RELATO DE CASO: ARTRITE MENINGOCÓCICA PRIMÁRIA SEM
MENINGOCOCCEMIA
Fonseca LA F1 ,Marasca V1, Jodar M1, Sarinho1 JCGC, Dr. Aprahamian I1
1Departamento
de Clínica Médica Faculdade de Medicina de Jundiaí, Jundiaí, SP, Brasil
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Introdução
A meningite e a meningococcemia são quadros clínicos graves, muito conhecidos e discutidos pela literatura, assim como seu
acometimento articular, que pode ocorrer em 4-50% dos casos(1;2) , entretanto, a artrite primária causada pelo meningococo é rara e
com evolução frequentemente benigna (3).
Palavras-chaves: artrite meningococcica primaria, artrite septica, Neisseria meningitidis
Descrição do caso
Paciente 53 anos, sexo feminino, branca, hipertensa há 23 anos e
com depressão, iniciou quadro há 10 dias de odinofagia, tratada com
antiinflamatório não hormonal (diclonefaco), com melhorada dos
sintomas. Apresentava há 7 dias artrite de tornozelo esquerdo que
evoluiu com poliartrite aditiva de grandes articulações acometendo
tornozelo direito, joelhos, punhos e cotovelos, associado a rigidez
matinal, lesões papulares, eritematosas, planas, indolores que não
desapareciam à digitopressão e dois episódios de febre não aferida.
Sem qualquer outra queixa. Ao exame físico de entrada em nosso
serviço apresentava-se estável hemodinamicamente, afebril, com
artrite de tornozelos e punho esquerdo, sufusões hemorrágicas com
predomínio de membros inferiores, mas presentes em abdômen e
membros superiores e sem qualquer alteração nos demais aparelhos,
inclusive neurológico. Optado por hospitalização para investigação,
foi medicada com sintomáticos e prednisona 20 mg/dia, com boa
resposta inicial. Em exames complementares apresentava leucocitose
com elevação de provas de atividade de inflamatória. No terceiro dia
de internação apresentou hemocultura positiva em duas amostras
para Neisseria meningitidis, soro grupo C. Realizado tratamento com
ceftriaxone 2g endovenoso de doze em doze horas e otimizada dose
de prednisona para 60mg/dia por 14 dias, apesar do líquido
cefalorraquidiano sem evidência de infecção do SNC. Recebeu alta
assintomática, sem nunca apresentar sinais de alteração
hemodinâmica ou neurológica.
Discussão
A artrite meningocócica sem envolvimento neurológico ou sem
sinais de meningococcemia é uma forma rara da infecção por
meningococo, sendo relatado até 2002, apenas 34 casos da
doença (2).
Conclusão
A artrite séptica é uma emergência clínica que deve ser
prontamente reconhecida e tratada. A artrite meningocócica
primária é uma patologia rara, com poucos casos descritos na
literatura em que a hemocultura e cultura do líquido sinovial são de
fundamental importância para o diagnóstico, e patologia costuma
cursar com evolução benigna.
Referências:
1) Ibrahim KY, et al. Infection and Imune-Mediated Meningococcal-Associated
Arthritis: Combination Features in The Same Patient 2012: 54(2):109-11.
Figuras 1 e 2: sufusões hemor-rágicas em membros inferiors.
A infecção de vias aéreas superiores antecede o quadro em 50% das
vezes (4). O acometimento articular variável, com predomínio de
monoartrite de joelhos seguido de poliartrite, lesões cutâneas
ocorrem em até 30% dos casos (5;6).
A artrite meningococica primária apresenta uma boa resposta ao
tratamento com penicilina G ou cefalosporina de terceira geração
por um curto período de tempo, em geral uma semana, porém sem
um papel claro quando se trata de corticoterapia. A doença costuma
apresentar bom prognóstico articular, sem danos as sinóvia e a
cartilagem. Há estudos em que nenhum paciente apresentou
deformidades e/ou limitações articulares a longo prazo, assim como
sem acometimento sistêmico ou neurológico(7,8)
A paciente em questão apresentou quadro compatível com artrite
meningocócica primária, precedida por infecção de vias aéreas
superiores, quadro articular que se manifestou através de poliartrite
aditiva, acompanhada de febre e lesões cutâneas. Os exames
laboratoriais evidenciaram leucocitose e neutofilia, além de
aumento de provas de atividade inflamatória. O diagnóstico se deu
através de 2 hemoculturas positivas para Neisseria meningitidis
sorogrupo C. A resposta ao tratamento foi satisfatória, compatível
com dados encontrados na literatura.
2) Giamarellos-Bourboulis EJ, et al. Primary Meningococcal Arthritis: Case report
and review. Clinical and Experimental Rheumatology 2002: 20: 553-54 . 3) Marc I.
Harwood,
et
al.
Primary
Meningococcal
Arthritis.
doi:
10.3122/jabfm.2008.01.060145; 4) Byeff PD ety al. Meningococcal arthritis. JAMA
1976;235:2752 5) Schaad UB. Arthritis in disease due to Neisseria meningitidis. Rev
Infect Dis 1980;2:880 – 8; 6) Rompalo AM, et al. The acute arthritis-dermatitis
syndrome. the changing importance of Neisseria gonorrhoeae and Neisseria
meningitidis. Arch Intern Med 1987;147:281–3; 7) Cabellos C, et al. Arthritis related
to systemic meningococcal disease: 34 years’experience. European Journalof Clinical
Microbiology and Infectious Diseases 2012:31:2661-6 8) Ortiz-Santamaria V,
Gimenez M, Casado E, Olivé A. Primary Meningococcal Arthritis in the Elderly.
Clinical Rheumatology 2001:20:159
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Relato de caso: artrite meningocócica primária sem meningococcemia