AUTOR: ALMIR WIRTH LIMA JUNIOR, ESPECIALIZADO NA TELEKOM ALEMÃ, MESTRE E DOUTOR PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (U.F.C) Dispersões S= Dispersão Intermodal Conforme o próprio nome indica a dispersão intermodal, também conhecida como dispersão modal, trata-se de um fenômeno que ocorre quando existem diferentes modos se propagando dentro de uma fibra óptica. Portanto, este tipo de dispersão ocorre apenas em fibras ópticas multimodo. Tendo em vista que os modos dentro da fibra óptica possuem diferentes velocidades de grupo, cada um deles percorre sua trajetória (do início ao fim da fibra óptica) em períodos de tempo diferentes. Desta forma, quando um pulso óptico atravessa uma fibra óptica multimodo, eles são alargados (surge dispersão), e se misturam aos pulsos adjacentes. Este efeito limita tanto a banda passante da fibra óptica multimodo, como o comprimento máximo do enlace óptico. Consideremos o pulso luminoso que incide numa fibra. A sua potência será distribuída entre os vários modos de propagação e, apesar de todos partirem da extremidade inicial da fibra no mesmo instante, chegarão à extremidade final da fibra em instantes diferentes devido aos diversos diferentes caminhos percorridos, alargando o pulso de saída e, portanto, limitando a capacidade de transmissão. Note que o modo de ordem mais baixa possui velocidade de grupo com valor em torno de c/nnúcleo, uma vez que esse modo está praticamente contido no núcleo. Por outro lado, o modo de ordem mais alta possui velocidade de grupo em torno de c/nrevest., uma vez que uma parte do campo é transportado na região do revestimento, a qual possui índice de refração menor que a região do núcleo. F= Figura 5.23 - Dispersão de pulso em fibra multimodo de índice degrau Para fibras típicas de índice degrau, a dispersão modal (dm) é da ordem de 20ns/Km a 65ns/Km. Esta dispersão é muito alta e permite apenas algumas dezenas de conversações telefônicas por alguns quilômetros de fibra. Como a velocidade de propagação ao longo da fibra óptica varia de acordo com o inverso do índice de refração, existe a possibilidade de se compensar ou equalizar as diferenças de tempo entre os modos variando-se o índice de refração em função do raio do núcleo. Chegamos, então, à fibra com índice de refração gradual, que possui um valor máximo de índice de refração no centro do núcleo, diminuindo radialmente em direção à casca. Conseguimos, assim, uma velocidade de propagação menor para os modos de percurso mais curto, e uma velocidade maior para os modos que percorrem o maior trajeto. Não há fibra óptica com índice de refração gradual capaz de equalizar a velocidade de grupo de todos os modos em uma fibra multimodo de simetria circular, porém se o perfil do índice de refração obedecer a lei exponencial conforme a equação abaixo, então, se obterá uma redução maior nesta diferença de tempo (atraso). n (r ) = n1 (1 − 2 ⋅ Z ⋅ f (r )) 2 Onde: n1 = índice de refração no eixo da fibra ótica. 2 2 n1 − n 2 Z= 2 ⋅ n1 n2= índice de refração da casca. f(r) = função perfil f(r) = 0, para r =0; f(r) =1, para r = a r = distância do eixo da fibra ao ponto em questão. Demonstra-se que o atraso modal máximo sofrido por uma radiação é: A max = Dn 2 c (ns/km); D= n1 − n2 n1 Onde: n1 = Índice de refração do núcleo n2 = Índice de refração da casca F= Figura 5.24 - Dispersão Intermomodal Numa fibra com D = 0,01 e n1 = 1,5, resulta um atraso de 500ns/km. Este atraso corresponde a uma banda de modulação útil de apenas 0,5 a 1,0MHz. Para aumentar a banda de transmissão da fibra, existem duas alternativas. A primeira alternativa consiste em se projetar a fibra óptica com o diâmetro do núcleo muito pequeno e um índice de degrau também pequeno, de tal forma que a fibra ótica admite apenas um modo de propagação. Estas fibras, denominadas fibras monomodo, apresentam maiores dificuldades de fabricação, e devem ser tomadas precauções com relação ao acoplamento com os emissores e receptores de pulsos ópticos, devido às pequenas dimensões do núcleo (5 a 10µm). S= Dispersão Intramodal Não existe dispersão intramodal em fibras ópticas monomodo. Entretanto, mesmo em fibras monomodo existe dispersão, a qual é denominada de dispersão intramodal. SS=Dispersão material A dispersão material surge devido à dependência do comprimento de onda em relação ao índice de refração. Mesmo tratando-se de pulso com largura muito estrita, esse pulso é constituído por várias componentes, cada uma com determinado comprimento de onda. O alargamento do pulso constituído por uma faixa espectral ∆λ é obtido através da seguinte relação: ∆τ = L Dm ∆λ , onde L é o comprimento do enlace óptico, e Dm é denominada de coeficiente de dispersão material. A dispersão é expressa em alargamento por unidade de comprimento. A equação seguir fornece o valor aproximado de Dm. Dm ≈ − λ δ 2n c δλ2 A figura a seguir mostra o gráfico de Dm em função de λ. Figura 5.24.1 Coeficiente de dispersão material versus comprimento de onda O tempo necessário para que o pulso atravesse o enlace óptico é denominado de tempo de retardo do sinal, o qual medido por unidade de comprimento τ 1 δβ representa o “atraso de grupo” ( τ g = = = ). L v g δw SS= Dispersão do guia de onda A dispersão de guia de onda (Dw) surge devido ao fato de que a velocidade de grupo depende de λ. ∆τ = L Dw ∆λ Dw é denominado de coeficiente de dispersão de guia de onda. Dw = 1,984 N g 2 (2πa )2 2(cn 2 )2 , para 1,5 < ν < 2,4 . ν é freqüência normalizada. A figura 5.24.1 mostra Dw versus λ (linha pontilhada). SS=Dispersão de perfil A velocidade de grupo do modo fundamental depende da diferença de índice n − n revest. ). de refração normalizada ( ∆ = núcleo nnúcleo ∆τ = L D p ∆λ , Dp é o coeficiente de dispersão de perfil, o qual é menor que 1 ps km-1 nm-1, e muito menor que Dm e Dw. Na realidade a dispersão de perfil é um caso particular da dispersão material. SS=Dispersão cromática As dispersões que surgem nas fibras monomodos decorrem devido à estreita largura espectral (∆λ) da fonte óptica. Podemos dizer que a dispersão cromática é a somatória das dispersões material, de guia de onda, e de perfil. ∆τ = L (Dm + Dw + D p ) ∆λ = L (Dc ) ∆λ Quando uma onda eletromagnética interage com os elétrons de um dielétrico, a resposta do meio geralmente depende da freqüência da onda eletromagnética (ω). Esta propriedade caracteriza a dispersão cromática, a qual se manifesta devido à dependência do índice de refração n(ω) em relação à freqüência da onda eletromagnética. No nível fundamental, a origem da dispersão cromática está relacionada com as características das freqüências de ressonância, nas quais o meio interage com a radiação eletromagnética através das oscilações dos elétrons. Por outro lado, o índice de refração pode ser calculado de forma aproximada através da equação de Sellmeier mostrada abaixo: 1 + ∑ j =1 (β j ⋅ w j ) m n (w ) = 2 w j − w2 ωj = freqüência de ressonância j βj = Potência da ressonância j A somatória da equação acima se estende sobre todos os materiais ressonantes, que contribuem para a faixa de freqüência de interesse. No caso das fibras ópticas, os pares βj e ωj são obtidos experimentalmente, através das curvas de dispersão, de acordo com os constituintes do núcleo. A dispersão na fibra ótica monomodo representa uma característica crítica na propagação de pulsos óticos curtos, tendo em vista, que diferentes componentes espectrais associados ao pulso viajam em diferentes velocidades c ( ). n (ω ) Mesmo em fibras óticas monomodo, quando os efeitos não lineares (devido à dispersão induzida) não são importantes para o alargamento do pulso, a dispersão cromática pode ser maléfica, para o desempenho do sistema de comunicação óptico. No regime não linear a contribuição da dispersão e da não linearidade pode ocasionar diferentes comportamentos, conforme veremos mais à frente. Os efeitos da dispersão na fibra óptica são relacionados através da expansão da constante de propagação do modo (β) em uma série de Taylor, sobre a freqüência central (ω0), conforme mostramos a seguir. ω 1 1 β (ω ) = n (ω ) ⋅ = β 0 + (ω − ω0 ) ⋅ β1 + (ω − ω0 )2 ⋅ β 2 + (ω − ω0 )3 ⋅ β 3 + ... c 2 6 n d β ; n = 0,1,2,3... β n = n d ω (ω =ω ) 0 O envelope do pulso óptico se move a uma velocidade v g = 1 β1 . O parâmetro β2 é responsável pelo alargamento do pulso (dispersão de velocidade de grupo (GVD)). Observe na figura 5.25, a variação de n, e ng em relação ao comprimento de onda λ, para fibras de sílica. F= Figura 5.25 - Variação do índice de refração n, e do índice de refração de grupo ng em relação ao comprimento de onda para fibras de sílica. Comprimento de onda para GVD zero É importante salientar, que β2 desaparece em torno do comprimento de onda 1,27µm, e torna-se negativo para comprimentos de onda maiores do que 1,27µm, conforme mostra a figura 5.26. F= Figura 5.26 - Variação de β2 e d12 em relação ao comprimento de onda para fibras de sílica. O parâmetro de dispersão β2 é igual a zero, próximo a λ = 1,27µm (1,312µm) O comprimento de onda para β2 = 0 é denominado comprimento de onda de dispersão de velocidade de grupo zero (λD). Entretanto, a dispersão não desaparece totalmente neste comprimento de onda, pois em torno dele a propagação do pulso está sujeita a inclusão do termo de terceira ordem na equação de β(ω). Este efeito dispersivo de terceira ordem pode distorcer pulsos óticos ultra curtos, tanto em regime linear, quanto em regime não linear, porém a inclusão deste termo só é necessária, quando o comprimento de onda do pulso se aproxima de λD. O comportamento da dispersão das fibras ópticas atuais, geralmente se desvia do valor apresentado anteriormente de 1,27µm, para 1,312µm, por duas razões, sendo uma delas porque o núcleo da fibra ótica pode conter pequenas quantidades de dopantes, tais como, GeO2 e P2O5. SSS= Dispersão do guia de onda Devido à propriedade dielétrica da fibra ótica, o índice efetivo de refração do modo é ligeiramente menor do que o índice de refração material (n(ω)), sendo esta redução dependente de ω. Isto resulta em uma contribuição do guia de onda, denominada dispersão do guia de onda, a qual precisa ser adicionada à dispersão cromática. Geralmente, a contribuição do guia de onda em relação a β2 é desprezível, exceto próximo do comprimento de onda λD. O principal efeito da contribuição do guia de onda é a segunda causa de um pequeno deslocamento de λD no sentido dos comprimentos de onda maiores. Para fibra óptica de sílica este deslocamento torna λD = 1,312µm, conforme já mostramos anteriormente. A figura 5.27 mostra a dispersão total medida em uma fibra óptica monomodo. O parâmetro de dispersão D é usualmente utilizado na literatura sobre fibras óticas, no lugar de β2, através da seguinte relação: 2 dβ1 πc λ d n D= = − 2 ⋅ β 2 ≅ − ⋅ 2 dλ λ c dλ F= Figura 5.27 - Variação do parâmetro de dispersão D em relação ao comprimento de onda para fibra óptica monomodo. SSS= Regimes de dispersão Normal e Anormal Para comprimentos de onda λ < λD resulta em β2 > 0, conforme você pode constatar na figura acima, e neste caso a fibra óptica apresenta dispersão normal. Em regime com dispersão normal, as componentes com freqüências mais altas de um pulso óptico se propagam com velocidades menores do que as componentes com freqüências mais baixas, diferentemente do que ocorre em regime com dispersão anômalo (anormal), pois no regime de dispersão anômalo, β2 < 0. O regime de dispersão anômalo possui considerável interesse para o estudo dos efeitos não lineares, tendo em vista que neste regime as fibras ópticas podem suportar “solitons” através de uma ponderação entre os efeitos dispersivos e não lineares. SS= Dispersão de Polarização do Modo (PMD) As fibras ópticas monomodo suportam apenas um modo (HE11), o qual se consiste de dois modos com polarizações ortogonais. Apenas de forma ideal, o núcleo de uma fibra óptica possui índice de refração uniforme em todas as seções transversais. Entretanto, na realidade a anisotropia do índice de refração pode ocorrer devido ao processo de fabricação (alterações na composição da fibra óptica, e geometria, por exemplo, bem como devido aos esforços aplicados às fibras ópticas, como, por exemplo, curvaturas. A anisotropia do índice de refração ocasiona a propagação mais rápida de um dos modos polarizados de forma ortogonal, em relação ao outro, proporcionando a dispersão do pulso óptico, conforme mostra a figura 5.27.1 Figura 5.27.1 Dispersão de polarização de modo Geralmente, a dispersão de polarização é menor que 1 ps km-1, e de forma grosseira é função de L2.