III Mostra de Pesquisa
da Pós-Graduação
PUCRS
A ETNOMATEMÁTICA DA COMUNIDADE CAMPESTRE:
um estudo sobre os saberes matemáticos
Simone Nascimento dos Santos, Ana Maria Marques da Silva (orientador)
Programa da Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática, Faculdade de Física, PUCRS.
Resumo
Muitas pesquisas sobre a Etnomatemática têm apresentado o conhecimento
matemático construído e praticado no cotidiano por grupos sociais distintos. Esta pesquisa se
propõe a identificar o conhecimento matemático produzido na Comunidade Campestre,
localizada na cidade de São Leopoldo, RS, e a visão que seus membros têm quanto ao uso da
matemática em seu cotidiano. Para buscar estes elementos, far-se-á uso de entrevistas,
conversas informais com alunos e familiares, observações e análise dos dados, o que vai
possibilitar a caracterização da Comunidade Campestre quanto à forma como praticam e
desenvolvem os saberes matemáticos no seu dia-a-dia. A questão que permeia todo o processo
de investigação é: Como a Comunidade Campestre compreende, manifesta e pratica o saber
matemático no seu cotidiano? O trabalho será desenvolvido com alunos da 3o ano do Ensino
Fundamental e seus familiares.
Introdução
A Etnomatemática abrange o estudo do conhecimento matemático construído por
grupos sociais específicos (FERREIRA, 2002). Essa proposta aponta elementos que não são
abordados na sala de aula, que é um ambiente de grande diversidade cultural e um espaço
importantíssimo para a valorização do saber matemático de grupos, que costumam ser
considerados incapazes de produzir conhecimento.
As escolas tradicionalmente se organizam de modo a desenvolver os mesmos
conteúdos nas mesmas séries, indiferentes às necessidades e aos interesses de aprendizagem
dos alunos. Ao refletirmos sobre esse aspecto, podemos relacionar esse ensino da matemática
com características fortemente influenciadas pela cultura ocidental, identificada como uma
Etnomatemática Ocidental (D’AMBROSIO, 2002).
III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008
A prática da Etnomatemática já existe, mas o enfoque que atualmente lhe é dado
é mais direcionada para o estudo com pequenas comunidades ou grupos específicos como
indígenas, profissionais da construção civil, pescadores, entre outros.
Esta pesquisa se propõe a identificar os conhecimentos matemáticos produzidos
por membros da Comunidade Campestre, localizada na cidade de São Leopoldo, RS, e a visão
que eles têm quanto ao uso da matemática em seu cotidiano.
Metodologia
A pesquisa está sendo desenvolvida por meio de uma metodologia qualitativa
com uma abordagem antropológica cultural. Antropológica por descrever o comportamento
do homem e cultural, por buscar descrevê-lo em seu ambiente.
A pesquisa está voltada para alguns moradores do Parque Campestre, situado na
Zona Norte de São Leopoldo, RS, que mantém algum vínculo familiar ou de convívio com os
alunos do 3º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental General Mário Fonseca.
Neste projeto serão identificados os costumes, crenças e organização social deste
grupo, que possuem relações com a matemática formal e informal, por meio de entrevistas,
conversas informais com alunos e familiares, observações e análise dos dados.
A pesquisa pretende investigar a forma pela qual os alunos e seus familiares,
integrantes da Comunidade Campestre, desenvolvem e praticam a matemática e a percepção
que eles têm da presença da matemática em seu cotidiano. A pesquisa tem fornecido pistas
sobre o procedimento de produção de conhecimento, a edificação do processo cognitivo que
norteia e responde às necessidades diárias e como as crianças e seus familiares participam e
compreendem esse contexto de aprendizagem.
Acreditando que são necessárias a discussão e a compreensão da importância da
matemática para uma melhor atuação no mundo, a investigação procurará compreender a
forma pela qual as crianças e seus familiares participam e compreendem conhecimentos
matemáticos que permitem uma maior intervenção e convivência com a sua realidade.
Resultados e Discussão
Os levantamentos preliminares realizados até o momento, mostram que as
famílias que fazem parte do grupo pesquisado da Comunidade Campestre possuem
características comuns quanto a alguns aspectos como: o grau de escolaridade, número de
componentes familiares e a manifestação da preocupação com o estudo de seus filhos.
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Segundo o grupo pesquisado, seus pais muitas vezes não puderam lhes garantir a
sua permanência na escola devido à distância existente entre escola e a residência, o que
acabou por precipitar a saída do ambiente escolar. Diante da necessidade de auxiliar
financeiramente aos pais, passaram a trabalhar em tenra idade e não freqüentar a escola.
Charlot (2000) coloca que o fracasso escolar pode ser pensado como uma
diferença, entre alunos e entre estabelecimentos. A diferença de posições entre os alunos, está
presente na fala dos pais, quando revelam suas dificuldades de permanência na escola e a falta
de tempo para o auxílio dos pais, proveniente da necessidade de subsistência familiar. Estes
fatos certamente os colocavam em posições diferenciadas perante os colegas.
As famílias, em sua maioria, citam uma renda mensal entre R$300,00 a R$
800,00, sendo que as famílias que possuem a menor renda, são as mais numerosas. Apenas
duas famílias apresentaram uma renda mensal, superior a mil reais. Uma destas famílias tem
uma renda de R$ 1800, 00, apenas um filho, tendo a mãe o ensino fundamental completo e o
pai com ensino médio. A outra família é um pouco mais numerosa, pois conta com duas
crianças e um adolescente e os pais tem o Ensino Fundamental completo.
Conclusões
De uma análise preliminar da fala dos pais, pode-se identificar que o ensino
propiciado no ambiente escolar possui um forte vínculo com o futuro profissional das
crianças. Segundo os pais, estuda-se e compreende-se a Matemática, porque esta vai auxiliar
no trabalho futuramente Em concordância, todas as mães manifestaram que acreditam que a
matemática que é ensinada para seus filhos nas séries iniciais é útil para a vida, parecendo
mais necessária do que a matemática ensinada nas séries avançadas.
Os saberes matemáticos presentes no cotidiano da Comunidade Campestre estão
em processo de categorização, a partir das entrevistas já realizadas. Também estão sendo
desenvolvidas atividades lúdicas com as crianças de forma a evidenciar os conhecimentos
matemáticos presentes em seu cotidiano e nas relações familiares.
Referências
CHARLOT, Bernard. Da Relação com o Saber Elementos para uma Teoria. Porto Alegre: Artemed, 2000.
D’AMBROSIO, Ubiratan. Etnomatemática: Elo Entre Tradições e Modernidade. Belo Horizonte: Autêntica,
2002.
FERREIRA, Mariana Kawall Leal (org.). et al. Idéias Matemáticas de Povos Culturalmente Distintos. São
Paulo: Global,2002.
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