Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(4): 193-202. Neri-Souza AJ, et al. Reestenose Intra-Stent. Opções Terapêuticas na Realidade Brasileira. Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(4): 193-202. Artigo de Revisão Reestenose Intra-Stent. Opções Terapêuticas na Realidade Brasileira Antônio José Neri-Souza1-3, Anderson Jorge Lima Nascimento1-3, Alex Sandro dos Santos Carvalho1 RESUMO SUMMARY Implante de stent coronário se tornou a intervenção coronária mais comumente realizada devido a melhores resultados a curto e a longo prazo, quando comparado à angioplastia por balão. O uso de stents em larga escala levou ao aparecimento de um novo problema, a reestenose intrastent. A incidência de reestenose intra-stent varia de 10 a 50% e depende da ausência ou presença de vários fatores de risco. Estudos com ultra-som intracoronário têm demonstrado que, diferente da angioplastia por balão, onde a reestenose é predominantemente causada por recolhimento elástico e remodelação vascular, a reestenose intra-stent é principalmente causada por proliferação neointimal. Conseqüentemente, este processo patológico se tornou o alvo das terapias de prevenção e tratamento. Neste artigo, discutiremos as opções terapêuticas na realidade brasileira. Intra-Stent Restenosis: Therapeutic Options in the Brazilian Scenario Coronary stent implantation has replaced balloon angioplasty as the most commonly performed percutaneous coronary intervention, mainly due to improved short and long-term outcome. The widespread use of stents has posed a new problem: intra-stent restenosis. The incidence of intra-stent restenosis ranges from 10% to 50% and depends on the absence or presence of several risk factors. Intracoronary ultrasound studies have demonstrated that, in contrast to balloon angioplasty, where restenosis is predominantly caused by elastic recoil and vascular remodeling, intra-stent restenosis is mainly caused by neointimal proliferation. Consequently, the pathologic process has become the target of many preventive and therapeutic approaches. The present article discusses the therapeutic options for the Brazilian scenario. DESCRITORES: Stent. Reestenose coronária. Resultado de tratamento. DESCRIPTORS: Stent. Coronary restenosis. Treatment outcome. S va, o fenômeno da reestenose coronária, como demonstrado nos estudos BENESTENT (Belgium-Nederland Stent Investigators)4 e STRESS (Stent Restenosis Study Investigators)5. No entanto, a incidência de oclusão aguda ou subaguda pós-implante de stent entre 2 e 10% implicava em regimes de anticoagulação que levavam a complicações hemorrágicas, principalmente no sítio de punção3. A evolução na técnica de implante do stent e a utilização de antiagregantes plaquetários reduziram a ocorrência de complicações trombóticas e vasculares, levando ao uso quase sistemático de stents para tratamento percutâneo da doença arterial coronária6,7. tent é um dispositivo utilizado na revascularização percutânea. A idéia de utilizar stent intravascular para tratar dissecção e evitar o recolhimento elástico pós-angioplastia por balão foi introduzida por Charles Dotter, em 19641. Contudo, a primeira utilização de stent coronário em humanos foi descrita por Sigwart et al.2, em 1986. Na fase inicial, o uso de stent era reservado para o tratamento de complicações pós-angioplastia coronária por balão como, por exemplo, oclusão coronária aguda, dissecção e recolhimento elástico3. A utilização de stent coronário na prática clínica mudou dramaticamente o tratamento da doença obstrutiva coronariana por reduzir, de maneira significati- 1 Hospital Jaar Andrade; Salvador - BA, Brasil. Hospital Ana Neri; Salvador - BA, Brasil. 3 Hospital São Rafael; Salvador - BA, Brasil. Correspondência: Antônio José Neri-Souza. Rua Tenente Fernando Tuy, 318/1701 - Pituba - Salvador - BA - Brasil - CEP 41810-780 Telefax: (71) 3451-4417/3395-6010 • e-mail: [email protected] Recebido em: 24/10/2005 • Aceito em: 17/11/2005 2 O uso de stents em larga escala levou ao aparecimento de uma nova entidade chamada reestenose intra-stent (RIS), com incidência variando de 10 a 50% dos casos tratados com implante de stent, decorrente, principalmente, da hiperplasia neointimal7. Desta forma, o problema da RIS se tornou tão importante quanto a reestenose pós-angioplastia por balão. Embora lesões localizadas próximas ao stent não devessem ser qualificadas como RIS, estas áreas fazem parte do segmento tratado e podem ser conseqüência da injúria do balão 193 JoseNeri.p65 193 19/12/2005, 11:01 Neri-Souza AJ, et al. Reestenose Intra-Stent. Opções Terapêuticas na Realidade Brasileira. Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(4): 193-202. no momento do procedimento, sendo, portanto, também consideradas RIS8. A melhor estratégia para tratar a RIS ainda não está completamente esclarecida. Idealmente, a estratégia para tratar a RIS deve ser segura, de fácil utilização, ter baixa incidência de recorrência, não modificar a estrutura do stent e resultar em ampla luz do vaso no local tratado. Neste artigo, vamos discutir as opções terapêuticas na realidade brasileira. Serão abordados as estratégias mecânicas (angioplastia por balão, aterectomia direcionada, aterectomia rotacional, cutting balloon, angioplastia a laser, implante de novo stent) e uso de braquiterapia. Os stents farmacológicos serão abordados em outro artigo. ANGIOPLASTIA POR BALÃO Angioplastia por balão (AB) foi o primeiro tratamento empregado para a RIS9. Os resultados iniciais com a utilização da AB indicam um alto porcentual de sucesso clínico (definido como sucesso do procedimento na ausência de complicações maiores intra-hospitalares), variando de 98 a 100%. As complicações são raras, decorrentes de dissecções proximais ou distais ao stent original10. A expansão das indicações para implante de stents, além do uso de stents longos, aumentou consideravelmente a incidência de tipos mais complexos de RIS (difusa, proliferativa e oclusão total)11. A recorrência de reestenose pós-AB para tratamento da RIS é influenciada pelo padrão da reestenose. Reimers et al.12 demonstraram que a extensão da RIS estava associada a maior risco de nova revascularização da lesão-alvo. Eltchaninoff et al.13 observaram recorrência de reestenose em 31% para RIS focal e de 63% para RIS difusa. Bauters et al.14 verificaram que a recorrência da reestenose ocorreu em 42% quando a RIS era difusa, sendo de 14% para a RIS focal (p<0,006). Mehran et al.11 desenvolveram uma classificação angiográfica para a RIS, com base na distribuição geográfica da hiperplasia neointimal em relação ao stent implantado (tipo I = focal; tipo II = intra-stent, difusa, com extensão >10 mm; tipo III = difusa proliferativa, com extensão > 10 mm, estendendo além das margens do stent; tipo IV = oclusão total). Os autores verificaram que o tipo de RIS foi preditor de re-reestenose, ocorrendo em 9% quando a RIS era do tipo I, 20% quando do tipo II, 34% para o tipo III e 50% para o tipo IV (p<0,01). Revascularização da lesão-alvo, em seguimento clínico de um ano, ocorreu em 19% quando a RIS foi do tipo I, 35% para o tipo II, 50% para o tipo III e 83% para o tipo IV (p<0,0001). Os mecanismos de ação da AB no tratamento da RIS foram identificados pelo ultra-som intracoronário (USIC). O aumento da luz do vaso (diâmetro luminal mínimo - DLM) ocorre pela extrusão do tecido neointimal através das hastes do stent e por uma expansão adicional do stent já implantado. O resultado do proce- dimento é que há um aumento da área de secção transversal do vaso, porém a um nível inferior ao obtido quando o stent foi implantado. Utilizando USIC antes e após a AB para tratar a RIS, Mintz et al.10 demonstraram que a AB não obtém o diâmetro da luz do vaso semelhante ao resultado encontrado depois do implante do stent, mesmo utilizando pressões elevadas durante a insuflação com o balão. A extrusão tecidual foi responsável por 44% do aumento na luz do vaso e 56% decorrente de expansão adicional do stent implantado. Os autores verificaram, ainda, que o tecido neointimal residual ocupava 32% na área de secção transversal dentro do stent. Além disso, foi verificado que significante reintrusão do tecido neointimal ocorre logo após a AB15. Desta forma, para lesões com expansão inadequada do stent e para RIS focal, a AB pode ser uma solução efetiva a curto e a longo prazo, enquanto que o tratamento de RIS difusa tem resultados imediatos e tardios subótimos 11,13,14. ATERECTOMIA DIRECIONADA A aterectomia direcionada é uma opção atrativa para o tratamento da RIS, já que obtém maior lúmen através da remoção do tecido neointimal, resultando em maior ganho agudo no diâmetro do vaso10. No entanto, a utilização da AD é limitada a vasos mais calibrosos e não envolvendo tortuosidade do segmento proximal devido ao maior perfil do cateter. Sendo assim, para a AD ser indicada para o tratamento da RIS é necessário desenvolver cateteres com menor perfil e maior flexibilidade. Strauss et al. 16 demonstraram que aterectomia direcionada (AD) apresenta resultados imediatos semelhantes aos obtidos depois do implante do stent original (diâmetro luminal mínimo de 2,31±0,38 mm versus 2,44±0,35 mm). Em outro estudo com 45 pacientes tratados com AD, Mahdi et al.17 obtiveram sucesso de 100%, com estenose residual de 17±10%, ocorrendo infarto não-Q em 9% e revascularização da lesão-alvo em 28,3%. Contudo, a descrição de lesão em hastes do stent com a AD torna questionável a segurança desta estratégia18. ATERECTOMIA ROTACIONAL A aterectomia rotacional (ROTA) aumenta a luz do vaso através da remoção da placa aterosclerótica; além disso, a dilatação proporcionada pelo balão aumenta o ganho na luz do vaso através de expansão adicional do stent e extrusão tecidual pelas hastes do stent. A recorrência da reestenose tem sido reportada entre 28 e 65%19-23. Sharma et al.19 avaliaram 100 pacientes com RIS tratados com ROTA e verificaram que, em seguimento tardio de 8 a 18 meses, a reestenose ocorreu em 28% e a necessidade de nova revascularização em 26%. 194 JoseNeri.p65 194 19/12/2005, 11:01 Neri-Souza AJ, et al. Reestenose Intra-Stent. Opções Terapêuticas na Realidade Brasileira. Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(4): 193-202. Dauerman et al. 20 reportaram os resultados de um estudo comparativo entre AB e ROTA, sendo verificado que a necessidade de revascularização da lesãoalvo em 1 ano foi de 46%, no grupo tratado com AB e 28%, no grupo tratado com ROTA; entretanto, as lesões do grupo AB foram mais longas (18,4±13,2 mm versus 13,5±8,3 mm; p=0,09). Radke et al.21 avaliaram, com USIC, 45 pacientes portadores de RIS tratados com ROTA. Os autores verificaram que a ROTA leva a um maior ganho luminal agudo por remover efetivamente a placa aterosclerótica e a dilatação com o balão resulta em ganho luminal adicional devido à expansão do stent e à extrusão tecidual. Extensão da lesão e do stent, gravidade da RIS e recolhimento elástico pós-ROTA foram identificados como preditores independentes de recorrência da reestenose. Os resultados de 2 estudos randomizados, comparando aterectomia rotacional e angioplastia com balão, são conflitantes. O estudo ARTIST (Angioplasty versus Rotational Atherectomy for Treatment of In-Stent Restenosis )22 randomizou 298 pacientes e demonstrou maior reestenose (65% versus 51%; p=0,04) e menor sobrevida livre de eventos em 6 meses (79,6% versus 91,3%; p<0,006) para o grupo tratado com ROTA. Por outro lado, o estudo ROSTER (The Randomized Trial of Rotational Atherectomy versus Balloon Angioplasty for In-stent Restenosis)23 incluiu 200 pacientes e demonstrou que a necessidade de nova revascularização na lesão-alvo foi de 32% para o grupo tratado com ROTA versus 45% para o grupo tratado com AB (p<0,05), sendo que a reestenose angiográfica foi de 42% para o grupo tratado com ROTA e 56% para a AB, sem alcançar significância estatística. A exclusão de stents implantados de forma inadequada no estudo ROSTER e sua inclusão no ARTIST foi a grande diferença entre os dois estudos. Os resultados do estudo ARTIST são imputados ao menor diâmetro luminal mínimo obtido ao final do procedimento. O uso da ROTA seguido de insuflação do balão com baixa pressão pode não ter sido apropriado. A técnica mais adequada deveria incluir hiperinsuflação do stent com um balão nãocomplacente, ampliando, portanto, a luz do vaso. reestenóticas, respectivamente. Utilizando o USIC, os autores verificaram que o diâmetro obtido no final do procedimento é decorrente da eliminação do tecido neointimal pelo laser em 30%, da extrusão adicional do tecido através das hastes do stent em 30% e da expansão adicional do stent pelo balão nos restantes 40%. A análise pareada demonstrou que o tratamento com LASER resultou em maior ganho luminal, maior área transversa do vaso e tendência a menor necessidade de revascularização do vaso-alvo (21% versus 38%; p=0,08). No entanto, em outro estudo, Mehran et al. 25 demonstraram que não havia diferença em tratar a RIS com ROTA + AB comparado a LASER + AB. O estudo de sobrevida LARS (Laser Angioplasty of Restenosed Stents) avaliou 440 pacientes tratados com LASER, sendo reportado sucesso de 91%, ocorrência de infarto não-Q em 2,7%, infarto Q em 0,5%, dano ao stent em 0,5% e morte em 1,6% dos casos26. Em outro estudo, Koster et al.27 avaliaram o uso da LASER em 96 pacientes com RIS, sendo observado que, ao final de 6 meses, a incidência de recorrência de reestenose foi elevada. Devido a estas observações, é questionável o valor do LASER no tratamento da RIS. CUTTING BALLOON O cutting balloon (CB) é um balão de angioplastia com três a quatro lâminas dispostas longitudinalmente que cortam a placa ateromatosa superficialmente durante a insuflação do balão, facilitando a extrusão máxima do tecido neointimal, separado em três a quatro quadrantes. A ação do CB envolve compressão circunferencial do tecido neointimal. O CB tem também uma vantagem prática sobre a AB no tratamento da RIS: os balões tradicionais tendem a se mover proximal ou distalmente, quando posicionados na lesão reestenótica, devido à superfície lisa do tecido neointimal. O CB pode evitar esse problema já que as lâminas ancoram no tecido neointimal, durante a insuflação do balão. O tratamento pode, dessa forma, ser realizado com CB com extensão ótima, com menor risco de dissecção nas margens do stent. ANGIOPLASTIA A LASER Muramatsu et al.28 demonstraram, através de análise com USIC, que o mecanismo de dilatação do CB para o tratamento da RIS resultava em redução da área da placa aterosclerótica e, conseqüentemente, aumento na luz do vaso, através da extrusão do tecido neointimal. Os autores sugerem que este mecanismo evita a dilatação do vaso e do stent; desta forma, ocorre menor injúria endotelial, o que pode se traduzir em menor recorrência de reestenose. A finalidade da angioplastia a laser (LASER) é a máxima destruição do tecido neointimal, seguida de dilatação com balão. O resultado do procedimento é um incremento na área transversal do vaso, porém inferior ao obtido inicialmente com o implante do stent. Mehran et al.24 realizaram uma análise pareada utilizando LASER e AB para tratar 54 e 53 lesões Algumas séries reportam menor recorrência da reestenose (8 a 34%) e da revascularização da lesãoalvo (3,8 a 22%)29-33. Adamian et al.33 examinaram, por meio de análise pareada, os resultados de 648 lesões tratadas com ROTA, stent adicional, AB e CB. Após o pareamento, foram selecionadas 258 lesões para análise, sendo observado que: (1) o ganho luminal agudo Sendo assim, o tratamento da RIS com a aterectomia rotacional permanece controverso. Estes resultados controversos podem estar relacionados à remoção incompleta da placa aterosclerótica, principalmente em vasos mais calibrosos, permanecendo porcentual importante de lesão residual. 195 JoseNeri.p65 195 19/12/2005, 11:01 Neri-Souza AJ, et al. Reestenose Intra-Stent. Opções Terapêuticas na Realidade Brasileira. Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(4): 193-202. foi melhor nas lesões tratadas com novo stent, (2) a perda luminal tardia foi menor nas lesões tratadas com CB, resultando em menor reestenose para o CB (20% para CB; 35,9% para ROTA; 41,4% para stent adicional e 45,2% para AB; p=0,04). O estudo randomizado RESCUT (Restenosis Cutting Balloon Evaluation Trial) avaliou a eficácia do CB versus AB em 428 pacientes com todos os tipos de reestenose intra-stent (focal, multifocal, difusa e proliferativa). Os resultados deste estudo demonstraram que a reestenose em 7 meses ocorreu em 29,8% para o CB versus 31,4% para a AB, além de evidenciar padrão de reestenose e eventos clínicos semelhantes entre os dois grupos. Contudo, o CB esteve associado a algumas vantagens: menor necessidade de utilizar mais de um balão (17,8% versus 24,6%; p=0,03), menor necessidade de implantar stent adicional (3,9% versus 8,0%; p=0,07) e menor ocorrência de deslocamento do balão ao ser insuflado (6,5% versus 25,1%; p<0,01)34. Apesar de seguro, alguns autores têm descrito uma complicação infreqüente, o aprisionamento do CB entre as hastes do stent devido à inadequada insuflação do stent previamente implantado35,36. Giugliano et al. 35 descreveram três casos desta complicação, sendo que em um dos pacientes foi necessária a retirada cirúrgica do CB. Almeda & Billhardt36 relataram um caso no qual o stent previamente implantado foi retirado inadvertidamente junto com o CB, sendo implantado novo stent com boa evolução. Portanto, o uso do CB deve ser evitado quando houver dúvidas se a corda guia passou entre as hastes do stent. Alguns autores têm discutido o uso do CB como técnica preparatória para outros tipos de tratamento. Por exemplo, no estudo RENO (Radiation in Europe Novoste Registry) 37, que avaliou o uso da braquiterapia para tratar a RIS, foi reportada menor necessidade de novo procedimento de revascularização da lesão-alvo (10,2% versus 16,6%; p=0,04) e menor incidência de eventos cardíacos maiores incluindo morte, infarto do miocárdio e revascularização (10,8% versus 19,2%; p=0,01) nas lesões tratadas com CB comparadas às lesões tratadas com AB antes da introdução da fonte radioativa. STENT INTRA-STENT Persistência de estenose residual, aspecto irregular intra-stent e dissecções podem ocorrer pós-AB, sendo tratados de forma efetiva com implante de novo stent. Implante de um stent intra-stent é um procedimento seguro, com escassas complicações imediatas. As complicações imediatas são similares às observadas com implante de stent, ou seja, possibilidade de oclusão de ramos laterais, dissecção decorrente da insuflação do balão, trombose aguda e trombose subaguda. Entretanto, maior segmento do vaso estará coberto por stent, além de maior estiramento da parede do vaso, poderosos estímulos para a hiperplasia neointimal. Os estudos com ultra-som intracoronário (USIC) demonstram que poucos minutos depois da dilatação com balão ocorre perda do resultado por reintrusão do tecido neointimal15. O implante do stent adicional pode dificultar a reintrusão do tecido, ajudando a manter o benefício observado quando se realiza a dilatação com o balão. Além disso, o USIC também demonstrou que esta técnica é a única que consegue aumentar a luz do vaso para um diâmetro igual ou superior ao obtido com o stent original10. Bauters et al.14, em estudo não randomizado, compararam 107 lesões com RIS tratadas com AB ou stent intra-stent. Os autores verificaram que a recorrência de reestenose foi de 23%, no grupo tratado com AB e 15%, no grupo tratado com stent, sem alcançar significância estatística. Além disso, o número de vasos tratados com stent foi muito pequeno. Alfonso et al.38 avaliaram os resultados do tratamento da RIS com uso de stent em 65 pacientes, sendo verificado que 14% necessitaram de novo procedimento de revascularização da lesão-alvo, sendo observada reestenose angiográfica em 30%. O estudo RIBS (Restenosis Intra-stent: Balloon Angioplasty Versus Elective Stenting)39 randomizou 450 pacientes com reestenose intra-stent para implante de stent adicional (224 pacientes) ou angioplastia com balão (226 pacientes). Os autores verificaram que, a despeito de porcentuais de sucesso semelhantes, as complicações intra-hospitalares foram mais freqüentes nos pacientes tratados com balão. A taxa de reestenose foi semelhante nos dois grupos, 38% para stent e 39% para balão. Da mesma forma, a sobrevida livre de eventos em 1 ano foi similar, sendo de 77% para stent e 71% para balão. Contudo, analisando o subgrupo de pacientes com diâmetro dos vasos ≥3,0 mm, o grupo tratado com stent apresentou melhores resultados (27% vs. 49%; p=0,007 para taxa de reestenose e 84% vs. 62%; p=0,002 para sobrevida livre de eventos em 1 ano)39. BRAQUITERAPIA O racional do uso da radiação ionizante baseiase no fato desta terapia ser utilizada com sucesso na modificação de quelóides40. Braquiterapia intracoronária envolve a introdução de uma fonte radioativa até o segmento arterial coronário a ser tratado durante o procedimento de revascularização percutânea, mediada por cateter ou stent. O sistema mediado por cateter irradia temporariamente o segmento a ser tratado, enquanto que a irradiação no sistema mediado por stent é contínua por estar o stent embebido em material radioativo41. O estudo SCRIPPS (Scripps Coronary Radiation to Inhibit Proliferation Post-Stenting)42 avaliou o impacto da irradiação gama na redução da RIS, em 55 pacientes. Reestenose angiográfica foi significativamente menor 196 JoseNeri.p65 196 19/12/2005, 11:01 Neri-Souza AJ, et al. Reestenose Intra-Stent. Opções Terapêuticas na Realidade Brasileira. Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(4): 193-202. no grupo tratado com braquiterapia no sexto mês (17% versus 54%; p=0,01) e no terceiro ano (33% versus 64%; p<0,05). Além disso, o grupo tratado com braquiterapia apresentou menor porcentual de eventos compostos (morte, infarto do miocárdio e revascularização da lesão-alvo) no terceiro ano (23,1% versus 55,2%; p=0,01)42. O estudo WRIST (Washington Radiation for InStent Restenosis Trial) 43 avaliou o impacto da irradiação gama em 130 pacientes com RIS. Os autores observaram redução de 57% em eventos compostos (morte, infarto do miocárdio e revascularização da lesão-alvo) no sexto mês (29% versus 67,7%; p<0,001) e redução de 67% na reestenose angiográfica (19% versus 58%; p=0,001). O estudo START (Stent And Radiation Therapy) 44 avaliou, de forma randômica, 476 pacientes com RIS, comparando irradiação beta versus placebo. O tratamento com braquiterapia apresentou redução de nova revascularização da lesão-alvo (17,0% versus 26,8%; p<0,02), de eventos compostos (19,1% versus 28,7%; p<0,03) e de reestenose angiográfica (28,8% versus 45,2%; p=0,001). Contudo, apesar de resultados favoráveis no tratamento da RIS, a braquiterapia apresenta algumas complicações incomuns: (1) trombose tardia – ocorre até 30 dias depois do procedimento, com incidência maior que 5%, associada à angina instável ou infarto do miocárdio; (2) reestenose com efeito das bordas (candywrapper ou edge effect) – ocorre devido à menor dose da irradiação nas bordas; (3) fenômeno da perda geográfica (geographic miss) – decorrente da injúria vascular causada pelo balão associada à irradiação inadequada nas bordas; (4) perda tardia dos resultados (late catch-up) – ocorre aumento da taxa de reestenose em seguimento tardio, como observado nos resultados do estudo SCRIPPS (17% no sexto mês versus 33% em três anos). Acredita-se que este fenômeno ocorra porque a irradiação não inativa todas as células-alvo, deixando algumas células que levam a reestenose tardia41,45-47. Iniciaremos a discussão abordando a angioplastia por balão, aterectomia rotacional, cutting balloon e stent intra-stent. Aterectomia direcionada e angioplastia com laser não serão discutidas, já que os resultados apresentados não demonstraram benefícios com estes métodos. Buscando sintetizar os poucos dados existentes e verificar se a AB é inferior aos três métodos, realizamos uma metanálise, incluindo estudos comparativos entre a angioplastia por balão com a aterectomia rotacional, cutting balloon e stent intra-stent. Os critérios de inclusão foram: (1) estudos randomizados comparando angioplastia por balão com um dos três outros métodos acima mencionados; (2) seguimento tardio maior ou igual a 6 meses e (3) informações sobre eventos cardíacos adversos tardios (morte, infarto do miocárdio, necessidade de novo procedimento de revascularização para a lesão-alvo), sejam eventos compostos ou analisados individualmente. As análises se basearam no princípio de tratar (intention-to-treat). Utilizamos o método fixo (MantelHaenszel e Peto) para estimar as odds ratios (OR) entre as variáveis qualitativas, calculadas com o pacote estatístico Comprehensive Meta Analysis. Os dados foram apresentados como OR, com intervalo de confiança de 95%, valores de “p” bi-caudal, considerando estatisticamente significativo quando p <0,05. Os estudos randomizados incluídos foram: (1) ARTIST – Angioplasty Versus Rotational Atherectomy for Treatment of Diffuse In-Stent Restenosis Trial22; (2) ROSTER – Rotational Atherectomy Versus Balloon Angioplasty for Diffuse In-stent Restenosis23; (3) RESCUT – Restenosis Cutting Balloon Evaluation Trial34 e (4) RIBS – Restenosis Intra-stent: Balloon Angioplasty Versus Elective Stenting39. A REALIDADE BRASILEIRA PARA TRATAR A REESTENOSE INTRA-STENT Características dos pacientes: Os quatro estudos randomizaram 1.376 pacientes, sendo 686 pacientes do grupo controle (tratados com AB) e 690 pacientes do grupo experimental (252 com ROTA, 224 com stent intra-stent e 214 com CB). Não observamos diferença ao analisarmos idade, sexo e fatores de risco (diabetes mellitus, hipertensão arterial, tabagismo e dislipidemia). No grupo experimental, foi observado maior porcentual de pacientes com antecedentes de cirurgia de revascularização do miocárdio com significância marginal (7,97% vs. 5,12%; p=0,055). Não observamos diferença quando a artéria tratada foi a descendente anterior ou quando inibidores de glicoproteína plaquetária foram utilizados no procedimento. As características dos pacientes incluídos nos estudos estão relacionadas na Tabela 1. Atualmente, não há recomendações precisas para o tratamento da RIS. Os dois métodos que apresentam bons resultados são a braquiterapia, que será discutida adiante e os stents farmacológicos, que serão discutidos em outro artigo. Eventos intra-hospitalares e a médio prazo: Nenhuma diferença foi observada entre os eventos intrahospitalares e a médio prazo. Em seguimento tardio que variou de 6 meses a 1 ano, observamos resultados semelhantes entre dois grupos ao avaliarmos morte, O potencial de induzir malignidade secundária é desconhecido. Além disso, a braquiterapia apresenta algumas desvantagens: (1) necessidade de um grupo composto por oncologista com experiência em radioterapia, físico nuclear e técnico em segurança radiológica e (2) necessidade de equipamentos de proteção individual, barreiras protetoras para portas, paredes e janelas41. 197 JoseNeri.p65 197 19/12/2005, 11:01 Neri-Souza AJ, et al. Reestenose Intra-Stent. Opções Terapêuticas na Realidade Brasileira. Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(4): 193-202. infarto, sobrevida livre de eventos e revascularização da lesão-alvo. No entanto, a reestenose angiográfica foi maior no grupo tratado com AB, com significância estatística marginal (43,9% vs. 38,7%; p=0,07). Os resultados intra-hospitalares estão relacionados na Tabela 2, os resultados de revascularização da lesãoalvo e reestenose angiográfica na Tabela 3 e os resultados do seguimento tardio na Tabela 4. e stent intra-stent, sendo a diferença estatística com significância marginal (p=0,07), o que pode ter ocorrido devido ao pequeno tamanho amostral. No entanto, o porcentual de pacientes submetidos a seguimento angiográfico foi variável entre os grupos experimental e controle nos 4 estudos (92,5% vs. 93,8% no ARTIST22; 38% vs. 34% no ROSTER23; 82% vs. 82% no RESCUT34 e 95% vs. 95% no RIBS39). Por outro lado, a necessidade de revascularização da lesão-alvo foi idêntica entre os dois grupos (22,9%). O debate sobre qual a melhor estratégia para revascularizar tais lesões é tão importante quanto a indicação de revascularizar. Atualmente, tanto em estudos clínicos randomizados, quanto na prática clínica diária, há maior interesse nos resultados clínicos (sobrevida livre de eventos – morte, infarto do miocárdio ou necessidade de revascularização Portanto, esta metanálise sugere que a angioplastia por balão deve ser o procedimento de escolha para tratar a RIS no laboratório de hemodinâmica porque não demonstrou inferioridade quando comparada aos outros métodos. Como descrito acima, os resultados intra-hospitalares e a médio prazo foram semelhantes. A reestenose angiográfica foi maior no grupo tratado com AB, comparado a grupo composto por ROTA, CB TABELA 1 Características dos pacientes Estudo n Idade Masculino DM Tabagismo Dislipidemia HAS RM prévia IAM prévio DA II b / III a ARTIST22 AB ROTA 146 60,5±10,2 81,5% 24,7% 05,5% 46,6% 41,1% - 152 62,1±10,8 78,9% 25,7% 07,9% 47,4% 50,0% - ROSTER23 AB ROTA 100 65±10 69,0% 30,0% 66,0% 86,0% 47,0% 23,0% 100 63±10 74,0% 31,0% 63,0% 77,0% 53,0% 25,0% RIBS39 AB STENT 226 61±11 81,0% 26,0% 60,0% 53,0% 51,0% 4,0% 42,0% 57,0% 4,0% 224 61±11 74,0% 27,0% 55,0% 59,0% 59,0% 04,0% 44,0% 47,0% 02,0% RESCUT34 AB CB 214 61,4±9,6 79,0% 27,0% 14,0% 72,0% 69,0% 06,0% 49,0% 46,0% - 214 61,7±10,6 80,0% 24,0% 11,0% 71,0% 64,0% 12,0% 52,0% 44,0% - p 0,190 0,430 0,860 0,160 0,600 0,910 0,055 0,680 0,680 0,720 AB= angioplastia por balão; CB= cutting balloon; DA= artéria descendente anterior; DM= diabetes mellitus; HAS= hipertensão arterial sistêmica; IAM= infarto agudo do miocárdio; ROTA= aterectomia rotacional; RM= revascularização do miocárdio; IIb/IIIa= inibidor de glicoproteína plaquetária IIb/IIIa. TABELA 2 Resultados intra-hospitalares Estudo Experimental Controle OR (IC 95%) Infarto do Miocárdio ARTIST22 RESCUT34 RIBS39 TOTAL 7/152 1/214 2/224 10/590 (1,7%) 2/146 2/214 9/226 13/586 (2,2%) 3,48 0,50 0,22 0,76 (0,71-17,02) (0,04-5,53)0 (0,05-1,02)0 (0,28-2,09)0 0,10 0,56 0,03 0,60 Morte ARTIST22 RESCUT34 RIBS39 TOTAL 0/152 0/214 1/224 1/590 (0,17%) 1/146 0/214 1/226 2/586 (0,34%) 0,32 1,00 1,01 0,69 (0,01-7,87)0 (0,02-50,63) (0,06-16,23) (0,11-4,37)0 0,46 1,00 0,99 0,69 198 JoseNeri.p65 198 19/12/2005, 11:01 p Neri-Souza AJ, et al. Reestenose Intra-Stent. Opções Terapêuticas na Realidade Brasileira. Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(4): 193-202. (3) alguns estudos demonstram redução da gravidade da reestenose em seguimento a longo prazo51,52. Estes dados corroboram a idéia de que a AB não é inferior aos outros métodos avaliados nesta metanálise. da lesão-alvo) do que na evolução angiográfica. Desta forma, revascularização da lesão-alvo tem sido utilizada como substituto da reestenose angiográfica e a estratégia para revascularizar tem como base a ocorrência de sintomas ou isquemia demonstrada em testes não invasivos. Além da dificuldade em realizar controle angiográfico em todos os pacientes, outros argumentos para utilizar a revascularização da lesão-alvo são: (1) lesões intermediárias (entre 50 a 70%) são consideradas lesões reestenóticas e têm melhor prognóstico quando tratados com medicação48,49; (2) determinadas lesões consideradas reestenóticas podem não causar isquemia50; Esta metanálise tem, entretanto, algumas limitações: (1) comparamos três métodos diferentes com a AB; (2) comparamos três métodos de tratamento com a AB sem levar em consideração o padrão da reestenose; (3) o tamanho amostral de cada estudo é pequeno, assim como o total de pacientes incluídos na metanálise. Por outro lado, a metanálise serviu para demonstrar que a AB não é inferior aos outros três métodos. Na TABELA 3 Resultados da revascularização da lesão-alvo e reestenose angiográfica Estudo Experimental Controle OR (IC 95%) p Revascularização da Lesão-Alvo ARTIST22 RESCUT34 RIBS39 ROSTER23 TOTAL 60/152 29/214 37/224 32/100 158/690 (22,9%) 45/146 28/214 39/226 45/100 157/686 (22,9%) 1,46 (0,91-2,36) 1,04 (0,60-1,82) 0,95 (0,58-1,55) 0,58 (0,32-1,02) 0,99 (0,77-1,29) 0,12 0,89 0,83 0,06 0,96 Reestenose Angiográfica ARTIST22 RESCUT34 RIBS39 ROSTER23 TOTAL 70/137 56/188 79/208 16/380 221/571 (38,7%) 92/141 61/194 82/210 19/340 254/579 (43,9%) 0,56 (0,34-0,90) 0,92 (0,60-1,43) 0,96 (0,64-1,42) 0,57 (0,23-1,46) 0,80 (0,59-1,05) 0,02 0,73 0,82 0,24 0,07 TABELA 4 Resultados do seguimento tardio Estudo Experimental Controle Infarto do Miocárdio RESCUT34 RIBS39 ROSTER23 TOTAL 03/214 05/224 03/100 11/538 (2,0%) 03/214 12/226 03/100 18/540 (3,3%) 1,00 0,41 1,00 0,62 (0,20-5,01) (0,14-1,18) (0,20-5,08) (0,28-1,34) 1,00 0,09 1,00 0,22 Morte RESCUT34 RIBS39 ROSTER23 TOTAL 03/214 05/224 02/100 10/538 (1,9%) 02/214 04/226 02/100 8/540 (1,5%) 1,51 (0,25-9,11) 1,27 (0,34-4,78) 1,00 (0,14-7,24) 1,26 (0,49-3,22) 0,65 0,73 1,00 0,63 121/152 179/214 182/224 062/100 544/690 (78,8%) 133/146 181/214 179/226 048/100 541/686 (78,9%) 0,38 (0,19-0,76) 0,93 (0,56-1,57) 1,14 (0,72-1,81) 1,77 (1,01-3,10) 1,01 (0,77-1,32) 0,01 0,79 0,59 0,05 0,95 Sobrevida Livre Eventos ARTIST22 RESCUT34 RIB39 ROSTER23 TOTAL OR (IC 95%) p 199 JoseNeri.p65 199 19/12/2005, 11:01 Neri-Souza AJ, et al. Reestenose Intra-Stent. Opções Terapêuticas na Realidade Brasileira. Rev Bras Cardiol Invas 2004; 12(4): 193-202. realidade, nenhum dos estudos randomizados demonstrou superioridade do CB, ROTA ou stent intra-stent sobre a AB. Os estudos com ROTA apresentaram dados conflitantes, já discutidos previamente; o estudo RIBS demonstrou superioridade do stent intra-stent ao analisar o subgrupo de pacientes com diâmetro dos vasos ≥3,0 mm (menor reestenose e maior sobrevida livre de eventos em 1 ano) e o estudo RESCUT não evidenciou diferença entre AB e CB. Apesar de não haver estudos avaliando a relação custo-efetividade da AB sobre os outros 3 métodos, podemos supor que, sendo os resultados semelhantes, a melhor relação custo-efetividade vai ser observada com a AB. Eventualmente na AB pode ser necessário utilizar mais de um balão, enquanto que no CB e ROTA será necessário complementar o procedimento com balão. Ao compararmos a AB com stent intra-stent, mais uma vez a melhor relação custoefetividade será para a AB, exceto nos casos de RIS difusa quando múltiplos balões podem ser utilizados, situação em que o stent deve ser mais custo-efetivo. A braquiterapia foi o primeiro tratamento com eficácia comprovada para tratar a RIS, como descrito acima. Entretanto, problemas logísticos limitam seu uso, notadamente no Brasil, como, por exemplo: (1) É questionada a praticidade em manusear fontes radioativas no Laboratório de Hemodinâmica; (2) É necessário integrar o grupo da radioterapia (oncologista e/ou radioterapêuta, físico nuclear e técnico em segurança radiológica) à dinâmica do Laboratório de Hemodinâmica; (3) O manuseio de fontes radioativas não limitado ao grupo da radioterapia depende de liberação de agências reguladoras; (4) Há um acréscimo no tempo do procedimento de aproximadamente 15 minutos. Além disso, outra limitação importante é o aumento nos custos do procedimento, como demonstrado por Cohen et al.53. Trabalhos recentes com stents farmacológicos demonstrando redução da reestenose e/ou necessidade de revascularização da lesão-alvo, além de superioridade no tratamento da RIS, comparado à angioplastia com balão, levantam o questionamento se há ainda espaço para a braquiterapia no Laboratório de Hemodinâmica54,55. Esta é uma questão ainda sem resposta já que os stents farmacológicos não eliminaram por completo o problema da reestenose e os stents não farmacológicos são implantados em grande número. Uma alternativa pode ser associar a braquiterapia aos stents farmacológicos. A cirurgia de revascularização do miocárdio (RM) pode ser uma alternativa para tratar a RIS, principalmente em pacientes com doença multiarterial, tratados com múltiplos stents. Os resultados do estudo ARTS (Arterial Revascularization Therapies Study Randomized Trial)56 demonstraram que, em seguimento de 5 anos, cirurgia de RM foi necessária em 10,5% dos pacientes randomizados para tratamento com stent; enquanto que 23,2% dos pacientes foram submetidos a segunda intervenção coronária percutânea. CONCLUSÕES Em síntese, as opções para tratar a reestenose intra-stent, no laboratório de hemodinâmica, na realidade brasileira, ficam restritas ao uso da angioplastia por balão e do stent intra-stent. Aterectomia rotacional e cutting balloon não demonstraram resultados melhores que a angioplastia por balão, não sendo, portanto, métodos de escolha. O uso de stent intra-stent fica reservado para vasos mais calibrosos ou em casos de resultados inadequados da angioplastia por balão. A cirurgia de revascularização do miocárdio pode ser uma alternativa, principalmente em pacientes multiarteriais. A disponibilização dos stents farmacológicos para todos os pacientes pode ser a melhor alternativa, num futuro próximo, para a nossa realidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Dotter CT, Judkins MP. Transluminal treatment of arteriosclerotic obstruction: description of a new technique and a preliminary report of its application. Circulation 1964;30:654-70. 2. Sigwart U, Puel J, Mirkovitch V, Joffre F, Kappenberger L. Intravascular stents to prevent occlusion and restenosis after transluminal angioplasty. N Engl J Med 1987;316:701-6. 3. Cequier A, Mauri J, Gómez-Hospital JA, Sabate M, Jara F, Espulgas E. Stent intracoronario en el tratamiento de las complicaciones de la angioplastia. Rev Esp Cardiol 1997; 50(suppl 2):21-30. 4. Serruys PW, de Jaegere P, Kiemeneij F, Macaya C, Rutsch W, Heyndrickx G et al. A comparison of balloon-expandablestent implantation with balloon angioplasty in patients with coronary artery disease. Benestent Study Group. N Engl J Med 1994;331:489-95. 5. 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