Visitação Visiting hours
09 out a 15 nov 2015 ter a dom , das 10 às 20h
oct 9 – nov 15, 2015
tue – sun , 10 a.m. – 8 p.m.
Rua Visconde de Itaboraí,
78 – Centro | 20010-060
Rio de Janeiro
Tel. [55 21] 2332-5120
www.casafrancabrasil.rj.gov.br
Entrada franca Free admission
Gestão CFB/EAV
[Management CFB/EAV]
Produção
[Production]
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Esta exposição inaugura uma nova fase na obra de Barrão. Ao longo de uma
trajetória de pouco mais de trinta anos, o artista teve a música, o meio digital,
os eletrodomésticos e a linguagem televisa, em resumo, como suportes e
temas de suas obras. Corpos ou máquinas em mutação são características
que permeiam a obra do artista. Passando pelas suas instalações sonoras,
performáticas e cinéticas no início do seu trabalho, e chegando aos trabalhos
feitos com louça a partir dos anos 2000, em que articula distintos objetos
feitos com esse material, cortando e colando suas divisões para se chegar a
um objeto escultórico, o artista investiga o excesso, o estranho e a falha não
só como temas, mas como processos constitutivos desses corpos híbridos
criados em função de partes. 4 Nesta mostra, a cor, tão presente em
obras anteriores, é substituída por um tom monocromático, com exceção
do vidro, que, aparecendo ocasionalmente, transmite uma tonalidade
esverdeada a essa paisagem esbranquiçada, e dois novos materiais passam
a fazer parte da sua pesquisa: a resina e o gesso. É importante atentar a esse
fato, pois o trabalho ganhou uma conotação mais sóbria, o que cria um
enlace com o momento atual. Esta afirmação ganha mais sentido quando
fazemos referência à antiga função deste prédio – em 1824, e por cerca
de vinte anos, foi estabelecido por D. Pedro I como alfândega e, portanto,
como porta de entrada para os imigrantes –, com o artista instalando uma
barraca (um abrigo provisório) e outras “ilhas” que de certa forma articulam
territórios (um muro de tijolos, totens e o caminho ziguezagueado proposto
por cavalinhos) dentro do espaço da Casa. Como formas, desejos, origens
e histórias tão diferentes podem ocupar o mesmo espaço? Como conciliar
dessemelhanças? Ademais, levamos em conta que em boa parte desses
objetos a inexistência ou ocultação de partes é uma regra. 4 Se nesse
momento passamos pela maior onda migratória do pós-guerra e assistimos
impávidos às suas profundas e tristes consequências, o artista à sua maneira
expõe as novas configurações geográficas e econômicas que se estabelecem
com o processo de migração. É perspicaz que o sujeito – como afirma
Stuart Hall em A identidade cultural na pós-modernidade, “previamente
vivido como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando
fragmentado; composto não de uma única, mas de várias identidades,
algumas vezes contraditórias ou não-resolvidas” – possui um diálogo com
as formas dessas obras. Estas parecem estar continuamente incompletas,
dividindo-se constantemente e criando formas híbridas que não param de
cessar. Contudo, este sentimento de incompreensão e estranhamento que
temos ao avistá-las logo é encoberto pelo fato de que a fragmentação,
fenômeno intrinsecamente ligado ao moderno, é quem torna seus objetos
definitivamente humanos e inseridos no tempo presente. 4 Notem que
o artista faz uso do molde e que vários objetos são reproduzidos mais de
uma vez. Porém, como parte da poética de Barrão, eles sempre aparecem
ao mundo de formas distintas (uns sem pata, outros sem perna, um terceiro
com o corpo encoberto e assim por diante), transmitindo ambiguamente um
senso de particularidade a um objeto que deriva de um processo industrial
e que tem como compromisso a regularidade. 4 É importante dizer que
Barrão não tem interesse em se colocar como “artista político” ou explorar
um acento dramático desse contexto, mas dividir conosco por meio de
um campo muito próprio de seu trabalho – que abarca a irreverência e
o nonsense – a sua interpretação sobre o que acontece no mundo ou o
que está à nossa volta. Percebam que em alguns momentos um equilíbrio
precário é produzido, como no castelo de cartas com as fitas cassete ou na
armação pouco estável dos livros feitos em resina. Temos a sensação de
que em vários momentos tudo está por ruir, expandir, retrair, perder, cair ou
revelar-se por completo. A obra parece estar à espreita de um acontecimento,
isto é, na iminência da sua próxima transformação. 4 Há uma capacidade
inventiva de aliar materiais, histórias e formas diversas que separadas
seriam completamente antagônicas; mas, como um quebra-cabeça, essas
peças se adequam, partilham o mesmo terreno, encontram seus pares
e ganham sentido. Finalmente, se deslocássemos esses procedimentos
para uma visão política de mundo – e agora dissertando utopicamente
–, as diferenças sociais e políticas seriam mais bem equilibradas. This exhibition heralds a new phase in Barrão’s output. With a career spanning
over 30 years, the artist has taken music, digital media, home appliances,
and television language, to mention a few, as the material and subject matter
for his works. Mutating bodies or machines are characteristics that permeate
his work. From his early sound, performative, and kinetic installations to his
pottery pieces, first produced in the 2000s, in which he juxtaposes contrasting
pottery figurines, cutting them up and pasting them together to form
sculptural objects, the artist has investigated excess, strangeness, and lack not
just as themes, but as constitutive processes for these hybrid bodies created
from parts. 4 In this exhibition, color – so present in his earlier work – gives
way to a monochromatic hue, with the exception of the glass, which appears
here and there to cast a verdant tonality over the blanched landscape,
and two new materials are added into his repertoire: resin and plaster. It
is important to pay attention to this fact, because the work has taken on a
more sober feel, which ties in with our current moment. This statement makes
more sense if we think back to one of the former functions of this building,
when Dom Pedro I established it as a customs building in 1824, a function
it maintained for some 20 years, making it the port of entry for immigrants.
The artist has installed a stall (a makeshift shelter) and other “islands,” which
one way or another articulate different territories (a brick wall, totems, and the
zigzagging route marked out by small horses) inside the Casa França-Brasil
space. How can such diverse forms, desires, origins, and histories occupy the
same space? How can such differences be reconciled? And what is more, in
most of these objects, the omission or concealment of part of the objects is
the rule. 4 If at this moment in time we are witnessing the biggest post-war
wave of migration and watch impassively as its profound and saddening
consequences unfold, the artist in his way exposes the new geographical
and economic configurations that take shape when migration occurs. It is
eloquent how the subject – which, as Stuart Hall explains in “The Question
of Cultural Identity,” was “previously experienced as having a unified and
stable identity, is becoming fragmented; composed, not of a single, but of
several, sometimes contradictory or unresolved, identities” – can interact with
the forms of these works. They seem to be permanently incomplete, always
breaking up and creating new hybrid forms that are forever coming to an
end. Yet this sense of incomprehension and estrangement we feel when we
see them is quickly shrouded by the fact that fragmentation – an intrinsically
modern phenomenon – is what makes his objects so very human and of
this present time. 4 Interestingly, Barrão makes use of molds, and several
objects are reproduced more than once. Yet as part of his poetic, they always
appear in the world in different ways (some without paws, others without
legs, and others still with their body covered up, and so forth), so that objects
deriving from an industrial process, whose very premise is regularity, are
ambiguously imbued with a sense of particularity. 4 It is important to say
that Barrão has no interest in being seen as a “political artist” or exploiting
the dramatic overtones of this context; he shares with us through the very
particular field of his work – which borders on irreverence and nonsense – his
interpretation of what is happening in the world or what is all around us. There
is a sense that he sometimes produces a precarious equilibrium, as in the
castle of cards with cassette tapes or the rickety arrangement of books made
of resin. We get the feeling at different times that everything is on the verge of
ruination, expansion, retraction, loss, collapse, or revelation as complete. The
work seems to be on the lookout for something to happen – the immanence
of its next transformation. 4 There is an inventive capacity in allying
different materials, stories, and forms that, separately, would be completely
incompatible; but, like a jigsaw puzzle, these pieces fit together, share the
same terrain, find their counterparts, and make sense. Ultimately, if we were
to shift these procedures to a political world view – to take the argument to a
utopian plane – all social and political differences would be in better balance.
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