DIÁLOGOS ENTRE AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO E A PRÁTICA DOCENTE NO ENSINO DA ARTE
SILVA, Tácia Graciele de Albuquerque1 (AACC)
Resumo:
O foco da pesquisa são as relações entre o ensino de Arte e o uso de
tecnologias na sala de aula, investigadas a partir das práticas docentes no
ambiente escolar embasado nos conceitos de letramento digital,
hipertexto e dos gêneros textuais digitais. A pesquisa engloba uma
primeira fase diagnóstica com a entrevista de docentes do ensino
fundamental I (1º ao 5º ano) sobre suas práticas e a utilização de TICs na
área de Arte; e uma segunda fase formativa com a análise de dados além
da proposta de uma oficina pedagógica para os docentes.
Palavras-chave: Arte, Formação docente, tecnologias da informação e
comunicação.
Resumen:
El foco de la pesquisa son las relaciones entre la enseñanza del Arte y el
uso de las tecnologías en la sala de aula, investigadas a partir de las
prácticas docentes en el ambiente escolar basado en los conceptos de
letramiento digital, hipertexto y de los géneros textuales digitales. La
investigación engloba una primer fase diagnóstica con la entrevista de
docentes de la enseñanza primaria (1º al 5º año) sobre sus prácticas y la
utilización de las TICs en la área del Arte; y una segunda fase formativa
con el análisis de datos además de la propuesta de un taller pedagógico
para los docentes.
Palabras-clave: Arte, Formación docente, tecnologías de la información y
comunicación.
Introdução
Dialogar, trocar e partilhar são conceitos similares que venho buscando
atrelar nessa pesquisa sobre ensino de arte e o uso de tecnologias da informação e
comunicação na prática docente.
Trazemos aqui um breve olhar sobre algumas concepções iniciais desses dois
campos de conhecimentos que estão em contínua expansão, devido à necessidade
1
Tácia G. de A. Silva, atriz e professora especialista em Ensino de Arte (UFAL)
Associação Artística Cia. do Chapéu (AACC)
[email protected]
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de reflexão sobre as práticas e conceitos que os permeiam. O ensino de arte é uma
seara pedagógica que vem se consolidando e cada vez mais firmando sua
importância na formação social e intelectual do sujeito, pois visa despertar a
criatividade, expressividade, reflexão e criticidade. O uso de tecnologias da
informação e comunicação (TICs) por sua vez, é uma práxis intrínseca na sociedade
que há tempo já adentrou no lócus escolar, mas por outro lado muito tem a ser
desenvolvido, não só em seu sentido instrumental (enquanto aparato técnico para
ensinar/aprender alguma disciplina) mas como área de conhecimento em si mesma,
possuindo saberes e competências específicas.
Nesse sentido, trazemos um debate no campo da metacognição, que circunda
a competência do aprender a aprender, baseada no Relatório da Unesco, com o
pilar da educação “aprender a saber” (DELORS, 2001, p. 21), buscando perceber os
aspectos cognitivos e emocionais na utilização das TICs através do olhar docente.
Essa competência vem nos elucidar que o (a) educador (a), deve ter
percepção sobre si mesmo (a) de forma ampla e consciente, tanto no domínio do
currículo (nesse caso específico, a Arte) quanto na prática metodológica (recursos,
limites, interesses, estratégias, metodologias e motivação). Esse pensamento é de
grande valia pois como estamos vivendo na “era da informação” (APARICI, 2012) “a
educação deve permitir que todos possam recolher, selecionar, ordenar, gerir e
utilizar as mesmas informações” (DELORS, 2001, p. 21).
Por isso, partindo de algumas inquietações pessoais, surgiu a problemática:
Como os(as) professores(as) pensam e ensinam a arte através de tecnologias da
informação e comunicação? E buscando responde-la, foi organizada uma pesquisa
qualitativa com professoras do ensino fundamental I, na rede de ensino de MaceióAL com o objetivo de refletir sobre as relações entre o ensino de arte e o uso de
tecnologias na sala, identificando os principais conceitos e práticas.
Trazemos então nesse artigo um recorte, organizado em um primeiro
momento que elucida algumas conceituações teóricas e históricas acerca do ensino
de arte e das TICs, embasados nos estudos de Antônio Carlos dos Santos Xavier
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(2002), Jean Cloutier (2012), Roberto Aparici (2012), Ana Mae Barbosa (1978, 1983,
1989, 2002, 2005), Andréa Bertoletti (2010) entre outros; Em um segundo momento
são expostos a metodologia e os resultados obtidos.
Ensino de Arte entre conceitos e feitos
Desde a invasão do Brasil em 1.500, o ensino de arte vem ocorrendo
formalmente ou informalmente enquanto prática pedagógica, porém só veio a ser
regulamentado e teve sua obrigatoriedade com a promulgação da Lei Nº 5692/71.
Entretanto, ainda hoje existem muitas controvérsias sobre a arte que é levada
para a Escola e qual sua função no currículo pedagógico. Isso se dá porque a Arte
não foi valorizada como uma área de conhecimento desde sua implementação, que
inicialmente foi regulamentada como atividade educativa e posteriormente como
disciplina curricular. Ou seja se antes era vista como um recurso didático a serviço
da escola ou com caráter decorativo, lentamente passou (ou em certos casos ainda
não passa) a ser vista como campo de conhecimento, que através de suas
diferentes
linguagens
possui
sua
contextualização
histórica,
estrutura,
características, e diversidade de práticas.
Decorrentes dessas ambiguidades, foram ampliando-se os debates sobre os
conceitos, métodos e tendências pedagógicas que regem o ensino da arte na
escola. Por isso, para entendermos melhor a complexidade desses debates, vamos
fazer um breve passeio sobre as terminologias e princípios.
O que é arte? Por que a arte deve ser ensinada na escola? Para que serve a
arte na escola? O que deve ser ensinado na disciplinada de arte?
Bem, estas e outras perguntas estão no imaginário de muitos profissionais que
atuam na escola, que ao tentar responder se deparam com um axioma de conceitos
e provavelmente algumas das respostas serão inspiradas nas vivências pessoais, nos
ideais e provocações que lhe cabem. Por isso é importante não trazer uma visão
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simplista das questões, rotulando ou nomeando isso ou aquilo, mas propiciar a
reflexão acerca dessas pluralidades de concepções.
Pois o mundo está em contínua mudança, tecnológicas, sociais, econômicas
consequentemente o olhar sobre o mundo se modifica e os paradigmas se
transformam. Partindo desta premissa, vemos que conceituar a Arte ou Educação
não é uma tarefa fácil, pois ao buscarmos conceitos, nos deparamos com as
diversidades dos conhecimentos, que são reflexo das complexas relações sociais e
educativas que estão em contínua mudança também.
A dificuldade de definir o ensino da Arte, está principalmente relacionada à
própria complexidade de definir sua identidade. O que se entende por Arte na
escola, seus objetivos, métodos e linguagens, vem sofrendo transformações neste
processo histórico-social.
Como citam Ferraz e Fusari (1993, p.18) “o próprio
conceito de Arte tem sido objeto de diferentes interpretações: arte como técnica,
materiais artísticos, lazer, processo intuitivo, liberação dos impulsos reprimidos,
expressão, linguagem, comunicação...”.
Assim, sabemos que não é possível classificar a Arte ou Educação com rótulos
superficiais, pois em seu sentido mais real, ambas avançam tais conceituações
estáticas. O que buscamos aqui é compreender suas conceituações, a partir de
seus contextos, para assim melhor entendermos o ensino da Arte.
Consideramos que em nosso processo de formação, existem fatores
primordiais para o nosso desenvolvimento: a linguagem e a reflexão acerca da
produção do conhecimento gerado.
A linguagem está vinculada às formas de comunicação, que englobam
especificidades, expressões temporais ou espaciais. As formas de comunicação no
decorrer dos séculos vieram se modificando, evoluindo das mimeses, a fala, a
escrita, as mensagens, ao telégrafo, ao telefone, as placas, os sinais, ao celular, a
internet, ao e-mail, ao bate-papo, ao 3G, 4G QR Code, Realidade aumentada, GPS
e etc...
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Ou seja, formas de comunicação evoluem de acordo com as necessidades e
realidades dessa sociedade, implicando consequentemente na ampliação do
intelecto humano.
E nesse processo de comunicação a humanidade utiliza as
diversas linguagens artísticas para se expressar, seja verbalmente, corporalmente,
musicalmente, interativamente ou visualmente.
Com isso, entendemos por Arte a expressão de reflexões acerca da
humanidade, utilizando diversas linguagens específicas, na qual o sujeito expressa
impressões sobre si, sobre o outro e sobre o mundo, através da Dança, das Artes
Cênicas e Performáticas, do Audiovisual, da Música e das Artes Visuais.
Quanto à reflexão acerca da produção do conhecimento gerado, este é o
papel da Educação. Na escola institucionalizam-se os saberes produzidos pela
humanidade e os catalogam, separadamente, em áreas de conhecimento, mesmo
sabendo que na vida o saber é produzido a partir das vivências inter-relacionadas.
Reconhecemos que esta compartimentação é um recurso didático para
possibilitar uma melhor compreensão do conhecimento, porém criticamos aqui o
tratamento isolado, encontrado em muitas escolas, onde tais saberes são vistos
como ilhas que não se relacionam ou interagem com as outras experiências de vida.
Como partimos da premissa que não separamos os nossos conhecimentos em
compartimentos isolados, em consenso com Brandão (p.9, 1995) defendemos que:
Não há uma forma única, nem um único modelo de educação; a escola não
é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino
escolar não é sua única prática e o professor profissional não é seu único
praticante.
Por isto, antes de pensarmos a educação em disciplinas isoladas, ou de
buscarmos fórmulas prontas, devemos refletir sobre a nossa realidade e os modos
de produção determinantes nas relações sociais. Pois a educação é o processo
cognitivo no qual o sujeito aprende diversos conhecimentos através da interação
entre seus saberes, os objetos de conhecimentos e da relação com o meio social
no qual está inserido, com a mediação do (a) educador (a).
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A Arte estabelece um elo convergente entre a reflexão crítica, a percepção
estética e a expressão artística da realidade e a educação em si, ultrapassando seu
sentido escolar, pode contribuir no processo de formação do sujeito, enquanto ser
crítico, histórico, agente e transformador de sua realidade.
Ensino de Arte e algumas barreiras históricas
No Brasil, o ensino de arte foi institucionalizado e obrigatório nas escolas a
partir de 1971 com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nº 5692/71, com o
nome de Educação Artística, importando o modelo educativo norte-americano. Em
plena ditadura militar, a Arte foi inserida para possibilitar o avanço tecnológico e
reproduzir os pensamentos dominantes. Na Educação Artística, a preocupação era
centrada na expressividade individual e técnica dos (as) alunos (as), sem quaisquer
embasamentos sobre a epistemologia, as linguagens artísticas ou a história da Arte.
Na década de 80, insatisfeitos com as práticas do ensino e influenciados por
diversos
pensamentos
filosóficos,
antropológicos,
artísticos,
pedagógicos,
psicológicos e modernistas, surge o Movimento da Arte-Educação numa tentativa de
conectar a Arte e a Educação. Em suas inquietações buscavam novas metodologias
e aprendizagens sobre Arte, através do posicionamento profissional e político do
indivíduo. Valorizava-se a importância da livre expressão do indivíduo e de seu
desenvolvimento expressivo, mas sem haver uma real preocupação com o processo
de desenvolvimento artístico, descaracterizando progressivamente o ensino de
Arte.
Porém, para o linguista Hommo Bhabha, (Apud. Frange 2002, p. 45) o hífen
entre o Arte-Educação, revela um pensamento separatista, contrário às suas
concepções que buscavam “resgatar relações significativas entre a Arte e a
Educação”. Por isto propõe o termo Arte/Educação numa visão articuladora, “para
reforçar a idéia de imbricamento, contigüidade, terceiro espaço”.
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É comum também, escutarmos e observarmos a frequente utilização do
termo professor (a) de Artes, o que revela ainda uma concepção generalista, a
polivalência do(a) educador (a), onde este(a) deve ser capaz de ministrar aulas de
Teatro, Dança, Música e Artes Visuais, abrangendo especificidades teóricas e
práticas. Porém, sabemos que o idealismo não se cumpre na prática e nem é
coerente com o entendimento do ensino de Arte que buscamos, contribuindo para a
negligência do ensino, que muito teoriza e pouco faz.
A partir de diversas solicitações dos profissionais do ensino de Arte,
representados pelo Movimento da Arte-Educação e do FAEB (Federação de ArteEducadores do Brasil), em 04 de outubro de 2005, foi promulgada a Resolução
CNE/CEB Nº 22/2005 que retifica o termo Educação Artística pela designação Arte,
com base na formação docente específica, ou seja, o ensino de Arte focado em
uma das linguagens (Artes Visuais, Dança, Música ou Teatro).
Esta retificação não se deu apenas em sua nomenclatura, abrangeu conceitos
epistemológicos, superando um ensino reprodutivo e fragilizado, como cita a
própria Resolução CNE/CEB Nº 22/2005 que “... a arte foi incluída no currículo
escolar com o título de “Educação Artística”, considerada, porém, como “atividade
educativa” e não disciplina.”. Nesta percepção, o ensino da Arte não se resume às
atividades extracurriculares, mas é encarado como área de conhecimento, com
suas especificidades, abrangências e complexidades.
Compactuamos com necessidade de que deve ocorrer uma mudança de
conceitos e práticas no ensino da Arte, porém sabemos que mudar não é fácil e
gera medo. E para haver mudanças é necessário que superemos o medo, para que
haja a compreensão da realidade e a vontade de mudar, num processo coletivo de
construção de conhecimentos.
Mesmo havendo grandes discussões e movimentação dos (as) arte-educadores
(as) para que tais mudanças ocorram, estes (as) são minorias diante da realidade
do país. Por isso, a verticalização das decisões, a falta de clareza e de ações dos
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demais educadores (as) e gestores (as), contribuem para a precariedade do ensino
e da aprendizagem de Arte.
Ainda identificamos a exclusão curricular do ensino de Arte, pois em muitos
casos a disciplina é sufocada pelos conteúdos curriculares, quando não é
simplesmente restrita ou esvaziada a projetos didáticos ou em atividades visuais e
manuais, sob o errôneo discurso de “interdisciplinaridade”. Concordando com estes
pensares, Irene Tourinho (2002, p.28) cita que “A hierarquia do conhecimento
escolar – implícita e explícita – ainda mantém o ensino de Arte num escalão inferior
da estrutura curricular.”
Ensino de Arte e TICs: estreitando relações
O uso de tecnologias da informação e comunicação também é um fenômeno
que vem gradativamente sendo inserido na educação e cada vez mais influencia
nossas práticas metodológicas.
Devemos
perceber
que
a
sociedade
antes
centrada
numa
cultura
transmissiva, massiva e unilateral, se reconfigurou e com o advento da Web 2.0 se
apopria dos aparatos comunicativos
para receber informações, transmitir e co-
criar interativamente.
Por isso, ao pensarmos nas relações entre as tecnologias digitais e o ensino
das arte é importante que se configure nesse modelo interativo, de modo que as
TICs sejam vistas como “ferramenta, pesquisa e linguagem. Como ferramenta:
softwares de criação e produção de imagens. Como Pesquisa: diacrônica – sites de
arte, visita virtual em rede, e sincrônica – instantânea e virtual (Web Art). Como
Linguagem: manifestações artísticas exclusivas das tecnologias digitais. (Bertoletti,
2010).
Nesse sentido, embasamos o que foi dito na introdução sobre não pensar o
uso da TICs, como fim instrumental de uma disciplina, mas como fonte de
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aprendizagem em si mesma através da interação entre professor e aluno. Para
Tardif (2005, p. 235): “A interatividade caracteriza objeto do trabalho do
professor, pois o essencial de sua atividade profissional consiste em entrar numa
classe e deslanchar um programa de interações com os alunos... Ensinar é um
trabalho interativo”.
Por isso, pensamos que a integração da arte com as TICs propicia diversas
oportunidades além de meras ferramentas, mas também como dá forma no
ambiente
social
sendo
um
instrumento
de
mediação
no
processo
ensino/aprendizagem. Tentando citar alguns exemplos, entre muitos, ensinar e
aprender arte com o uso de tecnologias digitais pode ocorrer, através de
proposições artísticas específicas (utilização de software e programas), de
pesquisas sobre da história da arte, da cultura visual emergente deste meio, bem
como na produção e tratamento de imagens que possam ser construídos por
projetos educacionais. (BERTOLETTI, 2012)
Segundo Barbosa (2005, p.110) “para compreender e fruir a arte produzida
pelos meios eletrônicos, o público necessita de uma nova escuta e de um novo
olhar”. Essas novas reconfigurações no olhar e na escuta, estão diretamente
relacionadas com uma educação que parte do conhecimento dos sujeitos e
promove novas interações que se sustentam em propostas colaborativas entre
alunos, professores, instituições e comunidade.
Dessa forma, concordamos com
Andréa Bertoletti que diz:
A introdução de tecnologias digitais nas escolas suscita mudanças na
construção do conhecimento, na produção, armazenamento e difusão das
informações. Desperta, desta forma, questionamentos sobre métodos
didáticos tradicionais e clama por uma emergente redefinição do papel do
professor e de sua relação e interação com os alunos. (BERTOLETTI, 2012)
Esses questionamentos imperam a necessidade de adequações no papel do
professor, de forma que dialoguem com as demandas sociais e educacionais.
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Decorrentes dessas necessidades, realizamos nossa pesquisa visando identificar
conceitos e práticas.
Metodologia
Realizamos uma pesquisa qualitativa, bibliográfica e direcionada num
estudo de caso, dividida em e etapas: 1ª etapa – diagnóstica: através de entrevista
com perguntas abertas com docentes de 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental; 2ª
etapa – analítica e formativa: análise dos dados levantados e relacionando com
fundamentação teórica; planejamento de uma oficina pedagógica a partir da dos
conhecimentos prévios levantados para os docentes da escola;
Como citado anteriormente, o objetivo geral era refletir sobre as relações
entre o ensino de arte e o uso de tecnologias na sala a partir de entrevista com
docentes, identificando os principais conceitos e usos.
Nos objetivos específicos,
buscamos fazer um diagnóstico do quadro docente, através de pesquisa dos
conceitos e práticas sobre o ensino de arte, letramento digital, hipertexto e gênero
textual digital; Analisar as hipóteses investigadas a partir dos pressupostos teóricos
do trabalho; E propor oficina pedagógica com docentes, como formação continuada
sobre o uso das TICs nas aulas de Arte (Fundamental I).
No decorrer da pesquisa, através de um questionário estruturado com
perguntas abertas, pudemos traçar o perfil da escola, que é particular situada na
zona periférica de Maceió e atende a alunos de classe média e baixa; As entrevistas
foram feitas em 2013, com professoras efetivas de 1ª ao 5ª ano dos turnos manhã e
tarde, com faixa etária entre 37 e 42 anos, pós-graduadas na área de educação e
tempo de docência superior a 10 anos.
Vale ressaltar algumas observações técnicas sobre a escola, como que o
laboratório de informática passou o ano desativado por questões estruturais e o
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ensino de Arte é dado pelas próprias professoras, sendo obrigatório o uso de
módulo educativo (semestral) da rede adotada pela escola.
Resultados obtidos
Num primeiro momento, perguntamos sobre a importância do uso de
tecnologias da informação e comunicação e destacamos as seguintes respostas:
Vivemos num mundo da tecnologia, o aluno precisa estar bem informado
dessas mudanças.(Questionário 1). Devido grandes avanços tecnológicos e
a modernização faz com que a escola se integre a essa inovação.
(Questionário 2)
Podemos perceber que para esses profissionais o uso de tecnologias
digitais, vem a serviço da educação, para desenvolver habilidades e competências
exigidas por nossa sociedade e mercado, gerando essas “mudanças” e a
necessidade de “estar bem informado”, de modo que essa tecnologia se “integre”
na práxis social e educativa. Nesse sentido, isso se destaca como positivo pois
usufruir das tecnologias digitais consolida o processo comunicativo de forma
autônoma e participativa, porque:
A comunicação está vinculada aos atos fundamentais de um cidadão.
Significa participação, ação, conectividade. Para isso, é preciso ter
consciência da necessidade de pôr em funcionamento processos de
libertação, em termos freirianos, a partir de novas alfabetizações que
comprometam toda a cidadania. (APARICI, Roberto. 2012 p.31)
Depois, buscamos saber quais os entendimentos sobre alguns conceitos
específicos da área de tecnologia digital, partindo da premissa que ao conhecer
melhor sobre os conceitos a prática do uso de TICs será melhor fundamentada. Ao
perguntarmos sobre o que se entendia por letramento digital, falaram:
A escola apresenta algumas definições como leitura e escrita no
computador. (Questionário 3) Trabalho e utilizo bastante a informática no
meu ambiente escolar e de pós.(Questionário 4)
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Porém, essas visões são limitadas na percepção de que apenas o fato de
utilizar o aparato tecnológico, por si só já produz um processo educativo. Porém,
pensamos que, da mesma forma que no processo de aquisição da leitura e escrita
existe uma diferença entra a alfabetização (decodificar o código de letras e
fonemas) e o letramento (fazer o uso social do código, de forma significativa)
também irá ocorrer no meio digital.
Para elucidar o que entendemos por letramento digital, Antônio Xavier diz
que é quando “... sujeito que adquiriu a tecnologia da escrita, sabe decodificar os
sinais gráficos do seu idioma, mas ainda não se apropriou completamente das
habilidades de leitura e escrita... (XAVIER, 2012)”.
Por isso, vemos que as falas acima em verdade representam o conceito de
alfabetização digital. Mas também obtemos uma resposta que demonstra
conhecimento sobre o que é letramento digital, dizendo que “É a consciência,
atitude e capacidade dos indivíduos de apropriadamente utilizar ferramentas
digitais e facilidades.” (QUESTIONÁRIO 5)
Enquanto educador(a), devemos ser capazes de fazer e ensinar o
letramento digital, visando “a capacidade de enxergar além dos limites do código,
fazer relação com as informações fora do texto falado ou escrito e vinculá-las à sua
realidade histórica, social e política (XAVIER, 2012)”.
Outro conceito que perguntamos foi o que entendiam por hipertexto e
como relacionavam com sua prática. Obtivemos poucas respostas, e destacamos a
seguinte: “O hipertexto é um formato digital onde se agrega outros conjuntos,
sons, imagens leitura” (QUESTIONÁRIO 6). Tal pensamento se aproxima com a visão
de que:
é uma página eletrônica da Internet que permite o acesso simultâneo do
leitor a textos, imagens e sons de modo interativo e não-linear,
possibilitando visitar outras páginas e assim controlar até certo ponto sua
leitura-navegação na grande rede de computadores. (XAVIER, 2012.)
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Pois o hipertexto digital, se trata de qualquer suporte na tela que permita
conduzir a outros textos, sons, vídeos e imagens com o clique do mouse. E esse
recurso já vem sendo explorado no meio artístico, por movimentos como da Arte
Digital e da Net-Art, que já vem utilizando o hipertexto como suporte de suas
expressões artísticas.
Porém o que mais nos intrigou foi o fato de ao perguntarmos o que seriam
os “gêneros textuais digitais”, nenhuma das entrevistadas respondeu à pergunta
diretamente, deixando a opção em branco; isso é alarmante pois, no campo da
linguagem esse termo é amplamente debatido e poderia possibilitar elementos de
inferência e dedução para a resposta, então esse fato já nos deu um indicativo dos
pontos que deveríamos aprofundar na formação.
Em outra parte do questionário, especificamos as perguntas buscando saber
sobre os conceitos e práticas no ensino de arte e obtemos as seguintes respostas:
Ensinar arte é ser criativa. (QUESTIONÁRIO 7) É explorar a imaginação do
indivíduo através de seus sentimentos e o seu modo de se expressar
através de uma atividade artística. (QUESTIONÁRIO 8) Contribui por meio
da arte o aprendizado e desenvolvimento de habilidades e competências.”
(QUESTIONÁRIO 9) Seria o despertar da criança para o gosto pela música,
pintura, entre outros. (QUESTIONÁRIO 10)
Em nenhum desses pensamentos, a arte foi apontada enquanto uma área de
conhecimento com saberes históricos e críticos, sendo mais enfatizado o caráter
criativo
e
a
expressividade
dos
sentimentos
(lembrando
fundamentos
escolanovistas), ou sendo a arte um “meio” para desenvolver certas atitudes e
gostos, no sentido instrumentalista e tecnicista.
Novamente, são expostos conceitos
reducionistas, que demonstram a
necessidade de rever práticas para ampliar um ensino significativo por meio da
arte. A Arte é uma expressão individual e coletiva da humanidade, pois segundo
Ferraz e Fusari (1993, p. 19) “Em cada sociedade e em cada época, as obras
artísticas são também sínteses que dependem das trajetórias pessoais de quem as
fez e de suas concepções sobre o ser humano”.
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Para o ensino de arte, pensamos a partir da abordagem triangular,
elaborada por Ana Mae Barbosa (1989), que vem justamente problematizar o ensino
a partir do trinômio fazer, contextualizar e refletir. Assim, o ensino de arte deve
possibilitar a compreensão dessas variadas linguagens (artes visuais, da dança, das
artes cênicas, da música e etc...) através do conhecimento de artistas, obras e
contextos históricos, da reflexão sobre as características e objetivos da obra e por
fim com a experimentação prática de técnicas e materiais diversos.
Ao perguntar sobre quais materiais eram utilizados para a aula de arte,
foram listados os seguintes: livro didático, computador pessoal (pesquisas), massa
de modelar, tinta, sucata, revistas, poesias, televisão (desenhos animados),
desenhos ou não utiliza por falta de recursos na escola.
É importante ressaltar que as tecnologias digitais utilizadas na escola são
restritas ao uso do computador pessoal do aluno (através de pesquisas escolares
realizadas em casa) e com a televisão na sala (assistindo desenhos animados), isso
justificado pelo fato de que não se utiliza por falta de recursos na escola (que está
com o laboratório de informática desativado). Mas é importante indagar: Será que
realmente não haveriam recursos? E os dispositivos móveis dos próprios alunos e
professores como poderiam ser explorados?
Por tudo isso, questionamos sobre o que os professores e todo o corpo
técnico pensa e fazem em sala de aula. Pierre Lévy (1999, p. 19) nos diz que “a
virtualização fluidifica as distinções instituídas, aumenta os graus de liberdade,
cria um vazio motor”. Então, buscando preencher esses vazios, vem o papel da
escola e questionar a utilização das TICs são questões primordial para que
pensemos em estratégias de mudança e superação.
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Considerações finais
Sabemos que no ensino de arte, um dos principais desafios é superar a
fragmentação do binômio “arte e educação”, que há muito vem sendo visto como
saberes desvinculados ou tem encarado a arte como um acessório a serviço da
educação. Por isto, devemos realizar um caminho inverso do pensamento dualista,
no qual se desconectam tais saberes e seguir para o pensamento dialético que
dialoga com tais conhecimentos.
Percebemos então que, para ensinar arte devemos nos deter num processo
mais acirrado de apropriação, ou seja, o (a) educador (a) deve se apropriar de
conceitos e teorias que contribuam para uma aprendizagem significativa e que não
se esvaziem numa folha de papel em branco, num “Pode pintar o que quiser!” ou
“Vamos decorar as salas!”, entre tantas outras atrocidades que infelizmente são
praticadas.
Refletimos ainda sobre a importância do ensino, partindo do PCN (1997,
p.15) de arte para o Ensino Fundamental, que afirma:
Aprender arte é desenvolver progressivamente um percurso de criação
pessoal cultivado, ou seja, alimentado pelas interações significativas, que
o aluno realiza com aqueles que trazem informações pertinentes para o
processo de aprendizagem (outros alunos, professores, artistas,
especialistas), com fontes de informação (obras, trabalhos dos colegas,
acervos, reproduções, mostras, apresentações) e com o seu próprio
percurso de criador.
Dessa forma, valorizar o ensino de arte é antes que mais nada, valorizar o
sujeito e seus conhecimentos, é perceber a arte como forma de expressão e como
conteúdo significativo na construção da identidade cultural. “Pois para ampliar os
limites da tecnologia e seu uso, é preciso pensar as relações entre a tecnologia e
processo de conhecimento, tecnologia e processo criador. (BARBOSA, 2005, P.111)”
Como finalização da pesquisa, proporcionamos uma oficina pedagógica que
buscou investir na formação docente construindo novos conceitos e práticas
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educativas. Com a utilização das tecnologias disponíveis (celulares, câmera e etc)
para construção de saberes significativos na disciplina de Arte.
Na oficina, pudemos perceber a educação como um fenômeno educativo
que se baseia no conceito de Emerec (Cloutier apud APARICI, 2012), no qual os
sujeitos são emissores e receptores ao mesmo tempo, produzindo e refletindo
sobre as informações geradas. Assim, buscamos além do uso de recursos
tecnológicos incentivar a construção de autonomia e formação cidadã com práticas
de letramento digital.
Descobrimos que o uso de TICs e suas relações com o ensino da arte vão
além da utilização de softwares educacionais, pois a internet e seus recursos
hipermídia ampliam as possibilidades de contato e mediação na construção de
conhecimento em arte. Gerando um acesso participativo interativo através das
linguagens e da produção artística em diferentes contextos históricos.
Por isso finalizamos com Bertoletti (2010), dizendo que para “que
integrem efetivamente a prática educacional em arte, é necessária uma maior
compreensão
dos
aspectos
específicos
das
tecnologias
digitais,
enquanto
ferramenta, pesquisa e linguagem.”
Referências
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