RESENHA DO LIVRO O TEXTO NA SALA DE AULA MARIA JOSÉ RODRIGUES KELLERMANN Por Uma Nova Escola O texto na sala de aula é uma coletânea de doze artigos, organizados por João Wanderley Geraldi, escritos por ele e mais sete renomados autores. Os autores são professores especialistas de atividades com texto e trabalham na USP, Unicamp e Universidade Federal de Sergipe. Eles trazem nesta obra uma proposta para a formação de professores. Estão presentes nesta obra aspectos pedagógicos e sociais do Português a partir da experiência em sala de aula. Geraldi é um conceituado estudioso da área da Lingüística e autor de várias outras obras importantes. Este livro é fundamental para professores e estudiosos preocupados com a qualidade de ensino de Português no Brasil. A obra é organizada em quatro tópicos: Fundamentos, Práticas de sala de aula, Sobre a leitura na escola e Sobre a produção de textos na escola. O próprio nome já diz. “Fundamentos” Este tópico é fundamental para aqueles que enfrentam o cotidiano da educação da língua. Este tópico foi escrito pelos autores Milton José de Almeida, Lígia Chiapipini de Moraes Leite, Haquira Ozakabe, Sírio Possenti e João Wanderley Geraldi. Conforme os autores, a língua é uma produção social. A “Miséria social e a miséria da língua confundem-se” (p.14). A instituição escolar está incluída neste contexto “miséria”, pois a mesma esquece que educação é um problema social e encara-o como problema pedagógico; e assim vamos vendo professores de português ensinando análise sintática a crianças mal alimentadas que passam anos de suas vidas tentando acertar o sujeito de uma oração, mas nunca serão o sujeito de suas próprias histórias. De acordo com os autores, o ensino da literatura não deveria estar relacionado ao ensino de gramática e/ou normas a decorar, mas sim se integrar numa prática de alunos sujeitos do dizer e do pensar. Conforme os autores a literatura deveria estar no centro de nossas preocupações pedagógicas, entendido como a pratica de um sujeito agindo sobre o mundo para transformá-lo e, através de sua ação, afirmar a sua liberdade e fugir da alienação, pois dessa maneira talvez seja possível conseguir formar uma capacidade linguística plural nos nossos alunos, pela qual eles poderão inclusive dominar qualquer regra gramatical qualquer rótulo fornecido pela retórica ou pela história literária. Quanto ao ensino da língua eles abordam aspectos importantes tal como o ensino do Português padrão e o repúdio aos dialetos. Os autores defendem o ensino do português padrão nas escolas e a criação de condições para que ele seja aprendido. Conforme eles, qualquer outra hipótese é um equivoco, político e pedagógico. Conforme os autores é necessário que os profissionais da língua conheçam as teorias da aquisição da fala, da concepção de aprendizagem, das estruturas lingüísticas, das variações lingüísticas para terem suportes teóricos em seus procedimentos pedagógicos. O tópico Práticas de sala de aula traz sugestões de atividades práticas que se constitui em subsídio para o professor. As sugestões sugeridas tanto quanto à leitura quanto sobre a produção de texto serviram de base para projetos desenvolvidos por professores em escolas de outros municípios. Geraldi defende a leitura prazerosa, desvinculada da ficha de leitura, do fardo de ler com o objetivo de interpretar para o professor. Geraldi também enfatiza que a produção de texto em sala de aula deve ter outro destino que não seja a correção do professor e a posterior lata de lixo. No livro, o autor propõe uma série de atividades relativas à leitura e á produção textual, envolvendo desde as quintas até as oitavas séries, todas elas voltadas para o processo de formação de leitores e autores. O tópico leitura na escola foi escrito pelos autores: Lílian Lopes Martin da Silva, João Wanderley Geraldi e Maria Nilma Góes da Fonseca. Geraldi enfatiza neste tópico que, a leitura é um processo de interlocução entre leitor/autor, mediado pelo texto. Ele cita Marisa Lajolo (1982ab, p59), “ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É a partir do texto ser capaz de atribuir-lhe significado, conseguir relaciona-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista”. Neste mesmo tópico é citado outros tipos de leitura que são possíveis em um texto: a leitura-busca de informações; a leitura-estudo do texto; a leitura do texto pretexto e a leitura fruição de texto. No tópico sobre a produção de textos na escola escrito pelos autores Luiz Percival Leme Britto e João Wanderley Geraldi é abordada a questão dos padrões estipulados para o aluno escrever. Os autores salientam que o texto do aluno/autor ainda será julgado e avaliado e terá como provável leitor apenas o professor, sabendo disso o aluno buscará escrever de acordo com o que ele acredita que o professor irá gostar e assim lhe dar uma boa nota. Conforme Geraldi ao avaliarmos redações temos em mente o exercício simulado da produção de texto, discurso, redação e conversação, isto porque na escola os textos produzidos são simulados no uso da palavra escrita, O intuito é: preparar o aluno para o futuro, esquecendo assim da vida hoje. O autor enfatiza que na escola não se produz textos em que o sujeito diz sua palavra. Após uma leitura reflexiva desta coletânea organizada por Geraldi percebe-se o quanto se pode relaciona-la com nossas práticas de leitura e produção de texto em sala de aula. Esta coletânea é um suporte pedagógico muito bom para os futuros docentes e também para os professores que já estão em sala de aula, pois a linguagem utilizada nestes tópicos é simples e as atividades sugeridas requerem apenas um bom planejamento por parte destes para serem adotadas nas salas de aulas. Sem dúvidas recomendo o texto em sala de aula como leitura indispensável para futuros professores e também para professores que já têm uma base profissional, pois a leitura dessa coletânea é fundamental para todos aqueles que querem e precisam aprimorar seus conhecimentos. REFERENCIAS GERALDI, João Wanderley. et al. (orgs.). O texto na sala de aula. 3. ed. São Paulo: Ática, 1999.