BOLETIM DO CRIADOURO CAMPO DAS CAVIÚNAS
Fevereiro de 2005 | nº 15
Redator: Dr. José Carlos Pereira
Rua Joaquim do Prado, 49. Cruzeiro/SP. Tel/Fax 0xx12 31443590
[email protected]
NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO | PARTE ESPECÍFICA
LIPÍDIOS, PROTÍDIOS E GLICÍDIOS
OS LIPÍDIOS (GORDURAS)
Os adipócitos (células adiposas ou células de gordura) fazem parte do tecido conjuntivo chamado
adiposo. Como a grande maioria das células, originam-se de células do mesênquima indiferenciadas.
Reproduzo o que foi escrito no boletim do Canil Campo das Caviúnas que esgota o assunto tecido
conjuntivo: “ O TC é um complexo funcional que une e nutre as células nos tecidos, armazena substâncias,
atua na defesa contra agentes estranhos, serve de local para diferenciações como o crescimento, a
regeneração e o envelhecimento, é base para a calcificação normal e patológica e é foco de ação hormonal.
Pode ser classificado em: a- TC embrionário, com duas variedades, o TC mesenquimal e o TC mucoso;
b- TC propriamente dito, composto pelo TC areolar ou frouxo, pelo TC denso com suas 4 subdivisões(TC
denso não uniforme, TC denso uniforme, subdividido em colágeno e elástico, TC reticular e TC adiposo) e cTC especializado (cartilagem, osso e sangue).”
Os adipócitos são células plenamente diferenciadas, portanto, não sofrem divisões. Na realidade há dois
tipos de tecido adiposo: 1- Células com somente uma gota grande de gordura, as chamadas uniloculares,
formam o tecido adiposo branco. Essas células são grandes, surgem ao microscópio com conformação
poliédrica e com o núcleo e o citoplasma deslocados para periferia, junto à membrana plasmática, o que,
dá à célula o aspecto conhecido pelos histologistas por anel de sinete (signet ring). Essa tradução fica meio
esquisita porque não há nos nossos dicionários o tal anel de sinete, mas não é difícil imaginar a figura de
um centro aparentemente vazio com um corpúsculo mais denso imprensado na periferia lembrando um
anel de solitário que tanto agrada às mulheres, sugestão mui amiga para o dia dos namorados... O seu
aparelho de Golgi (corpúsculo citoplasmático que sintetiza carboidratos, especialmente os polissacarídeos,
e ordena e modifica proteínas produzidas no retículo endoplasmático rugoso) é complexo, possuem
poucas mitocôndrias (organelas em forma de bastão, que produzem adenosina trifosfato (ATP), forma de
energia estocável para ser utilizada pela célula quando necessário), pouco retículo endoplasmático rugoso
(formado por túbulos interconectados e também uma máquina de fazer proteínas), mas são ricas em
ribossomos, verdadeiras interfaces para a produção de proteínas e 2- Células com diversas gotas de gordura,
multiloculares, menores e mais caracteristicamente poligonais do que as uniloculares, sem o deslocamento
periférico do núcleo, com número muito maior de mitocôndrias e menor de ribossomos; compõem o
tecido adiposo castanho.
Uma passadinha pelo metabolismo dos lipídios dará uma boa noção de como os adipócitos estocam
e liberam os lipídios. Na digestão as gorduras são quebradas no duodeno pela lípase pancreática em
ácidos graxos e glicerol, os quais, são absorvidos pelo epitélio intestinal e reesterificados no retículo
endoplasmático liso para compor novamente as triglicérides que são envoltos por proteínas formando
os quilomicrons (melhor explicando: os ácidos graxos de cadeia longa e os monogolicerídios entram
no retículo endoplasmático liso onde são reesterificados a triglicérides, os quais, são transportados até
o aparelho de Golgi onde se combinam com a beta lipoproteína produzida no retículo endoplasmático
rugoso, a qual, o envolve como uma capa, formando os quilomicrons, grandes gotas de lipoproteínas que
são eliminados na corrente linfática como parte do quilo). ). Os quilomicrons são liberados no espaço
extracelular e entram nos linfáticos indo para a corrente sangüínea onde também são encontrados a
lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL), produzida no fígado, e os ácidos graxos ligados à albumina.
Nos capilares do tecido adiposo a VLDL, os ácidos graxos e os quilomicrons sofrem a ação da lipoproteína
lípase, produzida pelos adipócitos, e são quebrados em ácidos graxos livres e glicerol. Os ácidos graxos
livres saem dos capilares para o tecido conjuntivo (tecido de junção entre as células) e difundem-se através
da membrana das células gordurosas (adipócitos), as quais, juntam o seu próprio fosfato de glicerol com
os ácidos graxos para voltar a formar triglicérides que são estocados como gotas de gordura até que
sejam mobilizados quando necessário. É aquela equação básica: desdobramento dos lipídios em partículas
menores para facilitar a absorção e o transporte e a sua reorganização em várias etapas, conforme as
necessidades, para produzir energia e carcaças para dar a forma e o funcionamento às diversas espécies
animais.
Os adipócitos são capazes, sob o efeito da insulina, hormônio secretado pelo pâncreas (eta ilhotas
de Langherans, o pâncreas endócrino do inesquecível período da faculdade de medicina na sempre linda
e maravilhosa cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro), de converter glicose e aminoácidos em ácidos
graxos, o que, tem papel fundamental nos períodos de estresses nutricionais por falta e nas disfunções
metabólicas como o diabetes melito. Dois outros hormônios, a norepinefrina (noradrenalina) e a
epinefrina (adrenalina), liberados nos períodos de estresses pela medula da glândula supra-renal, ligamse aos respectivos receptores da superfície dos adipócitos, ativam o adenilato ciclase para formar adenosina
monofosfato cíclico (cAMP), segundo mensageiro na ativação da lípase hormônio-sensível, a qual, cliva os
triglicerídeos em ácidos graxos e glicerol que são liberados na corrente sangüínea.
Nos humanos adultos até 7 litros de fluidos, 35 g de sódio, 0.5 kg de proteínas, 0.5 g carboidratos e
1 kg de gorduras são absorvidos por dia pelo intestino delgado. As células gordurosas são encontradas
em todo o corpo animal concentradas ao redor dos vasos ou acumuladas em massas formando o tecido
adiposo. Os lipídios podem ser estocados em outras células como as do fígado e, sem dúvidas, são as mais
eficientes entre as maneiras de estocagem de energia, bastando dizer que um grama deles produz o dobro de
ATPs do que o mesmo grama de glicogênio, a forma de estocar energia derivada dos açúcares.
As contrações rítmicas das células dos músculos lisos do interior das vilosidades intestinais atuam
como uma seringa injetando o quilo nos vasos linfáticos. Os ácidos graxos de cadeia curta (menos de 12
carbonos na fórmula) não entram no retículo endoplasmático liso para reesterificação, pois, por serem
solúveis na água, ganham diretamente a corrente sangüínea para chegar ao fígado e ser processados.
Os quilomicrons chegam ao fígado pelos ramos da artéria hepática e, dentro dos hepatócitos (células
hepáticas), são novamente transformados em ácidos graxos e glicerol. Os ácidos graxos são dessaturados
e usados para a síntese dos fosfolipídios, enquanto o colesterol é degradado em acetil-CoA (duas
moléculas da acetil Co_A combinam-se para formar o ácido acetoacético que é transformado no ácido
beta hidroxibutírico e acetona). Os ácidos acetoacético e betahidroxibutírico e a acetona são conhecidos
por corpos cetônicos, os quais, quando elevados no sangue, provocam a temida cetose, um dos tormentos
de muitas doenças com implicações metabólicas como o diabetes e a desnutrição intensa. E nós com a
cetose, devem estar pensando os passarinheiros. Pois é, amigos, por ter um metabolismo intenso,
bastam algumas horas de fome para o pássaro entrar em acidose e babau catirimbau como dizia
a minha avó. Os fosfolipídios, o colesterol e os corpos cetônicos são estocados nas células do fígado. O
fígado também fabrica a lipoproteína de muito baixa densidade, a VLDL, que é liberada como gotas de 30 a
100 nm (nanômetro, que é igual a 0.000000009 m) de diâmetro.
Lá por 1925 Bloor definia lipídio como “uma substância química relativamente insolúvel na água,
mas solúvel na maioria dos solventes orgânicos como o etanol, a acetona, o éter, o clorofórmio, o
benzeno e o metanol”. Até aí um pouco genérico, mas acrescentou “caraterizado por conter na
molécula um ácido graxo ou um éster (composto orgânico formado por combinação de um ácido
com um álcool, com perda de água), potencial ou real, ou um derivado de ácido graxo e poder ser
metabolizado pelas plantas e pelos animais”. Como os glicídios, os lipídios são compostas por carbono,
hidrogênio e oxigênio, mas em proporções diferentes.
Há várias classificações dos lipídios, mas, na prática, podemos dividi-los em visíveis, como os óleos,
a manteiga e o azeite que, por processos artesanais ou industriais, foram separados da substância que os
continha e invisíveis, quando não foram separados do alimento que os continha como as carnes, as nozes
e o leite e seus derivados. Uma masturbaçãozinha cultural inconseqüente: em 1974, o mundo dispunha
de 16.3 g/pessoa/dia de lipídios visíveis derivados dos vegetais e 8.6 g/pessoa/dia de lipídios visíveis de
origem animal; desses, o pessoal dos países ricos dispunha de 30.5% g/pessoa/dia dos lipídios vegetais
e 23g/pessoa/dia dos animais e nós, a patuléia terceiromundista, 10.7g/pessoa/dia dos lipídios visíveis
vegetais e apenas 2.9g/pessoa/dia dos de origem animal. Dos lipídios invisíveis vegetais, os ricaços
ficavam com 9.8g/pessoa/dia e nós 11g/pessoa/dia e dos animais eles com 62.8g/pessoa/dia e nós com
míseros 10.9g/pessoa/dia. Portanto, eles papavam 126.1g/pessoa/dia dos lipídios e nós ficávamos com
35.5g/pessoa/dia. Como pouco mudou na distribuição de renda, a situação atual não deve ser muito
diferente. A nossa forra? Menor probabilidade de infartos do miocárdio. E daí, deve estar perguntando
o Taddei, o que os nossos canários-da-terra têm com isso? Nada, porque as nossas aves comem
as suas sementinhas com os seus conteúdos lipídicos variados e, em lipídios invisíveis de origem
vegetal, nós ganhamos de 11 a 9.8 do G7. E as necessidade de lipídios dos pássaros no período de
manutenção, 4% da dieta, podem perfeitamente ser supridas por dieta variada e bem balanceada
de sementes e, com maior segurança, com o uso dos extrusados e farinhadas de qualidade. Para
alguns autores, o problema dos lipídios na mistura de sementes não é a insuficiência, mas o
excesso. Além da obesidade com todas as suas conseqüências (cardio e arteriopatias, dificuldades
para a galadura, maior probabilidade do desenvolvimento de diabetes, etc), as sementes oleosas,
como a colza, a semente de girassol e a linhaça, quando usadas em excesso, podem levar mais
rapidamente à saciedade por seu alto conteúdo calórico e maior tempo de esvaziamento gástrico
propiciando o consumo menor do que o necessário de outros nutrientes como as proteínas. Um
macete usado por alguns criadores é usar sementes oleosas germinadas, as quais, têm o conteúdo
lipídico diminuído e aumentado o de algumas vitaminas.
Os lipídios exercem várias funções no organismo, algumas essenciais para a vida:
1-Fornecimento dos ácidos graxos essenciais linoleico e alfa linolênico;
2-Veículo das vitaminas lipossolúveis A,D,E e K;
3-São o combustível por excelência, fornecendo cada grama de lipídios praticamente o dobro (9 kcal/
g) de calorias do que cada grama de proteína ou de carboidratos (3.9 a 4.5 kcal/g segundo vários autores).
Constituem a forma de estocar energia dos animais, tão importante como os glicídios das plantas;
4-Sendo fornecidos em quantidade suficiente, evitam a queima das proteínas para o fornecimento
calórico;
5-Por ser metabolicamente ricos em calorias e um esvaziamento lento do estômago, provocam a
saciedade e retardam a sensação de fome;
6-Atuam no controle do nível de lipídios, como o colesterol, no sangue;
7-Como fosfolipídios, glicolipídios, colesterol e lipoproteínas participam da composição das
membranas celulares, dos hormônios, das enzimas, etc;
8-Contêm a maioria das substâncias que dão sabor, aroma e textura aos alimentos, qualidades básicas
para a aceitabilidade dos mesmos. Ah, aquela gordurinha da picanha! devem estar pensando os amigos
amantes das carnes. Já notaram como a maioria dos pássaros gosta mais das semente com maior
conteúdo lipídico e da gordurinha das minhocas e dos tenébrios?;
9-Veiculam e facilitam a eliminação de substâncias nocivas, como pesticidas, que são solúveis neles.
Os ácidos graxos são ácidos carboxílicos (COOH) geralmente com cadeias lineares, longas e um
número par de átomos de carbono, encontrados, combinados, em óleos, gorduras e outros lipídios. Os
ácidos graxos (AG) podem ter cadeia curta (até oito átomos de carbono), cadeia média e cadeia longa. Se
não tiverem duplas ligações na cadeia carbônica são chamados saturados, os quais, são sólidos à temperatura
ambiente e têm ponto de fusão alto, o que, dificulta o metabolismo, como o capróico, o mirístico, o
palmítico e o butírico. Se os AGs tiverem uma ou mais duplas ligações na cadeia carbônica são chamados
de insaturados, os quais, têm ponto de fusão mais baixo e tendência à consistência líquida. A não ser na
gordura corporal dos marsupiais e ruminantes, a maioria dos AG encontrados na Natureza estão na forma
cis (não sofre a rotação na dupla ligação) que é instável, o que, facilita a metabolização. Exemplos de AG
insaturados são o linoleico, o alfa linolênico, o gama linolênico, o araquidônico e o oleico. É interessante
conhecer a fórmula abreviada de alguns AG: o oleico é o 18:1, n-9 (tem dezoito átomos de carbono,
uma dupla ligação colocada no nono carbono contado a partir da extremidade metílica da fórmula e cujo
carbono chama-se ômega), o linoleico é o 18:2,n-6 (18 átomos de carbono, duas duplas ligações, sendo a
primeira localizada no sexto carbono a partir da extremidade metílica. Como é o sexto carbono a partir
do carbono ômega é conhecido como AG ômega 6), o alfa linolênico é o 18:3, n-3 (dezoito átomos de
carbono, três duplas ligações, sendo a primeira localizada no terceiro carbono a partir da extremidade
metílica ou do carbono ômega. É o conhecido AG ômega 3) e o aracdônico é o 20:4, n-6 (vinte carbonos,
4 duplas ligações com a primeira no sexto carbono a partir do carbono ômega). Portanto, quando se fala
em ômega 3 refere-se ao ácido graxo alfa linolênico e ômega 6 ao ácido graxo linoleico que, por serem
importantes para a manutenção da saúde, dão um certo status ao alimento e justificam o gasto de mais
algum dinheirinho. O organismo não é capaz de colocar duplas ligações nas posições 3 e 6, o que,
torna esses dois ácidos graxos essenciais e devem ser fornecidos pela dieta.
Embora fuja um pouco do assunto, não poderia deixar de mostrar a importância do ácido aracdônico
no processo inflamatório, caracterizado pelo calor, vermelhidão, tumor e dor induzidos por um agente
agressor endógeno ou exógeno (como as infecções. Portanto, inflamação é uma coisa e infecção outra.
Toda infecção por um agente agressor como bactérias e vírus leva a uma reação inflamatória, mas nem toda
inflamação sugere a participação de bactérias ou vírus. Inflamação é um processo reacional de defesa do
organismo podendo ser produzida também por agentes químicos, físicos e alérgicos. Usar antibióticos
num processo meramente inflamatório não é incomum entre os passarinheiros e também entre os
seres humanos de maneira geral para não ser injusto com a nossa mui digna classe).
Por sua importância prática, a fisiopatologia do processo inflamatório deve ser conhecida. A base do
processo inflamatório é a metabolização do ácido aracdônico (AA). Duas enzimas atuam na metabolização
do AA: a- A lipo-oxigenase, que metaboliza o AA produzindo leucotrienos, substâncias que aumentam os
processos vasculares ocorridos nas inflamações e ajudam na quimiotaxia (capacidade de algumas células de
serem atraídas, quimiotaxia positiva, ou repelidas, quimiotaxia negativa, por outras células ou substâncias
que exercem sobre elas influência química. Nas inflamações, os leucotrienos atraem as células de defesa do
sangue para o local das inflamações) e b- A ciclo-oxigenase ou COX. Até 1993 era conhecida somente uma
COX. Atualmente, graças principalmente a John Vane, em cuja equipe colaborava o prof. Sérgio Ferreira, da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, e a Neddlemam, sabe-se que existem a COX1, a COX2 e, muito
provavelmente, a COX3 localizada no sistema nervoso central. A COX1, chamada de COX boa, encontrada
em quase todas as células do organismo, atua na metabolização do AA até tromboxano A2, prostaglandina
I2(PGI2) e protaglandina E2(PGE2) que estão envolvidos em processos normais do equilíbrio do
funcionamento do organismo, principalmente no estômago, nas plaquetas, nos rins e no intestino; a sua
inibição, por exemplo, é a responsável pelos efeitos colaterais, como o sangramento digestivo, provocados
pelos antiinflamatórios ditos não hormonais. E já vi muita gente, não profissionais qualificados
da área, “receitando” pomadas contendo esses antiinflamatórios para inchaços de juntas e
calosidades dos pés dos pássaros. Pobres aves que não falam para poder mandar fazer uso melhor
dessas receitas... A COX2, produzida no citoplasma celular, metaboliza o AA até proteases (enzimas que
atuam na quebra das cadeias proteicas), prostaglandinas e outros mediadores inflamatórios que têm atuação
marcante nos processos inflamatórios. Hoje, há no mercado antiinflamatórios não hormonais com ação
marcadamente na COX2, deixando em paz a COX boa, mas, mesmo esses, devem ser usados com receitas
de profissionais responsáveis observando as devidas cautelas.
A essencialidade do nutriente, como já foi visto no boletim anterior, é vital para a boa nutrição. Dizse que o nutriente é essencial quando o organismo não o consegue sintetizar e, portanto, necessita ser
fornecido pela dieta. Em 1930, G. O. e M.M. Burr publicaram o trabalho On nature and role of fatty
acids essential in nutrition, mostrando que os ácidos graxos linoleico, gama linolênico e araquidônico eram
essenciais para todos os mamíferos pequenos e também para o homem e deveriam ser fornecidos pela
dieta. No correr dos anos ficou demonstrado que isso não era totalmente verdadeiro, pois, os mamíferos
são capazes de sintetizar o ácido aracdônico a partir do linoleico tendo como produto intermediário o
gama linolênico. Assim, na bucha, somente o ácido linoleico e o alfa linolênico são essenciais. Nos
tecidos dos passarinhos, os principais AG encontrados são o oleico, o palmítico e o linoleico.
Calcula-se que os pássaros necessitem 1 a 1.5% da dieta como ácido linoleico, o que, pode ser
perfeitamente conseguido com dieta de sementes variadas ou com o uso de bons extrusados ou de
boas farinhadas.
Na prática, para nós passarinheiros ou projetos deles como eu, onde estão os ácidos graxos
insaturados, grupo a que pertencem os dois AG essenciais? Vamos nos ater aos nutrientes que usamos
normalmente nas dietas dos pássaros. A colza, a semente de girassol e a soja são ricas. O óleo de girassol
é composto por 21% de monoinsaturados, 67% de poliinsaturados (a maioria de linoleico) e somente
12% de saturados.. Nos lipídios do óleo de soja temos poucos 8% de saturados, 21 de monoinsaturados
e 61 poliinsaturados (60% dos lipídios formados por ácido linoleico) e o óleo de colza tem mínimos 4%
de ácidos graxos saturados, 29 de monoinsaturados e 67% de poliinsaturados. A gema de ovo tem 29.2 a
34.6% de lipídios, sendo 32% saturados, 47% monoinsaturados e 21% poliinsaturados. O amendoim possui
46.7% de lipídios, sendo 23% ácidos graxos saturados, 46% monoinsaturados e 31% poliinsaturados. No
óleo de milho 60% dos lipídios são ácido linoleico e no de açafrão chega a 75%. O leite de vaca integral
possui 3.2 a 3.8% de lipídios, sendo 59% de AG saturados, 35% monoinsaturados e 6% poliinsaturados
(como fonte de lipídios essenciais o leite perde para as sementes pela pouca quantidade de AG insaturados.
O alpiste, por exemplo, apresenta 84% dos seus lipídios como AG insaturados. Como a proteína do leite é,
juntamente com a da gema do ovo, as únicas de uma dieta comum que contêm os 9 aminoácidos essenciais,
é perfeitamente explicável tecnicamente algumas farinhadas conterem o leite desnatado nas suas fórmulas,
pois, descartam os lipídios indesejáveis e aproveitam proteínas de altos valores biológicos). O milho,
também muito usado como quirera, fubá ou fubá grosso e em algumas farinhadas e extrusados, possui de
0.4 a 17% de lipídios, sendo que dos ácidos graxos totais 35 a 66% são linoleico e 3% alfa linolênico. O
painço tem 2.8 a 8g lipídios por 100 g de grãos, sendo que dos AG 38 a 66% são constituídos por linoleico
e 2 a 10% por alfa linolênico. A aveia tem 2.8 a 11.6 g de lipídios em 100 g do cereal, sendo linoleico 31 a
48% e alfa linolênico menos de 5% dos AG.
Há uma grande quantidade de lipídios assim classificados (com pequenas modificações do Nutrição, de
Helen Mitchel e outros):
a. Lipídios simples
a1-Triglicerídeos (ésteres do glicerol com três ácidos graxos, geralmente a mistura de dois ou três ou,
mais raramente, três AG iguais. Veja só, como na loteria, quantas possibilidades: somente a gordura do leite
de vaca tem por volta de 120000 triglicerídeos diferentes) e a2- Ésteres de álcoois de alto peso molecular e
ácidos graxos, como os de ésteres de colesterol, de vitaminas A e D e as ceras;
b. Lipídios compostos
b1- Fosfolipídios (lipídios contendo fósforo presentes nas membranas celulares, no sistema de
transporte de gorduras, nos sistemas enzimáticos e também são fontes de energia), como as lecitinas
As lecitinas constituem a maioria dos fosfolipídios dos alimentos. Por serem emulsificantes são usadas
como solubilizadoras e estabilizadoras e são obtidas comercialmente a partir da gema de ovo e da soja.
Muito usadas na fabricação de queijos e margarinas. A colina faz parte da molécula da lecitina e, com a
metionina, são usadas para desintoxicar e proteger o fígado (?), o que, hoje, sabe-se ser balela para boi
dormir. Portanto, se quer proteger o seu fígado e o dos seus pássaros, evite grande consumo de álcool e o
uso de medicamentos hepatotóxicos sem a orientação de quem de direito; b2- Esfingomielinas e cefalinas
(presentes na maioria dos tecidos, sendo as esfingomielinas principalmente encontradas no tecido nervoso
como constituintes da mielina); b3- Glicolipídios (lipídios contendo açúcares), como os gangliosídios e os
cerebrosídios e b4- Sulfolipídios (contendo enxofre); b4- Lipoproteínas (como os famosos HDL, VLDL,
HDL e IDL colesterol dos exames para ver como anda o colesterol dos amigos. Sabe aqueles exames que
damos uma olhadinha antes de levar ao médico? É um deles) e b5- Lipopolissacarídios;
c. Lipídios derivados
c1-Ácidos graxos; c2- álcoois de alto peso molecular ; c3- Glicerol c4- Mono e diglicerídios; c4Esteróis (colesterol, ácidos biliares, ergosterol, encontrado nas plantas e é uma das provitaminas D, e os
hormônios esteróides). O colesterol á um álcool sintetizado pelo fígado tendo como catalizador uma
enzima controladora da velocidade, a 3-hidroxy-3methylglutaryl coenzima A (HMG-CoA redutase).
Existe tanto na forma livre como combinado com ácidos graxos formando os ésteres do colesterol. Há
uma enzima no plasma e no fígado, a lecitina-colesterol aciltransferase (LCAT) que atua na conversão do
colesterol livre para a forma esterificada. Como há trocas de colesterol livre entre os tecidos, alterações no
colesterol plasmático refletem alterações no colesterol total do corpo; c5- Vitaminas lipossolúveis (A, D,
E e K) e c6- Hidrocarbonetos (carotenóides, hidrocarbonetos alifáticos e o esqualeno). Não me venham
perguntar pelos óleos lubrificantes e óleo mineral, derivados do petróleo que não contêm oxigênio e, pelo
que eu saiba, não são comestíveis.
Os lipídios (gorduras) são ingeridos como triaglicerol (triglicerídeo), ésteres do colesterol, colesterol
livre e fosfolipídios. Seria bom conhecermos o princípio do movimento de rotação elaborado por um
camarada chamado Schoenheimer: para o aproveitamento pelo organismo as proteínas, os lipídios e os
carboidratos devem sofrer uma constate degradação seguida de novas sínteses de moléculas complexas
que tornam a ingressar no ciclo metabólico. No estômago, a lipase gástrica (tudo que termina em “ase” em
medicina geralmente indica uma enzima. As enzimas são fermentos que catalisam as reações químicas, isso
é, modificam a velocidade de uma reação química sem sofrerem alterações durante o processo) degrada os
triacilgliceróis dando origem a diacilgliceróis e ácidos graxos livres que são absorvidos direto via veia porta
e chegam ao fígado. É o mesmo caminho seguido pelos ácidos graxos livres de cadeias médias e curtas.
As gorduras que chegam ao intestino são emulsionadas pela bile secretada pelo fígado (a bile é composta
por sais e ácidos biliares, mucina e pigmentos, colesterol, glicerofosfolipídios, ácidos graxos esterificados
e não esterificados), ou seja, são transformadas em gotículas suspensas em meio aquoso para facilitar a
ação de enzimas como a lipase pancreática (desdobra os triacilgliceróis) e a fosfolipase A2 que atua sobre o
glicerofosfolipídios dando origem ao lisofosfolipídio que também age como detergente. Ainda no intestino,
uma fosfolipase metaboliza os fosfolipídios liberando glicerol, ácidos graxos, ácido fosfórico e bases como
a colina. Já os ésteres do colesterol sofrem a ação de uma hidrolase dando origem ao colesterol livre. Nos
pássaros, os ácidos oleico e linoleico são os mais eficientemente absorvidos por formarem rapidamente
micelas (substância coloidal cercada por íons) com os sais biliares. Assim, restam dos lipídios absorvidos
os ácidos graxos livres, os monoacilgliceróis, o glicerol, o colesterol não esterificado e os lisofosfolipídios
que, somente então, penetram na célula da parede intestinal (enterocito). No interior do enterocito, mais
precisamente no sistema reticuloendoplasmático, os ácidos graxos livres e o glicerol voltam a formar os
triglicerídeos, os lisofosfolipídios e grande parte do colesterol é usada para regenerar os fosfolipídios
e os ésteres do colesterol; a grande maioria dos lipídios regenerados dá origem aos quilomicrons. As
lipoproteínas são complexos formados por grandes moléculas que transportam lipídios hidrofóbicos
(repelem a água),como o colesterol e os triglicerídeos, através do plasma sangüíneo. Possuem um núcleo
formado por diversos lipídios envoltos por proteínas chamadas apolipoproteínas, classificadas de A a
E, cada uma com os seus sub-grupos, que dão estabilidade às partículas esféricas das lipoproteínas. São
lipoproteínas a VLDL (very low density lipoprotein), a IDL (intermediate density lipoprotein), a LDL (low
density lipoprotein), as três contendo apoB-100, a HDL (high density lipoprotein), a lipoproteina A(Lp(a),
contendo apoA-I, os quilomicrons e os restos dos quilomicrons. A Apo B100 é a principal apoliproteína
da VLDL, da IDL, e da LDL. A Apo B48 é essencial para a geração e a secreção dos quilomicrons. A LDL
responde normalmente por dois terços do conteúdo de colesterol do plasma.
Os lipídios não polares das lipoproteínas, como os triglicerídeos e os ésteres do colesterol, insolúveis
no meio aquoso, estão contidos no centro hidrofóbico e os fosfolipídios e o colesterol livre, lipídios mais
polares, solúveis nos lipídios e na água (anfipáticos), estão na superfície (formando uma interface entre os
lipídios e o meio aquoso circundante) junto com as apolipoproteínas que são também anfipáticas.
A ação do HDL, o colesterol bom, é ceder apoliproteínas às demais lipoproteínas melhorando os
seus desempenhos no transporte e na retirada do colesterol dos tecidos para a transformação em ésteres
do colesterol. A HDL somente possui apolipoproteína A-I, característica que, para alguns estudiosos, lhe
confere o efeito protetor. Como nos bang-bangs (lembram-se do Hopaloong Cassidy? E o Roy Rogers,
então!), estamos diante do mocinho e do bandido, o colesterol bom contra o colesterol mau. O problema é
que aqui nem sempre o mocinho ganha, meu!
Mais da metade das doenças cardiovasculares é devida a alterações do metabolismo dos lipídios
plasmáticos e das lipoproteínas. Passarinho não tem infarto? Qualquer passarinheiro já presenciou, ou ouviu
falar de pássaros, geralmente obesos, que, diante de um estresse, caem duros no fundo da gaiola.
O transporte dos lipídios tem muito importância pelos seus aspectos fisiopatológicos. Nos humanos
adultos são transportados de 70 a 150 g diários de triglicérides endógenos e exógenos de diversas maneiras:
a- Transporte dos lipídios exógenos (alimentares)
Nos povos ocidentais, geralmente consumidores de muita gordura, esse transporte é praticamente
contínuo. Os quilomicrons são gotas de gordura contendo de 80 a quase 100% de gordura que forma o
seu núcleo, o qual, está envolto por uma capa de fosfolipídios, colesterol livre e apolipoproteínas (B48, AI,
AII e AIV). Da mucosa intestinal os quilomicrons ganham a via linfática e daí a circulação sangüínea geral
onde recebem apoproteinas C que regulam a hidrólise dos triglicerídeos e ApoE. Portanto, o quilomicrom
é uma unidade metabólica ativa que permite aos triglicerídeos da dieta chegarem ao tecido gorduroso e aos
músculos sob forma de ácidos graxos; o colesterol da dieta é liberado para o fígado onde pode ser usado na
composição da bile, incorporado às membranas celulares, re-secretado como lipoproteína colesterol para
a circulação ou excretado, como colesterol, pela bile. Qualquer alteração do transporte ou do metabolismo
dos quilomicrons pode determinar aterosclerose e hiperlipidemia pós-prandial, fator importante na gênese
das doenças cardiovasculares. Os quilomicrons e os seus restos são removidos da circulação por células das
paredes dos vasos, como os macrófagos derivados dos monócitos, os quais, acumulando muitos ésteres do
colesterol dão origem às células de espuma, a lesão celular inicial da placa aterosclerótica.
b- Transporte dos lipídios endógenos
Leva os lipídios do fígado para os tecidos periféricos e deles de volta para o fígado. É formado por dois
sistemas: b1- O sistema da apo B100 lipoproteína. Os triglicerídeos encontrados no fígado são sintetizados
usando ácidos graxos tirados do plasma ou sintetizados no próprio fígado. O colesterol também pode
ser sintetizado pelo fígado ou chegar a ele pelos restos dos quilomicrons. Esses dois lipídios, juntamente
com a apo B100 e os fosfolipídios, formam o coração da VLDL (very low density lipoprotein, ou proteína
de densidade muito baixa) que, do fígado, chega ao plasma onde recebe as apos CI, CII e CIII e a E. Os
triglicerídeos chegam a representar até 80% do peso da VLDL. VLDL muito ricas em triglicerídeos surgem
nos diabéticos, nos alcoólatras e nos obesos. No plasma as VLDL sofrem a ação de uma enzima chamada
lipoproteína lipase que hidrolisa os triglicerídeos tornando as suas partículas muito pequenas e mais densas
dando origem às lipoproteínas de densidade intermediária (IDL), das quais, uma parte é captada pelos
receptores da membrana da célula hepática e outra parte é convertida em lipoproteína de baixa densidade
(LDL). Muitas lipoproteínas lipases circulantes estão associadas com a LDL, o chamado colesterol mau.
A insulina, hormônio produzido pelo pâncreas, estimula a síntese e a secreção da lipoproteína lipase,
sendo que a reduzida atividade dessa enzima é um dos fatores do acúmulo de triglicerídeos observado nos
diabéticos. E há aves diabéticas, amigos. Uma outra enzima, a triglicerídeo lipase hepática, da mesma família
da LPL e da lipase pancreática, é sintetizada no fígado e tem atividades importantes como a conversão de
VLDL em LDL e a remoção de restos de quilomicrons. A lecitina:colesterol acil transferase é outra enzima
sintetizada pelo fígado e que tem ação importante no metabolismo lipídico por sua grande afinidade pelo
HDL. Vejam a complexidade do metabolismo lipídico determinado pelo fígado e entenderão porque não
é crível que um medicamento lipotrófico (os famosos protetores hepáticos) qualquer possa levar a curas
incríveis como as que estamos cansados de ouvir falar. Volto a afirmar: guardem os seus dinheirinhos, tão
difíceis de se ganhar...
Embora o papel da VLDL na arteriosclerose seja ainda incerto, os aumentos no plasma da LDL,
do colesterol e/ou da apo B100 são fatores de risco importantes. Também para os pássaros valem os
conceitos de se evitar dietas hipercalóricas e o sedentarismo determinado por espaços pequenos para os
exercícios volatórios. O Noel, filósofo passarinheiro do Pé-do-Morro, Passa Quatro, MG, diz que obesidade
em pássaros é mais difícil de ser corrigida do que a encontrada nos humanos. E não deixa de ter razão.
Portanto, amigos, evitem a obesidade dos seus pássaros e, conselho dos melhores, em vocês próprios
e b2- Sistema da apo AI lipoproteína. Tem tudo a ver com a HDL (lipoproteína de alta densidade), o
colesterol bom, um dos agentes protetores contra as doenças cardiovasculares. Ao contrário da VLDL e dos
quilomicrons que são secretados na circulação como partículas maduras, a HDL é secretada pelo fígado e
pelo intestino delgado como partículas nascentes compostas primariamente por fosfolipídios e proteínas.
As partículas de HDL aceitam o colesterol da VLDL e da LDL, assim como dos tecidos; esse colesterol
é esterificado pela reação lecitina:colesterol acyltransferase. Parte desse colesterol volta a compor a LDL
e a VLDL. O transporte invertido do colesterol da periferia, inclusive das células de gordura chamadas
células espumosas, para o fígado parece ser o processo principal da atuação anti-aterosclerótica das HDL.
Do fígado o colesterol é excretado pela bile. Quando o centro dos triglicerídeos ricos em lipoproteínas,
como a VLDL e os quilomicrons, são hidrolisados via lipoproteína lipase há excesso de remanescentes dos
componentes de superfície, como o colesterol não esterificado, os fosfolipídios e várias apolipoproteínas;
esse material é transferido para o HDL que atua como um sorvedouro dele.
Normalmente os ácidos graxos que chegam ao fígado para ser esterificados a triglicérides são
provenientes do tecido adiposo ou da dieta. O fígado também é capaz de conseguir AG, principalmente os
saturados, a partir do acetato. A maioria dos triglicérides é exportada pelo fígado, mas algum é combinado
com apoproteínas para dar origem às lipoproteínas. O fígado também é o órgão responsável pela maior
parte do catabolismo (processo metabólico destrutivo capaz de transforma substâncias complexas em
outras mais simples) das lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e degradação dos restos dos quilomicrons.
O excesso de álcool e o uso abusivo de glicocorticóides aumentam o fluxo de ácidos graxos para o fígado
e podem provocar a sua degeneração gordurosa. Como a liberação dos triglicérides envolve a formação de
lipoproteínas, o acúmulo de lipídio pode ocorrer pelo decréscimo da síntese de apoproteína, o que, parece
acontecer nos casos de fígados gordurosos da desnutrição intensa, das intoxicações pelo tetracloreto de
carbono, pelo fósforo e pelas doses excessivas de antibióticos, como as tetraciclinas, que inibem a síntese
proteica. E como passarinheiro gosta de antibiótico, sô! Dar cerveja para os pássaros para curar alguma
coisa ainda não vi, mas o uso abusivo de pomadas com corticosteróides para tratar cracas dos pés ou
alergias da pele e de tetraciclinas para muitas infecções eu já vi, e muito... Pobres e indefesos pássaros! E não
me venham com essa história de que tudo se resolve com um protetorzinho hepático porque Deus castiga e
não manda recados...
Devido ao rápido desenvolvimento dos seus órgãos, principalmente do cérebro, os lipídios, tanto em
quantidade como em qualidade, têm importância fundamental para os bebês e, logicamente, para os filhotes
de pássaros. Estima-se que um quarto ou um terço da energia necessária nos primeiros meses da criança seja
usada para o desenvolvimento. Há necessidade de umas 5 kcal por cada grama de peso ganho. Se no adulto
o cérebro representa uns 2% do peso corporal e consome um quinto das calorias consumidas por todo o
corpo, na criança o cérebro, representando de 15 a 16% do peso corporal, consome a metade da energia
total. Se o grande desenvolvimento do número das células nervosas dá-se na vida fetal, no primeiro ano de
vida há a incorporação de 20% do número de células do adulto. Nos pássaros, com um desenvolvimento
potencialmente mais rápido exigindo alto aporte energético para suprir os altos índices metabólicos, as
exigências dos lipídios essenciais seria mais gritante. A sua falta nos períodos críticos dos filhotes, amigos,
pode determinar o futuro dos seus pássaros nos torneios, tanto nos de cantoria como nos de fibra.
AS PROTEÍNAS
A chilena Maria Angélica Tagle, que foi diretora do World Hunger Programme, da Universidade
das Nações Unidas, em Tóquio, inicia o capítulo sobre as proteínas do seu livro Nutrição com a seguinte
frase: “As proteínas não são essenciais”. E afirma que não é uma heresia nutricional porque o organismo
pode suprir as necessidades do metabolismo proteico nas dietas sem proteínas, desde que lhe sejam
ministradas uma série de aminoácidos. Na prática, na hora do venha ver, as proteínas são fundamentais
numa dieta porque é o modo comum de serem ingeridos os aminoácidos. Não à-toa os gregos, sempre eles,
denominaram esse importante nutriente de proteína que significa “de importância primordial ou vital”.
Alguns autores citam a origem da palavra no grego Proteion que tem o significado de primeiro.
Para autores com veia de poetas, como Crim e Munro, no trabalho Protein, de 1976, citados por
Tagle, o metabolismo proteico é a história que os aminoácidos da dieta vivem dentro do organismo. Outros
dizem que somos os alimentos que ingerimos, mostrando que somos, assim como os nossos pássaros, uma
máquina feita e movimentada pelos alimentos.
As proteínas são nutrientes formados por biomoléculas de peso molecular elevado constituídas
basicamente por carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. As moléculas proteicas podem ainda conter
enxofre, ferro, fósforo, magnésio e cobre entre outros elementos. São polímeros, ou seja, conglomerados
de pequenas moléculas fundamentais, os monômeros, no caso os aminoácidos ligados entre si pelos enlaces
peptídicos. Os enlaces peptídicos são covalentes e se realizam entre o grupo carboxila de um aminoácido
e o grupo amino do seguinte com a liberação de uma molécula de água.; comportam-se como um enlace
duplo que imobiliza num determinado plano os átomos que o formam. As proteínas são as mais abundantes
biomoléculas, sendo responsáveis por mais de 50% dos constituintes celulares. São sintetizadas nos
ribossomos celulares seguindo informações genéticas.
Não poderíamos prosseguir sem uma noção de como se dá a síntese protéica. A síntese proteica é uma
das maravilhas da bioquímica em todos os tempos, o âmago da vida, o que somos e fazemos. O texto a
seguir foi tirado do boletim nº 77, do Núcleo de Cruzeiro da Sociedade Paulista Cães Pastores Alemães:
“Síntese proteica.
As proteínas são os elementos estruturais de todo o organismo. Além da função plástica, capaz de proporcionar todo o
arcabouço animal, são elementos funcionais de células especializadas, das secreções glandulares, das enzimas e hormônios e, em
condições especiais, servem como fonte de energia em substituição aos açúcares e gorduras. São os constituintes principais dos
tecidos vivos e sua síntese é primordial para a vida.
Em todas as células há o ARN (ácido ribonucleico), com uma só haste em contraste com as duas do ADN(ácido
desoxiribonucleico) e com composição química também diferente. Interessam-nos três ARN: o mARN(ARN mensageiro), o
tADN (ARN de transferência) e o rARN(ARN ribossômico), todos eles sintetizados por ações catalisadoras de enzimas
chamadas polimerases.
As proteínas são formadas por aminoácidos. Há 20 aminoácidos, sendo as proteínas determinadas pelo número, espécie
e ordem dos aminoácidos nas cadeias. As fórmulas das proteínas estão codificadas em nucleotídeos (unidades formadas por
uma molécula de açúcar, a desoxirribose, uma molécula de fosfato e uma base nitrogenada) nas moléculas de ADN. Cada
3 nucleotídeos formam um codon que especifica um aminoácido. Cada aminoácido pode ser especificado por 1 até 4 codons.
São três as estruturas responsáveis pela síntese das proteínas: a- Ribossomos. São partículas pequenas formadas por proteínas
e RNA ribossômico (rRNA). Sua função é servir de superfície para a síntese proteica. São compostos por subunidades,
pequenas e grandes, produzidas no núcleo e liberadas no citosol celular. As subunidades são individualizadas e unem-se
para formar o ribossomo somente quando a síntese proteica é iniciada; b- Retículo endoplasmático (RE). É o maior sistema
membranoso da célula, constituindo a metade do volume total da membrana. É um sistema de túbulos interconectados e
vesículas cujo lume constitui a cisterna. No RE ocorrem a síntese e modificações proteicas, a síntese de lipídeos, a síntese de
esteróides, a detoxicação de alguns tóxicos e a produção de toda a membrana celular. O RE possui dois componentes: a- RE
liso, abundante nas células que sintetizam esteróides,colesterol e triglicérides. São muito encontrados em células como as do
músculo esquelético; b- RE rugoso, abundante nas células que sintetizam proteínas. Possuem em suas membranas proteínas
que reconhecem e ligam os ribossomos nas suas faces citosólicas, como a partícula receptora de reconhecimento de sinais (proteína
ancoradouro), a proteína receptora do ribossomo (riboforina I e II) e a proteína examinadora.
As informações para as estruturas primárias das proteínas (seqüência de aminoácidos) encontram-se codificadas no
ADN nuclear. Esta informação é transcrita, como um molde, no mRNA. Cada RNA mensageiro consiste de uma série de
codons correspondentes a aminoácidos particulares. Há um codon chamado start codon, necessário para determinar o início
da síntese proteica e um ou mais stop codon que determinam o final da síntese. Em seguida o mRNA deixa o núcleo em
direção ao citosol. Os tARN “apanham” as moléculas de aminoácidos determinados e os transferem para o molde do mARN
presente no ribossomo, seguindo a codificação existente e trazida do ADN dando origem à proteína especificada. As proteínas
produzidas em sua maior parte associam-se aos rRNA(RNA ribossômico) para formar os pequenos e grandes ribossomos”.
(José Carlos Pereira)
Mal comparando, seria a parede proteica formada pelos tijolos (aminoácidos) unidos pela argamassa
das ligações peptídicas. Sendo unidos poucos aminoácidos formam-se os peptídeos; se há união de menos
de 10 aminoácidos são formados os oligopeptídeos; se há mais de 10 aminoácidos ligados formam-se os
polipeptídios e, finalmente, a união de mais de 50 aminoácidos caracteriza as proteínas. Os aminoácidos
são moléculas ácidas constituídas por um grupo carboxila (-COOH) e um grupo amino (-NH2) ligados ao
carbono, sendo as outras valências do carbono ocupadas por um átomo de hidrogênio e um grupo variável
chamado radical R. Se forem dissolvidos em solução aquosa os aminoácidos comportam-se como uma
substância anfótera: dependendo do pH pode ionizar-se como um ácido liberando prótons e tornando-se
(-COO’), como uma base, com os grupos (-NH2) captando prótons tornando-se (-NH3+) ou mesmo como
ácido e base ao mesmo tempo ao se ionizarem duplamente com o surgimento de uma forma bipolar iônica.
Existem 24 diferentes tipos de aminoácidos cujos nomes derivam do grupo aminado (que contém
nitrogênio) a que pertencem, sendo o primeiro descoberto há mais de 150 anos. As diversas combinações
desses aminoácidos quanto a qualidade, número e distribuição na molécula proteica determinam e
caracterizam as milhares de proteínas que o organismo consegue sintetizar. Há 9 aminoácidos que são
essenciais na dieta do humano adulto e que devem obrigatoriamente estar presentes na dieta numa
quantidade que varia entre 250 a 1100 mg/dia cada um: treonina, valina, isoleucina, leucina, lisina,
triptofano, metionina, fenilalanina e histidina. Muitas publicações colocam a arginina no grupo perfazendo
10 aminoácidos essenciais. Importantíssimo saber que novo tecido não é formado sem a presença
simultânea de todos os aminoácidos essenciais na dieta. A ausência ou a deficiência de um só aminoácido
essencial já causa balanço de nitrogênio negativo. As necessidades variam na dependência do valor biológico
das proteínas, o qual, depende dos seus conteúdos em aminoácidos essenciais. Três aminoácidos são
considerados semi-essenciais: a tirosina, a cisteína e a cistina ou dicisteína. A tirosina pode ser conseguida
da fenilalanina, da qual se diferencia por ter um radical OH (hidroxila) substituindo um H (hidrogênio);
a cistina e a cisteína estão correlacionadas quimicamente com a metionina e os três constituem o grupo
de aminoácidos que contêm enxofre nas moléculas. A maioria dos animais é capaz da interconversão
reversível cistina – cisteína, o que, leva muitos autores a considerarem esses dois aminoácidos como um só.
Os três aminoácidos semi-essenciais passam a ser essenciais somente no caso de dietas muito pobres nos
aminoácidos essenciais aos quais estão ligados quimicamente (fenilalanina e metionina). Os aminoácidos não
essenciais podem ser sintetizados pelos animais a partir dos grupos NH2 e cadeias hidrocarbonadas e têm
pouca importância do ponto de vista da dieta. Os lactentes humanos, embora tenham o mesmo patrimônio
genético dos adultos para a síntese dos aminoácidos, necessitam, além dos aminoácidos essenciais, da
10
histidina na sua dieta.
Não poderia deixar de falar um pouquinho da biologia molecular aplicada ao tratamento do câncer.
Quem não tiver interesse pode pular para o parágrafo seguinte. No início do século passado Paul Ehrlich,
médico alemão notável pela sua visão do futuro da medicina, formulou postulado sobre o que seria
um medicamento ideal. Nesse postulado estava o conceito da bala mágica, medicamentos capazes de
atacar agentes patogênicos sem levar a efeitos deletérios aos tecidos orgânicos normais. Foi ele quem
primeiro usou o termo quimioterapia. É sabido e sentido por muitos que os quimioterápicos clássicos têm
efeitos importantes sobre as células anormais, mas também podem afetar as células normais. Pois bem,
o maior conhecimento da biologia tumoral levou ao achado de medicamentos com alta especificidade
sobre as células tumorais. Uma parte dessas novas drogas interfere na função de proteínas produzidas
exclusivamente, ou pelo menos de forma aumentada, pelas células tumorais. A maioria dessas proteínas,
como os receptores da família do EGFR ou a proteína BCR-Abl, participa do processo de crescimento
celular. Dentre essas drogas antineoplásicas há os anticorpos monoclonais, formados por moléculas de
imunoglobulinas ou moléculas de aminoácidos seqüenciais, que atuam sobre alvos específicos do processo
de crescimento celular. Boa parte do genoma humano codifica proteínas que atuam como enzimas,
sendo muito importantes as quinases, enzimas que fosforilam substratos proteicos ou lipídicos. Muitas
dessas quinases estão envolvidas no processo de proliferação celular, atividade desregulada nas formações
tumorais. Alguns receptores encontrados nas membranas celulares, como o EGFR, têm atuação como
tirosino-quinases. Portanto, um achado no tratamento de algumas neoplasias são os bloqueadores da
atividade enzimática dos receptores. Caros amigos passarinheiros, o assunto proteína é a vida e está muito
longe de estar esgotado.
As proteínas são muito versáteis nas suas funções: podem ser catalisadoras de reações químicas,
reguladoras, como os hormônios e as enzimas alostéricas, armazenadoras, como a mioglobina,
transportadoras, como a hemoglobina que transporta o oxigênio, defensoras, como as imunoglobulinas e
anticorpos, nutridoras, como a ovoalbumina, contráteis, como a miosina e as actinas, ter ação visual, como
a iodopsina e a rodopsina, fontes energéticas, como as proteínas do fotossistema II e estruturais, como
a queratina e o colágeno. Um uso interessante das proteínas é o de aditivos para estabilização de vacinas
em condições adversas, como o congelamento e o calor, além de evitar a adesão dos imunogênios vacinais
às paredes dos recipientes, como acontece com aminoácidos, como a glicina e o glutamato monossódico,
e com proteínas como a gelatina (nota: também açúcares, como a sacarose e a lactose, são usados com a
mesma finalidade).
As moléculas das proteínas organizam-se em estruturas progressivamente complexas, cada uma
tomando como base a estrutura mais simples anterior:
1. Estrutura primária
É a mais simples constando somente da seqüência espacial dos aminoácidos na molécula proteica.
Mostra os aminoácidos componentes da proteína e a sua ordem na cadeia peptídica, o que, determina a
função da proteína;
2. Estrutura secundária
Apresenta a disposição espacial da seqüência dos aminoácidos. À medida que vai sendo sintetizada, a
cadeia polipeptídica proteica vai sendo enlaçada em forma de alfa hélice ou conformação chamada beta, na
qual, a cadeia de aminoácidos dispõe-se em ziguezague chamado lâmina pregueada, formas estáveis somente
possíveis pela capacidade de giro das ligações peptídicas;
3. Estrutura terciária
Forma-se quando a estrutura secundária de um polipeptídio pregueia-se sobre si mesmo originando
uma conformação globular, o que, facilita a solubilização na água e dá à proteína condições de atuar como
tansportadora e fazer parte de enzimas e hormônios, por exemplo. A estabilidade se dá pela existência de
11
ligações entre os radicais R dos aminoácidos, como acontece com a ponte dissulfúrica entre os radicais de
aminoácidos que contêm enxofre, as pontes de hidrogênio, as interações hidrófobas e as pontes elétricas e
4. Estrutura quaternária
Complexo proteico formado por cadeias polipeptídicas (chamadas cada uma de protômero) com
estrutura terciária mediante ligações instáveis (não covalentes). O número de protômeros é variável: a
hemoglobina possui quatro e o capsídeo de um vírus pode ter mais de sessenta.
Uma característica importantíssima das proteínas é a sua especificidade funcional, dependente de uma
estrutura primária e de uma conformação espacial determinadas. Qualquer modificação estrutural significa
a perda da função. Nem todas as proteínas são iguais em indivíduos diferentes, o que, gera nos indivíduos
com grandes semelhanças entre as proteínas, a determinação das árvores filogenéticas, ou seja, a própria
história evolutiva das espécies. Outra característica interessante das proteínas é a capacidade de desnaturarse pelo rompimento das pontes da estrutura terciária pelo calor (lembrem-se do ovo frito) e pela variação de
pH.
Desde os bancos escolares (putz, caí na mesmice literária...) sabemos da básica classificação das
proteínas em: a- Holoproteínas. Constituídas somente pelos aminoácidos. São exemplos as albuminas
(ovoalbumina, lactoalbumina e a soroalbumina), alguns hormônios como a tireotropina, o hormônio do
crescimento e a insulina, a zeína do trigo e a orizanina do arroz, algumas enzimas como as transferases
e as hidrolases e as prolaminas como a gliadina do trigo e a hordeína da cevada, todas com estrutura
globular. Algumas holoproteínas têm estrutura fibrosa como a queratina das unhas, dos bicos e das penas,
a elastina dos vasos sangüíneos e dos tendões, o famoso colágeno dos tecidos conjuntivos e cartilaginosos
e as fibroínas dos fios das teias dos aracnídeos e b- Heteroproteínas. Além da proteína possuem um
grupamento não proteico chamado prostético (do grego prosthetikós, que traz ou que ajuda, segundo
o Aurélio). São exemplos as cromoproteínas, como a hemoglobina, a mioglogina e a hemocianina que
transportam o oxigênio e os citocromos que transportam os elétrons, as lipoproteínas,de baixa, muito baixa
e alta densidades já vistas no segmento sobre os lipídios, as nucleoproteínas, como os ribossomos e os
nucleossomos da cromatina e as glicoproteínas, como as mucoproteínas, os anticorpos, a ribonuclease e o
hormônio luteinizante.
As proteínas são os nutrientes plásticos por excelência. De modo grosseiro poderíamos dizer que, num
automóvel, as proteínas seriam a carcaça enquanto os carboidratos e os lipídios seriam o combustível para
a sua movimentação. Elas fornecem aminoácidos para o crescimento e a reparação das células tissulares,
participam das soluções que atuam no equilíbrio osmótico (equilíbrio mantido entre os diversos líquidos
orgânicos, extra, inter e intravasculares, pelos solventes que passam através de membranas impermeáveis
aos solutos) e das soluções tampões (capazes de manter o seu pH quando são adicionadas a elas substâncias
ácidas ou alcalinas. Importantíssimo para manter o pH ideal para as diversas atividades orgânicas), fazem
parte da hemoglobina, das nucleoproteínas, das glicoproteínas e das lipoproteínas, estão presentes na
composição das enzimas e dos anticorpos e das estruturas protetoras como as unhas e os cabelos, e nas
penas é claro.
As proteínas constituem uns 20%do peso do humano adulto, sendo os seus aminoácidos
nutrientes essenciais para a constituição do protoplasma, o conteúdo vivo de todas as células e formado
principalmente pelo citoplasma e núcleo.
A deficiência de proteínas na dieta pode gerar prostração, aumento do abdômen, inchações, depleção
das proteínas plasmáticas, marasmo (desnutrição calórico-proteica) ou kwashiorkor (desnutrição proteica).
O termo bantu kwashiorkor (uma das línguas benuê-congo) quer dizer falta de amor ou de carinho e
denomina uma das formas mais perversas da desnutrição que atinge a criança a partir do momento em
que é desmamada do seio. Apesar de não podermos estabelecer correlações, o kwashiorkor dos pássaros
apareceria num dos períodos mais críticos para a sobrevida dos filhotes, o momento de começar a comer
por conta própria deixando a dependência dos pais. O excesso de proteínas, quando prolongado, pode
sobrecarrega os rins e agravar insuficiências preexistentes.
12
As proteínas de alto valor biológico possuem tanto a quantidade como a distribuição nas suas
moléculas dos aminoácidos essenciais adequados para a ressíntese dos tecidos corpóreos de maneira
a produzir poucos resíduos, o que, pode ser comprovado pelo balanço nitrogenado (diferença entre o
nitrogênio ingerido e o eliminado). O valor biológico dos alimentos quanto a qualidade das suas proteínas
decresce na seguinte ordem: produtos animais – legumes – cereais(arroz, trigo, milho) - raízes. As proteínas
de maiores valores biológicos propiciam maior retenção do nitrogênio pelo organismo, mostrando um
melhor aproveitamento metabólico. Aí um fato interessante: enquanto as melhores gorduras são as vegetais,
as proteínas mais completas são as animais. O valor biológico pode ser determinado pelo NPU (net protein
utilization), que mostra a eficiência da utilização das proteínas ingeridas e pelo PER (protein efficiency
ratio), que mostra o ganho de peso por quantidade de proteína consumida por um animal em crescimento.
Sem lero-leros, frescuras ou ainda loucuras de ficar de calculadora na mão: o importante é fornecer aos
pássaros dietas com variadas sementes somadas às fontes de proteínas animais, como o ovo e os insetos ou
um extrusado de boa qualidade que já possui boas fontes de proteínas vegetais e animais. E, nos períodos de
cria ou muda, aumentar a quantidade proteica usando uma boa farinhada juntamente com as sementes ou
usar um extrusado próprio para esses períodos.
Em 1955, um grupo de cientistas ligados à FAO elaborou um padrão (FAO 55) tendo como base
uma proteína teórica que conteria na sua fórmula a mistura de aminoácidos essenciais e semi-essenciais
capazes de suprir as necessidades do organismo humano. Em 1971, o padrão foi revisto à luz dos novos
conhecimentos e passou a ser conhecido como FAO 71. Comparados os conteúdos dos seus aminoácidos
ao padrão, as proteínas podem ser classificadas quanto a sua qualidade. Os aminoácidos essenciais de
uma determinada proteína que estiverem abaixo do padrão são chamados limitantes; se houver mais de
um limitante, o primeiro será o que estiver em nível mais baixo, o segundo o que o seguir em deficiência
e assim por diante. As deficiências são expressas percentualmente. Por exemplo, a proteína do ovo tem
uma limitação de 78% nos aminoácidos sulfurados totais e o seu escore é 78%. O glúten do trigo tem três
limitantes, na lisina (40%), na metionina (69%) e no triptofano (67%), sendo o seu escore de 40%, portanto,
qualidade bem inferior à proteína do ovo. Na prática: leite e o ovo, dentre os alimentos comuns nas dietas,
possuem as únicas proteínas que contêm todos os aminoácidos essenciais. Existem outros padrões, mas
julgo o da FAO um dos melhores. As proteínas vegetais geralmente apresentam deficiência nos seguintes
aminoácidos essenciais: lisina, treonina, metionina e triptofano.
O escore da FAO é importante, mas mostra um dado estático que não corresponde à realidade
dinâmica e funcional da qualidade proteica que está sujeita a diversos fatores, como a composição em
aminoácidos, a digestibilidade, o aporte calórico total, a relação proteínas/calorias, o espaçamento da
ingestão proteica, a ação da temperatura, da toxidez, do antagonismo aminoácido, da presença de tóxicos
como as saponinas das leguminosas, etc. Durante o seu metabolismo, as proteínas, os carboidratos e
os lipídios convergem para o ciclo dos ácidos tricarboxílicos (não peçam para explicar porque poderá
complicar de vez) e, havendo quantidade suficiente de resíduos dos dois últimos para saturar o ciclo,
haverá menor degradação e, conseqüentemente, maior disponibilidade dos aminoácidos para as sínteses
proteicas específicas para as funções dos diversos órgãos. O excesso proteico leva ao seu maior uso para
a produção de energia pela menor disponibilidade de calorias de origem lipídica e/ou glicídica. Um
dado prático sobre isso para os passarinheiros: nas farinhadas que contêm leite e/ou gema de ovos,
excelentes fontes de proteínas de ótima qualidade, geralmente há a presença de cereais ricos em calorias,
o que, facilita o aproveitamento das proteínas. Ah!, a sapiência dos criadores mineiros que dão a gema e
umas sililuias, mas não abrem mão do fubá grosso ou da quirera do milho. Cultura de anos, amigos. Para
melhor aproveitamento da biossíntese proteica, há a necessidade de, num determinado momento, estarem
presentes todos os aminoácidos necessários, assim como todos os requisitos energéticos. Portanto, não é
difícil entender porque as refeições devem se estender por todo o dia com qualidade dos nutrientes e com
o equilíbrio entre proteínas e calorias. Os pássaros seletivos quanto ao tipo de sementes que mais gostam
na mistura podem ter deficiências nutritivas, apesar de receberem mistura equilibrada de nutrientes. Com o
uso de extrusados, desde que tenham bom balanceamento entre os nutrientes e a fineza industrial de ter a
mesma composição em todos os pellets, o problema deixa de existir.
13
Como acontece com as gorduras e com os carboidratos, as proteínas apresentam-se no organismo
num estado dinâmico chamado por Schoenheimer de “movimento de rotação”: são decompostas até as
suas menores partículas possíveis para facilitar a absorção e o transporte e, depois ressintetizadas nas células
dos diversos órgãos e tecidos, sob a batuta dos ácidos nucleicos ARN e ADN, conforme as necessidades de
cada um deles.
Os estudos modernos mostram os estreitos relacionamentos entre os metabolismos dos carboidratos,
das proteínas e dos lipídios. Tudo muito simples, embora a complexidade bioquímica dos processos possam
fazer parecer um bicho de sete cabeças.
As proteínas fornecidas pelas dietas têm as mais diversas origens: 1- Vegetais: gliadina, glutelina,
prolamina, zeína, avenina, a avenalina e as globulinas; 2- Ovos: ovoglobulina, ovoalbumina, vitelina,
livetina e conalbumina; 3- Carnes: colágeno e miosina; 4- Leites: lactoalbumina, caseina e lactoglobulina e
5- Sangue: histonas, soroglobulina e soroalbumina.
A distensão do estômago pela chegada dos alimentos estimula a produção de ácido clorídrico induzida
por um hormônio, a gastrina, secretada pelas células da parede estomacal. Algumas proteínas combinamse com o ácido clorídrico, ainda no estômago, dando origem às meta-proteínas que são sensíveis a ação
de hidrólise da pepsina (enzima derivada do pepsinogênio) que desdobra proteínas em polipeptídeos. A
quimosina transforma a paracaseína do leite em caseína que é hidrolisada pela pepsina. Os polipeptídeos e
as proteínas que chegam intactas ao ambiente alcalino do intestino (especificamente ao duodeno) sofrerão
forte ação “desdobradora” das enzimas existentes no suco pancreático: a- Tripsina, originária do precursor
tripsinogênio ativado por outra enzima secretada pela mucosa duodenal, a enteroquinase; b- Quimotripsina,
por ativação da quimotripsinogênio pela tripsina; c- Elastase, pela ativação da pró-elastase também pela
tripsina, as três desdobrando as proteínas e polipeptídeos respectivamente em polipeptídeos e peptídeos e dCarboxipeptidase (por ativação da pró-carboxipeptidase pela tripsina), que tritura os polipeptídeos liberando
aminoácidos prontos para a absorção pelas células especializadas da parede intestinal (enterócitos). Uma
pequena parte dos aminoácidos absorvidos é usada pela mucosa intestinal para sintetizar as proteínas
necessárias para ela própria, principalmente para a grande rapidez de reprodução dos enterócitos e, o
restante, chega ao fígado pela veia porta. O fígado usa grande parte dos aminoácidos para a síntese das
proteínas que necessita e o resto, somado aos aminoácidos provenientes do catabolismo dos tecidos
(endógeno), constituem os aminoácidos plasmáticos que vão aos diversos locais do organismo para a síntese
das proteínas necessárias seguindo um padrão genético. O que sobra dos aminoácidos é usado como fonte
energética, o que, não está entre as suas principais serventias.
No fígado os aminoácidos podem ser usado para: a- Síntese de outros aminoácidos; b- Diretamente
para a síntese de proteínas necessárias ao organismo e de outras substâncias de natureza proteica, como
enzimas e hormônios; c- Desaminados, com a finalidade de liberar NH2 para fornecer radicais para a
síntese de aminoácidos não essenciais e para a síntese do glicogênio (glucogênese), polissacarídeo de reserva
dos animais, ou, oxidados, para produção de energia em substituição aos carboidratos quando estes forem
insuficientes na dieta; d- Produção de uréia e creatinina, produtos de excreção do metabolismo proteico e
e- Em parte para armazenamento no próprio fígado.
E aí vem um dado interessante para muitos criadores. Alterações no metabolismo das proteínas e/ou
dos aminoácidos, determinadas por modificações nos genes, portanto no âmago do DNA, podem levar
aos chamados erros inatos do metabolismo determinando muitas doenças e as mutações. Pretendo voltar
ao fascinante assunto das mutações quando souber mais sobre o que acontece com os pássaros e tiver
interesse. Em princípio é bom saber que essas mutações podem estar localizadas nos genes das células
somáticas ou nos genes das células germinativas ou gametas (óvulo e espermatozóide) e, somente no
segundo caso, podem ser transmitidas por hereditariedade. Portanto, podem haver mutações (disse podem
e não que existam) impossíveis de ser transmitidas de pais para filhos. Felizmente para os amantes de uma
“corzinha” diferente, a maioria das mutações é transmitida por hereditariedade. Claro está que muitas delas
são sexo-dependentes.
14
O organismo é um consumidor inveterado de energia. E somente pode consegui-la através dos
alimentos, numa série de reações de oxidação que acontecem em todas as células usando o oxigênio que
chega a elas, como parte da hemoglobina, após ser captado no ar que entra nos pulmões. O excesso é
estocado. As aves, dotadas de metabolismo muito rápido, necessitam da entrada constante de nutrientes
através dos alimentos. Pouco tempo sem eles pode provocar a morte. Interessante que, em alguns dos
animais inferiores, diferentemente do que acontece com o homem, a absorção de moléculas proteicas
grandes (macromoléculas) tem importância nutritiva e protetora da mucosa. No homem e nos animais
superiores, principalmente quando filhotes, pequeníssimas quantidades de proteínas são absorvidas intactas
(o mesmo ocorre nas diarréias), o que, pode ocasionar quadros alérgicos. Não sei bem a situação encontrada
nas aves, mas é bom controlar o uso de alguns corantes e conservantes potencialmente muito alergênicos
(capazes de produzir alergias).
Há no organismo outros compostos contendo nitrogênio além das proteínas: a - Amônia (NH3),
resultado da remoção do grupo amino (desaminação) de aminoácidos realizada no fígado e nos rins. É o
principal produto final do metabolismo das proteínas, podendo ser até 92% do nitrogênio contido na urina.
Ainda no fígado a amônia é transformada em uréia que é eliminada pelos rins. Quando o organismo está em
acidose (e os passarinhos que, como já foi dito, possuem metabolismo muito ativo e rápido, podem entrar
em acidose com muito maior facilidade), um estado metabólico grave, os rins reconvertem parte da uréia em
amônia e os detritos nitrogenados são eliminados como sais de amônia para neutralizar o excesso de ácidos
presentes; b-Creatina e creatinina, compostos nitrogenados encontrados também na urina. A maior parte
da creatina é sintetizada no organismo, mas pode também ser originária dos alimentos; é principalmente
encontrada no músculo onde parte dela é convertida em creatinina e excretada na urina. A quantidade de
creatina no organismo é proporcional à massa muscular do indivíduo; c-Purinas (C5H4N4), estruturas
aneladas de nitrogênio amplamente distribuídas na Natureza. Faz parte principalmente dos ácidos nucleicos
ADN e ARN (lembram-se das bases purínicas e pirimidinicas da genética? Pois é, as bases purínicas adenina
e guanina têm as suas origens nas purinas) e d-Ácido úrico, produto final do metabolismo das purinas
excretado na urina. Originário das purinas da dieta ou da clivagem de ácidos nucleicos. A gota é uma doença
hereditária originada num metabolismo inadequado do ácido úrico.
CARBOIDRATOS (AÇÚCARES)
Constituem a mais importante fonte de energia para o organismo, principalmente porque é a única
utilizada pelo cérebro. Nos humanos, os carboidratos representam 1% do peso corporal. Como o fígado
das crianças menores representa somente 9 a 10% do tamanho do fígado do adulto e os músculos somente
2%, a reserva de carboidratos (como glicogênio) da criança representa somente 3 a 4% daquela do adulto.
Nas aves, obedecidas as proporcionalidades do volume corporal, a situação deve ser a mesma; como o
metabolismo das aves é muito rápido, estratosfericamente alto nos beija-flores, os filhotes necessitam de
alimentação contínua para evitar o gasto prematuro do estoque de glicogênio, os conseqüentes estados
acidóticos mortais e o consumo de proteínas para a busca energética.
Os carboidratos, também conhecidos como hidratos de carbono ou açúcares, são ingeridos sob a
forma de celulose, pentoses, galactose, lactose (açúcar do leite), sacarose (açúcar da cana), frutose (açúcar
das frutas), glicose, maltose e amido.
Embora sejam oxidados como glicose (dextrose), os carboidratos são consumidos de várias formas:
monossacarídeos (glicose, frutose e galactose), dissacarídeos (lactose, sacarose ou sucrose, maltose,
isomaltose), e como polissacarídeos (amidos, dextrinas, glicogênio, gomas, celulose). As pentoses são
pobremente absorvidas.
Na boca começa o metabolismo dos carboidratos com a ação da amilase salivar sobre o amido,
transformando-o em dextrinas e maltose; a ação da amilase salivar continua no estômago até que o meio se
15
transforme de alcalino, propício para a ação da enzima, em ácido. No intestino delgado a amilase do suco
pancreático desdobra o amido restante também em dextrinas e maltose.
Os dissacarídeos maltose, lactose e sacarose passam intactos pela boca e pelo estômago e, no
intestino, sofrem a ação de dissacaridases produzidas nas células epiteliais da mucosa. Eles podem
ser absorvidos intactos pela borda em escova das células da mucosa intestinais ou são hidrolisados a
monossacrídeos nas microvilosidades. A maltose é cindida pela maltase e dá origem a duas moléculas de
glicose, a sacarose é cindida pela sacarase, também conhecida por invertase ou sucrase, em glicose e frutose
(levulose) e a lactose sofre ação da lactase dando origem a uma molécula de glicose e uma de lactose. Os
monossacarídeos glicose, frutose e galactose são absorvidos e ganham a corrente sangüínea pelos capilares
do sistema porta. A absorção da glicose e da galactose é muito rápida porque se faz por processo ativo
dependente da presença do sódio (Na+). A frutose é absorvida mais lentamente por processo de difusão.
Durante a absorção, radicais de ácido fosfórico transportadores combinam-se com as hexoses (glicose,
galactose, frutose) na mucosa intestinal para transportá-las através da membrana celular. O sódio deve estar
presente para que a absorção continue mesmo quando a concentração intestinal de açúcares é baixa.
Os pássaros, por serem deficientes em lactase, têm pouca capacidade de utilização da lactose, açúcar
do leite, como fonte energética. O uso do leite na dieta deles, para o aproveitamento das suas excelentes
proteínas, deve ser cuidadoso na quantidade. O excesso pode provocar diarréia osmótica pelo excesso de
fermentação provocada pela lactose. Um recurso, muito caro na prática, seria o uso de leite industrializado
pobre em lactose. Outro cuidado que se deve ter é evitar o excesso de celulose, carboidrato classificado
como não digerível, porque os pássaros não possuem celulase, enzima responsável pelo seu desdobramento.
Assim, o excesso de celulose na dieta aumentará o seu volume intestinal prejudicando a absorção de outros
nutrientes por diminuição da área absortiva.
As pentoses, por não serem fosforiladas, são absorvidas lentamente. Uma parte das pentoses e a
celulose são eliminadas não digeridas e não fermentadas. Uma parte pequena da maltose, da sacarose e
da lactose não é digerida e sim fermentada (transformação química provocada por fermentos vivos com
produção de CO2, gás carbônico).
Um dia ainda voltaremos à flora intestinal e o intenso processo de fermentação e putrefação
acontecido no intestino grosso. Agora umas pinceladas somente. Pela ação da flora intestinal sobre os
resíduos alimentares acontece no intestino grosso dois processos simultâneos e de efeitos contrários:
putrefação e fermentação. A fermentação deve-se à desintegração dos hidratos de carbono e a putrefação
ao desdobramento das proteínas. O equilíbrio entre os dois processos é importante para o peristaltismo
intestinal, movimento vermiforme progressivo que faz evoluir o bolo alimentar pelo intestino. O excesso
de carboidratos na dieta provoca excesso fermentativo com a emissão de fezes moles, escuras e ácidas. Já o
excesso proteico na dieta aumenta a putrefação, diminuindo a peristalse e provocando a eliminação de fezes
claras, duras e alcalinas. A gordura presente no intestino grosso pode intensificar o processo predominante:
se houver aumento da fermentação criando um ambiente ácido os ácidos gordurosos permanecem livres
aumentando a acidez; se predominar a putrefação, com pH ambiental alcalino, os ácidos gordurosos
combinam-se com as bases para formar sabões, geralmente sabões calcáreos devido a presença excessiva
de caseinato de cálcio, os quais, endurecem mais ainda as fezes. Um dado prático para o criador atento: a
observação das fezes, principalmente a sua alteração quanto a cor e a consistência, deve ser um conduta
rotineira no criadouro. Se as fezes ficarem moles e mais freqüentes, sem ter havido modificações na dieta,
é sinal de alerta para a procura de doenças. E, muitas vezes, como vimos, a diarréia pode ser provocada
somente por erros alimentares que, corrigidos, acabam com o problema. Tanto a putrefação como a
fermentação produzem vários gases, como o sulfídrico e o carbônico, além dos ácidos acético, butírico e
láctico. Daí já viu, né? Desculpem, vou no popular ou no chulo mesmo, ainda não vi (ou ouvi) pássaros
peidando (sabiam que peido, flato para os mais sensíveis, vem do latim pedifu? Pois vem), mas com os cães
é comum mostrando, quando excessivos, algum erro alimentar.
No fígado e nos músculos os monossacarídeos glicose, frutose e galactose, sob o efeito estimulador da
insulina, dão origem ao polissacarídeo glicogênio (é a glicogênese), forma de estocagem dos carboidratos.
16
Por isso, o glicogênio é chamado de amido animal em contrapartida ao amido, forma de reserva de
carboidratos das plantas. Num humano adulto, o glicogênio responde por 14 a 15% do peso do fígado e
3% do peso muscular. Como a grande maioria da frutose e da galactose é usada na glicogênese, uma boa
parte da glicose ganha a circulação sangüínea e outra parte, se necessário, pode ser usada na síntese de
gorduras. A insulina estimula ao mesmo tempo a glicogênese e a glicólise (lise metabólica da glicose), o
que, evita o aumento da glicose no sangue (hiperglicemia). A produção da insulina é estimulada pelo fator
pancreotrófico da pituitária (hipófise) anterior. Também na pituitária anterior é secretado o fator glicostático
que retarda a glicogenólise. A glicogenólise no fígado tem a glicose como produto final mais importante,
enquanto nos músculos termina no ácido lático. Quando a insulina deixar de existir ou for insuficiente,
como acontece nos diabéticos (também existem aves diabéticas, amigos), diminuindo a glicogênese e a
glicólise, a pituitária anterior promove a elevação da produção de glicose que, transpondo o limiar de
retenção dos rins, provocará a glicosúria (açúcar na urina).
Os hepatócitos, as células básicas do fígado, também são capazes de sintetizar a glicose a partir de
fontes diferentes dos carboidratos como os aminoácidos, processo que é chamado de gliconeogênese.
Todas as células do organismo necessitam energia para os seus processos metabólicos e secretórios.
Uma das principais fontes de energia é a oxidação dos carboidratos usando o oxigênio captado pelos
pulmões. Principalmente no cérebro e no coração, órgãos metabolicamente muito ativos, a glicose é
oxidada diretamente sem muitas frescuras; portanto, amigos, se o seu filhote de pássaro estiver privado
dessa importante fonte de energia (dieta fornecida insuficiente, fêmea que não trata adequadamente, etc)
poderá apresentar danos cerebrais importantes com perdas irreparáveis para o seu desempenho como o
canto e o temperamento. Uma oxidação interessante, e já nossa velha conhecida dos bancos escolares, é a
que se faz através da coenzima L, da tiamina e dos pirofosfatos (sem a intervenção da adenosina trifosfato
ou ATP), na qual, a cada volta do ciclo do ácido cítrico, há a oxidação de uma molécula do ácido pirúvico
que é fornecedor de energia. O ciclo do ácido cítrico nada mais é que o manjado ciclo de H. A. Krebs que
metaboliza o ácido pirúvico vindo da glicólise do piruvato que é descarboxilado em acetato, o qual, reage
com a coenzima A dando origem à acetilcoenzima A, a qual, condensa-se com oxalacetato para formar
ácido cítrico. No popular: no ciclo de Krebs, que acontece nas verdadeiras centrais de produção de energia
celular chamadas mitocôndrias e que são alimentadas pelo ácido pirúvico, há sucessivas oxidações sempre
com a produção de energia.
A acetilcoenzima A (acetil CoA) é originada da beta oxidação dos ácidos graxos e da degradação da
glicose e é oxidada no ciclo do ácido cítrico produzindo, além do gás carbono, quantidade muito grande de
co-fatores adenina dinucleotídeo nicotinamida (NADH) e Adenina dinucleotídeo flavina (FADH). Cada um
desses co-fatores libera um ion hídrico (H-) que é despojado de dois elétrons de alta energia e torna-se um
proton (H+). Os elétrons, durante a respiração mitocondrial, reduzem o oxigênio para originar água (H2O).
Criaram uma teoria chamada quimiosmótica que tem como base uma força motora de prótons originada
pela concentração deles no espaço intermembranas celular; esses prótons (H+) chegam ao espaço usando
a energia gerada pela transferência seqüencial de elétrons. Conforme os prótons passam por esse gradiente
eletroquímico, o diferencial energético da força motora de prótons é transformada na ligação estável de alto
valor energético chamada adenosino trifosfato (ATP) tendo como base o adenosino difosfato + Pi(fósforo
inorgânico). O importante é que, durante todo o processo de glicólise, da passagem pelo ciclo dos ácidos
tricarboxílicos e o transporte de elétrons cada molécula de glicose gera 35 a 36 moléculas de ATP. Em
algumas células, como as células de gordura cinzenta dos animais hibernantes, a oxidação não resulta na
formação de ATP e sim em calor.
Quando o músculo se contrai em meio sem oxigênio (anaeróbio) a glicólise tem no lactato o produto
final; se o meio for aeróbio (com oxigênio) a glicólise chega a piruvato e, finalmente, ao gás carbônico e
água.
Nas células musculares o glicogênio, como vimos, forma de estoque dos carboidratos, é degradado pela
glicogenólise até glicose; a glicose sofre lise (glicólise), degradação metabólica que termina na produção de
ácido pirúvico, o qual, transforma-se em ácido lático, sempre com produção de energia. O excesso de ácido
17
lático muscular vai ao sangue e ao fígado onde dá origem ao glicogênio, fechando o chamado ciclo de Cori.
E aí Taddei, você deve estar pensando que o amigo cruzeirense ficou maluco, mas é o que está acontecendo
no momento no organismo do Brejeiro. Se assim não fosse, não teria forças para as disputas de canto e as
tantas galaduras.
Quando há alteração nesse fascinante e intrincado metabolismo dos carboidratos, surgem várias
doenças: diabetes mellitus, a mais importante e mais freqüente delas, doença na estocagem do glicogênio,
galactosemia, intolerância à frutose, intolerância à glicose, deficiências de enzimas envolvidas no
metabolismo como lactase, sucarase, maltase que provocam diarréias e má absorção pelo efeito osmótico
dos açúcares não absorvidos e pela fermentação dos carboidratos pelas bactérias intestinais.
O criador de pássaros deve estar atento ao excesso de carboidratos que pode estar contido na dieta
dos seus pássaros. As sementes são riquíssimas nesses nutrientes, principalmente sob a forma de amido,
chegando o painço branco a ter quase 60% de carboidratos e a aveia quase chega aos 70%; as hortaliças
(verduras e legumes) e as frutas também possuem boa quantidade de carboidratos. Portanto, não é difícil
ao pássaro estar ingerindo quantidade muito alta de carboidratos, ainda mais quando faz-se uso abusivo
de alimentos como o mel, o que, o levará certamente à obesidade com todas as suas graves conseqüências
metabólicas, osteoligamentares e reprodutivas. Há no mercado vários produtos extrusados e inúmeras
farinhadas e isso vem facilitando a vida do criador porque já vêm com as quantidades e os balanceamentos
adequados das proteínas, gorduras e carboidratos. Cabe ao criador somente procurar os fabricantes
idôneos.
HORTALIÇAS
Alimento
Proteínas
Carboidratos
Gorduras
Acelga
1.60
5.60
0.40
Agrião
2.80
3.30
0.40
Alface
1.30
2.90
0.20
Almeirão
1.70
4.10
0.20
Bertalha
1.20
4.10
0.20
Beterraba folha
3.20
8.10
0.40
Beterraba raiz
1.70
9.50
0.10
Brócolis
4.50
6.40
0.60
Cambuquira
4.20
3.40
0.40
Chuchu
0.90
7.70
0.20
Aspargo
2.00
4.40
0.20
Berinjela
1.00
6.30
0.30
Couve
4.50
7.30
0.70
Cenoura
0.80
8.90
0.40
Chicórea
2.40
3.90
0.10
Ervilha fresc.
7.60
21.00
0.40
Espinafre
2.80
4.90
0.70
Mostarda folha
2.60
4.80
0.40
Nabo folha
2.90
11.20
1.70
Pepino
0.70
3.40
0.10
Pimentão
1.20
7.10
0.30
Quiabo
2.20
9.70
0.20
Rabanete folha
2.80
9.90
0.50
Repolho
1.70
6.10
0.20
Serralha
2.40
3.90
-----
Tomate
0.80
4.60
0.30
18
SEMENTES
Alimento
Proteínas
Carboidratos
Gorduras
Alpiste
16.60
49.00
6.50
Colza
19.60
18.00
45.00
Linhaça
24.20
25.00
36.50
Níger
23.00
17.00
40.00
Painço branco
12.50
58.80
3.90
Perilla
22.60
10.60
43.20
Senha
10.20
21.80
32.50
Arroz c/casca
9.60
2.70
Aveia
11.30
68.40
8.70
Nabão
20.70
5.70
40.20
Cânhamo
18.20
21.80
32.50
Alface
20.40
19.00
39.00
Papoula azul
19.00
18.00
45.00
Proteínas
Carboidratos
Gorduras
0.30
5.80
0.50
Abio
1.80
36.30
0.40
Abricó
0.60
12.10
0.20
Ameixa verme.
0.20
11.90
0.20
Banana
1.20
25.40
0.20
Caju
0.80
11.60
0.20
Caqui
0.80
20.00
0.40
Cereja
1.80
14.80
Carambola
0.50
8.80
0.30
Figo maduro
1.20
15.60
0.20
Fruta conde
1.60
24.20
0.20
Goiaba
0.90
17.30
0.40
Jabuticaba
0.10
12.60
0.00
Jambo
0.80
5.50
0.20
Laranja
0.80
10.50
0.20
Laranja lima
0.40
7.00
1.40
Limão
0.60
8.10
0.60
Maçã
0.30
15.20
0.30
Mamão
0.50
8.30
0.10
Manga
0.50
15.40
0.20
Maracujá
1.90
17.60
1.30
Melancia
0.50
5.30
0.10
Melão
0.50
6.20
0.10
Morango
0.80
8.50
0.30
Nespera
0.20
10.70
0.60
Pera
0.30
14.80
0.20
Pessego
0.80
13.30
0.20
Romã
0.80
16.20
0.70
Tangerina
0.70
10.90
0.20
Uva
0.60
16.70
0.70
FRUTAS
Alimento
Abacaxi
19
OUTROS
Alimento
Proteínas
Carboidratos
Gorduras
Ovo em pó
30.00
Espirulina
71.00
Mosca/pupa
63.00
Pólen
30.00
50.00
14.00
Fari. Minhoca
70.00
5.10
7.00(MAX)
8.00
76.20
1.10
25.50
21.30
44.00
Arroz integr.
7.20
77.60
1.50
Aveia flocos
14.00
65.00
1.40
Dextrosol
00.00
91.50
00.00
Farinha lácte
13.50
75.10
7.80
Milho flocos
8.20
86.70
0.40
Fubá
7.80
73.40
2.20
Gergelim sem.
17.60
21.10
52.20
Karo
00.00
73.00
00.00
Leite pó integ.
26.10
38.60
25.50
Leite pó desn.
35.00
49.20
1.00
Levedo cervej
10.60
13.00
0.40
Maizena
3.10
87.90
0.60
Mel
0.20
78.00
00.00
Milho verde
3.90
21.80
1.10
Óleo vegetal
00.00
00.00
100.00
Ovo gal. Gema
16.00
2.00
29.20
Ovo gal clara
11.00
1.00
0.20
Ovo gali.Integ
11.30
2.70
9.80
Ovo pata inte
13.00
2.70
14.20
Pão
10.30
63.10
1.80
4.00
46.40
1.80
Canjica
Amendoim
Pinhão cozido
54.00
15.50
Broto de soja
3.00
2.80
0.10
Far.Soja s/gor
42.80
39.00
3.30
Trigo grão
11.70
75.80
2.00
Esta tabela, baseada em dados de diversas fontes, está longe de ser completa. A parafernália de
alimentos usados pelos passarinheiros para a alimentação das suas aves é imensa e está sempre aumentando
graças à proverbial criatividade dos criadores. Fatores culturais, folclóricos, regionais e das experiências
pessoais, aliados aos novos conhecimentos, fazem do universo da nutrição dos pássaros um mundão
danado, como diriam alguns amigos mineiros do sertão. Mundão do sem fim.
Mas, de prático, basta seguir a Natureza, propiciando às suas aves variedade entre alimentos de origem
animal e vegetal e tudo estará resolvido sem muitas frescuras.
Vivemos um período especial com a entrada no mercado de diversos produtos extrusados, peletizados
e farinhadas, muitos deles de ótima qualidade. Alguns criadores já os usam e narram ótimos resultados
econômicos, higiênicos e na facilitação do manejo.
20
Muitas vezes criadores experientes usam rações fabricadas para outros animais, como as rações para
codornas, para as galinhas e mesmo para gatos e cães.
Enfim, a opções são muitas, cabendo ao criador escolher aquela que satisfaça o seu bolso, as suas
experiências pessoais e a sua cultura passarinheira.
21
Download

Os adipócitos (célul - Criadouro Monte Alvão