A RT I G O DE REVISÃO As proteínas supressoras em neoplasias malignas - Conhecendo seu papel The suppressor proteins in malignant neoplasia - Knowing their role Las proteínas supresoras en neoplasias malignas- Conociendo su función Maria do Carmo Gouveia Pelúzio1, Ana Carolina Pinheiro Volp2, Isabela Campelo de Queiroz3, Ciro José Brito4, Tatiana Costa Miranda5 Resumo Abstract As neoplasias malignas são resultados das alterações nos genes e proteínas responsáveis pelo controle dos processos de divisão celular normais. Estas proteínas são conhecidas como proteínas supressoras de tumor e um defeito nas mesmas causa replicação celular descontrolada. Nesta revisão serão abordados as características e o papel das principais proteínas supressoras, em diferentes neoplasias malignas. A p53 é a proteína mais estudada e de maior importância, sendo considerada como “guardião do genoma”, além de um dos principais marcadores dos diferentes estágios de diversos tipos de câncer. A p21 e p38 têm importante papel em bloquear o ciclo celular em diferentes etapas, impedindo desta forma um crescimento celular descontrolado. O estudo das proteínas supressoras de tumor consiste em uma ferramenta útil no momento de decidir sobre o melhor tratamento de pacientes afetados por alguma neoplasia e estas vêm sendo consideradas como importantes marcadores da agressividade do tumor. (Rev Bras Nutr Clin 2006; 21(3):233-8) UNITERMOS: proteína supressora, neoplasia, p53, p21, p38. Mutation on genes and protein responsible for the control of cellular proliferation can result malignant neoplasia. These proteins are known as tumor suppressors and changes in it structure result in uncontrolled cellular proliferation. On this review will be listed characteristics and the role of the main suppressor proteins, and different malignant neoplasia. The protein p53 is the most studied and more important of there protein been considered as “genome guardian“. It’s used as a marked of different stage of many kinds of cancer. The p21 and p38 play an important role in different phases of cellular cycle, controlling the cellular proliferation. The study of tumor suppressors proteins is a useful instrument for decision around the best treatment of affected patients by any neoplasia, and they have been considered important to mark tumor agressivity. (Rev Bras Nutr Clin 2006; 21(3):233-8) KEYWORDS: suppressor protein, neoplasia, p53, p21, p38. Resumen Las neoplasias malignas son resultantes de las alteraciones en los genes y proteínas responsables por el control de los procesos de división celular normales. Estas proteínas son conocidas cómo proteínas supresoras de tumor y un defecto en las mismas causa una replicación celular sin controle. En esta revisión serán discutidas las características y la función de las principales proteínas supresoras, en diferentes neoplasias malignas. La p53 es la proteína más estudiada y de mayor importancia, siendo considerada cómo ”guardián del genoma”, además de unos de los principales marcadores de los distintos estadios de varios tipos de cáncer. La p21 y p38 tienen importante función en hacer un bloqueo del ciclo celular, en diferentes etapas, impidiendo en esta forma un crecimiento celular sin control. El estudio de las proteínas supresoras de tumor consiste en una herramienta útil en el momento de decidir sobre el mejor tratamiento de los pacientes afectados por alguna neoplasia y esta viene siendo consideradas cómo importantes marcadores de la agresividad del tumor. (Rev Bras Nutr Clin 2006; 21(3):233-8) UNITÉRMINOS: proteína supresora, neoplasia, p53, p21, p38. 1.Professora Adjunta do Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Mestrado em Agroquímica pela UFV, Doutorado em Ciências pela Universidade Federal de Minas Gerais. 2.Nutricionista pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Especialista em Terapia Nutricional pela UFPR, Especialista em Administração em Marketing pela Faculdade de Estudos Sociais do Paraná, Mestre em Ciência da Nutrição pela UFV, Doutoranda em Ciências e Tecnologia de Alimentos pela UFV. 3.Nutricionista pela UFV, Mestre em Ciência da Nutrição pela UFV. 4.Educador Físico pela UFV, Mestre em Ciência da Nutrição pela UFV. 5.Nutricionista pela UFV. Endereço para Correspondências: Maria do Carmo Gouveia Peluzio - Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa. Av. PH Rolfs, s/n.Viçosa, Minas Gerais. CEP. 36.571-000. Telefone: (31)3899-1275. Email:[email protected] Submissão: 1 de setembro de 2005 Aceito para publicação: 15 de agosto de 2006 233 Rev Bras Nutr Clin 2006; 21(3):233-8 Introdução A oncologia molecular está constituída sobre a premissa de que o câncer é o resultado final de um acúmulo de alterações genéticas, algumas das quais podem ser adquiridas e outras herdadas. Os genes que são alterados são aqueles envolvidos nos processos celulares normais e fundamentais, como a regulação do ciclo celular, a sinalização, e a diferenciação1. O ciclo celular consiste em uma seqüência de processos: divisão nuclear (conhecida como mitose) e divisão citoplasmática (citocinese). Mas antes de uma célula típica poder se dividir deve ocorrer uma dobra no volume celular e duplicação de todos os conteúdos. A fase de crescimento do ciclo celular é denominada de interfase2. Os eventos do ciclo celular ocorrem numa seqüência fixa. Inicia-se com a replicação do DNA (fase S), seguido por um intervalo (fase G2), mitose e citocinese (fase M), depois outro intervalo (fase G 1 ), seguido ainda da replicação, novamente, do DNA. Todos os DNAs nucleares devem ser replicados antes de iniciar a divisão celular, completando a fase S para proceder à fase M. O controle do sistema de ciclo celular tem atividade de enzimas e proteínas responsáveis por conduzir cada etapa do processo no tempo apropriado, e acompanhado da desativação dessas, logo que o processo for completado. Se a síntese de DNA for lenta ou paralisada (por causa de um prejuízo no DNA que requer reparo, por exemplo), mitose e divisão celular serão então adiadas. Isto é necessário também para garantir que cada estágio do ciclo seja completado antes que se inicie o próximo. Desta forma, os pontos de controle são locais no ciclo celular onde o sistema pode ser regulado através de sinais de outras células, tais como fatores de crescimento e outros sinais moleculares extracelulares que podem promover ou inibir a proliferação celular3. Este sistema-controle do ciclo celular está baseado em duas famílias de proteínas que são chave para seu funcionamento. A primeira é a família das proteinoquinases dependentes das ciclinas (cdk), as quais induzem processos dependentes da fosforilação de serinas e treoninas em proteínas selecionadas. A segunda é uma família de proteínas ativadoras especializadas, chamadas ciclinas, que se ligam às moléculas de cdk e controlam sua habilidade em fosforilar proteínas-alvo apropriadas. A formação, ativação e a separação dos complexos ciclinas-cdk são os eventos fundamentais que coordenam o ciclo celular. Os eventos que levam a célula a entrar em mitose são os seguintes: acúmulo gradativo de ciclinas mitótica durante a fase G2 e sua ligação a cdk para formar um complexo conhecido com fator promotor da fase M (MPF), que uma vez ativado leva a célula a entrar em mitose. O MPF é inativado rapidamente pela degradação da ciclina no limite das fases metáfaseanáfase, permitindo que a célula saia da mitose4. A regulação do ciclo celular é um equilíbrio entre os produtos dos genes que induzem uma célula a replicar-se e outros produtos dos genes que impedem a replicação celular. Em muitos tipos de câncer, ocorrem defeitos nesses sistemas reguladores, fazendo com que as células sejam 234 impelidas a uma replicação descontrolada. Os genes referidos como protooncogenes levam a replicação, enquanto que os genes que impedem a divisão celular são membros da família dos genes supressores de tumor1. Com base nas informações acima, este trabalho de revisão tem como objetivo descrever e discutir o papel das principais proteínas imunossupressoras em diferentes neoplasias malignas. Metodologia Realizou-se uma revisão bibliográfica da literatura a partir das principais bases de dados em saúde: MEDLINE (base de dados de literatura internacional, produzida pela US National Library of Medicine – NLM), LILACS (Literatura Latino-Americana y del Caribe en Ciencias de la Salud), SciELO (Scientific Electronic Library Online), Periódicos da Capes, além de “sites” da Internet e livros da área. Gene supressor tumoral - p53 Fatores ambientais e carcinógenos podem ser capazes de danificar o DNA celular. A proteína supressora de tumor p53 desempenha uma proteção de fundamental importância neste controle e sua expressão ocorre de maneira notável em diversos tumores5. De todos os genes, o p53 tem sido mais exaustivamente estudado. Dentre todas as proteínas reconhecidamente envolvidas no processo de carcinogênese, destaca-se o gene supressor tumoral p53, também considerado o “guardião do genoma”. Desempenha um importante papel neste controle, pois é ativada em resposta a sinais de dano celular provocada pela exposição aos vírus como o E1B, HPV16 e HPV18. Esta resposta resulta numa parada em G1, antes de ocorrer a duplicação gênica, permitindo que aconteça o reparo do DNA. Em caso de dano não reparado, a célula é induzida a apoptose. Quando o p53 sofre mutações, as células com danos no DNA (que escaparam do reparo ou da sua destruição), podem iniciar um clone maligno6. Cabe ressaltar que o crescimento celular normal e a replicação são controlados pela ação opositora de protooncogenes e genes supressores de tumores. Os protooncogenes (ras, c-myc, bcl-2) codificam proteínas que promovem o crescimento celular e a replicação. Genes supressores de tumores (p53, p21, pRb, APC) codificam proteínas que negativamente regulam o crescimento celular e a replicação e podem induzir a célula à apoptose7. Um estudo realizado por MACIAG e VILLA (1999), demonstrou a susceptibilidade genética à infecção pelo Papiloma Vírus Humano (HPV) e consequentemente ao câncer de cérvix. O resultado do estudo apontou a presença de um polimorfismo do gene p53, que influenciou no desenvolvimento de carcinoma escamoso celular8. A importância da infecção pelo HPV no tumor oral é suportada pela capacidade dos HPVs de alto risco para imortalizar ceratinócitos orais in vitro. A imortalização pode envolver a desativação de proteínas supressoras de tumores Rev Bras Nutr Clin 2006; 21(3):233-8 pré-formados pelas oncoproteínas virais, o bloqueio da transcrição de genes supressores de tumores como resultado da inserção do oncogene do HPV, ou a estimulação da transcrição do oncogene celular pela inserção de seqüências ativadoras de transcrição derivadas do HPV9. OLIVEIRA et al. (2002), conduziram um estudo clínico o qual analisou esfregaços de 10 pacientes com lesões cervicais, para detecção de mutações nos éxons 5 a 8 do gene p53 por PCR/ SSCP (Reação de Polimerase de Cadeia – Limite Simples de Polimorfismo Conformacional), sendo este teste utilizado para detectar alterações no gene da p53. A infecção por HPV foi também investigada por PCR utilizando-se dois conjuntos de oligonucleotídeos marcadores. Alterações nos genes p53 foram observadas em um caso de carcinoma escamoso e um de neoplasia epitelial cervical grau III. Tipos de HPV de alto risco foram detectados em ambos os casos, confirmando que infecção por HPV e mutações na p53 não são eventos excludentes10. Astrocitomas abrangem grande espectro de neoplasias desde lesões que crescem lentamente, até tumores altamente agressivos e fatais. Uma característica importante desse grupo de neoplasias é a tendência à recorrência, freqüentemente acompanhada da progressão para fenótipos mais malignos. Mutações genéticas da p53 são as alterações mais comuns presentes nos astrocitomas, sugerindo que estas sejam pelo início do processo de transformação maligna. Entretanto, no estudo de MARTINS et al. (2001), onde foram avaliados 22 pacientes com astrocitomas grau II (n = 17) e grau III (n = 5), foram verificados índices de imunoexpressão positiva da p53 inferiores aos valores reportados em literatura, não sendo observada correlação entre os índices de astrócitos e a imunoexpressão positiva da p5311. De acordo com a revisão de PINTO et al. (2002), a mutação gênica da p53 ocorre na minoria dos casos de câncer de colo uterino (3 de 14 artigos revisados). O polimorfismo genético desta proteína tem sido indicado como um possível co-fator do HPV (Papiloma Vírus Humano) na gênese do câncer escamoso do colo uterino. A suscetibilidade da p53 ao HPV está relacionada a seu genótipo, pois o polimorfismo no códon 72 pode resultar na produção de uma proteína com unidade dos aminoácidos prolina ou arginina. Estudos demonstraram que mulheres homozigotas para Arg apresentaram-se 7 vezes mais susceptíveis ao câncer cervical. Segundo os autores, apesar dos resultados de pesquisas ainda serem controversos, as evidências levam a crer que a homozigose para Arg é um fator importante na suscetibilidade para o câncer de colo de útero12. Em um estudo relacionado ao câncer colo-retal, ROA et al. (2000) demonstraram a importância de se conhecer marcadores do o início da neoplasia. De acordo com os resultados deste estudo a mutação gênica da p53 pode descrever parâmetros fenotípicos e genotípicos do câncer, além de ser correlacionada com o tempo de sobrevida do paciente, o que possivelmente auxiliem no estabelecimento de prognósticos que indicarão o tratamento adequado para cada estágio do desenvolvimento do tumor13. Devido a alta incidência do câncer de próstata após os 50 anos, esta neoplasia tem recebido atenção dos pesquisa- dores no intuito de se realizar o diagnóstico precoce de biomarcadores e possivelmente uma melhora na terapia. Tem se notado, assim como em outros tipos de câncer, o acumulo da p53 no núcleo das células cancerígenas. Estudos têm demonstrado que a mutação gênica da p53 é um marcador independente da evolução de vários tipos de câncer, incluindo o de próstata. No estudo de THORRELL et al. (2000) foi utilizada técnica de imuno-histoquímica para detecção no aumento da meia-vida da p53. O resultado do estudo demonstrou que a mutagênese da p53 é um evento tardio no câncer de próstata. Sendo assim, a p53 em próstata não tem qualquer valor clínico ou prognóstico, ou seja, a p53 é um marcador dependente da neoplasia prostática14. A expressão p53 foi observada no câncer de cabeça na região da Cóclea e Vestíbulo, o que leva a perda irreversível da audição. Segundo estudos, a p53 induz a ação da Cisplatina (agente antineoplástico que destrói as células). Entretanto o estudo de ZHANG et al. (2003), demonstrou que a Pifitrina-± (20¼M a 100 ¼M em ratos pós-natal) inibe a expressão da p53 e protegem a região coclear e vestibular15. Mutações do gene da p53 estão relacionadas a neoplasias de adultos, por outro lado estudos em oncologia pediátrica apresentam pequena identificação com alterações neoplásicas. Uma neoplasia comum em crianças é o tumor de Wilms, que apresenta forte correlação com a mutação do gene WT1. Este tumor causa anormalidades genito-urinárias, retardo mental e hemihipertrofia. DEFAVERY et al. (2000) em um estudo de relato de caso tentaram estabelecer uma correlação entre o tumor de Wilms e a p53. Para tal verificação utilizou-se o método PCR-SSCP e seqüenciamento de DNA. De acordo com os resultados o seqüenciamento de DNA não foi capaz de indicar as prováveis mutações e verificou-se a ausência de um ponto de mutação da p5316. IWAKURA et al. (2000) não observaram relação significante entre o padrão imunohistoquímico e outros parâmetros como a sobrevida, estádio e grau tumoral17. Estudos voltados para a oncogênese do câncer de bexiga demonstram que este não apresenta características histológicas suficientes para predizer sua evolução. Desta forma, torna-se necessário encontrar novos marcadores que permitam diagnosticar e diferenciar os estágios da doença. NETO et al. (2002) estudaram a correlação da expressão da p53 e as características histopatológicas do câncer de bexiga. Na amostra analisada observou-se que a p53 pode predizer o grau tumoral, estádio e incidência de metástases. Entretanto, a expressão desta proteína não pode predizer a recidiva vesical dos tumores18. Em uma revisão sobre marcadores tumorais para o câncer de pulmão, PACHECO et al. (2002) observaram que em mais de 50% dos tumores há mutação de alelos da p53, sendo que estas impedem a capacidade da proteína de induzir apoptose. Alguns estudos relacionam a mutação da p53 com os piores prognósticos. Foram observadas presenças de anticorpos da p53 em pacientes com câncer, o que acelera o desenvolvimento do estagio clínico da doença19. Apesar da mutação da p53 ser considerada um impor235 Rev Bras Nutr Clin 2006; 21(3):233-8 tante determinante de diversos tipos de câncer, o papel desta proteína no desenvolvimento de tumores adrenocorticais (ACT) não foi bem elucidado. SREDNI et al. (2003) estudaram 57 pacientes com ACT (21 crianças e 36 adultos). A p53 apresentou correlação positiva com o desenvolvimento de tumores malignos tanto em crianças quanto em adultos20. A mutação gênica da p53 foi relacionada também a tumores hepáticos. No estudo de OLIVEIRA E GERMANO (1997) observam-se que a Aflatoxina B1 desenvolvida pelo fungo Aspergillus flavus em alimentos como milho, amendoim, feijão e arroz, apresenta correlação positiva com a mutação gênica da p53, observando também que a esta aflatoxina apresentava interação sinérgica com o vírus da hepatite B, para o desenvolvimento do câncer de fígado21. Proteínas p63 e p73: membros da família da p53 Ainda não existe consenso sobre a ação da p73 nos tumores malignos. Sabe-se que esta proteína não sofre mutação, sendo observada em diversos tipos de câncer. Apesar da ausência de mutação verificou-se correlação positiva entre a progressão do tumor e a expressão desta. Apesar de raramente mutado quando esta ocorre pode atuar na oncogênese por inibir a p53. Ao contrário da p53, em condições normais a p73 apresenta funções antiapoptóticas, entretanto ela pode inibir o ciclo celular provocando apoptose quando superexpressa22. Estudos sugerem que a p63 é fundamental para a manutenção das células tronco em vários epitélios. Observou-se a superexpressão da p63 em alguns carcinomas, mas não em todos, estando mais associado a carcinomas escamosos. Da mesma forma também se observou mutação da p63 em alguns carcinomas, mas não em todos. Verificou-se que a inibição do p63 e p73 pela p53 aumentam a tumorigênese22. De acordo com os resultados de estudos, até o momento observou-se que, apesar de apresentarem características estruturais similares os membros da família p53 não apresentam muita compatibilidade de funções. A p63 parece ser fundamental para o crescimento e diferenciação tecidual, a p73 participa da diferenciação tecidual e respostas ao dano do DNA, esta ultima função pode ser realizada por mecanismos paralelos e independentes da p5322. Proteína supressora p21 A p21 é uma proteína inibidora do complexo ciclinacdk23. A maioria dos mecanismos moleculares para bloquear a progressão do ciclo celular nos pontos de controle são pouco entendidos. Em alguns casos, todavia, específicas proteínas inibidoras Cdk entram em jogo; estas bloqueiam a ação ou atividade de uma ou mais complexos ciclinasCdk. Um dos melhores pontos de controle do ciclo celular na fase G1, quando há danos no DNA, se compreendidos, ajudam a garantir que a célula não replique com o DNA danificado. Através de mecanismos não conhecidos, o 236 DNA danificado causa um aumento em ambas concentração e atividade de um gene protéico regulatório, chamado p53. Quando ativado o p53 estimula a transcrição de um gene codificando a proteína p213. Segundo NAKATANI et al.(2001), a p21 desempenha o papel fundamental de parar o ciclo celular, além de ser uma importante proteína no controle da senescência celular, apoptose e desta forma da carcinogênese24. Como importante regulador do ciclo celular, a p21, é crucial para o crescimento e diferenciação celular normal, portanto um polimorfismo em um de seus códons pode produzir variações em seus aminoácidos levando a perdas de suas funções, podendo ainda está associada ao aumento do risco de câncer de esôfago. Alterações neste gene pode afetar adversamente a proliferação celular e aumentar a susceptibilidade de desenvolvimento do câncer. Mutações na p21, diferentemente da p53, tem levantado a possibilidade que o polimorfismo do códon 31 da p21 pode ter um significado funcional e contribuir para o desenvolvimento do tumor25. Estudos in vitro vêm mostrando o papel da p21 em modular a proliferação celular em diferentes células cancerosas. KAWADA et al. em 2002 verificaram que a p21 poderia estar envolvida na inibição do crescimento de tumor em células hematopoéticas, tanto inibindo a progressão da fase G1 quanto na fase S. Neste estudo ficou demonstrado que esta inibição não foi concomitante a apoptose, portanto a ação da p21 foi independente da ação da p5326. A diminuição da proliferação de células leucêmicas mielóides humanas foi associada ao aumento da expressão do gene p21, que foi acompanhado de inibição da síntese de DNA e parada do ciclo celular27. A p21 foi considerada por SHALITIN et al. em 1994 como um importante marcador da monitoração dos resultados do tratamento de pacientes com vários tumores malignos, pois seu alto conteúdo foi associado a menores diferenciações de tecidos com tumores. O presente estudo avaliou pacientes com linfomas malignos, tumores urogenital e gastrointestinal28. Já ROSSER et al., 2003, não verificaram diferenças entre a expressão da p21 em pacientes com câncer de próstata sob tratamento com radioterapia e outro grupo que foi submetido a prostatectomia sem nunca ter feito tratamento29. Algumas substâncias, dentre elas hormônios, vem sendo associados a inibição de cânceres por induzir ou aumentar a atividade da p21. A progesterona e estrógeno se mostraram eficientes em inibir o crescimento de células do câncer endometrial, pois estes promoveram aumento da p21 na célula30. A expressão do adenovírus dos receptores alfa de estrógenos em células de câncer de mama, aumentaram os níveis de p21, demonstrando um menor trânsito de células na fase G1 e acelerando o transito através da fase S e possivelmente parando a fase G2/M, a ligação dos receptores alfa estrógeno pode ser um potente regulador do ciclo celular, apoptose, sinalização celular e resposta ao stress e dano ao DNA 31 . A Genisteína e etoposide, inibidores da topoisomerase, induziram a expressão da p21 em células humanas de câncer de pulmão32. Rev Bras Nutr Clin 2006; 21(3):233-8 Proteína supressora p38 As proteínas quinases MAP são ativadas por estímulos extracelulares. Em particular, a p38 MAP quinase pode ser estimulada por UV, radicais livres, choque de calor, isquemia e outros. Kim et al. em 2003 demonstraram que a ativação da MAP quinase está envolvida nos efeitos apoptóticos desses agentes de estresse33. Estudo realizado utilizando-se células humanas linfoblásticas e mieloma, demonstraram que a suspensão da fase G2/M foi inibida pelo inibidor de p38 MAP quinase SB203580, indicando que a ativação da via de p38 MAP quinase era necessária para a suspensão da G2/M. Assim, a decitabine, uma droga que causa a hipometilação do DNA, inibiu o crescimento do tumor através da indução da suspensão do ciclo celular na fase G1 mediada por níveis aumentados p21 waf1 e da fase G2/M através da ativação por fosforilação da via p38 MAP quinase34. A combinação de ácido acético índole-3 (IAA), principal forma do hormônio de crescimento das plantas (auxina), com peroxidase do rábano silvestre (Cochlearia armoracia) (HRP) tem sido proposto como uma recente terapia para o câncer, por ser uma combinação citotóxica para as células de mamíferos (esses compostos são citotóxicos apenas em combinação, não isoladamente). Demonstrou-se que a IAA/HRP ativa a proteína p38 MAP quinase, que é quase completamente bloqueada por antioxidantes. Então, propõe-se que IAA/HRP induz a formação de radicais livres que levam à apoptose de células de melanoma humanas via morte através de receptor e apoptose mitocondrial33. O CAPE (caffeic acid phenethyl ester), um composto ativo do própolis, possui muitos efeitos biológicos e farmacológicos, incluindo antioxidante, antiinflamatório, ação antiviral e efeito anticancerígeno. Descobriu-se que o CAPE ativou ERKs (quinases extracelulares reguladas por sinal) e a proteína p38 MAP quinase em células glioma C6. O mais importante é que a p38 quinase formou um comple- xo com a p53 após o tratamento com CAPE durante meiahora. O resultado do estudo sugere que a p38 MAPK mediou a apoptose p53-dependente induzida pela CAPE em células glioma C635. O’PREY et al. (2003), utilizando células epiteliais humanas orais, demonstraram a importância da ativação das vias de resposta ao estresse através da apigenina (AP), luteolina (LU) e kaempferol (KF). Todos esses três flavonóides ativam a ATM/ATR quinases (mutated in ataxia-telangiectasia and related), causando estresse das vias p53 e p38 quinases resultando na indução de GADD45 e na suspensão do ciclo celular G2/M que também envolve a inibição da atividade da cdc2 quinase. Os dados demonstraram que o estresse da p38 quinase é seletivamente induzido pela AP, LU e KF36. Considerações finais Fatores ambientais como: luz ultravioleta, alimentos, estresse oxidativo, toxinas, vírus, isquemia, dentre outros, podem estar ou não interagindo sinergicamente no ciclo celular predispondo o indivíduo a neoplasias. O organismo humano contém fatores que protegem ou reparam o DNA celular, fazendo parte do controle do ciclo celular. As proteínas supressoras desempenham o papel fundamental na prevenção de neoplasias malignas. O estudo das proteínas supressoras de tumor consiste em uma ferramenta útil no momento de decidir sobre o melhor tratamento de pacientes afetados por alguma neoplasia. Muitos destes marcadores podem nos fornecer valiosas informações a respeito da agressividade de um tumor, determinando a terapia mais vantajosa. A diversidade das lesões genéticas que se produzem na tumorogênese, permite pouca uniformidade de critérios a respeito do uso desses marcadores37. A proteína P53 é a mais estudada até o momento38,39, sendo um dos marcadores dos diferentes estágios de diversos tipos de câncer. Referências bibliográficas 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Savage PD. Base molecular das neoplasias humanas: um guia. In: Shils ME; Olson JA, Shaike AK, Hos AK. Tratado de nutrição moderna na saúde e na doença. 9ª ed., Monelle:2003; 1319-1339. Albets B, Bray D, Lewis J, Raff M, Roberts K, Watson JD. Molecular Biology Of The Cell. Garland Publishing, Inc: New York And London, 1983. Albets B, Bray D, Johson A et al. Essencial Cell Biology: An Introduction To The Molecular Biology Of The Cell. Garland Publishing, Inc: New York And London, 1998. Albets B, Bray D, Lewis J, Raff M, Roberts K, Waltson JD. Biologia Molecular Da Célula. 3ª Ed. Brasil: Artes Médicas, 1997. Smith W. Cell Biology. 2nd Ed. London: Chapman & Hall, 1996. Fett-Conte AS, Salles ABCF. A importância do Gene p53 na carcinogênese humana. Rev Bras Hematol Hemater 2002; 24(2):8589. 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