Junho / 2008
CRP-04/PJ832.
Boletim Comemorativo em homenagem ao Professor ESCÍPIO
ABERTURA DA XVI JORNADA DA CLÍNICA DE PSICOLOGIA: TECENDO REDES
Suzana Faleiro Barroso
O percurso do trabalho da Clínica, a elaboração da jornada de 2007 (práticas clínicas dentro e fora da
universidade) nos aproximou das noções de rede, que a atual jornada pretende desenvolver.
O número de trabalhos inscritos e lidos pela comissão científica, 33, a diversidade de trabalhos em
torno da noção de rede, além da colaboração de nossos convidados e do número de inscrições, 713,
(em 05/05/08) são dados que confirmam que tecer redes com o campo clínico é interesse de muito de
nós.
Vocês terão oportunidade nesses dias de participar do debate e da reflexão sobre: redes teóricas, redes
de relações, rede de laboratórios com a prática terapêutica; redes entre psicólogos, educadores,
crianças abrigadas e suas famílias; a clínica na rede de produções históricas; rede entre a Clínica e
instituições que compõe o campo clínico de assistência ao portador de sofrimento mental, ao
toxicômano e ao paciente judiciário; rede de apóio ao desenvolvimento e atualização das
potencialidades do aluno da PUC; trabalho em redes no acolhimento de crise em um hospital
psiquiátrico; rede de atenção à saúde na universidade; rede entre a pesquisa clínica e a assistência ao
cliente; acompanhamento do sujeito na rede; a universidade em rede com o SUS.
Para a Clínica de Psicologia, o tema vem testemunhar:
1)
3)
O que se tece entre a formação do aluno e a função social dos serviços no campo clínico;
2) O tecer a pesquisa e o pensar sobre a prática clínica;
Tecendo redes, vem testemunhar o nosso encontro com a incompletude dos serviços da Clínica,
dos seus projetos, e, sobretudo, a incompletude do saber clínico
Agradeço aos professores que estiveram presentes nas comissões de preparação desse evento, a todos
que colaboraram para a realização dessa Jornada e desejo um fecundo trabalho nesses três dias que se
seguem.
Dedicamos a XVI Jornada ao professor ESCÍPIO, que hoje não está mais entre nós,
mas cujas idéias e princípios são fundamentais para a existência da Clínica de
Psicologia. Façamos, portanto, nossa homenagem ao querido Escípio expressando
nossa gratidão por tudo aquilo que ele nos transmitiu.
OLFATO
Antes de nascer, meus olhos só conheciam minha mãe, pelo avesso.
Meus ouvidos só escutavam a suave melodia de seu terno coração.
Seu cheiro é o que sobressaía e eternizaria os nossos laços.
O olfato é o pano de fundo de minhas relações com o mundo.
Afasta-me dos maus odores e aproxima-me dos nobres perfumes.
Para o meu nariz, a rosa não tem cor,
mas um doce perfume, embriagador.
A mulher amada tem a cor do sonho,
um toque leve de calor, o canto do rouxinol,
o sabor do mel e o sublime cheiro do amor!
Escípio da Cunha
este poema Escípio escreveu a pedido de uma turma de formandos para constar no convite de formatura,
cujo tema foram os cinco sentidos.
Aos quinze anos, tive meu grande insight
: o Homem sofre mais espiritualmente do que materialmente.
Nesse momento, decidi trabalhar para minimizar o sofrimento espiritual do Homem.
Decidi tornar-me psicólogo. Fui além, porque missão tão ampla não é para exército de apenas um
soldado. Em função disto, tornei-me professor. Passei a contribuir para a formação do psicólogo como
professor da então UCMG.
No Instituto Humanista de Psicoterapia juntei as duas coisas, cuidar do aperfeiçoamento dos psicólogos
e amenizar o sofrimento dos menos favorecidos economicamente.
O Instituto Humanista de Psicoterapia pretende ser uma ponte entre a formação acadêmica do psicólogo
e o seu ingresso na vida profissional. Aqui ele tem oportunidade de continuar sua formação, encontra
um local para atender, o cliente, além da supervisão e do aprofundamento teórico.
ESCÍPIO DA CUNHA LOBO
AO MESTRE COM CARINHO
Seria mais fácil se eu usasse os versos de um experiente poeta, conhecedor profundo dos sentimentos humanos. Certamente não seria impossível encontrar
dentre tantos poemas,um, que pudesse expressar com a mesma ternura e intensidade, tal qual os meus sentimentos agora o fazem, descrevendo essa pessoa ímpar que
somente um poema poderia fazê-lo com isenção de erros.
Essa pessoa que foi sinônimo de fragilidade,companheirismo e de toda uma essência maravilhosa,que pousava sobre o seu frágil corpo e era transmitida
através de seu sorriso ”faceiro de menino” a todos que encontrava pelo caminho. Inúmeras qualidades que somente quem teve a oportunidade de estar próximo a este
ser iluminado, saberia explicar.
Exatamente hoje, ele completaria mais um ano de existência e embora não possamos nos alegrar com a sua ilustre presença, prestamos lhe esta simples, mas
sincera homenagem, para que, de alguma maneira, possa se fazer vivo em nossos corações, sabedor de que será para sempre lembrado.
De todos alunos e professores, o nosso muito obrigado a alguém que nos ensinou a dar passos muito importantes em nossas vidas.
Maria Aparecida Santos Oliveira
10° período Clínica noite
ACRÓSTICO
O que é ser psicólogo?
Escípio responde:
Eu
sou humanista. Não. Humanista é uma pessoa que
defende ideais humanistas. Eu me contento em ser humano.
Ser psicólogo para mim é otimizar essa condição humana,
porque quanto mais humano eu for, mais vou contribuir
para a humanização de quem está sob os meus cuidados e de
quem está à minha volta. A relação psicoterapêutica nada
mais é do que uma relação humana de boa qualidade. A
relação dispensada ao cliente é a mesma dispensada pela mãe
aos seus filhos, pelos professores aos seus alunos. É um tema
bem complexo. Para explicar, recorro a Rogers e falo da
aceitação incondicional, do respeito, da tolerância para com
os limites dos seres humanos, do direito de escolha; afirmo que
o ser humano tem direito de escolha, direito de ser sujeito, de
ser único. O que não quer dizer que eu não vá colocar
limites; mas vamos colocar limites ao comportamento e não, à
maneira de ser da pessoa. Se ela tentar fazer alguma coisa
destrutiva, eu não vou ficar preocupado em ficar controlando
seu comportamento. Fico tranqüilo, se eu tiver oferecido as
condições necessárias, estou certo de que ela não vai escolher
um comportamento destrutivo.
Para mim, o psicólogo busca a excelência do ser humano.
Quanto mais humano eu sou, mais eu contribuo para a
humanização das pessoas com quem convivo.
E xcelência no trato com as pessoas
S impatia e sensibilidade escancaradas
C urioso, simples e sábio como as crianças
I mpar na discrição
P rofissional do sentido com polidez refinada
I maginoso, chistoso e inteligente
O rgulhosos nos sentimos na convivência com
você.
Com muita saudade
Maria Carmen
Belo Horizonte, junho/2008
BRINCANDO COM OS POETAS
Para Escípio (in memorian)
Conversando com Escípio
Outra vez Escípio, compreendo
que os amigos não morrem nunca,
nós é que morremos aos poucos dentro
daqueles que morrem antes de nós.
Você se lembra daquele tempo difícil em que
perdemos alguns amigos(alunos) que naufragaram em Abrolhos?
E das conversas que tivemos sobre o sentido das perdas?
Eu te trouxe um lindo texto do Pirandello
e a memória de um filme italiano,
e filosofamos por horas.
Neste tempo de sua recente morte
você tem sido quase onipresente no meu pensamento
Eu me lembro de você, mas você não pode mais se lembrar de mim!
Minha presença dentro de você se extinguiu de vez,
e caiu no abismo infinito do esquecimento.
E isso dói!
Beijos para você meu querido amigo.
Eliana Ferreira
Bandeira com sua estrela da manhã
aponta os céus com suas des/ordens.
Clarice olha para o céu e diz que tem
dia que vida vai, mas tem dia que a
vida volta.
Mas... e se Deus drummonianamente
escreveu com a mão esquerda para
explicar o que acontece por aqui?
Não sei!!! Só sei que rosamente Escípio
se encantou, indo num raio de luz se
eternizando por aí.
E eu? Eu aqui aturdido com a saudade
pendurada no peito apertado/doído.
Antonio A. F. Coppe
21/04/08
PROSA COM ESCÍPIO
Querido amigo Escípio.
Eline Rennó
Espera Escípio
Empático
Na sala de aula
O aluno
Que sem a chamada
Só quer te encontrar
Espera Escípio
Enigmático
A escola
Que não vê na trindade
A solução
Do aluno
Do professor
Da instituição
Espera Escípio
Simpático
A palavra certeira
Criada e lançada
Pra ser escutada
Na hora confusa
Da reunião
Chorei quando soube que você partira.
Na verdade, não chorei por você, chorei por nós.
Você não precisa de nossas lágrimas. Você está bem, recebido pelo Pai,
contemplando toda a grandeza de Deus, mergulhado no Seu amor.
Chorei por nós, Escípio. Já sentimos muito sua falta. Em todos nós, sua família,
colegas, amigos, alunos e clientes, fica um vazio, uma pergunta sem resposta: Por
que você nos deixou tão depressa? Você tinha ainda muito a fazer entre nós. Sua
lembrança está gravada e permanecerá no nosso coração, com tudo de bom que
você nos proporcionou. Somos reconhecidos e gratos a você por isso.
Choro por nós, Escípio.
Um pesar imenso toma conta de mim e se transforma numa indagação
inquietante: O que será de suas idéias, das suas certezas, de suas convicções sobre
o homem, de seu projeto para o desenvolvimento humano?
Você acreditava no homem. Admirava cada pessoa pelo que tem de singular, como
possibilidade de transformar-se na mais pura expressão humana, do divino,
porque já traz a semente de Deus dentro de si. Era só oferecer-lhe as condições
necessárias. Tantas vezes falamos sobre isso.
Espera Escípio
Tranqüilo
Que chega na sexta
Parecendo segunda
A hora extra
O auxílio doença
Direitos teus
Espera Escípio
Inquieto
Nos passos franceses da Lúcia
A saudade
Da filha
Dos netos
Que não entendem por que
Escuta Escola
Nos corredores agitados
No burburinho alegre
No vento das árvores
A presença
O silêncio do mestre
Escuta Escípio
Contador de histórias
O choro contido
Nas idéias deixadas
Que um dia
Quem sabe?
Saberemos usar
Você não apostava no homem, como às vezes se diz por aí. Apostamos em cavalos
ou na loteria. Podemos acertar ou errar porque a aposta é jogo de azar, um pulo
no escuro, a probabilidade de acerto é de um, num mar de possibilidades.
Você não apostava, Escípio, você tinha certeza do homem. Confiava.
Sei que a academia sempre o respeitou e considerou como pessoa íntegra,
coerente, dedicada à educação. Mas não tenho certeza de que suas idéias
encontrem no meio acadêmico o mesmo respeito e consideração que você recebia
como pessoa.
Por vezes, mal entendido, podia ser visto como um otimista ingênuo. Não obstante,
sua voz solitária insistia em agir de acordo com suas convicções.
Várias vezes, partilhei com você sua experiência, percebi seu pesar pela falta de
retorno mais significativo para as idéias que defendia. Continuo insistindo, –
você afirmava - porque sei que existe em cada ser humano o desejo de relações
mais humanas, mais afetivas. Só que ele está muito contido, precisa ser
despertado ....
Para nós, seus discípulos, fica o desafio. Despertar o que existe de mais autêntico
em cada ser humano. Quantos de nós nos dispomos a seguir a grande lição que
Escípio nos ministrou? Como dom Quixote enfrentar os moinhos de vento – não
da fantasia, mas do mundo real – e lutar pela humanização das relações
interpessoais como missão desafiadora, mas possível, em nosso meio?
Assim, suas idéias – clássicas, como você costumava dizer, não morrerão, serão
eternas.
É o que espero, Escípio.
Ana Maria Sarmento Seiler Poelman
Em 19 de maio de 2008.
Receba Escípio
Amigo fiel
Neste dia
Nosso abraço apertado
De aniversário
Eline Rennó
Belo Horizonte, 11 de junho de 2008
Em 19 de abril de 2008, faleceu Escípio da Cunha Lobo, professor desta Universidade por mais de quarenta anos.
Escípio iniciou sua vida acadêmica em 1962, como aluno do recém-criado curso de Psicologia. Antes mesmo de concluir sua graduação como
psicólogo, tornou-se professor da então Universidade Católica de Minas Gerais.
Defendia a concepção de que a Universidade tem compromisso com a formação e o desenvolvimento do aluno como pessoa. Por isso mesmo, deveria
oferecer-lhe as condições necessárias à sua formação pessoal e não apenas profissional.
Por esse princípio pautou sua carreira nesta casa, nos vários cargos e funções que desempenhou. Dele se pode dizer que expressou com fidelidade os
valores cristãos que assumimos como missão da PUC Minas.
Mais que professor, Escípio foi mestre. Mais que erudição, Escípio tinha sabedoria. Além de colega, foi companheiro. Mais que um psicólogo
humanista, Escípio foi uma pessoa plenamente humana, como ele mesmo costumava dizer.
Ana Maria Sarmento Seiler Poelman
Homenagem ao
Prof. Escípio da Cunha Lobo
Fui convidado pela Profª Maria de Fátima Lobo Boschi, Diretora do Instituto de Psicologia da PUC Minas, para fazer no Conselho Universitário, com a aprovação de
nosso Magnífico Reitor, Prof. Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, uma homenagem ao Prof. Escípio da Cunha Lobo, professor dessa casa nos últimos 44 anos e que
faleceu no sábado último, dia 19 de abril de 2008. Peço a Deus que me ajude a dar conta dessa incumbência.
Conheci o Prof. Escípio há 39 anos atrás, quando fui seu aluno no Curso de Psicologia da então Universidade Católica de Minas Gerais. Ele havia iniciado sua carreira
docente na UCMG 5 anos antes.
Quando comecei a lecionar, o contato com o Prof. Escípio, pouco a pouco, foi-se intensificando, apesar de pertencermos a correntes teóricas diferentes em Psicologia: o Prof.
Escípio já se posicionava como representante da abordagem existencial-humanista, enquanto eu, na época, era um convicto defensor do behaviorismo. Entretanto, a abertura
permanente dele para o diálogo nunca nos impediu de conversarmos, trocarmos idéias e experiências e nos entendermos sempre.
Poucos anos depois, recebi dele o convite para nos candidatarmos à Chefia de Departamento e Coordenação do Curso de Psicologia, ele como coordenador e eu como
coordenador adjunto, para usar a terminologia atual. Fomos eleitos e exercemos essas funções por dois mandatos, com um ótimo nível de entendimento e de trabalho
cooperativo. O despreendimento do Prof. Escípio em relação ao poder o tornava um coordenador democrático, que convidava a comunidade o tempo todo para participar dos
processos e decisões. Nem todos conseguiam entender isso e alguns pensavam que ele deveria ser mais impositivo. Entretanto, o que nem todos os colegas percebiam é que o
Prof. Escípio, por princípios pessoais, nunca foi um coordenador autoritário, mas também nunca se furtou a defender e colocar em prática decisões obtidas por consenso.
Em 1980, implantamos, o Prof. Escípio, o Prof. Tarcísio Guimarães Mendes e eu, os primeiros estágios de atendimento clínico em Psicologia da nossa Universidade,
embrião da futura Clínica de Psicologia, que seria implantada 10 anos depois, em 1990. Na época, a maioria dos professores da área de Psicologia Clínica eram contrários à
introdução dessa prática, por considerarem que o período de atendimento de, no máximo, um ano seria curto demais. No entanto, levamos em frente o nosso projeto e, um
ano depois, todos os professores de clínica psicológica aderiram a ele e se tornaram supervisores de estágio em atendimento clínico.
O convívio com o Prof. Escípio constituiu-se para mim em uma fonte contínua de aprendizado. Com ele aprendi, não de imediato, mas algum tempo depois, o valor e a
importância do contato com as pessoas. Para o Escípio, o professor, mais do que o estudioso de uma determinada área de conhecimento e transmissor desse saber, é um
profissional do relacionamento humano. O professor, na sua concepção e na sua prática, é aquele que olha os alunos como pessoas em desenvolvimento, dispostas aprenderem,
crescerem e se realizarem. É aquele que é capaz de conviver com as diferenças, de ouvir os alunos, de ajudá-los a se perceberem, olharem para os outros à sua volta e
enfrentarem os obstáculos, preconceitos e limitações que os impedem de crescerem individualmente e como grupo. Mais do que um transmissor de informações, na sua ótica, o
professor é aquele que estimula os alunos a buscarem conhecimentos, métodos e técnicas necessários para se tornaram profissionais que consigam colocar em prática três
princípios que o Prof. Escípio considerava fundamentais para o exercício de qualquer atividade profissional e, de modo especial, a de psicólogo: respeito e consideração
incondicional pela pessoa do outro (seja quem for esse outro), congruência e coerência interna e, por fim, empatia. São três atitudes básicas, que podem ser colocadas como
desafios para todos nós. Considerar que uma pessoa é mais do que suas eventuais falhas, defeitos, limitações ou mesmo erros que possa cometer. Acreditar que é possível
construir uma sociedade na qual predominem a cooperação, a solidariedade, a tolerância, a justiça, as relações baseadas no amor e não no ódio, a superação do
individualismo em favor da coletividade. Praticar a liberdade de ser , sem se apropriar do espaço vital do outro, a responsabilidade pelas próprias atitudes, sem culpar o
outro pelos próprios fracassos, adotar a verdade como lema, a doação, e a disponibilidade como condutas do dia-a-dia, sem se esperar uma data especial para isso, exercitar a
capacidade de auto-reflexão e o desejo de ser melhor a cada dia. Isso nos tornaria um pouco parecidos com o Escípio.
Para poder formar outros psicólogos e multiplicar seus idéias e convicções, o Prof. Escípio ajudou a fundar, em 1993, o Grupo Mineiro de Psicologia Humanista e, em 1996,
o Instituto de Pscoterapia Humanista. Nesse Instituto, os candidatos a psicoterapeutas tinham não só cursos de formação, para sistematizar sua base teórico-prática, como
também local para realizarem atendimento de clientes e supervisão do Prof. Escípio ou de seus colegas de Instituto. Quem viveu a experiência de supervisão da prática
psicoterápica com o Prof. Escípio, na PUC Minas, nesses 28 anos em que trabalhou como supervisor da Clínica de Psicologia, ou no Instituto de Psicoterapia Humanista
poderia afirmar o que li no depoimento de alguns de seus discípulos:
“Há algo que vivenciamos enquanto alunos ou supervisandos: um respeito profundo, por parte do Escípio, pelo estágio de desenvolvimento no qual nos encontramos. Escípio
busca afinar seu passo ao passo do aluno. Mesmo enxergando lá na frente, não nos atropela; permite-nos e facilita-nos o nosso próprio caminhar. (...) O Escípio é,
vivencia aquilo que ensina e que acredita. Eis um dos princípios básicos de uma psicologia mais humana, aprendido e compreendido com Escípio.” (Juliana dos Santos
Lopes, em nome dos membros do GRUMPSIH)
E ainda encontramos outras afirmações:
“Aprendemos, também com o Escípio, a estarmos atentos ao que vem de nós, nossa intuição. A confiar em nossa sabedoria pessoal, visceral, organísmica. Em nosso próprio
ser. Pois sentimos que ele acredita em cada um de nós, em nosso potencial, antes mesmo de nós acreditarmos nisso. Escípio busca sempre oferecer-nos condições suficientes
para o desabrochar desse potencial.” (...) Ensinou-nos a sermos autênticos, humanos e ao mesmo tempo, terapêuticos em qualquer situação . Aprendemos com o Escípio, a
nos livrarmos de inúmeros preconceitos quanto ao exercício profissional e não obstante, aceitarmos nossos pré-conceitos, nossas fragilidades e nossas limitações, como parte
inerente ao Ser Humano.” (Idem)
A partida do Prof. Escípio nos deixou a todos, professores e alunos do Instituto de Psicologia da nossa Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, órfãos. O Escípio
representava para nós a história e a vida do Instituto de Psicologia, que ele ajudou a construir como aluno e professor. Seu nome, adotado pelos estudantes para batizar o
Diretório Acadêmico, nos mostra o quanto era querido por todos.
Gostaria de finalizar essa pequena homenagem expressando uma percepção pessoal e um sentimento: o Escípio foi uma das melhores pessoas que tive o privilégio de
conhecer. Que Deus o acolha, o acompanhe e ilumine, fazendo pelo Escípio o que ele sempre fez por todos que permitiram que ele se aproximasse e convivesse. E que a
presença do prof. Escípio em nossa Universidade nesses 44 anos possa servir como inspiração para o ofício de todos nós, professores, e iluminar a caminhada de nossos alunos
que se dispõem a aprender alguma coisa conosco.
Muito obrigado!
Prof. Wanderley Chieppe Felippe
Pró-reitor de Extensão PUC Minas
Texto para a abertura da XVI Jornada da Clínica
Homenagem ao professor Escípio da Cunha Lobo
A história da Psicologia da PUC Minas se mistura à história do Escípio. Isto não só pelos anos
que ele aqui trabalhou, mas principalmente pelas marcas que ele deixa no curso e em nós.
Hoje estamos abrindo a XVI Jornada da clínica. Uma clínica que foi idealizada e que teve seus
primeiros passos conduzidos pelo próprio Escípio. Como ele próprio dizia, ele é a “pré-história”
da clínica.
Ele faz parte da história da Clínica, da Psicologia e de cada um de nós. Seja como professor,
supervisor, colega, amigo, ele é um ponto de interseção, um ponto de encontro nas nossas
vidas. Sempre coerente com seus ideais, generoso ao compartilhá-los, elegante e sábio na
convivência com as diferenças.
Era marcante sua alegria e desejo de estar aqui, ele sempre insistia, com fé, na formação dos
alunos e no curso de Psicologia. Sempre esteve aqui como se estivesse começando.
Escípio iniciou sua vida acadêmica em 1962, como aluno do recém-criado curso de Psicologia.
Antes mesmo de concluir sua graduação em psicologia, tornou-se professor da então
Universidade Católica de Minas Gerais.
Defendia a concepção de que a Universidade tem compromisso com a formação e o
desenvolvimento do aluno como pessoa. Por isso mesmo, deve oferecer-lhe as condições
necessárias à sua formação pessoal e não apenas profissional.
Entendia que a função essencial da psicologia e dos psicólogos é facilitar e promover o
desenvolvimento de cada pessoa, na direção de mais maturidade, maior diferenciação, da
atualização do que existe como possibilidade em cada um. Ser psicólogo, afirmava, é otimizar
essa condição humana, porque quanto mais humano eu for, mais vou contribuir para a
humanização de quem está sob os meus cuidados e de quem está à minha volta. A relação
psicoterapêutica nada mais é do que uma relação humana de boa qualidade. Por este princípio
pautou sua vida pessoal e profissional.
Como professor procurava oferecer a cada aluno as condições necessárias para a
aprendizagem, numa relação interpessoal de respeito e consideração. Insistia em que o
professor deve visar à formação do aluno em todas as suas dimensões e não apenas à
aquisição de conceitos, teorias, métodos e técnicas.
Como supervisor, afirmava: Supervisiono o aluno e não o caso. Confiava na capacidade de
cada um, deixando-lhe a liberdade de entrar em contato com sua experiência e de, a partir dela,
elaborar sua maneira pessoal de ser psicólogo. Discreto, mas disponível e atento, assistia cada
aluno no seu processo de tornar-se pessoa e preparar-se para ser psicólogo.
Desempenhou com especial satisfação a função de supervisor no projeto de assistência
psicológica ao aluno da PUC Minas, desenvolvido desde 2002 pela clínica. Os acadêmicos que
conviveram com Escípio neste projeto, como estagiários voluntários, conheceram a riqueza de
suas formulações teóricas e saborearam a sua sensibilidade e aprenderam com ele a sentir
compaixão pelo ser humano.
Mais que professor, Escípio foi mestre.
Mais que erudição, Escípio tinha sabedoria.
Além de colega, foi companheiro.
Mais que um psicólogo humanista, Escípio foi uma pessoa plenamente humana, como ele
mesmo costumava dizer.
Deixou em cada um de nós uma semente de humanidade que devemos cultivar.
Ana Maria Sarmento Seiler Poelman
Soraia Dojas Mello Silva Carellos
ORGANIZADORES:: Profª Maria Carmen Schettino Moreira; Profª
Ana Maria Sarmento Seiler Poelman. COORDENAÇÃO DA
CLÍNICA: Profª Suzana Faleiro Barroso e Profª Heloísa Cançado
Lasmar.
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