Rotinas na Educação Infantil
Maria Carmen Silveira Barbosa
Rotina é uma categoria pedagógica que os responsáveis pela educação infantil
estruturaram para, a partir dela, desenvolver o trabalho cotidiano nas instituições
de educação infantil. Elas podem ser vistas como produtos culturais criados,
produzidos e reproduzidos no dia a dia, tendo como objetivo a organização da
cotidianeidade. São rotineiras atividades como estudar, dormir, trabalhar,
reguladas por costumes e desenvolvidas em um espaço-tempo social definido e
próximo, como a casa, a comunidade ou o local de trabalho. A rotina é apenas
um dos elementos que integram o cotidiano. São denominadas de: horário;
emprego do tempo; sequência de ações; trabalho dos adultos e das crianças;
plano diário; rotina diária; jornada etc.
As rotinas aparecem como modelos ou sugestões para a organização do
trabalho pedagógico do educador, mas, em geral, não são teorizadas. A rotina
torna-se apenas um esquema que prescreve o que se deve fazer e em que
momento esse fazer é adequado.
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS ROTINAS:
Fatores que fundamentam e apoiam a operacionalização da estruturação interna
das rotinas pedagógicas. São eles: a organização do ambiente; o uso do tempo;
a seleção e as propostas de atividades; a seleção e a oferta de
materiais.
A ORGANIZAÇÃO DO AMBIENTE
Se considerarmos uma criança ativa, exploradora e criadora de sentido, é
preciso pensar um espaço e um educador que deem apoio aos seus
movimentos, que incentivem sua autoria e autonomia, que contribuam para a
diversificação de suas possibilidades. O espaço é o elemento material pelo qual
a criança experimenta o calor, o frio, a luz, a cor, o som e, em uma medida, a
segurança. [...] é em um espaço físico que a criança estabelece a relação com o
mundo e com as pessoas; e, ao fazê-lo, esse espaço material se qualifica (LIMA,
1989).
O espaço físico opera favorecendo ou não a construção das estruturas cognitivas
e subjetivas das crianças. Ao mesmo tempo, impõe limites ou abre espaço para
a imaginação dos adultos que criam ambientes (com auxílio das crianças) ricos
e desafiantes, onde todos tenham a possibilidade de ter vivências e experiências
diferenciadas, ampliando suas capacidades de aprender, de expressar seus
sentimentos e pensamentos. A organização do ambiente traduz uma maneira de
compreender a infância, de entender seu desenvolvimento e o papel da
educação e do educador.
As diferentes formas de organizar o ambiente para o desenvolvimento de
atividades de cuidado e educação das crianças pequenas traduzem os objetivos,
as concepções e as diretrizes que os adultos possuem com relação ao futuro
das novas gerações e às ideias pedagógicas. Pensar no cenário onde as
experiências físicas, sensoriais e relacionais acontecem é um importante ato
para a construção de uma pedagogia da educação infantil. Refletir sobre a luz,
a sombra, as cores, os materiais, o olfato, o sono e a temperatura é projetar um
ambiente, interno e externo, que favoreça as relações entre as crianças, as
crianças e os adultos e as crianças e a construção das estruturas de
conhecimento.
OS USOS DO TEMPO
As rotinas são dispositivos espaço-temporais e podem, quando ativamente
discutidas, elaboradas e criadas por todos os interlocutores envolvidos na sua
execução, facilitar a construção das categorias de tempo e espaço. A
regularidade auxilia a construir as referências, mas ela não pode ser rígida, pois
as relações de tempo e espaço não são a priori nem únicas, sendo preciso
construir relações espaço-temporais diversas.
A SELEÇÃO E OFERTA DE MATERIAIS
Os materiais são elementos essenciais na organização das rotinas. Sua
existência, sua variedade e sua exploração são fatos que levam a criar
alternativas em termos de atividades para os grupos.
É possível procurar o outro lado da rotina, seu lado encantador, de aprender
fazer todos os dias, de maneiras distintas, as tarefas que nos garantem a vida e,
também, a conviver diariamente com nossos pares, crianças e educadores,
recriando esses atos e essas relações.
Assim, para organizar estas atividades no tempo, é fundamental levar em
consideração três diferentes necessidades das crianças:
As necessidades biológicas, como as relacionadas ao repouso, à alimentação,
à higiene e à sua faixa etária; as necessidades psicológicas, que se referem às
diferenças individuais como, o tempo e o ritmo de cada um; as necessidades
sociais e históricas que dizem respeito à cultura e ao estilo de vida.
É interessante aqui reforçar a ideia de que a rotina deve prever pouca espera
das crianças, principalmente durante os períodos de higiene e de alimentação.
A espera pode ser evitada se organizarmos a nossa sala de aula de maneira que
a criança tenha a possibilidade de realizar outras atividades, de forma mais
autônoma, tendo livre acesso a espaços e materiais, enquanto o professor está
atendendo uma única criança.
Bibliografia
Barbosa, Maria Carmen Silveira – Por amor e por força: rotinas na educação
infantil - Porto Alegre: Artmed, 2006
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