1 “QUALIDADE EM SERVIÇOS DO PONTO DE VISTA DA PRODUÇÃO” José Roberto Soares Ribeiro Universidade Metodista de Piracicaba-UNIMEP RESUMO Recupera-se uma metodologia para análise e implementação de melhorias na qualidade dos serviços prestados por uma organização, mostrando que pode ser utilizada, não como ferramenta única e definitiva, mas como mais um referencial a considerar na busca da melhoria da qualidade e da competitividade de organizações diversas. Tradicionalmente, vincula-se este assunto à área de marketing e não à de produção. Discute-se proposições concretas sobre o que fazer para chegar ao propalado objetivo de “atender às necessidades dos clientes”, ou seja, do ponto de vista da produção efetiva dos serviços. Apresenta-se, então, a formulação de Denton (1990), que pesquisou diversas empresas nos EUA consideradas como tendo excelência na qualidade de seus serviços. Este autor salienta o ponto de vista da produção dos serviços. Segundo ele, empresas que fornecem bons serviços são capazes de entregálos efetivamente porque aplicam princípios básicos: 1.Visão gerencial; 2.Desenvolver um nicho estratégico; 3.A alta administração deve demonstrar apoio; 4.Entender o seu negócio; 5.Aplicar os fundamentos operacionais; 6.Entender, respeitar e monitorar o cliente; 7.Usar tecnologia apropriada; 8.Necessidade de inovar; 9.Contratar as pessoas certas; 10.Fornecer treinamento com base no perfil; 11.Definir padrões, medir o desempenho e agir; 12.Estabelecer incentivos. Apresentam-se exemplos de aplicação, envolvendo uma empresa de cobranças, uma lanchonete, uma secretaria de finanças de uma prefeitura e um projeto de um buffet. Para a empresa de cobranças, detectouse pontos positivos e negativos, concluindo-se que necessita aperfeiçoar a qualidade dos serviços, tornando melhorias permanentes no dia-a-dia e não apenas no processo de “apagar incêndios”. Para a lanchonete, a conclusão foi que havia a necessidade da empresa se reciclar para aproveitar seu potencial desperdiçado, se preparar e garantir sua sobrevivência e até desenvolvimento, sendo que ela possuia qualidade restrita dos seus serviços e a desenvolver. Para a secretaria de finanças, concluiu-se que não atendia aos princípios em sua maioria: um não se aplicava, atendia a três, não atendia a sete e atendia parcialmente a um deles. Quanto ao projeto do buffet propôs-se especialmente: desenvolver um nicho de mercado (formaturas), especializando-se para atrair a clientela; administrar conjuntamente com os funcionários; referenciar-se na excelência para com os clientes, pois a tendëncia é a personalização de serviços, levando a atender cada festa e cada grupo de pessoas de modo exclusivo, buscando retorno e satisfação como uma das metas primárias da organização; usar tecnologia avançada, visando agilidade e diminuir custo; aperfeiçoar produtos para maior competitividade; flexibilidade e abertura para inovar e atender os requisitos da globalização; incentivos para a equipe sempre operar com o melhor de si. Um conclusão geral é que os pontos de Denton se aplicam às organizações como um todo e suas partes devem seguir as orientações gerais. Finalmente, consideramos que conseguimos discutir a qualidade dos serviços do ponto de vista da produção, pois apresentamos uma teoria e exemplos de sua aplicação para auxiliar, avaliar e propor melhorias para a qualidade dos serviços de uma organização - os doze princípios de Denton - para concretizar o slogan “satisfazer o cliente”. 2 Palavras-chave: serviços, qualidade, gestão, produção I. INTRODUÇÃO Queremos chamar a atenção para a qualidade dos serviços do ponto de vista da administração da produção. Em geral, o tema da qualidade dos serviços tem estado restrito à área de marketing e não á area de produção. Enfatiza-se quanto à este tema a meta de “atender às necessidades do consumidor”, havendo uma carência de desenvolvimento em relação ao que efetivamente uma organização deve fazer para atender a este objetivo. Sendo assim, recuperamos e sintetizamos uma metodologia de análise e implementação de melhorias na qualidade dos serviços de uma organização, formulada por DENTON (1990), o qual pesquisou diversas empresas nos EUA consideradas como tendo excelência na qualidade de seus serviços. Este autor contribui para uma abordagem do ponto de vista da produção dos serviços. Para DENTON (1990, p.203): “É o gerenciamento operacional que produz os altos níveis de serviço. Serviços nada tem a ver com promoções, publicidade ou marketing.” Segundo ele “as companhias que fornecem bons serviços são capazes de entregar serviços efetivamente porque aplicam princípios básicos da qualidade em serviços. Esses princípios - e não promoções, dinheiro ou diretrizes corporativas - é que são o cerne dos serviços com qualidade.”(DENTON, 1990, p.195) Tivemos a oportunidade de orientar a utilização destes pontos - que as empresas deveriam seguir para conseguir qualidade em seus serviços - em diversas pesquisas realizadas junto à área de administração da produção da disciplina “Estágio Supervisionado em Adm.”(ESA) do curso de administração da Faculdade de Gestão e Negócios da Unimep. As pesquisas realizadas mostraram que a proposta de Denton é possível de ser utilizada, não como ferramenta única e definitiva, mas como mais um referencial a ser considerado na busca da melhoria da qualidade e da competitividade das organizações, propiciando que a área de produção também se pronuncie nesta questão. II. PRINCÍPIOS PARA A QUALIDADE DOS SERVIÇOS. Segundo Denton, empresas que fornecem bons serviços são capazes de entregá-los efetivamente porque aplicam princípios básicos: 1.Visão gerencial; 2. Desenvolver um nicho estratégico; 3. A alta administração deve demonstrar apoio; 4. Entender o seu negócio; 5. Aplicar os fundamentos operacionais; 6. Entender, respeitar e monitorar o cliente; 7. Usar tecnologia apropriada; 8. Necessidade de inovar; 9. Contratar as pessoas certas; 10. Fornecer treinamento com base no perfil; 11. Definir padrões, medir o desempenho e agir; 12. Estabelecer incentivos. A seguir uma síntese dos princípios formulados por DENTON (1990): 3 2.1- Visão gerencial Une todas as outras peças do quebra-cabeças da satisfação dos clientes, significando a visão do presidente e sua capacidade de comunicá-la. Refere-se a que a alta administração: a) tem visão clara a respeito do que representa a organização, como devem ser as coisas e como devem ser feitas; tem estratégica apropriada, desenvolve um abordagem única, simplificada, especializada, é inflexível a respeito da qualidade, consegue priorizar e agir com vigor nas falhas; b) consegue aceitação de sua forma de ver as coisas, comunicar ou compartilhar sua visão com os subordinados e com a organização, incorporando-a à cultura da mesma, consegue que ela tenha uma personalidade única. Isto exige personalidade forte e dinâmica, assumir a liderança (liderança eficaz), ser bom comunicador, conseguir que entendam para onde quer ir e o que fazer para isto. A visão gerencial surge com o enfoque claro do que a organização representa e se encerra com as características humanas que criam respeito, admiração e desejo do pessoal de executar os desejos da alta administração. Além de ter um enfoque claro e saber comunicá-lo, a alta administração deve ter características que consigam dos empregados respeito e admiração, ou seja, uma liderança humanista. Tem um lado humano ou preocupações humanitárias, preocupa-se - não é um tecnocrata frio. “Ser líder é ser humano ... a liderança recebe aquilo que dá”. Os empregados e a gerência tem que se identificar com seu presidente, que consegue ser querido, respeitado e admirado, tendo a “figura do pai benevolente”. Para isto envida esforços para conhecer o máximo de seu pessoal, considera-os como amigos, concede abertura, confiança e respeito mútuo. É benquisto, chegando a “arrumar as coisas” para facilitar a vida do pessoal. Alguns problemas: falta de visão gerencial, estratégias errôneas e mudanças na liderança causando crises. 2.2- Desenvolver um nicho estratégico É descobrir e desenvolver um serviço(s) único(s) que permita(m) à empresa adquirir vantagem sobre os concorrentes. São necessários atributos e perspectivas particulares e um negócio que o cliente aprecie e apoie de maneira firme. O fornecimento do serviço deve acentuar os pontos fortes e minimizar as fraquezas, enfocando um tipo particular de cliente, pertencente a um segmento específico do mercado. É preferível escolher um produto e ser o melhor, do que escolher dez e ter falha nos dez. Então, pode-se dar um passo à frente dos concorrentes. 2.3- A alta administração deve demonstrar apoio A gerência deve estar comprometida com a qualidade, demonstrando isso com intenções, ações e muita insistência. Deve-se mostrar quanto o serviço do empregado está custando para a empresa, e quanto um serviço ruim pode custar, não só no 4 aspecto financeiro, mas também quanto à reputação da empresa e na avaliação do seu desempenho. Além desta abordagem, a alta administração pode demonstrar seu comprometimento com a qualidade ao adotar uma administração mais participativa, utilizando-se de sugestões, treinamentos e incentivos extensivos, seminários e reuniões de trabalho. Pode também ter uma política de ouvir com atenção os níveis abaixo e precisa ter interesse pessoal em conhecer a perspectiva dos empregados e clientes, bem como deve dar a merecida importância ao seu pessoal para o fornecimento de serviços com qualidade. A alta administração deve cuidar e saber o valor de seu pessoal para fornecer serviços com qualidade. 2.4- Entender o seu negócio Os gerentes e demais empregados precisam conhecer não só suas tarefas, mas também as dos outros. Não é simples: a maioria dos empregados pode saber o que tem que fazer, mas não entendem o seu trabalho num todo. O gerente tem que entender um pouco de cada setor para saber ou mandar de acordo com a possibilidade de cada um deles. Muitas vezes as pessoas se contentam em apenas tomar conhecimento de atividades que digam respeito à sua especialidade, não se preocupando com a empresa como um todo. Desse modo, o pessoal de vendas, no afã de atender aos clientes, pode negociar prazos e quantidades de produtos/serviços sem que o pessoal de produção possa atender. Assim, somente se deve prometer o que se pode entregar e entregar somente o que se prometeu. É melhor informar ao cliente a data de entrega que não o agrada, mas que seja factível, do que dar uma data irreal que a corporação não pode cumprir. Então, a interação entre os departamentos leva as pessoas a reagirem de forma mais positiva para a organização alcançar seus objetivos, justificando o grande esforço e coordenação para se fazer isso. 2.5- Aplicar os fundamentos operacionais Serviços com qualidade nada tem a ver com promoções, publicidade ou marketing. Podem atrair o interesse dos clientes, mas são os serviços com qualidade que os mantém cativos e o gerenciamento operacional que permite serviços com alto nível. Para ter sucesso, é preciso seguir regras de planejamento básico, cronogramas, ter uma organização etc. O gerenciamento operacional enfatiza técnicas de produção, que envolvem a preparação de pesquisas, seleção de processos, projeto dos produtos, escolha das instalações e leiaute, procura de materiais, planejamento de trabalhos, gerenciamento de estoques e materiais, manutenção de equipamentos e aplicação de técnicas de controle de qualidade. Assim, por exemplo, a “satisfação garantida” é uma ferramenta poderosa que os fornecedores de serviços com qualidade usam para melhorar suas imagens e ganhar o respeito dos clientes. Mas ela não pode ser confiável a menos que o gerenciamento operacional possa entregar os serviços que se prometeu. Ou seja, a confiabilidade está condicionada à capacidade do gerenciamento operacional. A motivação pode se originar dos clientes ou das gerências, mas os meios para se melhorar vêm das operações. Desta forma, é através da experiência operacional que se consegue aprimorar os serviços, pois é a mesma que fornece os meios necessários para que se tome as devidas decisões, seja até mesmo modificando a seqüência de trabalho, agilizando processos, ou qualquer outro procedimento. 5 2.6- Entender, respeitar e monitorar o cliente A perspectiva do cliente deve fazer parte da cultura da organização que quer sempre aprimorar seus serviços, tendo em vista o retorno e a satisfação dos consumidores. Não pensar ou supor quais são os desejos dos clientes, mas ouvi-los de forma ativa, buscando formas criativas de melhorar o conhecimento acerca de suas atitudes, preferências e desejos. Segue-se auditar os serviços de forma sistemática, exigindo contínuas verificações dos retornos do pessoal, descobrindo o que é bem feito e o que não é, e buscando a opinião de todos, além de tentar descobrir no que os competidores estão alcançando o sucesso, e procurar saber dos clientes como se situar frente aos rivais. A meta primária é o retorno e a satisfação dos clientes. Para isto deve-se ouvir suas sugestões. Pode-se desenvolver a perspectiva do cliente fazendo com que as próprias pessoas e seus departamentos tratem uns aos outros como clientes. Isso pode ser feito, uma vez que as tarefas de um departamento afetam as de outro. Os departamentos devem procurar avaliar seus desempenhos com relação aos seus clientes, sejam internos ou não, adotando métodos que possibilitem a medição de seus serviços, dando ênfase aos resultados. 2.7- Usar tecnologia apropriada Na área de serviços, o que determina se uma tecnologia é apropriada é a forma como é utilizada. Não podemos colocar um computador para medir desempenho, mas podemos colocá-lo para controlar mercadorias. Computadores não foram feitos para substituir pessoas, mas para ajudar a melhorar os serviços prestados por pessoas. O emprego da tecnologia não se restringe ao significado de corte de pessoal ou aumento de velocidade dos processos de produção, pois, se o resultado não apresentar qualidade, de nada adiantou o esforço ou o investimento. Velocidade ou eficiência sem a qualidade não é eficácia. A tecnologia pode ser uma forma ou ferramenta importante para melhorar os serviços, desde que o seu uso se restrinja a essa meta e a de ficar mais próximo do cliente, não se esquecendo que as pessoas é que são críticas para um serviço com qualidade. 2.8- Necessidade de inovar Deve-se procurar formas de tornar a P&D uma vantagem competitiva. A tecnologia ou as inovações podem, sob certas condições, melhorar os serviços e a competitividade. É preciso que os gerentes enfoquem a atenção em questões fundamentais acerca de seus serviços, procurando novas formas de fornecê-los e nunca se esquecendo do envolvimento do empregado. Novas formas de fornecer serviços devem ser continuamente exploradas, enfocando-se questões fundamentais dos mesmos, e examinando-se quem, o que, onde, quando e como os serviços devem ser entregues. As empresas bem sucedidas pesquisam continuamente novos produtos e serviços que possam ajudá-las a se diferenciar no mercado, permitindo uma melhor decisão na organização da produção para atender aos clientes, segundo seus desejos e a um custo mínimo, bem como procuram aperfeiçoar os serviços e produtos antigos. 6 2.9- Contratar as pessoas certas Para um bom serviço precisamos das pessoas certas para entregá-lo. Os clientes devem ser tratados com cortesia normal. Eles querem alguém que os ajude, que possa e que queira solucionar problemas. Isso pode ser feito através de treinamento. O empregado tem que vestir a camisa da empresa. Tais características podem ser adquiridas através de treinamento, mas é preciso que se encontre a pessoa certa para o lugar certo, podendo até mesmo contar com o auxílio dos funcionários antigos, que põem em risco a própria reputação, ao indicar para as vagas os novatos. Assim, o sucesso das empresas dependerá do respeito com que trata seus empregados e seus clientes, e tal atitude permitirá até mesmo que se vençam as barreiras da falta de mão-de-obra, ou dos conhecimentos específicos para cada negócio, nem que tenha de atrair os melhores empregados com maiores responsabilidades e autoridade. 2.10- Fornecer treinamento com base no perfil Empregados bem treinados fazem a tecnologia funcionar e são eles, em última instância, que entregam o que se prometeu. O importante do treinamento é a substância e não o estilo. Treinar com base no perfil é focar o desenvolvimento de formas para melhorar a qualidade em serviços, deve ser projetado para ensinar aos empregados e gerentes os perfis básicos necessários para melhorar os serviços, e não se trata apenas de aprender boas maneiras. Tal treinamento, para alcançar a esperada eficiência, deve ser constante, não importando seu volume ou estrutura formal, contudo, respeitando o nível intelectual dos participantes, os quais constituirão a força de trabalho que estará comprometida e preocupada em fornecer o serviço que foi prometido pela empresa. 2.11- Definir padrões, medir desempenho e agir Talvez a forma mais simples de melhorar os serviços seja definir as suas metas. Com metas definidas, mede-se o desempenho e compara-se com os padrões. Se houver um desvio entre o que se espera (padrões) e o que se consegue (comportamento real), existe espaço para melhorar. Muitas melhorias em serviços não podem ocorrer, a menos que seja possível descobrir o que está realmente sendo feito. Os padrões são as regras e a monitoração dos mesmos dá às pessoas competentes meios de obter controle. A instituição de uma perspectiva de cliente fica mais fácil quando há definição de metas e medição de desempenho e comparação com padrões, procurando-se saber o que está sendo feito para permitir uma melhoria nos serviços, possibilitado pela motivação e pela recompensa dada aos que ultrapassam os padrões mínimos. Os padrões de desempenho e sua medição criam condições dos empregados avaliarem e melhorarem seus serviços, desde que sejam usadas de forma apropriada, sejam razoáveis, factíveis, relevantes, comunicados de forma clara e com enfoque na qualidade. 2.12 Estabelecer incentivos 7 Quando incentivamos uma pessoa, quase tudo é possível. Os incentivos podem ser ou não financeiros. Participação nos lucros, prêmios de produtividade etc., ajudam as pessoas a lembrarem a conexão entre ações e resultados. A alta administração deve criar e apoiar ativamente um programa de incentivos e recompensas efetivo, para se melhorar os serviços, que devem ter por finalidade atingir a todos na organização, pois este apoio ativo é necessário para se conseguir organizações e compromisso efetivos. Para tanto, é primordial que haja uma clara conexão entre ações e resultados, uma vez que as pessoas são inteligentes e esperam ser premiadas pelo sucesso de seus esforços ou pagas de alguma forma pelos resultados de seus serviços, e gostariam de ver seus desejos e necessidades satisfeitos. III- APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DE DENTON. Tivemos a oportunidade de orientar diversas pesquisas em vários tipos de organizações utilizando a abordagem proposta por Denton. A seguir alguns exemplos: 3.1 Qualidade em serviços em uma empresa de cobranças Esta pesquisa, de GIACOMINI (1998) foi desenvolvida pela sócia-proprietária da empresa que é do ramo de cobranças, tratando-se de uma franquia com matriz no Rio de Janeiro, tendo várias concorrentes e querendo diferenciar-se no mercado através da melhoria dos seus serviços. O objetivo da pesquisa foi, então, analisar a situação da empresa e formular propostas de melhorias para seus serviços com base na formulação de Denton. A metodologia utilizada foi uma pesquisa bibliográfica para os dados teóricos e observações assistemáticas para conseguir-se os dados da realidade da empresa. Apresentou-se todos os dados referentes à empresa e ao seu processo de cobrança, onde se considerou que havia dois grupos de clientes com suas especificidades: os contratantes dos seus serviços (cliente 1) e os inadimplentes (cliente 2). Chegou-se ao seguinte quanto aos doze princípios estudados na empresa: que ela não atendia a dois princípios - não desenvolvia um nicho estratégico e não aplicava fundamentos operacionais; que cinco dos princípios eram atendidos - a empresa possuía uma visão gerencial; entendia o seu negócio; entendia, respeitava e monitorava o cliente; usava tecnologia apropriada e contratava as pessoas certas; e que cinco dos princípios eram parcialmente atendidos - a alta administração devia demonstrar mais apoio; havia a necessidade de inovar; de fornecer treinamento com base no perfil; definir padrões, medir desempenho e agir; e estabelecer mais incentivos. Considerou-se os princípios estudados como importantes, mas que, devido à monotonia do dia-a-dia de trabalho, certos pontos que são valiosos para a qualidade passam a ser desapercebidos pelos proprietários. Colocou-se que, às vezes eles acham que está tudo certo, e só se dão conta de mudar algo quando acontece algum problema. Mas que, assim que é resolvido este problema, todas as mudanças são esquecidas, tratando-se do processo do “apaga incêndio”. Considerou-se também que os sócios da empresa dão importância para todos os princípios e até atendem cinco deles por completo, mas que isso é devido às experiências anteriores que eles carregam. Quanto aos dois princípios que não são atendidos considerou-se o seguinte: um deles – desenvolver um nicho estratégico – não seria possível de ser atendido, pois se trabalhava com as financeiras e tinha-se que atuar em qualquer área do comércio, seja roupas, materiais para construção etc. Quanto ao outro princípio – aplicar os fundamentos operacionais – a empresa não fornecia nenhum curso especializado para educar os funcionários a agirem conforme os fundamentos da empresa. Esta situação considerou-se que podia ser mudada, passando a empresa a fornecer 8 cursos com psicólogas para que os funcionários estivessem preparados interiormente para qualquer problema que pudesse ocorrer na cobrança ou com os clientes e saber resolver a situação, sempre com calma e sem agressividade. Havia cinco princípios que a empresa atendia parcialmente, isto devido a certas divergências que ocorriam no dia-a-dia de trabalho com os sócios e também devido ao acúmulo de tarefas que se realizam todos os dias. Daí a empresa só usar corretamente os princípios quando algum problema acontecesse. E quando já resolvido, voltava tudo ao convencional e a forma correta de trabalho se tornava esquecida. Concluindo, a autora considerou que o estudo foi válido para a empresa por ter conseguido detectar pontos positivos e negativos, chegando então a que se necessita aperfeiçoar a qualidade dos serviços, tornando as melhorias permanentes no dia-a-dia de trabalho e não apenas no processo de “apagar incêndios”. 3.2 Qualidade em serviços em uma lanchonete Esta pesquisa, de COIMBRA (1995), quis saber se uma empresa familiar do ramo de varejo alimentício (lanchonete) tinha ou não qualidade em seus serviços, respondendo se ela atendia ou não aos 12 pontos de Denton, aos quais confrontou-se a sua realidade. Realizou-se entrevistas com um dos proprietários e dois funcionários, além de um questionário junto a 30 clientes (20%). Usou-se também observações sistemáticas durante quatro dias visando observar o funcionamento da empresa. Finalizando, chegou-se à situação da empresa em relação aos doze princípios. Três não eram atendidos plenamente (três, oito, doze): a administração não demonstrava apoio, não inovava e não estabelecia incentivos. Todos os demais não eram atendidos por completo, pois além de não estarem formalizados, não eram de conhecimento dos proprietários - embora presentes num certo sentido, restritos a uma situação em mutação. Por outro lado, não se pode afirmar taxativamente que a empresa não possuía qualidade em seus serviços. Qualidade nos produtos, a pesquisa junto aos clientes constatou que existia. Pode-se dizer que a qualidade dos serviços era restrita à visão gerencial existente, com muita coisa podendo e devendo ser melhorada. A conclusão foi que, do ponto de vista de uma visão relacionada à qualidade referenciada nos princípios de Denton, a empresa não possui qualidade nos seus serviços. Por outro lado, ela atendia a um nicho de mercado específico de clientes cativos que estão satisfeitos com os produtos e serviços oferecidos. Deste ponto de vista restrito, a empresa atendia aos citados princípios e possuía qualidade nos seus produtos e serviços, sendo que poderia continuar desta forma sem problemas caso fosse este o desejo dos proprietários, e se a concorrência já instalada e futura não abalasse significativamente esta situação acomodada. No entanto, dentro de uma visão atual, havia a necessidade urgente da empresa se reciclar para aproveitar o seu potencial então desperdiçado e para se preparasse e garantisse sua sobrevivência e até desenvolvimento. Resumindo, a lanchonete possuia qualidade restrita dos seus serviços e a desenvolver. 3.3 Qualidade em serviços públicos - aplicação em uma Secretaria de Finanças Esta pesquisa, de SANTOS (1996), teve como objetivo principal contribuir para a discussão da possibilidade de aplicação em órgãos de governo de conceitos e propostas feitas para as empresas do setor privado e não apenas concluir se a referida 9 secretaria tinha ou não qualidade em seus serviços. Contemplou-se a proposta de DENTON e também a de OSBORNE & GAEBLER (1994). Partiu-se da constatação da preocupação geral com a qualidade dos serviços públicos, de uma reação de insatisfação nas pessoas. A princípio, objetivou-se analisar aspectos estruturais da qualidade dos serviços da Secretaria de Finanças - mais duradouros, inflexíveis ou de difícil alteração - que interferem na qualidade dos seus serviços, como por exemplo os aspectos legais. Já os aspectos conjunturais não seriam contemplados – aquelas características de transitoriedade, como por exemplo de gestão de secretários/prefeitos. Apresentou-se as competências da Secretaria de Finanças e sua estrutura organizacional, a arrecadação da Prefeitura em 1995, incluindo a receita tributária e suas fontes. Uma discussão interessante se referiu ao conceito de quem seria o cliente da secretaria: a população da cidade ou a prefeitura? Houve uma pesquisa bibliográfica para o suporte teórico e quanto aos dados empíricos, aplicou-se questionários junto aos funcionários da secretaria, distribuídos a 88 deles (60% do total de 147), com um retorno de 22 (25% dos consultados e 15% do total). Como limitação, não foi possível ouvir o então Secretário Municipal de Finanças ou o Prefeito e a pesquisa foi desenvolvida a partir de um ponto de vista interno da própria Secretaria (opinião dos funcionários), pois não se alcançou o público externo (a não ser indiretamente, através da próprias experiências dos funcionários). Concluiu-se que a Secretaria de Finanças não atendia aos princípios de Denton em sua maioria. Um não se aplicava, atendia a três, não atendia a sete e atendia parcialmente a um deles. Resumindo, tal Secretaria: a) não possuia visão gerencial; a alta administração não demonstrava apoio, não havia um entendimento de se conhecer a organização como um todo; não sentia a necessidade de inovar; não definia padrões, não media desempenho e agia; não estabelecia incentivos; não entendia, não respeitava e não monitorava o cliente; b) procurava aplicar os fundamentos operacionais, usava tecnologia apropriada e fornecia treinamento com base no perfil; c) procurava contratar as pessoas certas, em termos; d) o princípio do desenvolvimento de nicho estratégico não se aplicava, a não ser que se fizesse uma adaptação. 3.4 Aplicação dos princípios de Denton a um projeto de um buffet Tratou-se de um projeto de autoria de CASTANHO (1996), que dimensionou um buffet para a cidade de Piracicaba, voltado para formaturas, contemplando aspectos técnicos e operacionais. Levantou-se dados via pesquisa bibliográfica, entrevistas em buffets da cidade, e utilizou-se a experiência da autora que administrava um negócio de confecção e comércio de alimentos. Quanto à qualidade, o buffet proposto atenderia à determinados princípios levantados em teoria, acerca da qualidade dos serviços, para servir melhor a sua clientela, permanecer no mercado e ter os retornos esperados. Quanto à qualidade dos serviços, seguiu-se os princípios de Denton, sendo então proposto o seguinte: 1) ter visão gerencial clara e objetiva do negócio, conhecendo bem seus processos e produtos; 2) desenvolver um nicho de mercado (formaturas), especializando-se de modo distinto para atrair a clientela; 3) administrar assumindo o processo conjuntamente com os funcionários, apoiando-se e resolvendo os problemas que aparecerem; 4) aprofundar o entendimento acerca do negócio, através do pessoal (trabalhos efetuados) e dos resultados junto à clientela; 5) aplicar fundamentos operacionais com técnicas de produção, aproveitando a experiência de cada um da equipe, estruturando, organizando e planejando o processo para que se cumpram as atividades em tempo hábil para os eventos; 6) referenciar-se na 10 excelência para com os clientes, pois a tendëncia hoje se inclina para a personalização de serviços, o que levaria a atender cada festa e cada grupo de pessoas de modo que fosse de seu agrado exclusivo. Isto permitiria um retorno e uma satisfação da clientela, o que passaria a ser uma das metas primárias da organização; 7) no que for viável, usar tecnologia avançada, para agilizar o processo, diminuir o custo, aperfeiçoar os produtos para se ter mais competitividade; 8) ser flexível e aberto para inovar e atender os requisitos que a globalização vem provocando nos empreendimentos; 9) contratar pessoas com perfil adequado para as funções exigidas pelo buffet, que já estivessem no ramo há alguns anos; 10) treinar os funcionários, fornecendo-lhes melhores informações sobre a sua profissão e como viabilizá-la de forma adequada e plena; 11) definir padrões para os funcionários, medir seu desempenho e agir de forma a recompensar os melhores; 12) estabelecer incentivos para a equipe, para estimulá-la a sempre operar com o melhor de si em cada profissão. 3.5- Os princípios de Denton se aplicam ao todo da organização A aplicação da abordagem de Denton em uma oficina de uma concessionária de veículos e a uma agência bancária evidenciaram que deve-se considerar a empresa como um todo e não apenas uma de suas partes, para que não se dependa de diretrizes mais gerais, onde o executivo de um setor específico tem reduzida autonomia para interferir na política ou proposta geral da empresa. Ou seja, os pontos de Denton se aplicam às organizações como um todo, sendo que suas partes devem seguir ou aplicar as orientações gerais. IV - CONSIDERAÇÕES FINAIS Discutimos a qualidade dos serviços do ponto de vista da produção, onde apresentamos uma teoria e exemplos de aplicação de uma metodologia de auxílio na avaliação e proposição de melhorias para a qualidade dos serviços de uma organização: os doze princípios de Denton (1990). Nossa meta foi trazer esta discussão ao âmbito da área de produção, visando concretizar o slogan “satisfazer o cliente” ou “atender às necessidades do cliente”. V- BIBLIOGRAFIA CASTANHO, Haydée Toledo de Mello. Projeto técnico-operacional de um buffet para Piracicaba.. Piracicaba. Unimep. 1996. 75p. (Monografia de final de curso) COIMBRA, Adriana Fakhouri. Estudo da qualidade em serviços em uma lanchonete. Piracicaba. Unimep. 1995. 18p. (Monografia de final de curso) DENTON, Keith D. Qualidade em serviços - o atendimento ao cliente como fator de vantagem competitiva. São Paulo: Makron Books do Brasil, 1990, 222p. 11 GIACOMINI, Iara. Avaliação e proposta de melhoria para a qualidade dos serviços da empresa de cobranças ... Piracicaba. Unimep. 1998. 29p. (Monografia de final de curso) OSBORNE, David & GAEBLER, Ted. Reiventando o governo - como o espírito empreendedor está transformando o setor público. Brasília: MH Comunicação, 1994, 456p. SANTOS, Ramon Urbano Monteiro dos. Avaliação estrutural da qualidade dos serviços na secretaria de finanças da prefeitura de.... Piracicaba. Unimep. 1996. 52p. (Monografia de final de curso)