Fundação Oswaldo Cruz
Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública
Disciplina Estratégias de Investigação em Saúde, Trabalho e Ambiente
Seminário “Saúde e Trabalho em Saúde”
Gestão do trabalho e produção de saúde:
práticas de humanização no Instituto de
Pesquisa Clínica Evandro Chagas
Élida Azevedo Hennington
[email protected]
Introdução
• Esta pesquisa tem como base a Política
Nacional de Humanização (PNH, 2003)
que preconiza a construção de redes
cooperativas, solidárias e comprometidas
com a produção de saúde, estimulando o
protagonismo de sujeitos e coletivos e sua
co-responsabilidade nos processos de
gestão e atenção à saúde
HumanizaSUS e os trabalhadores
da saúde
• A PNH traz para o centro do debate a
necessidade de inclusão e valorização da
força de trabalho em saúde, ator
fundamental na implementação de
políticas públicas
• A política ressalta a preocupação com o
desenvolvimento e capacitação dos
trabalhadores e com o atendimento de
suas necessidades pessoais e de trabalho
O SUS e a gestão dos processos de
trabalho
• Persistência de um modelo fragmentado e
verticalizado dos processos de trabalho
• Cultura institucional
autoritária
centralizadora
e
• Fragilidade das relações entre os diferentes
profissionais com repercussões no trabalho
em equipe multiprofissional e interdisciplinar
Objetivo Geral:
• Analisar a gestão dos processos de
trabalho e o desenvolvimento de
práticas humanizadoras no âmbito
do IPEC, propondo intervenções que
potencializem o cumprimento de sua
missão
Objetivos específicos
• Verificar a implementação de ações
humanizadoras no âmbito do Instituto;
e
práticas
• Apreender a percepção de gestores e trabalhadores sobre a
gestão dos processos de trabalho e o modelo de atenção à
saúde;
• Conhecer necessidades, interesses e desejos de gestores e
trabalhadores referentes aos processos de gestão e produção
de saúde;
• Analisar processos de trabalho e a cultura institucional de
gestão destes processos;
• Construir propostas e fomentar ações
humanizadoras de forma participativa.
e
práticas
Aspectos éticos
• Termo
de
Consentimento
Livre
e
Esclarecido
• Autorização para Uso de Imagem
• Guarda do material produzido pelo período
de 5 anos
• Resultados apresentados e discutidos com os
participantes e junto à Direção do Instituto
• Divulgação de resultados para a comunidade
científica
• Projeto de pesquisa aprovado pelo
CEP/IPEC em 1º de agosto de 2007 (Parecer
033/2007)
Percurso metodológico
• Pesquisa qualitativa assentada nos
preceitos da PNH e que utiliza o
referencial da Ergologia de Schwartz para
refletir a respeito da gestão dos processos
de trabalho e do papel dos trabalhadores
na
construção
de
mudanças
na
organização de saúde a partir da análise
cultural e da gestão dos processos de
trabalho, na perspectiva da pesquisaintervenção
Categorias
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Humanização em saúde
Missão institucional
Gestão dos processos de trabalho
Atividade
Situação de trabalho
Trabalho imaterial
Trabalhador da saúde
Técnicas de pesquisa
• Levantamento documental
• Observação
• Diário de campo
• Entrevista em profundidade e/ou
Grupo-dispositivo
Ipec: lócus de pesquisa
• Origem: Hospital de Manguinhos (1918)
• 1941: Hospital Evandro Chagas
• 1986: início processo de reestruturação – pesquisa
clínica multiprofissional
• 1999: Centro de Pesquisa Hospital Evandro
Chagas
• 2002: Instituto de Pesquisa Clínica Evandro
Chagas
• Nº de trabalhadores: cerca de 730 trabalhadores
entre servidores públicos e terceirizados
Ipec: atividades desenvolvidas
• Pesquisas e ensaios clínicos
• Atividades assistenciais: hospital
referência em doenças infecciosas
de
• Ensino: pós-graduação stricto (mestrado e
doutorado) e lato sensu (especialização,
residência médica, aperfeiçoamento e
capacitação)
Estrutura organizacional (resumo)
• Direção
• Vice-direção de Ensino; Pesquisa Clínica
e Serviços de Referência; Gestão e
Desenvolvimento Institucional
• Departamento de Administração
• Centro Hospitalar: internação,
ambulatório, hospital-dia
• Laboratórios
Instituto de Pesquisa
Evandro Chagas
Clínica
• Visão: “ser reconhecido no âmbito nacional
e internacional pela sua excelência em
pesquisa clínica em doenças infecciosas”
• Missão: “contribuir para a melhoria das
condições de saúde da população brasileira
através de ações integradas de pesquisa
clínica,
desenvolvimento
tecnológico,
ensino e assistência de referência na área
de doenças infecciosas”
Diagnóstico preliminar
• Nº significativo de acidentes de trabalho com
material biológico e absenteísmo elevado
entre trabalhadores de enfermagem
• Queixas à Ouvidoria: falhas na oferta de
medicamentos, demora no atendimento
ambulatorial e na coleta de exames, mudanças
de
profissionais
responsáveis
pelo
atendimento,
reclamações
internas
(trabalhadores) sobre gestão do trabalho no
setor de enfermagem
Critérios para seleção de áreas /
setores:
• Motivação e adesão à proposta de
pesquisa
• Disponibilidade da equipe
• Impacto direto na atenção aos usuários
(atividades estratégicas; atividades-fim)
• Contexto político-administrativo
Referencial teórico-metodológico
• Abordagem ergológica de Yves Schwartz:
dispositivo de três pólos
Pólo das exigências éticas
e epistemológicas
Mundo do Trabalho
Pólo epistêmico
Pólo do(s) saber(es) dos
trabalhadores
O trabalho em saúde
 É um trabalho que produz serviços, objetos e
procedimentos, e produz também afetos e
relações, acentuando contradições num
cenário mercantilista – é bem público
 Este labor se mostra particular ao lidar com o
humano, capaz de originar sentimentos de
prazer e satisfação e também sofrimento e
desgaste
O trabalho em saúde
 Não é possível o total controle e uma
antecipação de todas as circunstâncias e
peculiaridades de um trabalho como a atenção
à saúde
 As "brechas das normas" colocam em
evidência que sempre haverá a possibilidade
da transgressão
 O trabalho em saúde é um universo de
microtransgressões: é um ambiente propício
ao questionamento do prescrito, do poder
O trabalho em saúde
 O trabalho em saúde, voltado para a
prestação
de
assistência,
pode
ser
caracterizado como “imaterial” ou “afetivo”
 A produção/reprodução de afetos inerente ao
processo de trabalho torna-se uma produção
biopolítica
 Trata-se de alicerce necessário para a
acumulação capitalista no contemporâneo
mas também possui o potencial para o
fomento de circuitos autônomos e libertadores
A ergologia e a gestão dos processos
de trabalho
• Schwartz considera que gerir o trabalho vivo
como hierarquização de atos e objetivos e
tomada de decisões baseadas em valores, torna
necessária
a
fuga
de
procedimentos
estereotipados e a abertura de espaço das
negociações dos usos de si – usos de si por
outros (das normas econômicas às instruções
operacionais, dimensionadas por instâncias
públicas ou privadas) e usos de si por si (o que
revela
compromissos
microgestionários,
articulados à experiência das situações de
trabalho), na esfera individual e coletiva
Trabalhador da saúde
 Como seres pensantes e deliberantes, os
trabalhadores da saúde arbitram e fazem
escolhas: é o uso de si – a eleição entre valores
diferentes e até contraditórios
 Toda produção no trabalho é ressingularizada;
é uma renormalização parcial em torno de si
 Deve-se conviver e apreender essa dinâmica na
organização das práticas e serviços de saúde,
nesse espaço de microtransgressões e de
rupturas
A humanização em saúde e a gestão
dos processos de trabalho
 A humanização perpassa pela inclusão do
trabalhador
da
saúde
num
processo
transformador, numa articulação entre os pólos
disciplinar, epistemológico e ético e dos sujeitos
 A gestão dos processos de trabalho faz pressupor
o conhecimento e a consideração não só das
questões macrossociais, políticas, econômicas,
mas também de saberes e fazeres produzidos e
legitimados no cotidiano dos trabalhadores e na
concretude de suas práticas nesses espaços
microtransgressores, fonte de criatividade e
também de resistência
A ergologia e o trabalho em saúde
 As lógicas de subordinação existem mas
jamais serão suficientes para aniquilar as
subversões normalizantes
 O trabalho em saúde deve ser analisado em
sua complexidade e reconhecido numa
perspectiva libertadora, no seu papel na vida
das pessoas e na defesa da vida
Toda pesquisa, uma aposta...
• Talvez a melhor forma de enfrentar a exploração do
trabalhador seja o resgate de poder dos próprios
trabalhadores sobre o seu processo de trabalho de
modo a atenuar os seus efeitos deletérios. É conhecer
o trabalho, as atividades, discutir sobre elas,
refletindo e agindo para mudanças. É tornar
possível a participação na tomada de decisões no
âmbito dos ambientes produtivos. É enfrentar
conflitos e buscar consensos no cotidiano,
integrando redes e assumindo responsabilidades e
compromissos com o coletivo. É preciso resgatar
fundamentalmente espaços de negociação que
propiciem a construção de laços de solidariedade
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Gestão do trabalho e produção de saúde: práticas de