AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E PESQUISA DE FRAUDE EM LEITE CRU PROVENIENTE DA REGIÃO CENTRO-OESTE DO PARANÁ Rafael Lavezzo (Iniciação Científica Voluntária), Guilherme Serpa Maciel (discente DEVET), Thalys Eduardo Noro Vargas de Lima (discente DEVET), Laís Cristine Werner (docente DEVET), Adriano de Oliveira Torres Carrasco (docente DEVET), Kate Aparecida Buzi (orientadora) e-mail: [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste/Departamento de Medicina Veterinária/Guarapuava, PR. MEDICINA VETERINÁRIA; INSPEÇÃO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL Palavras-chave: adulteração, composição, leite, qualidade. Resumo O leite pode ser considerado um dos alimentos mais completos em termos nutricionais e fundamentais para dieta humana. Dessa forma, garantir a sua qualidade é uma das maiores preocupações para técnicos e autoridades ligadas à área de saúde. Para isso, são necessários controles microbiológicos, que avaliam o grau de contaminação do leite e também físico-químicos, que verificam a porcentagem dos diferentes componentes. O presente trabalho teve como objetivos realizar análises físico- químicas do leite e dessa forma, verificar se os valores estão dentro dos parâmetros permitidos pela legislação, além de buscar a possível presença de fraudes. Entre as 120 amostras de leite analisadas, observou-se que grande parte apresentou resultados dentro do intervalo estabelecido pelo Ministério da Agricultura. Em apenas duas amostras, o índice crioscópico apresentou valores diferentes do permitido, entretanto, através de provas específicas, comprovou-se não haver substâncias adicionadas, de forma intencional, com a finalidade de alterar a composição do produto. Introdução O leite é uma combinação de diversos elementos sólidos em água. A água representa aproximadamente 87% e os elementos 12 a 13% do leite, sendo constituídos por lipídios (3% a 5,2%), lactose (4,3% a 4,9%), proteínas (3% a 3,6%), sais minerais e vitaminas (0,65%) (BRITO et al., 2004). Sabe-se que essa composição média pode variar em função do tipo de espécie, raça, alimentação, estação do ano, doenças e período de lactação do animal (PEREIRA, 2001). Entretanto, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) criou a Instrução Normativa nº 62 (BRASIL, 2011), que regulamenta o padrão de Anais da XIX Semana de Iniciação Científica 25 e 26 de setembro de 2014, UNICENTRO, Guarapuava –PR, ISSN – ISSN: 2238-7358 identidade e qualidade do leite e também estabelece limites para os parâmetros físico-químicos e microbiológicos e número de células somáticas. Ao saber os valores de cada componente do leite, através das análises físicoquímicas, é possível avaliar seu valor nutricional, seu rendimento industrial, além de detectar possíveis fraudes. Entre as principais fraudes do leite encontram-se as substâncias que aumentam o volume, reconstituintes da densidade, neutralizantes do pH e substâncias conservantes (PEREIRA et al., 2001). O presente trabalho teve como objetivos avaliar a qualidade físico- química do leite, verificando a adequação dos resultados obtidos em relação aos padrões estabelecidos pela legislação vigente, além de rastrear e detectar possíveis fraudes no leite cru proveniente da região centro-oeste do Paraná. Materiais e Métodos Durante os meses de agosto de 2013 a junho de 2014 analisou-se amostras de leite cru entregue a um entreposto no município de Guarapuava- PR, proveniente de diversas propriedades leiteiras da região centro-oeste do Paraná. Nesse período foram analisadas 120 amostras de leite, uma vez que foram 10 visitas mensais ao entreposto, e em cada uma, analisava-se o leite de quatro caminhões. Conforme o estabelecido pela legislação vigente (BRASIL, 2011), faziase a avaliação do leite de cada um dos três compartimentos do caminhão. Para cada amostra de leite, realizava-se as análises físico-químicas de rotina (alizarol a 80%, acidez titulável, densidade, gordura, estrato seco total e estrato seco desengordurado), de precisão (crioscopia) e provas específicas para detecção de fraudes (cloreto, amido, álcool, formol, hipoclorito, água oxigenada e bicarbonato). As técnicas analíticas seguiram os procedimentos descritos no LANARA (BRASIL,1981). Resultados e Discussão De acordo com a IN 62 (BRASIL, 2011) os parâmetros físico-químicos do leite devem estar de acordo com os padrões de qualidade descritos na Tabela 1. Tabela 1 - Requisitos físico-químicos do leite cru refrigerado, segundo a IN 62 (BRASIL, 2011) Requisito Alizarol (min. 72%) Acidez titulável (g de ácido láctico/100 mL) Densidade relativa a 15°C, g/mL Gordura (g/100g) Estrato Seco Total (EST) Estrato Seco Desengordurado (ESD) Índice Crioscópico Limites estável 0,14 a 0,18 1,028 a 1,034 Min. 3,0 Min. 11,4% Min. 8,4% -0,530 a -0,550ºH A acidez das amostras analisadas variou de 0,140 a 0,148ºD, estando no intervalo permitido pela legislação, com exceção de uma amostra (0,83%) que apresentou valores de 0,185 ºD. Da mesma forma, somente uma amostra mostrouse instável à prova do alizarol a 80%, confirmando o resultado de leite ácido, visto na prova anterior. Uma acidez acima de 0,18ºD é proveniente da acidificação do leite, causada pelo desdobramento da lactose pelas bactérias que encontram-se em intensa multiplicação no leite. Esse leite torna-se impróprio para o consumo e para industrialização (SCARLATELLI, 1996). Anais da XIX Semana de Iniciação Científica 25 e 26 de setembro de 2014, UNICENTRO, Guarapuava –PR, ISSN – ISSN: 2238-7358 Observou-se que a densidade variou de 1,029 a 1,032 g/mL a 15°C, estando dentro dos limites estabelecidos. Esse resultado é semelhante aos relatados por Ferreira et al. (2003), que verificaram que todas as médias da densidade estavam de acordo com as normas aceitas pela legislação Verificou-se no presente trabalho que todas as amostras apresentaram valores acima de 3% de gordura, que é o mínimo estabelecido pela IN 62. Resultados semelhantes foram encontrados por Freire (2006) que observou que das 53 analisadas, todas apresentaram-se conforme o padrão médio de gordura estabelecido. Avaliando os valores do EST e ESD observou-se que 100% estavam de acordo com a legislação (EST mínimo de 11,4% e ESD mínimo de 8,4%). No trabalho de Sousa et al. (2003), com leite in natura na cidade de Patos- PB, o ESD apresentou-se 46,6% fora do padrão e 21,9% das amostras estava em desacordo com a legislação quanto ao EST. Com relação à crioscopia, 98,33% das amostras apresentaram valores dentro do permitido pela legislação (-0,530 a -0,550ºH), uma vez que uma amostra apresentou valores superiores (-0,528ºH) e outra, valores inferiores (-0,558ºH). Porém na primeira não houve suspeita de fraude por aguagem, devido ao fato da densidade, EST e ESD estarem normais. Por outro lado, na segunda amostra, foi descartada a possibilidade de adição de reconstituintes, pelo fato da densidade estar normal e nas provas especificas o resultado ter sido negativo. Considera-se leite adulterado somente quando existirem valores inaceitáveis na prova de precisão e também em uma prova de rotina. Ferreira et al. (2006) observaram quatro (13,33%) amostras com valores superiores ao preconizado para crioscopia, sugerindo adição de água. No que se refere às análises específicas que detectam a presença de fraude (cloreto, amido, álcool, formol, hipoclorito, água oxigenada e bicarbonato) nenhuma amostra mostrou-se positiva. Dessa forma, percebe-se que das 120 amostras, apenas uma (0,83%) esteve com a acidez acima do permitido e duas (1,66%) fora do padrão estabelecido pela legislação para crioscopia, o que mostra que o leite encontra-se em boas condições, no que se refere aos parâmetros físico-químicos. Conclusões De acordo com as análises realizadas, pode-se dizer que o leite que chegou ao entreposto no período do trabalho, estava apto ao consumo no que diz respeito às características físico-químicas, pois seguiam os padrões estabelecidos pelo MAPA. Somente uma amostra apresentou acidez aumentada, revelando uma contaminação do leite elevada. Outras duas amostras apresentaram valores diferentes do permitido para crioscopia, entretanto, através das análises de rotina e de técnicas específicas comprovou-se não haver qualquer substância que alterasse a composição natural do produto. Referências Brasil, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Publicada IN 62 que altera normas de produção de leite. Diário Oficial da União.30 de Dezembro de 2011. Brasil. Ministério da Agricultura. Laboratório Nacional de Referência Animal (LANARA). Portaria 1 de 7 de outubro de 1981, que aprova os métodos analíticos Anais da XIX Semana de Iniciação Científica 25 e 26 de setembro de 2014, UNICENTRO, Guarapuava –PR, ISSN – ISSN: 2238-7358 oficiais para controle de produtos de origem animal e seus ingredientes. Diário Oficial da União. 1981. Brito, J. R. F; Pinto, S. M; Souza, G. N; Arcuri, E. F; Brito, M. A. V. P; Silva, M. R. (Adoção de boas práticas agropecuárias em propriedades leiteiras da Região Sudeste do Brasil como um passo para a produção de leite seguro). Acta Scientiae Veterinariae, 2004, 32, 2, 125-131. Ferreira, N. D. L.; Ferreira, S. H. F.; Monte, A. L.de S.; Vasconcelos, N. L. (Avaliação das condições sanitárias e físico-químicas do leite informal consumido em Sobral, Ceará). Revista Higiene Alimentar, 2003, 17, 108, 79-82. Ferreira, L.M.; Souza, V.; Pinto, F.R.; Nader Filho, A.; Melo, P.C. (Avaliação da Qualidade Físico-Química de Leite Tipo C integral comercializado na cidade de Jaboticabal-SP). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE QUALIDADE DO LEITE, 2006. Goiânia. Anais. Goiânia. Ferreira, D. B. C.; Silva, P. H. F.; Júnior, L. C. G. C.; Oliveira, L. L. (Físico-química do Leite e Derivados: Métodos Analíticos). EPAMIG, 2001, 2ª ed., 234 p. Scarlatelli, F. P. O que é Leite Ácido? Pesquisador da Embrapa Gado de Leite. Sociedade nacional de Agricultura. Dezembro de 1996. Acesso em 30 de Jul. de 2014. Disponível em: http://www.snagricultura.org.br/artigos/artitec-leite.htm Sousa, S.M.B.; Carvalho, M.G.X.; Santos, M.G.O.; Azevedo, S.S. (Características físico-químicas do leite in natura e pasteurizado na mini usina de beneficiamento de leite na cidade de Patos, PB). Revista Higiene Alimentar, 2003, 17, p. 204. Anais da XIX Semana de Iniciação Científica 25 e 26 de setembro de 2014, UNICENTRO, Guarapuava –PR, ISSN – ISSN: 2238-7358