retaliações. POLÍTICA E SAÚDE 5 Urgência e Emergência Agência Câmara Vistorias apontam caos no atendimento Oito grandes hospitais de emergências do país são avaliados por entidades médicas, parlamentares, MP e OAB P acientes internados em macas pelos corredores e colchões sobre o chão, instalações inadequadas, paredes com mofo e infiltrações. Cenários que se assemelham aos de uma enfermaria de guerra. Este é o panorama dos principais hospitais públicos de urgência e emergência visitados pelos conselhos de medicina, numa ação desenvolvida com a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM). O relatório preliminar das vistorias foi apresentado durante o seminário “O Caos no Atendimento de Urgência e Emergência no Brasil”, realizado em novembro, no Congresso Nacional. A partir das vistorias, o Congresso Nacional recomendará às autoridades competentes que, dentre outras providências, adote efetivamente a Política Nacional de Atenção às Urgências, adequando o financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS); amplie a abrangência do programa ‘SOS Emergência’, lançado em 2011; fortaleça os sistemas de referência e contrarreferência e a informatização dos serviços, para que estes se dediquem aos casos realmente graves. O subfinanciamento também foi apontado como “a expressão maior da falta de prioridade” para o tema. Para expor esse quadro, a Comissão recorreu a recente análise do Conselho Federal de Medicina (CFM) que, com base em dados oficiais do governo, revelou que o Ministério da Saúde deixou de aplicar quase R$ 94 bilhões no SUS ao longo dos últimos 12 anos. Para o 2º vice-presidente do CFM e coordenador da Comissão Nacional Pró-SUS, Aloí sio Tibiriçá, o Executivo federal precisa acatar imediatamente as recomendações das entidades médicas e demais partici- pantes da ação, não apenas no que diz respeito à infraestrutura e financiamento, mas, também, àquelas relacionadas à remuneração dos prestadores de serviços e valorização dos profissionais. “É preciso enfrentar a questão de recursos humanos para emergências, promovendo a formação adequada em programas específicos de residência médica e a criação de planos de carreira no SUS, entre outros pontos”, disse Tibiriçá. Mauro Ribeiro, coordenador da Câmara Técnica de Urgência e Emergência do CFM, acompanhou de perto os trabalhos da Comissão e enfatizou que muitos dos problemas encontrados se devem a questões estruturais, ainda não adequadamente resolvidas pelo SUS. “São problemas que estão ferindo a dignidade e os direitos dos cidadãos brasileiros, previstos na lei”, disse. Tibiriça (à dir.): acusou a falta de responsabilidade do governo Sofrimento: a diminuição nos investimentos penaliza os cidadãos Hospitais vistoriados pela CDHM Arthur Ribeiro de Saboya, em São Paulo (SP) Souza Aguiar, no Rio de Janeiro (RJ) Hospital Geral Roberto Santos, em Salvador (BA) Pronto-Socorro João Paulo II, em Porto Velho (RO) Pronto-Socorro Municipal Mario Pinotti, em Belém (PA) Hospital de Base, em Brasília (DF) Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre (RS) Pronto-Socorro Municipal de Várzea Grande, em Mato Grosso (MT) Denúncias de precariedade na rede pública continuam a chegar aos CRMs A situação constatada pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias nas urgências e emergências do Brasil reflete realidade denunciada diariamente por médicos e pacientes. Nas unidades de gestão municipal, estadual ou federal os problemas mais comuns são aqueles que prejudicam não apenas a assistência em saúde, mas também o exercício da medicina. Confira a seguir algumas das denúncias do mês de novembro: Pernambuco Piauí Rio de Janeiro O conselho regional de medicina local (Cremepe) e o Sindicato dos Médicos realizaram uma “blitz noturna” em cinco hospitais públicos (Hospital da Restauração, Hospital Agamenon Magalhães, Pronto-Socorro Cardiológico de Pernambuco, Policlínica Amaury Coutinho e Unidade Mista Barros Lima) para avaliar a estrutura e as escalas de plantão, além de verificar com pacientes a qualidade dos atendimentos. Escalas médicas incompletas, demora na entrega dos exames, emergências superlotadas e pacientes nos corredores foram alguns dos problemas encontrados pelas entidades médicas. O relatório foi entregue às autoridades Médicos da diretoria e intensivistas do Hospital Universitário (HU) do estado pediram demissão no dia 29 de novembro, em protesto pela falta de estrutura e de condições mínimas de trabalho na unidade. Os profissionais reclamavam de carência de equipamentos básicos na unidade de terapia intensiva (UTI). Recentemente, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Piauí (CRM-PI) realizou fiscalização nas instalações do HU e identificou uma série de irregularidades – como a falta de alvará da Vigilância Sanitária, por exemplo – que irão compor um relatório a ser entregue às autoridades. Atualmente, o hospital é administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). O conselho regional de medicina local (Cremerj) pediu ao secretário municipal de Saúde, Hans Dohmann, o fechamento da emergência do Hospital Municipal Salgado Filho após ter detectado falta de leitos e de profissionais na unidade. Médicos do hospital apontaram que o posto sofre com a superlotação, falta de recursos humanos, salários baixos e péssimas condições de trabalho. Também por problemas de estrutura e carência de profissionais, o corpo clínico do Hospital Federal do Andaraí, com sede na capital fluminense, divulgou carta aberta na qual descreve o hospital como um “amontoado de escombros“. Para os profissionais da unidade, as péssimas condições evoluem para o fechamento dos serviços e prejudicam ainda mais a população. jornal MEDICINA - NOV/2013 6 PLENÁRIO E COMISSÕES Fiscalização médica CFM moderniza processo de vistorias Com a Resolução 2.056/13, os CRMs têm um instrumento para exigir boas condições de trabalho e assistência A partir de 2014, as fiscalizações em unidades de saúde feitas pelos conselhos regionais de medicina (CRMs) serão mais ágeis e terão mais efetividade. A base para essa afirmação está na Resolução 2.056/13, publicada no Diário Oficial da União (DOU) no dia 12 de novembro, que moderniza as regras de fiscalização e estabelece critérios mínimos para o funcionamento de estabelecimentos médicos por meio do Manual de Vistoria e Fiscalização da Medicina no Brasil. A nova resolução substitui a 1.613/01 e vem acompanhada da informatização do processo de fiscalização. As vistorias serão padronizadas e realizadas com o auxílio de tablets, o que fará com que os resultados sejam enviados imediatamente para os CRMs e para o Conselho Federal de Medicina (CFM). “Essa resolução muda substancialmente o trabalho de fiscalização realizado pelos conselhos regionais. É um esforço do CFM para uniformizar as práticas do controle da medicina. Queremos dar mais segurança ao ato médico e, consequentemente, ao paciente”, explica o 3º vice-presidente e coordenador de fiscalização da entidade, Emmanuel Fortes, relator da resolução. Prazos – A Resolução 2.056/13 entra em vigor 180 dias após sua edição e, no primeiro se- Modernidade: novas regras trarão mais agilidade e uniformidade ao processo de fiscalização nas unidades de saúde mestre de 2014, devem ser editados novos anexos à mesma. O plenário do CFM deve votar os manuais de vistoria e fiscalização para hospitais-dia, hospitais gerais, incluindo as unidades de terapia intensiva, e clínicas de diagnósticos. “A nossa intenção é terminar o mandato com todos esses manuais aprovados”, adianta Emmanuel Fortes. Até a entrada em vigor da resolução, os CRMs farão vistorias educativas, orientando os gestores sobre a necessidade de adequação às regras. Depois desse prazo, os gestores das unidades de saúde fiscalizadas terão um tempo Regra exige requisitos mínimos Fortes: meta é concluir a reforma da fiscalização dos CRMs até 2014 Unidades podem sofrer interdição ética A interdição ética proí be o médico de trabalhar no local enquanto não forem oferecidas condições mínimas de trabalho. Geralmente, ela só ocorre em casos extremos e após o CRM ter notificado o gestor preliminarmente. Mas há casos em que é feita na primeira visita do fiscal. “Se um consultório não tem porta, por exemplo, ele é interditado imediatamente, pois não está garantindo a privacidade do paciente”, explica o diretor de Fiscali- zação do CRM da Paraíba e integrante do grupo de trabalho que elaborou a Resolução 2.056/12, Eurípedes Souza. A medida é adotada pelo CRM, mas os próprios médicos podem suspender suas atividades se considerarem que não têm condições de trabalhar no local. Para tanto, o corpo clínico deverá entrar em contato com o CRM, que após ir ao local poderá concordar, ou não, com a suspensão. A Resolução 2.056/13 estabelece a infraestrutura mínima a ser exigida dos consultórios e ambulatórios médicos, de acordo com sua atividade-fim e/ou especialidade. Essa é a diferença para a Resolução 1.613/01, que não detalhava parâmetros mínimos. Emmanuel Fortes ressalta que as exigências estão amparadas em portarias do Ministério da Saúde. “Não inventamos nada, apenas queremos que sejam atendidos os requisitos básicos estabelecidos pelo próprio governo”, afirma. Os consultórios e ambulatórios foram divididos em três tipos. Dos consultórios e serviços do Grupo 1, em que são realizadas apenas consultas, serão exigidos, por exemplo, equipamentos básicos como tensiômetro, estetoscópio, termômetro, maca, lençóis, pia, cadeiras para o médico, paciente e acompanhante, jornal MEDICINA - NOV/2013 entre outras exigências. Já para os do Grupo 2, onde se executam procedimentos sem anestesia local e sem sedação, como o consultório de um cardiologista que faz apenas eletrocardiogramas, serão exigidos, além do listado no consultório básico, equipamentos próprios necessários para os exames específicos. Nos consultórios ou serviços com procedimentos invasivos ou que exponham os pacientes a risco de vida (Grupo 3), que realizem, por exemplo, teste ergométrico ou façam procedimentos com anestesia local ou sedações leves, os fiscais devem averiguar se há os instrumentos que assegurem a aplicação de forma segura e, em havendo complicação, tenha equipamentos de socorro à vida. O médico precisa ser preparado para realizar os primeiros procedimentos de suporte à vida. de 15 dias, prorrogáveis por mais 15, para resolver os problemas apontados. Caso contrário, o CFM oferecerá denúncias aos órgãos competentes, como o Ministério Público e os Tribunais de Contas. Também indicará a realização de interdições éticas, como já ocorre na Paraíba e no Rio Grande do Sul. Prontuário médico Os hospitais também terão de se adaptar à resolução quanto ao registro do prontuário do paciente. Nele, deverá constar anamnese, folhas de prescrição e de evolução exclusiva para médicos e enfermeiros, e também para os demais profissionais de saúde que intervenham na assistência. As evoluções e prescrições de rotina devem ser feitas pelo médico assistente pelo menos uma vez ao dia. A atualização diária também é exigida dos estabelecimentos geriátricos, psiquiátricos e de cuidados paliativos nos casos de pacientes agudos. Em pacientes estabilizados, a atualização deve ser de, no mínimo, três vezes por semana. As folhas do prontuário também devem ser de cores diferentes e divididas em colunas. Atualmente, poucos estabelecimentos seguem essa rotina. 7 PLENÁRIO E COMISSÕES Fiscalização médica A Nos CRMs, começa a era dos tablets gora, a caneta e o papel do médico auditor serão substituídos pelo tablet. O CFM vai entregar a cada CRM um kit composto pelo equipamento, uma máquina fotográfica, um medidor laser para averiguar o tamanho dos ambientes, um scanner digital, uma impressora portátil, além de um software. As vistorias devem seguir a determinação do Manual de Vistoria, espécie de check list a ser seguido pelo auditor. “Antes, cada CRM fazia a fiscalização do seu jeito. Agora, será mais fácil parametrizar e gerar relatórios estatísticos”, explica Gleidson Porto, analista responsável pelo projeto no setor de informática do CFM. O diretor de fiscalização do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers), Antônio Celso Ayub, que participou do grupo de trabalho responsável pela elaboração da Resolução 2.056/13, argumenta que devido ao vácuo normativo cada conselho estabelecia suas próprias regras, o que levava os grandes conselhos a apresentarem “estratégias mais eficientes de controle”. Outra vantagem da informatização é a agilização no envio dos relatórios. “Antes, o fiscal tinha de indicar a normativa do Ministério da Saúde que não estava sendo atendida. Agora, essa indicação faz parte do próprio programa. O relatório, que podia levar mais de trinta dias para ser concluído, é enviado imediatamente para o CRM e o CFM após Online: os novos equipamentos possibilitarão enviar dados pela internet, trazendo rapidez e eficiência às vistorias a conclusão da vistoria”, detalha o diretor de fiscalização do Conselho Regional do Estado da Paraíba, Eurípedes Souza. Pela primeira vez, o CFM terá acesso ao conteúdo das visitas de fisca- lização de forma online e digitalizada. Essa rotina permitirá a elaboração de estudos e levantamentos sobre carências e necessidades comuns ao sistema. Como forma de familiarizar os auditores com as novas ferramentas, o CFM vai oferecer um treinamento nos dias 4 e 5 de dezembro, em Brasília, para todos os coordenadores de fiscalização e mais um médico auditor contratado pelo CRM. GO e PB já estrearam novo manual Diálogo: resolução também ajuda a relação entre médicos e pacientes Anamnese ganha estímulo Além de fixar nova sistemática para as vistorias, o manual de fiscalização traz um modelo para o preenchimento de prontuários e para a elaboração das anamneses, “que hoje estão muito sucintas, prejudicando o raciocínio clínico, principalmente para quem não teve contato com o paciente, como nos casos de processos éticos, quando precisamos das informações corretas para avaliar se o médico agiu de modo correto diante do paciente”, argumenta Emmanuel Fortes. Diretor de Fiscalização do CFM, Fortes acredita que essa medida irá alcançar as escolas médicas, que nem sempre repassam esse ensinamento aos estudantes. “Elas terão de ensinar a anam nese conforme preconizado pelo Código de Ética Médica”, afirma. Como forma de levar as faculdades de medicina a ensinarem seus alunos de acordo com a resolução, o CFM se dispõe a participar de seminários que tratem do assunto. Perícia – A Resolução 2.056/13 também traz um modelo básico de como deve ser um relatório pericial e ressalta a necessidade de o médico perito ter condições de realizar seu trabalho. De acordo com o CFM, o perito deve registrar, por exemplo, a história pessoal e médica do periciado, além de realizar exames físicos e fazer o diagnóstico. Deve, também, responder as perguntas constantes no processo. Os conselhos regionais de medicina dos estados de Goiás (Cremego) e Paraíba (CRM-PB) realizaram, em 12 de novembro, as primeiras fiscalizações utilizando o novo software desenvolvido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) para a realização de vistorias em estabelecimentos de saúde. O soft ware segue o preconizado na Resolução 2.946/13. Na visita realizada na unidade básica de saúde (UBS) Jardim América II, em Águas Lindas de Goiás, o médico fiscal do Cremego, João Martins Neto, preencheu o formulário eletrônico – enviado em 30 segundos para o CFM: “Essa nova ferramenta vai facilitar um diagnóstico mais preciso da situação dos estabelecimentos de saúde e permitir que o Conselho faça maior cobrança aos gestores”, avalia. Seguindo o estabelecido no Manual de Vistoria e Fiscalização, o fiscal analisou a estrutura física e as condições de higiene e acessibilidade. Na UBS Jardim América II, vários jornal MEDICINA - NOV/2013 dos itens considerados essenciais pelo manual não estavam disponíveis, como toalhas de papel descartáveis, lixeira com pedal, recipiente adequado para o descarte de agulhas, entre outros. Algumas macas acolchoadas estavam rasgadas e a sala de curativos tinha infiltrações e era pouco iluminada. O posto de saúde também não possuía um estetoscópio próprio. “Os profissionais de saúde acabam por improvisar, para não deixar a comunidade sem assistência, mas essa é uma realidade que precisa ser mudada”, argumentou João Martins. Com 18 anos de experiên cia como fiscal médico do Cremego, ressalta que a realidade encontrada nessa UBS é a mesma de outras unidades públicas. A precarização nas relações de trabalho é também outra constante. Na UBS, apenas os agentes de saúde são servidores da prefeitura; os demais, incluindo a médica e uma enfermeira, têm contratos precários. O CFM vai informar o resultado da vistoria para a prefeitura de Águas Lindas, dando prazo para que os problemas sejam resolvidos. João Pessoa – Na capital da Paraíba, a UBS visitada foi a Torre II, no bairro do mesmo nome. A unidade passou recentemente por reforma e está em bom estado de conservação e higiene, com os consultórios, a sala de vacina e a recepção climatizados. Ainda falta um corrimão na entrada do prédio e a climatização da farmácia, da sala do citológico e da sala de enfermagem. “Esta é uma unidade de saúde que está em boas condições, mesmo assim, sentimos falta da escada de dois degraus embaixo das macas e de uma cadeira de rodas”, explica Eurípedes Souza, diretor de fiscalização do CRM-PB. Também foi constatado que os médicos estavam usando formulários de atestado médico desatua lizados. Outro problema detectado foi quanto à relação trabalhista dos médicos, que como os de Águas Lindas não eram servidores estatutários. 8 PLENÁRIO E COMISSÕES Fiscalização médica CRMs aprendem sobre nova proposta No CFM, os técnicos esclareceram dúvidas sobre as mudanças propostas R epresentantes dos 26 estados e do Distrito Federal participaram, nos dias 4 e 5 de dezembro, de um treinamento para uso das novas ferramentas de fiscalização de consultórios e ambulatórios criadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). No encontro, em Brasília (DF), receberam esclarecimentos sobre a recentemente editada Resolução 2.056/13, a respeito dos manuais de vistorias e visitação e do manuseio dos equipamentos que serão auxiliares no trabalho. Emmanuel Fortes Cavalcanti, coordenador do Departamento de Fiscalização, lembrou que se trata de um projeto inovador, que pode ser aperfeiçoado ao longo de sua execução. Para tanto, sugestões devem ser encaminhadas para possibilitar que a atualização seja constante. “Trata-se de um trabalho que não se interrompe, pois sempre haverá aperfeiçoamentos”, lembrou o conselheiro, também 3º vice-presidente do CFM. Elogios – Na abertura da reunião, o presidente da entidade, Roberto Luiz d’Avila, elogiou o trabalho desenvolvido até o momento e destacou a importância da fiscalização para os conselhos de medicina. Segundo ele, uma atuação nesta área, conduzida de “forma responsável, consequente, com critérios e justificativas”, trará ganhos para os médicos e a defesa da qualidade da assistência. Adicionalmente, destacou a importância do novo modelo de fiscalização, criado após cerca de quatro anos de debates, com participação direta de conselheiros de vários estados. Em sua avaliação, este instrumento permitirá dar mais agilidade aos processos, padronizar as vistorias e elaborar le- Alerta do CFM Cuidado com ações de golpistas No dia 3 de dezembro, o Conselho Federal de Medicina (CFM) recebeu denúncia de fraude que está ocorrendo em municípios do interior. De acordo com informações, um homem tem usado o nome do presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila, e até se apresentado como ele para abordar médicos e entidades médicas por telefone. Nas ligações, informa que, de passagem pela região, enfrentou problemas de viagem e perdeu contato com a família e com o CFM. No fim, pede ajuda financeira para resolver as supostas dificuldades e voltar para casa. O golpe foi descoberto quando um colega abordado decidiu checar se o pedido procedia. Diante do risco, o CFM desautoriza qualquer pedido de ajuda (logística ou financeira) feita em nome da entidade ou de seus diretores e conselheiros. Os colegas também devem ter cautela com ligações do mesmo tipo, com pedidos atribuídos a presidentes ou diretores de outras entidades médicas. Quem for vítima dessas abordagens deve de imediato denunciar o caso à Polícia, para a tomada das cabíveis providências. Compromisso: mudança na fiscalização sela mais uma meta assumida pela atual diretoria quando tomou posse vantamentos que apontarão as deficiências da rede de atenção e a responsabilidade dos gestores na solução dos problemas. Convergência – “Dentre as missões precípuas dos conselhos de medicina, a fiscalização é a que representa a maior convergência entre os interesses e os direitos dos médicos e dos pacientes”, ressaltou o 1º vice-presidente do CFM, Carlos Vital, também entusiasta das ações que serão empreendidas a partir de 2014, quando a nova resolução efetivamente entrar em vigor, em maio. Por sua vez, o diretor tesoureiro do CFM, José Hiran Gallo, lembrou o investimento feito na área – a disponibilização de R$ 150 mil para os CRMs que desenvolverem projetos específicos na fiscalização – e pediu o encaminhamento das propostas para que os repasses sejam executados nos prazos previstos. Adicionalmente, Henrique Batista, secretário- geral da entidade, assegurou que todo este esforço fortalecerá a imagem do sistema em nível nacional. Médicos fiscais elogiam as vantagens do novo modelo de trabalho A aprovação ao novo manual e às inovações tecnológicas foi unânime. Os participantes do treinamento realizado destacaram o caráter vanguardista das novidades. Para eles, as vantagens serão grandes para todos ao permitir a sistematização das estatísticas para aprimorar a atuação dos CRMs. Confira: A nova ferramenta do CFM é inovadora, pois iguala a maneira de fiscalizar em todos os estados. No Norte, temos uma situação diferente e algumas particularidades, como a dificuldade de acesso à internet em áreas remotas, e teremos a opção de trabalhar offline, o que é essencial nesses casos. Essa nova metodologia vai ajudar não só o CFM a conhecer melhor a situação de Roraima, mas o país a conhecer a sua situação real, porque o Brasil inteiro está vivendo completo caos na saúde Rosa de Fátima Leal de Souza, vice-presidente do CRM-RR Essa iniciativa materializa um anseio dos conselhos, pois em geral fazemos muitas vistorias e produzimos muitas informações e dados estatísticos que nem sempre são aproveitados da melhor maneira. O registro manual, muitas vezes, não favorece uma análise rápida das principais dificuldades. Mas, com essa ferramenta, o levantamento de dados estatísticos vai ser questão de minutos Teresa Cristina de Oliveira Marques, médica fiscal do Cremego A ideia é muito boa, pois significa a implementação de uma ferramenta padronizada que será de grande utilidade para avaliarmos as carências e necessidades do país. Além do mais, esse contato com os demais colegas durante o curso de capacitação é bastante proveitoso. Acredito que com a ferramenta poderemos construir um panorama nacional Alexandre Porto Prestes, médico fiscal do Cremers jornal MEDICINA - NOV/2013 9 PLENÁRIO E COMISSÕES Acesso à transgenitalização Mudanças seguem regras do CFM Parecer e resoluções do CFM nortearam decisão do Ministério da Saúde O acesso a cirurgias de transgenitalização e adequação sexual no Sistema Único de Saúde (SUS) será ampliado. No mês de novembro, o Ministério da Saúde redefiniu o processo transexualizador na rede pública e, no dia 21, a Portaria nº 2.803, que institui as novas regras, foi publicada no Diário Oficial da União. A ampliação segue decisão judicial de 2009, que o governo vinha descumprindo desde então. Em setembro daquele ano, a Justiça Federal no Rio Grande do Sul deu 30 dias para que os procedimentos passassem a ser ofertados, sob pena de multa de R$ 100 mil diários. Os procedimentos ainda não eram cobertos na rede pública de saúde, mas são autorizados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) desde 2010, ano de aprovação da Resolução 1.955/10 – norma que dispõe sobre a cirurgia de transgenitalismo. A partir de agora, a retirada de mamas, útero e ovários passa a ser paga pelo SUS, bem como o tratamento hormonal – que também contempla os transexuais masculinos. Aos usuários, a determinação do ministério estabeleceu que o SUS pagará por procedimentos como a redução do pomo de adão, com vistas à feminilização da voz e/ou alongamento das cordas vocais no processo transexualizador, além de amputação do pênis. Serão ainda contemplados os procedimentos de retirada de vagina e construção de pênis com implante de próteses peniana e testiculares, conhecido como neofaloplastia. O procedi- Adequação: Ministério da Saúde obedeceu orientações e princípios técnicos e éticos da Resolução 1.955/10 mento será feito em caráter experimental, seguindo resolução do CFM. A portaria fixa a faixa etária para o início da transexualização contemplada na rede pública, que prevê a idade mínima de 18 anos para o tratamento hormonal preparatório para a cirurgia de redesignação sexual. A terapia medicamentosa hormonal será mensalmente disponibili- zada ao usuário durante os dois anos que antecedem a cirurgia. A decisão é vista como um avanço por Lúcio Flávio Gonzaga Silva, conselheiro federal suplente pelo Estado do Ceará, urologista e doutor em Cirurgia e autor do Parecer nº 8/13, que trata sobre terapia hormonal para adolescentes travestis e transexuais. O conselheiro destaca que “há uma tendência mundial, pelos grandes centros especializados nesse campo de atenção à saúde, de diminuir a idade da intervenção. A portaria aponta nesta direção, em consonância com as atuais evidências científicas. Ademais, é bom destacar que obedece aos princípios técnicos e éticos elencados na Resolução CFM 1.955/10”. Financiamento da saúde Conselheiros monitoram votações sobre recursos na Câmara e no Senado A Comissão Especial da Câmara dos Deputados que analisa o financiamento do setor rejeitou, em 12 de novembro, o relatório do deputado Rogério Carvalho (PT/SE). O parlamentar, relator da Medida Provisória do Mais Médicos, tentava ressuscitar a CPMF por meio da criação de Contribuição Social para a Saúde (CCS). Após rejeitar a criação do novo imposto, a comissão aprovou o voto em separado apresentado pelo deputado Geraldo Resende (PMDB/RS). A proposta de Geraldo Resende destina 18,7% da Receita Corrente Líquida (RCL) da União ao Sistema Único de Saúde (SUS) em 2018 – percentual que deverá ser alcançado gradativamente: 15% em 2014; 16% em 2015; 17% em 2016; 18% em 2017 e 18,7% em 2018. “Este percentual representa R$ 43 bilhões anuais para a saúde pública. O governo diz que não tem agora, mas pode ter em cinco anos”, argumenta o presidente da Comissão Especial, deputado Madruga: a luta do CFM por mais recursos para a saúde não deve parar Darcísio Perondi (PMDB/RS). O Conselho Federal de Medicina (CFM) entende que o caos da saúde decorre do subfinanciamento do setor e defende mais recursos para a área, mas não à custa da criação de novo imposto. A votação na Comissão Especial foi acompanhada pelo conselheiro pela Paraíba Dalvélio Madruga,integrante da Comissão de Assuntos Parlamentares (CAP). “Defendemos mais recursos, tanto que estamos na campanha pelos 10% das Receitas Correntes Brutas da União para a saúde, mas discordamos do aumento de impostos, daí porque não podíamos concordar com a criação da CCS”, argumenta. “O governo, no entanto, tem se esquivado dessa obrigação”, constata o médico Wirlande Santos da Luz, ex-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Roraima, que também acompanhou a jornal MEDICINA - NOV/2013 reunião da Comissão Especial. Senado – Na segunda semana de novembro, o plenário do Senado aprovou a Proposta de Emenda à Constituição 22A/2000, que além de criar o chamado Orçamento Impositivo garante mais recursos para a saúde, porém em percentuais menores do que o aprovado na Comissão Especial da Câmara. A proposta aprovada no Senado torna obrigatória a execução de emendas parlamentares ao Orçamento da União e cria um percentual de financiamento estável para a saúde pública por parte do Executivo. De acordo com a PEC, a União deve destinar 15% da RCL para a saúde – hoje, destina cerca de 13%. Os 15% da RCL devem ser gradualmente atingidos após cinco anos. O percentual mínimo obrigatório será de 13,2% em 2014; 13,7% em 2015; 14,1% em 2016; 14,5% em 2017 e 15% em 2018. Para isso, serão computados os recursos das emendas parlamentares e dos royalties do petróleo. A emenda rejeitada determinava que a União teria que destinar à saúde, em quatro anos, 18% da RCL do Orçamento, também de forma escalonada: 15% em 2014; 16% em 2015; 17% em 2016 e 18% em 2017. Ou seja, os 15% que serão obrigatórios só em 2018 poderiam passar a valer já em 2014. “Estivemos com o senador Cícero Lucena na semana em que a proposta foi votada e lamentamos a rejeição da emenda dele. Mas não vamos desistir de continuar lutando por mais recursos para a saúde. A situação atual não pode continuar”, adianta Dalvélio Madruga. A Câmara dos Deputados também aprovou, em 20 de novembro, a Proposta de Emenda Constitucional 454/09, que cria a carreira de médico de Estado. integração 10 Saúde da Mulher e da Criança CFM recomenda uso de ácido fólico Documento orienta mulheres sobre as vantagens do consumo e pede ao governo medidas para estimular sua ingestão O Conselho Federal de Medicina (CFM) editou a Recomendação 1/2013, que orienta as mulheres a utilizarem o ácido fólico antes da concepção e nos três primeiros meses da gravidez. A medida atende solicitação da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), que tem realizado campanhas pelo uso da suplementação. Ressalte-se que o uso do ácido fólico reduz em até 75% o risco de má- formação no tubo neural do feto e previne casos de anencefalia, paralisia de membros inferiores, incontinência urinária e intestinal, e de diferentes graus de retardo mental e dificuldades de aprendizagem escolar. A Febrasgo recomenda que as mulheres consumam uma suplementação de 400 microgramas de ácido fólico por dia um mês antes da gravidez e durante os três primeiros meses de gestação. O problema é que poucas mulheres usam o suplemento. Apesar de o Sistema Único de Saúde (SUS) ser obrigado a garantir a dose diária do suplemento para as grávidas, nem todas as unidades básicas de saúde, segundo a Febrasgo, têm ácido fólico para distribuir. Essa informação indignou os participantes da plenária. “O valor do ácido fólico é baixo, cerca de R$ 3 nas farmácias, mesmo assim pode fazer falta em situa ções de extrema pobreza, daí porque o governo deveria garanti-lo”, afirmou José Hiran Gallo, tesoureiro do CFM e conselheiro pelo Estado de Rondônia. Mulheres não têm hábito de ingerir a vitamina Gallo: acentua custo baixo Além da falta do suplemento na rede pública, a desinformação também tem levado as mulheres a não fazerem uso do ácido fólico. Pesquisa feita por Eduardo Borges da Fonseca – presidente da Comissão Especializada em Medicina Fetal da Febrasgo e professor da Universidade Federal da Paraíba – com 494 mulheres, entre usuárias de planos de saúde e do SUS, mostrou que 58% (286) delas engravidaram sem planejar e só 13,8% (68) receberam orientação e usaram ácido fólico no período. O levantamento também aponta que só 3,8% tomaram o suplemento na dose recomendada: 400 microgramas por dia. “Os dados demonstram que as mulheres não conhecem os efeitos do ácido fólico. Quase 90% delas engravidaram sem utilizar a suplementação necessária. E não dá para dependermos apenas da alimentação”, argumentou Eduardo Fonseca. Em 2002, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou a adição de 4,2mg de ferro e de 150mg de ácido fólico para cada 100g de farinha de trigo e de milho. De acordo com Eduardo Fonseca, pesquisa realizada pela Universidade Federal de Pernambuco comprovou, no entanto, que essa suplementação não tem sido suficiente para evitar a má-formação do tubo neural dos fetos: “Isso ocorre, na minha avaliação, porque a indústria não está fazendo a adição do suplemento na dosagem correta e o governo não está fiscalizando”. Além de se destinar às mulheres, a recomendação do CFM também se destina aos médicos, para que falem com suas pacientes sobre a necessidade do suplemento. O Conselho também solicita que os órgãos públicos desenvolvam “programas mais abrangentes de fortificações de alimentos e maior vigilância no seguimento desses programas”. Substância pode impedir problemas neurológicos em bebês O ácido fólico é uma vitamina do complexo B que atua no processo de multiplicação das células e na formação de proteínas estruturais da hemoglobina. Sua forma natural, o folato, pode ser encontrada em vegetais de folhas verde- escuras, como couve, brócolis e espinafre, mas é mal absorvida pelo organismo. Por isso, a forma sintética (ácido fólico) é a alternativa mais eficaz e prática para a mulher. O uso do ácido fólico por, ao menos, 30 dias antes do início da gestação, continuando até o terceiro mês, reduz em cerca de 75% a ocorrência dos defeitos de fechamento do tubo neural. O tubo neural é a estrutura que dará origem ao sistema nervoso central do bebê, incluindo cérebro e coluna. No Brasil, atualmente, uma em cada 1.000 crianças nasce com algum problema no tubo neural. Os mais comuns são espinha bífida (exposição dos nervos da medula espinhal) e anencefalia. Toda mulher que planeja engravidar deve usar o ácido fólico na dosagem recomendada. No caso das mulheres com história prévia de gestações de crianças com problemas no tubo neural, a dosagem recomendada é maior e é aconselhável que procurem um médico geneticista. Mulheres em idade reprodutiva precisam ser orientadas sobre os benefícios do ácido fólico e as gestantes devem ser desencorajadas a utilizar altas doses do suplemento. A Recomendação 1/2013 preconiza que o CFM encoraje os órgãos públicos a desenvolver programas mais abrangentes de fortificação de alimentos e maior vigilância no seguimento dos mesmos. jornal MEDICINA - NOV/2013 Receita: as mulheres devem ingerir 400mg de ácido fólico por dia Giro médico Novo CPEP – Corregedores e assessores jurídicos dos conselhos regionais de medicina (CRMs) e do CFM reuniram-se, no dia 7 de novembro, em Brasília (DF), para debater a aplicação do novo Código de Processo Ético-Profissional (CPEP). O I Encontro Nacional dos Corregedores e Assessores Jurídicos dos Conselhos de Medicina do Ano de 2013 reuniu representantes de todos os estados brasileiros, com vistas a elucidar as dúvidas sobre a aplicação do Código, buscando padronizar condutas para aprimorar a ação judicante dos conselhos. No encontro, o corregedor do CFM, José Fernando Maia Vinagre; o vice-corregedor, José Albertino Souza; o chefe do Setor Jurídico do CFM, Alejandro Bullón e a chefe do Setor de Processos do Conselho, Marzi Sgambato, responderam às dúvidas dos participantes – que também partilharam as experiências vividas nos diferentes contextos brasileiros. Violência contra médicos – Os médicos de Minas Gerais têm agora um importante aliado no combate à violência enfrentada nos postos de trabalho. O conselho regional de medicina local (CRM-MG) lançou o questionário online permanente do Observatório Estadual da Violência contra os Médicos, cujo objetivo é contextualizar o problema da violência e disponibilizar documentos de referência, além de partilhar experiên cias na abordagem do tema. Nos relatórios produzidos não constarão nomes ou outras formas pessoais de identificação dos médicos que colaborarem com a pesquisa. O projeto é coordenado pelo ex-presidente do CRM-MG, João Batista Gomes Soares, e pelo médico Hércules de Pinho – segundo este, os dados da pesquisa serão compilados anualmente e subsidiarão as ações do conselho com relação à violência sofrida pelos médicos. Os interessados em efetivar alguma denúncia ou participar das ações do Observatório Estadual da Violência contra Médicos podem utilizar o acesso: http://goo.gl/3WPMME Diálogo – O Conselho Regional de Medicina do Estado de Mato Grosso (CRM-MT) tem realizado encontros com os médicos do interior para verificar as dificuldades locais e apresentar o trabalho realizado pela entidade. Trata-se do programa Aconselhando, iniciativa que sempre conta com a presença de diretores, conselheiros e coordenadores de fiscalização do CFM. integração 11 Inibidores de apetite Avanços na Câmara recebem elogios A prescrição médica de anorexígenos para tratamento da obesidade pode ser garantida por lei. A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou no mês de novembro, em caráter conclusivo, proposta que libera a produção e a venda sob prescrição médica em todo o país dos inibidores de apetite anfepramona, femproporex e mazindol. O projeto de lei (PL) 2.431/11, do deputado Felipe Bornier (PSD-RJ), já havia passado pela Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) com emendas que garantiram o acréscimo da expressão “sob prescrição médica” à autorização para o consumo. O 1º secretário do Conselho Federal de Medicina (CFM), Desiré Carlos Callegari, avalia a mudança no texto como uma con- quista para o tratamento da obesidade, considerado problema de saúde pública. De acordo com Callegari, o acréscimo do termo à lei poderá resgatar o consumo responsável dos inibidores de apetite: “Temos certeza absoluta que as medicações prescritas por médicos, acompanhadas de dietas e exercícios, além do controle dos efeitos colaterais, colocam o tratamento da obesidade num caminho correto e seguro”. As alterações foram acatadas pela CCJ e o texto seguiria para o Senado Federal. No entanto, o presidente da Comissão, deputado Décio Lima (PT-SC), pediu ao presidente da Câmara dos Deputados, Henrique EduardoAlves (PMDB- RN), que a discussão da matéria vá para o plenário. Desde o dia 27, foi aberto prazo para apresentação de recurso à Mesa Diretora da Casa. Agência EBC Os anorexígenos são considerados importantes para tratar a obesidade Acesso: projeto que permite venda de anorexígenos pode facilitar o tratamento da obesidade mórbida no Brasil Proibição da Anvisa – O texto inicial da proposta pretendia revogar uma decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que, em 2011, baniu esses medicamentos do mercado. Quando da proibição, o CFM ingressou com uma Ação Civil Pública na Justiça Federal para contestar a medida. O processo aguarda sentença. Membro da Comissão de Implantação e Acompanhamento do Módulo do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados – SNGPC da Anvisa, Desiré Callegari ressalta a importância da autorização no país. “As medicações anorexígenas ficaram por cerca de trinta anos no mercado brasileiro e, sob prescrição e controle médico, não produziram malefícios à população obesa. Pelo contrário, contribuíram em muito ao tratamento dos obesos e suas complicações. Portanto, o resgate deste arsenal terapêutico é uma vitória dos pacientes e dos médicos, que poderão contar novamente com estes fármacos, além de contribuir para evitar o mercado paralelo, este sim deletério à saúde da nossa população.” Ações sociais BMJ Learning Site ajuda luta contra sumiço de crianças Estudantes ganham acesso livre Disponível em três idiomas (português, espanhol e inglês), o hotsite “Médicos em resgate de crianças desaparecidas” já pode ser alimentado por pessoas que estejam vivenciando este drama e queiram contar com mais uma ferramenta para divulgar fotos e dados que podem levar ao encontro do menor. O site permite o cadastro de novos casos e a verificação de informações de outras ocorrências a partir de características (idade, tipo físico, gênero etc). O cadastramento de informações pode ser feito mediante formulário com dados do responsável, da criança e das circunstâncias do desaparecimento. No espaço destinado à criança, deverão constar informações pessoais e foto. Outras orientações estão disponíveis no endereço www. criancasdesaparecidas.org. O 1º vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, confia que a iniciativa tem condições de ajudar centenas de famí- lias. Para ele, o site demonstra o tipo de contribuição que os médicos podem dar à sociedade em temas que vão além das questões clínicas. Outro exemplo, desta vez coordenado pelo conselho regional e o Sindicato dos Médicos de Pernambuco, foi uma campanha na qual durante um mês foram angariadas doações de produtos de higiene pessoal e utensílios domésticos para os 81 idosos da Associação Filantrópica Nossa Senhora de Lourdes, localizado na comunidade Vila Tamandaré, no bairro de Peixinhos, em Olinda. A campanha está integrada à Comissão de Ações Sociais do CFM, por meio do Centro de Estudos Avançados do Cremepe (Ceac), com o propósito de fortalecer ações que promovam a responsabilidade social. Vital: médicos podem ajudar sociedade além das questões clínicas jornal MEDICINA - NOV/2013 A British Medical Association (BMJ), empresa britânica responsável pela publicação do British Medical Journal, fornecerá aos estudantes brasileiros de áreas médicas acesso gratuito à ferramenta BMJ Learning, um serviço de e-learning da área da saúde. A ferramenta, a ser disponibilizada aos estudantes no período de 9 a 24 de dezembro, é utilizada por médicos formados no país como forma de atualização de conhecimento e treinamento e gratuitamente fornecida pelo Ministério da Saúde. O acesso pode ser feito pelo site da BMJ, que tem um destaque para médicos brasileiros, ou pelo Portal da Saúde do ministério. O BMJ Learning é um site de educação médica independente, criado por médicos para médicos, que oferece rápida maneira de autoavaliar e manter-se atualizado com os desenvolvimentos da medicina. Os módulos são escritos por especialistas, revisados por pares, e cobrem tanto tópicos clínicos quanto não clínicos. O serviço possui mais de 700 módulos online em 70 áreas de especialidade. Os estudantes, que estão com acesso gratuito, poderão se cadastrar pelo endereço http://learning. bmj.com, pesquisando por palavras-chave. É também possível buscar uma condição conhecida clicando no link “Procurar por especialidade”. Fonte: Assessoria BMJ Ética MÉdica 12 Manifesto da Confemel Forma de uso de placebo é alvo de críticas Para entidades do continente, mudanças na Declaração de Helsinque contrariam princípios e valores éticos da medicina A s entidades ligadas à Confederação Médica Latino-Americana e do Caribe (Confemel), dentre elas o Conselho Federal de Medicina (CFM), se declararam contrárias ao uso de placebo em pesquisas para doenças com tratamentos já comprovados. A prática foi mantida na nova redação dada em outubro à Declaração de Helsinque (DH), um conjunto de princípios éticos indicados pela Associação Médica Mundial nas pesquisas com seres humanos. A posição contrária foi aprovada na XVI Assembleia Geral da Confemel, realizada entre os dias 20 e 23 de novembro. Na ocasião, entidades médicas de 14 países formalizaram este entendimento na Declaração de Pachuca – em referência à cidade de Pachuca, onde foi realizado o encontro, no estado mexicano de Hidalgo. De acordo com a Confemel, apesar dos esforços empreendidos junto ao grupo de trabalho que revisou a DH, o documento manteve a permissão do uso de placebo em pesquisas para doenças com tratamentos já comprovados, “contrariando princípios e valores da profissão”. A nova resolução não fez mudanças no que diz respeito ao seu con- teúdo, mas apenas alterações para uma abordagem mais sistemática quanto ao uso de placebos, incluindo no texto o uso de intervenções menos eficazes. “As populações pobres e vulneráveis, discriminadas pela falta de recursos, não podem ser submetidas à investigação biomédica que apresentem níveis de segurança inferiores aos aplicados às sociedades mais desenvolvidas”, aponta um trecho da Declaração de Pachuca. A Confederação propõe que os governos não autorizem ou financiem drogas que usam placebo quando existem melhores inter- CFM homenageia Luiz Nódgi Gratidão: parentes agradeceram apoio a conselheiro falecido O plenário do Conselho Federal de Medicina (CFM) prestou homenagem ao cardiologista Luiz Nódgi Nogueira Filho, conselheiro pelo Estado do Piauí desde 1973, que em 5 de setembro último faleceu aos 71 anos em decorrência de problemas coronários. Cumprindo seu terceiro mandato consecutivo como representante do CRM-PI, Nódgi era formado pela Faculdade Nacional de Medicina (atual UFRJ) e, adicionalmente, professor da Universidade Federal do Piauí, fundador da Academia Piauiense de Medicina e membro da maçonaria. A homenagem contou com a participação de sua viú va, Conceição Nogueira, que ressaltou o apoio recebido do CFM nas duas vezes em que o marido precisou ser internado em São Paulo para cuidar da saúde – em 2001 e agora, em 2013, quando não resistiu às complicações: “Todos vocês foram muito atenciosos com relação ao seu estado de saúde desde o início, intensificando o apoio em todos os momentos em que ele lutava contra a doença”. Câmara 2 – Como parte da homenagem, a Câmara 2 do CFM passa a se chamar Dr. Luiz Nódgi. “Com essa homenagem, queremos deixar gravado o nosso agradecimento a tudo o que o Nódgi fez pelo fortalecimento do CFM e da classe médica”, afirmou Roberto d’Avila. Mesmo com a saúde debilitada, Nódgi trabalhava em um projeto de pesquisa que tinha como tema “Estratégias empregadas por médicos para comunicar má notícia: elaboração de uma medida e seus correlatos existenciais”. Também era aluno do curso de doutorado em Bioética pela Universidade do Porto (Portugal). Exercia, na prática, um de seus pensamentos favoritos: “A vida é um caminho. O caminho não foi aberto para a indolência e para a ociosidade, mas para o movimento, que tem o endereço da eternidade” – citado por Conceição Nogueira no início da cerimônia. Vulnerabilidade: mudanças expõem população a situações de risco venções comprovadas. No Brasil, a Resolução CFM 1.885/08 restringe o uso de placebo, considerando não ética a participação de médicos em ensaios que proponham sua utilização quando existe tratamento eficaz. Outro ponto criticado é o item 28 da DH, que trata do consentimento informado. “Entende-se que se comprometeu o princípio ético do consentimento e a realidade jurídica do mesmo, não garantindo o respeito aos princípios e direitos fundamentais como os da dignidade, liberdade e privacidade dos seres humanos”, aponta a Confemel. Declaração passa por 7ª revisão A Declaração de Helsinque foi promulgada pela Associação Médica Mundial (AMM) em 1964 e desde então é considerada um dos principais documentos internacionais de ética em pesquisa envolvendo seres humanos. Passou por constantes atualizações de seus princípios (1975, 1983, 1989, 1996, 2000, 2008), sendo a última delas aprovada em 18 de outubro de 2013, data em que se comemora o Dia do Médico, durante a Assembleia Geral da AMM, que ocorreu na cidade de Fortaleza, no Ceará. Antes de ser aprovada, a revisão passou por algumas consultas às associações médicas mundiais e três conferências: Rotterdam (junho de 2012), Cape Town (dezembro de 2012) e Tóquio (fevereiro de 2013). Na sequência, nova consulta pública foi realizada (abril a junho de 2013), originando 129 comentários e novo encontro de especialistas e interessados na DH em Washington (agosto de 2013). Apesar de quase dois anos de debates, não foram encontradas a participação de associações de defesa dos interesses dos pacientes. O documento conclama as responsabilidades da missão do médico e busca diferenciar a pesquisa médica que tem como objetivo essencial o diagnóstico ou a terapia para um paciente, da pesquisa médica puramente científica e sem valor diagnóstico ou terapêutico para a pessoa sujeita à pesquisa. A íntegra da Declaração de Helsinque (em inglês) pode ser acessada em http://bit.ly/1dWyRro. Documento defende diploma obrigatório Nódgi: "A vida é um caminho" jornal MEDICINA - NOV/2013 A XVI Assembleia Anual Ordinária da Confederação Médica Latino- Americana e do Caribe (Confemel) também aprovou por unanimidade o apoio ao diploma médico obrigatório. Durante o evento, foram apresentadas realidades diferentes nas relações de trabalho e nas atividades médicas. Em vários países, a validação do diploma é exigida, norma que, no Brasil, vem sendo deixada de lado pelo governo federal desde a criação do programa Mais Médicos. “Acreditamos que o licenciamento médico universal e obrigatório fornece garantias máximas para uma prática médica independente, autorregulada e validada ética e deontologicamente por seus pares”, aponta documento de apoio elaborado.