ACIDEZ TITULÁVEL, COMO ATRIBUTO PARA QUALIDADE, DO LEITE PASTEURIZADO PRODUZIDO POR ESTABELECIMENTOS SOB FISCALIZAÇÃO FEDERAL NO ESTADO DE GOIÁS Thaysa dos Santos Silva¹*, Edmar Soares Nicolau², Antônio Nonato Oliveira2, Albenones José de Mesquita2, Cíntia Silva Minafra e Rezende², Marília Cristina Sola¹, Sarah Rozette Teixeira3. ¹Mestranda, UFG, Escola de Veterinária, Programa de Pós-graduação em Ciência Animal, Goiânia, Goiás. ²Doutor, UFG, Escola de Veterinária, Departamento de Medicina Veterinária, Goiânia, Goiás. 3Graduanda de Engenharia de Alimentos, UFG. *Endereço para correspondência: [email protected] INTRODUÇÃO O leite é um alimento passível de alterações microbiológicas, físico-químicas e também intencionais ou fraudulentas, o que compromete o critério de integridade e qualidade que deve representar. Assim sendo, o controle de qualidade engloba, dentre outros fatores, a avaliação de suas características físico-químicas, com o objetivo de caracterizar seu perfil composicional, nutricional, requisitos de identidade e qualidade, bem como seu rendimento e aplicação industrial. Por associação, vale considerar a possibilidade da ocorrência de fraudes econômicas e verificação do seu estado de conservação (AGNESE et al., 2002). Entende-se por falsificação e adulteração do leite, a adição (água, substâncias conservantes ou quaisquer elementos estranhos à sua composição, além de outros fatores) ou subtração parcial ou total de qualquer substância na sua composição (BRASIL, 1952). A pasteurização é um processo que inativa parcialmente a microbiota natural, eliminando os microrganismos patogênicos. Além de resguardar a saúde pública, preserva e aumenta a vida de prateleira, uma vez que promove a estabilização física e química dos seus componentes, favorecendo integridade temporária (POLEGATO & RUDGE, 2003). O leite ácido é impróprio para o consumo e para a industrialização e, à medida que o tempo passa, a acidez aumenta pela multiplicação dos microrganismos, por influência da temperatura e pela falta de higiene nos equipamentos. Portanto, o leite pasteurizado que estiver fora deste padrão não deve ser consumido, pois pode causar danos a saúde (BRASIL, 2002). Na última década, em diversas regiões do Brasil, pesquisas estão sendo realizadas com leite pasteurizado, evidenciando elevados índices de amostras fora dos padrões estabelecidos pela legislação em vigor (BRASIL, 2002; OLIVEIRA & NUNES, 2003; POLEGATO & RUDGE, 2003). Um exemplo é a acidez do leite, parâmetro que caracteriza a qualidade da matéria-prima, entre 0,14 a 0,18g de ácido lático/100mL. A acidez titulável é prevista por legislação, sendo considerada de fácil execução e rápida (BRASIL, 2006). A obtenção higiênica do leite, e posteriormente, eficiente manipulação, refrigeração, transporte e processamento são fatores essenciais à manutenção da boa qualidade microbiológica e nutricional do leite. Como garantia da qualidade deste alimento é primordial que sejam realizadas análises da matéria-prima e de produto, assim sendo o objetivo deste estudo é avaliar a qualidade do leite pasteurizado produzido por indústrias sob fiscalização do SIF em Goiás, no que se refere à acidez titulável (NaOH 0,1 N). MATERIAL E MÉTODOS De acordo com dados fornecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás (MAPA-GO), no primeiro semestre de 2010, estão registradas dez agroindústrias de leite pasteurizado sob fiscalização do Serviço de Inspeção Federal (SIF). Para a determinação do tamanho da amostra foi utilizado o teste “Z” (Z0,025), “p” de 18% (MARTINS et al., 2006), “q” 82%, com intervalo de confiança de 95% e um erro de 9%, totalizando 58 amostras de leite pasteurizado. Foram analisadas 58 amostras de leite pasteurizado provenientes de indústrias de laticínios sob fiscalização federal no Estado de Goiás. As amostras foram coletadas aleatoriamente nos supermercados e hipermercados da cidade de Goiânia e conduzidas imediatamente em caixas isotérmicas ao Laboratório de Qualidade do Leite do Centro de Pesquisa em Alimentos da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás (LQL/CPA/EV/UFG) para a realização das análises. As amostras foram avaliadas quanto à acidez titulável, de acordo com o método B da Instrução Normativa n.° 68 de 12 de dezembro de 2006 (BRASIL, 2006). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados das análises de acidez das 58 amostras de leite pasteurizado, coletadas obtidas em estabelecimentos comerciais de Goiânia podem ser observados no Gráfico 1. GRÁFICO 1: Acidez titulável de leite pasteurizado, primeiro no semestre de 2010 De acordo com os resultados visualizados no Gráfico 1, pode-se verificar que um total 11 amostras (19%) apresentaram-se fora dos padrões exigidos pela legislação vigente, estando, portanto, impróprias para consumo humano. Este percentual apresentou níveis de acidez inferior ao padrão estabelecido, sendo o limite mínimo de 0, 14 g de ácido lático/100 mL, fato este que pode ser um indicativo de adição de água e/ou neutralizantes como soda ou bicarbonato, constituindo um processo de adulteração do alimento. Discordando dos relatos de OLIVEIRA & NUNES (2003), VIEIRA & CARVALHO (2003) e MARTINS et al. (2006), este percentual encontrado neste estudo é considerado elevado, contrastando com os padrões exigidos pela legislação vigente, que ressalta a ausência de resultados não coincidentes com o padrão preconizado. Sabendo-se que a produção diária de litros de leite pasteurizado no estado de Goiás é de 80 mil, estima-se que 15 mil litros de leite adulterados estão sendo comercializados sem ação de inspeção rigorosa nas agroindústrias, e que, portanto, podem gerar riscos iminentes à saúde da população, alem das inúmeras desvantagens econômicas pelas perdas do rendimento e credibilidade dos produtos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante dos resultados obtidos, verificou-se que a acidez do leite pode ser considerada um requisito preocupante para este segmento do agronegócio em Goiás e que um percentual significativo deste leite pasteurizado e comercializado não é adequado ao consumo humano, representando risco á saúde dos consumidores. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGNESE, A.P.; NASCIMENTO, A. M. D.;VEIGA, F. H. A.; PEREIRA, B. M.; OLIVEIRA, V. M. de. Avaliação físico-química do leite cru comercializado informalmente no Município de Seropédica - RJ. Revista Higiene Alimentar, São Paulo v.16, n. 94. p. 58-61, 2002. BRASIL. Ministério da Agricultura. Decreto n. 30.691, de 29 de março de 1952, alterado pelos Decretos n˚s.1255, de 25 de junho de 1962, n. 1236, de 2 de setembro de 1994, n.1812, de 8 de fevereiro de 1996, e n. 2.244, de 4 de junho de 1997. Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de Origem Animal-RIISPOA. Brasília, DF, 1997. BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n.° 51 de 18 de setembro de 2002. Dispõe sobre a Aprovação dos Regulamentos Técnicos de Produção, Identidade e Qualidade do leite tipo A, B e C do leite Pasteurizado e do Leite Cru Refrigerado e o Regulamento técnico da coleta de Leite Cru Refrigerado e seu Transporte a granel. Diário Oficial da União, Brasília, 20 set. 2002. Seção 1, p.13. Disponível em: <http://extranet.agricultura.gov.br.>Acessado em: 20 de nov. de 2009. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Secretaria de Defesa Agropecuária. Métodos Analíticos Oficiais Físico-Químicos para Controle de Leite e Produtos Lácteos. Instrução Normativa nº 68, de 12/12/2006. Diário Oficial da União, Brasília, seção I, p. 8, 14 dez. 2006. MARTINS, F. O., SILVA, C. A. O., CAMPOS, M. E. M., ANTUNES, V. C, MILAGRES, M. P., BRANDÃO, S. C. C. Avaliação da composição, da qualidade físico-química e ocorrências de adulterações em leite UHT. In:II Congresso Brasileiro da Qualidade do Leite (CBQL), 23 a 27 de outubro, Goiânia, Goiás, 2006. Anais...Goiânia:CBQL, 2006. Disponível em:< http://www.terraviva.com.br/IICBQL/p043.pdf>.Acesso em: 01 jun. 2010. OLIVEIRA, M. M. A.; NUNES, I. F. Análise microbiológica e físico-química do leite pasteurizado tipo "C" comercializado em Terezina, PI. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 17, n. 111, p. 92-94, 2003. POLEGATO, E. P. S.; RUDGE, A. C. Estudo das características físico-químicas e microbiológicas dos leites produzidos por mini-usinas da região de Marília – São Paulo/ Brasil. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 17, n. 110, p. 56-63, 2003. VIEIRA, T. R. L.; CARVALHO, M. G. X. Características microbiológicas e físicoquímicas e condições higiênico-sanitárias do leite pasteurizado tipo "C" comercializados na cidade de Patos - PB. In: CONGRESSO NACIONAL DE LATICÍNIOS, 20, 2003, Juiz de Fora. Anais... Juiz de Fora: Central Formulários, v. 58, n. 333, p. 201-203, 2003.