UMinho|2014 Carlos José Rodrigues A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica do Brasil Universidade do Minho Escola de Economia e Gestão Carlos José Rodrigues A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica do Brasil agosto de 2014 Universidade do Minho Escola de Economia e Gestão Carlos José Rodrigues A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica do Brasil Dissertação de Mestrado Mestrado em Estudos de Gestão Trabalho realizado sob a orientação da Professora Doutora Carla Maria Freitas da Costa Freire agosto de 2014 DECLARAÇÃO Nome: Carlos José Rodrigues Endereço eletrônico: [email protected] Nº do Passaporte: SB001907 Título da Dissertação: A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica do Brasil Orientadora: Professora Doutora Carla Maria Freitas da Costa Freire Ano de Conclusão: 2014 Designação do Mestrado: Mestrado em Estudos de Gestão É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO PARCIAL DESTA DISSERTAÇÃO, APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE. Universidade do Minho, ___ / ___ / 2014. Assinatura: _______________________________________________________ AGRADECIMENTOS Este trabalho foi possível graças ao incentivo e apoio de várias pessoas muito importantes, a quem dirijo os meus sinceros e profundos agradecimentos. Em primeiro lugar a Deus, pela Graça da vida, pela saúde e pelas bênçãos recebidas. Ao Exmo. Sr. Ten. Brig. do Ar Juniti Saito, Comandante da Aeronáutica, pela designação para esta missão e por acreditar na capacitação dos seus oficiais como instrumento de motivação. Ao Exmo. Sr. Maj. Brig. do Ar José Magno Resende de Araújo, Chefe de Gabinete do Comandante da Aeronáutica, pelos esforços realizados para que esta missão acontecesse. Ao Exmo. Sr. Brig. do Ar Hudson Costa Potiguara, pelo apoio e confiança irrestritos ao longo de nosso convívio no GABAER. Ao Exmo. Sr. Brig. do Ar Robson Roger Garcia Tavares de Melo, pela confiança e consideração demonstradas em vários momentos da minha carreira. À Sra. Estela Vieira, pelo apoio dispensado a todos nós brasileiros, mestrandos e familiares, quando de nossas vindas para Portugal. À Professora Ana Márcia Fonseca, da Universidade de Brasília, pela gentileza em contribuir para esta pesquisa com material e aconselhamentos. Às Professoras Dra. Ana Carvalho e Dra. Gina Santos, pela atenção e apoio dispensados. À minha orientadora Profª Dra. Carla Freire, um especial agradecimento por aceitar o convite para orientar-me, pelos sábios conselhos e pelo incentivo ao aprimoramento da pesquisa. Aos oficiais do COMAER que gentil e voluntariamente disponibilizaram uma pequena fração do seu tempo para dar uma grande contribuição para a minha pesquisa. Aos amigos que colaboraram valiosamente para que este trabalho tivesse êxito: Arnaldo, Bergo, David, Gandour, Garcia, Geraldo, Joelson, Luís Felipe, Martins, Luis Pontes, Pestana, Picelli, Rastelli, Rogério, Ronald, Tânia Moreira e Zampier. Aos meus amigos de caminhada no mestrado, Alexandre, Xavier, Pfaltzgraff, Goyana, Aurélio, Robson e respectivas famílias, muito obrigado pelo convívio! Aos meus pais, Jorge e Lúcia, pelo amor incondicional, pela educação, pelos esforços realizados na minha criação e pelos exemplos de vida, um muito obrigado especial! À D. Maria da Luz, pelo apoio, pelas orações, pela torcida e pelo carinho de mãe! À minha amada esposa Patrícia, companheira de longa jornada, pelo amor, carinho e dedicação. A você, meu reconhecimento e amor eternos!! Aos meus filhos Arthur e Eduardo, que me brindam com suas alegrias e me fazem o pai mais feliz do mundo! Obrigado pelo amor que me dão todos os dias!! iii iv TÍTULO: A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica do Brasil RESUMO O objetivo desta pesquisa foi investigar a influência da liderança na implementação de práticas sustentáveis nas organizações do Comando da Aeronáutica, considerando como variáveis desse processo os estilos de liderança transformacional e transacional, a sensibilidade dos líderes em relação à sustentabilidade e os pressupostos éticos que norteiam as suas tomadas de decisão. Este estudo exploratório-descritivo utilizou metodologia quantitativa para analisar os fenômenos observados. A obtenção dos dados foi conseguida com um estudo do tipo setorial cruzado, mediante a utilização da técnica de inquérito por questionário, o qual envolveu a aplicação de 71 questões fechadas em uma amostra de 300 oficiais em função de chefia, durante um período de 3 meses. As escalas utilizadas foram submetidas a análises fatoriais exploratórias e confirmatórias nos programas SPSS e AMOS. Com recurso ao método dos modelos de equações estruturais, foi realizado o estudo dos efeitos diretos das variáveis latentes sobre a sustentabilidade. Os dados analisados permitiram concluir que os estilos de liderança estudados não são decisivos para a implementação da sustentabilidade no Comando da Aeronáutica, mas a sensibilidade dos oficiais para o tema e a reflexão ética sobre o assunto sob uma perspectiva utilitarista contribuem para o aumento das práticas sustentáveis. Palavras-chave: Liderança transformacional, Sustentabilidade, Ética, Organizações militares, Modelos de equações estruturais. v vi TITLE: The influence of leadership on the implementation of sustainability: a study in the Brazilian Aeronautical Command ABSTRACT The aim of this research was to investigate the influence of leadership on the implementation of sustainable practices in the Brazilian Aeronautical Command organizations, considering the transformational and transactional leadership styles, the sensitivity of the leaders in relation to sustainability and the assumptions that guide their ethical decision-making as variables of the model. This exploratory-descriptive study used a quantitative methodology to analyze the phenomena. The data collection was carried out with a cross-sectional research using the survey technique, which involved the application of 71 closed questions in a sample of 300 military officers during a period of 3 months. The scales were subjected to exploratory and confirmatory factor analyses in SPSS and AMOS. Using structural equation modeling, the effects of the latent variables on sustainability were investigated. The data allowed to conclude that the leadership styles are not decisive for the implementation of sustainability in the Brazilian Aeronautical Command, but the officers' sensitivity to the subject and the ethical reflection about the issue under a utilitarian perspective contribute to the growth of sustainable practices. Keywords: Transformational leadership, Sustainability, Ethics, Military organizations, Structural equation modeling. vii viii ÍNDICE AGRADECIMENTOS ............................................................................................................ iii RESUMO ................................................................................................................................... v ABSTRACT .............................................................................................................................. vii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS............................................................................ xiii LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................. xv LISTA DE SÍMBOLOS ........................................................................................................ xvii LISTA DE TABELAS ............................................................................................................xix CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO .............................................................................................. 1 1.1 Cenário atual .................................................................................................................... 1 1.2 Delimitação do problema ou questão de pesquisa ........................................................... 4 1.3 Objetivos da pesquisa ...................................................................................................... 5 1.4 Estrutura da dissertação ................................................................................................... 6 CAPÍTULO 2 – RESPONSABILIDADE SOCIAL E SUSTENTABILIDADE ...................... 7 2.1 Histórico do conceito de RS na sociedade norte-americana ............................................ 7 2.1.1 Era moderna da responsabilidade social (década de 1950) ...................................... 8 2.1.2 Expansão da literatura sobre a responsabilidade social (década de 1960)................ 9 2.1.3 Proliferação das definições sobre a RS (década de 1970) ...................................... 10 2.1.4 Fase de poucas definições e de muitas pesquisas (década de 1980) ....................... 10 2.1.5 Ampliação dos temas alternativos em RS (década de 1990) .................................. 11 2.1.6 Década de 2000 em diante – era da cidadania global corporativa .......................... 13 2.2 A orientação europeia em RS ........................................................................................ 14 2.3 Síntese das principais correntes teóricas ........................................................................ 16 2.4 A Responsabilidade Social no Brasil ............................................................................. 18 2.5 Sustentabilidade ............................................................................................................. 20 CAPÍTULO 3 - LIDERANÇA ................................................................................................ 25 3.1 Conceituação .................................................................................................................. 25 3.2 Abordagens teóricas dos estudos sobre liderança .......................................................... 26 3.3 Teoria dos Traços ........................................................................................................... 28 3.4 Teorias Comportamentais .............................................................................................. 29 3.5 Teorias Contingenciais................................................................................................... 31 ix 3.5.1 Modelo contingencial de Fiedler ............................................................................ 31 3.5.2 Teoria caminho-meta de House .............................................................................. 32 3.5.3 Teoria Situacional de Hersey e Blanchard .............................................................. 33 3.6 Teorias da Nova Liderança ............................................................................................ 33 3.6.1 Teoria da liderança transformacional de Burns ...................................................... 35 3.6.2 Teoria da liderança transformacional de Bass ........................................................ 37 3.6.3 Estudos empíricos de Podsakoff, MacKenzie, Moorman, e Fetter (1990) ............. 42 3.7 Estilos de liderança relacionados com práticas de RS e sustentabilidade ..................... 43 CAPÍTULO 4 - TOMADA DE DECISÃO ÉTICA ................................................................ 47 4.1 Julgamento moral ........................................................................................................... 47 4.2 Modelos teóricos da decisão ética.................................................................................. 49 CAPÍTULO 5 - METODOLOGIA .......................................................................................... 53 5.1 Caracterização da pesquisa ............................................................................................ 53 5.2 Desenho da pesquisa ...................................................................................................... 53 5.3 Paradigmas epistemológicos da pesquisa ...................................................................... 53 5.4 Definição do método ...................................................................................................... 54 5.4.1 Método de abordagem............................................................................................. 54 5.4.2 Métodos de procedimentos ..................................................................................... 55 5.5 Hipóteses do estudo ....................................................................................................... 55 5.6 Modelo teórico simplificado e identificação das variáveis ............................................ 58 5.7 Universo ......................................................................................................................... 59 5.8 Amostra .......................................................................................................................... 59 5.8.1 Seleção da amostra .................................................................................................. 60 5.9 Descrição do estudo empírico ........................................................................................ 61 5.10 Descrição do instrumento de coleta de dados .............................................................. 62 5.10.1 Questionário sobre estilos de liderança................................................................. 62 5.10.2 Questões sobre sustentabilidade ........................................................................... 65 5.10.3 Questões sobre ética – questionário Managerial Ethical Profile (MEP) ............. 66 5.10.4 Questões sobre o perfil sócio-demográfico da amostra ........................................ 67 CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS .............................. 69 6.1 Descrição da amostra ..................................................................................................... 69 6.2 Análise da escala de liderança ....................................................................................... 70 6.2.1 Análise confirmatória da escala de liderança.......................................................... 76 x 6.3 Análise do questionário sobre sustentabilidade ............................................................. 81 6.3.1 Variável latente nível de sensibilidade dos líderes ................................................. 82 6.3.2 Avaliação do estágio atual das práticas sustentáveis no COMAER ....................... 84 6.4 Análise da escala de perfis éticos - MEP ....................................................................... 86 6.4.1 Análise confirmatória da escala MEP ..................................................................... 90 6.5 Modelo estrutural completo ........................................................................................... 95 CAPÍTULO 7 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS........................................................... 103 CAPÍTULO 8 – CONCLUSÕES........................................................................................... 109 8.1 Principais conclusões ................................................................................................... 109 8.2 Contribuições do estudo para a gestão ......................................................................... 111 8.3 Principais limitações da pesquisa................................................................................. 112 8.4 Sugestões para investigações futuras ........................................................................... 112 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................... 113 ANEXOS ............................................................................................................................... 123 ANEXO 1 – Pedido de colaboração e consentimento informado...................................... 123 ANEXO 2 - Questionários sobre liderança, sustentabilidade e decisão ética.................... 125 xi xii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ADCE - Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas no Brasil AFC – análise fatorial confirmatória AFE – análise fatorial exploratória AMCHAM - Câmara Americana de Comércio em São Paulo CAP – Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais CCEM – Curso de Comando e Estado-Maior CEBDS - Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável CED - Committee for Economic Development CEMPRE - Compromisso Empresarial para a Reciclagem CFI - Comparative Fit Index COMAER – Comando da Aeronáutica CPEA – Curso de Política e Estratégia da Aeronáutica CSP – Corporate Social Performance DP – desvio-padrão FBDS - Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável FIDES - Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social GABAER – Gabinete do Comandante da Aeronáutica GIFE - Grupo de Institutos Fundações e Empresas IN – instrução normativa ISO – International Standard Organization KMO – Medida de adequabibilidade de Kaiser-Meier-Olkin LRPQ – Leadership Reward and Punishment Questionnaire MEP – Management Ethical Profile MLQ – Multifactor Leadership Questionnaire NBR – norma brasileira ONU – Organização das Nações Unidas PLS – plano de logística sustentável PNBE - Pensamento Nacional das Bases Empresariais RADA – Regulamento de Administração da Aeronáutica RMSEA - root mean square error of approximation RS – responsabilidade social SA 8000 - Social Accountability International SEM – structural equation modeling xiii TLI – Transformational Leadership Inventory UNCED (ECO 92) - Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento UNCSD (RIO+20) - Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável WBCSD - Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável xiv LISTA DE FIGURAS Figura 1. As cinco grandes áreas do conhecimento sobre RS ................................................. 17 Figura 2. Loci e mecanismos dos processos de liderança ........................................................ 28 Figura 3. Modelo Full Range Leadership ................................................................................ 41 Figura 4. Teorias éticas na estratégia das organizações ........................................................... 51 Figura 5. Modelo teórico simplificado e representação das hipóteses..................................... 58 Figura 6. Gráfico scree plot da escala de liderança ................................................................. 71 Figura 7. Análise fatorial confirmatória da escala de liderança............................................... 78 Figura 8. Gráfico scree plot da escala MEP ............................................................................. 87 Figura 9. Análise fatorial confirmatória da escala MEP .......................................................... 92 Figura 10. Modelo de medida para a escala MEP (após exclusão de itens) ............................ 93 Figura 11. Modelo estrutural completo .................................................................................... 96 Figura 12. Modelo estrutural final ........................................................................................... 99 xv xvi LISTA DE SÍMBOLOS B – coeficiente de regressão não estandardizado N – quantidade de sujeitos da amostra n – quantidade de sujeitos de um subgrupo da amostra p – nível de significância R2 – coeficiente de confiabilidade individual do item α − alfa de Cronbach β – coeficiente de regressão estandardizado σ - Desvio-padrão χ 2 - Qui-quadrado xvii xviii LISTA DE TABELAS Tabela 1. Correspondência de fatores entre as escalas MLQ, TLI e LRPQ ............................ 43 Tabela 2. Questões para mensuração do perfil transacional .................................................... 63 Tabela 3. Questões para mensuração do perfil transformacional ............................................ 64 Tabela 4. Questionário MEP e dimensões éticas mensuradas ................................................. 66 Tabela 5. Fator punição contingente ........................................................................................ 72 Tabela 6. Fator recompensa contingente ................................................................................. 72 Tabela 7. Fator influência idealizada ....................................................................................... 73 Tabela 8. Fator estimulação intelectual ................................................................................... 73 Tabela 9. Fator motivação inspiracional .................................................................................. 74 Tabela 10. Fator consideração individualizada ........................................................................ 74 Tabela 11. Cargas fatoriais, CIT e alfa de Cronbach do fator estilo transacional ................... 75 Tabela 12. Cargas fatoriais, CIT e alfa de Cronbach do fator estilo transformacional............ 75 Tabela 13. Correlações, variâncias, covariâncias, médias e desvios-padrões da escala de liderança ........................................................................................................................... 80 Tabela 14. Valores estandardizados e não estandardizados da escala de liderança................. 81 Tabela 15. Cargas fatoriais, CIT e alfa de Cronbach para o fator nível de sensibilidade dos líderes ............................................................................................................................... 82 Tabela 16. Nível de sensibilidade dos líderes por grupos ........................................................ 83 Tabela 17. Nível de práticas de sustentabilidade ..................................................................... 86 Tabela 18. Cargas fatoriais, CIT e alfa de Cronbach para o fator deontologia........................ 88 Tabela 19. Cargas fatoriais, CIT e alfa de Cronbach para o fator egoísmo reputacional ........ 89 Tabela 20. Cargas fatoriais, CIT e alfa de Cronbach para o fator ética das virtudes ............... 89 Tabela 21. Cargas fatoriais, CIT e alfa de Cronbach para o fator utilitarismo ........................ 90 Tabela 22. Cargas fatoriais, CIT e alfa de Cronbach para o fator egoísmo econômico .......... 90 Tabela 23. Correlações, variâncias, covariâncias, médias e desvios-padrões da escala MEP . 94 Tabela 24. Valores estandardizados e não estandardizados da escala MEP ............................ 95 Tabela 25. Estimativas das variáveis latentes do modelo estrutural ........................................ 98 Tabela 26. Estimativas das variáveis observadas do modelo estrutural ................................ 100 xix A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO 1.1 Cenário atual O paradigma do Desenvolvimento Sustentável tem se destacado na agenda política brasileira nas últimas décadas, e os anos vindouros indicam que essa temática se estabelecerá como o novo referencial para a gestão das organizações da administração pública. Tais afirmações podem ser feitas a partir da análise dos fatos ocorridos no último quadriênio, bem como das medidas atualmente em curso que indicam esse novo rumo. Desde o surgimento do conceito de Desenvolvimento Sustentável no seio da Organização das Nações Unidas (ONU), materializado no Relatório Bruntdland em 19871, o Brasil tem buscado posicionar-se como um dos principais defensores da adoção desse novo paradigma de desenvolvimento econômico. Com esse objetivo, logrou ter sido a sede de dois dos principais eventos que serviram de fórum para discussões sobre o meio ambiente: a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (UNCED ou ECO 92)2, em cujo âmbito surgiu a decisão que tornaria possível o famoso Protocolo de Kyoto, e a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (UNCDS ou Rio + 20)3. Buscando protagonismo no cenário internacional com relação à temática ambiental, o Governo Brasileiro tem dado demonstrações que evidenciam o compromisso com a implementação do pensamento sustentável. A primeira atitude relevante foi no plano jurídico, com a reforma do texto da Constituição Federal em 20034, mediante a inclusão do incentivo ao desenvolvimento sustentável. Tal modificação na Carta Magna teve um significado simbólico e jurídico importante, pois incorporou esse compromisso não apenas como uma meta do Governo no qual ocorreu a alteração, mas como um projeto de Estado, com matizes mais perenes e que ultrapassam governos de diferentes perfis ideológicos. A reforma no texto constitucional foi seguida de modificações no plano infraconstitucional, com destaque para a adaptação do texto da Lei no 8.666, de 21 de junho 1 Relatório da Comissão Mundial das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, denominado oficialmente como “Our Commom Future”, porém mais conhecido pelo nome que homenageia a presidente da Comissão à época, Gro Harlem Bruntdland, então Primeira-Ministra da Noruega (Lai, 2006). 2 Realizada no Rio de Janeiro entre 3 e 14 de Junho de 1992. 3 Ocorrida no Rio de Janeiro de 20 a 22 de Junho de 2012. 4 Artigo 170 da Constituição da República Federativa do Brasil (1988): “A ordem econômica (...) tem por fim assegurar a todos existência digna (...) observados os seguintes princípios: (...) VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; (...) 1 Introdução de 1993, a qual viabiliza a adoção de critérios sustentáveis como preferenciais pelo poder público para as suas compras e contratações5 (sustainable procurement6). Em decorrência dessa modificação, foram criados atos normativos no âmbito da administração pública federal que passaram a direcionar a atuação do Governo enquanto agente fomentador da ação sustentável. Destes diplomas, destacam-se a edição do Decreto no 7.746, de 5 de junho de 20127 e a Instrução Normativa no 10, de 12 de novembro de 20128 , os quais estabeleceram a obrigatoriedade de criação dos Planos de Logística Sustentável9 (PLS) nas organizações subordinadas ao Governo Federal. Esses planos constituem-se em um conjunto de práticas sustentáveis que os órgãos que integram a Administração Pública são obrigados a adotar. Às modificações nos diplomas legais somaram-se medidas práticas que evidenciam os esforços na gestão pública para incorporar práticas sustentáveis. Dentre essas ações, podem ser destacadas a criação dos projetos Esplanada Sustentável10, Programa de Eficiência do Gasto11 e Agenda 21 para a Administração Pública12. Todas essas medidas estão sendo tomadas no nível estratégico, em alinhamento aos princípios do Desenvolvimento Sustentável albergados pela Organização das Nações Unidas, e buscam demonstrar que o Brasil, além de detentor de muitas riquezas naturais, está comprometido com um modelo de desenvolvimento econômico que permita a preservação do meio ambiente para as gerações futuras. 5 Artigo 3o da Lei 8.666/1993, alterado em 2010: “A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável (…)” 6 Procedimento utilizado para assegurar a aquisição de bens e serviços de modo a garantir o mínimo impacto na sociedade e no meio ambiente ao longo do ciclo de vida dos produtos (Meehan & Bryde, 2011). 7 Decreto Federal nº 7.746, de 5 de junho de 2012, que regulamenta o art. 3º da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, para estabelecer critérios, práticas e diretrizes para a promoção do desenvolvimento nacional sustentável nas contratações realizadas pela administração pública federal, e instituir a Comissão Interministerial de Sustentabilidade na Administração Pública – CISAP. 8 Instrução Normativa nº 10, de 12 de novembro de 2012, da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação: Estabelece regras para elaboração dos Planos de Gestão de Logística Sustentável de que trata o artigo 16, do Decreto nº 7.746, de 5 de junho de 2012, e dá outras providências. 9 Planos de Logística Sustentável são ferramentas de planejamento com objetivos e responsabilidades definidas, ações, metas, prazos de execução e mecanismos de monitoramento e avaliação, que permite ao órgão ou entidade estabelecer práticas de sustentabilidade e racionalização de gastos e processos na Administração Pública (Instrução Normativa no 10, 2012). 10 O Projeto Esplanada Sustentável é uma iniciativa conjunta dos Ministérios do Planejamento, do Meio Ambiente, das Minas e Energia e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que tem por objetivo principal promover a sustentabilidade ambiental e socioeconômica na Administração Pública Federal (Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, 2012). 11 Conjunto de atividades para melhorar a qualidade do gasto público por intermédio da eliminação do desperdício e da melhoria contínua da gestão dos processos, com a finalidade de otimizar a prestação de bens e serviços aos cidadãos (Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, 2012b). 12 Principal programa de gestão socioambiental na administração pública (Ministério do Meio Ambiente, 2008). 2 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica Porém, a transformação desse compromisso em realidade poderá trazer algumas dificuldades associadas aos processos de mudanças organizacionais, pois a assimilação das práticas relacionadas com o paradigma sustentável poderá exigir modificações nas formas como os processos internos são atualmente realizados nas diversas organizações. As organizações são sistemas abertos, na medida em que estão sujeitas às influências externas dos diversos stakeholders 13 que formam a sociedade nas quais se encontram inseridas. Tais partes interessadas exercem pressões sobre as organizações de tal forma que podem influenciar na definição de seus objetivos e prioridades (Chiavenato, 2003). Especialmente no que toca às organizações que fazem parte da Administração Pública Federal, e enxergando essas estruturas organizacionais sob o prisma da Teoria da Agência, segundo a qual os responsáveis pelas organizações desempenham suas atribuições em representação e sob confiança dos escalões superiores, a quem devem prestar contas e em nome de quem devem tomar decisões, o mais poderoso stakeholder é o próprio Governo Federal, o qual é o responsável pela definição dos objetivos a serem atingidos pelas organizações que lhe são subordinadas. A inclusão dos objetivos sustentáveis estabelecidos pelo Decreto Federal nº 7.746/2012 cria um desafio a ser encarado pelas organizações da Administração Federal Direta, no sentido de incorporarem a Sustentabilidade em suas atividades. Especificamente no Comando da Aeronáutica (COMAER), a falta de uma política ambiental própria, com diretrizes claras para as diferentes organizações, representa um desafio ainda maior para os oficiais responsáveis pelas atividades de gestão. Cabem, portanto, aos responsáveis pela gestão nos diversos níveis hierárquicos, as tarefas de incorporação, articulação e harmonização desses novos objetivos, bem como o gerenciamento dos processos de mudança decorrentes. Os processos de mudanças organizacionais, independentemente da forma como podem ser conduzidos, exigem um impulsionador: o líder organizacional. Aos líderes na Administração Federal Direta caberão, por ocasião da incorporação dos objetivos sustentáveis, lidar com esses desafios conjunturais para cumprirem suas missões com êxito. O sucesso no alcance dos objetivos organizacionais depende da capacidade dos líderes em mobilizar seus subordinados para as respectivas tarefas. Os líderes organizacionais também são, por excelência, os responsáveis pelas tomadas de decisões, as quais podem ser 13 Segundo Freeman (1984, p. 46), stakeholder é ‘‘qualquer grupo ou indivíduo que pode afetar ou ser afetado pelo alcance dos objetivos das organizações”. 3 Introdução analisadas sob o prisma da Ética, por inevitavelmente afetarem seus subordinados e demais partes relacionadas que possuem interesse em suas organizações. O tema do desenvolvimento sustentável possui um teor eminentemente ético, pois tal paradigma trata da necessidade de conciliar as necessidades das gerações atuais com o direito das gerações futuras de terem também as suas necessidades satisfeitas. Ao tomarem decisões que afetam os stakeholders atuais e futuros, os líderes exteriorizam comportamentos éticos. 1.2 Delimitação do problema ou questão de pesquisa15 Estudos recentes no âmbito da gestão indicam que os comportamentos de liderança transformacional e transacional estão relacionados com a existência de práticas de responsabilidade social (Angus-Leppan, Metcalf, & Benn, 2009). A prática da responsabilidade social nas organizações contém uma componente ética que explica e justifica a ação, voluntária ou não, das organizações no interesse das partes relacionadas, sobretudo no que diz respeito aos colaboradores (trabalhadores), comunidades locais e o meio ambiente. Enderle (1987) afirma que a ausência de normas expressas que estabeleçam a direção e a intensidade do esforço gerencial em prol de práticas socialmente responsáveis confere aos líderes organizacionais autonomia (liberdade) para agirem conforme seus valores e convicções morais, respeitados, obviamente, os limites da legalidade. Com relação ao exercício da liderança, a tomada de decisão representa um comportamento de escolha, o qual, segundo a teoria da escolha racional, baseia-se fundamentalmente em dois pressupostos: os interesses do decisor e suas preferências pessoais (Barracho, 2012). No que diz respeito aos processos cognitivos, estudos empíricos afirmam que a tomada de decisão ética está associada a um alto desenvolvimento moral cognitivo (Ashkanasy, Windsor, & Treviño, 2006). Por sua vez, Turner, Barling, Epitropaki, Butcher, e Milner (2002) evidenciaram que o comportamento de liderança transformacional está associado a níveis elevados de julgamento moral 16 (capacidade de discernir entre o certo e o errado em um processo decisório). 15 “A linguagem corrente confunde problema e questão. Um problema é efetivamente uma questão que, em vista de uma resposta, deve ser tratada. ... um problema de pesquisa científica é uma questão (...) que geralmente pergunta alguma coisa a respeito das relações entre fenômenos ou variáveis.” (Carvalho, 2009, p. 122) 16 Nossa tradução de Moral Reasoning 4 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica Baseando-se na exposição feita por Barracho (2012) no que toca aos interesses e preferências do decisor, é possível argumentar que esses dois fatores estejam relacionados com a sua sensibilidade em relação a determinado assunto, pois quanto maior for a preferência pessoal do decisor por determinado tema, maior será sua propensão em saber mais sobre ele. Logo, quanto mais interessados e conhecedores forem os líderes sobre a sustentabilidade, mais sensíveis estarão em relação ao tema. Wart (1996), ao analisar as origens da tomada de decisão ética em indivíduos do setor público norte-americano, identificou cinco principais interesses que norteiam esse processo: público, legal, organizacional, profissional e pessoal. Ao comentar este último, o autor destaca os valores morais que os servidores do setor público devem possuir para bem cuidar dos interesses da administração pública. Feitas tais considerações, o seguinte problema de pesquisa se coloca: a existência de práticas sustentáveis no Comando da Aeronáutica Brasileira está relacionada com os estilos de liderança transformacional e transacional, com a sensibilidade dos líderes em relação à Sustentabilidade e com seus valores morais? 1.3 Objetivos da pesquisa O objetivo geral do presente estudo é pesquisar a influência da liderança no contexto atual de implementação de práticas sustentáveis nas organizações militares do Comando da Aeronáutica, tomando-se como variáveis incluídas nesse processo os estilos transformacional e transacional, a sensibilidade que os líderes possuem com relação ao tema e os pressupostos éticos que orientam a sua tomada de decisão. Decorrem, desse objetivo geral, quatro objetivos específicos: 1. verificar o atual estágio de implementação das práticas sustentáveis nas organizações do Comando da Aeronáutica; 2. identificar se os estilos transacional e transformacional estão relacionados com a Sustentabilidade; 3. evidenciar as teorias éticas que estão presentes no processo de tomada de decisão dos líderes no COMAER em favor da sustentabilidade; e 4. verificar se nível de sensibilidade dos líderes para a sustentabilidade está associado às práticas sustentáveis no COMAER. Ao estudar o tema da liderança associado à sustentabilidade, procura-se contribuir para a compreensão desses campos do conhecimento aplicados no âmbito do COMAER, e 5 Introdução desta forma dar uma contribuição para a gestão organizacional das unidades militares brasileiras. 1.4 Estrutura da dissertação A presente dissertação está estruturada em três partes principais, sendo a primeira o corpo teórico, seguida da parte empírica e, por último, as considerações finais. A parte teórica é composta pelos Capítulos 1, 2, 3 e 4. O primeiro capítulo introduziu o estudo e apresenta uma descrição sumarizada dos tópicos do trabalho. A revisão da literatura sobre responsabilidade social, liderança e tomada de decisão ética, cujas teorias fundamentam esta pesquisa, é feita nos Capítulos 2, 3 e 4. A parte empírica é apresentada nos capítulos 5, 6 e 7. A metodologia utilizada é detalhada no Capítulo 5. A análise e apresentação dos resultados obtidos é feita no Capítulo 6, sendo seguida de sua discussão no Capítulo 7. O Capítulo 8 apresenta as conclusões realizadas e as contribuições deste estudo para a gestão, identifica as limitações encontradas durante a condução da pesquisa e oferece sugestões para pesquisas futuras relacionadas ao tema. 6 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica CAPÍTULO 2 – RESPONSABILIDADE SOCIAL E SUSTENTABILIDADE A adequada compreensão sobre os aspectos éticos que estão relacionados com a responsabilidade social (RS) e a sustentabilidade podem ser melhor percebidos se forem analisadas as diversas conceituações que surgiram em diferentes contextos socioeconômicos. As definições sobre responsabilidade social encontradas nos diversos estudos realizados refletem o amadurecimento da ideia de que as organizações possuem responsabilidades que extrapolam o seu objetivo econômico principal. Tal fato decorre da percepção de que as sociedades possuem expectativas acerca dos papéis das organizações relacionados com suas capacidades de se envolverem de forma ativa para que determinadas demandas sociais sejam atendidas. As demandas sociais, por seu turno, evoluem com o tempo e podem influenciar o modo como as organizações direcionam as suas práticas de responsabilidade social (Pinkston & Carroll, 1996). Portanto, o presente capítulo tem por objetivo realizar a revisão da literatura sobre RS. Para tanto, são apresentadas a evolução do conceito de RS e as perspectivas norte-americana, europeia e brasileira sobre o assunto, com destaque para o processo de incorporação da temática ambiental à RS. Ao final, busca-se clarificar o conceito de sustentabilidade no âmbito das ideias sobre desenvolvimento sustentável. 2.1 Histórico do conceito de RS na sociedade norte-americana A responsabilidade social, formalizada como objeto de estudo, é uma produção científica do século XX, sobretudo a partir de 1950 (Carroll & Shabana, 2010). Contudo, a formulação do conceito possui uma longa e variada história, sendo possível encontrar evidências da preocupação das comunidades de negócios com a sociedade em décadas anteriores (Carroll, 1999). Em 1917, Henry Ford teve que se defender na Corte de Michigan contra uma ação movida pelos irmãos Dodge, em função de sua decisão de reinvestir os lucros acumulados da Companhia Ford Motor na expansão da fábrica, ao mesmo tempo em que reduzia o preço dos veículos Modelo T. A razão para tal decisão deveu-se à sua visão de negócio como serviço, não apenas como fonte de riqueza. Em sua opinião, o propósito da empresa era fazer o máximo possível para todas as partes interessadas ganharem dinheiro e usá-lo, enviar os carros para onde eles pudessem ser usados e eventualmente ganhar dinheiro (Lee, 2008). Carroll (1999), ao pesquisar a evolução do conceito de RS na sociedade norteamericana, identificou obras das décadas de 1930 e 1940 que evidenciavam a preocupação 7 Responsabilidade social e sustentabilidade com essa temática. São mencionadas em seu estudo as obras “The Functions of the Executive” de Chester Barnard, “Social Control of Business” de J. M. Clark e “Measurement of the Social Perfomance of Business” de Theodore Kreps. Spector (2008) contextualiza o surgimento do pensamento sobre responsabilidade social nos idos de 1945-1960, que correspondem aos primeiros anos da Guerra Fria. De acordo com esse estudo, a RS teve por objetivo alinhar as empresas norte-americanas em defesa do capitalismo de livre mercado contra a percebida ameaça do comunismo soviético. O estudo clássico da evolução do conceito de RS realizado por Carroll (1999) dividiu cronologicamente em cinco as principais fases nas quais os estudos e pesquisas contribuíram para a consolidação desse conceito, correspondentes às cinco décadas do período entre 1950 e 1990. Lee (2008), por sua vez, propõe uma divisão em quatro fases, consolidando as décadas de 1950 e 1960 em um único período, e considerando que de 1990 até os dias atuais corresponde apenas a uma fase. No âmbito deste estudo, considera-se que a partir dos anos 2000 inicia-se um novo período, em função das reflexões éticas que os escândalos corporativos trouxeram aos estudos sobre RS, bem como da associação desse conceito à liderança nas organizações. A análise da construção do conceito de RS evidencia uma tendência de racionalização, esta entendida como as tentativas de estabelecimento de relações entre RS e o desempenho financeiro das empresas, por intermédio da incorporação dessas práticas na estratégia empresarial (Lee, 2008; Minoja, 2012). Essa racionalização contribuiu para modificações gradativas de foco nas conceituações sobre RS em dois sentidos. Em primeiro lugar, no nível de análise da RS, que progressivamente deixou de ser macro-orientada, dirigida para a sociedade como um todo, e passou a ser microorientada, ou seja, voltada para os interesses das empresas. A segunda mudança ocorreu na formulação teórica dos conceitos, que deixaram de ser explicitamente normativos e eticamente orientados para serem implicitamente normativos e orientados para o desempenho organizacional (Lee, 2008). Essas mudanças devem ser compreendidas levando-se em consideração os respectivos contextos sociais. 2.1.1 Era moderna da responsabilidade social (década de 1950) A obra “Social Responsibilities of Businessmen” de Howard Bowen, publicada em 1953, é considerada um marco na literatura da RS. Carroll (1999) destaca que esse estudo diz respeito à discussão ética em torno da contribuição que os homens de negócios devem dar 8 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica para a sociedade, pois as grandes corporações são centros de poder e de tomada de decisão capazes de afetar a vida dos cidadãos em muitos aspectos. A obra de Howard Bowen foi marcada fortemente por princípios morais cristãos, o que é evidenciado pelo fato de o livro ter feito parte de um estudo mais amplo, de seis volumes, denominado “Christian Ethics and Economic Life”, o qual se destinava a investigar a vida econômica e sua ligação com os valores morais e espirituais. Para Howard Bowen, a questão central não era se os homens de negócios possuíam uma obrigação com a sociedade, mas qual era essa obrigação (Lee, 2008). 2.1.2 Expansão da literatura sobre a responsabilidade social (década de 1960) Este período foi marcado pelas tentativas dos acadêmicos em definir de forma mais precisa o conceito. As definições propostas guardavam similaridade no reforço da ideia de que a RS constitui um conjunto de ações que devem oferecer um contributo à sociedade para além dos interesses econômicos das empresas. Os autores mais proeminentes do período foram Keith Davis, Willian C. Frederick, Joseph W. McGuire e Clarence C. Walton (Carroll, 1999). Ao longo dos anos 1950-1960, incluindo o começo da década de 1970, a sociedade norte-americana viveu um período em que as corporações sofreram forte regulação do Estado, sobretudo com o objetivo de proteger os direitos dos consumidores e dos trabalhadores. Datam também desse período os movimentos pelos direitos civis, pelos direitos das mulheres e pela proteção ambiental (Carroll & Shabana, 2010). Destacam-se, dentre as várias regulações realizadas pelo governo norte-americano, as promulgações do National Environmental Policy Act (1969) e do Clean Air Act (1970), os quais introduziram no cenário político a preocupação com o meio ambiente. Esse cenário social era de certa forma hostil para as grandes corporações, gerando a necessidade de maior atenção às causas sociais, com o objetivo de diminuir essa tensão. A RS era então utilizada como estratégia de relações públicas pela gestão de topo (Lee, 2008). Cumpre destacar neste período o surgimento de posições contrárias à adoção de práticas de responsabilidade social pelas empresas, com destaque para Milton Friedman. Em sua opinião, a responsabilidade social das empresas residiria somente na geração de bens e produtos para a sociedade (Friedman, 1970; Linnenluecke & Griffiths, 2013). 9 Responsabilidade social e sustentabilidade 2.1.3 Proliferação das definições sobre RS (década de 1970) A produção científica desse período buscou apresentar definições mais específicas sobre RS, a partir da constatação de que as empresas possuíam maiores responsabilidades a assumir na sociedade norte-americana. Carroll (1999) destaca neste período, sobretudo, as contribuições de Harold Johnson, do Committee for Economic Development (CED) e Carroll (1979). Carroll (1979) propôs uma definição de RS inserida no modelo conceitual tridimensional de desempenho empresarial 17 . A responsabilidade social “engloba as expectativas econômicas, legais, éticas e discricionárias que a sociedade tem das empresas em determinado momento” (Carroll, 1979, p. 500). Tais expectativas são as expressões da responsabilidade que as empresas possuem com a sociedade. Ao longo da década de 1970, esforços foram realizados para que houvesse uma conciliação entre os pontos de vista a favor e contra a RS. Buscou-se, portanto, a compatibilização entre os interesses sociais e econômicos das corporações (Lee, 2008). Os estudos da CED de 1970 e 1971 mostraram-se como contribuições nesse sentido, pois procuraram demonstrar que no longo prazo era interessante para os stockholders18 que as corporações tivessem uma orientação social, pois a estabilidade social representava também uma garantia para a diversificação do risco do capital investido, embora ainda não fosse possível comprovar empiricamente essa possibilidade. De forma geral, as orientações teóricas desse período deixaram de ser normativas e passaram a ser positivas, e as pesquisas tiveram foco nas possibilidades de implementação de RS que não confrontassem os interesses econômicos primários das corporações (Lee, 2008). 2.1.4 Fase de poucas definições e de muitas pesquisas (década de 1980) Esta fase do desenvolvimento do conceito de RS trouxe um refinamento e aprofundamento nos conceitos anteriormente apresentados, bem como a criação de modelos que trouxeram novas abordagens ao tema. É dessa época o surgimento do conceito de Ética nos Negócios19 e dos estudos empíricos que buscaram associar a adoção de práticas de RS à melhoria do desempenho financeiro. É deste período a contribuição teórica dada por Peter Drucker (1984). Embora não tivesse acrescentado nada de inovador ao afirmar que a RS era compatível com o 17 Nossa tradução de Three-Dimensional Conceptual Model of Corporate Performance Acionistas 19 Nossa tradução de Business Ethics 18 10 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica desempenho econômico das empresas, fato que já havia sido defendido por Carroll (1979), Drucker apresentou uma proposta claramente mais instrumental, ao propor que as ações de responsabilidade social deveriam ser transformadas em oportunidades de negócios pelas empresas. Dessa forma, transformariam um problema social em oportunidade econômica e benefício econômico em capacidade produtiva, competência humana, empregos bem pagos e em riqueza (Drucker, 1984). Com o objetivo de tornar mais atrativa a RS aos empresários, no sentido de estimular sua adoção, estudos empíricos procuraram estabelecer relações entre o desempenho financeiro e as práticas de RS. Portanto, ganham destaque os trabalhos produzidos por Philip Cochran e Robert Wood (1984) e Aupperle, Carroll e Hatfield (1985). Este último estudo tinha por objetivo identificar qual era a orientação predominante dos gestores com relação às vertentes econômica, legal, ética e discricionária estabelecidas no modelo de Carroll (1979), tendo sido aplicado de forma bastante ampla. Em resumo, a década de 1980 foi marcada pelo esforço em tentar demonstrar a ligação entre o desempenho financeiro e a RS, sob o conceito de desempenho social corporativo20 (CSP). O modelo proposto por Carroll em 1979, e aperfeiçoado por Wartick e Cochran em 1985, serviu de base para se tentar demonstrar empiricamente essa relação. Contudo, a falta de medidas adequadas impediu a ampla utilização do modelo e a comprovação desse relacionamento (Lee, 2008). 2.1.5 Ampliação dos temas alternativos em RS (década de 1990) Durante essa fase, surgiram poucas definições que pudessem atribuir novo sentido ao conceito de RS. As definições passaram, por sua vez, a servir de pontos de partida para outros conceitos intrinsecamente relacionados. Como exemplos citam-se CSP, teoria da gestão dos stakeholders, teoria da ética nos negócios21 e cidadania corporativa22 (Carroll, 1999). Importante contribuição foi o estudo realizado por Wood (1991), a qual revisou os trabalhos de Carroll (1979) e Wartick e Cochran (1985). O modelo proposto por Wood (1991) apresentou-se mais abrangente que os anteriores e propôs novas questões que ainda não haviam sido apresentadas. 20 Nossa tradução de Corporate Social Performance (CSP) Nossa tradução de Business Ethics Theory 22 Nossa tradução de Corporate Citizenship 21 11 Responsabilidade social e sustentabilidade A década de 1990 foi sobretudo marcada pela incorporação dos conceitos sobre RS pelos teóricos da gestão estratégica, tais como Philip Kotler, Nancy Lee, Michael Porter, Rosabeth Moss Kanter e Stuart Hart. Porter e Kanter exortaram as empresas a realizarem gastos com filantropia de forma inteligente (filantropia estratégica), pois estes teriam o potencial de ajudar no desempenho financeiro ao tornarem-se valiosos, além de criarem uma boa reputação para a empresa (Carroll, 1999). Destaque-se também a contribuição de Hart (1997), ao argumentar que as organizações podem obter vantagens competitivas ao incorporarem práticas sustentáveis em suas atividades, atendendo aos crescentes desafios ambientais que o mundo atual enfrenta. A teoria da gestão dos stakeholders, desenvolvida por Freeman (1984), apresentou-se como um suporte teórico sobre o qual os estudos empíricos dos anos 1990 puderam apresentar melhores resultados, uma vez que, identificados a quem se destinariam as práticas de RS, foi possível estabelecer parâmetros de mensuração do desempenho social corporativo (Lee, 2008). Ela ofereceu importante base teórica para o desenvolvimento de estudos posteriores que relacionaram a ética nos negócios à estratégia empresarial. O pressuposto central da teoria é que o propósito das empresa é criar valor e distribui-lo a uma pluralidade de stakeholders, sendo necessários o apoio e a cooperação desses para que esse propósito seja atingido (Minoja, 2012). Jones (1995) e Clarkson (1995) aplicaram-na em seus estudos empíricos, aperfeiçoando os conceitos formulados por Freeman (1984) e correlacionando-os a princípios da teoria econômica. Na sequência desses trabalhos, outros estudos empíricos se seguiram relacionando RS com estudos sobre redes sociais (Rowley, 1997), por exemplo. Berman, Wicks, Kotha, e Jones (1999) identificaram duas perspectivas diferentes na Teoria dos Stakeholders: a) o modelo estratégico dos stakeholders, baseado na lógica da RS integrada aos negócios; e b) o modelo intrínseco dos stakeholders, que enfatiza o aspecto moral da RS. Jones e Wicks (1999) propuseram uma teoria convergente que integrasse as perspectivas estratégica e intrínseca em uma estrutura teórica mais ampla. A RS integrada às teorias de gestão estratégica das empresas permitiram eliminar as divergências teóricas entre os desempenhos econômico e social. O conceito de RS foi ampliado e aplicado como parte das atividades das empresas. Pelo menos na teoria, a RS passou a ter importantes implicações no desempenho financeiro (Lee, 2008). Portanto, sob o ponto de vista da gestão estratégica, a responsabilidade social não é mais concebida como uma responsabilidade moral dos gestores por um bem social maior, ou 12 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica como gastos discricionários dos executivos que poderiam reduzir a lucratividade das empresas. A RS passa a ser considerada como um recurso estratégico a ser usado para o melhor desempenho financeiro das corporações (McWilliams, Siegel, & Wright, 2006). 2.1.6 Década de 2000 em diante – era da cidadania global corporativa23 Os estudos sobre RS continuam despertando interesse na comunidade acadêmica e novas perspectivas continuam surgindo. Destaca-se neste contexto o estudo de Dahlsrud (2008), o qual buscou analisar as diferentes definições existentes na literatura sobre RS para identificar os aspectos comuns que pudessem conduzir a uma definição abrangente de RS. Para tanto, Dahlsrud (2008) utilizou a ferramenta de busca do Google para pesquisar as diversas definições de RS e chegou à quantidade de 37 descrições, as quais foram submetidas à técnica de análise de conteúdo para identificação de seus aspectos centrais, a partir da repetição dos termos que eram compartilhados. O resultado desse estudo levou à identificação final de cinco dimensões da RS: a) econômica; b) social; c) dos stakeholders; d) voluntária; e e) ambiental. Embora tenha sofrido a crítica metodológica de Carroll e Shabana (2010) por ter utilizado um número reduzido de definições, esse estudo logrou o mérito de identificar um desmembramento das dimensões de responsabilidade originalmente propostas por Carroll (1979). As responsabilidades legal, ética e voluntária ganharam novos contornos, o que pode ser interpretado como uma modificação na orientação da RS nas empresas em decorrência da modificação das demandas sociais, conforme afirmado por Pinkston e Carroll (1996). Destaque-se também que, embora os conceitos de RS tivessem sido incorporados em um contexto mais amplo de desempenho social (Wood, 2010), o início dos anos 2000 foi marcado por diversos escândalos corporativos que afetaram a credibilidade das grandes corporações. Más práticas de gestão deixaram marcas profundas na sociedade norteamericana, com um efeito devastador nos interesses dos diversos stakeholders, dos acionistas aos empregados. O caso mais citado é o da empresa Enron Corporation, que no período anterior aos escândalos contábeis era considerada uma das empresas mais admiradas nos Estados Unidos, além de modelo de cidadania empresarial (Lee, 2008). Outros casos emblemáticos mencionados na literatura são Arthur Andersen, WorldCom, General Electric, Tyco, Qwest, Adelphia, Halliburton, Global Crossing, AOL Time-Warner, Merrill Lynch e Health South 23 Nossa tradução para Global Corporate Citizenship 13 Responsabilidade social e sustentabilidade (Brown & Treviño, 2006; Cooper, Scandura, & Schriesheim, 2005; Groves & LaRocca, 2011a, 2011b; Heath & Norman, 2004; Pless & Maak, 2011; Schminke, Ambrose, & Neubaum, 2005; Yukl, 2010). Os escândalos associados às fraudes financeiras expuseram de forma dramática a falta de coerência entre os princípios propugnados na teoria do desempenho social corporativo e a prática desonesta dos executivos caracterizada pela ganância do lucro a qualquer custo (Kellerman, 2004; Poff, 2010). Os problemas causados pelas más-práticas realizadas pelos executivos das grandes corporações suscitaram uma reflexão profunda da RS sob o ponto de vista da ética dos negócios. Os executivos, enquanto líderes organizacionais, devem esposar valores morais superiores, os quais podem constituir-se como antecedentes de boas práticas de RS (Groves & LaRocca, 2011a). A literatura científica estadunidense, contudo, não destaca as possíveis contradições decorrentes de posicionamentos dos governos norte-americanos, representantes dos interesses econômicos das empresas, contrários a determinadas demandas da comunidade global, especificamente no que toca à questão ambiental. A assinatura do Protocolo de Kyoto, por exemplo, seria uma importante demonstração de alinhamento aos anseios da sociedade global, mas a pressão das indústrias norte-americanas impede a adesão ao acordo. A vertente ambiental marca uma das diferenças entre a visão norte-americana e a orientação europeia sobre o assunto (Doh & Guay, 2006). 2.2 A orientação europeia em RS Embora se reconheça o pioneirismo norte-americano quanto ao início das discussões sobre a responsabilidade social das empresas, pode-se afirmar que essa temática não é novidade no continente europeu. A impressão de que a temática é nova decorre de uma “americanização” de um assunto que sempre foi objeto de atenção dos governos nacionais europeus (Matten & Moon, 2008; Melé, 2008). A tradição norte-americana sobre a RS é nitidamente influenciada pelo ambiente cultural, caracterizado pela preocupação com a liberdade individual, com os direitos humanos e a democracia, e pelas características econômicas do mercado, de caráter individualista e empreendedor, fruto da visão econômica liberal da livre iniciativa e caracterizada pela fraca presença do estado para regular as relações entre patrões e empregados (Melé, 2008). O efeito dessas características sobre a discussão sobre a RS reside sobre os aspectos morais que estão presentes nas relações entre as empresas e a sociedade, sobretudo no tocante ao respeito 14 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica à dignidade humana dos trabalhadores e à obrigação de cuidar da sociedade norte-americana, mas não necessariamente das dos outros países. Por outro lado, a orientação europeia para a responsabilidade social reflete uma tendência cultural e histórica de forte presença do Estado nas relações sociais. A origem dessa influência remonta ao feudalismo, às monarquias nacionais, seguidas dos estados modernos, que ao longo dos séculos tiveram o encargo de cuidar dos seus nacionais. “Europeus manifestam grande expectativa de o Estado resolver seus problemas estruturais” (Melé, 2008, p. 14). As redes protetivas aos cidadãos decorrem dessa histórica troca de expectativas e obrigações entre governantes e governados. A União Europeia atualmente possui um compêndio sobre responsabilidade social para as empresas, o qual não representa uma proposta de normatização, mas busca esclarecer e sensibilizar os empresários sobre a necessidade comercial estratégica de dar atenção ao tema, pois as empresas devem considerar a responsabilidade social “... como um investimento, e não como um encargo”, pois “através dela, é possível adotar uma abordagem inclusiva do ponto de vista financeiro, comercial e social, conducente a uma estratégia a longo prazo que minimize os riscos decorrentes de incógnitas” (European Comission, 2001, p. 5). Outro aspecto relevante dessa obra de referencia é a visão de que as empresas devem decidir “... numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo” (European Comission, 2001, p. 4). O reconhecimento expresso da vertente ambiental como parte integrante das ações de responsabilidade social é um indicador de que essa obrigação não está mais implicitamente considerada entre as quatro consagradas por Carroll (1979), mas explicitamente reconhecida, não obstante se possa ponderar que ela sempre estivesse contida de forma tácita nos planos legal, ético ou voluntário. Matten e Moon (2008) estabelecem a distinção entre a responsabilidade social implícita e a explícita, ao compararem os estilos norte-americano e europeu de realizarem práticas de responsabilidade social. A RS implícita diz respeito às atividades que as empresas estão obrigadas de maneira coletiva e que se originam de compromissos gerados por normas, regras ou valores formal ou informalmente instituídos. A RS explícita está, por seu turno, relacionada com políticas articuladas voluntária e estrategicamente pelas empresas para atender a interesses sociais percebidos como sendo parte de sua responsabilidade social. Ao compararem os estilos europeu e norte-americano de realizar RS, Matten e Moon (2008) atribuem aos americanos uma orientação de RS explícita, de caráter mais voluntário e 15 Responsabilidade social e sustentabilidade estrategicamente ligado ao negócio, enquanto que os europeus possuem um viés mais implícito, porque fortemente regulamentado pelos Estados. Essa caracterização não é determinística, e os autores identificam que as empresas europeias atualmente estão mais inclinadas a adotar uma visão explícita da RS, em parte por decorrência da “americanização” das práticas de gestão, enquanto que no contexto norteamericano já existe regulação do Estado sobre algumas normas internas das empresas, como por exemplo o Sarbanes-Oxley Act 24. Dessa forma, poder-se-ia interpretar a citação da vertente ambiental no Livro Verde sobre RS como um incentivo à adoção da forma explícita da responsabilidade social. Quanto a essa atuação, o Livro Verde concita as empresas a serem socialmente responsáveis “... tanto na Europa como fora dela, aplicando o princípio ao longo de toda a sua cadeia de produção” (European Comission, 2001, p. 5). Esse incentivo a ser socialmente responsável tanto dentro como fora da Europa confirma a visão acadêmica de que a orientação europeia para a RS também leva em consideração as questões sociais nos países em desenvolvimento, com destaque para a temática ambiental, nomeadamente o Protocolo de Kyoto (Doh & Guay, 2006; Melé, 2008). 2.3 Síntese das principais correntes teóricas Os estudos sobre responsabilidade social realizados entre 1953 e 2011 foram analisados bibliometricamente por Linnenluecke e Griffiths (2013), tendo sido identificado que eles se enquadram em quatro grandes genealogias conceituais distintas: a) teoria do desempenho social corporativo (CSP); b) teoria dos stakeholders; c) discussões entre CSP versus o desempenho econômico; e d) debate sobre a gestão ambiental (Linnenluecke & Griffiths, 2013). A Figura 1 ilustra como se agrupam as produções científicas sobre a RS. 24 Lei federal norte-americana promulgada em 30 de julho de 2002. Foi criada para estabelecer regras de auditoria para as organizações, com o objetivo de prevenir fraudes financeiras. 16 Figura 1. As cinco grandes áreas do conhecimento sobre RS Fonte: Linnenluecke e Griffiths (2013) Responsabilidade social e sustentabilidade 2.4 A Responsabilidade Social no Brasil A norma brasileira NBR 26.000 define RS como: A responsabilidade de uma organização pelos impactos de suas decisões na sociedade e no meio ambiente, por meio de um comportamento ético e transparente que contribua para o desenvolvimento sustentável, inclusive a saúde e bem-estar da sociedade, leve em consideração as expectativas das partes interessadas, esteja em conformidade com a legislação aplicável, seja consistente com as normas internacionais de comportamento, esteja integrada em toda a organização e seja praticada em suas relações (ISO, 2007, p. 4) . A importância dessa definição, formulada em 2010 e que orienta para a responsabilidade com o meio ambiente e para o desempenho de um comportamento ético pelas organizações, reside em evidenciar a influência dos diversos estudos realizados ao longo de mais de meio século de produção científica. O desenvolvimento da ideia de RS no Brasil possui certa similaridade com o surgimento desse fenômeno social nos Estados Unidos da América, pois a motivação inicial teve um caráter filantrópico com orientação religiosa, no intuito de contribuir para a solução de problemas sociais (Almeida & Sobral, 2010). Em função de sua história econômica, política e social, o Brasil é um país marcado por profundas desigualdades sociais e por uma grande concentração de riqueza na parcela mais rica da população (Young, 2004). A desigualdade na distribuição de renda reflete-se em indicadores sociais desfavoráveis, o que em certa medida representa uma barreira para o seu desenvolvimento econômico (Griesse, 2007). O reconhecimento da necessidade de reduzir a desigualdade social criou um ambiente ético para o desenvolvimento da filantropia das grandes empresas como a primeira e fundamental prática de responsabilidade social (Kraft, 2013). As iniciativas pioneiras relacionadas com o conceito de RS remontam ao ano de 1961, com a fundação da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas no Brasil (ADCE), em São Paulo, grupo ligado à Igreja Católica e filial da União Cristã Internacional de Executivos de Empresas25, cuja proposta é a aplicação de valores cristãos às praticas empresariais (Griesse, 2007). O foco principal das atividades promovidas pela ADCE é a filantropia e o exercício da caridade (Cappellin & Guiliani, 2004). 25 Nossa tradução de International Christian Union of Business Executives 18 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica Ao longo das décadas seguintes (1970 e 1980), outras associações de empresas organizaram-se em torno da ideia de que o Estado Brasileiro não possuía condições de suportar sozinho a missão de redução das desigualdades sociais, cabendo responsabilidade às empresas em dar o seu contributo. Destacam-se pelo pioneirismo nessa linha de pensamento, além da ADCE, a Câmara Americana de Comércio em São Paulo (Amcham), a Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social (FIDES), o grupo Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE) e o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) (Cappellin & Guiliani, 2004; Griesse, 2007). A estabilização da economia e o crescimento econômico conquistado pelo Brasil durante as décadas de 1990 e 2000 foram acompanhados de mudanças na estrutura do Estado Brasileiro e pelo fenômeno da globalização, que influenciou o ciclo de privatizações e a atração do capital externo. Os conglomerados multinacionais recém-instalados contribuíram para que melhores práticas de responsabilidade social fossem desempenhadas no Brasil, fosse por imposição das matrizes no exterior ou por estarem submetidos a certificações ou compromissos em seus países de origem que exigiam boas práticas, tais como a SA 8000 (Social Accountability International) e o Pacto Global das Nações Unidas26 (Baskin, 2006; Cappellin & Guiliani, 2004; Griesse, 2007; Redclift, 2005). Atualmente, a entidade promotora de grandes debates sobre o papel social das empresas no Brasil, e principal difusora de boas práticas entre os empresários, é o Instituto ETHOS, fundado em 1998 (Almeida & Sobral, 2010). Inicialmente criado com 11 empresas, em seis anos conseguiu reunir mais de 800 membros, empregando em torno de 1,3 milhões de pessoas, e representando um faturamento correspondente a 30% do Produto Interno Bruto brasileiro (Young, 2004). Em alinhamento à incorporação da temática ambiental no conceito de RS, verifica-se na produção científica brasileira uma orientação para a definição de RS como responsabilidade social e ambiental das empresas (Cappellin & Guiliani, 2004). A incorporação da vertente ambiental nas práticas de responsabilidade social no Brasil foi indubitavelmente influenciada pelas conferências das Nações Unidas em que o País participou, com destaque para a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Meio Ambiente - Rio de Janeiro em 1992, a 2ª Conferência sobre os Direitos Humanos – Viena em 1993, a Conferência sobre a População e Desenvolvimento – Cairo em 1994, e a Conferência Mundial para o Desenvolvimento Social – Copenhagen em 1995 (Kraft, 2013). 26 Nossa tradução para United Nations Global Compact 19 Responsabilidade social e sustentabilidade No mercado brasileiro, existem associações de empresas que concentram sua atenção especificamente para a vertente ambiental da RS, quais sejam o Compromisso Empresarial para a Reciclagem (CEMPRE), a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), e o Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) (Young, 2004). O CEBDS, fundado em 1997 no Rio de Janeiro, destaca-se entre os demais por ser membro do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD) e atuar ativamente como um grupo de pressão sobre o Congresso Nacional Brasileiro, no que concerne as propostas relacionadas com a legislação ambiental (Cappellin & Guiliani, 2004). O Brasil, assim como outros países emergentes tais como África do Sul e Índia, possui uma rede articulada e ativa para a responsabilidade social maior do que comumente se poderia imaginar (Baskin, 2006). A causa do baixo nível de conhecimento sobre as ações de RS no Brasil pode ser creditada a uma divulgação deficiente, descontextualizada e pouco esclarecedora por parte dos meios de comunicação, nomeadamente a imprensa nacional (Vivarta & Canela, 2006). Portanto, a atuação brasileira no contexto das práticas de RS possui duas vertentes claramente definidas, uma social e voltada para a amenização de problemas sociais, outra ambiental, decorrente da assimilação de práticas decorrentes da regulamentação ambiental do Estado ou da opção voluntária das empresas em aderir a padrões superiores de consciência ambiental com objetivo de tornarem-se mais competitivos comercialmente. Este último objetivo representa o que atualmente se entende por sustentabilidade corporativa27 ou apenas sustentabilidade. 2.5 Sustentabilidade A sustentabilidade decorre do conceito mais amplo de desenvolvimento sustentável e representa na prática a aplicação dos ideais de respeito ao meio ambiente no nível operacional das empresas. Contudo, o próprio conceito de desenvolvimento sustentável exige reflexões sobre a sua real orientação (Redclift, 2005). Lai (2006) identifica duas abordagens existentes na literatura sobre desenvolvimento sustentável. Uma é mais restritiva e centrada na preservação ambiental, alinhada com os princípios consignados no Relatório Bruntland. Essa abordagem prega que, em função da escassez dos recursos existentes na natureza, a exploração desordenada causada pelo crescimento econômico pode comprometer as gerações futuras de satisfazer as suas 27 Nossa tradução de Corporate Sustainability 20 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica necessidades. Essa orientação teórica é mais orientada para a preservação ambiental e advoga o estabelecimento de limites críticos para a exploração dos recursos naturais (Lai, 2006). A outra abordagem, mais branda, adota uma linha teórica mais coerente com os princípios estabelecidos na UNCED. Orientada para o desenvolvimento econômico e centrada na sociedade, estabelece que os seres humanos estão no centro do conceito de desenvolvimento sustentável, que o direito ao desenvolvimento deve levar em consideração as necessidades das gerações presentes e futuras e que a proteção ambiental é parte integrante do desenvolvimento, mas não deve ser vista de forma isolada (Lai, 2006). A Conferência da Terra no Rio de Janeiro em 1992 (Earth Summit) trouxe o amplo reconhecimento de que é preciso alcançar o crescimento econômico com igualdade social e respeitando os recursos naturais. Estes são os três grandes desafios para a humanidade, no presente e para o futuro, os quais devem ser atingidos com a articulação de esforços entre os setores privado e governamental. O documento dessa conferência que estabeleceu a estrutura para a cooperação entre empresas, governos e entidades ambientais para o desenvolvimento sustentável foi a Agenda 21, que depois foi replicada pelos governos locais de diversos países (Dyllick & Hockerts, 2002; Redclift, 2005). As discussões sobre sustentabilidade representam, portanto, um desdobramento no plano empresarial das ideias e propostas relacionadas com o desenvolvimento sustentável discutidas na UNCED (Redclift, 2005). A viabilidade de aplicação desses preceitos na estratégia das empresas foi proposta com a formulação do conceito de Triple Bottom Line (Elkington, 1997). O princípio do Triple Bottom Line estabelece que uma empresa, para ser socialmente responsável, deve conseguir quantificar os seus resultados (bottom line) em três dimensões: a) econômica (profits); b) pessoas (people); c) e meio ambiente (planet) (Hindle, 2009). Essa concepção popularizou-se como os 3P’s que as empresas devem procurar atingir. Embora amplamente disseminado nas discussões sobre sustentabilidade, tanto nas empresas como entre os media, os estudos acadêmicos em torno do modelo proposto por Elkington (1997) são escassos, sendo apenas mencionado como uma ideia geral, porque não é simples quantificar o resultado social ou ambiental da atividade empresarial como o é para a vertente econômica. Contudo, o princípio é considerado valioso, útil e merecedor de esforços para operacionalizá-lo adequadamente (Tullberg, 2012). 21 Responsabilidade social e sustentabilidade Com amparo na ideia do Triple Bottom Line, desenvolveram-se propostas de conceituação para a Sustentabilidade Corporativa28 que acabaram apresentando aspectos que se sobrepuseram e se confundem com os conceitos de RS. As dificuldades em discernir a que especificamente se referem decorrem das semânticas dos vocábulos em inglês, do entendimento sobre o direcionamento das ações a que se referem (se para atender problemas sociais ou para tratar de questões especificamente ligadas ao meio ambiente), ou ainda de uma possível hierarquização entre os conceitos (onde um conceito englobaria o outro). Atribui-se essas confusões ao caráter vago das definições (Van Marrewijk & Werre, 2003; van Marrewijk, 2003). Van Marrewijk (2003) define a Sustentabilidade como a capacidade das organizações de criarem valor para os diversos stakeholders com respeito ao Triple Bottom Line, utilizando práticas que não agridam o meio ambiente, tais como o emprego de materiais e tecnologia ecologicamente corretos, programas de redução de desperdício e utilização de energia limpa, dentre outros. O Triple Bottom Line representa uma orientação prática para as empresas que procuram contribuir para a proteção ambiental e redução da desigualdade social sem comprometer seus resultados financeiros. Essa orientação estratégica possui também um caráter instrumental e legítimo de encarar as demandas ambientais e sociais. O reconhecimento da necessidade de conciliação entre as metas econômicas, sociais e ambientais das empresas, inserida no conceito de Triple Bottom Line, reflete uma atitude ética dos empresários frente às atuais demandas sociais. A própria denominação responsabilidade social traz embutido um preceito moral relacionado com o dever de cuidar, motivo pelo qual Fischer (2004) afirma que os conceitos de responsabilidade social e ética são com frequência usados intercambiavelmente, apesar de cada um possuir um significado distinto. Neste contexto, cabe mencionar que Garriga e Melé (2004) situam o desenvolvimento sustentável entre as teorias éticas de RS. As discussões sobre a quem cabe esse dever de cuidar, se às empresas ou aos governos, são antigas e remontam a Howard Bowen e Milton Friedman, mas constata-se que o segmento empresarial está cada vez mais sensível à necessidade de dar o seu contributo, pois as organizações estão inseridas em ambientes complexos, nos quais os problemas com os empregados ou com o meio ambiente possuem o potencial de afetar seus desempenhos financeiros. 28 Nossa tradução de Corporate Sustainability 22 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica Ao assumirem suas responsabilidades, as organizações materializam o que Enderle (1987) define como a gestão da liderança ética29, que significa “decidir responsavelmente em uma situação complexa” (Enderle, 1987, p. 1). Ressalve-se contudo que as empresas são abstrações jurídicas criadas por pessoas para finalidades específicas. Para que os objetivos para as quais foram criadas sejam atingidos, esses agrupamentos de pessoas precisam da coordenação e orientação dos líderes organizacionais (Chiavenato, 2003). Por todo o exposto, pode-se afirmar que atualmente existe um ambiente econômico, social e ético favorável à utilização de práticas de sustentabilidade pelas organizações privadas e públicas (com as devidas adaptações em termos de finalidade e foco). Contudo, a tomada de decisão em prol da sustentabilidade é feita pelos que detêm a capacidade e o poder de definir os rumos das organizações: os líderes organizacionais. 29 Nossa tradução de Managerial Ethical Leadership 23 Responsabilidade social e sustentabilidade 24 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica CAPÍTULO 3 - LIDERANÇA O tema da liderança é um dos mais estudados na literatura. É interessante notar que a evolução desse conceito deu-se também ao longo do século passado, assim como ocorreu com a RS, em paralelo à sofisticação das estruturas das empresas decorrente da evolução do capitalismo industrial para o financeiro (Barracho, 2012). O ponto de contato entre o conceito de liderança e a RS é a ética presente nas ações dos líderes em favor de práticas de RS, dentre as quais as relacionadas com a sustentabilidade. O presente capítulo destina-se a realizar a revisão da literatura sobre Liderança. Inicialmente são abordados os estudos clássicos sobre o assunto. Posteriormente, é introduzido o estilo de liderança transformacional, associado na literatura científica à tomada de decisão ética30. Ao final, são referenciados os estilos de liderança relacionados com a sustentabilidade. 3.1 Conceituação Liderança possui várias definições na literatura científica, as quais destacam aspectos diferentes conforme os focos de estudo dos pesquisadores que a utilizam. Não existe uma definição suficientemente abrangente que incorpore todas as orientações e interesses de pesquisa, mas afirma-se que as definições encontradas remetem para a ideia da condução de pessoas ou equipes para um determinado objetivo. Face o caráter abrangente do conceito, afirma-se que existem tantas definições quantos pesquisadores que se dedicaram a estudá-las (Bass & Bass, 2009; Yukl, 2010). A definição de liderança proposta por Yukl (2010) contextualiza a capacidade de influenciar pessoas para o alcance de objetivos organizacionais. Assim liderança é definida como sendo“o processo de influenciar outros a entender e concordar sobre o que precisa ser feito e como fazê-lo, e de facilitar os esforços coletivo e individual para atingir os objetivos compartilhados” (Yukl, 2010, p. 26). Yukl (2010) afirma que a maioria dos estudos sobre Liderança teve como objetivo relacioná-la com o conceito de eficácia organizacional31, utilizando abordagens distintas, mas complementares. O conceito de eficácia, na visão de Yukl (2010), está relacionado com a capacidade de atingir determinados objetivos mensuráveis. 30 31 Nossa tradução de Ethical Decision Making Nossa tradução de Efectiveness 25 Liderança Portanto, a medida da eficácia de um líder está relacionada com a sua capacidade de atingir determinados parâmetros, como por exemplo o lucro líquido anual, a produtividade e a satisfação dos subordinados (Barracho, 2012). As diversas abordagens sobre liderança tiveram como objetivo principal investigar as condições para que as organizações tivessem líderes eficazes. O estudo do desenvolvimento da teoria evidencia que as pesquisas partiram da análise de traços individuais até chegar a uma abordagem mais complexa, que combina traços, comportamentos e contingências nos processos de liderança. 3.2 Abordagens teóricas dos estudos sobre liderança Bass e Bass (2009) afirmam que taxonomias são classificações baseadas em tipos definidos pelos pesquisadores. Tal afirmação justifica-se no estudo sobre liderança porque são muitas as formas de classificar as diferentes abordagens teóricas. Yukl (2010) afirma que as diversas tentativas de classificar as diferentes teorias apresentaram um parcial sucesso. A clássica tipologia proposta por Jago (1982) enquadra as teorias anteriores ao surgimento da liderança transformacional em universais e contingentes e em teorias de traços e comportamentais. O cruzamento dessas classificações leva ao agrupamento das teorias em tipos I, II, III e IV. A numeração dessas teorias ilustra a forma sequencial com que os estudos sobre liderança se sucederam na tentativa de preencher lacunas que as teorias anteriores deixavam. As teorias tipo I tentaram definir os traços psicológicos do líder universal. Face aos resultados não conclusivos, sucederam-nas as teorias tipo II, que procuraram caracterizar os comportamentos universais que os líderes deveriam adotar para que obtivessem eficácia nas organizações. Contudo, a constatação de que a eficácia na liderança variava conforme as situações, surgiram as teorias tipo III, de caráter contingencial, e que buscaram caracterizar traços de liderança que seriam capazes de produzir comportamentos altamente eficazes em algumas situações e menos eficazes em outras. As teorias tipo IV também são contingenciais, mas distinguem-se das anteriores pelo fato de o estudo das variáveis situacionais moderadoras não incidirem sobre os traços (características) dos líderes, mas sobre os seus comportamentos em determinados contextos (Jesuíno, 2005). Essa taxonomia ainda é referenciada na atual literatura (Barracho, 2012; Jesuíno, 2005), pelo fato de consolidar de forma didática a evolução histórica dos estudos no contexto da busca pela eficácia, evidenciando que os estudos realizados se complementam e 26 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica contribuíram para a compreensão ampla do fenômeno. Contudo, está desatualizada, pois não contempla as importantes teorias surgidas no final da década de 1980. Bryman (1992) apresenta uma classificação mais resumida, dividindo cronologicamente as correntes teóricas em abordagem dos traços (até o final da década de 1940), abordagem dos estilos (fins da década de 1940 ao final da década de 1960), abordagem contingencial (fins da década dos anos 1960 ao início dos anos 1980) e nova liderança (a partir do início dos anos 1980). A taxonomia proposta por Bryman (1992) estabeleceu a designação de Nova Liderança para as teorias que surgiram a partir da incorporação e operacionalização do conceito de carisma nos estudos de liderança. Fiol, Harris, e House (1999) designam essas teorias como neocarismáticas, as quais compreendem a liderança carismática, a liderança visionária e a liderança transformacional. Yukl (2010) identifica cinco abordagens teóricas principais no estudo da eficácia do líder, ou seja teoria dos traços, comportamental, influência e poder, situacional e integradora. O autor acrescentou, dessa forma, mais duas vertentes teóricas sobre liderança. Hernandez, Eberly, Avolio, e Johnson (2011) propuseram uma taxonomia sobre as teorias da liderança, tendo como parâmetros dois referenciais: a fonte de onde decorre a liderança (locus) e o mecanismo que viabiliza os processos de liderança. Os loci de liderança citados pelos autores são o líder, o contexto, os seguidores, as coletividades e as díades. Por sua vez, os mecanismos de liderança explorados no estudo são os traços, os comportamentos, a cognição e o afeto. O cruzamento desses dois parâmetros oferece um panorama abrangente de todas as teorias sobre liderança realizadas ao longo de mais de 100 anos de estudo. A Figura 2 representa esta tipologia e ilustra de maneira inequívoca que o campo de estudo da liderança é extremamente vasto e complexo, pois compreende conhecimentos produzidos ao longo de décadas de pesquisas. Por essas razões, desde já afasta-se a pretensão de abordar todas as teorias neste estudo. Rego, Cunha, Cunha, e Cardoso (2007) também oferecem uma proposta de classificação das teorias sobre liderança, em abordagens dos traços, comportamentais, situacionais e carismática e transformacional. 27 Liderança Figura 2. Loci e mecanismos dos processos de liderança Fonte: Hernandez et al. (2011) No âmbito deste estudo, optou-se por combinar a proposta de Bryman (1992) com a de Rego et al. (2007), portanto classificando as teorias em traços, comportamentais, contingenciais e nova liderança. 3.3 Teoria dos Traços A teoria dos traços procurou “descobrir os traços físicos, características de personalidade e capacidades que (...) eram atributos dos líderes naturais. Nascia-se líder, não se faziam líderes.” (Barracho, 2012, p. 70). Tal corrente teórica enfatizava a busca por traços universais que os líderes deveriam possuir. “A esperança inicial era que a identificação desses traços (tais como inteligência e sociabilidade) poderia melhorar a seleção de pessoal” (Hernandez et al., 2011, p. 1169). A crença de que os líderes possuíam características inatas que faltavam aos considerados não líderes decorreu da influência exercida pela Teoria do Grande Homem32. Esta pregava que a história da humanidade é feita de líderes que realizaram feitos notáveis por terem nascido com características especiais e que de alguma forma se sobrepuseram 32 Nossa tradução de Great Man Theory 28 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica sobre a “massa” em função dessas características ou por serem de “classes superiores”. A partir daí, ideias relacionadas com a hereditariedade de traços foram defendidas por alguns teóricos (Bass & Bass, 2009; Kirkpatrick & Locke, 1991). A teoria dos traços sofreu um enfraquecimento a partir da publicação da obra clássica de Ralph Stogdill em 1948, denominada “Personal Factors associated with leadership: A survey of the literature” publicada no Journal of Psychology. Esse estudo, ao revisar 128 trabalhos que tentaram determinar os traços e características universais dos líderes, identificou dois aspectos que cabe destacar. O primeiro é o de que nenhum conjunto consistente de traços individuais distinguia os líderes dos não líderes em uma série de situações. O segundo é que os aspectos situacionais, assim como a interações entre estes e as características dos líderes, também eram importantes no contexto de liderança (Bass & Bass, 2009; Northouse, 1997). O estudo dos traços não foi completamente abandonado após as evidências apresentadas por Stogdill, sendo possível encontrar pesquisas recentes apresentando uma abordagem em que os traços possuem relevância no contexto da liderança. São o que se poderiam denominar teorias neotraços (Hernandez et al., 2011). Kirkpatrick e Locke (1991) afirmam que há evidências de que líderes eficazes são diferentes de outras pessoas em certos aspectos, indicando os seguintes traços-chave de liderança: a) drive (termo amplo que contempla energia, ambição, tenacidade e iniciativa); b) motivação para liderar; c) honestidade e criatividade; d) auto-confiança; e) habilidade cognitiva; e f) conhecimento do negócio. Por seu turno, Judge, Ilies, Bono, e Gerhardt (2002) estudaram os traços sócioemocionais dos líderes no contexto da teoria Big Five da personalidade. Eles identificaram que existem correlações entre os cinco grandes traços de personalidade (neuroticismo, extroversão, abertura à experiência, amabilidade e escrupulosidade) e a liderança eficaz. 3.4 Teorias Comportamentais A literatura credita o pioneirismo nos estudos comportamentais a Kurt Lewin, em razão de seus trabalhos realizados na Universidade de Iowa no final da década de 1930, os quais demonstraram a influência do comportamento de liderança sobre grupos sociais. Esses trabalhos foram continuados por seus colaboradores Ronald Lippit e Ralph White em 1943, 1958 e 1960 (Barracho, 2012; Jesuíno, 2005). As teorias comportamentais representaram sobretudo uma mudança no foco de atenção dos estudos, face a incapacidade da teoria dos traços de explicar a eficácia da 29 Liderança liderança (Barracho, 2012). Enquanto que na corrente anterior a busca era por traços que seriam comuns (universais) para os líderes eficazes, as teorias comportamentais procuraram identificar como os líderes deveriam comportar-se para alcançar essa eficácia (Northouse, 1997). O objetivo passou a ser “identificar comportamentos específicos, e dimensões comportamentais que distinguiriam líderes eficazes dos não eficazes” (Hernandez et al., 2011, p. 1169). Outra mudança de paradigma que ocorreu foi o deslocamento do foco da seleção para o treinamento do pessoal nas organizações. De acordo com Jesuíno (2005), os estudos comportamentais em liderança, de uma forma geral, encontram-se divididos em duas grandes vertentes, cujos campos de estudo exigiram metodologias distintas. Uma primeira procurou identificar os comportamentos característicos dos indivíduos investidos de autoridade legal ou formal, os líderes formais. A investigação sobre a liderança formal foi desenvolvida no âmbito da psicologia industrial e organizacional e procurou explicar os diferenciais das pessoas em posição de chefia que explicavam a maior ou menor eficácia desses chefes. Esses estudos, de forma geral, utilizaram métodos correlacionais e estatística multivariada e foram conduzidos pela Universidade do Estado de Ohio, pela Universidade de Michigan e por Blake e Mouton. A segunda vertente voltou-se para examinar os comportamentos dos indivíduos que exercem maior influência em grupos de tarefa33 e para os quais não se atribuiu previamente uma designação formal de líder, os chamados líderes emergentes. Os estudos foram conduzidos no campo da psicologia social e da sociologia, utilizaram grupos laboratoriais (na maioria dos casos) e recorreram preferencialmente ao método experimental e à análise de variância. Destacam-se nessa linha teórica os estudos conduzidos por Robert Freed Bales e associados na Universidade de Harvard (Jesuíno, 2005). De forma geral, os estudos de Ohio, Michigan e de Blake e Mouton chegaram à conclusão de que a liderança está compreendida em dois tipos gerais de comportamentos: a) orientação para tarefas; e b) orientação para relacionamentos. Por sua vez, os estudos desenvolvidos por Bales em Harvard representam uma corrente menos conhecida da literatura que buscou identificar os processos de liderança utilizando a sociologia de pequenos grupos e que permitiu investigar a liderança emergente (Hernandez et al., 2011; Jesuíno, 2005; Northouse, 1997). 33 Nossa traduação de task groups 30 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica 3.5 Teorias Contingenciais A constatação de que apenas os comportamentos de liderança não eram suficientes para explicar a eficácia organizacional gerou a necessidade de incorporar variáveis situacionais no estudo dos processos de liderança, de modo a compreender de forma mais abrangente esse fenômeno. Segundo Jesuíno (2005), as teorias contingenciais podem ser divididas em dois tipos: primeira e segunda gerações. As teorias de primeira geração, cujo exemplo maior é a teoria de contingência de Fiedler, correspondem às teorias de tipo III conforme a tipologia de Jago (1982) e explicam a orientação para a tarefa e a orientação para os relacionamentos como prioridades motivacionais dos líderes, portanto como aspectos de sua personalidade. Por sua vez, as teorias de segunda geração, correspondentes às teorias tipo IV da tipologia de Jago (1982), introduzem variáveis situacionais adicionais, gerando modelos notadamente mais complexos, e tendo seu foco de atenção no comportamento dos líderes, e não em aspectos de personalidade como na teoria de Fiedler. No âmbito desta revisão da literatura, opta-se por discorrer resumidamente apenas sobre as teorias contingenciais mais citadas na literatura, tais como a teoria de contingência de Fiedler, a teoria caminho-meta34, de Evans, House e associados e a teoria situacional de liderança de Hersey e Blanchard. 3.5.1 Modelo contingencial de Fiedler O modelo contingencial de Fiedler é considerado o primeiro modelo contingente e baseia-se nas funções de liderança do grupo de Bales, com a diferença de que elas passam a constituir uma variável unidimensional (Barracho, 2012). Ao apresentar sua teoria, Fiedler afirma que “a premissa básica da teoria é que o desempenho dos grupos é contingente da interação dos estilos de liderança e da favorabilidade da situação para o líder” (Mitchell, Biglan, Oncken, & Fiedler, 1970, p. 253). O modelo de Fiedler comporta quatro dimensões fundamentais: a) o estilo de liderança; b) a estrutura da tarefa; c) o ambiente de grupo (relações interpessoais entre o líder e os subordinados); e d) o poder formal do líder. De acordo com o modelo, os estilos dos líderes devem compatibilizar-se com a maior ou menor favorabilidade da situação. Situações mais favoráveis, ou extremamente desfavoráveis, exigiriam líderes orientados para a tarefa. Por outro lado, situações 34 Nossa tradução de Teoria Path Goal 31 Liderança moderadamente favoráveis ou desfavoráveis exigiriam uma liderança orientada para as pessoas. 3.5.2 Teoria caminho-meta de House A teoria caminho-meta surgiu para reconciliar achados inconsistentes das investigações empíricas anteriores sobre os efeitos dos líderes orientados para a tarefa e para as pessoas sobre a satisfação e desempenho dos subordinados (Evans, 1996; House, 1996; Schriesheim & Neider, 1996). Representou, portanto, um olhar crítico sobre o modelo e os resultados da teoria de contingência de Fiedler. O desenvolvimento da teoria caminho-meta ocorreu a partir da teoria de motivação valência-expectativa de Vroom. De acordo com esta teoria, a motivação de um indivíduo para desenvolver um determinado comportamento é função de três fatores: a) expectativas crença que o ato terá consequências, b) instrumentalidade - as consequências do ato são instrumentais para atingir outros resultados, e c) valência - valor ou utilidade subjetiva de cada resultado para o agente (Evans, 1996; Jesuíno, 2005). O ponto central da teoria caminho-meta consiste em acreditar que: A maneira mais importante de influenciar os subordinados é a capacidade do líder em distribuir recompensas (goals) e em especificar os caminhos (paths) que eles devem percorrer para as poder receber. Nessa lógica, o líder eficaz é aquele que apoia os subordinados através de caminhos que conduzem a benefícios simultâneos para eles e para a organização. Evans (1970, citado por Barracho 2012, p. 96). A teoria caminho-meta preocupa-se com o relacionamento entre os estilos dos líderes (diretivo, apoiante, participativo ou orientado para resultados) e as características dos subordinados e das tarefas. Para o líder, o desafio é utilizar o estilo de liderança que melhor atende às necessidades motivacionais dos subordinados. Dessa forma, o subordinado será levado a esforçar-se mais se o comportamento de liderança viabilizar a satisfação das suas necessidades e se complementar o seu ambiente de trabalho propiciando aconselhamento, orientação, apoio e recompensas necessárias ao desempenho das suas atribuições (House, 1996; Northouse, 1997; Schriesheim & Neider, 1996). A teoria caminho-meta, ao apoiar-se na teoria da motivação baseada em um processo de trocas subjacente ao estabelecimento de expectativas e recompensas, estabelece um referencial que servirá de contraponto para a elaboração da teoria da liderança transformacional por James McGregor Burns em 1978 (Evans, 1996). 32 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica 3.5.3 Teoria Situacional de Hersey e Blanchard A teoria situacional de liderança (TSL) de Hersey e Blanchard, também designada como teoria do ciclo de vida da liderança, foi desenvolvido a partir da grelha gerencial de Blake Mouton, do modelo 3-D de Reddin e da teoria de Argyris, tornando-se um dos modelos de liderança mais aplicados para o treinamento de líderes (Barracho, 2012). Blanchard e Hersey (1996) entenderam que a designação de Teoria do Ciclo de Vida fazia sentido quando analisado analogamente em um contexto de desenvolvimento pessoal que os empregados possuem nas organizações, desde a sua admissão até atingir determinados graus de experiência nas funções. A TSL realça que a liderança é composta pelas dimensões diretiva (grau de orientação para as tarefas) e apoiadora (grau de orientação para os relacionamentos) e que cada uma delas tem de ser aplicada apropriadamente a cada situação, conforme o grau de maturidade dos subordinados. Para determinar esse grau de maturidade, o líder deve avaliar o quanto seus subordinados estão empenhados para realizar a tarefa e em que medida estão preparados (habilitados) para cumpri-la. O líder, portanto, vai ajustar o seu estilo de liderança à competência e ao empenhamento dos subordinados (Barracho, 2012; Jesuíno, 2005; Northouse, 1997). 3.6 Teorias da Nova Liderança35 Bryman (1992), após discorrer resumidamente sobre os estudos de liderança realizados ao longo do século XX, afirmou: no início dos anos 1980, havia um pessimismo sobre a teoria e a pesquisa sobre liderança. A enorme quantidade de resultados dos pesquisadores parecia ter criado pouco ao que se podia agarrar com alguma certeza. Cada nova esperança parecia colidir com uma parede de resultados inconsistentes, problemas metodológicos (...) havia considerável desilusão com a teoria e pesquisa sobre liderança (...) (Bryman, 1992, p. 20 e 21). Tais afirmações resumem como ocorreu o desenvolvimento dos estudos sobre liderança. As teorias, que buscaram associar a liderança à eficácia na gestão, sucederam-se procurando apresentar perspectivas novas para lacunas ou problemas teóricos e metodológicos não resolvidos nos estudos anteriores. 35 Nossa tradução de New Leadership 33 Liderança Ressalte-se contudo ser essa a essência da produção científica. O fato de os estudos não terem sido conclusivos demonstra que o fenômeno da liderança é extremamente complexo, porque estuda as relações entre seres humanos em contexto profissional. Neste sentido, é importante a opinião exposta por Conger (1999), ao afirmar que é típico das pesquisas nas ciências sociais que novas correntes teóricas e de pesquisa sejam iniciadas por poucos pesquisadores, e o êxito de tornar uma determinada teoria conhecida se dever à sua persistência e energia em estudar suas próprias teorias. Bryman (1992), no entanto, destaca que outras novas correntes surgiram nessa fase de desilusão com o corpo teórico em voga à época, as quais caracterizaram-se por compartilhar algumas características em comum, nomeadamente por incorporarem o carisma em suas formulações teóricas. Essas teorias, que Bryman (1992) denominou de Nova Liderança, e que House (1995) e Fiol et al. (1999) denominaram de paradigma neocarismático, compreendem a liderança transformacional, a liderança carismática e a liderança visionária. Yukl (2010) refere que os pesquisadores em Gestão voltaram seus interesses para os aspectos emocionais e simbólicos da liderança, fatores que poderiam explicar como os líderes podem influenciar os seus subordinados a realizarem sacrifícios pessoais e a colocar as necessidades das organizações acima dos seus próprios interesses. A pesquisa desses estilos de liderança envolveu acadêmicos como Jay Conger, Mike Arthur, Bruce Avolio, Jane Howell, Rabi Kanungo, Boas Shamir e Fran Yammarino, dentre outros, os quais compartilhavam a curiosidade sobre formas exemplares de liderança e sua influência sobre os seguidores e a adaptação das organizações, além de possuírem em comum uma insatisfação com os modelos anteriores, que pareciam muito restritos e simplistas na explicação do papel dos líderes como agentes de mudança (Conger, 1999). Esses estudiosos voltaram suas atenções para a liderança sob a perspectiva da mudança organizacional, na qual os líderes exerceriam um papel fundamental, motivados pelo fato de as corporações norte-americanas da década de 1980 terem tido sua hegemonia econômica ameaçada pelo surgimento de empresas de outros países, nomeadamente o Japão, os Tigres Asiáticos e a Alemanha. As reflexões sobre o impacto dessa concorrência na indústria norte-americana, e as formas de superar esse revés, refletiram-se nos estudos desenvolvidos nas escolas de negócios. Além disso, a redução do comércio internacional obrigou as companhias a realizarem profundas mudanças nos ambientes corporativos, antes marcados pela estabilidade conferida pelo crescimento industrial no pós-guerra, fato que representava uma espécie de reinvenção para as empresas (Conger, 1999). 34 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica Outro importante fator relacionado com o surgimento dessas teorias foi a necessidade de gerir o empenhamento dos funcionários em um ambiente de instabilidade no emprego causada por práticas tais como o downsizing. Esse tipo de medidas teve impacto negativo na satisfação dos funcionários, pois representaram a quebra de um antigo contrato psicológico em que se confiava no emprego de longo prazo em troca de lealdade. O desafio das empresas passou a ser a reconquista da competitividade com a implementação de mudanças, ao mesmo tempo em que buscava resgatar o moral dos empregados e, consequentemente, o seu empenhamento. Os líderes de topo das organizações passaram a ser o foco dos processos de liderança, por serem capazes de conduzir grandes mudanças nas organizações (Conger, 1999). As razões expostas por Bryman (1992) e Conger (1999) foram o pano de fundo para o surgimento das teorias que estudaram esses novos modelos de liderança, considerados “gêmeos” por Conger (1999) dadas as suas similaridades, mas que tiveram um desenvolvimento inicial mais favorável à teoria transformacional do que à carismática, motivo pelo qual a “liderança transformacional é usualmente definida de forma mais abrangente que a carismática, mas há considerável sobreposição entre os seus conceitos” (Yukl, 1989, p. 204). Portanto, os termos liderança transformacional e liderança carismática referem-se ao processo de influenciar maiores mudanças nas atitudes e crenças dos membros das organizações e de construir empenhamento em torno das missões e objetivos organizacionais (Yukl, 2010). Por razões de objetividade, no âmbito deste estudo serão abordados três estudos relacionados especificamente com a liderança transformacional, nomeadamente as teorias de Burns, de Bass, e os estudos de Podsakoff, MacKenzie, Moorman, e Fetter (1990). 3.6.1 Teoria da liderança transformacional de Burns Em 1978, o cientista político James MacGregor Burns publicou o livro “Leadership”, no qual formula os conceitos de liderança transformacional 36 em oposição aos comportamentos de liderança que ele caracterizou como liderança transacional37. Valendo-se das teorias da motivação de Maslow e do desenvolvimento moral de Kolberg, Burns (1978) formulou a teoria de liderança transformacional como resultante de um processo caracterizado pela capacidade do líder em elevar os valores morais dos 36 37 Nossa tradução de Transforming Leadership Nossa tradução de Transactional Leadership 35 Liderança subordinados e estimulá-los a atingirem níveis mais altos de necessidades, a ponto de eles poderem também tornar-se líderes. Constitui-se, portanto, em um processo de crescimento de líderes e subordinados. Por outro lado, Burns (1978) afirma que a liderança transacional compreende o processo de trocas entre líderes e subordinados, no qual estes são motivados com apelo a seus interesses particulares, mediante o oferecimento de recompensas materiais ou prestígio e reconhecimento (status), por procederem conforme as orientações daqueles. Neste estilo de liderança, a proposta não é a de elevar os padrões morais dos subordinados, nem o nível de suas satisfações, mas apenas de operar na satisfação dos níveis mais baixos. Utilizando exemplos de grandes líderes da história, tais como Gandhi, Churchill e Roosevelt, Burns (1978) identifica como essas pessoas conseguiram exercer influência e admiração sobre seus seguidores, sobretudo por leva-los a níveis de aspiração superiores. Personalidades da história que conseguiram grandes feitos, mas que não tiveram um comportamento moral, tornaram-se tiranos. Por isso, não podem ser considerados líderes. Nestes termos Burns (1978, p. 2) observa que “Hitler chamava-se a si mesmo – e foi chamado – de o líder; sua grotesca führerprinzip é solenemente examinada como doutrina de liderança. Mas Hitler, uma vez tendo obtido o poder e esmagado toda oposição, não era mais líder – ele era um tirano. Um líder e um tirano são polos opostos.” Um dos destaques da obra de Burns (1978) é a importância que atribui ao exercício da moralidade no processo de liderança, bem como à necessidade de os líderes estabelecerem com os subordinados objetivos compartilhados e moralmente sustentados. Os líderes distinguem-se por possuírem padrões morais elevados e devem buscar trazer seus subordinados para esses patamares. Neste sentido, Burns (1978) afirma que a liderança é um processo de moralidade ao qual os líderes se comprometem com seus seguidores tendo por base motivos, valores e objetivos compartilhados. No que toca ao carisma, Burns (1978) não considera ser esse um fator que por si só operacionalize a liderança. No seu entender, é uma característica que aqueles que detêm algum grau de poder devem possuir para exercer influências sobre os seguidores. E esses líderes que ao longo da história conseguiram esse feito são os “líderes heroicos”. Essa visão acaba afastando a sua teoria de liderança transformacional da classificação de neocarismática. Cumpre destacar que os estilos transformacional e transacional na visão de Burns (1978) são os extremos de um contínuo. Por representarem pressupostos distintos, cabem aos líderes procurarem ser mais transformacionais e menos transacionais para serem eficazes. 36 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica 3.6.2 Teoria da liderança transformacional de Bass Tomando Burns (1978) como seu ponto de partida, Bass (1985) formulou a sua teoria de liderança transformacional38 com o objetivo de fornecer um modelo de liderança que lidasse adequadamente com as mudanças nas organizações e nos subordinados. Na visão de Bass (1985), para além das mudanças típicas que se buscavam implementar nas organizações, como por exemplo trocar o desempenho em quantidade pelo de qualidade, um “salto quântico” em termos de melhorias pode ser alcançado caso as mudanças pretendidas ocorram no nível das atitudes, crenças, valores e necessidades dos subordinados – são as mudanças de alta ordem. Essas mudanças, segundo o autor, são capazes de acelerar o aumento dos esforços dos subordinados e da velocidade com que os grupos melhoram a qualidade dos trabalhos, além de fazerem com que esses seguidores evoluam seu grau de maturidade e os seus níveis de necessidades. Bass (1985) distingue, portanto, as mudanças de primeira ordem daquelas de alta ordem. As de primeira ordem são geridas por processos de trocas entre líderes e subordinados, mediante relacionamentos transacionais nos quais as necessidades materiais e psíquicas imediatas e momentâneas dos subordinados são satisfeitas caso as metas de desempenho estabelecidas sejam atingidas. São portanto atendidas pela liderança transacional. Baseando-se na teoria de valência-expectativa de Vroom, Bass (1985) descreve o líder transacional em suas relações com os subordinados de acordo com o seguinte: 1. Reconhece o que os subordinados procuram alcançar pelo seu trabalho e procura garantir que essa expectativa se realize caso o desempenho na tarefa esteja compatível com essa compensação. 2. Troca recompensas pelos esforços realizados. 3. É sensível aos seus interesses imediatos, caso eles possam ser satisfeitos em função da execução dos trabalhos. As mudanças de alta ordem, por outro lado, procuram transformações profundas nos valores e crenças dos subordinados, em um nível afetivo e transcendental acima dos seus interesses próprios imediatos, condição que não pode ser gerida no nível das trocas materiais. Busca-se, portanto, que os subordinados esforcem-se em prol da organização, colocando de lado os seus interesses individuais sob a influência do líder. O aumento da 38 Nossa tradução de Transformational Leadership 37 Liderança consciência de grupo pelos subordinados e a elevação de suas necessidades a níveis superiores pode produzir esforços extraordinários (Bass, 1985). Este é o cenário de atuação dos líderes transformacionais. Os líderes transformacionais atuam como modelo de comportamento para os seus subordinados e estabelecem padrões elevados de desempenho. Ao mesmo tempo, inspiram os seguidores a atingir esses padrões e os motivam a fazerem mais do que o estabelecido inicialmente em seus papéis nas organizações – o chamado esforço adicional (Bass, 1985). Bryman (1992) atribui a Bass (1985) e a Tichy e Devanna (1990) a mudança na designação em inglês de transforming para transformational. As diferenças entre as visões de Bass (1985) e Burns (1978), contudo, não param na nomenclatura. Inspirando-se em Burns (1978), Bass (1985) estabelece sua própria teoria diferenciando-se nos seguintes pontos: 1. as lideranças transformacional e transacional são duas dimensões distintas, mas complementares, de comportamento dos líderes. Portanto, um líder eficaz deve ser transformacional e transacional ao mesmo tempo. 2. Bass (1985) destaca os estilos de liderança transformacional e transacional de forma mais analítica que Burns. Na teoria de Bass, ambos os estilos são objetivamente medidos por questionários validados e com propriedades psicométricas atestadas. 3. Bass (1985) difere de Burns (1978) sobre a forma como considera a liderança transformacional. Em sua linha de raciocínio, figuras como Hitler, mesmo que não tenham tido um comportamento moral, possuem a capacidade de transformar as organizações, países, etc. Bass admitiu a existência de um lado negro do carisma, apesar de indesejável. Bass (1985) afastou-se da concepção de liderança transformacional feita por Burns (1978) ao reconhecer que os líderes transformacionais poderiam apresentar um lado negativo, mencionando que Hitler transformou a Alemanha, mesmo com o papel nefasto que representou para a humanidade. Por esse posicionamento inicial, o autor sofreu várias críticas dos teóricos da ética nos negócios (Bass & Steidlmeier, 1999). Face às críticas recebidas, Bass e Steidlmeier (1999) reformularam essa visão e afirmaram que, para ser verdadeiramente transformacional, a liderança deve basear-se em fundamentos morais. Os autores estabeleceram então distinções entre os líderes transformacionais autênticos e os pseudotransformacionais, que residiriam nos seguintes aspectos: 1. 38 O caráter moral dos líderes e suas preocupações por si e pelos outros; A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica 2. Os valores éticos contidos na visão dos líderes, a qual os subordinados aceitam ou rejeitam; e 3. A moralidade dos processos das escolhas e ações éticas, nas quais os líderes e seguidores se envolvem e perseguem coletivamente. Sendo assim, a liderança transacional refere-se ao relacionamento de trocas entre os líderes e os subordinados, na busca por satisfazer as necessidades individuais destes. A liderança transformacional, por sua vez, está relacionada com a capacidade de os líderes moverem os subordinados para além dos seus interesses individuais imediatos, elevando o seu nível de maturidade (Bass, 1999). Bass (1985) apresenta as lideranças transacional e transformacional decompostas em cinco fatores, os quais foram identificados nas análises fatoriais dos questionários respondidos por 176 oficiais superiores do Exército Americano, e que foram elaborados com base em um estudo piloto preliminar com 70 executivos do setor industrial. Os três fatores transformacionais inicialmente encontrados foram a liderança carismática (nela incluída a liderança inspiracional), consideração individual e a estimulação intelectual. Quanto aos fatores transacionais, os dois que ficaram evidentes no estudos foram a recompensa contingente e a gestão por exceção, que se subdivide nas formas ativa e passiva (Bass, 1985). O questionário para medição dos perfis de liderança transacional e transformacional evoluiu e foi refinado de forma a compor um espectro de liderança que indique para os líderes qual é o perfil de liderança mais eficaz. Este modelo é o que Avolio e Bass (1991) denominaram Full Range of Transactional and Transformational Leadership, que é operacionalizado pelo Multifactor Leadership Questionnaire (MLQ) (Bass, 1999). O aprimoramento do MLQ tem ocorrido ao longo dos anos de várias formas, incluindo o uso de análises fatoriais, observações, entrevistas e descrições pelos subordinados dos comportamentos de líderes considerados ideais. Atualmente encontra-se na versão MLQ – Form 5X. Nesta versão, são distinguidos quatro fatores da liderança transformacional (Antonakis, Avolio, & Sivasubramaniam, 2003; Bass, Avolio, Jung, & Berson, 2003), a saber: 1. Influência Idealizada (II) – Corresponde à admiração, respeito e confiança que os líderes conquistam dos seus subordinados, os quais se identificam com eles e querem imitá-los. Os líderes conseguem produzir essa empatia ao considerar as necessidades dos subordinados em primazia sobre as suas próprias, compartilhando riscos e sendo consistentes na conduta de respeito aos princípios e valores éticos. Antonakis, Avolio, e 39 Liderança Sivasubramaniam (2003) subdividem este fator em duas componentes: a) atribuída (relacionada com a percepção pelos subordinados dos atributos dos líderes); e b) comportamento (referentes às ações carismáticas dos líderes centradas nos valores, crenças e no sentido de missão). 2. Motivação Inspiracional (MI) – Os líderes comportam-se de modo a motivar aqueles à sua volta, proporcionando sentido e tornando desafiador o trabalho dos subordinados. O espírito de equipe é valorizado. Otimismo e entusiasmo são demonstrados. Os líderes encorajam seus subordinados a compartilhar uma visão de futuro das organizações das quais eles também fazem parte. 3. Estimulação Intelectual (EI) – Os líderes estimulam seus seguidores a esforçarem-se a serem inovadores e criativos, questionarem pressupostos já estabelecidos, repensarem problemas e abordarem situações antigas de novas maneiras. Os erros individuais dos subordinados não são ridicularizados ou expostos à crítica pública. Solicitam-se dos subordinados novas ideias e soluções criativas para os problemas organizacionais. 4. Consideração Individualizada (CI) – Os líderes prestam atenção às necessidades individuais de realização e crescimento dos subordinados, agindo como mentores intelectuais. Oportunidades de aprendizagem são criadas em um ambiente de apoio que possibilitam o crescimento individual. São reconhecidas diferenças individuais em termos de necessidades e desejos dos subordinados. Segundo Bass et al. (2003) e Antonakis et al. (2003), três fatores compõem a liderança transacional: 1. Recompensa Contingente – refere-se aos comportamentos que se destinam a fornecer recompensas materiais ou psicológicas ao subordinados por cumprirem as obrigações acordadas, e a proporcionar-lhes esclarecimento sobre as exigências da tarefa e seus papéis na organização. 2. Gestão por Exceção Ativa – relaciona-se com a vigilância ativa do líder para assegurar que os padrões comportamentais acordados sejam atingidos. O líder atua de maneira próativa diante da possibilidade de que algo saia errado. Neste tipo de comportamento, o líder também pode recorrer ao uso de punições para corrigir os comportamentos desviantes. Este fator sugere um acompanhamento rigoroso dos subordinados à busca de erros. 3. Gestão por Exceção Passiva – fator que reflete o comportamento de não intervenção do líder diante de situações que possam vir a dar errado. O comportamento do líder é reativo e procura a correção dos erros ocorridos. 40 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica Bass et al. (2003) e Antonakis et al. (2003) referenciam ainda um tipo de comportamento também medido pelo MLQ e que compõem a denominada liderança LaissezFaire. O líder evita tomar decisões, abdica da responsabilidade e não usa a sua autoridade. É considerada a forma mais passiva e ineficaz de liderança, sendo também referenciada como ausência de liderança. A Figura 3 ilustra os fatores que compõem os três estilos de liderança que são abrangidos pelo modelo de Avolio e Bass (1991). O eixo horizontal indica as orientações de atividade ou passividade do líder. O eixo vertical mostra a orientação para a eficácia ou ineficácia dos comportamentos de liderança. O eixo diagonal indica a frequência com que os comportamentos são realizados. Em suma, a eficácia é obtida pelos líderes que desempenham com maior frequência comportamentos transformacionais. Por outro lado, frequências elevadas de comportamentos transacionais representam uma liderança ativa, mas pouco eficaz. Comportamentos passivos levam à ineficácia do líder. Figura 3. Modelo Full Range Leadership Fonte: Disponível em http://medepi.com/2013/07/02/authentic-transformational-leadersh O paradigma da liderança transformacional representa um contraponto às práticas de liderança tradicionais, estudadas pelas teorias anteriores e cujos métodos passam a ser enquadrados na liderança transacional. Bass (1985) não cria uma dicotomia entre os estilos, mas propõe uma complementaridade na busca pela eficácia organizacional por via das grandes mudanças que são necessárias nas organizações e que precisam ser dirigidas pelos líderes organizacionais. 41 Liderança Bass (1985) argumenta que o comportamento transformacional tem um efeito amplificador sobre o comportamento transacional, levando os desempenhos dos subordinados além das expectativas. De acordo com Bass e Steidlmeier (1999, p. 191), “a melhor liderança é ao mesmo tempo transformacional e transacional. A liderança transformacional aumenta a eficácia da liderança transacional; ela não substitui a liderança transacional.” Portanto, pode-se afirmar que os pontos principais das teorias da nova liderança, e que as distinguem das anteriores, é a inclusão dos componentes emocionais carisma e moral, que constituem a base do comportamento dos líderes e que lhes dão a legitimidade para estabelecerem a influência idealizada e a inspiração motivacional mencionadas na teoria de Bass (1985). 3.6.3 Estudos empíricos de Podsakoff, MacKenzie, Moorman, e Fetter (1990) O advento do MLQ propiciou um incontável número de estudos empíricos que buscaram comprovar suas características psicométricas, levando a várias críticas que possibilitaram o aprimoramento do modelo e da teoria. Contudo, outros questionários surgiram apresentando novas possibilidades de abordagem das teorias da nova liderança (Yukl, 2010). Dentre esses estudos, destaca-se o de Podsakoff et al. (1990), que também procurou abordar a liderança transformacional sob uma abordagem quantitativa. Esse estudo chegou à conclusão que a liderança transformacional era composta por seis fatores: a) prover um modelo apropriado; b) articular uma visão; c) proporcionar estimulação intelectual; d) prover suporte individualizado; e) estimular a aceitação de metas do grupo; e f) promover expectativas de alta performance. O instrumento que possibilitou a operacionalização desse modelo foi o Leadership Transformational Index (TLI). Bryman (1992) ressalta que os três primeiros fatores mostraram-se altamente inter-relacionados nos estudos empíricos e foram considerados como a dimensão central da liderança transformacional. Fonseca e Porto (2013) destaca que os quatro primeiros fatores acima mencionados no modelo de Podsakoff et al. (1990) possuem correspondência direta com os fatores transformacionais da teoria de Bass (1985). No tocante à abordagem dos comportamentos posteriormente classificados por Bass (1985) como transacionais, Podsakoff, Todor, e Skov (1982) e Podsakoff, Todor, Grover, e Huber (1984) elaboraram o Leadership Reward and Punishment Questionnaire (LRPQ). Nesse questionário busca-se medir os comportamentos de recompensa e de punição contingentes exercidos pelos líderes sobre os subordinados. 42 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica Os comportamentos de recompensa contingente do LRPQ possuem correspondência com os reportados no fator de mesmo nome constante no MLQ. Mesma correspondência se verifica entre os comportamentos de punição contingente do LRPQ e os contemplados no fator gestão por exceção ativa do MLQ (Fonseca & Porto, 2013). A Tabela 1 apresenta as correspondências dos fatores desses importantes estudos. Tabela 1 Correspondência de fatores entre as escalas MLQ, TLI e LRPQ Bass (1985) - MLQ Podsakoff e colaboradores – TLI e LRPQ Motivação inspiracional Articular visão (TLI) Influência idealizada Prover modelo (TLI) Estimulação intelectual Estimulação intelectual (TLI) Consideração individualizada Suporte individualizado (TLI) Recompensa contingente Recompensa Contingente (LRPQ) Gestão por exceção ativa Punição contingente (LRPQ) Gestão por exceção passiva - Laissez-faire - - Expectativa de alta performance (TLI) - Aceitação de metas do grupo (TLI) Fonseca e Porto (2013) também destacam que o fator recompensa contingente, embora concebido originalmente como transacional nas duas escalas (MLQ e LRPQ), apresenta-se frequentemente associado a fatores transformacionais nos estudos empíricos. Tal fato ocorre porque as recompensas materiais dadas aos subordinados são interpretadas como comportamentos transacionais, enquanto que as recompensas psicológicas são interpretadas como gestos de consideração com os seguidores, portanto interpretados como transformacionais. 3.7 Estilos de liderança relacionados com práticas de RS e sustentabilidade A liderança nas organizações deve estar sustentada por valores éticos, os quais vão influenciar os resultados de suas ações (Burnes & By, 2011). A relevância da liderança sob uma perspectiva ética gerou um redirecionamento dos estudos sobre a ética nos negócios para a ética na liderança, o que levou os pesquisadores a desenvolverem estudos empíricos que relacionassem a liderança à responsabilidade social. 43 Liderança O estudo de Angus-Leppan, Metcalf, e Benn (2009) demonstra que, além da liderança transformacional, os seguintes estilos de liderança apresentam-se relacionados com práticas de RS: 1. liderança autocrática – forma específica do gênero transacional, é talvez o primeiro estilo de liderança a estar ligado à responsabilidade social, cuja associação se faz por intermédio de uma visão hobbesiana, a qual sustenta que líderes controladores podem eficazmente resolver dilemas sociais. Angus-Leppan et al (2009) reconhecem, entretanto, que o perfil autocrático é a escolha menos indicada dentre as disponíveis para aumentar o desempenho organizacional, além de afetar o desenvolvimento de uma cultura positiva de RS. Este estilo de liderança foi estudado na segunda metade do século passado, mas amplamente ignorado na última década do século XXI. 2. liderança autêntica – é o estilo no qual os líderes possuem uma perspectiva moral positiva, são verdadeiros consigo mesmos, motivados por convicções pessoais e conduzem seus subordinados com base nos seus valores pessoais (Avolio & Gardner, 2005). Este perfil de liderança está associado a pessoas confiáveis e íntegras, sendo distinto da liderança transformacional autêntica proposta por Bass e Steidlmeier (1999). 3. liderança ética - estilo de liderança no qual os líderes são vistos como pessoas confiáveis, honestas, justas, que tomam decisões baseadas em valores, que se preocupam com as pessoas e com a sociedade em geral, e que possuem um comportamento ético tanto no plano pessoal como no profissional (Brown & Treviño, 2006). Robertson e Barling (2013) afirmam que o estilo de liderança transformacional está relacionado com práticas de sustentabilidade, pois tais líderes, caso cultivem valores relacionados com o meio ambiente e desenvolvam iniciativas nesse sentido, podem influenciar os comportamentos e paixões dos colaboradores para o tema. (Groves & LaRocca, 2011a) defendem que líderes transformacionais têm forte influência positiva sobre as crenças dos seus seguidores na visão dos stakeholders, o que pode acarretar um maior empenhamento nas práticas de sustentabilidade. Rego, Cunha, e Ribeiro (2013) realizaram importante estudo qualitativo no qual analisaram a adoção dos princípios e práticas de sustentabilidade pelas grandes empresas portuguesas, tendo identificado que o perfil do líder comprometido com as práticas sustentáveis (o líder sustentável) integra diversas dimensões presentes nos estudos sobre liderança transformacional. 44 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica Hay (2010), ao analisar a importância do relacionamento entre a identidade dos indivíduos e a opção pela sustentabilidade, situa a liderança transformacional, a filosofia ecocêntrica e o desenvolvimento pessoal orientado para o serviço como os três fatores que que orientam a formação da identidade valorizadora dos princípios do desenvolvimento sustentável. É importante realçar que as evidências empíricas apontam para a inexistência de um estilo ideal para a implementação da sustentabilidade. As discordâncias na literatura acerca do melhor perfil decorrem da complexidade do conceito de sustentabilidade. A chave para a sustentabilidade está nas competências extraordinárias dos líderes (Metcalf & Benn, 2012). Contudo, é inegável a presença marcante que a liderança transformacional possui na literatura sobre RS e sustentabilidade. Os tipos de liderança relacionados com a sustentabilidade podem variar em função da natureza e da dimensão da organização (van Marrewijk, 2003), mas os aspectos intrínsecos que as caracterizarão serão essencialmente os valores éticos construídos (Dion, 2012), o conhecimento e a importância que dão à causa ambiental e o reconhecimento de que as ações a serem tomadas são necessárias para o sucesso organizacional sustentável. A orientação para a sustentabilidade, portanto, está relacionada com líderes que possuem visão de longo prazo e que estão mais comprometidos com o bem-estar da sociedade e com a preservação do meio ambiente (Eisenbeiss, 2012). O compromisso com o bem-estar da sociedade pode ser justificado à luz das teorias que integram a ética normativa (deontologia, utilitarismo e ética das virtudes). O estudo da ética aplicada às decisões gerenciais é um dos objetivos das teorias sobre a tomada de decisão ética. 45 Liderança 46 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica CAPÍTULO 4 - TOMADA DE DECISÃO ÉTICA39 Uma das funções típicas do processo de liderança é a tomada de decisão, cujos efeitos sempre extrapolam a pessoa do líder que as toma, repercutindo-se sobre as estruturas da organização e sobre as pessoas. Por isso, a ênfase dada à moral nos estudos sobre liderança transformacional é significativa, pois a ética está no centro das discussões sobre a moralidade da liderança (Ciulla, 1995). O processo de tomada de decisão ética compreende o julgamento moral, que corresponde às diferenças na forma como os indivíduos pensam a respeito do que é certo em determinada situação (Brown & Treviño, 2006). Entender como ocorre o julgamento moral permite entender por que as pessoas fazem escolhas, como elas raciocinam sobre as decisões éticas e quais são os fatores internos e externos identificáveis que influenciam a tomada de decisão ética (Elm & Radin, 2012). O campo de estudo sobre a tomada de decisão ética é muito vasto, contendo milhares de artigos publicados em periódicos de diversas áreas, tais como psicologia, sociologia, filosofia, economia e gestão. Elm e Radin (2012), na revisão que fazem do assunto, destacam que a tomada de decisão ética compreende várias correntes de estudo, dentre as quais destacam-se moral reasoning, social intuitionist moral reasoning, moral intensity, physiological models e ethical decision frameworks. O objetivo deste capítulo, portanto, é destacar as teorias sobre o julgamento moral40 e os modelos de tomada de decisão ética 41 , pela importância que representam para esta pesquisa ao evidenciarem a influência dos valores morais dos líderes sobre suas decisões de gestão. 4.1 Julgamento moral Os estudos sobre a tomada de decisão e o comportamento ético dos líderes iniciaramse com pesquisadores que voltaram suas atenções para a teoria da psicologia moral, na busca por constructos e medidas que pudessem ser aplicados no âmbito da ética nos negócios (Treviño, 1992). Essas pesquisas procuraram especificamente esclarecer como se processa psicologicamente a produção do comportamento moral dos indivíduos. 39 Nossa tradução de Ethical Decision Making Nossa tradução de Moral Reasoning 41 Nossa tradução de Ethical Decision Frameworks 40 47 Tomada de decisão ética Rest (1986) propôs que, ao se comportarem moralmente em uma determinada situação, as pessoas realizam pelo menos quatro processos psicológicos básicos: 1. Interpretam a situação em termos de ações possíveis e os efeitos dessas ações sobre as pessoas e sobre si; 2. Julgam qual curso de ação é moralmente correto; 3. Dão prioridade ao que é moralmente correto sobre outras considerações; e 4. Demonstram força e habilidade para persistir no comportamento moralmente intencionado. A área do conhecimento que estuda como esses mecanismos ocorrem no nível cognitivo é o julgamento moral, que é o processo que determina como uma pessoa raciocina sobre situações éticas (Elm & Radin, 2012). Os estudos sobre o assunto procuram estabelecer e explicar as relações entre os julgamentos e as ações morais dos indivíduos nas organizações, sejam eles líderes ou subordinados. As pesquisas mais importantes nesta área estudam o nível de maturidade moral dos indivíduos perante situações éticas. O trabalho pioneiro na área foi realizado pelo psicólogo Jean Piaget, que em 1932 publicou um estudo seminal sobre o desenvolvimento moral nas crianças, o qual influenciou marcantemente os estudos posteriores de Lawrence Kohlberg (Haidt, 2001). Os principais estudos referenciados na literatura são os de Kohlberg (1969), Rest (1979), Gilligan (1982) e Treviño (1986). 1. Kohlberg (1969) desenvolveu a teoria do julgamento moral cognitivo, a qual tem sido amplamente utilizada no estudo da tomada de decisão ética, além de ter servido como referencial teórico para Burns (1978) desenvolver o conceito de maturidade dos subordinados. O modelo de Kohlberg sugere que os indivíduos atravessam três estágios de desenvolvimento moral (pré-convencional, convencional e pós-convencional), cada qual subdividido em dois, e que correspondem à forma como eles raciocinam sobre os problemas morais, usando uma estrutura cognitiva que se desenvolve à medida que o indivíduo amadurece. Ele baseia-se na teoria da justiça de Rawls para a fundamentação normativo-filosófica dos estágios mais elevados de sua estrutura (Elm & Radin, 2012; Linda Klebe Treviño, 1992). 2. Rest (1979) deu continuidade ao trabalho de Kohlberg e é considerado um dos acadêmicos mais proeminentes associados ao estudo do julgamento moral. Assim como Kohlberg (1969), Rest (1979) também utilizou os princípios de justiça de Rawls como base para a fundamentação normativa do seu modelo, no qual desenvolveu de forma 48 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica diferente a progressão dos estágios do desenvolvimento moral cognitivo dos indivíduos. Como resultado, desenvolveu o Defining Issues Test (DIT), instrumento amplamente utilizado para medir a capacidade dos indivíduos de fazerem julgamentos morais (Elm & Radin, 2012). 3. Gilligan (1982) proporcionou uma importante evolução no estudo deste tema, em função das críticas que fez ao modelo de Kohlberg. Esta autora criticou o instrumento de medida utilizado por Kohlberg para medir a maturidade dos indivíduos, por ter utilizado amostras exclusivamente masculinas em sua elaboração. Esse critério levou à avaliação das mulheres como moralmente inferiores. Gilligan (1982) demonstrou que as mulheres pensam de forma diferente ao tomarem decisões éticas, evidenciando a existência de uma ética do cuidar que contextualiza a moralidade nos relacionamentos, em alternativa à hierarquizada ética da justiça de Rawls (Elm & Radin, 2012). 4. Treviño (1986) contribuiu para levar o estudo do julgamento moral para o ambiente de negócios, ao propor um modelo interacionista e situacional que sugere que a tomada de decisão ética é função do nível de raciocínio moral do indivíduo moderado pelo contexto do trabalho desempenhado e pelo seu locus de controle (Elm & Radin, 2012). 4.2 Modelos teóricos da decisão ética42 Essa corrente de pesquisa representa uma linha de investigação que não utiliza apenas o desenvolvimento moral cognitivo, mas também considera critérios normativos específicos que as pessoas usam para fazer julgamentos morais (Treviño, Weaver, & Reynolds, 2006). Casali (2011) afirma que já foi empírica e teoricamente testado que as filosofias morais e ideologias possuem influência no processo de tomada de decisão ética dos indivíduos. Forsyth (1992, p. 461) afirma que “os julgamentos morais dos indivíduos em certas práticas de negócios, bem como suas decisões em envolverem-se nessas práticas, são influenciados pelas suas filosofias morais pessoais”. Os estudos desenvolvidos nessa corrente dividem-se em duas principais orientações: a) uma que identifica que a tomada de decisão não se baseia em critérios puramente econômicos, mas também em compromissos emocionais e em ideais morais; e b) outra que procura avaliar o papel de teorias filosóficas morais, tais como o relativismo e o utilitarismo, como estruturas de orientação individual para os comportamentos e decisões éticas (Treviño et al., 2006). 42 Nossa tradução de Ethical Decision Frameworks 49 Tomada de decisão ética No âmbito dessa corrente de pesquisa, destacam-se os estudos de Forsyth (1980), que culminaram com a elaboração do Ethics Position Questionnaire (EPQ). Forsyth (1980) argumenta que os julgamentos morais dos indivíduos são definidos por preferências entre o relativismo e o idealismo. O relativismo refere-se à importância que os princípios éticos gerais (universais) têm no julgamento moral das pessoas. O idealismo está relacionado com o impacto das ações individuais sobre o bem-estar das outras pessoas (Forsyth, 1992; Treviño et al., 2006). O estudo de Casali (2011) é fundamental para as pretensões deste trabalho. Ele propõe a escala Managerial Ethical Profile (MEP), a qual evidencia a influência das quatro principais teorias de moral filosófica (egoísmo ético, utilitarismo, deontologia e ética das virtudes) sobre a tomada de decisão gerencial, as quais se subdividem em subescalas do instrumento: a) egoísmo econômico43; b) egoísmo de reputação44; c) utilitarismo de atos45; d) utilitarismo de regras46; e) virtude de si47; f) virtude dos outros48; g) deontologia de atos49, e h) deontologia de regras50. No estudo de Casali (2011), as escolas de moral filosófica são consideradas multidimensionais e não estão hierarquizadas. Portanto, os indivíduos podem apresentar influências de diferentes correntes filosóficas, que neste contexto não se antagonizam, mas se complementam. Casali (2011) assume o pressuposto de que na prática da liderança, quem toma a decisão apresenta uma inclinação, ou preferência, por determinada corrente filosófica de acordo com a situação em concreto. Conforme o contexto, justifica-se adotar posições de egoísmo econômico ou reputacional para proteger os interesses da organização. Em questões disciplinares, é possível que, conforme a gravidade da falta, adote-se uma visão mais deontológica para avaliar a falta cometida e decidir pela punição do subordinado. A Figura 4 ilustra como as correntes de filosofia moral podem ser encaradas do ponto de vista da estratégia da organização. O egoísmo ético aparece representado com uma 43 Nossa tradução de Economic egoism Nossa tradução de Reputational egoism 45 Nossa tradução de Act utilitarianism 46 Nossa tradução de Rule utilitarianism 47 Nossa tradução de Virtue of self 48 Nossa tradução de Virtue of others 49 Nossa tradução de Act deontology 50 Nossa tradução de Rule deontology 44 50 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica orientação mais voltada para os shareholders51, enquanto que a deontologia, a ética das virtudes e o utilitarismo estão mais ligados a uma orientação para os stakeholders. Ressalte-se que a literatura que explora as relações entre as teorias éticas e os estilos de liderança indicam que o perfil transformacional está relacionado com a deontologia, enquanto que o perfil transacional relaciona-se com o utilitarismo (Groves & LaRocca, 2011). Figura 4. Teorias éticas na estratégia das organizações Fonte: Singer (2009) As práticas sustentáveis nas organizações materializam decisões tomadas pelos líderes que podem ser analisadas sob uma perspectiva ética. A análise interrelacionada dos conceitos de sustentabilidade, liderança e tomada de decisão ética permite afirmar que a opção pela sustentabilidade pode ser considerada como um comportamento ético dos líderes organizacionais. Tal pressuposto, construído ao longo dos capítulos anteriores, serviu de base para o presente estudo e norteou a realização da parte empírica da pesquisa. 51 Acionistas 51 Tomada de decisão ética 52 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica CAPÍTULO 5 - METODOLOGIA Barañano (2008) afirma que a geração do conhecimento exige a utilização do método científico. Portanto, neste capítulo, primeiro da parte empírica, é feita a apresentação dos aspectos metodológicos seguidos, tais como a caracterização da pesquisa, definição da estratégia e do método, apresentação das variáveis e hipóteses, definição do universo e amostra e apresentação do modelo teórico. São detalhados também a descrição do estudo empírico e o instrumento de recolha de dados utilizados. 5.1 Caracterização da pesquisa As características do presente estudo, conforme a tipologia proposta por Gil (2002), correspondem aos tipos exploratório e descritivo. A identificação do atual estágio de implementação de práticas de sustentabilidade no COMAER possuiu um caráter exploratório, tendo em vista a escassez de informações disponíveis sobre o assunto. O estudo da influência da liderança, por seu turno, apresentou finalidade descritiva, pois procurou evidenciar as interações entre as variáveis do fenômeno. De acordo com classificação proposta por Ander-Egg (citado por Marconi & Lakatos, 1996), a presente pesquisa também pode ser reconhecida como do tipo aplicada, pois dos seus resultados podem sair contributos para a gestão sustentável das organizações militares. 5.2 Desenho da pesquisa O desenho da pesquisa diz respeito à forma como os dados foram coletados e analisados. De acordo com esse critério, as pesquisas podem ser estudos de casos, experimentais, longitudinais, comparativas e setoriais cruzadas (Bryman & Bell, 2007). O presente estudo é do tipo setorial cruzado, pois compreendeu a coleta de dados de múltiplos casos (sujeitos), em um determinado momento, para obtenção de um conjunto de dados quantitativos ou quantificáveis em conexão com diversas variáveis, as quais foram examinadas para a detecção de padrões de associações (Bryman & Bell, 2007). 5.3 Paradigmas epistemológicos da pesquisa A complexidade dos fenômenos investigados, em termos de conceitos teóricos e quantidade de variáveis examinadas, exigiu a utilização de uma estratégia de pesquisa quantitativa. 53 Metodologia As investigações sobre o fenômeno da liderança e do julgamento moral possuem longa tradição sob a perspectiva epistemológica positivista (Stentz, Plano Clark, & Matkin, 2012), tendo a produção do conhecimento nessas áreas sido desenvolvida ao longo de décadas com recurso intensivo a dados quantitativos. A teoria sobre esses assuntos está bastante consolidada em diversas áreas do saber, fato que permitiu a geração de hipóteses para identificação das associações entre as variáveis deste estudo. 5.4 Definição do método Barañano (2008, p. 22) afirma que o método científico “é um instrumento para a sondagem da realidade, formado por um conjunto de procedimentos, através dos quais os problemas científicos são formulados e as hipóteses científicas examinadas.” Por sua vez, Carvalho (2009) conceitua método científico de forma mais genérica, ao afirmar que é um modo de descrever a realidade que se confina nos limites da observação. Ao identificar maneiras distintas de caracterização do método científico, Marconi e Lakatos (2003) ponderam que existe uma distinção entre método de abordagem e métodos de procedimentos, por representarem níveis distintos no que diz respeito à inspiração filosófica, grau de abstração, finalidade, ação nas etapas concretas da investigação e momento em que se situam. O método de abordagem é de caráter mais amplo, abstrato, e relaciona-se com a análise dos fenômenos e a construção do conhecimento científico, podendo ser indutivo, dedutivo, hipotético-dedutivo e dialético. Por seu turno, os métodos de procedimento constituem a etapa mais concreta da investigação, destacando-se no âmbito das ciências sociais o histórico, comparativo, funcionalista, estruturalista e o estatístico (Marconi & Lakatos, 2003). 5.4.1 Método de abordagem A abordagem do fenômeno objeto do presente estudo observou as etapas prescritas no método hipotético-dedutivo de Bunge (Marconi e Lakatos, 2003), os quais consistem na: 1. Colocação do problema; 2. Construção de um modelo teórico; 3. Dedução de consequências particulares; 4. Teste das hipóteses; e 5. Formulação de conclusões. 54 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica O método hipotético-dedutivo inicia-se na percepção de uma lacuna no conhecimento, que neste caso específico é evidenciado pela ausência de pesquisas que relacionem os estilos de liderança transacional e transformacional às práticas sustentáveis no Comando da Aeronáutica do Brasil. A partir dessa lacuna, e com base na literatura, foram formuladas as hipóteses do estudo. Testadas as hipóteses, pode-se chegar às conclusões acerca do fenômeno. 5.4.2 Métodos de procedimentos Os métodos de procedimentos utilizados nesta pesquisa, em consonância às lições de Marconi e Lakatos (2003) e Carvalho (2009), foram os métodos monográfico e estatístico. O método monográfico “consiste no estudo de indivíduos, profissões (...) com a finalidade de obter generalizações. A investigação deve examinar o tema escolhido, observando todos os fatores que o influenciaram e analisando-o em todos os seus aspectos.” (Marconi & Lakatos, 2003, p. 108). Neste estudo, buscou-se examinar o fenômeno da liderança transformacional ligada às práticas de sustentabilidade da forma mais ampla possível, respeitadas as limitações inerentes à uma pesquisa de mestrado. No que tange ao método estatístico, “significa redução de fenômenos sociológicos (...) a termos quantitativos e a manipulação estatística, que permite comprovar as relações dos fenômenos entre si, e obter generalizações sobre sua natureza, ocorrência ou significado.” (Marconi & Lakatos, 2003, p. 108). O método estatístico ofereceu o suporte para a realização dos testes das hipóteses e a generalização das conclusões com fundamento na inferência estatística, respeitados os níveis de significância estabelecidos. 5.5 Hipóteses do estudo Hipótese é uma proposição feita na tentativa de verificar a validade da resposta existente para um problema científico. Sua função é propor explicações e orientar a busca de outras informações sobre o problema formulado (Marconi & Lakatos, 2003). De forma genérica, a formulação de um problema científico reflete uma dificuldade teórica no conhecimento de um fenômeno importante, para a qual se busca uma solução. A sua concepção envolve o relacionamento de vários fatores (variáveis independentes) com o fenômeno em estudo (Marconi & Lakatos, 2003). A hipótese, portanto, é um enunciado conjectural das relações entre duas ou mais variáveis (Carvalho, 2009). 55 Metodologia A discussão sobre as hipóteses de pesquisa, portanto, remete necessariamente à formulação do problema científico já referido no capítulo introdutório deste trabalho, conforme orienta Barañano (2008), ou seja: A existência de práticas sustentáveis nas organizações do Comando da Aeronáutica Brasileira está relacionada com os estilos de liderança transformacional e transacional, com a sensibilidade dos líderes em relação à Sustentabilidade e com os seus valores morais? A formulação da hipótese geral deve estar consubstanciada nas teorias existentes sobre os temas relacionados com o fenômeno. Desta forma, retomar-se-ão resumidamente os principais pontos da teoria que deram sustentação à sua formulação. 1. As associações entre os estilos de liderança e as práticas de RS, e de forma mais específica com a sustentabilidade, têm sido amplamente estudadas na literatura científica (Angus-Leppan et al., 2009; Groves & LaRocca, 2011a, 2011b; Hay, 2010; Rego et al., 2013; Robertson & Barling, 2013). 2. Ashkanasy et al. (2006) afirmam que as decisões éticas estão associadas a um alto desenvolvimento moral cognitivo. Estudos empíricos têm também demonstrado que os líderes transformacionais estão associados a maiores níveis de desenvolvimento moral (Bass & Steidlmeier, 1999; Turner et al., 2002) e comportamento ético (Brown & Treviño, 2006), fatos que justificam o relacionamento entre esse estilo de liderança e a sustentabilidade, sendo esta uma expressão do comportamento ético dos líderes (Fischer, 2004). 3. Eisenbeiss (2012) propôs um modelo no qual a orientação para a sustentabilidade é uma das preocupações centrais do comportamento de liderança, tendo como antecedentes o desenvolvimento moral cognitivo e a identidade moral dos líderes. 4. De acordo com as teorias sobre a tomada de decisão ética, os líderes, ao decidirem, exteriorizam comportamentos que são influenciados pelos seus valores morais e preferências pessoais (Elm & Radin, 2012; Forsyth, 1992; Treviño et al., 2006). Se as práticas de RS refletem comportamentos éticos dos líderes (Fischer, 2004), é possível supor que a orientação para a sustentabilidade dos líderes transformacionais seja influenciada pelo seu desenvolvimento moral e ético. 5. O nível de conhecimento sobre os conceitos de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável, assim como a importância que esses líderes dão ao tema, são variáveis importantes no estudo e constituem conjuntamente o que se denominou de “nível de sensibilidade dos líderes”. Tais variáveis também estão ligadas aos valores pessoais dos líderes organizacionais. Neste sentido, é possível inferir que esses valores orientem as decisões em prol de práticas sustentáveis, porque os valores dos indivíduos guiam as suas 56 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica atitudes, comportamentos e decisões (Ng & Sears, 2011). Desta forma, é provável que o grau de sensibilidade dos líderes face à sustentabilidade esteja relacionado com a implementação de práticas sustentáveis em suas organizações. Portanto, tendo em vista os pontos da literatura científica que possibilitam a abordagem do problema formulado, propôs-se a seguinte hipótese geral: H: A existência de práticas sustentáveis nas organizações do COMAER está relacionada com os estilos de liderança transacional e transformacional, com o nível de sensibilidade dos líderes para a sustentabilidade e com seus valores morais. A discussão da hipótese geral é viabilizada com o seu desmembramento nas hipóteses operacionais a seguir mencionadas: H1: A existência de práticas sustentáveis nas organizações do COMAER é influenciada pelo estilo de liderança transformacional. H2: A existência de práticas sustentáveis nas organizações do COMAER é influenciada pelo estilo de liderança transacional. H3: A existência de práticas sustentáveis nas Organizações do COMAER é influenciada pelo nível de sensibilidade para a sustentabilidade dos líderes. H4: A existência de práticas sustentáveis é influenciada pelo perfil ético dos líderes organizacionais. H5: Os estilos de liderança são influenciados pelas teorias éticas de filosofia moral. H6: Os estilos de liderança são influenciados pelo nível de sensibilidade para a sustentabilidade. Portanto, busca-se identificar se os estilos de liderança, os perfis éticos e o nível de sensibilidade possuem efeitos diretos ou indiretos sobre as práticas de sustentabilidade. Ressalte-se, contudo, que a investigação da influência entre as variáveis não pretendeu estabelecer relações de causa e efeito, pois não é possível afirmá-las no âmbito deste estudo em função de duas principais razões metodológicas. Em primeiro, os estudos setoriais cruzados não são indicados para que sejam estudadas relações de causa e efeito, pois, em razão de as variáveis serem coletadas simultaneamente, não há uma ordenação temporal entre elas que permita concluir que fenômenos ocorrem primeiro. Em segundo, porque a pesquisa é do tipo descritiva, portanto limitada à descoberta de associações entre variáveis. Para que se investigassem relações de 57 Metodologia causa e efeito, a pesquisa deveria ser explicativa, com um desenho experimental (Bryman & Bell, 2007; Carvalho, 2009). 5.6 Modelo teórico simplificado e identificação das variáveis Como hipóteses são enunciados sobre as relações entre as variáveis, das hipóteses formuladas retiram-se as variáveis do estudo a seguir mencionadas. 1. Variável independente X1 – estilo de liderança transformacional 2. Variável independente X2 – estilo de liderança transacional 3. Variável independente X3 – nível de sensibilidade para a sustentabilidade 4. Variável independente X4 – perfil ético dos líderes 5. Variável dependente Y – práticas de sustentabilidade no COMAER O modelo teórico simplificado que ilustra as proposições feitas é apresentado na Figura 5. As variáveis independentes X1, X2, X3 e X4 são variáveis latentes, pois não são medidas diretamente pelos itens do questionário, mas pelas análises fatoriais das respectivas escalas. A variável X4 representa não apenas uma, mas de quatro a oito teorias de filosofia moral mencionadas no estudo de Casali (2011). A variável Y é uma variável observada, resultante do cômputo da quantidade de práticas de sustentabilidade identificadas nas organizações do COMAER. Teorias Éticas H4 H5 Liderança H1 Transformacional Práticas de Sustentabilidade H2 Liderança H3 Transacional H6 Nível de Sensibilidade Figura 5. Modelo teórico simplificado e representação das hipóteses Fonte: Criado pelo autor 58 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica 5.7 Universo Universo é o conjunto de casos sobre os quais se pretende retirar conclusões, podendo ser subdividido em universo alvo e universo inquirido. O universo alvo é o conjunto total de todos os casos existentes. O universo inquirido é o conjunto de casos que, na prática, estão disponíveis para amostragem (Hill & Hill, 2008). A presente pesquisa utilizou como universo alvo os oficiais do Comando da Aeronáutica no serviço ativo e em desempenho de cargos de comando, chefia, direção, gestão e assessoria. Tal universo abrange todos os 10.487 oficiais que estavam em serviço ativo à época em que os dados foram coletados. Os cargos privativos de Comando, Chefia ou Direção (oficiais nos postos de Major a Coronel), à época em que o levantamento de dados foi realizado, estavam previstos na Portaria nº 57/GC3, de 13 de Fevereiro de 2012, a qual contemplava 162 oficiais superiores designados. Os cargos de chefia equivalente a comando (comandantes de destacamentos de controle do espaço aéreo, por exemplo), ocupados por oficiais intermediários e subalternos (capitães e tenentes, respectivamente), totalizavam 84 casos. No âmbito das organizações, os principais cargos ocupados pelos oficiais em posição de assessoria e gestão estão definidos no Regulamento de Administração da Aeronáutica (RADA). Além do titular da organização, os cargos previstos no RADA que compõem a parte nuclear da administração das organizações do Comando da Aeronáutica são agente de controle interno (assessoria), gestor de finanças, gestor de licitações, gestor de subsistência, gestor de material de intendência e gestor de registros patrimoniais. O levantamento das organizações do COMAER no Brasil e no Exterior levou ao cômputo total de 407 cargos de gestores e assessores ocupados pelos oficiais nos três círculos hierárquicos. Portanto, compunham inicialmente o universo inquirido o total de 653 oficiais. 5.8 Amostra Em coerência com os parâmetros requeridos para estudos quantitativos, recorreu-se ao uso de uma amostra de grande dimensão para que fosse possível realizar inferência estatística e admitir, dentro do intervalo de confiança estabelecido, que as generalizações são possíveis para o universo estudado. O método utilizado para seleção da amostra foi a amostragem não-causal (dirigida ou não-probabilística) por conveniência, pois o acesso aos oficiais que participaram no estudo 59 Metodologia foi possibilitado pelas conexões pessoais que o pesquisador possuía na estrutura do COMAER por ocasião da coleta de dados (Bowling, 1997; Hill & Hill, 2008). 5.8.1 Seleção da amostra A todos os 653 oficiais que compunham o universo inquirido da pesquisa, encaminhou-se pedido de colaboração para participação no estudo (Anexo 1). Foi utilizada a plataforma Google Docs para confecção do questionário (Anexo 2) e sua posterior disponibilização por correio eletrônico. Considerando a possibilidade de eventuais problemas de não recebimento do e-mail pelos sujeitos da amostra, por erro de digitação ou por falta de atualização de seus dados pessoais, e levando-se em consideração a possibilidade de ocorrência de não respostas, optou-se por ampliar o universo inquirido, em processo de substituição defendido por Barañano (2008). Sendo assim, foram adicionalmente encaminhados correios eletrônicos aos oficiais que desempenharam funções de chefia, assessoria ou gestão, mas que no momento da pesquisa estavam realizando cursos de carreira, nomeadamente os oficiais-alunos do Curso de Política e Estratégia da Aeronáutica - CPEA (coronéis em preparação para o Generalato), Curso de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica - CCEM (demais oficiais superiores em preparação para assumir as administrações de topo das organizações) e Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais - CAP (oficiais intermediários realizando curso de especialização para aprimoramento das competências de chefia e preparação para assunção dos postos de oficiais superiores). A dimensão da amostra obedeceu às recomendações de Hill e Hill (2008), que recomendam a regra do polegar (thumb rule) para os estudos em que se utilizam técnicas estatísticas simples e multivariadas, tomando como referência a que exigir a maior amostra. O estudo das relações entre as variáveis envolveu a utilização de técnicas multivariadas de dados, tais como análises fatoriais exploratória (AFE) e confirmatória (AFC) e modelos de equações estruturais56 (SEM). Para análises fatoriais, Tabachnick e Fidell (2007) recomendam o quantitativo de 300 casos. Comrey e Lee classifica uma amostra com 300 casos como bom tamanho de amostra (Field, 2009). Por sua vez, Hair et al. (1995) recomendam como mínimo absoluto de tamanho de amostra para emprego de SEM a quantidade de 50 casos, desde que respeitado o rácio 56 Structural Equation Modelling 60 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica mínimo de cinco casos por cada parâmetro estimado. De acordo com esses autores, o tamanho mínimo geralmente aceitável para essa técnica é de 100 casos, sendo recomendável que se empreguem amostras entre 100 e 200 casos. Portanto, consideradas as observações de Tabachnick e Fidell (2007) e Hair et al. (1995), estabeleceu-se como tamanho da amostra a quantidade de 300 casos. Para que essa quantidade de casos fosse atingida, e considerando a taxa de respostas para pesquisas por via postal (usada em analogia) referenciada por Bowling (1997) de 20%, foram enviados ao todo 1.401 correios eletrônicos, tendo sido recebidos os 300 questionários pretendidos sem a necessidade de reenvio de formulário solicitando nova participação (follow up). A taxa de resposta final foi de 21,41%. Os questionários recebidos foram todos considerados válidos, porque a plataforma Google Docs permite habilitar função que obriga o preenchimento obrigatório de todas as questões antes da finalização do formulário. Com este procedimento, conseguiu-se evitar questões sem resposta. 5.9 Descrição do estudo empírico A pesquisa consistiu na aplicação de um questionário com 71 questões fechadas, encaminhado eletronicamente entre os dias 6 de novembro de 2013 e 21 de janeiro de 2014. Nessa oportunidade, foram observadas as recomendações éticas para a condução do estudo, pois todos os pedidos de colaboração apresentaram esclarecimentos pertinentes ao consentimento informado, os quais versavam inclusivamente sobre a participação voluntária na pesquisa, o sigilo das respostas e o anonimato dos respondentes (Bryman & Bell, 2007; Lima, 2006). Os questionários foram encaminhados por três canais diferentes: a) pelo endereço eletrônico institucional do Gabinete do Comandante da Aeronáutica (GABAER), utilizado com autorização da Vice-Chefia, o qual permitiu a abordagem dos comandantes, chefes e diretores, assessores e gestores do COMAER, bem como aos oficiais-alunos dos cursos de carreira do COMAER; b) pelo endereço eletrônico do Yahoo, no qual existiam os contatos dos oficiais que faziam parte da rede de relacionamentos do investigador; e c) pelo endereço eletrônico do Google Mail, utilizado para abordagem dos oficiais que também faziam parte da rede de relacionamentos do investigador, em complemento à base de dados do Yahoo. Os questionários respondidos foram recebidos eletronicamente pelo pesquisador, armazenados na plataforma Google Docs e posteriormente exportados para tratamento estatístico nos programas IBM SPSS Statistics versão 21 para Mac (para realização das AFE 61 Metodologia e da estatística descritiva), e IBM SPSS AMOS versão 22 (para realização das AFC e das análises em SEM). 5.10 Descrição do instrumento de coleta de dados A coleta de dados compreendeu a realização de inquéritos por questionário, instrumento típico dos estudos sobre liderança, assim também como dos setoriais cruzados em geral (Hunter, Bedell-Avers, & Mumford, 2007). O processo de elaboração do questionário envolveu a realização de pré-testes em um grupo de 30 oficiais do Comando da Aeronáutica, com o objetivo de testar a viabilidade e adequabilidade da sua aplicação. Os participantes do pré-teste possuíam as mesmas caraterísticas e competências dos sujeitos que compunham o universo inquirido (Barañano, 2008; Marconi & Lakatos, 2003). As realizações dos pré-testes transcorreram entre 26 de Agosto e 6 de novembro de 2013. Em cada oportunidade, pediu-se que os participantes informassem o tempo de realização, o qual girou em torno de 15 minutos. A complexidade dos temas abordados exigiu a escolha de escalas já validadas na literatura. A obtenção das escalas presentes nos estudos de Fonseca e Porto (2013) e de Casali (2011), assim como a modificação contínua da estrutura do questionário, permitiram obter a última versão do instrumento de coleta de dados. O questionário final utilizado no estudo ficou dividido em 4 grupos de questões: a) estilos de liderança; b) sustentabilidade; c) teorias éticas; e d) perfil sócio-demográfico. Esses grupos são a seguir detalhados. 5.10.1 – Questionário sobre estilos de liderança O primeiro grupo de perguntas teve por objetivo mensurar o estilo de liderança dos oficiais, entre os tipos transacional e transformacional, e foi montado com base no estudo elaborado por Fonseca e Porto (2013), o qual originalmente consistiu na validação de uma escala com 37 itens. Esta escala buscava medir as atitudes dos militares e civis ligados às Forças Armadas Brasileiras frente aos estilos de liderança transacional e transformacional percepcionados no ambiente de trabalho. A opção pela escala de Fonseca e Porto (2013) justifica-se pelas boas capacidades psicométricas para medirem adequadamente esses estilos de liderança. A caracterização da liderança transformacional envolveu a utilização de questões extraídas do Transformational Leadership Inventory (TLI) (Podsakoff et al., 1990), enquanto que a identificação do perfil 62 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica transacional envolveu a utilização de questões do Multifactor Leadership Questionnaire (MLQ) (Bass, 1985) e do Leadership Reward and Punishment Questionnaire (LRPQ) (Podsakoff et al., 1984, 1982). Como um dos objetivos do presente estudo é identificar os estilos de liderança, as instruções e pontuações da escala original de Fonseca e Porto (2013) foram modificadas, de maneira a permitir que os respondentes fizessem uma autoavaliação da frequência com que desempenham os comportamentos associados aos estilos estudados. Foram utilizadas escalas do tipo Likert de cinco pontos, que buscaram identificar a frequência com que os oficiais desempenhavam os comportamentos enunciados nas questões. Os valores variaram de 0 (nunca) a 4 (frequentemente, se não sempre), sendo os valores intermediários 1 (raramente), 2 (algumas vezes) e 3 (muitas vezes). Em função da longa extensão do questionário original, e com o objetivo de propiciar um instrumento final de rápido preenchimento pelos inquiridos, optou-se por utilizar uma versão reduzida da escala com 22 questões, sendo 14 para medir o perfil transformacional, composto por subescalas do TLI e LRPQ, e oito questões para o perfil transacional, composto por 2 subescalas, uma do MLQ e outra do LRPQ. O estilo Laissez-Faire não foi contemplado na escala reduzida. As Tabelas 2 e 3 discriminam as questões empregadas no questionário, para mensuração dos perfis transacional e transformacional, respectivamente. Tabela 2 Questões para mensuração do perfil transacional Questão Enunciado e Escala de origem 1.3 Avisar quando o desempenho dos membros da equipe é insatisfatório (LRPQ – subescala Punição Contingente) 1.5 Negociar com os membros da equipe sobre o que eles podem esperar receber em troca das suas realizações (MLQ – subescala Recompensa Contingente) 1.9 Mostrar o seu descontentamento quando o trabalho dos membros da equipe é abaixo dos níveis aceitáveis (LRPQ – subescala Punição Contingente) 1.11 Dar aos membros da equipe o que eles querem em troca do seu apoio (MLQ – subescala Recompensa Contingente) 1.13 Dizer aos membros da equipe o que fazer para serem recompensados pelos seus esforços (MLQ – subescala Recompensa Contingente) 63 Metodologia 1.17 Indicar sua desaprovação quando o desempenho dos membros da equipe seja abaixo do que eles são capazes (LRPQ – subescala Punição Contingente) 1.19 Fazer acordo com os membros da equipe com relação ao que eles vão receber se fizerem o que deve ser feito (MLQ – subescala Recompensa Contingente) 1.22 Repreender os membros da equipe se seu trabalho estiver abaixo dos padrões (LRPQ – subescala Punição Contingente) Tabela 3 Questões para mensuração do perfil transformacional Questão Enunciado e Escala de origem 1.1 Buscar novas oportunidades para a unidade/departamento/organização (TLI – subescala Articular uma visão) 1.2 Mostrar que tem expectativas altas em relação à equipe (TLI – subescala Expectativa de alta performance) 1.4 Considerar as necessidades pessoais dos membros da equipe (TLI – subescala Suporte Individualizado) 1.6 Estimular os indivíduos a pensar sobre problemas antigos de novas maneiras (TLI – subescala Estimulação Intelectual) 1.7 Elogiar quando os membros da equipe fazem um trabalho acima da média (LRPQ – subescala Recompensa Contingente) 1.8 Liderar fazendo ao invés de simplesmente dizendo (TLI – subescala Prover um modelo apropriado) 1.10 Conseguir com que o grupo trabalhe junto em busca do mesmo objetivo (TLI – subescala Estimular a aceitação de metas do grupo) 1.12 Insistir no melhor desempenho da equipe (TLI – subescala Expectativa de alta performance) 1.14 Apresentar novas formas de olhar para as coisas que costumavam ser confusas para os membros da equipe (TLI – subescala Estimulação Intelectual) 1.15 Liderar pelo exemplo (TLI – subescala Prover um modelo apropriado) 1.16 Sempre dar feedback positivo quando um membro da equipe tem bom desempenho (LRPQ – subescala Recompensa Contingente) 1.18 64 Mostrar respeito pelos sentimentos dos membros da equipe (TLI – subescala A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica Suporte Individualizado) 1.20 Entender claramente para onde a equipe está indo (TLI – subescala Articular uma visão) 1.21 Incentivar os funcionários a trabalhar em equipe (TLI – subescala Estimular a aceitação de metas do grupo) 5.10.2 Questões sobre sustentabilidade O segundo grupo de questões é composto por 13 itens, que procuraram identificar o estágio atual da sustentabilidade no Comando da Aeronáutica. A primeira questão consistia em verificar se o respondente identificava, ou não, a existência de práticas de sustentabilidade em sua organização. A questão foi do tipo múltipla escolha e buscou uma resposta direta que poderia ser “sim”, “não”, “não consigo identificar se as práticas de minha organização são sustentáveis” e “não sei o que é sustentabilidade”. A segunda questão procurava identificar o nível de conhecimento autoavaliado do respondente no tocante à sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável. A resposta à questão era do tipo Likert com cinco pontos, variando de 1 (muito baixo) a 5 (muito bom), tendo como valores intermediários 2 (baixo), 3 (razoável) e 4 (bom). A terceira pergunta permitiu aferir o grau de importância que os participantes do estudo atribuem à sustentabilidade. A resposta também foi do tipo Likert com cinco pontos, os quais variaram de 1 (muito baixo) a 5 (muito bom), sendo os demais 2 (baixo), 3 (razoável) e 4 (bom). Da pergunta 2.4 à 2.10, procurou-se identificar a utilização das práticas de sustentabilidade sugeridas pelo Governo Federal para a elaboração dos PLS, conforme estabelece a Instrução Normativa nº 10/2012. As respostas foram do tipo dicotômicas “sim” ou “não” e buscaram identificar a presença ou ausência das correspondentes práticas. As questões 2.11 a 2.13 correspondem às práticas associadas na literatura à sustentabilidade como boas iniciativas sustentáveis57, as quais foram inseridas no estudo para que se verificasse se alguma organização conseguia ir além do previsto na legislação federal. As respostas foram dicotômicas, tais como as anteriores. 57 Coletânea de melhores práticas de gestão do gasto público (Ministério do Orçamento Planejamento e Gestão, 2012) 65 Metodologia 5.10.3 Questões sobre ética – questionário Managerial Ethical Profile (MEP) A terceira parte do questionário foi elaborada com base no Managerial Ethical Profile – MEP (Casali, 2011), que procurou identificar as seguintes teorias de filosofia moral que estão subjacentes às tomadas de decisão ética dos líderes: a) deontologia; b) utilitarismo; c) ética das virtudes; e d) egoísmo ético (Tabela 4). As questões consistiam em verificar a opinião dos respondentes no tocante à importância que atribuíam às situações apresentadas, cujas respostas foram do tipo Likert com cinco pontos, variando entre 1 (nada importante) e 5 (extremamente importante), sendo intermediários os valores 2 (não muito importante), 3 (razoavelmente importante) e 4 (muito importante). Tabela 4 Questionário MEP e dimensões éticas mensuradas Questão 3.1 Enunciado Dimensão ética Prover o máximo ganho financeiro possível para a Egoísmo Econômico organização 3.2 Minimizar os custos para a organização Egoísmo Econômico 3.3 Proteger a reputação da organização Egoísmo Reputacional 3.4 Otimizar a utilização dos recursos destinados ao Egoísmo Econômico seu setor de trabalho 3.5 Cumprir o orçamento anual da organização (curto Egoísmo Econômico prazo) 3.6 Estar alinhado com a missão organizacional Egoísmo Reputacional 3.7 Gerar o máximo benefício possível para o efetivo Utilitarismo de atos da organização 3.8 Não prejudicar o efetivo Utilitarismo de regras 3.9 Respeitar as regras organizacionais e Utilitarismo de regras regulamentos que foram criados para o máximo benefício das partes interessadas (todos os segmentos da sociedade que de alguma forma se relacionam com a organização) 3.10 66 Obedecer as leis Utilitarismo de regras A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica 3.11 Criar o mais amplo benefício possível para a Utilitarismo de atos comunidade local (próxima à organização) 3.12 Criar o mais amplo benefício geral para a Utilitarismo de atos sociedade como um todo 3.13 Estar ao máximo alinhado com os seus valores Virtude de si pessoais 3.14 Estar alinhado ao máximo com a pessoa que você Virtude de si quer ser 3.15 Respeitar a dignidade daqueles afetados pelas suas Virtude dos outros decisões 3.16 Ser capaz de criar empatia com o efetivo Virtude dos outros 3.17 Agir abertamente ao tomar decisões Virtude dos outros 3.18 Estabelecer o cuidado com o efetivo como valor Virtude dos outros supremo na determinação de decisões alternativas 3.19 Dar oportunidade a todos os que forem afetados, Deontologia de atos ou seus representantes, de oferecerem sugestões no processo de tomada de decisão 3.20 Tratar os outros como quer ser tratado Deontologia de atos 3.21 Tratar as pessoas como fins e não como meios Deontologia de atos 3.22 Assegurar que a confidencialidade é mantida em Deontologia de regras todas as oportunidades 3.23 Manter um processo justo em todas as ocasiões Deontologia de regras 3.24 Assegurar que o dever de cuidar da organização é Deontologia de regras mantido em todas as oportunidades 5.10.4 Questões sobre o perfil sócio-demográfico da amostra A quarta e última parte do questionário destinou-se à caracterização do perfil sóciodemográfico da amostra, o qual permitiu a análise das características dos participantes do estudo no tocante à idade, sexo, posto, formação acadêmica e tempo de serviço. O detalhamento do instrumento de coleta de dados utilizado neste estudo finaliza o presente capítulo, o qual apresentou os aspectos metodológicos observados na investigação. O tratamento estatístico dessas informações obtidas é apresentado no capítulo a seguir. 67 Metodologia 68 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS O presente capítulo contempla a segunda parte do estudo empírico, destinado à análise e apresentação dos dados coletados, à luz dos objetivos operacionais estabelecidos e com o fim de comprovar ou refutar as hipóteses formuladas. Inicialmente procede-se à descrição da amostra. Posteriormente, são apresentadas as escalas utilizadas no questionário e as análises fatoriais exploratórias e confirmatórias necessárias para montagem do modelo teórico completo, o qual foi avaliado pelo método dos modelos de equações estruturais, técnica estatística que avalia de forma precisa as relações entre as variáveis (Hair et al., 1995). 6.1 Descrição da amostra A amostra deste estudo é composta por 300 oficiais da Força Aérea Brasileira (N=300), em cumprimento de serviço ativo, sendo 89,3% de homens (n=268) e 10,7% de mulheres (n=32), com idade média de 39,96 anos (σ = 7,64), tempo médio na carreira de 21,7 anos (σ = 8,28) e tempo médio na função atual de 2,20 anos (σ = 2,14). A formação acadêmica desses oficiais é exclusivamente de nível superior, compreendendo 34% (n=102) com licenciatura ou bacharelado, 55,7% (n=167) com pósgraduação, 9,7% (n=29) com mestrado e 0,7% (n=2) com doutoramento. Cerca de 90% dos inquiridos são casados (n=271), 6,3% são solteiros (n=19), 3% são separados ou divorciados (n=9) e 0,3% é viúvo (n=1). Os postos dos oficiais indicam sua posição hierárquica na estrutura do Comando da Aeronáutica, tendo sido identificada uma distribuição na amostra aproximadamente equitativa entre coronéis (19,3%, n=58), tenentes-coronéis (19,3%, n=58), majores (19,3%, n=58), capitães (24,3%, n=73) e tenentes (17,7%, n=53). Verificou-se que 19,7% (n=59) dos oficiais encontrava-se em posição de comando, chefia ou direção (titulares de organizações), 46% (n=138) eram chefes de seção ou divisão administrativa, 7,7% (n=23) eram agentes de controle interno, 22,3% (n=67) eram oficiaisalunos nos cursos de carreira (CPEA, CCEM ou CAP), 2,3% (n=7) eram subcomandantes de organizações, 0,7% (n=2) eram chefes de Estado-Maior, apenas um era chefe de gabinete (0,3%) e 1% (n=3) eram estagiários em unidades aéreas. Os quadros dos oficiais revelam a sua relação com a atividade-fim do COMAER, estando assim representados: 41,3% (n=124) de aviadores, 35,3% (n=106) de intendentes, 9,7% (n=29) de especialistas, 3,7% (n=11) de médicos, 2,3% (n=7) de engenheiros, 2,3% 69 Apresentação e análise de dados (n=7) de infantes, 1,3% (n=4) de dentistas, 1,3% (n=4) de farmacêuticos e 2,7% (n=8) de convocados ou temporários. Dos dados relatados, verifica-se um predomínio de oficiais superiores entre os participantes no estudo (57,9% ocupantes de postos a partir de Major), o que explica a elevada média de idade e o alto grau de formação acadêmica dos indivíduos que compõem a amostra. A elevada presença de oficiais em posição de chefia (46%) somada ao percentual dos oficiais em condições de titularidade (19,7% em posição de comando, chefia ou direção) reflete a pertinência da amostra no que diz respeito ao tema da liderança abordado neste estudo. Por último, cabe ressaltar o fato da maior parte dos respondentes pertencer aos quadros de aviadores e intendentes (76,6% no total da amostra), evidenciando a preocupação em investigar as relações entre liderança e sustentabilidade predominantemente entre aqueles que tomam decisões de gestão. 6.2 Análise da escala de liderança Foi realizada AFE pelo método da fatoração dos eixos principais e rotação oblíqua PROMAX, nos 22 itens que compõem a escala de liderança utilizada. A análise da matriz de correlações permitiu verificar a existência de correlações entre itens acima de 0,3 e nenhuma com valor superior a 0,90 (Field, 2009). O valor do determinante na matriz de correlações foi de 0,002, que indica a ausência de multicolinearidade. A medida de adequabilidade de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) foi de 0,833, considerada ótima de acordo com Field (2009). O teste de esfericidade de Bartlett foi estatisticamente significativo (χ 2 (231) = 1.854,137, p<0,05). Os valores individuais de KMO, os quais correspondem aos constantes na diagonal da matriz de correlações antiimagem são superiores a 0,5 (Field, 2009). A quantidade de fatores que poderiam ser extraídos da escala foi definida após a avaliação da quantidade de fatores sugeridas pelos critérios do diagrama de sedimentação (scree plot), do método de Kaiser e do método de Joliffe. O método do scree plot pode ser utilizado com segurança para amostras superiores a 200 casos (Field, 2009), e leva em consideração a análise gráfica dos fatores que aparecem representados. O número de fatores a extrair corresponde à quantidade localizada acima do ponto de inflexão, o qual é obtido pela interseção das retas que acompanham a curva de 70 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica traçado dos fatores. A Figura 6 ilustra o método e evidencia a possibilidade de extração de três a seis fatores. Figura 6. Gráfico scree plot da escala de liderança Fonte: Extraído do programa IBM SPSS Statistics O método de Kaiser, por sua vez, baseia-se na análise dos autovalores superiores a 1 obtidos durante o processo de extração. De acordo com esse critério, poderiam ser extraídos 6 fatores, que explicariam 43,732 % da variância total, conforme informação fornecida pelo SPSS. O método de Joliffe permite a extração da quantidade de fatores correspondente ao número de autovalores superiores a 0,7. A análise dos autovalores gerados no SPSS indica a possibilidade de extração de 10 fatores, o que acaba por não ser conveniente por ampliar demasiadamente a quantidade de fatores a extrair. A quantidade de fatores possíveis de serem extraídos, correspondentes aos estilos de liderança transformacional e transacional, poderia variar entre 2 e 8, correspondente ao quantitativo total das subescalas utilizadas (6 transformacionais e 2 transacionais). Analisadas as possibilidades, optou-se pela quantidade de 6 fatores sugerida pelo critério de Kaiser, por explicar um percentual razoável da variância e oferecer uma convergência com o critério do scree plot. 71 Apresentação e análise de dados O primeiro fator extraído foi composto pelos itens 1.3, 1.9, 1.17 e 1.22, os quais correspondem à subescala punição contingente da escala LRPQ, que compõe o estilo de liderança transacional. Adotou-se, portanto, essa designação para o fator 1 (Tabela 5). Tabela 5 Fator punição contingente Questão Item 1.17 Indicar sua desaprovação quando o desempenho dos membros da equipe seja abaixo do que eles são capazes 1.9 Mostrar o seu descontentamento quando o trabalho dos membros da equipe é abaixo dos níveis aceitáveis 1.22 Repreender os membros da equipe se seu trabalho estiver abaixo dos padrões 1.3 Avisar quando o desempenho dos membros da equipe é insatisfatório CF 0,84 0,72 0,71 0,63 O segundo fator apresentou-se formado pelos itens 1.5, 1.11, 1.13 e 1.19, os quais compõem a subescala recompensa contingente do MLQ, que também mensura o estilo de liderança transacional. Seguindo o critério de designação adotado anteriormente, o fator 2 ganhou a designação correspondente a essa subescala (Tabela 6). Tabela 6 Fator recompensa contingente Questão Item 1.19 Fazer acordo com os membros da equipe com relação ao que eles vão receber se fizerem o que deve ser feito 1.13 Dizer aos membros da equipe o que fazer para serem recompensados pelos seus esforços 1.11 Dar aos membros da equipe o que eles querem em troca do seu apoio 1.5 Negociar com os membros da equipe sobre o que eles podem esperar receber em troca das suas realizações CF 0,80 0,74 0,68 0,65 O terceiro fator formou-se pelo agrupamento dos itens 1.2, 1.7, 1.8, 1.15 e 1.16, os quais correspondem às subescalas expectativa de alta performance (item 1.2) e prover um modelo apropriado (itens 1.8 e 1.15), pertencentes à escala TLI, e à subescala recompensa contingente (itens 1.7 e 1.16) da escala LRPQ. 72 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica A análise dos enunciados dos itens indica que os líderes transformacionais procuram angariar o respeito e a confiança dos subordinados ao demonstrarem fé em suas capacidades de resolver os problemas. Além disso, esses líderes buscam influenciar suas equipes atuando como exemplos de conduta, o que gera nos subordinados uma inclinação em querer imitá-los. Essas características são compatíveis com a subescala influência idealizada do MLQ, motivo pelo qual esse fator ganhou tal designação (Tabela 7). Tabela 7 Fator influência idealizada Questão Item 1.15 1.16 CF Liderar pelo exemplo Sempre dar feedback positivo quando um membro da equipe tem bom desempenho Elogiar quando os membros da equipe fazem um trabalho acima da média Liderar fazendo ao invés de simplesmente dizendo Mostrar que tem expectativas altas em relação à equipe 1.7 1.8 1.2 0,61 0,58 0,57 0,57 0,52 O quarto fator reuniu as questões 1.1, 1.6, 1.12 e 1.14, as quais originalmente correspondem às subescalas do TLI articular uma visão (item 1), estimulação intelectual (itens 6 e 14) e expectativa de alta performance (item 12). Os enunciados dos itens, quando analisados em conjunto, sugerem comportamentos de liderança transformacional relacionados com a colocação de desafios aos subordinados com o objetivo de explorar suas capacidades intelectuais. Esses comportamentos são coerentes com a subescala estimulação intelectual do MLQ, razão pela qual esse fator ganhou tal designação (Tabela 8). Tabela 8 Fator estimulação intelectual Questão Item 1.6 1.14 1.1 1.12 CF Estimular os indivíduos a pensar sobre problemas antigos de novas 0,74 maneiras Apresentar novas formas de olhar para as coisas que costumavam ser 0,65 confusas para os membros da equipe Buscar novas oportunidades para a unidade/departamento/organização 0,54 0,52 Insistir no melhor desempenho da equipe 73 Apresentação e análise de dados O quinto fator resultou da saturação dos itens 1.10, 1.20 e 1.21, correspondentes às subescalas estimular a aceitação de metas do grupo (itens 1.10 e 1.21) e articular uma visão (item 1.20). A verificação dos enunciados permite identificar comportamentos transformacionais relacionados com a motivação dos subordinados para o trabalho em equipe, em alinhamento à visão criada pelos líderes da missão da organização. Esses comportamentos estão contemplados na subescala motivação inspiracional do MLQ, designação essa dada ao presente fator, constante da Tabela 9. Tabela 9 Fator motivação inspiracional Questão Item CF 1.21 Incentivar os funcionários a trabalhar em equipe 0,65 1.10 Conseguir com que o grupo trabalhe junto em busca do mesmo objetivo 0,55 1.20 Entender claramente para onde a equipe está indo 0,52 O sexto fator foi formado pela saturação dos itens 1.4 e 1.18 da subescala suporte individualizado do TLI. Em razão dessa subescala possuir correspondência direta com a subescala consideração individualizada do MLQ, adotou-se esta denominação, conforme ilustrado na Tabela 10. Tabela 10 Fator consideração individualizada Questão Item CF 1.4 Considerar as necessidades pessoais dos membros da equipe 0,49 1.18 Mostrar respeito pelos sentimentos dos membros da equipe 0,44 Portanto, os 6 fatores gerados correspondem a duas subescalas de liderança transacional e quatro subescalas de liderança transformacional. As Tabelas 11 e 12 mostram os valores das cargas fatoriais dos itens, a correlação item-total corrigido e a consistência interna das respectivas escalas de liderança (alfa de Cronbach - α). 74 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica Tabela 11 Cargas fatoriais, CIT e alfa de Cronbach do fator estilo transacional Questão 1.17 1.19 1.13 1.9 1.22 1.11 1.5 1.3 Item CF Indicar sua desaprovação quando o desempenho dos membros da 0,84 equipe seja abaixo do que eles são capazes Fazer acordo com os membros da equipe com relação ao que eles 0,80 vão receber se fizerem o que deve ser feito Dizer aos membros da equipe o que fazer para serem 0,74 recompensados pelos seus esforços Mostrar o seu descontentamento quando o trabalho dos membros 0,72 da equipe é abaixo dos níveis aceitáveis Repreender os membros da equipe se seu trabalho estiver abaixo 0,71 dos padrões Dar aos membros da equipe o que eles querem em troca do seu 0,68 apoio Negociar com os membros da equipe sobre o que eles podem 0,65 esperar receber em troca das suas realizações Avisar quando o desempenho dos membros da equipe é 0,63 insatisfatório CIT 0,52 0,49 0,57 0,47 0,44 0,46 0,47 0,37 0,78 α Tabela 12 Cargas fatoriais, CIT e alfa de Cronbach do fator estilo transformacional Questão Item 1.6 Estimular os indivíduos a pensar sobre problemas antigos de novas maneiras 1.14 Apresentar novas formas de olhar para as coisas que costumavam ser confusas para os membros da equipe 1.21 Incentivar os funcionários a trabalhar em equipe CF 0,74 CIT 0,51 0,65 0,50 0,65 0,51 1.15 Liderar pelo exemplo 0,61 0,45 1.16 Sempre dar feedback positivo quando um membro da equipe tem 0,58 bom desempenho Elogiar quando os membros da equipe fazem um trabalho acima 0,57 da média 0,57 Liderar fazendo ao invés de simplesmente dizendo 0,40 Conseguir com que o grupo trabalhe junto em busca do mesmo 0,55 objetivo Buscar novas oportunidades para a 0,54 unidade/departamento/organização Mostrar que tem expectativas altas em relação à equipe 0,52 0,35 1.7 1.8 1.10 1.1 1.2 0,44 0,39 0,44 0,45 75 Apresentação e análise de dados 1.12 Insistir no melhor desempenho da equipe 0,52 0,52 1.20 Entender claramente para onde a equipe está indo 0,52 0,33 1.4 1.18 Considerar as necessidades pessoais dos membros da equipe Mostrar respeito pelos sentimentos dos membros da equipe 0,49 0,44 0,27 0,26 0,79 α Os valores do alfa de Cronbach indicam que a confiabilidade das escalas é razoável, por estarem na faixa entre 0,7 e 0,8 (Hill & Hill, 2008). Identificados os fatores da escala de liderança, foi possível criar o modelo de medida dos estilos de liderança transacional e transformacional no programa IBM SPSS AMOS, mediante a realização da análise fatorial confirmatória da escala. Este procedimento permitiu realizar a confirmação da confiabilidade da escala por intermédio da análise dos índices de ajustamento. 6.2.1 Análise confirmatória da escala de liderança A especificação do modelo de medida é ilustrada na Figura 7, que mostra as vinte e duas variáveis observadas (representadas pelos retângulos de I1.1 a I1.22) e seus erros associados (círculos e1 a e22), as seis variáveis latentes exógenas (elipses representando os fatores extraídos na AFE) e as duas variáveis latentes endógenas (liderança transacional e liderança transformacional) geradas a partir das exógenas. As variáveis latentes exógenas são consideradas variáveis dependentes em relação aos itens que as geram, e independentes em relação aos estilos de liderança com que estão relacionados. A identificação do modelo de medida foi realizada pelo software IBM SPSS AMOS, tendo sido calculados 202 graus de liberdade, além de terem sido feitas as identificações dos parâmetros livres e dos sujeitos a restrições. Após especificado e identificado, o modelo de medida foi estimado com o método da máxima verossimilhança, por ser robusto no que diz respeito aos pressupostos da normalidade, sendo mesmo preferível em relação ao método dos mínimos quadrados generalizados nos casos de amostras não-normais (Kline, 2011; Lisboa, Augusto, & Ferreira, 2012). Os valores extremos foram verificados e analisados no contexto das respostas dadas pelos oficiais. Não houve dados ausentes. Hoyle e Panter (1995) e Shook, Ketchen, Hult, e Kacmar (2004) orientam que não existe um índice de ajustamento que isoladamente permita garantir a qualidade do modelo, sendo necessário, portanto, utilizar um conjunto de índices que confiram uma avaliação geral. 76 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica Por isso, utilizaram-se índices de ajuste global (Root Mean Square Error of Approximation RMSEA), de ajuste incremental (Comparative Fit Index - CFI) e de ajuste parcimonioso (Qui-quadrado relativo) para a avaliação da qualidade do ajustamento. Os valores obtidos (χ 2/df = 1,84, CFI = 0,90, RMSEA = 0,05) indicam um bom ajustamento entre o modelo e os dados observados. A literatura recomenda valores de Quiquadrado relativo (χ 2/df, correspondente ao rácio entre o valor da estatística do Qui-quadrado e os graus de liberdade do modelo) inferiores a 2 (Tabachnick e Fidell, 2007) ou 3 (Kline, 2011). O valor de CFI deve situar-se entre os extremos 0 (não existe ajustamento) e 1 (perfeitamente ajustado), sendo considerados adequados valores a partir de 0,90 (Jaccard & Wan, 1996). O valor de RMSEA deve ser o mais próximo possível de 0 (ajustamento perfeito), sendo considerado indicativo de bom ajustamento valores inferiores a 0,06 (Hu & Bentler, 1995). Pelo exposto, verifica-se que o modelo de medida confirma a adequabilidade da escala para a medição dos estilos de liderança dos oficiais da Amostra. 77 Apresentação e análise de dados AFC - NRI Chi2(202)=370,680; p=,000; R_Chi2df=1,835 CFI=,899; PCFI=,786; GFI=,897; PGFI=,716 RMSEA=,053; p(rmsea<=0.05)=,282 ,31 I1.16 ,56 I1.15 ,60 ,52 e2 ,30 ,55 Influencia Idealizada e1 ,36 I1.8 ,58 ,33 ,53 I1.7 dII ,28 I1.2 e3 e4 e5 ,41 ,72 ,85 Estilo Transformacional ,78 ,51 ,61 I1.12 e7 I1.6 e8 ,44 ,67 ,51 ,60 ,66 Motivacao Inspiracional ,48 ,51 Consideracao Individualizada ,26 I1.1 dEI dMI ,92 e6 ,37 Estimulacao Intelectual ,92 I1.14 ,64 ,44 I1.21 e10 I1.20 e11 I1.10 e12 I1.18 e13 I1.4 e14 ,23 ,26 ,30 ,55 ,24 ,49 ,51 dCI ,36 ,60 Estilo Transacional I1.22 e15 I1.17 e16 I1.9 e17 ,70 ,71 ,84 Punicao Contingente ,51 ,71 ,63 e18 ,58 ,48 ,76 I1.19 e19 I1.13 e20 I1.11 e21 ,55 ,74 Recompensa Contingente ,40 I1.3 dPC ,23 e9 ,67 ,66 ,45 ,44 dNT Figura 7. Análise fatorial confirmatória da escala de liderança Fonte: Extraído do programa IBM AMOS 78 I1.5 e22 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica A Tabela 13 apresenta a matriz das correlações, variâncias, covariâncias, médias e desvios-padrões das variáveis observadas. As variâncias estão em negrito na diagonal. A parte inferior esquerda contém as covariâncias. As correlações encontram-se na parte superior direita da matriz. A Tabela 14 apresenta os valores dos coeficientes estandardizados e nãoestandardizados do modelo, os quais integram as equações de regressões múltiplas que explicam a variação das variáveis latentes endógenas e exógenas em função das variáveis observadas. Os valores indicam que as variáveis latentes exógenas e endógenas geradas são confiáveis, pois o valor do R2 (confiabilidade individual do item) de cada variável latente é superior a 0,20, valor considerado recomendado para que se possa considerar o indicador aceitável (Lisboa et al., 2012). 79 Tabela 13. Correlações, variâncias, covariâncias, médias e desvios-padrões da escala de liderança I1.1 I1.2 I1.3 I1.4 I1.5 I1.6 I1.7 I1.8 I1.9 I1.10 I1.11 I1.12 I1.13 I1.14 I1.15 I1.16 I1.17 I1.18 I1.19 I1.20 I1.21 I1.22 I1.1 0,61 ,340** ,166** 0,006 ,190** ,389** ,245** ,252** 0,088 ,154** 0,052 ,285** ,217** ,287** ,244** ,172** ,156** 0,041 0,094 ,141* ,307** ,237** I1.2 0,195 0,54 ,195** 0,053 ,183** ,223** ,245** ,295** ,181** ,224** 0,084 ,365** ,184** ,185** ,270** ,289** ,199** 0,074 0,067 ,133* ,377** ,206** I1.3 0,116 0,129 0,806 0,027 ,142* ,309** ,174** ,175** ,446** ,149** 0,03 ,320** ,173** ,321** ,160** ,135* ,519** 0,037 0,045 ,196** ,209** ,437** I1.4 0,003 0,025 0,016 0,424 ,277** ,195** ,129* 0,096 ,138* ,170** ,210** ,144* ,146* ,179** 0,094 0,058 0,076 ,270** ,175** 0,112 0,037 0,013 I1.5 0,157 0,142 0,135 0,191 1,119 ,313** ,171** ,169** ,156** ,205** ,434** ,194** ,480** ,230** 0,081 0,04 ,159** 0,108 ,501** 0,068 ,125* 0,104 I1.6 0,295 0,159 0,27 0,123 0,322 0,944 ,257** ,205** ,232** ,189** ,145* ,347** ,247** ,518** ,183** ,165** ,195** ,230** ,148* ,128* ,329** ,184** I1.7 0,1 0,094 0,082 0,044 0,095 0,131 0,275 ,328** ,148* 0,089 0,106 ,220** ,200** ,265** ,295** ,428** ,130* ,176** 0,073 ,132* ,177** ,171** I1.8 0,132 0,145 0,105 0,042 0,12 0,134 0,115 0,452 ,151** 0,108 0,096 ,253** 0,092 ,186** ,433** ,218** 0,103 ,117* 0,027 0,062 ,164** ,175** I1.9 0,057 0,11 0,331 0,074 0,136 0,186 0,064 0,084 0,682 0,098 ,152** ,310** ,224** ,193** ,218** ,202** ,613** 0,068 ,134* ,140* ,150** ,482** I1.10 0,075 0,103 0,083 0,069 0,135 0,114 0,029 0,045 0,051 0,389 ,181** ,185** ,140* ,162** ,149** ,176** ,155** ,133* 0,111 ,337** ,334** ,122* I1.11 0,039 0,059 0,026 0,131 0,441 0,136 0,053 0,062 0,121 0,108 0,922 ,172** ,464** ,139* 0,035 0,096 ,156** ,168** ,549** ,189** 0,058 0,112 I1.12 0,153 0,185 0,198 0,065 0,141 0,232 0,079 0,117 0,176 0,079 0,114 0,473 ,356** ,351** ,315** ,213** ,293** ,147* ,116* ,241** ,350** ,375** I1.13 0,179 0,143 0,164 0,101 0,537 0,254 0,111 0,065 0,196 0,092 0,471 0,259 1,119 ,288** ,177** ,163** ,235** 0,068 ,561** ,213** 0,094 ,245** I1.14 0,18 0,11 0,232 0,094 0,196 0,405 0,112 0,1 0,128 0,081 0,108 0,194 0,245 0,647 ,227** 0,095 ,242** ,201** ,117* ,267** ,311** ,266** I1.15 0,114 0,119 0,086 0,037 0,051 0,106 0,092 0,174 0,108 0,056 0,02 0,13 0,112 0,109 0,357 ,338** ,188** 0,104 0,043 ,212** ,235** ,250** I1.16 0,084 0,134 0,076 0,024 0,027 0,101 0,141 0,092 0,105 0,069 0,058 0,092 0,108 0,048 0,127 0,395 ,265** ,145* 0,078 ,230** ,333** ,191** I1.17 0,1 0,121 0,384 0,041 0,138 0,156 0,056 0,057 0,417 0,08 0,123 0,166 0,205 0,16 0,093 0,137 0,678 0,101 ,135* ,182** ,239** ,604** I1.18 0,017 0,029 0,018 0,094 0,061 0,119 0,049 0,042 0,03 0,044 0,086 0,054 0,038 0,086 0,033 0,049 0,044 0,284 0,1 0,009 ,175** 0,034 I1.19 0,08 0,054 0,045 0,125 0,581 0,157 0,042 0,02 0,121 0,076 0,578 0,087 0,65 0,103 0,028 0,054 0,122 0,059 1,2 ,122* 0,045 ,122* I1.20 0,067 0,059 0,106 0,044 0,044 0,075 0,042 0,025 0,07 0,127 0,11 0,1 0,136 0,13 0,077 0,087 0,091 0,003 0,081 0,367 ,269** ,240** I1.21 0,156 0,181 0,122 0,016 0,086 0,209 0,06 0,072 0,081 0,136 0,036 0,157 0,065 0,163 0,091 0,136 0,128 0,061 0,032 0,106 0,424 ,237** I1.22 0,16 0,131 0,339 0,007 0,095 0,154 0,077 0,102 0,345 0,066 0,093 0,223 0,225 0,185 0,129 0,104 0,431 0,016 0,116 0,126 0,134 0,75 Média 3,15 3,3 2,98 3,36 2,47 2,93 3,69 3,5 2,98 3,19 2,34 3,43 2,41 3,05 3,53 3,55 2,93 3,66 1,87 3,16 3,52 2,69 DP 0,781 0,735 0,898 0,651 1,058 0,972 0,524 0,672 0,826 0,623 0,96 0,688 1,058 0,804 0,597 0,629 0,823 0,533 1,095 0,606 0,652 0,866 ** Correlação é significativa a p<0,01 (2-tailed). * Correlação é significativa a p<0,05 (2-tailed). A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica Tabela 14 Valores estandardizados e não estandardizados da escala de liderança Parâmetros Estimativas do Modelo de Medida Influência Idealizada ! I1.16 Influência Idealizada ! I1.15 Influência Idealizada ! I1.8 Influência Idealizada ! I1.7 Influência Idealizada ! I1.2 Estimulação Intelectual ! I1.14 Estimulação Intelectual ! I1.12 Estimulação Intelectual ! I1.6 Estimulação Intelectual ! I1.1 Motivação Inspiracional ! I1.21 Motivação Inspiracional ! I1.20 Motivação Inspiracional ! I1.10 Consideração Individualizada ! I1.18 Consideração Individualizada ! I1.4 Punição Contingente ! I1.22 Punição Contingente ! I1.17 Punição Contingente ! I1.9 Punição Contingente ! I1.3 Negociação de Trocas ! I1.19 Negociação de Trocas ! I1.13 Negociação de Trocas ! I1.11 Negociação de Trocas ! I1.5 Estimativas do Modelo Estrutural Liderança Transformacional ! Influência Idealizada Transformacional ! Estimulação Intelectual Transformacional ! Motivação Inspiracional Liderança Transformacional ! Consideração Individualizada Liderança Transacional ! Punição Contingente Liderança Transacional ! Negociação de Trocas B SE β p R2 1 1,02 1,05 0,858 1,098 1 0,809 1,253 0,771 1 0,674 0,736 1 1,082 1 1,117 0,954 0,917 1 0,94 0,773 0,845 0,145 0,157 0,125 0,169 0,099 0,144 0,108 0,113 0,119 0,329 0,093 0,088 0,094 0,085 0,076 0,083 0,559 0,6 0,549 0,575 0,525 0,643 0,608 0,667 0,511 0,663 0,48 0,51 0,552 0,489 0,713 0,837 0,713 0,63 0,758 0,738 0,669 0,663 *** *** *** *** *** *** *** *** *** 0,001 *** *** *** *** *** *** 0,312 0,360 0,301 0,331 0,276 0,413 0,370 0,445 0,261 0,440 0,230 0,260 0,305 0,239 0,508 0,701 0,508 0,397 0,575 0,545 0,448 0,440 1,694 0,444 0,725 *** 3,167 2,229 0,786 0,564 0,92 0,775 *** *** 1 - 0,51 - 0,935 0,191 0,603 *** 1 - 0,479 - 0,526 0,846 0,601 0,260 0,364 0,229 *** Significativo a p<0,01 6.3 Análise do questionário sobre sustentabilidade As questões sobre sustentabilidade foram elaboradas com dois objetivos. O primeiro foi identificar a variável latente nível de sensibilidade dos líderes, a partir das respostas aos itens 2.2 e 2.3. Para a operacionalização desse objetivo, foi realizada análise fatorial exploratória dos itens para identificar a existência de uma variável latente que representasse 81 Apresentação e análise de dados adequadamente esse constructo. O segundo objetivo foi identificar o estágio atual das práticas sustentáveis no COMAER, que pode ser verificado com a análise das respostas aos itens 2.4 ao 2.13. 6.3.1 Variável latente nível de sensibilidade dos líderes A investigação desse novo fator envolveu a realização de uma análise fatorial exploratória com a utilização do método de componentes principais e rotação VARIMAX, pois trata-se de um constructo com apenas dois itens, sendo portanto recomendável a utilização de um método de extração que aproveite ao máximo a variância comum dos dados. O valor de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) foi de 0,50, considerado limítrofe por Field (2009). O teste de esfericidade de Bartlett foi estatisticamente significativo (χ 2 (1) = 51,956 p<0,05). Os valores individuais de KMO apresentaram o valor de 0,7, superior ao recomendado por Field (2009). A variância total explicada pelo fator foi de 70,02% e as cargas fatoriais ficaram acima de 0,4 (Field, 2009). A análise da consistência interna da escala foi medida pela correlação item-total corrigido e a confiabilidade da escala pelo alfa de Cronbach (α), cujos valores aparecem consolidados na Tabela 15, juntamente com os valores das cargas fatoriais. Tabela 15 Cargas fatoriais, CIT e alfa de Cronbach para o fator nível de sensibilidade dos líderes Questão Item 2.2 Considero que o meu grau de conhecimento sobre CF CIT 0,84 0,40 0,84 0,40 sustentabilidade e desenvolvimento sustentável é: 2.3 O grau de importância que atribuo às questões ambientais é: Autovalor 1,40 % Variância Explicada 70,02 α 0,57 Bowling (1997) considera valores de alfa de Cronbach superiores a 0,50 como representativos de boa confiabilidade da consistência interna, em alinhamento a outros autores que asseguram não existir concordância para fixação de padrões mínimos de confiabilidade de escalas (Cronbach, 1959; Helmstater, 1964, citados por Bowling, 1997). 82 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica Portanto, o valor do alfa de Cronbach desse fator pode ser considerado um indicador adequado de consistência interna. Atribui-se o baixo valor do alfa de Cronbach ao número reduzido de itens, por ser este um coeficiente sensível a esse quantitativo. Contudo, em razão de a variância explicada ser alta e o alfa de Cronbach estar dentro de limites considerados aceitáveis, considerar-se-á que os itens 2.2 e 2.3 medem a variável latente de modo confiável. A existência da variável latente nível de sensibilidade evidenciou a possibilidade de combinar as questões 2.2 e 2.3 de forma a quantificar essa variável e escalonar a amostra em grupos, de acordo com os valores encontrados. A combinação realizada foi a soma dos cômputos conferidos às variáveis correspondentes aos itens 2.2 e 2.3 e a divisão em grupos de acordo com uma escala de 2 a 10, onde o nível de 2 a 4 representaria uma baixa sensibilidade, de 5 a 7 significaria média sensibilidade e de 8 a 10 sinalizaria uma alta sensibilidade. A Tabela 16 demonstra que o maior percentual de oficiais encontra-se na faixa de média sensibilidade (54,2%, n=161), seguidos por 40% (n=120) de oficiais cujos cômputos os enquadraram na alta sensibilidade. Portanto, a maioria dos oficiais participantes do estudo apresentou uma sensibilização com relação à Sustentabilidade de grau médio a alto, o que pode ser considerado positivo para o Comando da Aeronáutica, pois pode ser um indicador favorável à implementação de práticas sustentáveis nas organizações, pois quanto mais esclarecidos sobre o assunto e maior importância derem ao tema, maior a probabilidade de esses fatores influenciarem favoravelmente o processo de tomada de decisão, conforme preconiza a teoria racional da escolha, de acordo com as lições de Barracho (2012). Tabela 16 Nível de sensibilidade dos líderes por grupos Grupos Frequência Percentual Válido Percentual Acumulado Baixa Sensibilidade 16 5,4% 5,3% Média Sensibilidade 161 54,2% 59% Alta Sensibilidade 120 40,4% 100 83 Apresentação e análise de dados 6.3.2 Avaliação do estágio atual das práticas sustentáveis no COMAER As questões que abrangem os itens 2.4 a 2.13 contemplam 10 práticas sustentáveis que podem ser realizadas pelas organizações do COMAER, das quais sete foram recomendadas pelo Governo Federal Brasileiro para constarem em seus Planos de Logística Sustentável. As respostas a esses quesitos foram consideradas variáveis dicotômicas, codificadas como 0 (não) e 1 (sim). Com o objetivo de identificar a quantidade de práticas sustentáveis percebidas pelos líderes, criou-se a variável numérica quantidade de práticas de sustentabilidade, a qual correspondeu ao somatório total das respostas fornecidas pelos respondentes. Tal somatório resultou em pontuações que variaram de 0 a 10, o que permitiu duas utilizações. Em primeiro, como variável intervalar, foi utilizada como medida da eficácia com que as organizações realizam práticas sustentáveis, tendo sido utilizada como a variável dependente observada no modelo em equações estruturais. Em segundo, como variável ordinal, permitiu a criação de grupos nos quais as quantidades de práticas existentes refletem o nível das práticas sustentáveis desenvolvidas. Embora não exista um parâmetro rígido para que se avalie com rigor a partir de quantas práticas uma organização poderia ser enquadrada como forte ou fraca em termos sustentáveis, adotou-se um critério para o escalonamento das observações com base na quantidade de práticas sustentáveis que teoricamente poderiam ser realizadas com maior ou menor dificuldade. A elevação da gradação está ligada à disposição da organização em realizar um esforço maior em prol da sustentabilidade. Sendo assim, designou-se insuficiente para as observações que não possuíssem nenhuma prática sustentável. A gradação fraco foi atribuída às observações que possuíssem de uma a três práticas de sustentabilidade que poderiam ser consideradas de caráter obrigatório, pois a redução dos gastos com impressão (item 2.5), redução do consumo de energia elétrica (item 2.6) e redução do consumo de água (item 2.7) constituem-se em medidas que já são amplamente difundidas nas organizações do COMAER, cuja implementação efetiva depende apenas do esforço de gestão das organizações. A gradação bom englobou, além das anteriores, a realização de compras sustentáveis (item 2.4) e a separação de resíduos sólidos (item 2.8), pois estas são práticas cujas implementações são mais complexas, em razão da possibilidade de criação de maiores dificuldades para as organizações devido à necessidade de enquadramento de terceiros (fornecedores e prestadores de serviços) às regras estabelecidas. 84 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica A classificação ótimo decorreu da utilização das práticas anteriormente elencadas e adicionalmente da realização de programas de qualidade de vida para o efetivo (item 2.9) e de programas de transporte do efetivo (item 2.10). Estas práticas são recomendadas pelo Governo Federal Brasileiro para constarem nos planos de logística sustentável das organizações, mas representam um esforço administrativo superior às anteriormente mencionadas, por possivelmente envolverem a utilização de profissionais que não pertencem aos quadros das organizações (psicólogos ou assistentes sociais, no caso do item 2.9), ou por exigirem equipamentos não disponíveis (viaturas em quantidade suficiente para apoio de todo o efetivo e em condições de funcionamento que impliquem uma redução da emissão de poluentes, no tocante ao item 2.10). O nível excelente decorreu da utilização, adicionalmente às práticas anteriores, de energias renováveis (item 2.11) e de uso de materiais ecologicamente corretos (item 2.12). Por último, o nível excepcional envolveu a realização, além de todas as práticas elencadas anteriormente, do plantio ou replantio de árvores (item 2.13). É importante ressaltar que, caso alguma organização já estivesse implementando o plano de logística sustentável na integralidade (sete práticas), obteria no critério ora estabelecido a classificação ótimo. A Tabela 17 permite identificar que 29 oficiais (9,7%) reportaram que nenhuma prática era realizada em sua organização. Uma parte expressiva da amostra (43,33%, n=130) reportou que as práticas sustentáveis em suas organizações apresentavam o grau fraco, com predominância da ocorrência de apenas duas práticas. O nível bom foi identificado em 65 ocorrências (21,7%). O grau ótimo foi verificado em 51 ocorrências (17%). O nível excelente foi reportado por 24 oficiais (8%). Apenas um oficial (0,3%) informou o nível excepcional para a sua organização. Constata-se, portanto, que a maior parte dos oficiais participantes do estudo (56%, n=168) relatou que as organizações do COMAER possuem entre uma e quatro práticas sustentáveis. A média geral das práticas sustentáveis verificada na amostra foi de 3,63 (σ = 2,52), o que representa uma gradação entre os níveis fraco e bom. Outra informação presente nos dados ora apresentados é que, pelas informações da grande maioria dos oficiais (84,3%, n=253), em geral as organizações ainda não realizam as sete práticas consignadas pelo Governo Federal para os planos de logística sustentável, pois apenas 15,7% da amostra as identificaram. 85 Apresentação e análise de dados Tabela 17 Nível de práticas de sustentabilidade Nível de práticas sustentáveis Nº de Percentual observações Percentual Acumulado Insuficiente (nenhuma prática) 29 9,7 9,7 Fraco (uma prática) 42 14,0 23,7 Fraco (duas práticas) 45 15,0 38,7 Fraco (três práticas) 43 14,3 53,0 Bom (4 práticas) 38 12,7 65,7 Bom (5 práticas) 27 9,0 74,7 Ótimo (6 práticas) 29 9,7 84,3 Ótimo (7 práticas) 22 7,3 91,7 Excelente (8 práticas) 12 4,0 95,7 Excelente (9 práticas) 12 4,0 99,7 Excepcional (10 práticas) 1 0,3 100 Total 300 Média 3,63 Desvio-padrão 2,52 6.4 Análise da escala de perfis éticos - MEP Realizou-se análise fatorial exploratória, com o método de fatoração dos eixos principais e rotação oblíqua PROMAX, nos 24 itens constantes da escala MEP. A medida de Kaiser-Meyer-Olkin foi de 0,896, considerada soberba por Field (2009). O teste de esfericidade de Bartlett foi estatisticamente significativo (χ 2 (276) = 2787,47 p<0,05). A análise das correlações múltiplas na matriz anti-imagem indicou que os valores da diagonal dessa matriz (correspondentes aos valores individuais de KMO) ficaram acima de 0,5 (Field, 2009). A decisão sobre o número de fatores a extrair levou em consideração os critérios do gráfico de sedimentação (scree plot), Joliffe e Kaiser. A análise do gráfico (Figura 8) induz à decisão de extração de apenas um fator, o que não é compatível com os objetivos deste estudo, pois é muito restritiva e não permite analisar as quatro principais escolas de filosofia moral. 86 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica Pelo método de Joliffe, que prevê a extração da quantidade de fatores correspondente ao número de autovalores superiores a 0,7, seria possível extrair 10 fatores, quantidade excessiva e que não atende aos objetivos do estudo por oferecer uma quantidade de fatores superior à quantidade de subescalas de filosofia moral (oito no total). Pelo método de Kaiser, seria possível extrair cinco fatores, com uma variância explicada de 46,60%. Esse quantitativo de fatores é adequado aos objetivos do estudo, pois encontra-se no intervalo entre quatro e oito subescalas de filosofia moral que podem ser analisadas. Figura 8. Gráfico scree plot da escala MEP Fonte: Extraído do IBM SPSS Statistics O primeiro fator extraído corresponde aos itens constantes em quatro subescalas: a) deontologia de atos (itens 3.19, 3.20 e 3.21); b) deontologia de regras (itens 3.22 e 3.23); c) virtude de outros (itens 3.16, 3.17 e 3.18); e d) utilitarismo de regras (itens 3.7 e 3.8). Ao analisarem-se os textos dos itens e buscar interpretá-los em conjunto, percebe-se que, pelo fato de a quantidade de itens deontológicos predominarem sobre os das outras duas escolas de filosofia moral, é possível interpretar todos no contexto de uma teoria ética com foco no cumprimento do dever. Considerando que a deontologia reflete a moral kantiana de agir de acordo com máximas universais, é possível perceber que as situações expostas nos outros quesitos exigem dos oficiais uma conduta alinhada a essa moralidade. Portanto, designou-se este fator de deontologia (Tabela 18). 87 Apresentação e análise de dados Tabela 18 Cargas fatoriais, CIT e alfa de Cronbach para o fator deontologia Questão Item 3.19 CF Dar a oportunidade a todos os que forem afetados, ou seus 0,70 CIT 0,55 representantes, de oferecerem sugestões no processo de tomada de decisão 3.16 Ser capaz de criar empatia com o efetivo 0,69 0,61 3.21 Tratar as pessoas como fins e não como meios 0,69 0,62 3.17 Agir abertamente ao tomar decisões 0,67 0,57 3.20 Tratar os outros como quer ser tratado 0,61 0,59 0,59 0,65 Estabelecer o cuidado com o efetivo como valor supremo na 0,55 0,62 3.8 Não prejudicar o efetivo 3.18 determinação de decisões alternativas 3.22 Assegurar que a confidencialidade é mantida em todas as 0,53 0,50 oportunidades 3.7 Gerar o máximo benefício possível para o efetivo da organização 0,49 0,58 3.23 Manter um processo justo em todas as ocasiões 0,49 0,53 0,87 α A análise da consistência interna do fator deontologia foi medida pela correlação item-total corrigido e a confiabilidade da escala pelo alfa de Cronbach (α), o qual indica que a confiabilidade da escala é boa, por estar no intervalo entre 0,7 e 0,8 (Hill & Hill, 2008). O segundo fator foi formado pela saturação dos itens pertencentes a três escalas diferentes, ou seja, o egoísmo reputacional (questões 3.3, 3.5 e 3.6), utilitarismo de regras (questões 3.9 e 3.10) e deontologia de regras (questão 3.24). A subescala predominante pertence a uma forma de egoísmo ético relacionado com a preocupação com a imagem da organização. A análise das questões evidencia que existe uma preocupação em desenvolver comportamentos que zelam pela reputação e bom funcionamento da organização. O bom funcionamento de uma organização contribui para a formação de uma forte imagem institucional. Portanto, designou-se este fator de egoísmo reputacional (Tabela 19). 88 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica Tabela 19 Cargas fatoriais, CIT e alfa de Cronbach para o fator egoísmo reputacional Questão Item 3.6 Estar alinhado com a missão organizacional CF 0,67 CIT 0,54 3.10 Obedecer as leis 0,63 0,49 3.9 Respeitar as regras organizacionais e regulamentos que foram 0,58 0,55 criados para o máximo benefício das partes interessadas (todas os segmentos da sociedade que alguma forma se relacionam com a organização) 3.3 Proteger a reputação da organização 0,48 0,45 3.5 Cumprir o orçamento anual da organização (curto prazo) 0,48 0,40 3.24 Assegurar que o dever de cuidar da organização é mantido em 0,43 0,48 todas as circunstâncias 0,75 α O terceiro fator extraído contempla três questões que pertencem à subescala da ética das virtudes, especificamente as questões 3.13, 3.14 e 3.15. Portanto, o fator extraído recebeu essa denominação (Tabela 20). Tabela 20 Cargas fatoriais, CIT e alfa de Cronbach para o fator ética das virtudes Questão Item CF CIT 0,73 3.14 Estar alinhado ao máximo com a pessoa que você quer ser 0,84 3.13 Estar ao máximo alinhado com seus valores pessoais 0,82 0,72 3.15 Respeitar a dignidade daqueles afetados por suas decisões 0,64 0,57 0,81 α O quarto fator também não apresentou problemas de interpretação para a sua denominação, pois os dois itens que o compõem pertencem à escala utilitarismo de atos (questões 3.11 e 3.12). A Tabela 21 apresenta as relevantes informações sobre o fator extraído. 89 Apresentação e análise de dados Tabela 21 Cargas fatoriais, CIT e alfa de Cronbach para o fator utilitarismo Questão Item 3.11 Criar o mais amplo benefício possível para a comunidade local CF CIT 0,67 0,57 0,58 0,57 (próxima à organização) 3.12 Criar o mais amplo benefício geral para a sociedade como um todo 0,73 α O quinto, e último, fator extraído também não apresentou dificuldades para receber uma designação, pois apresentou-se como o conjunto dos quesitos que compõem a subescala egoísmo econômico (itens 3.1, 3.2 e 3.4). A tabela 22 consolida as informações mais relevantes desse fator. O valor do alfa de Cronbach indica que a confiabilidade da escala é fraca, mas aceitável, pois apresenta-se no intervalo entre 0,6 e 0,7 (Hill & Hill, 2008). Tabela 22 Cargas fatoriais, CIT e alfa de Cronbach para o fator egoísmo econômico Questão Item 3.2 Minimizar os custos para a organização 3.1 3.4 Prover o máximo ganho financeiro possível para a organização Otimizar a utilização dos recursos destinados ao seu setor de trabalho CF 0,71 CIT 0,48 0,48 0,43 0,37 0,37 0,62 α 6.4.1 Análise confirmatória da escala MEP Identificadas as variáveis latentes da escala MEP, especificou-se um modelo com o objetivo de realizar a análise fatorial confirmatória. A especificação do modelo de medida é ilustrada na Figura 9, a qual mostra as vinte e quatro variáveis observadas (representadas pelos retângulos de I3.1 a I3.24) e seus erros associados, e as cinco variáveis latentes exógenas (elipses representando os fatores extraídos na AFE). A identificação do modelo realizada pelo software IBM SPSS AMOS foi bem sucedida, tendo sido calculados duzentos e trinta e quatro graus de liberdade e feitas as identificações dos parâmetros livres e dos sujeitos a restrições. 90 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica Após especificado e identificado, o modelo de medida foi estimado com o método da máxima verossimilhança. Os valores extremos foram verificados e analisados no contexto das respostas dadas pelos oficiais. Não houve ocorrência de dados ausentes. O modelo de medida especificado (Figura 9) apresentou o inconveniente de os erros de diversos itens (3.1, 3.2, 3.4, 3.7, 3.8, 3.13, 3.15, 3.16, 3.17, 3.18, 3.20, 3.22 e 3.23) compartilharem covariâncias, não somente dentro dos fatores a que correspondem, o que poderia ser admitido (Lisboa et al., 2012), mas também fora dele. O reconhecimento dessas covariâncias criaria particularidades que trariam dificuldades para a generalização ou replicação do modelo em outras amostras. Portanto, como o fator deontologia possuía 7 quesitos cujos erros compartilhavam covariâncias com outros itens, optou-se por retirar os itens 3.7, 3.16, 3.20 e 3.22, pois as questões remanescentes ainda ofereceriam parâmetros livres suficientes para comporem um modelo de medida. Foi também retirada a questão 3.1 do fator egoísmo econômico, que compartilhava covariância com a questão 3.2. Retiradas as questões, efetuou-se nova análise fatorial confirmatória nos dados remanescentes. O modelo de medida foi reespecificado e novamente submetido à identificação, tendo sido calculados cento e quarenta e dois graus de liberdade. Obteve-se um novo modelo com um ajustamento superior ao anterior, e portanto com melhores condições de ser reproduzido e generalizado. A Figura 10 evidencia a nova especificação do modelo de medida para o MEP. A Tabela 23 apresenta a matriz das correlações, variâncias, covariâncias, médias e desvios-padrões das variáveis observadas. As variâncias estão em negrito na diagonal. A parte inferior esquerda contém as covariâncias. As correlações encontram-se na parte superior direita da matriz. Os valores obtidos com a estimação pelo método da máxima verossimilhança (χ 2/df = 1,93, CFI = 0,93, RMSEA = 0,06) indicam um bom ajustamento entre o modelo e os dados observados. O valor do rácio do Qui-quadrado calculado no modelo foi de 1,93, portanto inferior ao recomendado por Tabachnick e Fidell (2007) e Kline (2011). O CFI do modelo é superior a 0,90 (Jaccard & Wan, 1996). O valor do RMSEA de 0,06 também é considerado adequado (Hu & Bentler, 1995). Pelo exposto, verifica-se que o modelo de medida confirma a adequabilidade da escala para a avaliação do perfil ético dos oficiais da amostra. A Tabela 24 mostra os coeficientes estandardizados e não estandardizados das regressões múltiplas que compõem o 91 Apresentação e análise de dados modelo de medida da escala MEP. Os valores apresentados indicam que as variáveis latentes exógenas geradas são confiáveis, pois o valor do R2 (confiabilidade individual do item) de cada variável latente é superior a 0,20, valor considerado recomendado para que se possa considerar o indicador aceitável (Lisboa et al., 2012). AFC - NRI Chi2(234)=476,286; p=,000; R_Chi2df=2,035 CFI=,907; PCFI=,769; GFI=,885; PGFI=,690 RMSEA=,059; p(rmsea<=0.05)=,028 ,85 e21 I3.4 e20 I3.2 e19 I3.1 e8 I3.19 e7 I3.21 e6 I3.8 e5 I3.17 e4 I3.18 e3 I3.7 e2 I3.20 e1 I3.16 e22 I3.22 e23 I3.23 ,21 ,08 Egoismo Economico Deontologia ,32 ,33 ,47 e26 I3.15 e18 I3.13 e17 I3.14 e14 I3.24 e25 I3.3 e12 I3.5 e11 I3.9 e10 I3.6 e9 I3.10 e16 I3.12 e15 I3.11 ,65 ,71 Etica das Virtudes ,38 ,29 ,22 ,46 ,35 Egoismo Reputacional ,32 ,57 Utilitarismo Figura 9. Análise fatorial confirmatória da escala MEP Fonte: Extraído do AMOS 92 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica AFC - NRI Chi2(142)=273,785; p=,000; R_Chi2df=1,928 CFI=,928; PCFI=,771; GFI=,915; PGFI=,684 RMSEA=,056; p(rmsea<=0.05)=,167 ,88 e21 I3.4 ,94 ,22 e20 I3.2 e8 I3.19 e7 I3.21 ,46 Egoismo Economico ,34 ,43 ,65 ,50 e6 ,70 I3.8 ,36 e5 ,57 ,58 I3.17 ,42 e4 I3.18 e23 I3.23 Deontologia ,60 ,46 ,65 ,58 ,34 ,74 ,58 ,47 e26 I3.15 e18 I3.13 ,65 ,69 e17 I3.14 e14 I3.24 ,69 Etica das Virtudes ,81 ,83 ,71 ,46 ,37 ,29 e25 ,61 I3.3 ,54 ,22 e12 ,47 I3.5 ,47 e11 I3.9 ,68 ,57 I3.6 ,62 ,32 e9 ,50 Egoismo Reputacional ,59 ,35 e10 ,63 ,56 I3.10 ,56 e16 ,59 e15 ,75 I3.12 ,77 Utilitarismo I3.11 Figura 10. Modelo de medida para a escala MEP (após exclusão de itens) Fonte: Extraído do AMOS 93 Tabela 23. Correlações, variâncias, covariâncias, médias e desvios-padrões da escala MEP I3.2 I3.3 I3.4 I3.5 I3.6 I3.8 I3.9 I3.10 I3.11 I3.12 I3.13 I3.14 I3.15 I3.17 I3.18 I3.19 I3.21 I3.23 I3.24 I3.2 0,599 ,244** ,436** ,152** ,152** ,180** ,214** ,235** ,185** 0,085 ,133* ,169** ,126* ,190** 0,095 ,176** 0,108 ,169** ,134* I3.3 0,089 0,223 ,328** ,213** ,373** ,358** ,399** ,308** ,180** ,167** ,252** ,278** ,233** ,246** ,186** ,186** ,210** ,208** ,283** I3.4 0,228 0,105 0,458 ,203** ,329** ,370** ,366** ,330** ,368** ,286** ,330** ,344** ,377** ,292** ,293** ,403** ,317** ,386** ,317** I3.5 0,089 0,076 0,104 0,572 ,350** ,200** ,307** ,303** ,279** ,267** ,150** ,168** ,229** ,150** ,231** ,197** ,186** ,222** ,258** I3.6 0,051 0,076 0,096 0,114 0,187 ,198** ,357** ,339** ,320** ,254** ,251** ,264** ,336** ,155** ,234** ,163** ,208** ,273** ,400** I3.8 0,108 0,131 0,194 0,117 0,066 0,6 ,346** ,289** ,309** ,280** ,476** ,462** ,494** ,372** ,486** ,467** ,415** ,377** ,314** I3.9 0,106 0,121 0,159 0,149 0,099 0,172 0,411 ,407** ,305** ,352** ,299** ,311** ,395** ,333** ,302** ,297** ,304** ,423** ,405** I3.10 0,078 0,062 0,096 0,098 0,063 0,096 0,112 0,184 ,228** ,258** ,236** ,240** ,267** ,171** ,246** ,136* ,186** ,379** ,322** I3.11 0,146 0,087 0,254 0,215 0,141 0,244 0,199 0,1 1,038 ,574** ,242** ,273** ,273** ,250** ,402** ,313** ,364** ,205** ,296** I3.12 0,056 0,067 0,164 0,171 0,093 0,183 0,191 0,094 0,495 0,715 ,335** ,339** ,343** ,241** ,389** ,277** ,281** ,264** ,325** I3.13 0,082 0,095 0,178 0,09 0,086 0,293 0,152 0,081 0,196 0,225 0,632 ,709** ,518** ,308** ,375** ,259** ,355** ,297** ,232** I3.14 0,112 0,112 0,199 0,108 0,098 0,306 0,17 0,088 0,237 0,245 0,482 0,731 ,540** ,327** ,415** ,266** ,380** ,300** ,233** I3.15 0,058 0,065 0,151 0,103 0,086 0,227 0,15 0,068 0,165 0,172 0,244 0,274 0,352 ,427** ,382** ,257** ,468** ,443** ,297** I3.17 0,104 0,082 0,14 0,081 0,047 0,204 0,151 0,052 0,18 0,145 0,174 0,198 0,18 0,502 ,380** ,353** ,471** ,401** ,317** I3.18 0,058 0,069 0,155 0,136 0,079 0,294 0,151 0,082 0,32 0,257 0,233 0,277 0,177 0,21 0,61 ,407** ,411** ,296** ,340** I3.19 0,105 0,068 0,21 0,114 0,054 0,278 0,147 0,045 0,245 0,18 0,158 0,175 0,117 0,192 0,245 0,592 ,393** ,289** ,306** I3.21 0,069 0,081 0,176 0,115 0,074 0,263 0,16 0,065 0,304 0,195 0,231 0,266 0,227 0,273 0,263 0,247 0,67 ,406** ,346** I3.23 0,072 0,054 0,145 0,093 0,066 0,162 0,15 0,09 0,116 0,124 0,131 0,142 0,146 0,158 0,128 0,123 0,184 0,307 ,431** I3.24 0,065 0,084 0,135 0,123 0,109 0,153 0,163 0,087 0,19 0,173 0,116 0,125 0,111 0,141 0,167 0,148 0,178 0,15 0,396 Média 4,42 4,8 4,51 4,49 4,8 4,36 4,51 4,85 3,67 4,13 4,48 4,35 4,68 4,4 3,93 4,05 4,25 4,69 4,54 DP 0,774 0,472 0,677 0,756 0,433 0,775 0,641 0,429 1,019 0,846 0,795 0,855 0,593 0,709 0,781 0,77 0,818 0,554 0,629 ** Correlação é significativa a p<0,01 (2-tailed). * Correlação é significativa a p<0,05 level (2-tailed). A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica Tabela 24 Valores estandardizados e não estandardizados da escala MEP Parâmetros Estimativas do Modelo de Medida Deontologia ! I3.18 Deontologia ! I3.17 Deontologia ! I3.8 Deontologia ! I3.21 Deontologia ! I3.19 Egoísmo Reputacional ! I3.10 Egoísmo Reputacional ! I3.6 Egoísmo Reputacional ! I3.9 Egoísmo Reputacional ! I3.5 Egoísmo Reputacional ! I3.24 Utilitarismo ! I3.11 Utilitarismo ! I3.12 Ética das Virtudes ! I3.14 Ética das Virtudes ! I3.13 Egoísmo Econômico ! I3.2 Egoísmo Econômico ! I3.4 Deontologia ! I3.23 Ética das Virtudes ! I3.15 Egoísmo Reputacional ! I3.3 *** Significativo a p<0,01 B 0,928 0,776 1 0,978 0,823 1 1,056 1,801 1,452 1,58 1 0,812 1 0,903 0,566 1 0,588 0,575 1,044 SE 0,092 0,083 β 0,097 0,09 0,138 0,216 0,226 0,203 0,09 0,064 0,107 0,065 0,048 0,146 0,649 0,598 0,705 0,653 0,583 0,569 0,595 0,684 0,468 0,612 0,766 0,749 0,832 0,808 0,465 0,939 0,58 0,689 0,539 R2 p *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** 0,421 0,358 0,497 0,426 0,340 0,324 0,354 0,468 0,219 0,375 0,587 0,561 0,692 0,653 0,216 0,882 0,336 0,475 0,291 6.5 Modelo estrutural completo Nesta etapa, o modelo teórico simplificado apresentado na Figura 7 pode finalmente ser apresentado na íntegra, com todas as variáveis envolvidas. Para tanto, utilizou-se o método do modelo de equações estruturais para testar o modelo teórico, no qual se pode avaliar como as variáveis em estudo se comportaram em interação. A Figura 11 apresenta o modelo teórico completo, que contém todas as relações que se buscou investigar entre as variáveis latentes, e entre estas e a variável observada quantidade de práticas de sustentabilidade, as quais refletem as hipóteses formuladas. O modelo especificado possui 110 variáveis no total, sendo 44 variáveis observadas, 52 variáveis representativas dos erros associados à medição das variáveis e 14 variáveis latentes. O programa AMOS calculou 868 graus de liberdade para o modelo. A fixação dos parâmetros livres e sujeitos a restrição permitiram a identificação do modelo. 95 Apresentação e análise de dados AFC - NRI Chi2(868)=1313,301; p=,000; R_Chi2df=1,513 CFI=,883; PCFI=,810; GFI=,835; PGFI=,732 RMSEA=,041; p(rmsea<=0.05)=,999 1,00 Quantidade de práticas de Sustentabilidade ,27 e1 I1.2 e2 I1.7 I1.8 ,36 e4 I1.15 ,52 Egoismo Economico Influencia Idealizada ,60 -,90 ,58 e6 I1.1 ,52 ,43 e7 ,65 I1.6 e8 I1.12 ,84 I1.14 I1.10 ,21 e11 I1.20 ,47 e12 ,70 ,48 ,46 I1.21 Consideracao Individualizada ,48 I1.18 e18 e19 ,62 e21 I1.13 ,66 ,67 ,54 ,74 ,57 I1.19 e58 ,26 ,53 ,28 I3.14 ,93 ,75 Lideranca Transacional ,61 Deontologia e52 Fonte: Extraído do AMOS (elaborado pelo autor) e35 e36 ,49 e37 ,37 I3.17 I3.18 ,58 ,65 e60 ,76 e34 e39 ,42 ,65 ,63 ,71 ,47 I3.8 -,06 ,58 Recompensa Contingente I3.13 ,63 e59 e33 ,65 I3.15 Figura 11. Modelo estrutural completo 96 ,55 ,69 ,70 e51 ,43 I1.11 2.3 ,55 I1.22 e20 e32 , ,69 ,83 Etica das Virtudes Punicao Contingente ,70 I1.5 ,49 ,81 ,77 ,30 ,71 I1.9 ,45 e22 2.2 e50 ,49 I3.11 ,74 ,47 ,38 ,15 ,23 I1.3 I1.17 ,78 -,26 Nível Sensib. ,24 ,45 I1.4 ,71 ,84 e17 -,17 I3.12 ,51 e16 -,06 e31 ,60 ,56 Utilitarismo ,39 e15 e30 I3.24 ,69 ,36 ,60 e14 ,46 ,38 2,45 Motivacao Inspiracional ,20 e13 ,32 ,76 ,49 e29 I3.10 ,61 -,15 -3,15 ,23 e10 I3.9 ,62 e49 e28 ,46 ,46 ,57 ,63 ,40 e9 I3.6 ,68 -,53 e27 ,36 ,60 Lideranca Transformacional ,84 Estimulacao Intelectual ,36 ,60 I3.5 ,47 Egoismo Reputacional ,32 e26 ,23 ,58 ,54 ,96 ,85 3,47 ,71 e25 I3.3 e61 ,27 I3.4 ,29 -,01 ,75 e48 I1.16 e24 ,89 ,94 -,38 ,34 e5 ,21 I3.2 ,46 ,56 ,56 ,27 e3 e47 ,52 ,31 e46 -,28 e40 ,33 I3.19 e41 ,42 I3.21 e43 ,34 I3.23 e45 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica Após a especificação e identificação no AMOS, o modelo foi estimado com o método da máxima verossimilhança, tendo sido obtidos indicadores de avaliação do ajustamento aceitáveis (χ 2/df = 1,51, CFI = 0,88, RMSEA = 0,04). O valor do rácio está abaixo dos limites máximos recomendados por Tabachnick e Fidell (2007) e Kline (2011). O valor de CFI é marginalmente aceitável, pois o arredondamento a uma casa decimal oferece o valor de 0,9, considerado aceitável (Jaccard & Wan, 1996). O valor de RMSEA está bem abaixo dos máximos permitidos para um ajustamento adequado (Hu & Bentler, 1995). Portanto, a avaliação global do modelo fornecida pelos valores de ajustamento indica a sua aceitabilidade. Não obstante os valores de ajustamento obtidos terem sido considerados satisfatórios, algumas relações expressas nas hipóteses não apresentaram significância estatística. Com o objetivo de permitir a visualização apenas das relações estatisticamente significativas, as não significativas foram retiradas e o modelo novamente processado no AMOS. A Figura 12 apresenta o modelo apenas com as relações encontradas com significância estatística. Os valores dos coeficientes (B e β) de regressão significativos encontrados, assim como os efeitos totais significativos entre as variáveis latentes (estilos de liderança, filosofias morais e nível de sensibilidade), e destas sobre a variável observada (práticas de sustentabilidade) são apresentados nas Tabelas 25 e 26. Os coeficientes estandardizados (β) na ordem de 0,5 (arredondados a uma casa decimal) ou superiores indicam que as variáveis observadas medem adequadamente as variáveis latentes a que estão relacionadas (Lisboa et al., 2012). O modelo estrutural permite identificar uma associação positiva e estatisticamente significativa entre o nível de sensibilidade e as práticas sustentáveis (β=0,276, p<0,01). indicando que o nível de sensibilidade possui efeitos diretos positivos e significativos sobre as práticas de Sustentabilidade. A condição R2 = 0,076 indica que a intensidade desse efeito direto é tênue (Tabela 25). Observa-se também que o utilitarismo está associado positiva, e de forma estatisticamente significativa, às práticas de sustentabilidade (β=0,242, p<0,01), comprovando a existência de efeito direto sobre essa variável. A intensidade dessa associação (R2=0,059) também é tênue (Tabela 25). É possível identificar também que o egoísmo reputacional está associado negativamente à liderança transacional (β=-0,376, p<0,05). Tal associação, mensurada com 97 Apresentação e análise de dados R2 = 0,141, permite afirmar que o estilo transacional explica em 14,1% a adoção dessa forma de egoísmo ético (Tabela 25). A deontologia, por sua vez, está positivamente associada aos estilos transformacional (β=0,496, p<0,01) e transacional (β=0,866, p<0,01). A força dessa associação pode ser considerada moderada (R2 = 0,246) em relação à liderança transformacional e forte (R2 = 0,750) com relação à liderança transacional (Tabela 25). O modelo estrutural permite verificar também efeitos diretos do nível de sensibilidade sobre os estilos de liderança transacional e transformacional (β=0,552, p<0,01). Como os coeficientes de regressão são iguais, os valores de R2 também são os mesmos e indicam que 30,5% do nível de sensibilidade é explicado por cada estilo (Tabela 25). Tabela 25 Estimativas das variáveis latentes do modelo estrutural Estimativas do Modelo Estrutural Liderança Transacional ! Punição Contingente Liderança Transacional ! Negociação de Trocas Liderança Transformacional ! Influência Idealizada Liderança Transformacional ! Estimulação Intelectual Liderança Transformacional ! Motivação Inspiracional Liderança Transformacional ! Consideração Individualizada Estimativas dos Efeitos Diretos no modelo Nível de Sensibilidade ! Quant_prtk_sust Utilitarismo ! Quant_prtk_sust Deontologia ! Liderança Transformacional Deontologia ! Liderança Transacional Nível de Sensibilidade ! Liderança Transformacional Egoísmo Reputacional ! Liderança Transacional Nível de Sensibilidade ! Liderança Transacional *** Significativo a p<0,01 98 B SE 1 1,124 β P 0,52 0,259 1 0,537 R2 0,270 *** 0,74 0,288 0,548 2,489 0,416 0,831 *** 0,691 1,091 0,222 0,853 *** 0,728 0,719 0,185 0,494 *** 0,244 1,422 0,763 0,199 0,493 0,412 0,204 0,038 0,121 0,276 0,242 0,496 0,866 *** *** *** *** 0,076 0,059 0,246 0,750 0,246 0,057 0,552 *** 0,305 -0,451 0,226 -0,376 0,046 0,141 0,348 0,094 0,552 *** 0,305 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica AFC - NRI Chi2(880)=1335,006; p=,000; R_Chi2df=1,517 CFI=,880; PCFI=,819; GFI=,833; PGFI=,741 RMSEA=,042; p(rmsea<=0.05)=,999 ,13 Quantidade de práticas de Sustentabilidade ,27 e1 I1.2 ,22 e47 ,52 ,31 e2 I1.7 e3 I1.8 e4 I1.15 ,36 ,53 Egoismo Economico Influencia Idealizada ,60 e61 ,24 ,53 I1.12 e9 I1.14 e10 I1.10 ,35 ,68 ,63 e11 I1.20 ,47 e12 I1.21 e13 I1.4 ,73 ,48 ,46 I3.24 Utilitarismo Nível Sensib. ,24 ,46 Consideracao Individualizada ,65 I1.18 ,62 I1.17 ,49 e18 I1.22 e19 I1.5 ,65 ,53 ,73 I1.13 e22 I1.19 ,60 I3.14 ,69 ,54 ,29 I3.15 ,69 ,72 e36 Deontologia I3.18 ,58 ,64 e52 e37 ,36 e39 ,42 ,65 ,87 I3.8 I3.17 ,60 e60 ,77 e35 ,48 ,58 Recompensa Contingente e34 ,47 ,63 e59 Lideranca Transacional e33 ,70 ,84 2.3 ,52 ,67 I3.13 ,74 e51 I1.11 e21 e58 ,70 ,45 Etica das Virtudes Punicao Contingente ,43 ,65 ,73 ,81 ,58 e32 ,55 ,74 ,55 ,27 ,71 I1.9 ,72 ,85 e20 2.2 e50 ,51 e17 I3.11 ,48 ,50 ,52 ,27 ,42 I1.3 -,38 e31 ,61 I3.12 ,38 e16 ,56 ,78 ,69 ,35 ,59 e15 ,55 ,49 e30 ,38 ,61 Motivacao Inspiracional ,21 e14 e29 ,32 ,46 I3.10 ,85 e49 e28 ,47 I3.9 ,57 ,23 ,21 ,46 ,61 ,40 e27 I3.6 Egoismo Reputacional Lideranca Transformacional ,83 Estimulacao Intelectual ,35 ,59 ,28 ,69 ,67 I3.5 ,47 ,60 ,55 e26 ,22 ,54 ,74 e48 I1.6 e25 I3.3 I1.16 ,45 e8 I3.4 ,58 ,28 e7 ,94 ,58 I1.1 e24 ,88 ,29 ,33 e6 I3.2 ,47 ,55 ,56 ,28 e5 e46 e40 ,33 I3.19 e41 ,41 I3.21 e43 ,34 I3.23 e45 Figura 12. Modelo estrutural final Fonte: Elaborado pelo autor 99 Apresentação e análise de dados Tabela 26 Estimativas das variáveis observadas do modelo estrutural Parâmetros Estimativas do Modelo de Medida Influência Idealizada ! I1.7 Influência Idealizada ! I1.2 Estimulação Intelectual ! I1.6 Estimulação Intelectual ! I1.1 Motivação Inspiracional ! I1.20 Motivação Inspiracional ! I1.10 Consideração Individualizada ! I1.18 Consideração Individualizada ! I1.4 Punição Contingente ! I1.9 Punição Contingente ! I1.3 Negociação de Trocas ! I1.11 Negociação de Trocas ! I1.5 Influência Idealizada ! I1.8 Influência Idealizada ! I1.15 Influência Idealizada ! I1.16 Negociação de Trocas ! I1.13 Negociação de Trocas ! I1.19 Punição Contingente ! I1.17 Punição Contingente ! I1.22 Motivação Inspiracional ! I1.21 Estimulação Intelectual ! I1.12 Estimulação Intelectual ! I1.14 Deontologia ! I3.18 Deontologia ! I3.19 Deontologia ! I3.17 Deontologia ! I3.8 Deontologia ! I3.21 Deontologia ! I3.23 Ética das Virtudes ! I3.15 Ética das Virtudes ! I3.14 Ética das Virtudes ! I3.13 Egoísmo Econômico ! I3.4 Egoísmo Econômico ! I3.2 Utilitarismo ! I3.12 Utilitarismo ! I3.11 Egoísmo Reputacional ! I3.6 Egoísmo Reputacional ! I3.5 Egoísmo Reputacional ! I3.3 Egoísmo Reputacional ! I3.9 Egoísmo Reputacional ! I3.10 Egoísmo Reputacional ! I3.24 Nível de Sensibilidade ! I2.3 Nível de Sensibilidade ! I2.2 *** Significativo a p<0,01 100 B 1 1,319 1 0,635 1 1,084 1 0,946 1 0,944 1 1,076 1,21 1,226 1,243 1,204 1,318 1,184 1,03 1,618 0,628 0,781 0,942 0,825 0,797 1 0,976 0,602 0,636 1,115 1 1,759 1 0,791 1 1,009 1,388 1 1,713 0,956 1,512 1 1,27 SE 0,204 0,087 0,206 0,306 0,098 0,117 0,187 0,175 0,181 0,12 0,128 0,099 0,096 0,269 0,079 0,094 0,094 0,092 0,085 0,098 0,066 0,054 0,079 0,331 0,085 0,136 0,221 0,214 0,133 0,201 0,246 β 0,557 0,524 0,668 0,527 0,456 0,481 0,589 0,456 0,714 0,62 0,668 0,652 0,526 0,6 0,577 0,73 0,772 0,848 0,701 0,689 0,591 0,63 0,648 0,576 0,604 0,694 0,641 0,584 0,687 0,836 0,806 0,937 0,466 0,741 0,778 0,595 0,469 0,541 0,682 0,569 0,614 0,519 0,647 p *** *** *** 0,002 *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** *** R2 0,310 0,275 0,446 0,278 0,208 0,231 0,347 0,208 0,510 0,384 0,446 0,425 0,277 0,360 0,333 0,533 0,596 0,719 0,491 0,475 0,349 0,397 0,420 0,332 0,365 0,482 0,411 0,341 0,472 0,699 0,650 0,878 0,217 0,549 0,605 0,354 0,220 0,293 0,465 0,324 0,377 0,269 0,419 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica Finalizadas as análises estatísticas para mensuração das relações entre as variáveis em estudo, passa-se à discussão dos resultados, etapa em que as hipóteses formuladas serão aceitas ou refutadas. 101 Apresentação e análise de dados 102 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica CAPÍTULO 7 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Neste capítulo, realiza-se a discussão dos resultados encontrados à luz da literatura existente sobre o tema. As duas primeiras hipóteses do presente estudo afirmavam que a existência de práticas sustentáveis no COMAER era influenciada pelos estilos de liderança transacional e transformacional. Entretanto, o modelo estrutural não identificou influência estatisticamente significativa dos estilos transformacional e transacional sobre as práticas de sustentabilidade, ou seja, os estilos de liderança não possuem efeitos diretos sobre a existência dessas práticas. Portanto, as hipóteses H1 e H2 não se confirmaram. A fraca existência de práticas sustentáveis no COMAER não permitiu corroborar o que Angus-Leppan et al. (2009), Robertson e Barling (2013) e Rego et al. (2013) concluíram sobre a associação entre os estilos de liderança, em especial o transformacional, e as práticas de RS, especificamente a sustentabilidade. Uma das razões para a incompatibilidade entre estes resultados e o estudo de AngusLeppan et al. (2009) é o fato de as práticas de RS examinadas serem voltadas diretamente para os seguidores em um contexto de responsabilidade social nas organizações privadas, o que não ocorre com as práticas sustentáveis consideradas neste estudo, as quais possuem um viés sócio-ambiental na administração pública. Os indicadores utilizados neste estudo são qualitativamente diferentes, assim como os contextos em que são estudados. A inconsistência entre os resultados deste estudo e os de Robertson e Barling (2013) decorrem do fato de que nesta pesquisa buscou-se, a partir da existência de práticas sustentáveis, verificar se existiam estilos de liderança associados, enquanto que naquele estudo foi identificado, também com a utilização de equações estruturais, que comportamentos pró-ambientais específicos de liderança transformacional levaram ao desenvolvimento de práticas sustentáveis pelos seguidores. A falta de associação significativa entre os estilos de liderança e as práticas sustentáveis de certa forma vai ao encontro do que Yukl (1989) afirma criticamente sobre o excessivo peso que se atribui à liderança sobre a eficácia organizacional. Segundo o autor, a liderança é parte fundamental no processo, mas sua influência está condicionada a diversas variáveis que estão presentes no contexto da dinâmica organizacional e que condicionam ou restringem o desempenho dos líderes. No caso específico do COMAER, conclui-se que apenas os estilos de liderança não são suficientes para que as práticas sustentáveis ocorram em níveis elevados. A constatação é 103 Discussão dos resultados bem coerente para a realidade da gestão pública, e talvez diferente do que se poderia esperar em uma administração privada mais flexível, onde os gestores e líderes têm, teoricamente, maior autonomia de ação. Os oficiais trabalham em estruturas administrativas com regras rígidas, que de certa forma podem oferecer restrições para iniciativas sustentáveis. As ações decorrem daquilo que está previsto, planejado e determinado pelas organizações e seus órgãos superiores. Na prática, as ações desenvolvidas nas organizações não refletem necessariamente os estilos dos líderes, mas sim as decisões tomadas em níveis superiores onde se estabelecem a visão e a missão das organizações. As atividades de liderança nas organizações seguem as decisões tomadas no nível estratégico do COMAER, o que não poderia ser diferente, uma vez que é essa a essência do militarismo. Sendo assim, é fundamental que os órgãos decisórios superiores assimilem o pensamento sustentável e disseminem essa nova orientação de forma coordenada, pois somente assim as lideranças nas organizações perceberão de maneira inequívoca que estão no rumo correto. O tema da sustentabilidade é recente na administração pública brasileira, e sobretudo no meio militar. O fato de o Governo Federal estabelecer a obrigatoriedade de criação dos planos de logística sustentável não estabelece automaticamente uma assimilação desse encargo como um novo objetivo organizacional. É possível que essa nova obrigação seja vista como mais um elemento complicador da gestão organizacional. Sendo assim, será necessário um esforço gerencial coordenado para conduzir uma mudança planejada (Burnes & By, 2011), com o objetivo de as organizações aderirem aos conceitos de sustentabilidade e empenharem-se verdadeiramente nesse novo paradigma. Metcalf e Benn (2012) já haviam afirmado que o estilo de liderança não é o mais importante para a sustentabilidade, pois o que define o processo é a capacidade dos líderes de concretizarem iniciativas sustentáveis. Os líderes, independentemente do estilo, é que devem possuir competências extraordinárias. Contudo, é extremamente necessário que essas competências sejam valorizadas e estimuladas pelos escalões superiores, para que o patamar das práticas sustentáveis saia dos níveis insuficiente ou fraco e alcancem os padrões de excelência definidos pelo Governo Federal nos Planos de Logística Sustentável. Essa conquista somente pode ser alcançada se os líderes encontrarem apoio em um estrutura que lhe proporcione orientações específicas (linha de ação) sobre o que devem fazer, apoio adequado para o que precisam desenvolver e feedback sobre o desempenho sustentável obtido. 104 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica A terceira hipótese afirmava que a existência de práticas sustentáveis nas organizações do COMAER é influenciada pelo nível de sensibilidade para a sustentabilidade dos líderes. O modelo estrutural identificou uma associação positiva e estatisticamente significativa entre essas variáveis, o que permite confirmar H3. A confirmação da hipótese atesta o que Barracho (2012) afirma sobre as preferências pessoais dos líderes no contexto da teoria racional da decisão. As preferências pessoais dos líderes influenciam seu processo de escolha, o qual também depende do nível de informação de que dispõe para decidir. Pode-se afirmar, portanto, que quanto mais os líderes se interessarem pelo tema e mais conhecerem sobre a sustentabilidade, situando-a entre os assuntos de seu interesse, mais decisões em prol de práticas sustentáveis se verificarão. A sensibilização para o assunto é importante e deve ser acompanhada de outros atos de gestão que confiram eficácia às ações sustentáveis. A elaboração de uma política ambiental própria criaria uma estrutura na qual os líderes encontrariam um terreno fértil para levar à frente iniciativas sustentáveis, além de receberem uma clara indicação de que estão em alinhamento com os objetivos estabelecidos pelas instâncias superiores. A quarta hipótese indicava que a existência de práticas sustentáveis é influenciada pelo perfil ético dos líderes organizacionais. O modelo estrutural completo permitiu verificar uma associação positiva e estatisticamente significativa entre o utilitarismo e as práticas de sustentabilidade. Contudo, a deontologia, a ética das virtudes e os egoísmos econômico e reputacional não se apresentaram significativamente associados às práticas sustentáveis. Sendo assim, confirma-se parcialmente H4. O pensamento utilitarista compatibiliza-se com a essência dos princípios que norteiam o desenvolvimento sustentável, os quais preconizam que as decisões tomadas no presente não podem comprometer as escolhas e o direito das gerações atuais e futuras de ter um meio ambiente preservado. As práticas sustentáveis são um exemplo por excelência de ações executadas no interesse da maioria da sociedade. Essa moralidade de preservar o interesse coletivo e de maximizar o bem comum está inserida no arcabouço teórico do utilitarismo. Essas conclusões indicam que é positivo e importante que o pensamento utilitarista se encontre associado às práticas sustentáveis, sendo de esperar que os líderes que adotarem tal orientação filosófica executarão mais ações práticas em favor da maximização do bem comum. A importância de se verificar essa associação é a de que a justificação moral para a opção pela sustentabilidade encontra na filosofia utilitarista um ponto de vista que pode ser explorado. Em outros termos, é possível que a aceitação da ideia de beneficiar a sociedade 105 Discussão dos resultados por intermédio da sustentabilidade tenha mais apelo no meio militar do que desenvolver um raciocínio deontológico (fazer porque é mandatório e moralmente correto cuidar do meio ambiente) ou de egoísmo ético (praticar a sustentabilidade porque é bom para a imagem das organizações ou porque elas podem auferir algum benefício econômico). A quinta hipótese afirmava que os estilos de liderança são influenciados pelas teorias éticas de filosofia moral. Verificou-se neste estudo que o egoísmo reputacional apresentou-se negativamente associado à liderança transacional. A deontologia, por sua vez, positivamente associada aos dois estilos pesquisados. Não se observaram associações significativas entre a ética das virtudes e as duas formas de egoísmo ético e os estilos de liderança. Portanto, a hipótese H5 está parcialmente comprovada. A interpretação para a associação negativa entre o egoísmo reputacional e a liderança transacional deve-se ao fato de que esta, por ser o estilo caracterizador das formas tradicionais de liderança, baseadas em processos de trocas, recompensas e punições, relaciona-se de forma inversa com comportamentos que caracterizam uma preocupação exclusiva com o funcionamento e a imagem da organização. Portanto, quanto mais os líderes se preocupam com os aspectos puramente relacionados com o funcionamento da organização (burocracia), menos interessados estarão nos mecanismos de interação com os subordinados. Perder-se-ia, portanto, o sentido da liderança e partir-se-ia para a gestão puramente impessoal, na qual o funcionamento burocrático passaria a ser um fim em si mesmo, e não um meio para a satisfação das necessidades dos subordinados. Não se busca neste momento reforçar a dicotomia entre líderes e gestores, pois estes, na visão de Yukl (2010), comportam-se como líderes para alcançar a eficácia organizacional. O que se vislumbra com essa associação negativa é que os comportamentos que caracterizam o egoísmo reputacional representam as práticas burocráticas que despersonalizam o trabalho e prejudicam os processos de trocas entre líderes e subordinados. As associações positivas e significativas entre a deontologia e os estilos de liderança transformacional e transacional são compatíveis com a essência do exercício da liderança. Os oficiais do COMAER, tanto transformacionais quanto transacionais, pautam suas ações sobre a forma correta de agir (o sentido de obrigação), sobre o que preveem as normas e os regulamentos das organizações, e agem responsavelmente considerando que os princípios que regem suas decisões devem ser gerais (universais), ou seja, aplicáveis em qualquer situação ou pessoa. 106 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica A distinção que se deve notar entre os estilos transformacional e transacional é justamente a força da associação. O estilo transacional está mais fortemente associado à deontologia, ou seja, à generalização no padrão de decisão e ao evitamento de comportamentos mais flexíveis, em uma visão mais alinhada ao que preconiza a moral kantiana. A associação moderada com o estilo transformacional leva a crer que os oficiais estão empenhados em cumprir, e fazer cumprir, as normas e regulamentos, mas de modo mais moderado, levando em consideração as pessoas e circunstâncias envolvidas no processo decisório. A sexta hipótese afirmava que os estilos de liderança são influenciados pelo nível de sensibilidade para a sustentabilidade. O modelo estrutural completo permitiu verificar que existem efeitos diretos do nível de sensibilidade sobre os estilos de liderança transacional e transformacional, razão pela qual se aceita H6. A interpretação desse resultado deve ser feita à luz das características dos oficiais que compõem a amostra, que é composta por indivíduos com formação universitária, a maioria com grau de escolaridade superior à licenciatura, que reportaram possuir conhecimentos sobre sustentabilidade de nível razoável a muito bom e que atribuem importância à temática ambiental no nível alto ou muito alto. Portanto, verifica-se que o nível de conhecimento e a importância que os líderes conferem à sustentabilidade influenciam os estilos de liderança dos oficiais, o que sugere serem esses fatores capazes de afetar seus comportamentos com seus subordinados e suas organizações. Em resumo, os resultados deste estudo evidenciaram que os estilos de liderança não possuem influência sobre a existência de práticas sustentáveis no COMAER. Contudo, a existência de tais práticas é influenciada pelo nível de sensibilidade dos líderes e pela teoria ética utilitarista. No que respeita à influência das teorias éticas sobre os estilos de liderança, verificou-se que o egoísmo ético possui uma associação negativa com o estilo transacional, enquanto que a deontologia está associada de forma positiva aos dois estilos de liderança investigados, embora com maior intensidade com o estilo transacional. Por último, constatouse que o nível de sensibilidade dos líderes mostrou-se associado aos estilos de liderança transacional e transformacional. 107 Discussão dos resultados 108 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica CAPÍTULO 8 – CONCLUSÕES Neste capítulo são resumidos os pontos centrais desta pesquisa, a qual se propôs a investigar se a existência de práticas sustentáveis no Comando da Aeronáutica Brasileira é influenciada pelos estilos de liderança transformacional e transacional, pela sensibilidade dos líderes em relação à sustentabilidade e por seus valores morais. Primeiramente são apresentadas as principais conclusões do estudo, obtidas a partir da discussão dos resultados feita no capítulo anterior. Posteriormente, são apresentadas as possíveis contribuições deste trabalho para a gestão das organizações militares, as limitações da pesquisa e as pistas para investigações futuras. 8.1 Principais conclusões A investigação sobre a influência dos estilos de liderança transacional e transformacional, das teorias éticas e do nível de sensibilidade dos líderes sobre as práticas de sustentabilidade foi realizada tendo como balizadores os quatro objetivos operacionais de pesquisa estabelecidos no início do trabalho. O primeiro objetivo mencionado era verificar o atual estágio de implementação das práticas sustentáveis nas organizações do Comando da Aeronáutica. Observou-se que a média das práticas sustentáveis das organizações do COMAER constantes da amostra apresentou-se bem abaixo da quantidade de práticas recomendadas pelo Governo Federal para implementação nos planos de logística sustentável. Conclui-se, portanto, que as práticas sustentáveis não estão presentes nas organizações do COMAER em quantidade suficiente que possa sugerir um esforço coordenado de gestão em prol da sustentabilidade. Outra constatação é que poucas organizações realizam na íntegra as sete práticas recomendadas pelo Governo Federal. Como uma parcela expressiva das organizações da amostra está no nível fraco ou insuficiente, conclui-se que será necessário um esforço da gestão das organizações para que os PLS funcionem efetivamente. O segundo objetivo do estudo foi identificar se os estilos transacional e transformacional estão relacionados com a sustentabilidade. A análise estatística viabilizada pelo método de equações estruturais permitiu verificar que os estilos transacional e transformacional mensurados na amostra não apresentaram associações estatisticamente significativas com as práticas de sustentabilidade. Portanto, conclui-se que esses estilos não influenciam sobre a existência dessas práticas no COMAER, apesar das indicações que a literatura científica apresenta em contrário. 109 Conclusões Esperava-se que o estilo transformacional apresentasse uma associação positiva e significativa com a sustentabilidade, como informa a literatura sobre o tema. Contudo, as estruturas administrativas nas quais ocorrem os processos decisórios no COMAER são complexas e bastante hierarquizadas, condição que pode contribuir para a redução da iniciativa dos líderes organizacionais nos diversos escalões hierárquicos. Tendo em vista que o estilo de liderança nas organizações não é preponderante para a implementação de práticas sustentáveis nas organizações militares do COMAER, conclui-se que esse processo deve ser conduzido pelos escalões superiores, no sentido vertical descendente e com orientação para uma mudança planejada. Essa condução permite oferecer para os comandos subordinados uma linha de ação que incentivará iniciativas alinhadas ao desenvolvimento sustentável. O terceiro objetivo operacional foi evidenciar as teorias éticas que estão presentes no processo de tomada de decisão dos líderes no COMAER em favor da sustentabilidade. Verificou-se que, dentre as teorias éticas abordadas na escala MEP, apenas o utilitarismo apresentava influência direta sobre as práticas sustentáveis. Conclui-se que a sustentabilidade está relacionada com uma visão dos líderes da ética sob uma perspectiva consequencialista. Pode-se afirmar, portanto, que a orientação ética utilitarista da sustentabilidade no COMAER contribui para que as decisões em prol de práticas sustentáveis se transformem em medidas práticas. Identifica-se, dessa forma, que os oficiais associam a sustentabilidade a uma ideia de maximização do bem comum para a sociedade. O quarto objetivo operacional foi verificar se o nível de sensibilidade dos líderes para a sustentabilidade está associado às práticas sustentáveis no COMAER. Em função das condições favoráveis de bom nível de conhecimento dos oficiais e do alto grau de importância atribuída ao tema, verifica-se que o nível de sensibilidade majoritário da amostra é no mínimo médio. Considerando que a exigência de implementação dos Planos de Logística Sustentável pelos órgãos da Administração Federal é recente (data de 2012), e levando-se em consideração que não havia uma política ambiental própria do Comando da Aeronáutica que vinculasse ou condicionasse a ação dos líderes, pode-se concluir que o estado atual das práticas sustentáveis no COMAER é o resultado de iniciativas anteriores à obrigatoriedade estabelecida com a edição da Instrução Normativa nº 10/2012, as quais evidenciam um comportamento ético dos líderes organizacionais decorrente desse nível de sensibilidade. Portanto, ante o exposto, pode-se afirmar que o Comando da Aeronáutica do Brasil, apesar de apresentar um nível atualmente baixo de práticas sustentáveis, possui boas 110 A influência da Liderança na implementação da Sustentabilidade: um estudo no Comando da Aeronáutica condições para melhorar esse panorama, por contar com um corpo de oficiais que é sensível ao tema. Sendo assim, com base no dados analisados, conclui-se que, dentre as variáveis estudadas, a existência de práticas sustentáveis no COMAER não está relacionada com os estilos de liderança transacional ou transformacional, mas sim com o nível de sensibilidade dos líderes e com a orientação ética utilitarista. 8.2 Contribuições do estudo para a gestão A pesquisa desenvolvida propôs-se a servir como um diagnóstico do atual contexto em que as práticas de sustentabilidade estão sendo desenvolvidas nas organizações militares do Comando da Aeronáutica, bem como a oferecer algumas reflexões sobre o assunto. A primeira reflexão diz respeito à falta de associação entre os estilos de liderança e as práticas sustentáveis, o que leva à constatação de que as iniciativas isoladas dos líderes que ocorreram até 2012, ano da edição da IN nº 10/2012, não foram suficientes para que as práticas sustentáveis fossem implementadas de forma efetiva e substancial. Tal fato oferece pistas sobre as formas possíveis de conduzir os necessários processos de mudança para que a quantidade de práticas sustentáveis aumente de forma consistente e que sugira um esforço coordenado de gestão. Advoga-se, mais uma vez, a necessidade de uma mudança planejada, partindo da gestão de topo do COMAER, que dê direção às ações sustentáveis, encoraje as boas iniciativas e garanta a continuidade dessas ações. Além disso, a verificação do atual estado de implementação de práticas de Sustentabilidade pode conduzir a ações mais imediatas com o propósito de estimular parcerias com a sociedade civil, mediante protocolos de pesquisa com universidades e outros centros de excelência, para que as inovações sustentáveis possam ser implementadas nas organizações militares. Outra reflexão que se faz relaciona-se com o nível de sensibilidade dos oficiais. Este estudo mostrou que o nível de sensibilidade exerce influência sobre as práticas sustentáveis. Portanto, uma das medidas que deve ser tomada para que as práticas sustentáveis sejam mais numerosas é a disseminação desses conceitos junto aos militares de carreira, novos e antigos, sendo a comunicação um processo muito importante nesta implementação. Sendo assim, uma das medidas que poderia contribuir para tornar ainda mais fértil o terreno para a sustentabilidade, enquanto novo paradigma de gestão, é a discussão desses temas nas escolas de formação e cursos de carreira de oficiais e graduados. O debate 111 Conclusões consciente em torno da questão é fundamental para que o Governo Federal, e a sociedade brasileira e global, alcancem o desenvolvimento sustentável. 8.3 Principais limitações da pesquisa Este estudo, por representar uma abordagem complexa para o fenômeno da sustentabilidade, tema incipiente na gestão das organizações militares, possui obviamente algumas limitações, dentre as quais destacam-se duas principais. A primeira diz respeito à formação da amostra. Embora se tenha pensado inicialmente estudar apenas os comandos das grandes organizações do COMAER, a escolha de uma metodologia quantitativa exigiu a formação de uma amostra numerosa, condição que acabou exigindo a investigação em organizações de menor estrutura, que teoricamente possuem menos práticas sustentáveis. A outra limitação diz respeito à mensuração dos estilos de liderança dos oficiais. Adotou-se o recurso da auto-avaliação, prática comum nos estudos de liderança. Contudo, é forçoso reconhecer que os questionários respondidos podem estar influenciados pela desejabilidade social dos respondentes em relação à expectativa do pesquisador. 8.4 Sugestões para investigações futuras Com o objetivo de estender os estudos iniciados por esta pesquisa, algumas sugestões para investigações futuras podem ser de grande valia para a ampliação do tema. Em primeiro lugar, encoraja-se a utilização do método de modelos de equações estruturais para estudo das organizações de grande porte do COMAER, buscando identificar relações de causalidade de outras variáveis, tais como a cultura organizacional e a inovação, sobre as práticas de sustentabilidade. Outra sugestão de pesquisa possível seria investigar, sob um paradigma qualitativo, quais são os fatores que condicionam as práticas sustentáveis nas organizações do COMAER. Tal pesquisa permitiria identificar quais são as maiores dificuldades e os fatores críticos de sucesso na implementação da sustentabilidade nas organizações militares. E por último, seria interessante investigar os processos de mudança organizacional nas unidades militares, utilizando métodos mistos de pesquisa. Seria muito útil para o estudo da Gestão identificar como se processam as mudanças organizacionais em diferentes tipos de organizações do meio militar, tais como escolas de formação, hospitais e bases aéreas. 112 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Almeida, F., & Sobral, F. (2010). The social commitment of brazilian managers: the concept, a scale, and an empirical study of corporate social responsibility. Latin American Business Review, 11(4), 293–316. Angus-Leppan, T., Metcalf, L., & Benn, S. (2009). Leadership styles and CSR practice: an examination of sensemaking, institutional drivers and CSR leadership. Journal of Business Ethics, 93(2), 189–213. Antonakis, J., Avolio, B. J., & Sivasubramaniam, N. (2003). Context and leadership: an examination of the nine-factor full-range leadership theory using the Multifactor Leadership Questionnaire. The Leadership Quarterly, 14(3), 261–295. Ashkanasy, N. M., Windsor, C. A., & Treviño, L. K. (2006). Bad apples in bad barrels revisited: personal factors and organizational rewards as determinants of managerial ethical decision making. Business Ethics Quarterly, 16, 449–474. Avolio, B. J., & Bass, B. M. (1991). The full range leadership development programs: basic and advanced manuals. New York: Avolio & Associates. Avolio, B. J., & Gardner, W. L. (2005). Authentic leadership development: getting to the root of positive forms of leadership. The Leadership Quarterly, 16(3), 315–338. Barañano, A. M. (2008). Métodos e técnicas de investigação em gestão: manual de apoio à realização de trabalhos de investigação. Lisboa: Edições Sílabo, Lda. Barracho, C. (2012). Liderança em contexto organizacional. Lisboa: Escolar Editora. Baskin, J. (2006). Corporate responsibility in emerging markets. Journal of Corporate Citizenship, 24, 29–47. Bass, B. M. (1985). Leadership and performance beyond expectations. New York: Free Press. Bass, B. M. (1999). Two Decades of Research and Development in Transformational Leadership. European Journal of Work and Organizational Psychology, 8(1), 9–32. Bass, B. M., Avolio, B. J., Jung, D. I., & Berson, Y. (2003). Predicting unit performance by assessing transformational and transactional leadership. Journal of Applied Psychology, 88(2), 207–218. Bass, B. M., & Bass, R. (2009). The Bass handbook of leadership: theory, research, and managerial applications. New York: Simon and Schuster. Bass, B. M., & Steidlmeier, P. (1999). Ethics, character, and authentic transformational leadership behavior. The Leadership Quarterly, 10(2), 181–217. 113 Berman, S. L., Wicks, A. C., Kotha, S., & Jones, T. M. (1999). Does stakeholder orientation matter? The relationship between stakeholder management models and firm financial performance. Academy of Management Journal, 42(5), 488–506. Blanchard, K. H., & Hersey, P. (1996). Great ideas: revisiting the life-cycle theory of leadership. Training & Development, 50(1), 42. Bowling, A. (1997). Research methods in health: investigating health and health services. Buckingham: Open University Press. Brown, M. E., & Treviño, L. K. (2006). Ethical leadership: a review and future directions. The Leadership Quarterly, 17(6), 595–616. Bryman, A. (1992). Charisma and leadership in organizations. London: Sage Publications. Bryman, A., & Bell, E. (2007). Business research methods (2.a ed.). New York: Oxford University Press. Burnes, B., & By, R. T. (2011). Leadership and change: the case for greater ethical clarity. Journal of Business Ethics, 108(2), 239–252. Burns, J. M. (1978). Leadership. New York: Harper Torchbooks. Cappellin, P., & Guiliani, G. M. (2004). The political economy of corporate social responsibility in Brazil: social and environmental dimensions (No. 14). Geneva: United Nations Research Institute for Social Development. Carroll, A. B. (1979). A three-dimensional conceptual model of corporate performance. Academy of Management Review, 4(4), 497–505. Carroll, A. B. (1999). Corporate social responsibility evolution of a definitional construct. Business & Society, 38(3), 268–295. Carroll, A. B., & Shabana, K. M. (2010). The business case for corporate social responsibility: a review of concepts, research and practice. International Journal of Management Reviews, 12(1), 85–105. Carvalho, J. E. (2009). Metodologia do trabalho científico: saber-fazer da investigação para dissertações e teses. Lisboa: Escolar Editora. Casali, G. L. (2011). Developing a multidimensional scale for ethical decision making. Journal of Business Ethics, 104(4), 485–497. Chiavenato, I. (2003). Introdução à teoria geral da administração. São Paulo: Elsevier. Ciulla, J. B. (1995). Leadership Ethics: Mapping the Territory. Business Ethics Quarterly, 5(1), 5. Clarkson, M. E. (1995). A stakeholder framework for analyzing and evaluating corporate social performance. Academy of Management Review, 20(1), 92–117. 114 Conger, J. A. (1999). Charismatic and transformational leadership in organizations: an insider’s perspective on these developing streams of research. Leadership Quarterly, 10(2), 145–179. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Brasília: Congresso Nacional. Recuperado de https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Cooper, C., Scandura, T., & Schriesheim, C. (2005). Looking forward but learning from our past: potential challenges to developing authentic leadership theory and authentic leaders. The Leadership Quarterly, 16(3), 475–493. Dahlsrud, A. (2008). How corporate social responsibility is defined: an analysis of 37 definitions. Corporate Social Responsibility and Environmental Management, 15(1), 1– 13. Decreto no 7.746, de 5 de junho de 2012 (2012). Estabelece critérios, práticas e diretrizes para a promoção do desenvolvimento nacional sustentável nas contratações públicas realizadas pela administração pública federal. Brasília: Presidência da República. Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20112014/2012/Decreto/D7746.htm Dion, M. (2012). Are ethical theories relevant for ethical leadership? Leadership & Organization Development Journal, 33(1), 4–24. Doh, J. P., & Guay, T. R. (2006). Corporate social responsibility, public policy, and NGO activism in Europe and the United States: an institutional-stakeholder perspective. Journal of Management Studies, 43(1), 47–73. Drucker, P. F. (1984). The New Meaning of Corporate Social Responsibility. California Management Review, 26(2), 53–63. Dyllick, T., & Hockerts, K. (2002). Beyond the business case for corporate sustainability. Business Strategy and the Environment, 11(2), 130–141. Eisenbeiss, S. A. (2012). Re-thinking ethical leadership: an interdisciplinary integrative approach. The Leadership Quarterly, 23(5), 791–808. Elkington, J. (1997). Cannibals with forks - The triple bottom line of 21st century business. Oxford: Capstone Publishing Ltd. Elm, D., & Radin, T. (2012). Ethical decision making: special or no different? Journal of Business Ethics, 107(3), 313–329. Enderle, G. (1987). Some perspectives of managerial ethical leadership. Journal of Business Ethics, 6(8), 657–663. European Comission. (2001). Promoting a european framework for corporate social responsibilities (p. 366). Brussels. 115 Evans, M. G. (1996). R.J. House’s “A path-goal theory of leader effectiveness.” Leadership Quarterly, 7(3), 305–309. Fiol, C. M., Harris, D., & House, R. (1999). Charismatic leadership. Leadership Quarterly, 10(3), 449–482. Fischer, J. (2004). Social responsibility and ethics: clarifying the concepts. Journal of Business Ethics, 52, 391–400. Fonseca, A. M. de O., & Porto, J. B. (2013). Validação fatorial de escala de atitudes frente a estilos de liderança. Avaliação Psicológica, 12, 157–166. Forsyth, D. (1992). Judging the morality of business practices: the influence of personal moral philosophies. Journal of Business Ethics, 11(5-6), 461–470. Forsyth, D. R. (1980). A taxonomy of ethical ideologies. Journal of Personality and Social Psychology, 39(1), 175–184. Freeman, R. E. (1984). Strategic management: a stakeholder approach. Boston: Pitman Publishing. Friedman, M. (1970). The social responsibility of business is to increase its profits. New York Times Magazine, 13(1970), 32–33. Garriga, E., & Melé, D. (2004). Corporate social responsibility theories: mapping the territory. Journal of Business Ethics, 53(1-2), 51–71. Gilligan, C. (1982). In a different voice: psychological theory and women’s development. Cambridge: Harvard University Press. Griesse, M. (2007). The geographic, political, and economic context for corporate social responsibility in Brazil. Journal of Business Ethics, 73(1), 21–37. Groves, K. S., & LaRocca, M. a. (2011a). An empirical study of leader ethical values, transformational and transactional leadership, and follower attitudes toward corporate social responsibility. Journal of Business Ethics, 103(4), 511–528. Groves, K. S., & LaRocca, M. a. (2011b). Responsible leadership outcomes via stakeholder CSR values: testing a values-centered model of transformational leadership. Journal of Business Ethics, 98(S1), 37–55. Haidt, J. (2001). The emotional dog and its rational tail: a social intuitionist approach to moral judgment. Psychological Review, 108(4), 814. Hair, J. F., Anderson, R. E., Tatham, R. L., & Black, W. C. (1995). Multivariate data analysis with readings (4th ed.). Englewood Cliffs: Prentice-Hall International Editions. Hart, S. L. (1997). Beyond greening: strategies for a sustainable world. Harvard Business Review, 75(1), 66–76. 116 Hay, R. (2010). The relevance of ecocentrism, personal development and transformational leadership to sustainability and identity. Sustainable Development, 171, 163–171. Heath, J., & Norman, W. (2004). Stakeholder theory, corporate governance and public management: what can the history of state-run enterprises teach us in the post-Enron era? Journal of Business Ethics, 53(3), 247–265. Hernandez, M., Eberly, M. B., Avolio, B. J., & Johnson, M. D. (2011). The loci and mechanisms of leadership: exploring a more comprehensive view of leadership theory. The Leadership Quarterly, 22(6), 1165–1185. Hill, M. M., & Hill, A. (2008). Investigação por questionário. Lisboa: Sílabo (2.a ed.). Lisboa: Edições Sílabo, Lda. Hindle, T. (2009). Idea: triple bottom line. The Economist. Retrieved May 20, 2014, from www.economist.com/node/14301663 House, R. J. (1995). Leadership in the twenty-first century: A speculative inquiry. In The changing nature of work (pp. 411–450). San Francisco: Jossey-Bass. House, R. J. (1996). Path-goal theory of leadership: lessons, legacy, and a reformulated theory. Leadership Quarterly, 7(3), 323–352. Hoyle, R. H., & Panter, A. T. (1995). Writing about structural equation modeling. In R. H. Hoyle (Ed.), Structural equation modeling: concepts, issues and applications (pp. 158– 176). Thousand Oaks: Sage Publications. Hu, L.-T., & Bentler, P. M. (1995). Evaluating model fit. In R. H. Hoyle (Ed.), Structural equation modeling: concepts, issues and applications (pp. 77–99). Sage Publications. Hunter, S. T., Bedell-Avers, K. E., & Mumford, M. D. (2007). The typical leadership study: assumptions, implications, and potential remedies. The Leadership Quarterly, 18(5), 435–446. Instrução Normativa no 10, de 12 de novembro de 2012 (2012). Estabelece regras para elaboração dos Planos de Gestão de Logística Sustentável. Brasília: Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação. Recuperado de http://cpsustentaveis.planejamento.gov.br/wp-content/uploads/2012/11/InstrucaoNormativa-10-2012.pdf Jaccard, J., & Wan, C. K. (1996). Lisrel approaches to interaction effects in multiple regression. Thousand Oaks: Sage Publications. Jago, A. G. (1982). Leadership: perspectives in theory and research. Management Science, 28, 315–336. Jesuíno, J. C. (2005). Processos de liderança (4a ed.). Lisboa: Horizonte de Psicologia. Jones, T. M. (1995). Instrumental stakeholder theory: a synthesis of ethics and economics. Academy of Management Review, 20(2), 404–437. 117 Jones, T. M., & Wicks, A. C. (1999). Convergent stakeholder theory. Academy of Management Review, 24(2), 206–221. Judge, T. A., Ilies, R., Bono, J. E., & Gerhardt, M. W. (2002). Personality and leadership: a qualitative and quantitative review. Journal of Applied Psychology, 87(4), 765–780. Kellerman, B. (2004). Leadership warts and all. Harvard Business Review, 82(1), 40–45. Kirkpatrick, S. A., & Locke, E. A. (1991). Leadership: do traits matter? Academy of Management Executive, 5(2), 48–60. Kline, R. B. (2011). Principles and practice of structural equation modeling (3rd ed.). New York: Guilford Press. Kohlberg, L. (1969). Stage and sequence: the cognitive-developmental approach to socialization. In Handbook of socialization theory (D. A. Gosl., pp. 347–480). Chicago: Rand McNally. Kraft, D. (2013). Corporate social responsibility in Brazil. In I. Tchotourian (Ed.), Company law and CSR – new legal and economic challenges (pp. 1–15). Brussels. Lai, L. W. (2006). Private property rights, culture, property management and sustainable development. Property Management, 24(2), 71–86. Lee, P. (2008). A review of the theories of corporate social responsibility: its evolutionary path and the road ahead. International Journal of Management Reviews, 10(1), 53–73. Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993 (1993). Institui normas para licitações e contratos da Administração Pública. Brasília: Congresso Nacional. Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm Lima, J. (2006). Ética na investigação. In Fazer investigação: Contributos para a elaboração de dissertações e teses (pp. 127–157). Porto: Porto Editora. Linnenluecke, M. K., & Griffiths, A. (2013). Firms and sustainability: mapping the intellectual origins and structure of the corporate sustainability field. Global Environmental Change, 23(1), 382–391. Lisboa, J. V., Augusto, M. G., & Ferreira, P. L. (2012). Estatística aplicada à gestão. Porto: Vida Económica. Marconi, M. de A., & Lakatos, E. M. (2003). Fundamentos de metodologia científica (5a ed.). São Paulo: Atlas. Marrewijk, M. Van, & Werre, M. (2003). Multiple levels of corporate sustainability. Journal of Business Ethics, 44(2-3), 107–119. Matten, D., & Moon, J. (2008). “Implicit” and “explicit” CSR: a conceptual framework for a comparative understanding of corporate social responsibility. Academy of Management Review, 33(2), 404–424. 118 McWilliams, A., Siegel, D. S., & Wright, P. M. (2006). Corporate social responsibility: strategic implications. Journal of Management Studies, 43(1), 1–18. Meehan, J., & Bryde, D. (2011). Sustainable procurement practice. Business Strategy and the Environment, 106(20), 94–106. Melé, D. (2008). Business ethics: Europe versus America. In G. Flynn (Ed.), Leadership and Business Ethics SE - 2 (Vol. 25, pp. 13–27). Dublin: Springer Netherlands. Metcalf, L., & Benn, S. (2012). Leadership for sustainability: an evolution of leadership ability. Journal of Business Ethics, 112(3), 369–384. Ministério do Meio Ambiente. (2008). Agenda Ambiental na Administração Pública - A3P. Brasília. Recuperado de http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/a3p Ministério do Orçamento Planejamento e Gestão. (2012). Coletânea de melhores práticas de gestão do gasto público. Recuperado de http://www.ufpr.br/portalufpr/wpcontent/uploads/2013/03/coletanea_de_melhores_praticas_de_gestao_do_gasto_publico. pdf Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. (2012a). Projeto Esplanada Sustentável. Recuperado em 22 de Julho de 2014, de http://www.planejamento.gov.br/ministerio.asp?index=8&ler=t9845 Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. (2012b). Programa de eficiência do gasto. Recuperado de http://www.orcamentofederal.gov.br/eficiencia-do-gasto/programa-deeficiencia-do-gasto Minoja, M. (2012). Stakeholder management theory, firm strategy, and ambidexterity. Journal of Business Ethics, 109(1), 67–82. Mitchell, T. R., Biglan, A., Oncken, G. R., & Fiedler, F. E. (1970). The contingency model: criticism and suggestions. Academy of Management Journal, (September), 253–267. Northouse, P. G. (1997). Leadership: theory and practice (p. 274). Thousand Oaks: Sage Publications. Pinkston, T. S., & Carroll, A. B. (1996). A retrospective examination of CSR orientations: have they changed? Journal of Business Ethics, 15(2), 199–206. Pless, N. M., & Maak, T. (2011). Responsible leadership: pathways to the future. Journal of Business Ethics, 98(S1), 3–13. Podsakoff, P. M., MacKenzie, S. B., Moorman, R. H., & Fetter, R. (1990). Transformational leader behaviors and their effects on followers’ trust in leader, satisfaction, and organizational citizenship behaviors. The Leadership Quarterly, 1(2), 107–142. Podsakoff, P. M., Todor, W. D., Grover, R. A., & Huber, V. L. (1984). Situational moderators of leader reward and punishment behaviors: fact or fiction? Organizational Behavior and Human Performance, 34(1), 21–63. 119 Podsakoff, P. M., Todor, W. D., & Skov, R. (1982). Effects of leader contingent and noncontingent reward and punishment behaviors on subordinate performance and satisfaction. Academy of Management Journal, 25(4), 810–821. Poff, D. C. (2010). Ethical leadership and global citizenship: considerations for a just and sustainable future. Journal of Business Ethics, 93(S1), 9–14. Redclift, M. (2005). Sustainable development (1987–2005): an oxymoron comes of age. Sustainable Development, 13(4), 212–227. Rego, A., Cunha, M. P., Cunha, R., & Cardoso, C. (2007). Manual de comportamento organizacional e gestão (6a ed.). Lisboa: RH Editora. Rego, A., Cunha, M. P. e, & Ribeiro, M. da G. (2013). Liderança para a sustentabilidade. A voz de quem lidera em Portugal. Coimbra: Conjuntura Actual Editora. Rest, J. (1979). Moral development. Minneapolis: University of Minnesota Press. Rest, J. (1986). Moral development: advances in research and theory. New York: Praeger. Robertson, J., & Barling, J. (2013). Greening organizations through leaders’ influence on employees' pro‐environmental behaviors. Journal of Organizational Behavior, 194(May 2011), 176–194. Rowley, T. J. (1997). Moving beyond dyadic ties: a network theory of stakeholder influences. Academy of Management Review, 22(4), 887–910. Schminke, M., Ambrose, M. L., & Neubaum, D. O. (2005). The effect of leader moral development on ethical climate and employee attitudes. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 97(2), 135–151. Schriesheim, C. A., & Neider, L. L. (1996). Path-goal leadership theory: the long and winding road. The Leadership Quarterly, 7(3), 317–321. Shook, C. L., Ketchen, D. J., Hult, G. T. M., & Kacmar, K. M. (2004). An assessment of the use of structural equation modeling in strategic management research. Strategic Management Journal, 25(4), 397–404. Singer, A. E. (2009). Integrating ethics and strategy: a pragmatic approach. Journal of Business Ethics, 92(4), 479–491. Spector, B. (2008). Business responsibilities in a divided world: the cold war roots of the corporate social responsibility movement. Enterprise and Society, 9(2), 314–336. Stentz, J. E., Plano Clark, V. L., & Matkin, G. S. (2012). Applying mixed methods to leadership research: a review of current practices. The Leadership Quarterly, 23(6), 1173–1183. Tabachnick, B. G., & Fidell, L. S. (2007). Using multivariate statistics (5th ed., p. 980). Boston: Pearson Education. 120 Técnicas, A. B. de N. (2010). NBR 26000 – Diretrizes sobre responsabilidade social. International Organization for Standardization. Rio de Janeiro. Tichy, N. M., & Devanna, M. A. (1990). The Transformational Leader. New York: Wiley. Treviño, L. K. (1986). Ethical decision-making in organizations: a person-situation interactionist model. Academy of Management Review, 11(3), 601–617. Treviño, L. K. (1992). Moral reasoning and business ethics: implications for research, education, and management. Journal of Business Ethics, 11(5-6), 445–459. Treviño, L. K., Weaver, G. R., & Reynolds, S. J. (2006). Behavioral ethics in organizations: a review. Journal of Management, 32(6), 951–990. Tullberg, J. (2012). Triple bottom line - a vaulting ambition? Business Ethics: A European Review, 21(3), 310–324. Turner, N., Barling, J., Epitropaki, O., Butcher, V., & Milner, C. (2002). Transformational leadership and moral reasoning. Journal of Applied Psychology, 87(2), 304–311. Van Marrewijk, M. (2003). Concepts and definitions of CSR and corporate sustainability: between agency and communion. Journal of Business Ethics, 44(2-3), 95–105. Vivarta, V., & Canela, G. (2006). Corporate social responsibility in Brazil. Journal of Corporate Citizenship, (21), 95–106. Wart, M. Van. (1996). The sources of ethical decision making for individuals in the public sector. Public Administration Review, 56(6), 525–534. Wood, D. J. (1991). Corporate social performance revisited. Academy of Management Review, 16(4), 691–718. Wood, D. J. (2010). Measuring corporate social performance: a review. International Journal of Management Reviews, 12(1), 50–84. Young, R. (2004). Dilemmas and advances in corporate social responsibility in Brazil. The work of the Ethos Institute. Natural Resources Forum, 28(4), 291–301. Yukl, G. A. (1989). Leadership in organizations (2a ed.). Englewood Cliffs: Prentice-Hall International Editions. Yukl, G. A. (2010). Leadearship in organizations (7.a ed.). New Jersey: Pearson Education. 121 122 ANEXOS ANEXO 1 – Pedido de colaboração e consentimento informado Prezado Sr. XXXXXXX Dirijo-me respeitosamente a V.Sa. para, na sequência de cumprimentá-lo e expressar os votos de um bom final de ano para o senhor e família, expor o motivo deste contato. Após ter trabalhado no GABAER entre 2009 e 2012, fui designado para a Missão 001/GABAER/PLAMENS EXT em Portugal (Mestrado em Estudos de Gestão na Universidade do Minho). Escolhi como tema para desenvolvimento do meu trabalho a Sustentabilidade, a qual teve sua importância reconhecida pelo Estado-Maior da Aeronáutica (EMAER) ao ser contemplada como objeto de Estudo de Alta Relevância da Aeronáutica (EARA) no ano de 2012. O trabalho desenvolvido pelos oficiais-alunos do CPEA serviu de base teórica para a formulação da Política Ambiental do Comando da Aeronáutica, que atualmente se encontra em análise naquele Órgão. No âmbito do Governo Federal, as edições do Decreto 7.746, de 5 de junho de 2012 e da Instrução Normativa SLTI/MPOG nº 10, de 12 de novembro de 2012, que estabelecem obrigações relacionadas com a implementação de Planos de Logística Sustentável nas organizações da Administração Federal Direta, refletem o impacto das ideias sobre Sustentabilidade no âmbito de nossas organizações militares. Desta forma, convido V.Sa. a participar do meu estudo, o qual possui o objetivo de pesquisar a influência dos perfis de Liderança estudados por Bernard Bass sobre as práticas de Sustentabilidade no Comando da Aeronáutica. Esclareço que esta pesquisa é voluntária e de caráter estritamente acadêmico, que não existem campos para identificação pessoal ou de organizações, e que as informações fornecidas buscam apenas refletir as opiniões dos oficiais e a visão que possuem do assunto, de forma totalmente anônima. Portanto, segue abaixo o link para acesso ao questionário: http://docs.google.com/forms/d/1Hrw38CDgPIBm3UrWeZl8Ufjt7Cr_AErtW_A45cNl_YA/v iewform Despeço-me agradecendo a atenção e externando os votos de elevada estima e consideração. Respeitosamente, Maj Int Carlos José Rodrigues 123 124 ANEXO 2 - Questionários sobre liderança, sustentabilidade e decisão ética Inicio esta introdução agradecendo a sua valiosa participação e informando que o preenchimento deste instrumento de pesquisa levará de 15 a 20 minutos. O presente formulário é composto por questões fechadas que buscam captar tão somente as opiniões pessoais dos respondentes. Ele está estruturado em 4 partes e foi concebido de forma a garantir o anonimato dos participantes do estudo. A primeira diz respeito à caracterização do estilo de Liderança, em conformidade com a teoria sobre as lideranças transformacional e transacional. A segunda parte está relacionada com a Sustentabilidade e contém perguntas sobre a existência de práticas sustentáveis nas organizações. A terceira parte contém perguntas sobre a opinião dos oficiais no processo de tomada de decisão, tendo como pano de fundo a Responsabilidade Social. A quarta e última parte busca colher informações sócio-demográficas dos oficiais participantes do estudo. Não se trata de um teste de conhecimentos, mas apenas de colher as opiniões pessoais sobre esses tópicos. Reitero que as respostas são confidenciais e, como o questionário não é identificado, o anonimato do respondente está assegurado. Agradeço novamente a sua estimada participação! 1ª PARTE - LIDERANÇA Este questionário foi elaborado pelas Professoras Ana Márcia Fonseca (Msc) e Juliana Barreiros Porto (Phd), da Universidade de Brasília, e busca identificar a existência dos perfis de Liderança Transacional e Transformacional, tendo como base os conceitos formulados por J. M. Burns e aprimorados por Bernard Bass & Bruce Avolio e Philip M. Podsakoff. Não existe resposta certa para os quesitos. Por favor, marque a alternativa que estiver mais adequada ao seu modo de agir. 1) Busco novas oportunidades para a Seção/Divisão/Departamento/Organização. 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 2) Mostro que tenho expectativas altas em relação à equipe. 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 3) Aviso quando o desempenho dos membros da equipe é insatisfatório. 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 4) Considero as necessidades pessoais dos membros da equipe. 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 5) Negocio com os membros da equipe sobre o que eles podem esperar receber em troca das suas realizações. 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 125 6) Estimulo os indivíduos a pensar sobre problemas antigos de novas maneiras. 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 7) Elogio quando os membros da equipe fazem um trabalho acima da média. 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 8) Lidero "fazendo" ao invés de simplesmente "dizendo". 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 9) Mostro meu descontentamento quando o trabalho dos membros da equipe é abaixo dos níveis aceitáveis. 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 10) Consigo que o grupo trabalhe junto em busca do mesmo objetivo. 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 11) Dou aos membros da equipe o que eles querem em troca do seu apoio. 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 12) Insisto no melhor desempenho da equipe. 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 13) Digo aos membros da equipe o que fazer para serem recompensados pelos seus esforços. 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 14) Apresento novas formas de olhar para as coisas que costumavam ser confusas para os membros da equipe. 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 15) Lidero pelo exemplo. 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 16) Sempre dou feedback positivo quando um membro da equipe tem bom desempenho. 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 17) Indico minha desaprovação caso o desempenho dos membros da equipes seja abaixo do que eles são capazes. 0 - NUNCA ( ) 126 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 18) Mostro respeito pelos sentimentos dos membros da equipe. 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 19) Faço acordos com os membros da equipe com relação ao que eles vão receber se fizerem o que deve ser feito. 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 20) Entendo claramente para onde a equipe está indo. 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 21) Incentivo os subordinados a trabalharem em equipe. 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 22) Repreendo membros da equipe se seus trabalhos estiverem abaixo dos padrões. 0 - NUNCA ( ) 1 - RARAMENTE ( ) 2 - ALGUMAS VEZES ( ) 3 - MUITAS VEZES ( ) 4 - SEMPRE ( ) 2ª PARTE - SUSTENTABILIDADE O Governo Federal Brasileiro tem realizado ações em prol da Sustentabilidade e do Desenvolvimento Sustentável. O objetivo deste questionário é saber qual a sua opinião sobre o tema. 1) Minha Organização desenvolve práticas de Sustentabilidade: * ( ) SIM ( ) NÃO ( ) NÃO SEI O QUE É SUSTENTABILIDADE ( ) NÃO CONSIGO IDENTIFICAR COM CLAREZA SE AS PRÁTICAS DE MINHA ORGANIZAÇÃO SÃO SUSTENTÁVEIS 2) Considero que o meu grau de conhecimento sobre Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável é: 1 – MUITO BAIXO ( ) 2 - BAIXO ( ) 3 – RAZOÁVEL ( ) 4 - BOM ( ) 5 – MUITO BOM ( ) 4 - BOM ( ) 5 – MUITO BOM ( ) 3) O grau de importância que atribuo às questões ambientais é: 1 – MUITO BAIXO ( ) 2 - BAIXO ( ) 3 – RAZOÁVEL ( ) 4) Minha organização realiza compras sustentáveis. ( ) SIM ( ) NÃO 5) Minha organização estabelece procedimentos claros para redução dos consumos de materiais relacionados com a impressão de documentos. * ( ) SIM ( ) NÃO 127 6) Minha organização utiliza sistemas para monitoramento e redução do consumo de energia elétrica. ( ) SIM ( ) NÃO 7) Minha organização utiliza sistemas para monitoramento e redução do consumo de água. * ( ) SIM ( ) NÃO 8) Minha organização realiza a separação dos resíduos sólidos (lixo), com vistas à coleta seletiva e à reciclagem. ( ) SIM ( ) NÃO 9) Minha organização desenvolve programas voltados para a qualidade de vida no ambiente de trabalho. ( ) SIM ( ) NÃO 10) Minha organização desenvolve iniciativas relacionadas com o transporte do efetivo, com foco na redução de gastos e de emissões de substâncias poluentes. ( ) SIM ( ) NÃO 11) Minha organização utiliza fontes de energia renováveis. ( ) SIM ( ) NÃO 12) Minha organização utiliza materiais de consumo ecologicamente corretos. ( ) SIM ( ) NÃO 13) Minha organização realiza plantio ou replantio de árvores. ( ) SIM ( ) NÃO 3ª PARTE - RESPONSABILIDADE SOCIAL De acordo com definição contida na Norma NBR ISO ABNT 26000:2010, Responsabilidade Social é "a responsabilidade de uma organização pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente, por meio de um comportamento ético e transparente que contribua para o desenvolvimento sustentável, inclusive a saúde e bemestar da sociedade." As perguntas abaixo, constantes do estudo de Gian Luca Casali publicado no Journal of Business Ethics no ano de 2011, buscam explorar essas vertentes. No desempenho das atribuições do seu cargo na organização, por favor indique a importância das seguintes afirmações no seu processo de tomada de decisão. 1) Prover o máximo ganho financeiro possível para a organização. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 128 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 2) Minimizar os custos para a organização. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 3) Proteger a reputação da organização. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 4) Otimizar a utilização dos recursos destinados ao seu setor de trabalho. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 5) Cumprir o orçamento anual da organização (curto prazo). 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 6) Estar alinhado com a missão organizacional. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 7) Gerar o máximo benefício possível para o efetivo da organização. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 8) Não prejudicar o efetivo. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 9) Respeitar as regras organizacionais e regulamentos que foram criados para o máximo benefício das partes interessadas (todas os segmentos da sociedade que alguma forma se relacionam com a organização. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 10) Obedecer as leis. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 129 11) Criar o mais amplo benefício possível para a comunidade local (próxima à organização). 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 12) Criar o mais amplo benefício geral para a sociedade como um todo. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 13) Estar ao máximo alinhado com seus valores pessoais. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 14) Estar alinhado ao máximo com a pessoa que você quer ser. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 15) Respeitar a dignidade daqueles afetados por suas decisões. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 16) Ser capaz de criar empatia com o efetivo. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 17) Agir abertamente ao tomar decisões. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 18) Estabelecer o cuidado com o efetivo como valor supremo na determinação de decisões alternativas. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 19) Dar a oportunidade a todos os que forem afetados, ou seus representantes, de oferecerem sugestões no processo de tomada de decisão. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 20) Tratar os outros como quer ser tratado. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 130 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 21) Tratar as pessoas como fins e não como meios. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 22) Assegurar que a confidencialidade é mantida em todas as oportunidades. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 23) Manter um processo justo em todas as ocasiões. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 24) Assegurar que o "dever de cuidar" da organização é mantido em todas as circunstâncias. 1 – POUCO IMPORTANTE ( ) 2 – NÃO MUITO IMPORTANTE ( ) 3 – RAZOAVELMENTE IMPORTANTE ( ) 4 – MUITO IMPORTANTE ( ) 5 – EXTREMAMENTE IMPORTANTE ( ) 4ª PARTE - PERFIL SÓCIO-DEMOGRÁFICO 1) Posto ( ( ( ( ( ( ( ) Major Brigadeiro ) Brigadeiro ) Coronel ) Tenente Coronel ) Major ) Capitão ) Tenente 2) Quadro ( ( ( ( ( ( ( ( ( ) Aviador ) Engenheiro ) Médico ) Intendente ) Infante ) Farmacêutico ) Dentista ) Especialista ) Convocado ou Temporário 3) Tempo de serviço (em anos): ________* *Para este quesito, frações superiores a seis meses contam como um ano completo. 4) Idade (em anos): ________ 5) Gênero ( ) Masculino ( ) Feminino 6) Formação Acadêmica (considerando também os cursos de carreira) ( ) Graduação, Licenciatura ou Bacharelado ( ) Pós-graduação (MBA ou Especialização) 131 ( ) Mestrado ( ) Doutorado ( ) Pós-doutorado 7) Estado Civil ( ( ( ( ) Casado(a) ou união estável ) Solteiro(a) ) Divorciado(a) ) Viúvo(a) 8) Grande Comando a que pertence ou está vinculado atualmente ( ( ( ( ( ( ( ( ( ) EMAER ) COMGAR ) COMGAP ) COMGEP ) DEPENS ) SEFA ) DCTA ) DECEA ) GABAER 9) Tipo de Organização em que serve ou está vinculado atualmente ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ) UNIDADE AÉREA ) BASE AÉREA ) FAE ) COMANDO AÉREO REGIONAL ) PARQUE DE MATERIAL AERONÁUTICO ) UNIDADE-ESCOLA OU CENTRO DE FORMAÇÃO ) ORGANIZAÇÃO DE SAÚDE ) SUBDIRETORIA/FAZENDA/DEPÓSITO ) INSTITUTO/CENTRO/GRUPO DE COMUNICAÇÕES ) GRUPO DE APOIO (GAP, GAL) / COMISSÃO AERONÁUTICA BRASILEIRA (CAB) ) CINDACTA/DTCEA ) NO PRÓPRIO GRANDE COMANDO 10) Função atual ( ( ( ( ( ( ( ( ) Comandante/Chefe/Diretor/Prefeito ) Chefe de Estado-Maior ) Chefe de Gabinete ) Subcomandante ) Agente de Controle Interno ) Chefe de Divisão/Seção Administrativa ou Operacional ) Oficial Aluno (CPEA, CCEM ou CAP) ) Estagiário em UAE 11) Tempo na atual função (em anos): _______* *Para este quesito, frações superiores a seis meses contam com um ano completo. 12) Número de pessoas atualmente sob sua subordinação ( ( ( ( ( ) Atualmente nenhuma ) Menos de 10 pessoas ) Entre 10 e 30 pessoas ) Entre 31 e 130 pessoas ) Mais de 130 pessoas 132