Saúde por um fio
Conselho Federal de Fonoaudiologia alerta para
problemas que professores brasileiros sofrem.
A saúde dos professores encontra-se em “estado de alerta”.
Essa foi a conclusão da Pesquisa sobre Trabalho e Saúde dos
Professores da Rede Pública do Distrito Federal encomendada,
em 2008, pelo Sindicato dos Professores (Sinpro/DF) ao Laboratório de Psicodinâmica e Clínica do Trabalho da Universidade
de Brasília (UNB). O trabalho apontou ainda que um em cada
três docentes afirmou ter alguma doença ocupacional. Laringite e nódulos nas pregas vocais são os distúrbios mais comuns.
Na análise, os 1.456 professores puderam avaliar questões
relacionadas à organização, reconhecimento, comunicação,
danos e condições do ambiente de trabalho. Os danos físicos
– dores no corpo e distúrbios biológicos – foram apontados
por 33% de profissionais que afirmaram sofrer com doenças
ocupacionais. Desses, 13% com problemas de fenda e 15%
com calos nas pregas vocais.
Para a presidente do Conselho Federal de Fonoaudiologia
(CFFa), Tânia Coelho, a voz do professor é vulnerável ao tempo e ao uso inadequado e essas alterações não são
reconhecidas como doença do trabalho. “A falta de formação desses profissionais nos cuidados com a voz é prática
comum da classe que, ao longo dos anos, desenvolve um padrão vocal ruim, tanto para a saúde vocal como para
a transmissão de seus conhecimentos, ocasionando uma comunicação ineficaz com seus alunos”, completa.
Excessos – O volume de carga horária, de alunos por turma; a exposição à poeira e ao barulho dentro e fora da
sala de aula são algumas dos danos físicos e psicológicos responsáveis pelo surgimento da disfonia (alterações na
voz) entre os professores. Nesta situação, a voz produzida não é harmônica, é obtida com esforço e sem a possibilidade de variações de seus atributos.
“A voz é uma ferramenta de ensino, conhecimento, autoridade, mas também de afeto e faz parte do processo de
interação entre professor e aluno. Ela transmite sentimentos e dependendo do seu estado quebra o intercâmbio
entre as partes”, explica a fonoaudióloga Luciana Vianello, mestre em Saúde Pública pela Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG).
O esgotamento da voz passa por uma série de alterações que começa com esforço à emissão e depois evolui
para a dificuldade em mantê-la, variação na qualidade vocal, de frequência habitual, intensidade, cansaço ao falar
e pode chegar a falta de volume e projeção, perda da eficiência vocal e pouca resistência ao falar.
Luciana alerta para os cuidados ao menor sinal de mudança. Ela explica que é preciso procurar ajuda de
fonoaudiólogo para atendimento específico ao caso. “Durante o tratamento será possível fazer exercícios para reaprender a usar a voz, aumentar a resistência da laringe e estabelecer o padrão vocal ideal”,
esclarece.
Cuidados – Foi o que fez a professora de história Nilza Cristina diagnostica em 2006, com disfonia
funcional. Acometida por cansaço físico, falhas na voz e rouquidão, a docente buscou ajuda do fonoaudiólogo.
“Aprendi a trabalhar a respiração e a controlar a entonação. Na época do tratamento também fiz uso do
microfone”, conta. Nilza, que também é diretora colegiada do Sinpro/DF, defende a inclusão do fonoaudiólogo na equipe multidisciplinar das escolas. “Impossibilitados de falar, muitos professores ficam
emocionalmente vabalados. A orientação deles no dia a dia seria ideal para a manutenção da qualidade
de vida no ambiente de trabalho.”
O crescimento do número de professores doentes ou com algum tipo de distúrbio faz parte da realidade
brasileira. O Sinpro/RS realizou, em 2009, pesquisa semelhante com docentes da rede privada do estado,
Caxias do Sul e Ijuí. Foram tabuladas 1.680 respondas. Dentre elas, 49% dos entrevistados revelaram já
ter sofrido com a rouquidão ou perda da voz e 16% foram diagnosticados com algum problema vocal
(laringite, nódulos e inflamações). No Pará, o sindicato informou que cerca de 20 profissionais recorrem
mensalmente ao serviço médico da entidade por conta do mesmo problema.
“Nos dias de hoje diria que os maiores problemas estão relacionados à organização de trabalho que
acabam por levar os professores a ficarem primeiro “loucos” e depois “roucos”, afirma a fonoaudióloga
Léslie Piccolotto Ferreira. Segundo ela, que também é professora da PUC/SP, cada vez mais a pressão que
o professor recebe para dar o conteúdo, cobrar disciplina, avaliar, excesso de trabalho e a baixa remuneração levam o professor a ter problemas de voz.
Para Léslie, é preciso que as alterações vocais sejam reconhecidas pelo INSS como doenças ocupacionais. O desafio, segundo ela, é sensibilizar órgãos públicos responsáveis pela prevenção, assistência,
reabilitação, notificação e pagamento de benefícios ao trabalhador para que eles tomem decisões e
medidas importantes que modifiquem o quadro de adoecimento que existe hoje.
Mais informações:
Assessoria de imprensa do Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa), Erika Meneses, pelos telefones
61 – 8141 7229/7815 5066.
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