Exmo. Senhor Diretor de Informação – TVI Dr. José Alberto Carvalho A Associação Portuguesa de Sociologia, entidade fundada em 1985 e com o estatuto de utilidade pública, vem manifestar o seu repúdio pelas declarações desprovidas de rigor e vexatórias, proferidas pelo comentador residente da TVI24, no programa Olhos nos Olhos, Dr. Medina Carreira, na edição de dia 9 de Abril último. Com efeito, tais declarações, genericamente sobre a irrelevância para a comunidade nacional das ciências sociais e sobre a qualidade da formação dos seus profissionais, exigem, pela sua formulação, desprovida de fundamento, uma correcção rápida, para que o seu autor honre a integridade do perfil (frontalidade e verdade) com que é apresentado pela realização do programa. No que respeita à comunidade sociológica nacional, embora tais declarações tenham sido proferidas também em relação a outros profissionais, a APS esclarece que os sociólogos portugueses são sujeitos a uma avaliação científica rigorosa, atestada por índices de qualidade e de produtividade nacionais e internacionais, cuja independência não pode ser posta em causa pela presunção de quem quer que seja e muito menos em jeito de atoarda. A APS chama ainda a atenção para o facto de as dificuldades existentes em relação ao emprego, afinal o contexto em que tais declarações infelizes foram proferidas, serem exatamente as mesmas que se colocam, e muito injustamente, a outros diplomados em Portugal, conforme dados oficiais do Ministério da Educação e Ciência. Não se pode imputar responsabilidades àqueles que começam por ser as primeiras vítimas dos problemas macroeconómicos, organizacionais e das instituições democráticas que afetam gravemente o País, os quais o Dr. Medina Carreira refere sempre com bastante proficiência nas suas intervenções públicas. São, por conseguinte, dispensáveis as inverdades, as vacuidades e os palpites em cima de uma realidade já de si complexa e penalizadora. A APS lembra, oportunamente, que a taxa de diplomados na população portuguesa é francamente mais baixa que a média europeia, e das mais baixas de todos os 27 Estados-membros, e que existe profusa literatura científica que demonstra, cabalmente, ser exatamente este facto um dos constrangimentos Pessoa Coletiva de Utilidade Pública Av. Prof. Aníbal de Bettencourt, 9 - 1600-189 Lisboa Telef. +351 21 780 47 38 – Fax +351 21 794 02 74 e-mail: [email protected] – http://www.aps.pt estruturais do desenvolvimento do País, quer em termos da sua economia, quer da sua cidadania. A APS sabe que existem milhares de diplomados em Sociologia a trabalharem nas empresas e na administração pública, e não tem conhecimento que esses profissionais sejam um peso morto, “gente” desqualificada que empresários e dirigentes queiram descartar ou que estejam arrependidos de ter alguma vez contratado. A APS também reconhece que este discurso insensível ao contributo das ciências sociais, até para a economia real, se generalizou a outras áreas de profissionalização. De repente, e alegadamente, o País deixou de precisar de pessoas qualificadas, sejam arquitectos, engenheiros, enfermeiros, biólogos, informáticos ou economistas, sociólogos, antropólogos ou historiadores, entre outros. Não é admissível que umas quantas pessoas de uma geração, com influência social e política, decretem a suspensão (temporária ou definitiva, não se sabe) dos horizontes escolares e profissionais de outra geração e entendam condená-la, com argumentos não fundamentados, a um futuro sem esperança. Finalmente, a APS apela aos responsáveis pela produção do programa no qual o Dr. Medina Carreira é atualmente comentador residente, para que, em cumprimento de um dever elementar de cidadania, de garantia da pluralidade de opinião e direito ao contraditório, nos seja possível rebater, em condições de audiência idênticas às do Dr. Medina Carreira, as suas perigosas declarações, que se refletem, no imediato, sobretudo junto daqueles que se encontram a frequentar cursos de ciências sociais, seja de 1º, 2º ou 3º ciclo, como se verificou ontem e hoje em muitas salas de aula. Pensamos que o direito à informação e a liberdade de expressão se podem conjugar em simultâneo com a responsabilidade cívica das figuras públicas. Lisboa, 11 de abril de 2012 Pela Direção da APS Paulo Machado Pessoa Coletiva de Utilidade Pública Av. Prof. Aníbal de Bettencourt, 9 - 1600-189 Lisboa Telef. +351 21 780 47 38 – Fax +351 21 794 02 74 e-mail: [email protected] – http://www.aps.pt