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EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: POSIBILIDADES DE
INTERVENÇÃO PELA VIA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO
Iguatemi Santos Rangel – UFES
RESUMO: O presente trabalho é fruto de pesquisas que vem sendo desenvolvidas,
articuladas à disciplina de Estágio Supervisionado de Educação Física na Educação
Infantil, e tem como objetivo compreender as possibilidades de construção de
saberes/fazeres docentes por meio da atividade de estágio curricular no curso de
licenciatura, trazendo como foco construir novas/outras formas de intervenção
pedagógica em instituições com crianças da Educação Infantil (CMEI). Utilizou-se
como aporte teórico metodológico a perspectiva crítico-reflexiva em processos de
formação e atividades de estágio, como proposto por Pimenta (2009). Também utilizouse de alguns princípios da pesquisa colaborativa, conforme proposições de Thiollent
(1994) e Kincheloe (1997). O campo de pesquisa constituiu-se de uma escola de
estágio, tendo como recorte da pesquisa os espaços/tempos da aula de educação física
na qual participamos com um grupo de 38 alunos da graduação em interação com as
professoras da escola. A análise dos relatórios de estágio, bem como os apontamentos
feito no diário de campo, mostram que as experiências de estágio são significadas de
diferentes modos pelos alunos, entretanto, existe uma unanimidade em relação a
importância de experienciar o cotidiano da escola durante o processo de formação
inicial. Destacam-se nas narrativas e anotações dos alunos, o valor dado à experiência
docente; estar na escola, ocupando os espaços tempos da rotina; suas percepções sobre a
constituição da docência com crianças pequenas. Os dados também sinalizam a
necessidade de aprofundamentos de trabalhos que efetuem uma maior aproximação das
disciplinas de estágio das escolas, e sobretudo, dos professores que atuam nessas
escolas com a Universidade.
Palavras Chave: Estágio, Docência, Educação Física, Educação Infantil
Introdução
A Educação Física (EF) compõe a grade curricular da Educação Infantil nas
instituições de educação infantil do município de Vitória/ES desde 2006. Ainda que
haja um movimento que procura estabelecer os pressupostos teórico-metodológicos da
EF na educação infantil, a sua inserção nas instituições de Educação Infantil justificouse, por argumentos que pautam a necessidade de garantir às professoras regentes o
planejamento de aula, tal qual acontece no Ensino Fundamental.
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Assim, presente a pouco tempo na Educação Infantil do município de
Vitória/ES, a Educação Física depara-se com uma série de contradições sobre sua
presença nesse espaço-tempo das instituições que atendem a crianças de 0 a 5 anos:
Qual seu lugar? O que ensinar? Qual a metodologia utilizar? Quais os conteúdos a
serem trabalhados? Quais as relações se estabelecem com os outros conteúdos? Esses
questionamentos se apresentam como pano de fundo do debate acadêmico sobre a área
da educação física, e consequentemente, tem reflexos nos processos de formação nos
cursos de graduação.
Mesmo com tantas incertezas é evidente que o trabalho pedagógico dos
profissionais da Educação Física acontece e cada vez mais se intensificam os debates
em torno da nossa especificidade no âmbito da Educação Infantil (AYOUB, 2001).
Assim, tem-se percebido um aumento na produção acerca da nossa especificidade com
os estudos de Sayão (1997; 1999; 2002), Ayoub (2001), que retratam experiências
com/na Educação Física, em Florianópolis; Debortolli e Borges (1997) e Debortolli
(2008), em Belo Horizonte; Andrade Filho (2004; 2007), em Vitória/ES, entre outros.
O cenário da Educação Física na Educação Infantil no município de Vitória/ES
não se diferencia muito de outros lugares, observa-se aulas tradicionais, de 50 minutos,
3 vezes por semana; aulas geminadas, com o intuito de oferecer à professora regente um
tempo maior de planejamento, aulas que não podem conflitar com a rotina das crianças,
aulas que não aconteçam em horários de entrada da criança, lanche, pátio, saída e/ou
almoço das crianças.
Muitos professores de Educação Física tentam romper com algumas
determinações impostas pelas instituições no momento de montagem dos horários de
aula, como as aulas geminadas que às vezes podem se tornar improdutivas,
considerando que o trabalho da Educação Física, pautado em práticas corporais pode ser
extenuante para crianças tão pequenas, ou mesmo, porque o professor de Educação
Física não pode receber as crianças na hora da entrada ou entregá-las na hora da saída.
Enfim, são situações que geram disputas, hierarquizações e muito mal estar dentro das
instituições de Educação Infantil, o que muitas vezes dificulta o fazer pedagógico “com
qualidade” do professor.
Ressalta-se que a proposta de trabalho do professor de Educação Física também
acontece de forma diferenciada dependendo do instituição que atua. Alguns professores
apostam no trabalho com as práticas corporais por temáticas, outros por projetos de
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trabalho, outros por jogos e brincadeiras. Vale ressaltar que independente da proposta
assumida as aulas de Educação Física, bem ou mal, acontecem oportunizando as
crianças a vivência de algum aspecto da cultura corporal de movimento.
É
nesse
cenário
de
conflitos,
dúvidas,
angústias,
conquistas,
que
problematizamos uma experiência de Estágio com alunos/estagiários do 4º período do
curso de Educação Física da Universidade Federal do Espírito Santo. Os
alunos/estagiários são supervisionados pelo professor da disciplina, que os acompanha
às escolas de estágio, para desenvolver atividades de observação, planejamento e
intervenção em uma instituição de Educação Infantil localizada dentro da Universidade
Federal do Espírito Santo.
Percurso metodológico
Para o desenvolvimento de nosso trabalho utilizamos os aporte teórico
metodológicos da perspectiva crítico-reflexiva em processos de formação e atividades
de estágio, como proposto por Pimenta (2004). Também utilizamos os princípios da
pesquisa colaborativa inspirada nas proposições de Thiollent (1994) e Kincheloe (1997),
entendendo que, nesse caso específico, não tem como se efetivar uma separação entre o
pesquisador (o professor da universidade + alunos acadêmicos) e o pesquisado
(professores da rede municipal + alunos da educação infantil).
Considerando que o estágio em si apresenta-se intimamente relacionado com a
prática profissional, o campo de investigação não pode se descolar das práticas de
acompanhamento, observação e intervenção no estágio. Nesse sentido, o campo se
constituiu de uma escola de estágio, o foco foi nos processos de interação
experienciados por 38 alunos matriculados na disciplina de Estágio de Educação Física
na Educação Infantil e as crianças em contexto de aulas de Educação Física. Utilizamos
como instrumento para coleta de dados a elaboração de relatórios de estágio, registros
fotográficos das aulas e os planejamentos das aulas, além da observação.
A Instituição de Educação Infantil: os sujeitos da experiência
A experiência de estágio aconteceu na Escola de Educação Infantil
CRIARTE/UFES que atende a crianças entre seis meses e cinco anos, no período
matutino e vespertino e envolveu diretamente os 38 alunos matriculados na disciplina
de estágio. Nesse espaço, no turno matutino, horário em que se deu a experiência de
estágio, trabalham cinco professoras regentes, cinco auxiliares de Educação Infantil,
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uma pedagoga, uma diretora, uma professora de expressão corporal e funcionárias
responsáveis pela alimentação, pelo serviço administrativo e limpeza.
O espaço físico é adequado, bastante estimulante, possui um pátio bem amplo
com árvores, grama e muitos equipamentos para as brincadeiras das crianças. A escola
possui cinco salas de aulas bem estruturadas, inclusive com solário em todas elas;
possui também uma sala para expressão corporal, uma biblioteca e uma sala de vídeo. O
refeitório é bem amplo.
Não existe um espaço destinado exclusivamente à disciplina educação física. Há
uma sala de expressão corporal (com espelhos, materiais acolchoados, fantasias,
brinquedos etc.), além de um amplo pátio com brinquedos diversos. Não existe
materiais especificamente de educação física.
A escola não conta com um professor específico responsável pelas aulas de
Educação Física, porém existe um espaço/tempo destinado ao que as professoras
chamam de expressão corporal (50 min. - 3 vezes por semana), no qual aconteceram as
aulas de Educação Física.
Possibilidades de intervenções com a Educação Física
Os alunos/estagiários tinham que apresentar um relatório contendo suas
impressões sobre a escola. Tendo como base esses relatórios, extraímos dois recortes
específicos para problematizarmos. O primeiro relacionado aos desafios do estágio
relatados pelos alunos e o segundo relacionado ao trabalho com os bebês nas aulas de
educação física. Os demais relatórios também serviram de referência para as nossas
análises, pois percebemos que os alunos, quando imersos nas atividades de estágio,
conseguem perceber dimensões do trabalho pedagógico que vão além das teorizações.
Ressaltamos que as experiências não têm um valor em si, e também que não têm a
pretensão de servir de modelo, mas contribuir para o saber/fazer dos professores de
Educação Física na Educação Infantil.
Principais desafios da atividade de estágio
Segundo Peres (2001) a docência é um estado inédito, e esse ineditismo tem
forte relação com a característica da atividade do professor, pois sua ação se materializa
na relação com o outro, ou seja, somos professores na confluência com os alunos. A
docência é também devir constante, um estado sempre a se constituir. Cumpre destacar
a crença de que a docência se configura como uma profissão que está sujeita
inevitavelmente à coletividade, ou seja, somos professores, sempre no plural, e nos
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tornamos professores no encontro com os outros (alunos, pais de alunos e colegas de
trabalho), o que nos remete a pensar a formação a partir de compartilhamento de
experiências.
Ao compartilhar suas impressões sobre os desafios da docência, os alunos
revelam essa incompletude por meio da expressão de medos, insegurança e instabilidade
as quais são lançados ao tentar aplicar/desenvolver os planos de aulas com as turmas, o
trecho a seguir demonstra isso:
Outra dificuldade foi ter o controle da turma quando as atividades
propostas não surtiram tanto interesse por parte dos alunos. Diante da
não sistematização de uma atividade nas aulas de expressão corporal,
quando tentamos criar um sistema para cada aula, prender a atenção
deles era uma grande tarefa\desafio. Mas percebemos que tem muito
mais relação com o interesse na atividade do que com a “tradição” do
que é expressão corporal, em duas aulas especificamente (bolas e
cordas) verificamos a excelente participação dos alunos.
Percebe-se no relato dos alunos que a docência está para além de um modo de
operar técnico. Ao fazer referência à “tradição”, subtende-se que os alunos tinham
levado para a aula suas representações do que era uma aula de expressão corporal,
entretanto a realidade com as crianças trouxe à tona outras possibilidades de saber e
fazer a aula. A atenção e o cuidado com os interesses dos alunos, ainda que a princípio
não configurasse um fato importante, a priori, para o planejamento dos alunos, na
prática significou o fator principal.
Outro aspecto importante que se destaca em relação aos desafios das atividades de
estágio é a natureza das aprendizagens docentes, muitos alunos reclamam que em certos
aspectos o estágio é frustrante, pois não conseguem aplicar as teorias que tem aprendido
durante o curso ou mesmo não conseguem se lembrar delas. Entretanto esse aparente
ceticismo pode estar revelando também contradições sobre o processo de formação
como pode ser percebido no seguinte trecho do relatório:
Neste dia as crianças estavam no pátio e muito agitadas. Por acaso
todas haviam chegado no horário. Tentamos algumas vezes chamá-las
para a sala de vídeo para começar nossa aula e até mesmo dar início
no pátio, mas não conseguimos. Então desistimos e as deixamos
livres. Apenas intervínhamos nas brincadeiras. Esse dia foi muito
desmotivante, porém nos fez pensar nas nossas ações. Neste dia mais
brincamos com eles do que assumimos o papel de professoras. Não
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registramos esse dia, apenas participamos de algumas brincadeiras
como balançar com eles, brincar de pique e de faz de conta. Algumas
colegas não acharam positivo, mas eu (Ayla) achei, pois isso
aproximou bastante as crianças da gente. (Relatório de Estágio,
2011/2 -Ayla, Livia, Bianca)
Esse relato revela os paradoxos e contradições do processo de formação do
professor, sobretudo a complexidade da atividade do estágio. Como professor, sempre
trabalhamos com os alunos/estagiários, nos encontros de problematização na
Universidade, a importância de conceber o espaço-tempo do estágio como campo de
aprendizagens docentes, e assim, não deveríamos tomar a prática pedagógica como a
aplicação de receitas prontas ou assumir expectativas de sucesso na aplicação dos
planos de aula, pois o mais importante é o processo de construção das intervenções e
não o resultado em si. Quando reclamavam que o planejamento que haviam feito não
tinha dado certo, problematizamos: mas o que significa dar certo? Que aprendizagens
podemos conquistar com essa experiência? Fazendo dessa forma fomos aos poucos
conseguindo mostrar para os alunos que a formação deles é um projeto que não se
resume à disciplina de estágio em si e que o estágio deve ser visto como “o eixo de
todas as disciplinas do curso, e não apenas daquelas erroneamente denominadas
“prática” [...] todas as disciplinas são teórico-práticas” (PIMENTA, 2004, p. 35).
Nos relatórios aparecem outros desafios apontados pelos alunos, como a
dificuldade de estruturar as intervenções em espiral crescente, de maneira que os
conteúdos fossem se desenvolvendo a partir de uma certa lógica; a pouca capacidade
que tinham de perceber os diferentes conteúdos aprendidos no curso na realidade da
escola; a existência de poucas referências para subsidiar o planejamento das aulas; a
dificuldade em fazer parte da rotina da escola, dentre outras.
Diante do que temos percebido em nossas atividades de estágio/formação de
professores os múltiplos saberes da docência se complementam, o saber pedagógico, o
saber das disciplinas, o saber da experiência.
O trabalho de Educação Física com os bebês
Segundo Barbosa (2010), pensar em um currículo para bebês suscita muitas
dúvidas sobre como propor esse currículo, mas não será certamente por meio de aulas,
de exposições verbais. Essa compreensão deve servir de balizador para redimensionar as
práticas nas instituições de atendimento a crianças pequenas. No caso específico do
estágio supervisionado de Educação Física, tivemos o cuidado de ajudar os alunos na
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compreensão da necessidade de assumir uma postura que os bebês experienciam seus
saberes com base nas interações, nas práticas sociais (BARBOSA, 2010).
Nos relatórios de estágio os alunos evidenciam a ansiedade em trabalhar com
crianças literalmente “infantes”, ou seja, que ainda não falam, e que tem pouca
competência motora para o andar.
Em relação às crianças menores, a questão da comunicação foi um
desafio muito grande. Não sabíamos como nos comunicar com
crianças tão pequenas que ainda nem sabem falar. Como saber se as
crianças estão gostando ou não das atividades? Que conteúdo
devemos trabalhar com crianças dessa idade? Que estratégias utilizar
para que as crianças participem? [...] Outro desafio foi a falta de
apropriação de conhecimentos relativos a técnicas de ensino na
educação infantil e conhecimento teórico e prático mais ampliado em
relação a infância, para saber lidar com situações ocorridas nas aulas
com às crianças (Relatório de Observação, 2001/2- Lais, Renan e
Erivelton)
Esse recorte do relatório revela dois aspectos relevantes no processo de
formação docente. O primeiro refere-se ao curso em si, as condições que os conteúdos e
metodologias são trabalhados e os significados que são atribuídos pelos alunos. De um
modo geral essa “queixa” aparece nos relatórios; os alunos sinalizam que lhes falta algo.
Esse déficit na formação pode não ser apenas sazonal, mas uma questão a ser
problematizada, pois se o curso não fornece os conhecimentos/metodologias
indispensáveis para lidar com as situações profissionais é preciso uma revisão nos
currículos de formação docente.
Um segundo aspecto que se destaca, intimamente atrelado ao primeiro,
relaciona-se com a especificidade da atuação do professor de educação física em
ambientes educacionais com crianças pequenas. Ainda que, no bojo das discussões nas
chamadas décadas da crise (1980 – 2000), muito se pesquisou e se propôs em termo de
metodologias de ensino de educação física para os diversos níveis de ensino, entretanto
a Educação Física na Educação Infantil não recebeu a devida atenção, ou seja, os
currículos dos cursos carecem de conhecimentos relacionados ao ensino de educação
física na educação infantil e conhecimento teórico e prático mais ampliado em relação a
infância.
Essa lacuna no processo de formação vem à tona no recorte de um relatório
sobre uma experiência de intervenção com crianças do grupo um, com a temática
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central “as brincadeiras cantadas”. Destaca-se desta experiência o cuidado que os
alunos tiveram de relatar com riqueza de detalhes as principais questões que se
apresentam na prática pedagógica.
Percebi que é necessário que brinquemos com elas (as crianças) e
muito vezes é preciso fazermos determinado movimento para que elas
façam. Por exemplo: colocamos um TNT forrando uma mesa, para
que virasse um túnel. As crianças só perceberam que podiam passar
por debaixo da mesa quando o estagiário Erivelton passou.
O aluno fala de sua percepção sobre o brinquedo da criança; sem demonstrar
conhecer que a imitação é uma característica dessa fase do desenvolvimento infantil. Na
sequencia, refletindo sobre a experiência, ele chega a essa compreensão.
Os alunos também destacam a importância da intervenção externa como
potencializadora dos processos didático-pedagógicos:
Ao final, o professor de estágio nos deu a idéia para que todas as
crianças ajudassem a guardar os brinquedos. Pegamos os obstáculos
menores e mais leves e demos na mão de cada um para que levassem.
Todos, sem exceção, ajudaram (Relatório de Estágio -Lais, Erivelton,
Renan).
Na parte final do relatório os alunos explicitam o processo de reflexão sobre a sua
própria prática (NÓVOA, 1992; CARVALHO, 2004 ).
Gostei muito dessa intervenção, mas logo após fiquei um pouco
desanimada. Conseguimos realizar todo o plano, mas a intervenção
não foi da maneira que idealizamos. Então percebi que é necessário
não criar expectativas quanto ao feedback das crianças, pois pode ser
surpreendente. Outra coisa que senti muita falta, mas em relação a
minha própria formação, foram ferramentas necessárias para trabalhar
com educação infantil, como músicas e brincadeiras, principalmente
músicas, pois percebi que é um recurso que as professoras usam
muito. Para tudo elas têm uma música, inclusive elas até criam, para
chamar as crianças para as atividades propostas. Depois da conversa
que o professor de estágio teve com a gente, nos mostrando os pontos
positivos, modifiquei meu olhar. Estamos aprendendo, em processo de
formação e esse é o momento certo para errarmos, perguntarmos,
pesquisarmos e aprimorarmos nossas intervenções.
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Essa experiência revela a necessidade que os alunos têm de vivenciarem
situações concretas nas quais são desafiados a confrontar os seus saberes das disciplinas
com os saberes docentes (saber da experiência). Esse confronto tem a potência de
estabelecer novos/outros saberes/fazeres. Na continuidade das intervenções com as
crianças pequenas ficou claro que puderam ampliar sua compreensão sobre diversas
maneiras de trabalhar com educação física na educação infantil.
Considerações finais
As experiências no estágio possibilitam uma multiplicidade de aprendizagens em
processos de formação docente, pois no desenvolvimento das aulas ao longo da
disciplina, pudemos perceber as dificuldades que os estagiários tinham para fazer o
planejamento das atividades e também nas intervenções na escola. Diante dos desafios
da docência, evidenciaram-se os princípios da colaboração e também da pesquisa da
própria prática. Após o desenvolvimento das aulas, sempre proporcionávamos um
momento em que os alunos que ministraram a aula podiam ouvir as observações das
professoras da escola, do professor de estágio e também dos colegas de turma nos
encontros de problematização na escola. Esses momentos mostraram-se ricos, pois os
alunos podiam ressignificar os conceitos aprendidos em outras disciplinas já
vivenciadas no curso, bem como podiam avaliar seu percurso de desenvolvimento
acadêmico.
Destaca-se nessa experiência as possibilidades que existem nos processos de
interação, articulação e negociação de sentidos presentes na aproximação da
Universidade com as escolas da educação básica, sobretudo quando os aportes teóricometodológicos estabelecem patamares propositivos que levam em consideração os
diferentes saberes/fazeres dos sujeitos envolvidos nas experiências. Nesse caso
específico o que se evidenciou é que as relações estabelecidas entre o professor de
estágio e os as professoras da escola puderam propiciar múltiplas experiências que
contribuíram sobremaneira com o processo de formação inicial.
Apesar das dúvidas e dos questionamentos que se apresentam no âmbito da
Educação Física, no que concerne ao trabalho com Educação Infantil, parece-nos
importante considerar que o professor de Educação Física é fundamental no processo de
ensino-aprendizagem das crianças pequenas. Cabe a nós promovermos situações
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intencionais de movimento, envolvendo a expressão das múltiplas linguagens da
infância, contribuindo para formação de uma criança autônoma e crítica. Nesse sentido
a educação física, quando bem trabalhada pode contribuir de maneira significativa.
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