SUELY PORTUGAL VILLAÇA O PERFIL DO LÍDER NO SÉCULO XXI ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistemas de Gestão, da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Gestão pela Qualidade Total. Orientador : Prof. Dr. Luis Perez Zotes Niterói 2002 VILLAÇA, Suely Portugal O perfil do líder no século XXI: estudo de caso em uma instituição de ensino/Suely Portugal Villaça – Niterói, RJ: UFF, 2002. P. 1 Dissertação (Mestrado em Sistemas de Gestão) — Universidade Federal Fluminense, 2002. Orientador: Prof. Dr. Luis Perez Zotes 1. Líder/Liderança 2. Perfil de Líder 3. Atributos 4. Gerentes/Chefes I. Título SUELY PORTUGAL VILLAÇA O PERFIL DO LÍDER NO SÉCULO XXI ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistemas de Gestão, da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Gestão pela Qualidade Total. Aprovada em 2002 BANCA EXAMINADORA Prof. Luis Perez Zotes, D.Sc. (Universidade Federal Fluminense) Prof. Osvaldo Luis Gonçalves Quelhas, D.Sc. Prof. Claudio Gurgel, D.Sc. Niterói 2002 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a meu marido Nilson, que me deu a firmeza, o equilíbrio e a coragem para que eu pudesse continuar buscando o caminho da minha realização pessoal e profissional. A meu amado filho Leonardo, minhas netas, minhas alegrias, Flávia e Maria Eduarda, minha mãe e toda a minha família pela compreensão nos momentos que deixei de compartilhar. Ao Mestre e amigo Luis Perez Zotes pela sua orientação e apoio dado durante todo o curso. Especialmente a meu saudoso filho Flávio, de onde veio toda “LUZ E INSPIRAÇÃO.” AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, por me dar discernimento, inspiração e sabedoria para enfrentar os desafios da vida. Agradeço, especialmente, aos meus amigos, Dario Braga Paim, Myriam Marques da Silva Carvalho, Luis Antonio Campagnac, Angela M.M. de Bessa, Paulo Cezar Aguiar, que permitiram que este trabalho pudesse ser realizado. AGRADECIMENTOS Agradecimento especial aos amigos: Prof. Osvaldo Luis Gonçalves Quelhas Prof. Gilson Brito Prof. José Rodrigues Farias Filho Prof. Cid Aled Aos colaboradores do LATEC. Aos meus amigos de turma pelo incentivo dado para superar os obstáculos. MUITO OBRIGADO! “Enquanto não estivermos compromissados, haverá hesitação, a possibilidade de recuar e, sempre, a ineficiência. Em relação a todos os atos de iniciativa (e de criação), existe uma verdade elementar, cuja ignorância mata inúmeros planos e idéias esplêndidas: no momento em que definitivamente nos compromissamos, a providência Divina também se põe em movimento. Qualquer coisa que você possa fazer ou sonhar, você pode começar. A coragem contém, em si mesma, o poder, o gênio e a magia. Sigam em frente...” Goethe SUMÁRIO LISTA DE GRÁFICOS 08 LISTA DE TABELAS 10 RESUMO 11 ABSTRACT 12 CAPÍTULO 1 — INTRODUÇÃO 13 1.1 — O problema 18 1.2 — Abrangência do estudo 19 1.3 — Objetivos e relevâncias 20 1.4 — Hipóteses e organização do estudo 21 1.5 — Metodologia 22 1.5.1 — Técnica e procedimentos 23 1.5.2 — Instrumento de pesquisa 25 1.5.3 — Universo e amostra 32 1.5.4 — Coleta de dados 32 1.5.5 — Limitação do método 33 CAPÍTULO 2 — REFERENCIAL TEÓRICO 34 2.1 — Globalização, tecnologia e organizações modernas 34 2.2 — Conceitos fundamentais concernentes a liderança 39 2.2.1 — Liderança e conceitos correlatos 39 2.2.2 — Liderança como ação legítima 40 2.2.3 — Referencial histórico 41 2.2.3.1 — Liderança e poder: alguns pilares clássicos 41 2.2.3.2 — O Príncipe de Maquiavel 42 2.2.3.3 — Liderança nos tempos atuais: Habermas 44 2.2.3.4 — Visão estruturalista da liderança 46 2.2.4 — Aspectos da liderança segundo Max Weber 48 2.2.5 — Liderança na organização burocratizada 51 2.2.6 — Liderança versus poder 52 2.2.7 — Líder/liderança/equipe, na perspectiva da ciência da Dinâmica de Grupo 55 2.2.8 — O conceito de coesão grupal 57 2.2.9 — Relações humanas e noção de 'competência' 58 2.3 — Concepções de liderança 62 2.3.1 — Postulados sobre a liderança 63 2.3.2 — Definições por autores que escrevem para as empresas 64 2.3.3 — O modelo de Senge: a quinta disciplina 67 2.3.4 — A liderança segundo o pensamento de Peter F. Drucker 71 2.3.5 — As novas ferramentas do líder na nova organização 73 CAPÍTULO 3 — ESTUDO DE CASO TABULAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 76 3.1 —Coleta e distribuição dos dados 76 3.2 — Comparação entre informações coligidas e teorias de liderança 100 3.2.1 — Teoria dos traços de personalidade 100 3.2.2 — Teoria situacional 101 3.2.3 — Teoria comportamental 101 3.2.4 — Teoria contingencial de liderança 102 3.2.5 — Teoria normativa 103 3.2.6 — Teoria da liderança carismática 104 3.2.7 — Teoria da liderança transformacional 105 3.2.8 — Teoria da liderança visionária 105 3.2.9 — Cartwright & Zander 106 CONCLUSÕES E SUGESTÕES 107 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 110 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 — Distribuição dos lideres entrevistados em relação ao cargo ocupado 77 Gráfico 2 — Distribuição dos líderes quanto ao sexo 78 Gráfico 3 — Grau de escolaridade das lideranças entrevistadas 79 Gráfico 4 — Qualidade dos cursos de Pós-graduação das lideranças entrevistadas 80 Gráfico 5 — Distribuição da faixa etária das lideranças entrevistadas Gráfico 6 — Tempo de experiência das lideranças entrevistadas 81 82 Gráfico 7 — Número de colaboradores das lideranças entrevistadas 83 Gráfico 8 — Como principais atributos considerados relevantes pelos entrevistados no exercício da função 84 Gráfico 9 — Seis atributos considerados, em segundo lugar, como sendo o mais relevantes no exercício do cargo de liderança segundo os entrevistados 85 Gráfico 10 — Atributos considerados em terceiro lugar como mais relevantes, no exercício do cargo de liderança, segundo os entrevistados 86 Gráfico 11 — Atributos considerados em quarto lugar como mais relevantes, no exercício do cargo de liderança, segundo os entrevistados 88 Gráfico 12 — Atributos considerados em quinto lugar como mais relevantes no exercício do cargo de liderança, segundo os entrevistados 89 Gráfico 13 — Outros atributos mencionados considerados como mais relevantes, no exercício do cargo de liderança, segundo os entrevistados 90 Gráfico 14 — Como os entrevistados vêem a organização em que trabalham 91 Gráfico 15 — Se os entrevistados conseguem visualizar possíveis mudanças na empresa 92 Gráfico 16 — Principais mudanças constatadas na empresa pelos entrevistados 93 Gráfico 17 — Sugestões de atributos necessários para o exercício do cargo de liderança 94 Gráfico 18 — Atributos considerados menos importantes pelos entrevistados 96 LISTA DE TABELA Tabela 1 — Perfil induzido sugerido pelos entrevistados 97 Tabela 2 — Perfil ampliado, com respostas espontâneas dos entrevistados 98 RESUMO A presente dissertação procurou apresentar e analisar o perfil do líder contemporâneo dentro da empresa moderna, assim como levantar subvidi para a construção de um perfil ideal do líder pa ra o século XXI. Para tanto, através da análise da bibliografia especializada, definiu-se a ação do líder/liderança como papel essencial para a gestão dos novos tempos, sobretudo em face das grandes mudanças advindas dos avanços tecnológicos e em conseqüência do fenômeno da globalização. Inicialmente, abordou-se a literatura clássica sobre liderança relacionando-a com concepções de poder, organização burocratizada, produtividade e trabalho em equipe. Em seguida, foram abordados postulados de autores contemporâneos, sendo caracterizada a liderança principalmente voltada para as necessidades empresariais. Simultaneamente, o trabalho se propôs, através de uma pesquisa de campo consultar os gerentes e chefes de uma empresa de meio porte, a fim de construir, com as propostas e considerações dos consultados, um perfil ideal do líder para o novo século. Para o estudo de campo foi construído um questionário e aplicado em uma amostra de quarenta e sete gerentes/chefes da Empresa de Treinamento e Consultoria (ETC). Após a tabulação dos dados e montados os gráficos e tabelas, através da discussão dos resultados, foi possível identificar a posição dos funcionários da referida empresa sobre os principais atributos que devem compor o perfil de líder empresarial de nossos tempos. Finalmente, a conclusão da dissertação comentou as principais idéias da literatura concernentes a liderança, com ênfase nas contribuições dos consultados, visando a construção de um perfil de líder adequados as nossas empresas. ABSTRACT The present dissertation intended to present and to analyze the nowadays leader profile in the modern enterprise, as well as to investigate the construction of an ideal leader profile for the XXI century. Analyzing the specialized bibliography, the leader/leadership action was defined to have an essential role in the new times management, mainly in the great changes that came from the technological improvement as an globalization phenomenon consequence. At first, the classic literature about leadership was approached, making connections to the power conceptions, bureaucratized organization, productivity and the work in-group. Then, the contemporary authors postulates were approached, focusing the leadership inside the enterprises needs. Simultaneously, the work is proposed, through a case study, to consult managers and supervisors of an medium-size enterprise, intending to construct, with the proposals and considerations of the consulters, an ideal leader profile for new century. For the case study, a questionnaire was worked out and applied in a sample of forty-seven managers and supervisors of Empresa de Treinamento e Consultoria (ETC - Training and Consulting Company). After the data treatment and the construction of tables and graphs and through the results discussion, it was possible to detect the position of the personel of the related enterprise about the main attributes that are necessary to compose the nowadays enterprise leaders profile. Finally, the conclusion of the dissertation commented on the main ideas found in the literature related to leadership, emphasizing the consulters’ contributions, aiming the construction of a leader profile suitable to our companies. 1 INTRODUÇÃO “A ARTE DE LIDERAR É A ARTE DE SER HUMANO” John K. Clemens Liderança essa qualidade inspira as pessoas a caminhar, a realizar projetos, a organizar processos. É essencial para alcançar metas e objetivos. Não só importante na nossa vida profissional, a liderança é uma habilidade que precisamos exercer em grande parte do tempo: para organizar a casa, para fazer o filho estudar, na escola, na família, quando enfrentamos problemas delicados como doença ou morte de um parente. Há sempre alguém que deve tomar as rédeas da situação e inspirar os que estão à volta a alcançar aquele objetivo. Por esse motivo, devemos desenvolvê-la sempre. No âmbito profissional, é ela que nos impulsiona ao sucesso. Não importa onde você esteja, seja sempre um líder. O líder é, acima de tudo, um inspirador, sim, o líder cria o desejo nos outros de serem influenciados. Muita gente tem liderança natural, mas, principalmente, dentro das empresas, esse conceito deve ser muito bem trabalhado. Empresas sem bons líderes dispersam-se na busca de seus objetivos, fazendo com que suas metas espirem. O problema é que, nem sempre, as organizações têm líderes preparados. Muita gente é promovida sem treinamento e experiência. Para ser um líder é necessário entender de gente. Não há escapatória, empresas são construídas por pessoas e não por máquinas. A 14 princípio, recursos tecnológicos todos têm, mas a principal vantagem competitiva é o valor que cada um de nós pode agregar à organização e ao seu trabalho. Por isso, que o líder é um profissional capaz de destacar e “retirar” as melhores qualidades de cada indivíduo e, transformá-las em resultados. Por quê é tão complicado encontrar excelentes líderes? Porque, quase sempre, não formam equipes independentes e criativas? O brilho de qualquer bom líder é, justamente, conseguir unir as grandes habilidades de cada membro e elevar a auto-estima de todos, para que satisfação, felicidade e qualidade de vida sejam os pilares do cotidiano. O líder deve ter interesse pelo outro, capacidade de inspirar. . Um líder positivo, arrisca, gosta de conviver com pessoas e de fazer o bem. Um profissional com esse perfil é o que toda empresa procura. Através da realidade empresarial surge a necessidade de repensar o conceito de liderança, já que as empresas precisam de um novo paradigma para o desenvolvimento de líderes, com novos estilos, perfis e qualificações. Nenhum tema simboliza melhor a necessidade de um novo paradigma para a Administração do que o velho, surrado e obsoleto conceito sobre liderança. Várias transformações dramáticas no ambiente dos negócios exigem uma nova maneira de pensar sobre o que caracteriza um líder eficaz e como identificar e treinar talentos com potencial de liderança. São apontadas algumas razões que exigem um novo paradigma sobre liderança nas empresas. Em primeiro lugar, as empresas vencedoras serão aquelas que souberem montar verdadeiras "fábricas de líderes". O líder eficaz será aquele capaz de criar condições para o florescimento da liderança em outros, identificando e cultivando líderes potenciais em todos os níveis. Isto porque as grandes empresas estão se decompondo em unidades menores de negócios para se tornarem mais competitivas. Mesmo aquelas que estão buscando economia de escala através de 15 fusões e aquisições estão simultaneamente se reestruturando em unidades negociais mais autônomas. Ao invés de poucos líderes no topo da pirâmide, como no passado, as empresas passaram a necessitar de muitos líderes em vários níveis em seus diferentes negócios. E o fator mais determinante de competitividade tem sido a disponibilidade de líderes e não de gerentes para empresariar produtos, áreas geográficas e projetos. Mesmo as áreas funcionais precisam de líderes para uma atuação mais empreendedora e menos burocrática. Em segundo lugar, as empresas também necessitam de pessoas capazes de exercer a liderança de equipes e unidades inter-empresariais, ou seja, compostas de membros de diferentes empresas e muitas vezes de diferentes culturas. A liderança de verdadeiros "networks" externos voltados para os interesses da empresa passou a ser fator diferenciado de competição. Os líderes precisam aprender a produzir resultados do lado de fora da empresa, liderando equipes com alto grau de diversidade de interesses. Essa necessidade decorre das associações, joint-ventures e parcerias com sócios, fornecedores, clientes, e até mesmo com competidores que caracterizam o ambiente empresarial dessa verdadeira era sem fronteiras rígidas em que vivemos. Uma terceira razão reside no fato de que o líder atual necessita motivar pessoas que não são subordinados diretos. Por exemplo, pessoas fora de sua equipe, autoridades, clientes poderosos, celebridades, líderes comunitários. E quando se trata de liderar subordinados, muitos desses agora passam a trabalhar fora do círculo de supervisão direta na qual os líderes se acostumaram. No limiar do século XXI, as organizações de todos os tipos não lucrativos, comerciais, industriais, ou governamentais, enfrentam turbulências diferentes de quaisquer outras pelas quais já passaram. Como o caos e a confusão são cada vez mais comuns, e o ritmo das mudanças se acelera dramaticamente, os líderes precisam ter capacidade de trabalhar em condições de ambigüidade permanente cada vez maiores, pois condições estáveis simplesmente não existem mais. Os líderes precisam exibir grande coragem e autenticidade para encorajar outras pessoas a aprenderem a lidar com as incertezas, a manterem a organização em seu rumo e a estarem receptivas às mudanças, que estão 16 ocorrendo na prática gerencial tendo efeitos também na organização e na sua estrutura, que está se tornando mais hierarquicamente mais horizontal e simplificada. Diante das mudanças tecnológicas que vêm se processando rapidamente, acirrando ainda mais o processo de competitividade, as habilidades pessoais dentro da organização constituem-se fatores preponderantes à determinação de posição sustentável da organização, que dependem muito mais do talento, da criatividade, da percepção e do espírito empreendedor do líder para atender às demandas da sociedade atual. Para que as organizações possam sobreviver e prosperar na verdade, para que a nossa sociedade possa sobreviver e prosperar, os líderes precisam descobrir novas perspectivas sobre o ato de liderar. Considerando-se as mudanças permanentes no dia-a-dia, não se pode deixar de perceber a importância de um líder servindo de âncora e radar, indicando a direção a ser seguida, garantindo o sucesso e a eficácia organizacionais. Para isso, é necessário estabelecer uma nova postura em relação à liderança. Essa postura é construída com base na idéia das pessoas a respeito de liderança, que, por sua vez, reflete os valores e as preocupações mais gerais de uma determinada época. A História testemunha que toda geração se rebela não apenas contra determinados líderes, mas também contra o próprio estilo de liderança por eles adotado. Atualmente, reage-se ao estilo ‘patriarcal’ de liderança, que levou pessoas a comandar as grandes organizações militares da Segunda Guerra Mundial e que serviu de modelo para conduzir inúmeras organizações industriais. O executivo do tipo militar predominava no período pós-guerra e era o mais apropriado, mas, atualmente, tal estilo de liderança não é adequado. O que se evidencia é a obsolescência de instituições calcadas no passado. Para reverter esse quadro, novas formas de liderança terão de ser aprendidas. 17 Muitos líderes atuais provêm de uma sociedade cujas empresas adotavam o modelo patriarcal de liderança, nas quais eles eram apenas os intermediários nomeados pelas organizações - que faziam as determinações serem cumpridas. A atual postura do líder tem de ser empreendedora, criativa, intuitiva, para obter resultados satisfatórios. A liderança é a relação entre líder e seguidores, pois, sem esses, não há o que liderar. Líderes eficazes estão a par e gerenciam conscientemente a dinâmica dessa liderança. O líder é aquela pessoa que todos querem seguir, mas que é também um bom ouvinte. Muitos líderes espelham-se em outros; entretanto, cada situação demanda um tipo de liderança. Mais do que uma arte, a liderança é uma técnica que pode ser assimilada, aperfeiçoada e adaptada. Assim, líderes em uma situação podem ser seguidores em outra. O fato de exercer a liderança, de forma satisfatória, em determinada situação, não significa ser sempre líder com êxito. A eficácia de uma liderança depende da situação, do grupo, dos seguidores e do líder. Líderes e seguidores precisam uns dos outros para atingir os objetivos traçados. O líder do século XXI deparará com exigências complexas; assim é imprescindível que ele tenha firmeza, capacidade de pensar estrategicamente, astúcia, orientação, fé em determinados princípios fundamentais do comportamento humano e que saiba empregar o poder para a eficiência e para o bem maior. O líder eficaz determina a estratégia, motiva com a clara visão de como as coisas podem ser feitas de uma maneira melhor, cria uma missão, constrói uma cultura e atinge resultados. O líder bem sucedido terá, não a voz mais forte, mas o ouvido mais preparado e a sua verdadeira engenhosidade estarão não nas realizações pessoais, mas na descoberta dos talentos dos outros. 18 1.1 O PROBLEMA Há necessidade de se construir um perfil do líder para atender às exigências empresariais no século XXI. Se existe um problema, assim considerado pela unanimidade dos pensadores e gestores da administração moderna, este diz respeito à necessidade de líderes e liderança nas organizações contemporâneas. Qual deve ser o perfil ideal do líder do século XXI? O presente estudo pretende focalizar o problema iluminando-o do ponto de vista teórico e prático, pretendendo como resultado apresentar linhas consistentes de caracterização do líder que convém às organizações de nossa era. O tempo atual dito pós-moderno, favorece a reconfiguração dos valores, metodologias e comportamentos que orientavam, até há pouco tempo, o comportamento administrativo-empresarial de nossas organizações. Dentro desta perspectiva, nenhum tema solicita mais a mudança de paradigmas administrativos do que certas obsoletas concepções de liderança. Várias e dramáticas transformações no cenário dos negócios exigem maiores reflexões sobre o que caracteriza um líder eficaz e como identificar e treinar talentos potenciais para a liderança. As empresas candidatas ao êxito serão aquelas que souberem captar, preparar e desenvolver formas de liderança eficaz entre seus colaboradores. O líder eficaz será, entre outras coisas, o homem organizacional capaz de multiplicar arquétipos de liderança, identificando e cultivando aprendizes de líder potencial em todos os segmentos da empresa. O problema a ser debatido principia pela constatação de como as empresas se vêm reestruturando, tanto em unidades menores de negócios como em fusões que conduzem a corporações gigantescas. Contrariamente a modelos anteriores, com poucos líderes no topo da pirâmide, as companhias atuais se caracterizam pela exigência de um número maior de líderes nos vários níveis de seus diferentes segmentos departamentos. Tal fator é determinante em termos de 19 competitividade. Um portfólio de líderes constitui a melhor documento de identidade da empresa do século XXI. 1.2 ABRANGÊNCIA DO ESTUDO A delimitação do presente estudo constitui um certo desafio, já que a temática é de grade amplitude. Líderes e liderança são uma necessidade universal. Ressalte-se, também, a urgência de pessoas capazes para liderar equipes e unidades interempresariais, compostas de membros de diferentes empresas, culturas e personalidades. A influência sobre redes externas “networks”, voltadas para os interesses da empresa, passou a ser fator diferenciado na competição empresarial moderna. A nova liderança que está surgindo deve ser capaz de produzir resultados no exterior e no interior da empresa, assumindo equipes com alto grau de diversidade de interesses. Esta necessidade decorre das associações, joint-ventures e parcerias com sócios, fornecedores, clientes, e até mesmo com competidores que caracterizam o ambiente empresarial dessa era sem fronteiras rígidas em que vivemos. (Duck, 2000). Outra característica exigida ao perfil do novo líder é que esse precisará motivar indivíduos que não são seus subordinados diretos. Desta forma, o perfil de líder, neste novo cenário instável e complexo, é o de um profissional que saiba somar competências, fidelidade empresarial e capacidade de resolver problemas, gerenciando e ganhando pessoas. No presente trabalho às concepções de liderança extraídas da literatura serão acrescidas as contribuições pesquisando entre gerentes e chefes de uma empresa inserida no cenário atual, a Empresa de Treinamento e Consultoria. Através de um estudo de caso, será possível levantar contribuições concretas daqueles que vivenciam a realidade dos negócios, com o escopo de reunir num modelo objetivo as principais características do que deve ser o líder dos novos tempos. O estudo de campo ajudará a construir um perfil do líder do século XXI. 20 1.3 OBJETIVOS E RELEVÂNCIA A presente dissertação tem como objetivo principal, com base na bibliografia especializada, apresentar e analisar a maneira como as empresas modernas vêem o perfil do líder e da liderança, levando em conta a própria missão, as características do seu negócio e as metas que pretendem alcançar. O estudo pretende entender como a cultura empresarial, pelo depoimento de seus gerentes e supervisores, percebe a questão líder/liderança, além de analisar a literatura que as empresas costumam utilizar para se informarem a respeito do tema. Para melhor compreensão do fenômeno líder/liderança será revista a bibliografia acadêmica concernente ao tema. Algumas teorias, construtos e postulados apresentados por autores consagrados serão objeto de estudo e servirão de base para identificar o perfil de líder empresarial, tanto o que existe na realidade empresarial — perfil real — como o perfil que se pode construir — perfil ideal — referente ao líder que convém a este novo século. Qual a relevância do presente estudo? Com um mercado de trabalho limitado e competitivo como o do Brasil, constitui uma empreitada bastante desafiadora analisar a força das expectativas que movem os homens no intuito de realizar objetivos previamente traçados, em especial aqueles comprometidos com uma empresa ou organização. O estudo da liderança, do perfil do líder é simplesmente imprescindível para o executivo de hoje. (Tichy e Cohen, 1999) O modelo de liderança atual, que se encontra em transição, é fruto de uma sociedade cujas empresas adotavam o modelo de administração patriarcal, nas quais o líder era apenas o intermediário — nomeado pela organização — que fazia as determinações serem cumpridas. Tal modelo não é mais cabível, exigindo-se que o líder moderno assuma uma postura empreendedora e criativa para obter resultados satisfatórios. O líder do século XXI deparar-se-á com exigências complexas. Assim, é imprescindível que possua firmeza, pensamento estratégico, astúcia, orientação 21 teórica atualizada, e capacidade de captar e motivar pessoas para consecução do empreendimento em que está engajada (ibid.). Como se vê, a razão se ser do presente trabalho decorre do fato de que as expectativas e estudos sobre liderança são altamente priorizados pela empresa moderna. Daí a necessidade de atualizá-los de acordo com os avanços da pesquisa. A investigação dessa temática deve ser sempre revista e atualizada, dada a presença constante das questões que concernem ao poder e, conseqüentemente, à liderança no mundo cada vez mais paradoxal, onde a globalização impõe permanente tensão, tanto aos países como às organizações em geral. Da mesma é, igualmente, fundamental identificar como as atuais lideranças empresariais, percebem no dia-a-dia o papel do líder e quais atributos devem possuir. 1.4 HIPÓTESES E ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO Este trabalho se baseia no pressuposto de que para a estruturação, manutenção e ampliação de sua missão e negócios, a empresa depende da imprescindível colaboração de líderes bem formados e treinados, cujo perfil de atuação deve adequar-se continuamente às necessidades organizacionais e ao cenário cambiante do nosso século. Outra suposição adotada como base do presente trabalho é a necessidade e a possibilidade de se identificar, a partir de concepções teóricas e posturas de profissionais envolvidos com a complexa administração empresarial, os requisitos indispensáveis para a construção de modelos de líderes capacitados a gerenciar equipes e contribuir para o desenvolvimento e o êxito das empresas. A partir das hipóteses acima, a presente dissertação se organizará com a estrutura a seguir exposta. 22 • Definição da metodologia a ser adotada, a partir de dois planos. Numa primeira parte, far-se-á a revisão bibliográfica, tanto da literatura acadêmica quanto da literatura voltada para o treinamento operacional. Na segunda parte se apresentará um estudo de caso sendo coletadas contribuições de uma empresa, visando à construção de um perfil de líder. • Apresentação do referencial teórico acima mencionado. Principais contribuições teóricas sobre a conceituação e a atuação do líder, tendo em vista as exigências empresariais no mundo de hoje. Serão revisitados autores clássicos e modernos que tratam da administração empresarial, principalmente do tema líder/liderança. • Descrição da pesquisa de campo efetuada na empresa escolhida como caso de análise. Tabulação de dados e informações coligidas e discussão dos resultados, que serão cotejados com as propostas dos teóricos. Tentativa de construção de um perfil de líder, a partir das respostas oferecidas pelos profissionais entrevistados. • Conclusões e sugestões fundamentadas no referencial teórico e nos resultados obtidos através da pesquisa. 1.5 METODOLOGIA A metodologia a ser adotada na presente dissertação se define através de sua classificação em relação aos fins e em relação aos meios. No que concerne aos fins da pesquisa, está será descritiva e explicativa, conforme Vergara (2000, p. 46-50). Será descritiva porque pretende relatar os principais aspectos da teoria da liderança, da dinâmica de grupo e assuntos correlatos. Da mesma forma, o estudo pretende descrever a situação do contexto organizacional na atual era de globalização e competitividade. do avanço termológico, ressaltando a importância da 23 Além disso, a pesquisa será explicativa, uma vez que buscará analisar as razões e fatores que vêm interferindo no fenômeno de liderança nas empresas de nosso país, facilitando-lhes o sucesso. De maneira especial, procurar-se-á identificar o papel do líder. Quanto aos meios de investigação, pode-se afirmar que o presente estudo realizado desenvolve em uma pesquisa bibliográfica, assim como uma pesquisa de campo, estruturada em forma de estudo de caso. Na primeira parte do trabalho, será efetuado levantamento da moderna literatura disponível sobre a temática, a partir de consultas a bibliotecas, livrarias especializadas e páginas da Web, sendo consultados livros, revistas e sites da Internet. A investigação literária sobre o assunto central e temas paralelos dará particular ênfase ao conceito de liderança, aos atributos essenciais associados ao perfil do líder e aos fenômenos grupais no cenário interno e externo das organizações atuais. Na segunda parte da dissertação, utilizar-se-á a metodologia de pesquisa de campo, através da realização de entrevistas com 47 líderes da Instituição de Ensino Treinamento e Consultoria — ETC, que atua majoritariamente na área da aprendizagem empresarial, através de cursos e outras atividades. Os sujeitos da pesquisa de campo serão líderes, de ambos os sexos, em diferentes faixas etárias, e que coordenem equipes no quadro organizacional da empresa escolhida. 1.5.1 Técnica e Procedimentos A técnica utilizada para a execução da pesquisa de campo foi a de estudo de caso observacional. Segundo Triviños (1987), tal método corresponde a uma categoria típica da pesquisa qualitativa, uma vez que não é a organização como um todo que interessa ao pesquisador, mas, apenas, parte da mesma: “o pesquisador deve entrar em contato com a organização e, talvez com ela, resolver o que se considere importante para trabalhar”. (ibid., p. 135) 24 Cabe salientar que, o estudo de caso possui por objeto principal um determinado fator, o perfil do líder. Esta deve ser analisada de forma mais acentuada. Aliado a esse fato, também é importante aponta, segundo (ibid.) para a abrangência do fator analisado, bem como para o suporte teórico sobre o qual se deve edificar um estudo de caso, visto serem estruturas determinantes para a adequada compreensão do fator estudado. Diante do referido, pode-se apresentar a classificação de estudo de caso proposta por Bogdan, a qual pode ser vista em três tipos: • histórico-organizacionais — em que o estudo recai sobre a vida da instituição e o pesquisador deve partir do conhecimento que existe sobre a organização; • observacionais — utiliza-se a técnica de observação participante e focaliza apenas parte da instituição analisada, • depoimentos pessoais — utiliza-se geralmente da entrevista ou questionários e ouve pessoas de relevo credenciadas a emitir juízos e opiniões sobre assuntos relevantes. (ibid., p. 136) Definida a pesquisa como de natureza qualitativa, é válido caracterizá-la como sendo: uma tentativa de compreensão detalhada dos significados e características situacionais apresentadas pelos entrevistados, em lugar da produção de medidas quantitativas de fatores e comportamentos. (Richardson, 1999, p. 90) Cabe registrar que esta metodologia específica permite uma análise teórica dos fenômenos sociais mais fundamentada no cotidiano das pessoas, bem como, maior aproximação crítica das diferentes categorias e formas que configuram essa experiência diária. 25 1.5.2 Instrumento da Pesquisa Foi adotado um questionário a ser respondido por escrito, desenvolvido com base nos atributos do perfil de líder. Este instrumento de coleta de dados compreende dez questões básicas, divididas em três blocos, sendo que, no primeiro bloco, são levantadas informações sobre a vida profissional dos respondentes. No segundo bloco, o item 1 propõe que sejam atribuídos pelos respondentes graus de credibilidade a 20 atributos de liderança, selecionados a partir de contribuições de Burt Nanus (2000), Warren Bennis (1996), Gardner (1990) e Max De Pree, James O’Toole e Stephen Covey (in Nanus, 2000). No segundo item, o respondente deve relacionar, por ordem de relevância, os dois atributos que julga essencial, dentre os 20 relacionados. Na terceira questão, solicita-se algum outro atributo, considerado relevante, além dos mencionados, e qual o grau de importância que o respondente atribuiria a ela. Na quarta questão solicita-se ao respondente que exponha seu olhar para o estilo de liderança da empresa de que faz parte. Na quinta questão, pede-se ao respondente que aponte mudanças no estilo de liderança da organização, caso tais mudanças ocorram, justificando seu ponto de vista. Na sexta questão, serão apresentadas sugestões pessoais acerca do perfil de líder do século XXI. Por fim, a última das questões se abre a observações e sugestões por parte dos respondentes acerca da própria pesquisa visando a enriquecê-la. 26 Modelo do questionário QUESTIONÁRIO PARA LÍDERES 1) Perfil do profissional Nome: Sexo: Formação Curso Instituição Ano de Conclusão Acadêmica Graduação Pós-graduação Especialista Mestrado Doutorado Pós-doutorado PhD Marque um X no quadro correspondente a sua faixa etária, o tempo de atuação, a atividade principal e cargo/ função que você desenvolve. 27 Faixa Etária do Profissional (em anos) 0-30 0-40 0-50 0-60 Tempo de Atuação (em anos) Como líder dentro da organização No de colaboradores diretos Cargo/função Atividade principal Especificar outras 0-70 70 28 Leia cada um dos atributos abaixo e assinale o que você acredita ser indispensável no Perfil do Líder do Século XXI. Quanto mais próximo do número 10 (DEZ), MAIOR é o seu grau de credibilidade no atributo. Quanto mais próximo do número 0 (ZERO), MENOR é o seu grau de credibilidade no atributo. 2 ) Ainda pensando nesses atributos, ordene ( indicando no item 2) os 5 atributos mais importantes para você, anotando 1o, 2o, 3o, 4o e 5o lugares. ATRIBUTOS ITEM 1 ITEM 2 Ordem de Grau de Credibilidade Importância Integridade Discernimento Energia 0 0 0 Conhecimento do espírito humano Coragem 0 0 Não Sei Não Sei Não Sei Não Sei Não Sei 29 Bom humor Visão orientada Paixão Criatividade Confiança Responsabilidade Saber ouvir 0 0 0 0 0 0 0 Capacidade de motivar Buscar a sinergia Ousadia 0 0 0 Aprendizado contínuo 0 Habilidade para lidar com pessoas Ambição 0 0 Não Sei Não Sei Não Sei Não Sei Não Sei Não Sei Não Sei Não Sei Não Sei Não Sei Não Sei Não Sei Não Sei 30 Flexibilidade Curiosidade 0 0 Não Sei Não Sei 3 - Adicione outros atributos que não foram relacionados anteriormente, mas que você ache importante para o desempenho da função de gerente no exercício de líder. ____________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ ________________________________ 4 - Como você vê sua organização hoje, em relação ao estilo de liderança? ____________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ ________________________________ 5 - Você consegue ver mudanças no estilo de liderança na sua organização? Justifique. ____________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ ________________________________ 31 6 - Em relação ao Perfil do Líder do Século XXI, o que você sugeriria para os futuros líderes da sua organização? ____________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ ________________________________ 7 - Acrescente qualquer outra observação ou sugestão que considere relevante para esse estudo. ____________________________________________________ _________________________________________________________ _________________________________________________________ ________________________________ 32 1.5.3 Universo e amostra A empresa escolhida para o estudo de caso é uma Instituição de Ensino de médio para grande porte, compreendendo 3 Diretorias que correspondem a suas principais áreas de atuação: Ensino, Treinamento e Consultoria. O Ensino trabalha com formação de executivos e cursos de longa duração. O Treinamento abrange cursos curtos destinados ao pessoal administrativo e operacional. A Consultoria envolve planejamento, implantação e acompanhamento de projetos de inúmeras modalidades. A Instituição de Ensino ETC conta com um corpo de 3.500 funcionários. A proposta da pesquisa consistiu em ouvir o universo de 49 pessoas que tenham a mesma posição dentro da instituição. Encaminhados os questionários, o retorno foi de 31 respostas de gerentes e 18 de chefes/supervisores. A amostra final da pesquisa ficou, pois, constituída de 49 funcionários da empresa Ensino Treinamento e Consultoria/ETC. Compõe-se de indivíduos de ambos de sexos, com idade compreendida entre 25 e 55 anos. No que concerne ao nível educacional, apresenta-se sujeitos com formação mínima de nível superior completo, e alguns com Mestrado e Doutorado. A experiência na empresa e em função de chefia/gerência se revela variável, mas há um contingente com muitos anos de experiência. 1.5.4 Coleta de dados Preocupou-se a pesquisadora em efetuar a aplicação do questionário de uma só vez, preservando o sigilo das pessoas e, ao mesmo tempo oferecendo o acompanhamento necessário. Houve solicitação explicita para evitarem comunicações entre si, de modo a exprimirem seus exclusivos pontos de vista. A coleta revelou-se extremamente favorável. Praticamente respondeu à pesquisa o universo dos gerentes: 31 em 40. Também os chefes acataram a pesquisa: 18 em 25. 33 A pesquisadora tomou a decisão de considerar como amostra a totalidade dos entrevistados. Portanto, para efeito do presente estudo a amostra é constituída de 49 sujeitos. 1.5.5 Limitação do método A principal limitação do método consistiu na resistência de alguns profissionais em responder o questionário. Algumas razões foram alegadas, embora o comodismo, sempre presente nessas ocasiões, não tenha sido mencionado. Outra limitação é a necessidade de usar um instrumento não muito sofisticado, decidindo a pesquisadora por um modelo de questionário contendo um número menor de questões. Como garantia do próprio método, a pesquisadora alijou algumas respostas por estarem muito incompletas. 34 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 GLOBALIZAÇÃO, TECNOLOGIA E ORGANIZAÇÕES MODERNAS Com o fenômeno da globalização e o acentuado entrelaçamento econômico entre as diversas partes do planeta e a diminuição da importância relativa das economias nacionais, tornam-se cada vez maiores as exigências da ciência da administração quanto à qualidade e à eficácia da moderna gestão empresarial. Igualmente, as exigências relativas a Recursos Humanos tendem a crescer. Isto transparece particularmente nas questões relacionadas à liderança, relações humanas e à dinâmica interna dos grupos. É típico do ser humano interagir constantemente com o meio ambiente, recebendo e exercendo vários tipos de influências nessas relações. As pessoas recebem influências e as assimilam de acordo com suas necessidades e predisposições, modificando o comportamento dentro de determinados padrões sociais e pessoais. Desde sempre, na história da humanidade, existiu o trabalho organizado e dirigido, mas foi a partir da Revolução Industrial que surgiu uma nova concepção de trabalho e produção. Com o desenvolvimento da indústria e do comércio, houve uma preocupação com o processo de fabricação de produtos que pudessem ser comercializados. No período entre as duas guerras mundiais houve 35 a grande expansão industrial e o desenvolvimento das Teorias de Organização. Simultaneamente, crescem os estudos sobre a presença das pessoas nas Organizações (Chris Argyris, 1968); sobre comportamentos organizacionais; dinâmica de grupo; liderança, etc. Atualmente vivemos o que se pode chamar de revolução tecnológica. O mundo do trabalho e do emprego atravessa um verdadeiro turbilhão. Há uma série de inovações trazidas pelo desenvolvimento técnico-científico, pela informática, robótica, telecomunicações e outros segmentos. Por tais razões, o relacionamento das pessoas, o desenvolvimento de grupos e a liderança passam a ser essenciais. O trabalho de equipe passa por sérias transformações, e as empresas se armam para enfrentar os novos tempos. Desse modo, o desenvolvimento de lideranças assume um significado todo especial enquanto estratégia de crescimento. No Brasil, com a abertura econômica, a partir de 1990, a globalização e a competição acirrada, gerou alterações nas relações de trabalho, nos processos internos de gestão e na qualidade dos produtos e dos serviços disponibilizados aos clientes. A administração de recursos humanos está entrando em uma nova fase, direcionada para o nível político e estratégico, participando das decisões que afetam a empresa no longo prazo e no todo da empresa, deixando de exercer o papel tão somente operacional que vinha sendo desempenhado até agora. Assim, a forma com que as empresas são lideradas e processo de desenvolvimento de seus recursos humanos para o uso de tecnologias devem ser objeto de análise e estudo, pois tem grande influencia no alcance dos objetivos e metas organizacionais. (Quintella e Freitas apud ADM.MADE, 2001, p.162) 36 A formação dos valores A quantificação da produtividade começa pelo cliente interno e vai consolidar-se com o cliente externo. Os clientes internos estão normalmente estruturados em equipes. É imprescindível que a pretendida integração ideal no seio de cada grupo se transfira para todos os grupos ou equipes da empresa, em suas interligações. O resultante é uma modalidade de cultura organizacional, onde se respira um clima de valorização do ser humano, o “recurso” mais importante da empresa. As organizações dependem de seus líderes e, sem eles, não se pode pensar em produtividade e sucesso. O chamado clima organizacional deve refletir as necessidades dos grupos. Estes têm de ser incorporados à cultura da empresa como um todo, de modo que esta atmosfera seja percebida pelos próprios funcionários: (...) as empresas que desenvolvem trabalhos mais conseqüentes na área de pesquisa de clima vêm sentindo necessidade de, paulatinamente, alterar o quadro tradicional, buscando instrumentos criativos e inovadores, capazes de buscar um equilíbrio entre a capacidade operacional da empresa e as expectativas e necessidades do cliente interno. (Barçante e Castro, 1995, p. 16-17) O lado humano da empresa Uma empresa é estruturada a partir de seus recursos humanos ou seus valores humanos. Felizmente, a empresa moderna descobriu ou redescobriu a importância do “lado humano da empresa”. (McGregor, 1992) É muito oportuno que tenha entrado na agenda dos líderes/governantes em geral, particularmente entre os executivos das grandes organizações modernas. Espera-se que a redescoberta do eixo humano seja uma resposta autêntica e profunda aos estragos sociais do industrialismo e do tecnicismo racionalista, tão bem criticado por Bartholo: 37 O Fordismo representou a expressão mais significativa do puritanismo industrial norte-americano, onde a coação moral exige o sacrifício da autonomia individual da força de trabalho industrial em nome da realização do mais alto nível de produtividade. Isto pressupõe uma 'domesticação' de sua estrutura de pulsões instintivas através da sujeição... a normas sempre novas, mais complexas e rígidas. (Bartholo, 1986, p. 31) A mudança de eixo humanista significa, para o atual empresário, que tudo deve girar "em torno" da pessoa humana. Tudo que existe, existe para o ser humano. Tudo o que é feito sob a direção dos líderes deve visar o bem estar das pessoas, individual e grupalmente. Tanto do cliente interno quanto do externo. O cliente externo A noção de produtividade se relaciona diretamente com o atendimento ao cliente externo. As empresas vivem dos seus clientes. Todo líder empresarial está ciente de que sua empresa deve identificar com precisão quais são seus clientes; ganhar outros clientes; manter satisfeitos os clientes externos; oferecer o produto que o cliente deseja e dar-lhe chance de escolha. Isso significa, também, compreender que é o cliente quem avalia o valor dos produtos. Produtividade, atualmente, significa que a cultura organizacional da empresa deve ser direcionada para seus clientes. O cliente deve ser visto pelas equipes internas como “segmento” da empresa, ela que “dá ordens” e traça prioridades. Duas atitudes básicas podem orientar a seleção e manutenção de grupos de trabalho. Existe o “olhar para dentro” e o “olhar para fora”. No primeiro caso o produto, a produção, a tecnologia são priorizados. Produtividade, baseada nesta noção, implica pesquisar e fabricar o “bom produto”, o “ótimo produto”, segundo a concepção dos planejadores da empresa. Simultaneamente se procurará uma clientela para ele. Outra noção de produtividade é partir do “olhar para fora”, obedecendo às ordens do cliente, entendido como sócio da empresa. 38 Equipes, liderança, produtividade A produtividade leva à qualidade ou vice-versa? Para muitos, a qualidade só é possível por evolução da produtividade. Aumentar a produtividade é inserir valores humanos nos produtos. É “produtivo” o grupo que melhor coaduna suas forças, que se mostra fértil em idéias e em ação. A produtividade responde por inovações e aperfeiçoamento do produto, torna-o competitivo, lucrativo. Implica também velocidade, que é a alavanca da competição. Que programa pode tornar uma equipe mais produtiva? A produtividade não é benéfica só para os negócios da empresa, ela o é tanto ou mais para a própria equipe. Para Scholtes (1992), o desenvolvimento da produtividade baseia-se na possibilidade de, a partir da percepção do cliente, se ajustar todas as forças que comandam dinâmica interna dos grupos O ser humano não deve, portanto, ser visto isoladamente, mas sim como membro de vários grupos e fator de eficácia e mudança em suas relações. A moderna gestão empresarial mostra que, na empresa, o indivíduo só tem sentido enquanto ligado a sua equipe e às lideranças autênticas. Nenhum líder, consultor ou professor de administração de empresa nega que as características necessárias para a obtenção de uma alta performance durante os anos 1990, e daí para a frente, são: liderança, visão, delegação, dedicação aos clientes, qualidade total, melhoria e inovação, constantes alianças estratégicas e capacidade de competir em termos de conhecimentos e tempo. Cada um desses fatores é considerado essencial. Entretanto, para muitas empresas, o desenvolvimento e a sustentação dessas capacidades deverá exigir grandes mudanças, que a maioria nunca experimentou. (Katzenbach e Smith, 1994) À medida que empresas enfrentam grandes mudanças, elas inevitavelmente acabam descobrindo o papel essencial que as equipes desempenham no sentido de energizar iniciativas tanto de cima para baixo como de baixo para cima e também as interfuncionais. A dinâmica da equipe em termos 39 de enfoque, direção, tamanho, conhecimentos e responsabilidade mútua promove tanto a melhora da performance como as mudanças comportamentais. (Idem) 2.2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS CONCERNENTES A LIDERANÇA Este capítulo pretende apresentar um retrospecto acerca das diferentes concepções de poder, comando e liderança. De modo a compreender, de maneira mais científica, essas respectivas concepções. 2.2.1 Liderança e conceitos correlatos Os termos poder, comando, chefia e liderança estão muito próximos em seu significado primeiro. Todos indicam a idéia de alguém que responde por um grupo ou induz pessoas a se dirigirem pelo caminho mais adequado à consecução de seus objetivos. Ora, a palavra liderar vem do verbo inglês to lead, que significa, entre outras coisas, conduzir, dirigir, guiar, comandar, persuadir, encaminhar, encabeçar, capitanear, atravessar. No século XIII encontram-se registros da palavra leade utilizada em relação àquele que exercia a função de conduzir ou guiar. Também é nesse período que surge, o substantivo leading, que foi traduzido por ação de conduzir. (Mirador Internacional, 1987, p. 6790) Segundo autores como Outhwaite e Bottomore (1996, p. 426), a expressão liderança é entendida como sendo a “qualidade que permite a uma pessoa comandar outras”. Em outras palavras, a expressão liderança acaba sendo cunhada como um tipo de relação entre indivíduos diferenciados, em que um ou mais se apresentam como o líder e os demais são denominados de liderados. 40 Outra expressão também é usualmente encontrada quando se pesquisa acerca de líderes ou lideranças, é a palavra gestão1. A esse vocábulo atribui-se o sentido de gerência, administração, ou seja, ao ato de gerir. Aliado a esses fatos, o verbo gerir abrange mais um significado de ação: o de reger. Nesse sentido, a liderança estaria, também, concernida a outros valores, de modo a exercer a prática administrativa no cotidiano organizacional. Cada época marcou com diferentes concepções e atribuições aquele que ocupa a função da liderança. Percebe-se que o estilo de liderança adotado é uma conseqüência de diversos fatores, entre eles o contexto histórico ao qual está submetido. Por isso, aborda-se o resgate histórico do contexto organizacional em suas correntes teóricas, em que serão observados esses estilos com maior precisão. 2.2.2 Liderança como ação legítima Entender o processo concernente à legitimação da liderança, obriga uma série de apreciações, em que o olhar sociológico e psicológico sobre as variáveis envolvidas deve ser um dos pontos principais para tal entendimento, visto que, muitas vezes, esta expressão se relaciona às questões de poder. Cabe ressaltar que, segundo o Dicionário Aurélio, o verbete liderança pode significar, dentre outras coisas, uma “forma de dominação baseada no prestígio pessoal e aceita pelos dirigidos” (Holanda, 1989. p. 1211). Os estudos mais clássicos acerca da liderança costumam tratar dos grandes nomes e das grandes personalidades, retratando-os como figuras heróicas. De acordo com alguns pensadores, muitos grupos e massas, então inertes, aguardavam ansiosamente por uma voz ativa que as comandassem e as colocassem em movimento. Ao líder, desse modo, atribuía-se características 1 Esse termo é derivado do latim gestio, gestionis, de gerere;.gerir, administrar 41 natas, que lhe garantiam o status e o poder para que sua influência se fizesse sentir. Todavia, esta não é a única forma de se olhar para o líder. Outras percepções podem ser encontradas, como por exemplo, a de Gibb (apud Outhwaite e Bottomore, 1996), que afirma ser a liderança o resultado de uma interação entre a personalidade e a situação social. Logo, não se pode afirmar a existência de um único motivo capaz de formar o líder, mas, isto sim, de um conjunto variado de fatores capazes ou não, de influenciar na construção de uma ou mais lideranças. E isso não diz respeito somente à formação do líder, mas, também, à formação das pessoas que o reconhecem como líder e das forças contidas no ambiente, na situação. 2.2.3 Referencial histórico 2.2.3.1 Liderança e poder: alguns pilares clássicos Segundo os mais diferentes tratados filosóficos, os primórdios ocidentais de toda uma concepção de liderança podem ser encontrados na Grécia clássica, mais precisamente com pensadores como Platão e Aristóteles. Sócrates, referendado como mentor e líder dos maiores pensadores gregos, não nos deixou escritos, mas deixou discípulos. As concepções a ele atribuídas deixam transparecer a necessidade de se ter consciência das próprias possibilidades, ou seja, ser cônscio daquilo que se conhece ou não, passando aos demais esta mesma característica. Cabe ressaltar, que Sócrates foi, justamente, condenado à morte por ter sido ele um líder dos jovens pensadores que se formavam na Grécia clássica. Platão em seus escritos na República apresenta o governante da cidade ideal como um líder forjado pela sociedade, por toda uma estrutura sistêmica que se instaurara para que isso ocorresse. Ou seja, o verdadeiro líder ou governante 42 seria aquele que, desde o nascimento, tivesse uma educação voltada para que se tornasse a quilo a que estaria destinado. O verdadeiro líder, desse modo, seria o filósofo, posto que esse teria a real competência de uma vida voltada para o saber e contemplação, sendo esse o verdadeiro agir a que deveria o governante se destinar (Platão, 1996). Aristóteles, possa ser considerado o primeiro pensador a tentar dar uma definição mais precisa do líder. Ora, é notório o fato de que essa expressão não seria por ele utilizada, todavia, as noções de liderança já podem ser encontradas em seus escritos, principalmente na Política, quando o pensador macedônio distingue entre aqueles que merecem ser dominados e aqueles que são dominadores por já possuírem em sua natureza essa capacidade (Aristóteles, 1998). Na Ética a Nicômacos, Aristóteles defende que o verdadeiro homem capaz de ser um bom governante é aquele que reconhece o que é bom para a polis. Em outros termos, o verdadeiro líder, poder-se-ia dizer, é aquele que reconhece o que é fundamental e mais importante para a organização social da qual pertence (Aristóteles, 2000). 2.2.3.2 O Príncipe, de Maquiavel Esta é uma obra que, apesar de não figurar entre grandes clássicos como Platão ou Aristóteles, mostra claramente sua utilidade no cotidiano das pessoas, por tratar das disputas de poder. O político-militar Maquiavel trabalha com dois pressupostos sobre o ser humano: o primeiro diz respeito aos antecedentes históricos, cujos fatos são constituídos por ciclos que se repetem regularmente. O segundo se refere à inexorabilidade do poder para a manutenção da ordem e da própria felicidade desde dos povos. Na maior parte da obra O Príncipe, Maquiavel faz considerações acerca do modo de não ser um líder facilitador. Isso é demonstrado nas próprias ações do Príncipe, que não possui escrúpulo algum, ou seja, qualquer meio é válido para se atingir os fins pretendidos. Esse olhar do príncipe para o poder se opõe ao do 43 líder facilitador, posto que esse se preocupa com eficácia e eficiência, realizando os objetivos traçados da melhor maneira possível. Mesmo que no cotidiano organizacional se encontrem muitos indivíduos maquiavélicos, espera-se haver um olhar para os interesses comuns, que estão voltados ao desenvolvimento de toda a sociedade, onde muitos sejam favorecidos, e não alguns poucos. Maquiavel, ao longo de sua obra, apresenta pressupostos que se apresentam como os guias que norteiam e desenvolvem seus pensamentos e ensinamentos aos governantes. De acordo com a interpretação de sua obra por Xavier (1987), a essência que impulsiona Maquiavel acaba por separá-lo da ética e do direito. E, isso porque, para a conquista de uma região, é imprescindível ter a força de um leão, a astúcia de um lobo e a virtu, entendida como qualidades superiores, mesmo que sejam qualidades voltadas para o interesse próprio. (Maquiavel apud Xavier, 1987) Segundo Thiry-Cherques (1993, p. 42), “dissimulando e equilibrando a força e a astúcia, constrói-se a dominação”. E, em Maquiavel, (Gardner, 1990), contribui-se para a concepção de um povo, a partir de uma massa de liderados repleta de indisciplina, e irracionalidade propensa à violência, que é facilmente manipulada pela emoção. A atuação do príncipe é fortemente marcada pela dominação inescrupulosa e manipulativa, como se as pessoas não tivessem senso crítico ou vontade própria. Muitos chefes pensavam e agiam segundo esses princípios, e talvez ainda o façam no presente, considerando que os indivíduos não são maduros, suficientemente, para dirigirem a si próprios (Sievers, 1997). Tal concepção, segundo Ferguson (1997), está sendo superada pelo paradigma emergente. Os líderes facilitadores pensam e agem com o intuito de promover o desenvolvimento pessoal dos colaboradores, pois estão certos de que eles possuem plena capacidade de aprendizado e potencial criador. Os líderes que se colocam como catalisadores, e não como manipuladores do poder geram uma casta de indivíduos autônomos que prestam serviços, mas não subserviência. 44 2.2.3.3 Liderança nos tempos atuais: Habermas Após Maquiavel, muitos outros pensadores buscaram aferir acerca do que seja liderança e poder. No mundo contemporâneo, fundado em preceitos, teorias, vivências e questões sociais, pós Karl Marx, falar em poder e liderança acaba por remeter, obrigatoriamente, a questões concernentes à moral e aos direitos. Ou seja, significa refletir sobre sistemas vigentes, sistemas que se apresentam como estruturar organizacionais, onde existem ‘gerentes’ e ‘subordinados’. Neste aspecto, a diferença entre liderança legitimada e liderança instituída, por muitas vezes, compreende uma linha tênue. Todavia, esta questão é mais complexa do que parece e premente nas organizações e empresas contemporâneas, abarcando situações muito distintas, em que a ação de comando, freqüentemente, pode gerar muitas outras conseqüências, as quais acabam na contramão dos interesses da própria organização. Interessa, então, falar de autores ainda pouco citados no âmbito da administração, como é o caso do filósofo Jurgen Habermas (1989), que, ao analisar as questões concernentes à temática da legitimidade, apresenta também uma análise profunda e coerente acerca do problema administrativo e organizacional. Todavia, há de se ressaltar que estas questões são apresentadas pelo pensador alemão num momento de reflexão. Tais temas se voltaram para toda uma estrutura social entendida como totalitária, estando sob censura após maio de 1968. Na mesma linha de raciocínio, uma breve análise das questões concernentes à evolução social e à legitimidade de regimes onde o poder é coercitivo, merece uma certa relevância, posto que, tal qual O Príncipe, de Maquiavel, estas teorias de Habermas (ibid.) também acabaram sendo, de certa forma, associadas aos sistemas de gestão e liderança. E isso, porque é a partir de uma teoria social que se edificam normas e regras. Pensar em uma evolução social que se pretende enquanto fundamento de uma determinada teoria organizacional, significa, dentre outras coisas, refletir 45 acerca do próprio desenvolvimento social que se vê refletido em determinadas Organizações ou Empresas. Esta questão acaba por denotar uma realidade “nova”, que emerge a cada instante, assim como faz parte de um agir e observar, que são intrínsecos aos atores sociais inseridos, tanto no sistema social quanto no seu espelho, a empresa (ibid.). Todavia, este mesmo sistema gerador de uma nova realidade organizacional não perde por completo a identidade que já trazia consigo. Esta é mantida a partir das próprias crises e contradições, que, ao contrário de romperem com o sistema social, na maioria das vezes, alteram alguns pontos, mantendo, então, o sistema, como um todo, ainda coeso. Ressalte-se que os sistemas organizacionais afirmam-se em um conjunto hipercomplexo, logo, mesmo alterando seus elementos sistêmicos, ou seja, seus valores-meta, podem manter-se quase que íntegros em um novo nível de controle. Todavia, dependendo do tipo de mudança, ou seja, do tipo de liderança empregada, seja num sistema social ou numa empresa, corre-se o risco de apagar a identidade do referido sistema, pois “modificações sistêmicas” podem significar tanto mudança e aprendizado, como dissolução e colapso. E, isso porque, apenas sujeitos podem ser envolvidos em crises, ou seja, somente os membros de uma sociedade experimentam alterações estruturais. Conforme as interpretações dos seus integrantes, um sistema pode perder sua identidade, fazendo com que o mesmo entre em crise. Destarte as crises brotam de problemas não resolvidos de condução, construção, gestão e organização, que estão embasados em fenômenos conscientes e fundamentados em questões de cognição e linguagem que fazem que o todo sistêmico exista e se mantenha. 2.2.3.4 Visão estruturalista da liderança Cientes de que o movimento estruturalista influenciou várias ciências, como Antropologia, Lingüística, Psicanálise e Filosofia, convém, então, identificar alguns 46 dos seus princípios fundamentais a fim de que se entenda sua relação com as definições de liderança. Ressalta-se que o estruturalismo diz respeito a uma concepção metodológica que consiste em conhecer o objeto, situando-o na estrutura onde se encontra integrado e, posteriormente, em estruturas mais amplas. Cabe dizer que estrutura é definida como um conjunto de elementos dispostos, onde cada qual depende dos demais, a ponto de só poderem ser o que são em função do seu relacionamento estreito com os outros (Kwasnicka, 1991). Essa teoria é importante, considerando-se o enfoque dado pelos teóricos estruturalistas, que afirmam que tal abordagem está estreitamente relacionada aos estudos da estrutura da organização. Para isso, enxertam conceitos e abordagens das escolas clássica, de relações humanas e da burocracia, analisando os conhecimentos de modo mais global (ibid.). Cabe salientar o mérito dos estruturalistas, pois esses são considerados os primeiros a incluírem o ambiente externo na vida organizacional, bem como foram eles que perceberam a interdependência de fatores antes considerados isoladamente no todo organizacional. O princípio estrutural exige uma análise das diferentes formas de organizações, cabe aqui citar certos nomes que realmente se destacaram nesta fase, realizando importantes classificações para as organizações. Dentre eles, Amitai Etzioni (apud Kwasnicka, 1991 ). Os estudos que Etzioni (1965) realizou sobre liderança desenvolvem uma abordagem dual. Ela abrange atividades socioemocionais e atividades de tarefa ou instrumentais. Sugere, desse modo, que a liderança se divide em mais de uma pessoa; e que as exigências das duas formas podem ser conflitantes. A empresa deveria, então, inteirar-se de todos os aspectos concernentes ás relações de liderança. As atividades da liderança são determinadas pelas necessidades organizacionais, sendo a atividade socioemocional mais eficaz para as 47 organizações normativas, e a atividade de tarefa, ou instrumental, para as organizações utilitárias. Etzioni faz, ainda, uma diferenciação entre os líderes que se concentram nos níveis superiores daqueles que estão no nível intermediário e no mais baixo da hierarquia. Contrário às idéias da Teoria de Relações Humanas, conclui que as tentativas de melhorar as qualidades de liderança socioemocional dos supervisores de primeira linha tendem a fracassar, já que esses esforços concentram-se no líder socioemocional existente num nível mais elevado. Outro crítico e colaborador desta corrente estruturalista que merece ser mencionado é Victor Thompson, isso porque, em suas obras, é marcante a presença do papel do ‘conhecimento’ e da inovação.dentro do processo burocrático e como forças dinâmicas de auto-atualização da organização. A elas se opõem as forças de conservação do status quo, entre as quais a instituição hierárquica. (Kwasnicka, 1991, p. 153) Ao explorar o conteúdo da obra Moderna Organização, Thompson remete à questão da liderança, exortando que: o estudo da liderança transforma-se num culto ao herói com características sobre-humanas, o líder. A tendência desses estudos é associar as características carismáticas dos indivíduos das altas posições, ajudando a legitimar a sua autoridade. (ibid., p. 155-156) Diante do exposto, percebe-se uma certa preocupação em ajustar o indivíduo à estrutura existente, diminuindo, desse modo, eventos de mudanças. Em sua obra Bureaucracy and Innovation, Thompson empreender uma digressão acerca da temática do conflito2, voltando seu foco para o termo inovação (apud Kwasnicka, 1991). Devido ao fato da burocracia ter surgido em uma época em que a informação corrente e a inovação eram escassas e lentas, 48 então essas mesmas burocracias não estariam preparadas para usar a inteligência, o potencial criativo e a auto-atualização dos indivíduos, que são tão solicitadas hoje. Thompson, então, sugere, segundo a análise de Kwasnicka (1991), que organizações mais flexíveis e permissivas seriam mais adequadas à inserção das inovações. Na estrutura flexível há mais liberdade para explorar a incerteza. Nessa teoria, os estudiosos concebem a liderança de forma a responder aos sinais que o ambiente micro e macro emitem. Os tipos de organizações sistematizados condicionam o estilo de liderança mais adequado. 2.2.4 Aspectos da liderança segundo Max Weber Max Weber pode ser apontando como sendo um dos principais pensadores que desenvolveu estudos acerca dos aspectos concernentes à sociedade e, sendo assim, à liderança3. Todavia, seu olhar sempre esteve mais direcionado aos estudos de burocracia, poder e autoridade. Segundo Weber, autoridade é entendida como aceitação das formas de poder, o que não implica necessariamente em força. Todavia, essa vertente do poder envolve a suspensão do julgamento por parte dos que se submetem a ela. No que concerne à administração em organizações e empresas, pode-se avaliar que a autoridade deve ser exercida por um funcionário que possua alta qualificação técnica, sendo nomeado pelo seu. Ressalta-se nesse ponto que, as formas de autoridade devem sempre ser legitimadas. Isso decorre do modo pelo qual essa referida autoridade se impõe. 2 que já se encontra enunciada na obra anteriormente citada, Obviamente, Weber não tratou da liderança como está sendo entendida neste texto; a própria utilização da palavra pode possuir outros sentidos, os quais não interessam neste trabalho mais específico. O objetivo, aqui, é apenas o de apresentar Weber como engajado nesse contexto histórico, onde a liderança é fator fundamental 3 49 Seguindo a orientação do sociólogo Max Weber, há três tipos de sociedades, às quais correspondem os tipos de autoridade. São elas, segundo Ramos (1983) • autoridade legal ou estatutária: quando diz respeito às expectativas do cargo, às normas impostas e ao ‘líder’ outorgado. A autoridade do líder se legitima pelo cargo que exerce, e seus subordinados o obedecem apenas na qualidade de “membro” da associação; • autoridade tradicional: quando diz respeito ao poder exercido pelos clãs, pelas famílias; assemelha-se à autoridade dos senhores medievais. Esse tipo de autoridade é estabelecida pelos costumes, crenças ou hábitos; e os limites são impostos pelos costumes que uma certa sociedade pratica; • autoridade carismática: quando o líder é eleito pelo grupo e não imposto pela cúpula. Essa é a concepção mais apropriada de liderança ou estilo de gestão para um ambiente mais participativo. De acordo com os três tipos de liderança apresentados alguns comentários podem ser feitos. Ramos (1983), por exemplo, entende que a esfera das técnicas administrativas não podem ser confundidas com o domínio da sociedade global. De onde, a burocracia encaixa-se perfeitamente na autoridade legal, visto que seu funcionamento só se tornar eficiente à medida que as normas, regras ou ordens estabelecidas são fielmente cumpridas. Essas normas ou regras costumam ser constituídas tendo em vista o plano estratégico de uma dada organização sempre se orientando por uma ética da responsabilidade; ética que visa aos fins. Ressaltar nesse ponto que, o indivíduo costuma ser orientado por uma ética de convicção, a qual tende a visar valores. Diante desse fato ético supra citado, há um conflito constante, porém eterno e, necessário (Whyte apud Ramos, 1983). E, isso porque, o indivíduo 50 tende a se defrontar com os conflitos de modo a executar, com maior plenitude, sua condição de ser humano. Ao analisar-se esses tipos diferenciados de autoridade, depara-se como modelo ideal apregoado por Weber (1978), que afirma ser no espaço da organização formal burocrática onde se encontra a essência da racionalidade instrumental. Racionalidade essa que é necessária, visto que aqueles que se inserem na classe de trabalhadores estarem constantemente submetidos às normas e regras já instituídas. Numa organização burocrática, o exercício da liderança está embasado em determinados domínios, tais como o do conhecimento técnico e o do conhecimento prático. Aliado a esses dados cabe lembrar que são as normas e regras predominantes na estrutura hierárquica que determinam o equilíbrio de poder. Salienta-se, então, que a autoridade está fundamentada na função, ou no cargo que o indivíduo ocupa na organização ou empresa, pois é a partir do reconhecimento dessa autoridade que os demais trabalhadores, que neste caso sãos subordinados, podem respeitar e acatar as ordens impostas. Devendo esse respeito sempre ser realizado de maneira impessoal. Lembre-se que as categorias fundamentais da burocracia estão apoiadas numa determinada organização de cargos que são delimitados por normas regras, bem como pela área específica de competência. Diante desses fatos, três questões se apresentam: • uma esfera de obrigações no desempenho das funções, diferenciadas como parte de uma sistemática divisão do trabalho; • atribuição, ao responsável, da necessária autoridade para desempenho das funções; • definição clara dos instrumentos necessários de coerção e limitação de seu uso a condições definidas. (Weber, 1978, p. 16-17) 51 Cabe ainda apontar para o fato de que a estratégia burocrática de produção de bens e serviços, como a entendida aqui, oferece componentes de dependência às normas e procedimentos, pois somente assim poderá fundamentar as atitudes dos gerentes ou líderes de uma determinada Organização ou Empresa. Cientes de que impessoalidade é a palavra de ordem da burocracia, dos líderes ou gerentes imbuídos desse tipo específico de autoridade pouco se espera, a não ser o limitado cumprimento de ordens restritas ao âmbito da sua função, ou seja, espera-se que façam laborar as engrenagens da máquina burocrática. O funcionamento da organização mecânica é previsível e adapta-se melhor a um ambiente estável. A despeito da função última dos gerentes, cabe dizer que o objetivo central sempre é o de atingir a eficiência organizacional, apesar do preço elevado da ineficácia. Nota-se, ainda, que quanto à produtividade da burocracia, existe um fator considerado limitante, pois se considera essa mesma produtividade como algo proporcional à fragmentação da racionalidade plena. Ela é, pois, parcialmente utilizada. E, isso porque apenas se exige a racionalidade funcional dos indivíduos. (Ramos, 1983) 2.2.5 Liderança na organização burocratizada Levando-se em consideração que o modelo ideal proposto por Max Weber (1978) não foi efetivamente implementado nas organizações contemporâneas, posto que não foi em sua essência que o mesmo se concretizou, verifica-se o fato de que sua implementação decorreu, da presença de comportamentos que não haviam sido antes previstos ou definidos como disfunções burocráticas. O que pode ser visto por diferentes autores, como Selznick, (1949), Gouldner (1978), Merton (1978) e Hall (1963). 52 Esse último identificou um continuum de vários níveis de burocratização, como seis dimensões para mensurar o quanto a organização é burocratizada, são elas: ⎯ divisão do trabalho baseada na especialização funcional; ⎯ uma hierarquia bem definida de autoridade; ⎯ um sistema de regras que cobre todos os direitos e deveres dos ocupantes de posições; ⎯ um sistema de procedimentos para tratar das situações de trabalho; ⎯ impessoalidade nas relações interpessoais; ⎯ seleção e promoção baseadas em competência técnica. Diante desses seis pontos, percebe-se que uma dada organização ou empresa pode ser considerada num continuum, em vez de ser classificada em graus extremos. Hall (1984) ainda apresenta, ao falar de liderança, a ampla expectativa normalmente assentada nos ombros de um líder que possui como incumbência transformar a organização. Todavia, Hall também demonstra o modo pelo qual esse líder pode se defrontar com um campo limitado de atuação, sofrendo, assim, com a existência de numerosos obstáculos. 2.2.6 Liderança versus poder Seguindo o mesmo raciocínio sobre as questões concernentes ao líder e à liderança em estruturas organizacionais, cabe ressaltar as palavras de um 53 especialista no assunto Etzioni, define liderança como sendo a capacidade de despertar a aquiescência voluntária dos seguidores, visto estes atenderem ao líder devido às suas qualidades pessoais. Todavia, o mesmo Etzioni alerta para a distinção que deve ser feita entre o conceito de liderança e o conceito de poder, posto que liderança implica em influência e mudança de preferências; e poder implica em dependência. Nesse último caso, podem ocorrer duas situações distintas, a obediência ou o conflito em que as preferências dos sujeitos são mantidas em suspenso. (Etzioni apud Hall, 1984) Hall (1984, p. 115) afirma que “a persuasão dos indivíduos e o caráter inovador das idéias e da tomada de decisões diferenciam a liderança da mera posse do poder”. Já Gouldner (1950), mesmo acordando com os preceitos dessa teoria, ainda considera o líder qualquer pessoa que estimule a padronização do comportamento em algum grupo. Nesse percurso, deparamo-nos com mais dois autores, Selznick (1949) e Stogdill (1974), que identificaram, em seus respectivos estudos sobre liderança, basicamente o mesmo conjunto de funções ou categorias, seriam elas: ⎯ definição da missão e papel organizacionais: num mundo rapidamente mutável, isso deve ser encarado como um processo dinâmico; ⎯ incorporação institucional do objetivo: envolve a inclusão da política na estrutura ou a decisão sobre os meios para atingir os fins desejados; ⎯ defesa da integridade da organização: mescla dos valores e das relações públicas — os líderes representam suas organizações para o público e para seus próprios membros, na medida em que tentam persuadi-los a seguirem suas decisões; ⎯ resolução dos conflitos internos. 54 Cabe ressaltar que o mais forte dos fatores que diz respeito à liderança está, justamente, na posição elevada do líder numa organização, posto que é isso o que fornece poder, bem como o entendimento, por parte dos seguidores do líder, de que há um direito legítimo nessa posição e de que aquele que ocupa tal função se dedicará ao processo de liderança, moldando-lhes os pensamentos e ações, de modo a garantir o pleno funcionamento da organização ou empresa. Com exceção da posição, qualquer outro fator acaba sendo considerado contingencial. Logo, há muita dificuldade em se traçar padrões isolados de liderança. Antes de tudo, é necessário perceber a situação de modo geral, a fim de, então, poder compreender o que seja de fato essa liderança, e assim, imprimir um comportamento adequado, sem precisar seguir fórmulas ou receitas preestabelecidas. Hall (1984) trata de algumas das características atuais que o líder facilitador possui, mostra a interdependência dos fatores que compõem uma situação e a dificuldade em se estabelecerem fórmulas ou modelos definitivos de liderança. Diante de tal posição, algumas características ficam explicitamente presentes, principalmente no que concerne ao âmbito da empresa pública, visto que neste tipo de organização perceberem-se mais claramente características e disfunções da burocracia que impede qualquer tipo de liderança mais aberta ou participativa. Dito isso, aferir acerca de questões que envolvem o poder acaba sendo, em sua maioria, uma ação conflitante. Do mesmo modo, o compartilhamento do poder, na forma de descentralização, apesar de ser ponto que deve ser discutido e trabalhado nas organizações, acaba não tendo seu real merecimento. Cientes de que a idéia de liderança está sempre relacionada à capacidade das pessoas, à autoridade moral ou burocrática que possuem para o exercício da influência sobre pessoas ou sobre grupos, toda influência, então, acaba por supor no influenciador alguma base de poder, seja ele poder verbal, de recompensa, de repreensão, de especialista no assunto, de empatia, de místico, etc. “Os 55 ocupantes de postos de liderança não podem executar as funções de liderança se não possuem poder suficiente”. (Cartwright e Zander, 1984, p. 345) 2.2.7 Líder/liderança/equipe na perspectiva da ciência da Dinâmica de Grupo A primeira receita para o surgimento/formação/emergência de um líder é a autoconfiança. O mesmo se aplica às equipes. O sonho de toda organização é contar com equipes de alta liderança. Mas o ideal é que a liderança se distribua por todo o grupo. O líder em determinado momento é todo aquele que contribui com um ato/ação/palavra/ordem que ajude a equipe/departamento/empresa a caminhar na direção de seus objetivos. Todos aqueles que contribuem com algumas dessas formas, são líderes, respondem pela liderança. Atos de liderança podem vir de todas as pessoas, de todas as posições da organização. São todos e quaisquer atos que favorecem o crescimento dos grupos e os objetivos empresarias. (ibid.) O estudo do fenômeno liderança é fundamental para compreendermos o que se passa no interior dos grupos. A dinâmica de um grupo está diretamente relacionada aos atos de liderança que nele ocorrem. Um grupo “funciona” e se realiza na medida em que é compelido pelos seus líderes. Não há liderança sem poder. Formar/treinar um líder é aumentar algum aspecto do seu poder pessoal: via crescimento intelectual, novas técnicas de trabalho, experiência de realidades diferentes, etc. 56 REALIZAÇÃO Qto. à produção DA EMPRESA Qto. à interação OBJETIVOS 2.2.7.1 ORGANIZACIONAIS INDIVÍDUOS POSSÍVEIS A realização/êxito/sucesso da empresa se dá em dois sentidos, obrigatoriamente, a saber: — Quanto à produção: os planos são executados, os clientes são bem atendidos. — Quanto à interação: as pessoas se mantêm felizes, com vontade de continuar juntas. (ibid.) 57 2.2.8 O conceito de coesão grupal Para quem trabalha com qualquer espécie de grupo é fundamental o estudo teórico da coesão. É evidente que um grupo coeso apresenta maior dose de “grupalidade”. Há grupos tão “unidos”, isto é, com um grau de coesão tão elevado que os seus companheiros chegam a sacrificar interesses pessoais em favor do grupo. Em compensação há grupos que obtêm pouca adesão de seus membros. Muitos desses participantes podem, mesmo, localizar-se no limiar da adesão, pouco oferecendo aos objetivos comuns do grupo e prontos a sair, em qualquer momento. A coesão pode ser fruto mais ou menos espontâneo em determinado grupo, fruto, talvez, de “tendência à afiliação” de seus componentes. Já em outros grupos, a coesão não é obtida facilmente. Se o grupo é mais grupo graças à coesão, funcionando como sujeito, como objeto ou como instrumento de mudança social, indispensável é penetrarmos na mecânica interna desse fenômeno coesão. É possível aumentar o grau de integração de um grupo?! Inversamente, há técnicas para diminuir a coesão de um grupo ou até fragmentá-lo?! Pode-se apelar para a experiência que usualmente se tem de grupos a que pertencemos ou que conhecemos. Mesmo uma avaliação não-científica, nos mostra quando um grupo é altamente coeso. Seus participantes dão valor aos objetivos e padrões do grupo, assumem com gosto as tarefas, assistem às reuniões, procuram influir positivamente sobre os outros, aceitam construtivamente as influências e até mesmo as críticas dos outros, etc. (ibid., p. 345) Chega-se ao conceito de coesão através do conceito de valência ou atração. A coesão é uma resultante das diferentes forças que atraem os indivíduos para um grupo e os levam a permanecer nele. Note-se, porém, que as razões, os motivos que levam um indivíduo a sentir-se atraído para um grupo não estão necessariamente no grupo (seus objetivos, suas atividades, etc). Podem estar no próprio indivíduo ou até mesmo fora do grupo. O mesmo esquema que explica a motivação humana, em geral, se 58 aplica à explicação do processo de atração. 2.2.9 Relações humanas e noção de 'competência’ Como afirmado na introdução, é muito oportuno que se coloque na agenda dos líderes em geral as questões pertinentes aos valores humanos, particularmente que esta temática seja priorizada pelos executivos das grandes organizações modernas. E, isso porque a empresa moderna se destaca pelos líderes e o estudo da liderança, como fenômeno, é fundamental para compreender melhor o que se passa no interior dos grupos que interagem no interior de uma empresa ou Organização. Ressalta-se que a dinâmica de um grupo está diretamente relacionada aos atos de liderança que nele ocorrem. Um grupo “funciona” e se realiza na medida em que é compelido pelos seus líderes. (Gonçalves,1999) Sem liderança não existe mobilidade ou locomoção em um grupo, isto é, não se dá aquela interinfluência dos membros, geradora de atividades necessárias à consecução dos objetivos. Costuma-se exatamente relacionar o estudo de liderança com o estudo da realização ou efetividade dos grupos. Os atos de liderança serão justamente, aqueles que impulsionarem os participantes, motivando-os na conquista das metas por mais desafiadoras que sejam. a eficiência da organização é a medida em que uma organização (...) realiza seus objetivos, sem incapacitar seus recursos e meios e sem colocar seus membros em excessiva tensão. Embora a tarefa de conceituação devesse ser indiscutivelmente mais simples se fosse possível definir a realização do grupo através de um único critério, para a pesquisa e a teoria é clara a necessidade de vários critérios reunidos. (Amaru,1993) Para a cultura de uma empresa é evidente que a realização de uma equipe de trabalho envolve muitos fatores, tais como o conhecimento, a competência, a motivação, a competitividade, a disputa, a persistência, etc. 59 A mudança de eixo humanista significa, para o atual empresário, que tudo deve girar "em torno" da pessoa humana. Tudo que existe, existe para o ser humano. Tudo o que é feito sob a direção dos líderes deve visar o bem estar das pessoas individual e grupalmente. Tanto do cliente interno quanto do externo. A noção de produtividade se relaciona diretamente com o atendimento ao cliente externo. As empresas vivem dos seus fregueses. Todo líder empresarial está ciente de que sua empresa deve identificar com precisão quais são seus clientes, ganhar outros clientes, manter satisfeitos os clientes externos, oferecer o produto que o cliente deseja e dar-lhe chance de escolha. Isso significa também compreender que é o cliente quem avalia o valor dos produtos. (Joldbarg apud Hesselbein, 2001) Produtividade atualmente significa que a cultura organizacional da empresa deve ser direcionada para seus clientes. O cliente tem de ser visto pelas equipes internas como “segmento” da empresa, que “dá ordens” e traça prioridades, um verdadeiro sócio da Empresa. Duas atitudes básicas podem orientar quanto à seleção e manutenção de grupos de trabalho. Existe o “olhar para dentro” e o “olhar para fora”. No primeiro caso o produto, a produção, a tecnologia são priorizados. Produtividade, baseada nesta noção implica em pesquisar e fabricar o “bom produto”, o “ótimo produto”, segundo a concepção dos planejadores da empresa. Posteriormente se procurará uma clientela para ele. Outra noção de produtividade é partir do “olhar para fora”, obedecendo às ordens do cliente. A produtividade, para muitos, leva à qualidade e essa, recai na circularidade, de também só poder se sustentar via a evolução dessa mesma produtividade. Logo, aumentar a produtividade significa, antes de qualquer outra coisa, inserir valores humanos aos produtos ou serviços que se deseja oferecer. O grupo que melhor coaduna suas forças é aquele entendido como produtivo, visto mostrar-se eficaz tanto na prática quanto na teoria. 60 A produtividade, conforme já salientado, é condicionada por inovações, bem como, pelo aperfeiçoamento do produto ou serviço que se deseja vender. Torna-se, desse modo, a empresa competitiva e lucrativa. Diante disso, outra questão é implicada, a saber, a velocidade em que essa produtividade e aperfeiçoamento ocorrem. E, isso, porque essa é a alavanca da competição. A produtividade vista por esse prisma, não é somente benéfica para os negócios da empresa, mas também, ou mais ainda, para a própria equipe que se auto-realiza com as diferentes tarefas. Segundo Scholtes (1999), como já salientado, o desenvolvimento da produtividade está baseado, justamente, na possibilidade de a partir do olhar e do desejo do cliente, um ajuste de todas as forças que comandam dinâmica interna dos grupos que compõe uma dada empresa ou organização. Diante disso, cabe lembrar que o indivíduo não deve ser caracterizado como um membro isolado de uma organização, mas sim, como alguém que é peça importante não para um grupo exclusivo dentro da empresa, mas para vários e distintos grupos, posto que ele funciona como um fator de eficácia e de mudança nas suas mais diferenciadas relações. A empresa imbuída de encontrar um novo caminho capaz de a alicerçar no mercado deve estar convicta de que o indivíduo tem sentido para ela, como organização, enquanto ligado à sua equipe e às lideranças que sejam entendidas como autênticas. Conforme já foi mencionado, Katzenbach e Smith (1993) afirmam que nunca nenhum líder, ou consultor ou professor de administração de empresa seria capaz de negar que as características necessárias para a obtenção de uma alta performance, principalmente no que concerne a essa última década, são a liderança, a visão, a delegação, a dedicação aos clientes, a qualidade total, a melhoria e a inovação. Esses pontos constituem as principais alianças estratégicas, as quais devem ser entendidas como constantes e como, as capacitadoras para uma 61 eficaz competição no mercado. Deve ser ressaltado que isso se refere a termos de conhecimentos e de tempo. Cada um desses fatores deve ser considerado como essencial. Todavia, como bem lembram os dois autores, para muitas empresas, o desenvolvimento e a sustentação dessas capacidades ainda exigem grandes e imperiosas mudanças. Mudanças que as organizações hodiernas não mais podem contestar. À medida que empresas enfrentam grandes mudanças, elas inevitavelmente acabam descobrindo o papel essencial que as equipes desempenham no sentido de energizar iniciativas tanto de cima para baixo como de baixo para cima, bem como, as iniciativas interfuncionais. A dinâmica da equipe, em termos de enfoque, direção, tamanho, conhecimentos e responsabilidade mútua, promove tanto a performance como as mudanças comportamentais. Tais mudanças, todavia,necessitam sempre de um impulso maior, que muitas vezes depende de homens comuns que possuem algumas características peculiares àqueles que possuem condições de liderar (Revista HS Management, 1997). 62 2.3 CONCEPÇÕES DE LIDERANÇA As questões relativas à liderança de equipes e ao perfil de líder capaz de dar conta e responder às demandas de uma Organização/Empresa na sociedade atual têm se tornado cada vez mais debatidas, isso porque, dentre outras coisas, a problemática relativa à reestruturação quase incessante das atividades de muitas empresas vem implicando, justamente, no direito maior ou menor das mesmas, visto a competição global e a crescente mudança nas mais diferentes tecnologias. A partir dessas problemáticas, verifica-se a complexidade de se lidar e se tratar de Liderança, posto que, os líderes de hoje são aqueles que comandam um grupo muito especial, a saber, os sobreviventes da reestruturação em tempos de subseqüentes mudanças na cultura e na organização. Dito isso, há de se considerar as implicações dessas questões em diferentes organizações, bem como, deve-se analisar as mais recentes literaturas no que concerne ao tema. De onde, então, se poderá, talvez, chegar a algum consenso, ou a uma via mais plausível capaz de dar conta do real perfil de um Líder, do ponto de vista das empresas. Ressalte-se o fato de, cada vez mais, se procurar um líder capaz de entender as diferenças existentes naqueles que com ele trabalham, posto que toda Empresa é composta por pessoas com estruturas psicológicas diferentes. Quanto a isso, Drucker (1997) faz algumas críticas quanto ao tipo de comando e controle das organizações mais tradicionalistas, afirmando que o líder: está sendo substituído (...) como todos os tipos de relações (...), nas quais ninguém controla ou comanda”. Essas relações tiveram que se pautar em objetivos, políticas e estratégias comuns, trabalho em equipe e na persuasão – ou jamais funcionariam. (Drucker, 1997, p.16) Ora, o que Drucker de fato diz é que os líderes gerenciais devem, isto sim, aprender a liderar em situações onde a seu poder de comando não obtém a 63 adesão necessária. E, isso porque “eles nem controlam nem são controlados” (Idem). Todavia, esta colocação parece ainda muito complexa ou pouco viável para pode existir efetivamente. Não obstante, observa-se a enorme carência de lideranças, ou seja, evidencia-se a crise de líderes na sociedade de um modo geral. Daí se concluir o quanto as empresas e/ou organizações também se encontram com tal carência; procurando executivos, que de fato possuam o perfil de um Líder, para conduzir seus negócios. Diante do exposto, este capítulo destina-se a apresentar uma visão empresarial acerca da questão líder/liderança. A partir dos aspectos operacionais, o líder será apresentado como aquele que, a serviço da organização, comanda equipes e, simultaneamente, consegue direcioná-la para os objetivos traçados pela organização. 2.3.1 Postulados sobre a liderança Atualmente, muitas escolas de administração mantêm , ainda , um enfoque tradicionalista. Segundo Bolt (1996), existe hoje uma crise de liderança, que constitui “na realidade uma crise de desenvolvimento de liderança”, ou seja, os líderes “estão falhando na ação” (ibid., p.171). Na verdade, essa postura de Bolt aponta para fatores tais que, seriam compreendidos como as principais causas desta crise, a saber: necessidade de treinamento e desenvolvimento. A justificativa estaria em dois pontos fundamentais. O que diz respeito aos métodos tradicionais convencionais para formar e treinar executivos, os quais não mantêm o ritmo das monumentais mudanças que ocorrem no mundo e, um outro, que está relacionado às experiências e ao desenvolvimento na função que não estão produzindo a liderança de que as organizações modernas necessitam. (ibid.) Segundo Senge (2000), diferentes autores costumam confundir a definição de liderança com a de gerência ou chefia. Senge afirma que as pessoas vêem um 64 líder como um gerente de alto escalão e quando elas falam em desenvolver líderes, querem dizer desenvolver futuros executivos. Disso resultam alguns problemas, tais como os que dizem respeito aos indivíduos que, por não fazerem parte da alta administração, não são vistos como verdadeiros líderes e só o serão quando atingirem uma posição com autoridade gerencial em nível sênior. Não obstante, encontra-se também um empecilho acerca da definição real e autônoma de Liderança, posto que essa acaba sendo apenas uma posição na hierarquia. Dito isso, pode-se afirmar a urgência de se definir o Líder que se necessita hoje no mercado das médias e grandes Empresas e Organizações. De onde, algumas conceituações do que seja Liderança serão apresentadas. 2.3.2 Definições por autores que escrevem para as empresas Algumas definições de Liderança, segundo os mais competentes autores, serão apresentadas, a saber: — Senge: Define a liderança como: capacidade de uma comunidade humana configurar seu futuro e, especificamente, de sustentar seus processos de mudanças significativos, necessários para que isto aconteça. (2000, p.28) — Scholtes: Para esse autor Liderança é a presença e o espírito do indivíduo que lidera, e o relacionamento que se cria com as pessoas chefiadas. A boa liderança dá conta das necessidades e valores das pessoas que necessitam ser gerenciadas: leva em consideração as habilidades e capacidades dos indivíduos com quem o líder compartilha essa liderança. Ela se adapta ao propósito e necessidades futuros da organização. A liderança é 65 uma arte, uma jornada interior, uma rede de relacionamentos, o domínio de métodos, e mais, muito mais. E por não podermos esperar que um indivíduo heróico possua todas essas características, a liderança, em última instância, precisa ser um sistema. O líder da próxima década e, provavelmente, do próximo século e milênio, deve compreender sistemas e deixar que a consciência de sistemas o informe sobre todos os planos e decisões. (1999, p.423). — Peter Drucker: Para ele “Liderança é uma visão" (1996,p.56) diz , lembrando do que está expresso nos Provérbios 29:18, "Onde não houver visão, as pessoas sucumbirão". — Kouzes e Posner: Esses entendem que a liderança também é “uma arte cênica — um conjunto de regras e comportamentos — não um cargo”. Para eles, os seguidores “não se dispõem, de bom grado, a seguir cargos; eles seguem pessoas comprometidas com um processo”. (1997, p.33-34). Define-na como a arte de mobilizar os outros para que estes queiram lutar por aspirações compartilhadas. — Dede: Diz que a verdadeira natureza de liderança é exemplificada por quatro atributos: pressentimento de oportunidades; mudança cuidadosa de concepções erradas; inspirar outros para agirem com fé; e desencorajamento de aduladores .(1993) — Chiavenato: Afirma que liderança não é sinônimo de administração.Define-a como uma influência interpessoal exercida em uma dada situação e dirigida através do processo de comunicação humana para a consecução de um ou mais objetivos específicos (1999). 66 Ora, percebe-se, de acordo com os diferentes autores, que são muitas as características da liderança. Todavia, parece que ainda não se pode determinar quais os atributos da boa liderança. A única coisa certa é que, ao longo de toda a história da humanidade, os líderes sempre aparecem. Até mesmo onde as pessoas não têm estabelecido ou elegido os líderes, chefes, ou regras, existe alguém que sempre inicia um processo e representa um papel crítico no processo de tomada de decisão de um grupo. Líderes são aqueles que causam um profundo impacto na vida dos demais. Sendo que, eles também causam impacto dentro das empresas ou organizações das quais faz parte. O assunto liderança tem levado a uma série imensa de teorias e explicações. Algumas podem ser citadas e serão a seguir comentadas: Teoria dos traços de personalidade. Teoria comportamental. Teoria contingencial. Teoria situacional. Teoria transformacional. Teoria normativa. Teoria transacional. Teoria interativa. Visionária. 67 2.3.3 O modelo de Senge: a quinta disciplina Senge parte do pressuposto de que os tipos de liderança praticados já não conseguem mais obter um grau de comprometimento genuíno das organizações. Estas necessitam estar voltadas para a ação de aprender, pois aquelas que aprendem possuem líderes que são projetistas, regentes e professores. Eles são responsáveis por construir organizações onde as pessoas expandem continuamente suas capacidades de entender complexidades, esclarecer visões, e aperfeiçoar modelos mentais compartilhados — ou seja, eles são responsáveis pela aprendizagem. (Senge, 1990 p.368). Um líder que é compreendido como um projetista é aquele que possui como tarefa básica, justamente, projetar os processos de aprendizagem, através dos quais as pessoas, em toda a organização, poderão lidar de modo produtivo com as dificuldades mais críticas. Desenvolvendo, assim, domínio das disciplinas de aprendizagem. Como regente, o líder se incumbe de estar a serviço do propósito da organização, bem como, daqueles que trabalham na mesma. No papel de professor ou guia, ele é o responsável por fomentar a construção de idéias norteadoras, idéias estas que são capazes de orientar e alinhar os indivíduos e os diferentes grupos. Ainda, segundo Senge (1990), as mudanças de atitudes na direção a uma organização que aprende depende um líder projetista, professor e regente. Este deve trabalhar sobre determinados fatos, a saber: ⎯ cultivar a tensão criativa que move os indivíduos em direção ao que realmente desejam criar para si próprios (domínio pessoal); 68 ⎯ construir e moldar a evolução da cultura da organização que aprende; ⎯ desenvolver o projeto organizacional - políticas, estratégias, estruturas, bem como o processo de aprimoramento destas; ⎯ engajar as pessoas neste trabalho; ⎯ ser um treinador, guia, facilitador e professor; ⎯ construir visão compartilhada; ⎯ ajudar as pessoas a melhor enxergar a realidade e desafiar seus modelos mentais; ⎯ ajudar a desvendar as estruturas sistêmicas mais profundas da realidade — encorajar o pensamento sistêmico. Senge entende que os líderes vão se construindo, agindo com clareza e constituindo uma excelente capacidade de persuasão, de modo a vender suas idéias. Não obstante, esses líderes possuem profundidade em seus compromissos, abertura para aprender sempre mais; e são cientes de nem sempre possuírem a resposta certa, inspirar confiança nos que estão ao seu redor. Defende o "juntos podemos aprender o que for necessário para alcançar os resultados que realmente desejamos” (1990, p.385-386). O líder é aquele que se esforçar para desenvolver habilidades conceituais e de comunicação, refletir valores ,e aprender a ouvir e apreciar outras pessoas e suas idéias. Diante do aferido, pode-se perceber a razão pela qual Senge afirma haver cinco disciplinas de aprendizagem de suma importância para aqueles que se encontram como líderes, visto fornecem uma estrutura conceitual capaz de focalizar o esforço de desenvolvimento da capacidade de liderança. Essas disciplinas são chamadas tanto de disciplinas de liderança como de disciplinas de aprendizagem, são elas: 69 ⎯ domínio pessoal: o líder deve conhecer para onde caminha, ter a abertura de espírito à realidade e viver a vida com uma atitude criativa e não reativa; ⎯ modelos mentais: para o líder deve balancear reflexão com inquirição, sendo sempre precisos seus valores e princípios; ⎯ construção da visão partilhada: o líder deve defender as idéias que considera importantes, mas sempre mantendo-se aberto às perspectivas de outros, sendo muito importante a cocriação da visão e seu compartilhamento com todos; ⎯ aprendizagem em equipe: será a base da evolução da empresa e ele deve incentivar as equipes e usar o diálogo e discussão; ⎯ pensamento sistêmico: a quinta disciplina: para aplicar, na empresa, o conhecimento gerado por esta compreensão, o líder precisa de saber as inter-relações, forças existentes e perceber que tudo está interligado e as organizações são sistemas complexos. (Senge, 2000) Ora, percebe-se que Senge não acredita que um líder seja apenas um conjunto de atributos. Para ele é impossível reduzir a liderança natural a um conjunto de habilidades ou competências. Segue-se a quem se acredita, ou a quem se julga ser capaz de alcançar resultados a serviço dessas crenças. Ou seja, os líderes naturais nas organizações como as propostas por Senge, organizações que aprendem, são sempre eternos aprendizes. 70 Isso deriva do fato, dessas organizações só poderem m ser construídas por indivíduos que se dediquem de corpo e alma e que possuam determinação prévia para suas ações, ou seja, uma determinação já definida por uma escolha. Dito isso, se faz, então, necessário entender o modo pelo qual, ou melhor, o(s) modelo(s) de liderança compreendido(s) nessa Quinta Disciplina apregoada por Senge. Senge (1999) em outra obra aponta para três tipos de líderes em organizações, são eles: ⎯ líderes de linha: são aqueles que podem empreender experimentos organizacionais significativos de mudança que possam trazer resultados para o negócio; ⎯ líderes executivos: apoiam os líderes de linha, desenvolvem infra-estruturas de aprendizado e lideram pelo exemplo no processo gradual de evolução das normas e comportamentos de uma cultura voltada para o aprendizado; e ⎯ líderes informais, ou intercomunicadores, construtores da comunidade: são os únicos que podem livremente mover-se pela organização, identificando aqueles que estão genuinamente predispostos a efetuar mudanças, colaborar com experimentos organizacionais e ajudar na difusão de novos aprendizados. (Senge, 1996) Na verdade, o que Senge aponta é que cada um destes tipos de liderança possui um tem um papel-chave, que se torna eixo axial quando inserido nas mudanças, na aprendizagem e no desenvolvimento das organizações e de seus membros. 71 Cada visão, de acordo com seu perfil, seu papel e suas características, tem funções-chave nessa mudança, e comprometer qualquer uma delas só faz aumentar as chances de ineficácia das próprias mudanças. 2.3.4 A liderança segundo o pensamento de Peter F. Drucker O pensamento de Peter Drucker deve ser ressaltado nesse trabalho, visto o autor representar uma ruptura em relação à Teoria dos traços. Como afirma Drucker (1996), no prefácio do livro "O Líder do Futuro", líderes natos podem até existir, mas, com certeza, poucos dependerão deles. A liderança deve e pode, então, ser aprendida. Diante de tal constatação, motivaram-se uma série de estudos por parte de diferentes professores e consultores da área. Para o autor, o que define o líder é o atendimento a quatro condições básicas de liderança, apresentadas pelos líderes por ele estudados. Cabe aqui ressalta-las mais pormenorizadamente: 1. A única definição de líder é alguém que possui seguidores. Algumas pessoas são pensadoras, outros profetas. Os dois papéis são importantes e muito necessários, mas, sem seguidores, não podem existir líderes; 2. Um líder eficaz não é alguém amado e admirado. É alguém cujos seguidores fazem as coisas certas. Popularidade não é liderança, resultados sim; 3. Os líderes são bastante visíveis, portanto, servem de exemplo; 4. Liderança não quer dizer posição, privilégios, títulos ou dinheiro. Significa responsabilidade. (Drucker,op. cit., p. 13) 72 Segundo o autor, personalidade de liderança, estilo de liderança e traços de liderança não existem. “A polêmica sobre características e traços é pura perda de tempo”. (ibid., p. 12) Entretanto, na obra "Administrando em tempos de grandes mudanças", Drucker (1996) esclarece que o líder deverá desenvolver o que ele chama de competências para atuar nos ambientes atuais, de sucessivas mudanças. Estas competências teriam caráter mais subjetivo, como a empatia, a disposição para correr riscos ou para conviver com a pressão. Elas devem ser identificadas pelo líder através do auto-conhecimento. Independentemente da diversidade quase ilimitada de personalidade, estilo, capacidade e objetivos, os líderes analisados por Drucker (1996) apresentavam comportamento semelhante. A princípio, procuravam saber o que precisaria ser feito e não se atinham aos benefícios pessoais que poderiam obter. Definiam prioridades, buscando adequá-las à sua capacidade e modo de agir. Estabeleciam controle sobre a missão e as metas da organização, monitorando o desempenho e resultados. Mantinham atitude imparcial quanto às diferenças individuais, mas intolerante quanto a baixo desempenho, padrões e valores divergentes em relação aos seus. Não temiam a concorrência de seus liderados. Antes, buscavam estar cercados de pessoas de alta competência. Eram coerentes com seus princípios, não se deixando desvirtuar, tomando atitudes populares, triviais, insignificantes ou inconsistentes. Líderes eficazes delegam bem muitas coisas; precisam fazê-lo ou se afogam em ninharias. No entanto, não delegam algo que apenas eles podem executar com excelência, aquilo que realmente tem importância, aquilo que define padrões, aquilo pelo que desejam ser lembrados. Eles agem (Drucker, 1996, p. 13). O autor afirma, ainda, que liderança está em evidência nos meios acadêmicos e organizacionais, e não é, em si, boa ou desejável, mas sim, um meio. Tem pouco a ver com qualidade de liderança ou com carisma. Sua essência é o desempenho. 73 Desta forma, a base da liderança eficaz é compreender a missão da organização, defini-la e estabelecê-la de forma clara e visível. O líder fixa metas e prioridades, bem como fixa e mantém os padrões. Os líderes eficazes raramente são permissivos, têm responsabilidade. Outro requisito vital para a liderança eficaz é obter confiança. De outro modo, não haverá seguidores. Para se confiar num líder não é necessário gostar dele. Nem concordar com ele. Confiança é a convicção de que o líder fala sério. É a crença em sua integridade. As ações de um líder e suas crenças professadas devem ser congruentes, ou ao menos compatíveis. A liderança eficaz não se baseia em ser inteligente; ela se baseia principalmente em ser consistente. (Drucker, 1996, p. 75) Complementando o pensamento de Drucker sobre liderança, convém reportar-se a uma coletânea de ensaios de diversos autores, realizada pela Peter F. Drucker Foundation. O conjunto, formado por consultores mundialmente reconhecidos, respeitados executivos e autores de grande êxito, possibilita a oportunidade de compartilhar sua visão sobre liderança no futuro. 2.3.5 As novas ferramentas do líder na nova organização Uma das tarefas essenciais e imutáveis dos líderes é motivar e orientar o desempenho. Mas as ferramentas motivacionais estão mudando rapidamente. Cada vez mais empresas estão abolindo os antigos incentivos burocráticos e utilizando as oportunidades empresariais para atrair os melhores talentos. Os gerentes têm de exercer mais liderança ao mesmo tempo em que vêem o poder burocrático de suas mãos. Em suma, a liderança é mais difícil, porém mais importante do que nunca. Devido à imprevisibilidade até mesmo da reestruturação mais simples, os gerentes têm menos capacidade de garantir um determinado emprego — ou qualquer emprego — independente do nível de desempenho do subordinado. 74 As organizações “pós-empresariais” querem funcionários que solucionem problemas, tomem iniciativas e façam o impossível pelo cliente. Para complicar ainda mais a situação, as complexidades de trabalho na nova organização — projetos e relacionamentos que clamam por atenção de todos os lados — exacerbam a sensação de sobrecarga. De acordo com Kanter em artigo publicado na revista Harvard Business Review (1997), o antigo conjunto de ferramentas motivacionais se esgotou, os lideres precisam de incentivos novos e mais eficazes para encorajar o bom desempenho e obter dedicação. Assim, existem cinco novas ferramentas: Missão: os bons lideres sabem inspirar os outros com o poder e o estimulo da sua visão, dando às pessoas uma sensação de propósito e orgulho em seu trabalho. Controle da agenda: cada vez mais profissionais estão deixando passar oportunidades de empregos com glamour e prestigio em favor de empregos que lhes dão mais controle sobre suas próprias atividades e direção. Os lideres oferecem essa oportunidade aos seus subordinados ao lhes darem tempo livre para trabalhar nos projetos de sua preferência, aos enfatizarem resultados e não procedimentos e ao delegarem o trabalho e as decisões sobre como faze-o Participação na criação de valor: as empresas inovadoras estão fazendo experiências com incentivos como ações-fantasma para o desenvolvimento de novos empreendimentos e outras vitórias estratégicas, participação patrimonial nos retornos de projetos e bonificações relacionadas a metas chave de desempenho. Aprendizado: a organização que aprende promete se tornar o clichê de negócios dos próximos anos, pois as empresas estão procurando apreender de maneira mais sistemática com suas experiências e encorajar o aprendizado continuo de seus funcionários. 75 Reputação: este é um recurso-chave para as carreiras profissionais, podendo a oportunidade de melhorá-la ser um grande fator de motivação. (Harvard Business Review, 1997) O trabalho de liderança na nova organização será organizar projetos seqüenciais e simultâneos com diversas durações e níveis de profundidade através dos quais várias combinações de pessoas agirão, dependendo das tarefas, desafios e oportunidades enfrentadas pela área e seus parceiros em dado momento. Os lideres precisam elaborar projetos metas, marcos e prazos concretos e delegar a responsabilidade por esses projetos àqueles que os tornam realidade. Não faltam ferramentas motivacionais para os lideres da nova organização, mas essas ferramentas são diferentes daquelas dos burocratas tradicionais. 76 3 ESTUDO DE CASO - TABULAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 3.1 COLETA E TABULAÇÃO DOS DADOS Os questionários respondidos pelos líderes puderam ser integralmente aproveitados. Todos os dados quantificados e quantificáveis estão transformados em gráficos ou tabelas. As respostas às questões abertas foram tratadas do ponto de vista da freqüência e semelhança das respostas sendo objeto dos comentários pertinentes. A tabulação não envolveu problemas, dada a natureza do instrumento adotado e o perfeito entendimento dos respondentes, preenchendo o questionário de forma perfeita. Em seguida, é apresentada a séries de gráficos e tabelas construídos com os dados coletados. A fim de haver maior inter-relação entre o fator apresentado no gráfico ou tabela e as reflexões que suscitam, foi adotada a técnica de comenta-los individualmente, iniciando-se, assim, a discussão dos resultados. No segundo tópico (Item 3.2) são comentadas e discutidas as contribuições espontâneas dos líderes a partir das questões abertas. Finalmente, no Item 3.3 faz-se a discussão dos resultados extraídos da totalidade dos questionários e das respostas, comparando-se as informações e 77 contribuições levantadas com os principais tópicos das propostas teóricas de autores e pensadores, apresentadas no Capítulo 2. Gráfico 1: Distribuição dos lideres entrevistados em relação ao cargo ocupado. 34% Gerentes Chefes 66% Dos entrevistados pode-se constatar que 66%, ocupam o cargo de gerência, enquanto 34% ocupam o cargo de chefia na empresa ETC. É significativo para a pesquisa que o número de gerentes seja bastante superior, já que ocupam uma função mais elevada e com maior comprometimento com a liderança. 78 Gráfico 2: Distribuição dos líderes quanto ao sexo 8% 46% 46% Masculino Feminino Não informado Observando-se o gráfico acima, verifica-se que, o percentual de homens e mulheres foi equivalente, não existindo, quanto a gênero significativa entre os entrevistados abordados na pesquisa. Isto pode ser um indicativo da relação eqüitativa que vem surgindo na empresa moderna nas posições de comando, entregues indiferentemente a homens e mulheres. Para a pesquisa é conveniente que assim seja, contribuindo para a uniformização dos resultados. 79 Gráfico 3: Grau de escolaridade das lideranças entrevistadas 53% 47% Graduação Pós-Graduação Quanto ao nível educacional dos entrevistados, pode-se constatar que a maioria é detentora de título de Pós-graduação (53%), seguida de Graduação (47%). Este resultado, apesar de não apresentar uma diferença significativa entre os níveis já pode ser considerado relevante para uma empresa. Os cargos de liderança e representatividade são cargos de extrema responsabilidade e que exigem do indivíduo um alto grau de conhecimentos. Estes dados demonstram também que os profissionais envolvidos na direção podem estar preocupados em se especializar buscando cursos superiores aos já alcançados, não se limitando ao grau já conquistado. Para a pesquisa é vantajoso lidar com pessoas de maior nível cultural, mais conscientes das posições que defendem. 80 Gráfico 4: Qualidade dos cursos de Pós-graduação das lideranças entrevistadas 6%3% 45% 46% Especialização Mestrado Doutorado Não revelado Naqueles 53% que possuem pós-graduação verifica-se que essa se divide em especialização, mestrado e doutorado, com predominância da especialização e mestrado que contaram, respectivamente, com 46% e 45% dos chefes e gerentes entrevistados. Este gráfico confirma os comentários no gráfico anterior. 81 Gráfico 5: Distribuição da faixa etária das lideranças entrevistadas 27% 31% 18% 20% 20-30 anos 30-40 anos 40-50 anos 50-60 anos Não informado 4% A faixa etária dos entrevistados mostrou-se bem variada, com maior concentração de gerentes e chefes entre os 30-50 anos, perfazendo um total de 58%. Percebe-se que as porcentagens de líderes muito jovens (com menos de 30 anos) ou mais velhos (com mais de 50 anos) são praticamente idênticas — 18% entre 20/30 anos e 20% entre 50/60 anos —, o que talvez aponte para uma progressiva mudança de paradigma de liderança, na empresa ETC. 82 Gráfico 6: Tempo de experiência das lideranças entrevistadas 6% 6% 4% 42% 8% 34% 1 a 5 anos 5 a 10 anos 10 a 15 anos 15 a 20 anos mais de 15 anos Não responderam Complementando a perspectiva anteriormente apontada, o gráfico quanto ao tempo de experiência dos gerentes e chefes entrevistados, revela que a grande maioria ocupa esse cargo de liderança por um período de tempo não muito longo — 42% até 5 anos e 34% até 10 anos. Mas suficiente para que saibam avaliar as exigências da posição de liderança. 83 Gráfico 7: Número de colaboradores das lideranças entrevistadas 9% 13% 9% 13% 56% 1 a 20 21 a 40 41 a 60 > 60 Não responderam Em 56% dos líderes entrevistados, o número de colaboradores assinalados se restringe a 1 ou no máximo 10 subordinados. Isto mostra a lideranças bem distribuídas na empresa ETC, mas segue um modelo de líder não habituado a lidar com problemas maiores de pessoal. 84 Gráfico 8: Cinco principais atributos considerados relevantes pelos entrevistados no exercício da função Integridade Habilidade p/lidar c/pessoas Aprend continuo Criatividade Responsabilidade 0 5 10 15 20 25 Integridade foi o atributo n°1 da pesquisa o que revela grande preocupação na amostra com os aspectos éticos da empresa. Reveste o líder de uma aura de perfeição. Entretanto é interessante perceber que a distribuição percentual entre os cinco atributos mais votados é bastante equilibrada. 85 Gráfico 9: Seis atributos considerados, em segundo lugar, como sendo os mais relevantes no exercício do cargo de liderança segundo os entrevistados. Habilid p/ lidar c/ pessoas Capacidade de motivar Responsabilidade Confiança Visão orientada Criatividade 0 1 2 3 4 5 6 7 Trabalhar com pessoas e saber motiva-las são dois atributos muito valorizados, dizendo respeito a pessoas. Também a responsabilidade é colocada entre atributos mais importantes. 86 Gráfico 10: Atributos considerados em terceiro lugar como relevantes, no exercício da liderança, segundo os entrevistados. Capacidade de motivar Flexibilidade Responsabilidade Habilidade para lidar com pessoas Ousadia Não responderam Conhecimento do espírito humano Buscar a sinergia Discernimento Integridade Aprendizado continuo Coragem Confiança Saber ouvir Criatividade Bom humor 0 2 4 6 8 10 Os atributos capacidade de motivar, flexibilidade e responsabilidade lideraram o terceiro lugar em grau de importância para os líderes entrevistados. Essas características apontam para um perfil de líder que saiba unir, em justa 87 medida, a flexibilidade para lidar com o inusitado de um mercado em constante transformações com a responsabilidade para tomar decisões e executar planos e projetos em meio a situações imprevistas e complexas, motivando seus colaboradores a um melhor desempenho. 88 Gráfico 11: Atributos considerados em quarto lugar como mais relevantes, no exercício de liderança, segundo os entrevistados. Habilidade para lidar com pessoas Capacidade de motivar Saber ouvir Aprendizado contínuo Confiança Não responderam Ousadia Visão orientada Responsabilidade Criatividade Bom humor Coragem Flexibilidade Buscar a sinergia Conhecimento do espírito humano Energia Integridade 0 1 2 3 4 5 6 A habilidade para lidar com os liderados foi a característica mais votada para o quarto lugar das mais importantes. Logo, os entrevistados apontam para um perfil de líder que valorize os liderados e os relacionamentos interpessoais em sua equipe de trabalho. Esta escolha revela a necessidade de que o líder esteja preparado para lidar com pessoas e não apenas com estatísticas, números e gráficos. 89 Gráfico 12: Atributos classificados em quinto lugar pelos entrevistados. Capacidade de motivar Criatividade Aprendizado contínuo Não responderam Bom humor Habilidade para lidar com pessoas Paixão Visão orientada Curiosidade Flexibilidade Ousadia Buscar a sinergia Responsabilidade Conhecimento do espírito humano Energia Ambição Saber ouvir Integridade 0 1 2 3 4 5 6 A criatividade e a capacidade de motivar são os atributos que lideram o quinto lugar de importância para um perfil. A escolha destes atributos indica que aquele modelo de liderança prepotente que se limitava a modelos anteriormente testados e repetidos, com medo de inovações, está exaurido. A criatividade se relaciona mais à sensibilidade intuitiva para aproveitar as oportunidades surgidas do que a um mítico manancial de "idéias geniais" onde o líder pode comodamente se abastecer. A capacidade de despertar e motivar os liderados apresenta-se, atualmente, como uma das mais necessárias para que as organizações alcancem os objetivos propostos. 90 Gráfico 13: Outros atributos mencionados como mais relevantes, no exercício do cargo de liderança, segundo os entrevistados. Administrar diferenças Transformação de idéias em ação Delegação Conhecimento técnico Visão de futuro Perspicácia Determinação Conhecer empresa Multiplicação Comunicação Comprometimento 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Dentre as demais características apontadas, a “administração de diferenças” recebeu o maior número de votos, de onde se conclui que o líder ideal é visto como aquele que consegue criar um espaço de confiabilidade e segurança entre seus liderados. Ajuda a estabelecer um clima de coesão e interação entre os componentes da equipe de trabalho e a pessoa do líder. 91 Gráfico 14: Como os entrevistados vêem a organização em que trabalham 12% 15% 54% 19% Centralizadora Construindo lïderes Democrática Passando por mudanças Conforme ilustrado pelo gráfico, grande parte dos entrevistados percebe a organização pesquisada como uma instituição que passa por mudanças, com o intuito de se adaptar às exigências do mercado e às novas perspetivas da administração. É interessante notar, também, que um maior número de lideres entrevistados interpreta a organização em questão como democrática, em oposição a uma parcela um pouco menor que considera a mesma organização centralizadora. Isto denuncia curiosa divergência entre os entrevistados. Entretanto, a inferência maior na análise desse gráfico é que os líderes percebem a organização a que pertencem mergulhada num clima de instabilidade e transformações adaptativas. 92 Gráfico 15: Se os entrevistados conseguem visualizar possíveis mudanças na empresa. 92% Não Sim Não responderam 4% 4% A esmagadora maioria dos entrevistados identifica mudanças na estrutura organizacional da instituição pesquisada. Isto complementa o gráfico anterior, em que se interpreta o mundo contemporâneo como de grandes transformações e turbulências. Os lideres da ETC revelam consciência do momento que vivem. 93 Gráfico 16: Principais mudanças constatadas na empresa pelos entrevistados. Formação de lideranças Descentralização Foco em resultados 0 As mudanças 1 percebidas 2 3 pelos 4 líderes 5 6 entrevistados 7 referem-se, principalmente, à formação de novas lideranças, aliada a um movimento de descentralização dos mecanismos decisórios. Ambas as mudanças receberam o mesmo número de votos, o que confirma o argumento de que esses são fenômenos interligados. Os respondentes deixam perceber que a empresa valoriza mais as pessoas do que seus próprios resultados como empresa. 94 Gráfico 17: Sugestões de atributos necessários para o exercício do cargo de liderança. Compreender o todo Atualização de conhecimentos Aproximação com os liderados Ousadia Desenvolver atributos Novas estratégias 0 2 4 6 8 10 12 A “atualização dos próprios conhecimentos”, a “compreensão de todo organizacional” e a “aproximação com os liderados” foram as sugestões oferecidas pelos entrevistados ao líder moderno. Estes dados apontam para a necessidade do constante aperfeiçoamento do líder, de modo que esteja perfeitamente inteirado tanto da realidade particular da empresa quanto das demandas do complexo mercado externo. Outra sugestão oferecida foi de que os líderes estejam mais próximos dos liderados, criando um ambiente de cordialidade, profissionalismo e confiança que apenas poderá contribuir para que a organização alcance as metas propostas. Pelas respostas tabuladas neste gráfico se pode depreender um perfil sintético, mas, completo de líder: Ver e sentir a empresa completa em seu contexto espacial e temporal Competência técnica e administrativa (conhecimentos) 95 Agregar pessoas para agir. É interessante notar que este perfil não foi induzido do questionário mas proposto espontaneamente pelos entrevistados. 96 Gráfico 18: Atributos considerados menos importantes pelos entrevistados. Conhec Esp Humano Energia Discernimento Curiosidade Ambição 0 1 2 3 4 5 6 Segundo o gráfico, percebe-se que alguns atributos foram pouco escolhidos para a composição do perfil do líder. “Ambição”, por exemplo, foi de todos o menos votado, tendo sido mencionado apenas uma única vez. Do mesmo modo, “curiosidade” teve apenas dois votos e “discernimento”, três. Isto permite concluir que há uma faixa de atributos que podem inexistir sem comprometer o perfil do líder. 97 Tabela 1: Perfil induzido pelos líderes dos atributos relacionados no questionário. Ordem Atributos NO de indicações 1° lugar Integridade 23 2° lugar Habilidade p/ lidar com pessoas 6 Capacidade de motivar 3° lugar Flexibilidade 6 Responsabilidade 4° lugar Saber ouvir 4 5° lugar Criatividade 6 Esta tabela constitui a síntese das principais classificações que os sujeitos deram aos atributos que consideraram como os mais importantes para compor o perfil do líder. Através dela, constata-se que integridade recebeu um número de votos bastante superior aos demais. Da mesma maneira, nota-se que nas posições de 2o e 3o lugares houve empate e o número de votos eqüivale a seis. Para a quarta colocação, os sujeitos entrevistados mostraram não haver tanta definição, já que o atributo mais votado teve apenas 4 votos nesta categoria. Na quinta colocação, criatividade teve 6 votos. Note-se que o perfil acima construído revela maior direcionamento às pessoas, deixando subentendida a preocupação com as exigências da empresa. 98 TABELA 2: Perfil ampliado, com respostas tanto induzidas pelo questionário como espontâneas dos entrevistados Ordem Atributos No indicações 1 lugar Integridade 23 2 lugar Capacidade de administrar diferenças 7 3 lugar Habilidade p/ lidar com pessoas 6 Delegação Conhecimento técnico Capac de transformar idéias em ação Flexibilidade Responsabilidade Criatividade 4 lugar Visão de futuro 5 Determinação Perspicácia Saber ouvir A tabela 2 relaciona os atributos que compõem o perfil do líder e o número de votos que os mesmos receberam na pesquisa, levando-se em conta tanto os atributos propostos pela pesquisadora quanto os sugeridos espontaneamente pelos entrevistados. Observando-a percebe-se que a capacidade de administrar diferenças, um atributo sugerido pelos entrevistados, recebeu a segunda maior votação, superando a colocação de todos os atributos propostos pela autora, excluída a “integridade”. Do mesmo modo, delegação, conhecimento técnico e capacidade 99 de transformar idéias em ação, igualaram-se a outros atributos propostos no questionário. “Visão de futuro”, “perspicácia” e “determinação” também foram bem votados pelos sujeitos como atributos que o líder do Século XXI deva possuir. Talvez aqui esteja o perfil mais adequado de líder que os entrevistados têm em sua concepção. É bastante completo, mostrando tanto orientação no sentido das pessoas quanto no sentido das tarefas empresariais. 100 3.2 COMPARAÇÃO ENTRE INFORMAÇÕES COLIGIDAS E TEORIAS DE LIDERANÇA Importante para a discussão dos resultados da pesquisa é analisar as informações oferecidas pelos gerentes e chefes comparando-as com as diferentes teorias e metodologias apresentadas no capítulo II. Para tanto, adotouse o método de resumir cada proposta teórica e imediatamente compará-la com os resultados obtidos, de modo a melhor poder explicitar as semelhanças e diferenças entre os dados obtidos nas entrevistas e as proposições dos teóricos. 3.2.1 Teoria dos traços de personalidade Esta teoria afirma a existência de certos traços de personalidade que são capazes de caracterizar os líderes, ou seja, que se pode ter um número finito de características pessoais, intelectuais, emocionais e físicas. Segundo Esta teoria afirma a existência de certos traços de personalidade que são capazes de caracterizar os líderes, ou seja, que se pode ter um número finito de características pessoais, intelectuais, emocionais e físicas. Segundo Chiavenato, os traços ou atributos mais importantes dizem respeito à responsabilidades concretas dentro da empresa: interpretação de objetivos e missões; habilidade de estabelecer prioridades; planejamento; atividades da equipe; solução de conflitos e problemas; supervisão e orientação de pessoas e delegação. Chiavenato vê primeiro a empresa e depois o líder. Resultados da pesquisa Os resultados da pesquisa apontam para contribuições que podem ser enquadradas nesta primeira teoria. Para os entrevistados, os traços de liderança ligados a pessoas foram altamente valorizados. Os atributos “capacidade de motivar pessoas” e “de lidar com pessoas” alcançam o segundo lugar na ordem das preferências (Ver gráfico 14). Cabe ressaltar, que o atributo mais votado por 101 todos foi a Integridade, caracterizando a orientação e preocupação com os valores das pessoas. Embora a pesquisadora não tenha priorizado atributos voltados para a ação empresarial (Linha de Chiavenato), vários respondentes indicaram, por opção pessoal, a “delegação” como um traço relevante do líder. Do mesmo modo, como pode ser verificado no gráfico 13, algumas das respostas demandam a interpretação de objetivos e missões dentro da empresa. 3.2.2 Teoria situacional Hersey e Blanchard postulam a liderança como algo que depende da situação empresarial. Surge como líder aquele que tenha atributo (s) indispensáveis para influir de forma decisiva na situação. Existe o comportamento de tarefa, que é adotado para organizar e definir as funções dos membros do grupo e explicar suas atividades. E existe o comportamento de relacionamento, que é adotado para manter relações favoráveis entre ele e os seguidores Resultados da pesquisa Embora não tenha aparecido explicitamente a preocupação com o “situacional”, os gerentes e chefes da Empresa ETC valorizaram atributos, tais como flexibilidade, criatividade e ousadia. Em suas contribuições pessoais também lembraram, espontaneamente, a necessidade de um estado permanente de prontidão para que os líderes se disponham a influir decisivamente nas situações de mudança e elevada competitividade que são características das organizações na era Contemporânea. Observe-se o gráfico 14. 3.2.3 Teoria comportamental Essa teoria, que pertence a Kurt Lewin, endossada por muitos representantes da psicologia social, supõe que existem três categorias diferenciadas onde o líder pode ser caracterizado como: líder autocrático ou 102 autoritário, líder democrático e líder laissez-faire, ou seja que possui o estilo de não intervenção. E essa classificação foi muito aceita pelos administradores, visto as condições empresarias poderem exigir os três tipos de liderança. Resultados da pesquisa Como demonstra o gráfico 14, boa parte dos entrevistados percebe a organização como uma instituição que deva ser entendida como democrática, daí, se poder, também, derivar que os líderes também devam ser compreendidos como líderes democráticos, os quais saibam demandar poderes e respeitar as relações humanas. O que pode ser visualizado no gráfico 10, onde o atributo habilidade em lidar com as pessoas recebe uma expressiva votação. Salienta-se, que não se deseja mais um líder considerado autocrático, mas, antes, o líder do século XXI deve estar imbuído da liderança democrática e, por vezes, laissezfaire. O que fica bem ilustrado na fala dos entrevistados: (Martinelli — Gerente) Que sejam mais flexíveis, estimulando a criatividade, a ousadia e as idéias inovadoras (...) subordinados. O antigo líder autocrático não cabe mais no processo moderno de uma empresa (...) penso que o líder do século XXI deve antes saber ouvir, estimular uma cultura de trabalho em equipe, tornando-se um facilitador de idéias, o oposto da antiga cultura autocrata, em que o líder mandava e todos obedeciam. 3.2.4 Teoria contingencial de liderança Esta diz respeito a inexistência de um estilo que possa ser entendido como o melhor no que concerne à liderança. O que existiria seria estilo mais eficaz de acordo com a situação. Havendo três variáveis que podem determinar se uma dada situação é favorável ou não ao líder: o poder e a autoridade; o grau de estruturação da tarefa que o grupo deve realizar e suas relações pessoais com os demais. 103 Resultados da pesquisa Nas entrevistas não foi encontrada nenhuma resposta que possa efetivamente ser enquadrada dentro da teoria contingencial. Todavia, pode-se perceber que, devido aos diferentes atributos escolhidos, os gerentes e chefes também vêem variáveis capazes de determinar uma situação favorável ou não a determinadas formas de liderança. 3.2.5 Teoria normativa Este modelo de Vroom e Jago proporciona um conjunto seqüencial de regras que o líder poderá seguir para determinar a participação dos subordinados no processo decisório. O modelo descreve cinco níveis de estilos de participação, desde a posição altamente autocrática do líder até a altamente democrática. Já, as ações de liderança se distribuem em três categorias: a autocrática; a consultiva; e a grupal, que devem ser adotadas pelo líder sem esquecer o papel dos colaboradores. Resultados da pesquisa Entre os atributos apresentados pela colaboração espontânea dos entrevistados, a participação grupal no processo decisório foi ressaltada.“Administrar diferenças”, “transformar idéias em ação”, “delegar responsabilidade”, “multiplicar os efeitos da ação” e “comunicar-se” são traços de personalidade muito valorizados pelos Gerentes/Chefes. No gráfico 8, o “saber ouvir” aparece entre os cinco atributos mais importantes, sendo também valorizado nos gráficos 10 e 11. Também nas referências apresentadas de forma livre, a idéia de participação grupal é ressaltada. Quanto ao fator autocracia convém conferir o testemunho de um dos gerentes, a propósito da teoria comportamental, apresentado anteriormente. 104 Finalmente, a visão de organização pelos consultados, ao mesmo tempo, mostra sua empresa como democrática e centralizadora. Ou seja, os fatores apresentados pela teoria são secundados pelos entrevistados. 3.2.6 Teoria da liderança carismática Essa teoria possui cinco componentes fundamentais, a saber o líder deve ser uma "pessoa extraordinariamente talentosa", saber lidar numa crise social ou situação de desespero, ter um jogo de idéias que provêem uma solução radical à uma determinada crise, possuir um conjunto de seguidores que são convencidos de que a pessoa talentosa tem uma ligação direta a poderes divinos e, por fim deve ter validado seu carisma por sucessos repetidos atribuídos aos poderes transcendentais do líder. Os líderes carismáticos se engajam em comportamentos voltados para criar impressão, entre os seguidores, de que o líder é competente e eficaz; articulam objetivos ideológicos que relacionam a missão do grupo aos valores, ideais e aspirações profundamente arraigados e compartilhados pelos seguidores. Resultados da pesquisa Ao longo das entrevistas, principalmente nas questões abertas, pôde-se verificar que alguns aspectos considerados importantes para o líder do século XXI podem ser compreendidos a partir da perspectiva da teoria carismática, o que se comprava com a ilustração de certas frases de alguns dos entrevistados: (Freitas — Gerente) “Que utilizem a sua criatividade em sinergia com clientes internos e externos para alcançar a auto-sustentabilidadde da organização”; (Faria — Chefe) “Que buscassem sempre atualização profissional (...) empreendedores, carismáticos, lúcidos e com habilidade para atuar em equipe”. Do mesmo modo, ao se analisar os atributos mais votados, pôde-se verificar um expressivo percentual que escolheu atributos como coragem, paixão, 105 ousadia, ou seja, traços próprios do líder carismático. É o que se pode verificar no gráfico 10. 3.2.7 Teoria da liderança transformacional Essa teoria de Bass diz respeito à liderança entendida como uma ação transformacional. Líderes transformacionais são aqueles que influenciam seus seguidores, de modo a despertar fortes emoções, fazendo com que esses se identifiquem com seu líder. Não obstante, esses líderes transformacionais, muitas vezes, se apresentam como mestres e mentores. Resultados da pesquisa À semelhança dos dados obtidos na comparação com a teoria carismática, assinalaram a necessidade de que os líderes do século XXI sejam “facilitadores”, “ousados” e “flexíveis”, conscientes das mudanças. Isto se verifica nos gráficos 10,11 e 12. 3.2.8 Teoria da liderança visionária Líder é caracterizado como aquele que assume o controle, fazendo “com que as coisas aconteçam, sonham e depois traduzem esses sonhos em realidade” Os líderes, desse modo, atraem o compromisso voluntário dos seguidores, energizando-os, e transformam as empresas em novas entidades, com maior potencial. Um visionário é um futuro realista, digno de crédito, sendo atraente para a empresa. Isto porque aquele que tem visão sempre lida com o futuro. Num mundo onde as mudanças ocorrem com velocidade indizível, necessita-se sempre possuir equilíbrio, relacionar-se com os demais, aproveitar o ambiente externo, prever e avaliar o futuro. 106 Resultados da pesquisa O atributo visão orientada foi um dos mais votados, visto a necessidade de se adequar às mudanças radicais e constantes a que o mundo como um todo, principalmente a empresa, vem sofrendo. Dito isso, percebe-se o quanto a teoria da liderança visionária parece estar inserida nas questões mais prementes dos chefes e gerentes entrevistados. Isso fica claro, quando se observa os gráficos de números 11, 12 e 15. bem como, o fato pode ser ilustrado nas respostas às questões abertas: (Franco — Gerente) “Ousar (...), investir em um bom time de trabalho e exercitar a visão estratégica de futuro”. 3.2.9 Cartwright & Zander Segundo esses autores, para o surgimento ou formação de um líder há a necessidade de ele possuir determinados atributos, sendo impossível existir um líder sem o mínimo de condições pessoais: poder legítimo, poder de conhecimento, poder de referência, etc. O mesmo se aplica às equipes. O sonho de toda organização é contar com equipes participativas. O ideal é que as ações de liderança se distribuam por todo o grupo. Então, líder é todo aquele que interfira com atos e palavras, contribuindo para os objetivos da empresa. Resultados da pesquisa Pelas respostas dos Gerentes/Chefes, todos parecem admitir a idéia de que cada funcionário pode e deve tornar-se um líder. O gráfico 16 mostra isso claramente. Duas constatações sobre mudanças na empresa aparecem com grande número de referências: a “formação de lideranças” e “foco em resultados”. No gráfico 14, a empresa é vista como construindo líderes. Também as sugestões da tabela 2 são válidas para qualquer funcionário poder se transformar em líder: determinação, conhecimento técnico, etc. Uma equipe com tais pessoas tem mais chances de atingir os objetivos empresariais. 107 CONCLUSÕES E SUGESTÕES Encerrando o presente trabalho, é valido constatar que os objetivos nele propostos foram adequadamente atingidos. A primeira conclusão é que o estudo da liderança atualmente continua despertando enorme interesse no âmbito das empresas, gerando uma corrida à literatura especializada que já se apresenta muito rica e pertinente. Na maioria dos autores, principalmente os que se dirigem diretamente às empresas, visando objetivos pragmáticos, a busca de modelos de líder, através de seleção e definição de atributos, permanece tão utilizada como sempre foi. A grande questão que se coloca é identificar quais são os atributos mais relevantes no perfil de líder para as exigências da empresa do século XXI. O referencial teórico usado como embasamento ao presente estudo está longe de oferecer resposta unívoca para esta questão. Pelos autores clássicos e modernos aqui revisitados, a temática da liderança é sempre altamente valorizada mas as concepções teóricas se revelam muito divergentes. As empresas reagem pragmaticamente e de forma sábia, prestigiando a idéia de liderança baseada em atributos, que também são designados de traços ou características do líder. É verdade que a liderança situacional ocorre com freqüência, permitindo que, no âmbito das organizações, todo e qualquer funcionário possa exercer o papel de líder, em determinado momento. Basta que este funcionário, por mais obscuro que seja, contribua com determinada ação que ajude a empresa na consecução de determinado objetivo ou na superação de determinado obstáculo. Todos podem, assim, exercer liderança em determinadas circunstâncias. Mas, na prática, a empresa se orienta preferencialmente, para a escolha de colaboradores, sobretudo seus líderes, que reúnam tal potencial de atributos que fique assegurada à empresa a certeza de que os planos e metas previstos serão cumpridos e sua missão efetivamente realizada. 108 Os resultados do estudo de caso, estruturados pela pesquisadora e aqui minuciosamente comentados, revelam de forma inequívoca o elevado interesse que a questão da liderança significa para pessoas graduadas que participam de uma gestão empresarial. Partindo do embasamento teórico apresentado neste trabalho e do estudo de caso que reuniu o pensamento e as propostas de meia centena de lideres empresariais, é licito enumerar conclusões e sugestões que decorrem de forma nítida das contribuições aqui apresentadas. 1. A pesquisadora teve condições de verificar de maneira palpável o entusiasmo que o tema da liderança desperta em chefes e gerentes. Estes deixam transparecer claramente que o desenvolvimento da empresa moderna e a superação das turbulências que a atingem passam necessariamente pela formação e treinamento de lideres. 2. Na construção do perfil do líder para os tempos atuais houve praticamente unanimidade na identificação da “integridade” como fator de máxima relevância. Esta preocupação ética não deixa duvidas de que toda competência e dinamismo pessoal só fazem sentido se forem sempre respeitados os valores da empresa e das pessoas que nela trabalham e convivem. 3. Todos os que contribuíram com seus pontos de vista para a melhor compreensão do fenômeno liderança revelaram grande discernimento e objetividade. Isto permite inferir que já existe bastante consolidada nas empresas brasileiras uma “cultura da liderança” significando a superação de modelos patriarcais de administração. 4. Dado que não existe liderança sem pessoas e equipes, a “cultura” aqui mencionada revela o reconhecimento de que os valores humanos passaram a constituir um componente essencial da moderna concepção de empresa. 109 5. Pela contribuição dos entrevistados, o perfil de um líder pode ser construído com um número mínimo de atributos, sendo dispensável e descabido enumerar atributos indefinidamente. Basta ao verdadeiro líder o domínio de competências fundamentais da forma como descreve o perfil-síntese da Tabela 2. Assim, integridade, respeito às pessoas e suas diferenças, delegação, conhecimento técnico, poder de empreender flexibilidade, determinação e mais alguns atributos bastam, para o líder cumprir o seu papel para coma empresa e as pessoas. 6. A pesquisa também mostrou que já se percebe nas empresas a preocupação de formar e treinar lideres, deixando entrever que o modelo de verticalização hierárquica já se pode considerar como superado. Deve, isto sim, ser multiplicado o número de “focos de eficácia” no interior das empresas, representados por outros tantos lideres e suas equipes. 7. Em termos de sugestões, é importante lembrar que o instrumento empregado na pesquisa permitiu a manifestação dos líderes da maneira mais espontânea possível. Embora sendo impossível enumerar todas as propostas e idéias apresentadas, uma síntese de todas as contribuições revela um anseio geral por profundas modificações na concepção e estruturação das empresas. 8. Uma sugestão específica, recolhida de muitos questionários ressalta a dimensão da liderança. Ou seja, a política de se formar e treinar líderes deve ser entendida como uma incumbência dos próprios líderes. Logo, eles podem ser considerados como multiplicadores de líderes. O espírito dos líderes certamente se transmite por capilaridade através de toda a empresa. Logicamente, a empresa que forma e valoriza seus lideres com certeza superará seus competidores e se transformará ela mesma em empresa líder. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABBAGNANO. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2001. AMARU, A.C. Gerência de Trabalho de Equipe. São Paulo: Pioneira, , 1989. ARGYRIS, Chris. Personalidade e organização: o conflito entre o sistema e o indivíduo. Rio de Janeiro: Renes, 1968. ______. Management and Organizational Development. McGraw-Hill, 1971. ______. O Comportamento do Executivo Chefe: chave para o desenvolvimento organizacional. São Paulo: Nova Cultural, 1987. 28 v. p. 7-28. 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