CONSENSO NACIONAL DE
NUTRIÇÃO ONCOLÓGICA
 2009 Ministério da Saúde.
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Impressão
ESDEVA
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
B823c
Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer.
Consenso nacional de nutrição oncológica. / Instituto Nacional de
Câncer. – Rio de Janeiro: INCA, 2009.
126 p.
ISBN 978-85-7318-154-8
1. Nutrição. 2. Neoplasias. 3. Desnutrição Calórica. 4. Consenso.
I. Título.
CDD 613.6
Catalogação na fonte – Seção de Bibliotecas
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Instituto Nacional de Câncer - INCA
CONSENSO
NACIONAL DE
NUTRIÇÃO ONCOLÓGICA
Rio de Janeiro, RJ
2009
Supervisão Editorial
Letícia Casado
Produção Editorial
Taís Facina
Revisão
ATO Training and Translation Center
Capa, Projeto Gráfico e Diagramação
Cecília Pachá
Normalização Bibliográfica
Eliana Rosa Fonseca – Bibliotecária
Esther Rocha – Estagiária de Biblioteconomia
FACILITADOR NACIONAL DO INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER
Nut. Nivaldo Barroso de Pinho
COFACILITADORA NACIONAL DO INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER
Nut. Analucia Gomes Lopes Oliveira
COFACILITADORES DO INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER
Nut. Adriana Santos
Nut. Analucia Gomes Lopes Oliveira
Nut. Cristiane Feldman Fidalgo Pereira
Nut. Giovanna Borges Damião Faillace
Nut. Lúcia da Cunha Sampaio
Nut. Mônica Santos Mello
Nut. Nádia Dias Gruezo
Nut. Rosilene Lima Pinheiro
Nut. Viviane Dias Rodrigues
GRUPO DE EDIÇÃO DO INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER
Coordenadora de temas relacionados a paciente adulto
Nut. Ana Maria dos Santos Moreira
Coordenadora de temas relacionados a paciente pediátrico
Nut. Luciana da Silva Marques
Grupo
Nut. Adriana Moreira Villas-Bôas dos Santos
Nut. Ana Cristina de Souza Batalha da Silva
Nut. Eliane Maria Pessôa
Nut. Fabiana Félix Cavalcante
Nut. Francilene Souza Almeida
Nut. Ilka Fernandes Chaves
Nut. João da Silva Almeida
Nut. Márcia Ferreira Cordeiro
Nut. Margareth Sardinha Linhares
Nut. Maria Izabel Delfraro Pinto Nunes
Nut. Patrícia Moreira Feijó
Nut. Paula Cristina Moço Cascais
Nut. Salim Soares da Silva
APOIO NACIONAL
Associação Médica Brasileira – Dr. José Luiz Gomes do Amaral
Conselho Federal de Nutricionista – Nut. Nelcy Ferreira da Silva
GANEP Nutrição Humana – Dr. Dan Linetzky Weitzberg
NOVARTIS (Divisão de Oncologia) – Nut. Yara Baxter
Sociedade Brasileira de Cancerologia – Dr. Roberto Porto Fonseca
Sociedade Brasileira de Enfermagem Oncológica – Enf. Ângela Cóe Camargo da Silva
Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral:
Dr. José Vicente Spolidoro
Dra. Maria Cristina Gonzalez
Dra. Valéria Abrahão Dias Teixeira
Nut. Diana Borges Dock Nascimento
Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica – Dr. José Getúlio Martins Segalla
NESTLÉ HealthCare Nutrition:
Nut. Ana Luiza Reis
Nut. Ângela Benedetti
Nut. Carina Sande
Nut. Cláudia Magalhães
Nut. Débora Tauil
Nut. Elisângela Pedreira
Farm. Gabriela Lozi
Nut. Janaína Gomes
Nut. Luciana Bassoto
Nut. Luciana Mottin Ferras
Nut. Mônica Meale
Farm. Renata Vasconcelos
Publicitária – Tamara Araújo
APOIO INTERNACIONAL
Federação Latino-americana de Nutrição Parenteral e Enteral – Dr. Rafael Figueredo Grijalba
Instituto Português de Oncologia do Porto:
• Nut. Inês Saraiva
• Nut. Laura Ribeiro
• Nut. Maria Paula Castro Ferreira Alves
Hospital de São João (Unidade de Oncologia – Portugal) – Nut. Sandra Marília Silva
Royal University Hospital – Nut. Natasha Haskey
St. Paul’s Hospital – Nut. Luiza Kent Smith
LÍDERES REGIONAIS
Hospital Araújo Jorge/Associação de Combate ao Câncer de Goiás – Nut. Carmen Isabel Ligoski Dal’Astra
GANEP (São Paulo/SP) – Nut. Gabriela P. C. Oliveira
Hospital Universitário Pedro Ernesto (Rio de Janeiro/RJ) – Nut. Ivany Alves Castanho
Hospital das Clínicas de Porto Alegre (Porto Alegre/RS) – Nut. Luciane Beitler da Cruz
Hospital Aristides Maltez/Liga Baiana Contra o Câncer (Salvador/BA) – Nut. Maria Lúcia Varjão da Costa
Centro Infantil Boldrini (Campinas/SP) – Nut. Wanélia Vieira Afonso
INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES
REGIÃO SUDESTE
AFECC/Hospital Santa Rita de Cássia – Nut. Flayda da Rocha Magalhães Santana
ASCOMCER /Hospital Maria José Beata Reis – Nut. Carla Amaral Caetano de Castro
Centro Infantil Boldrini – Nut. Wanélia Vieira Afonso
Conjunto Hospitalar de Sorocaba – Nut. Ana Célia Amaral Ayres Dellosso
Conselho Federal de Nutricionistas/ Região Sudeste – Nut. Wanise Maria de Souza Cruz
GANEP Nutrição Humana – Nut. Gabriela Oliveira
Instituto Annes Dias – Nut. Márcia Regina Cardoso Coelho
Instituto Nacional de Câncer:
Nut. Viviane Dias Rodrigues
Nut. Analucia Gomes Lopes Oliveira
Instituto Oncológico/Hospital 9 de Julho – Nut. Karina Junqueira de Souza
Hospital A.C. Camargo – Nut. Edna Shibuya
Hospital Copa D’Or – Nut. Danielle Mello
Hospital das Clínicas de São Paulo – Nut. Maria Carolina Gonçalves Dias
Hospital das Clínicas da UFMG – Nut. Maria Cristina Cassiano de Oliveira
Hospital de Clínicas da Unicamp – Nut. Harumi Kinchoku
Hospital do Andaraí – Nut. Ágata Costa Lauria Pinto
Hospital Estadual Albert Schweitzer – Nut. Maristela de Souza Araújo da Cunha
Hospital Quinta D’Or – Nut. Luciana Vieira Neves
Hospital Santa Helena/UNIMED Paulistana – Nut. Sheila Mittelstaedt Pasquarelli
Hospital Universitário Antônio Pedro – Nut. Ana Paula Black Veiga
Hospital Universitário Pedro Ernesto – Nut. Ivany Alves Castanho
REGIÕES NORTE E NORDESTE
Associação Piauiense de Combate ao Câncer/Hospital São Marcos – Nut. Izabella Fontenelle de Menezes
Freitas
CEOC (Centro de Oncologia de Caruaru) – Nut. Ione Regina Ferreira
Conselho Federal de Nutricionistas/Regiões Norte e Nordeste – Nut. Ana Maria Calábria Cardoso
Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas – Nut. Edla Antunes Falcão
Hospital Aliança da Bahia – Nut. Nely Baima Rabelo da Cunha
Hospital Aristides Maltez/ Liga Baiana Contra o Câncer – Nut. Maria Lúcia Varjão da Costa
Hospital de Urgências de Sergipe – Nut. Virgínia Gavazza
Hospital do Câncer de Pernambuco – Nut. Isabel Cristina Leal
Hospital Dr. Luiz Antônio/Liga Norte Riograndense Contra o Câncer – Nut. Maria Amélia Marques Dantas
Hospital Ophir Loyola – Nut.Vera Lúcia Cardoso Fontenelle
Hospital Universitário Walter Cantídio da UFC – Nut. Ana Filomena Camacho Santos Daltro
IMIP – Nut. Ana Paula Gomes Ribeiro
Núcleo de Oncologia da Bahia – Nut. Alice Pinho
Sociedade Brasileira de Cancerologia – Dr. Robson Freitas de Moura
REGIÃO SUL
Centro de Pesquisas Oncológicas (CEPON) – Nut. Maria Emília de Souza Fabre
Hospital de Clínicas de Porto Alegre – Nut. Luciane Beitler da Cruz
Hospital Erasto Gaertner – Nut. Ana Cristina Matioski
Hospital Geral de Caxias do Sul (FUCS) – Nut. Carin Weirich Gallon
Hospital Nossa Senhora da Conceição – Nut. Lisiane Segabinazzi
Hospital Santa Rita/Complexo da Santa Casa de Porto Alegre – Nut. Kátia Cilene Janz
Hospital São Lucas da PUCRS – Nut. Marina Watte
Hospital São Vicente de Paulo/Sociedade Hospitalar Beneficente – Nut. Ruth de Oliveira Polita
Instituto de Câncer de Londrina – Nut. Vera Lúcia Tsutida Inoue
REGIÃO CENTRO-OESTE
Hospital Araújo Jorge/Associação de Combate ao Câncer de Goiás – Nut. Carmen Isabel Ligoski Dal’Astra
Hospital do Câncer/Fundação Carmen Prudente – Nut.Tatiana Rocha Peres
Hospital do Câncer de Cuiabá/Associação Matogrossense de Combate ao Câncer – Nut. Solange Maria de
Moura
COLABORADORES
REGIÃO SUDESTE
Centro de Atenção Integral a Saúde da Mulher/UNICAMP – Nut. Maria Éster Januário
Clínica Oncomed – Centro de Prevenção e Tratamento de Doenças Neoplásicas – Nut. Kelly Cristine Gurgel
Araújo
EMTN do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo – Dra. Maria de Lourdes Teixeira da Silva
Hospital das Clínicas de Marília – Nut. Mércia Santana Mattos
Hospital Santa Catarina – Nut. Karina Guedes de Oliveira
Hospital Sírio Libanês – Nut. Jamile Lacerda
Instituto de Radiologia – Nut. Manuela Ferreira Alves
Hospital Badim – Nut. Ana Paula Dames
Hospital Cardiobarra Clínicas – Nut. Caroline Santos da Rocha
Hospital da Lagoa – Nut. Fabiana Ferreira Martins
Hospital da Piedade – Nut. Alessandra Pascoal Campos
Hospital Geral de Bonsucesso – Nut. Fernanda Muniz de Macedo
Hospital Geral de Jacarepaguá – Nut. Cristiane Aline D’Almeida
Hospital Lourenço Jorge – Nut. Tânia Motta
Hospital Marcílio Dias – Nut. Rosângela Pelluso C. Furtado
Hospital Raphael de Paula e Souza – Nut. Verônica Rodrigues Reis
Hospital Santa Cruz – Nut. Christiana Oliveira
MEDLAR/Santa Casa de Misericórdia/RJ – Nut. Nara Lúcia Lopes
Posto de Saúde Eitel Pinheiro O. Lima – Nut. Andréa Barcellos Mendes
REGIÃO NORTE E NORDESTE
Clínica de Endocrinologia e Metabologia (CEM) – Nut. Tatiane Correia Rios
HEMOPE (CTMO) – Nut. Edna Mirtes Pereira Diniz
Hospital Barão de Lucena - Nut. Filomena Madja Pires Spinelli
Hospital da Polícia Militar de Pernambuco - Nut. Márcia Helena A. Leiming
Hospital das Clínicas de Pernambuco – Nut. Maria Goretti P.A. Burgos
Hospital Geral de Fortaleza (HGF) – Dra. Maria Luisa Pereira de Melo
Hospital Universitário Prof. Alberto Antunes - Profa. Dra. Sandra Mary Lima Vasconcelos
Hospital Universitário Professor Edgar Santos (HUPES) – Nut. Ethiane Sampaio
O.C.S Distribuidora de Produtos Hospitalares – Nut. Susana Correa Bourguignon
ONCOCLÍNICA Oncologistas Associados – Nut. Maria do Perpétuo Socorro de Sousa Coelho
Santa Casa de Misericórdia da Bahia/Hospital Santa Izabel – Nut. Cristiane de Brito Magalhães
Serviço Especializado em Nutrição Enteral e Parenteral – Nut. Luciana de Lira e Silva Lauria
Universidade de Fortaleza (UNIFOR) – Dra. Maria de Fátima Rebouças Antunes
Universidade Estadual do Ceará (UECE) – Nut. Helena Alves de Carvalho Sampaio
Universidade Federal do Amazonas – Nut.Verônica Chasse Thurler Micchi
Universidade Federal do RN – Nut. Sandra Maria Nunes Monteiro
REGIÃO SUL
Departamento de Ciências da Saúde/Curso de Nutrição da UNIJUÍ – Nut. Ingrid D. Schweigert
Hospital da Criança Conceição – Nut. Renata Faccioni Salamon
Hospital da Criança Santo Antônio – Nut. Isis Oliveira
Hospital de Caridade de Ijuí – Nut. Caroline Schardong Bolignon
Hospital de Clínicas da UFPR – Nut. Denise Johnson
Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas – Nut. Patrícia Abrantes Duval
Hospital Infantil Joana de Gusmão – Nut. Eliana Barbosa
Hospital Moinhos de Vento – Nut. Anália Haag Barreto
Hospital Universitário de Santa Maria – Nut. Andréa Rodrigues Marques
Sociedade Beneficente e Caridade de Lajeado/Hospital Bruno Born – Nut. Juliana Lourenço Genezzini
REGIÃO CENTRO-OESTE
Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (FUFMS)/Hospital Universitário Maria Aparecida
Pedrossian – Nut. Suzete Torres Galvão
Hospital Regional de Mato Grosso do Sul Rosa Pedrossian – Nut. Samantha Abrão de Souza Simioli da Silva
Hospital São Salvador – Nut. Amanda Goulart de Oliveira
Hospital Universitário de Brasília – Nut. Clarissa Hoffman Irala
Hospital Universitário Júlio Muller – Nut. Carolina R. Ohara Barros
Santa Casa – Nut. Francis Paula Pires de Barros
Santa Casa de Misericórdia de Goiânia – Nut. Mariana Pontieri Ruiz
PREFÁCIO
No Brasil, as informações referentes ao ano de 2006 revelam que as neoplasias malignas
foram responsáveis por 15,1% dos óbitos, tendo sido registradas taxas brutas de mortalidade por
neoplasias malignas para o sexo masculino de 87,63 óbitos por 100 mil habitantes e de 72,93 óbitos
por 100 mil mulheres1. Entre os homens, os tumores mais incidentes são os de próstata e os da via
respiratória (traqueia, brônquios e pulmão); entre as mulheres as neoplasias de maior incidência são
as de mama e o câncer do colo do útero2.
A desnutrição calórica e proteica em indivíduos com câncer é muito frequente. Diversos fatores
estão envolvidos no seu desenvolvimento, particularmente aqueles relacionados ao curso da doença
(redução do apetite, dificuldades mecânicas para mastigar e deglutir alimentos), efeitos colaterais do
tratamento e jejuns prolongados para exames pré ou pós-operatórios, que são agravados por condição
socioeconômica precária e hábitos alimentares inadequados. Os principais fatores determinantes da
desnutrição nesse indivíduo são: a redução na ingestão total de alimentos, as alterações metabólicas
provocadas pelo tumor e o aumento da demanda calórica para crescimento do tumor, sendo frequente
a ocorrência de desnutrição em indivíduos com câncer3.
Este documento de consenso é obra do esforço conjunto do Instituto Nacional de Câncer
(INCA) e de representações nacionais de instituições que promovem a assistência nutricional ao
indivíduo com câncer. Para sua elaboração, reuniram-se durante os anos de 2007, 2008 e 2009, 42
instituições que prestam assistência nutricional a esta população, distribuídas nas cinco regiões do
Brasil. Contamos com o apoio do Conselho Federal de Nutricionistas e sociedades representativas de
classe relacionadas aos temas consensuados.
Esta obra tem o objetivo de homogeneizar as condutas nutricionais na assistência ao indivíduo
com câncer, oferecendo, assim, a todos os usuários portadores de câncer da rede do Sistema Único de
Saúde (SUS), equidade e qualidade na sua assistência.
É um documento dinâmico, no qual as instituições envolvidas no processo de sua constituição
comprometem-se a implementar suas decisões e a atualizá-las de forma permanente.
Luiz Antonio Santini Rodrigues da Silva
Diretor Geral
Instituto Nacional de Câncer
1
BRASIL/DATASUS, 2008.
MS. Estimativa 2008 – Incidência de Câncer no Brasil.
3
BARRERA, 2002; YANG, 2003; DEUTSCH; KOLHOUSE, 2004; ISENRING et al. 2004; SOLIANI et al., 2004; RAVASCO et al., 2005; SHANG
et al., 2006; ISENRING, 2007.
2
SUMÁRIO
PREFÁCIO
9
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 13
LISTA DE ABREVIATURAS 15
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
REFERÊNCIAS
17
18
21
CAPÍTULO 1 – PACIENTE ONCOLÓGICO ADULTO 23
25
1.1 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE CIRÚRGICO (PRÉ E PÓS-OPERATÓRIO)
25
1.1.1 Avaliação Nutricional 27
1.1.2 Necessidades Nutricionais
28
1.1.3 Terapia Nutricional 31
1.1.4 Seguimento Ambulatorial 1.2 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE CLÍNICO (QUIMIOTERAPIA E
33
RADIOTERAPIA)
33
1.2.1 Avaliação Nutricional 34
1.2.2 Necessidades Nutricionais
36
1.2.3 Terapia Nutricional 38
1.2.4 Seguimento Ambulatorial 1.3 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE SUBMETIDO AO TRANSPLANTE DE 40
CÉLULAS-TRONCO HEMATOPOÉTICAS (PRÉ E PÓS-TCTH) 40
1.3.1 Avaliação Nutricional 41
1.3.2 Necessidades Nutricionais
43
1.3.3 Terapia Nutricional 45
1.3.4 Seguimento Ambulatorial 47
REFERÊNCIAS CAPÍTULO 2 – PACIENTE ONCOLÓGICO ADULTO EM CUIDADOS PALIATIVOS 2.1 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 2.2 NECESSIDADES NUTRICIONAIS 2.3 TERAPIA NUTRICIONAL 2.4 SEGUIMENTO AMBULATORIAL REFERÊNCIAS 51
53
56
57
61
63
CAPÍTULO 3 – PACIENTE ONCOLÓGICO PEDIÁTRICO 3.1 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE CIRÚRGICO (PRÉ E PÓS-OPERATÓRIO) 3.1.1 Avaliação Nutricional 3.1.2 Necessidades Nutricionais
3.1.3 Terapia Nutricional 3.1.4 Seguimento Ambulatorial 65
68
68
70
72
74
3.2 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE CLÍNICO (QUIMIOTERAPIA E RADIOTERAPIA) 75
3.2.1 Avaliação Nutricional 75
3.2.2 Necessidades Nutricionais
77
3.2.3 Terapia Nutricional 79
3.2.4 Seguimento Ambulatorial 81
3.3 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE SUBMETIDO A TRANSPLANTE DE CÉLULAS-TRONCO HEMATOPOÉTICAS (PRÉ E PÓS-TCTH) 83
3.3.1 Avaliação Nutricional 83
3.3.2 Necessidades Nutricionais
85
3.3.3 Terapia Nutricional 87
3.3.4 Seguimento Ambulatorial 89
REFERÊNCIAS 91
CAPÍTULO 4 – PACIENTE PEDIÁTRICO EM CUIDADOS PALIATIVOS 4.1 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 4.2 NECESSIDADES NUTRICIONAIS 4.3 TERAPIA NUTRICIONAL 4.4 SEGUIMENTO AMBULATORIAL REFERÊNCIAS 95
97
99
101
105
106
CAPÍTULO 5 – ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS PARA SINAIS E SINTOMAS CAUSADOS PELA
TERAPIA ANTITUMORAL
107
REFERÊNCIAS
116
CONSIDERAÇÕES FINAIS 119
GLOSSÁRIO 121
REFERÊNCIAS
125
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura
Figura 1 – Fluxograma do processo de votação do Consenso Nacional de Nutrição Oncológica 19
Quadros
Quadro 1 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico adulto cirúrgico 27
28
Quadro 2 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico adulto cirúrgico 30
Quadro 3 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico adulto cirúrgico 32
Quadro 4 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico adulto cirúrgico Quadro 5 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico adulto em tratamento
34
clínico Quadro 6 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico adulto em tratamento
35
clínico Quadro 7 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente adulto oncológico em tratamento
37
clínico Quadro 8 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico adulto em tratamento
39
clínico Quadro 9 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico adulto submetido a
41
TCTH Quadro 10 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico adulto submetido
42
a TCTH Quadro 11 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico adulto submetido
44
a TCTH Quadro 12 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico adulto submetido
a TCTH 46
Quadro 13 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico adulto em cuidados
55
paliativos Quadro 14 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico adulto em cuidados
57
paliativos Quadro 15 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico adulto em cuidados
59
paliativos Quadro 16 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial nutricional para paciente oncológico adulto
61
em cuidados paliativos 69
Quadro 17 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico pediátrico cirúrgico
71
Quadro18 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico pediátrico cirúrgico
73
Quadro 19 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico pediátrico cirúrgico
74
Quadro 20 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico pediátrico cirúrgico Quadro 21 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico pediátrico em tratamento
76
clínico Quadro 22 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico pediátrico em
78
tratamento clínico Quadro 23 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico pediátrico em tratamento
80
clínico Quadro 24 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico pediátrico em
82
tratamento clínico Quadro 25 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico pediátrico submetido
84
a TCTH Quadro 26 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico pediátrico submetido a
TCTH 86
Quadro 27 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico pediátrico submetido a
88
TCTH Quadro 28 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico pediátrico submetido
90
a TCTH Quadro 29 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico pediátrico em cuidados
98
paliativos Quadro 30 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico pediátrico em
100
cuidados paliativos Quadro 31 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico pediátrico em cuidados
103
paliativos Quadro 32 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico pediátrico em
105
cuidados paliativos 111
Quadro 33 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional na anorexia Quadro 34 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento
111
de disgeusia e disosmia Quadro 35 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento
111
de náuseas e vômitos Quadro 36 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento
112
da xerostomia Quadro 37 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento
112
de mucosite e úlceras orais Quadro 38 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento
112
da disfagia Quadro 39 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento
113
da odinofagia e esofagite Quadro 40 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento
113
da saciedade precoce Quadro 41 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento
114
do trismo Quadro 42 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento
114
da enterite Quadro 43 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento
114
da diarreia Quadro 44 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento
114
da constipação intestinal Quadro 45 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento
115
da neutropenia LISTA DE ABREVIATURAS
AN – Avaliação Nutricional
ASG – Avaliação Subjetiva Global
ASGPPP – Avaliação Subjetiva Global pelo Próprio Paciente
CB – Circunferência de Braço
CMB – Circunferência Muscular de Braço
CP – Cuidado Paliativo
DEP – Desnutrição Energética Proteica
DCT – Dobra Cutânea Triciptal
DECH – Doença Enxerto Contra Hospedeiro
EMTN – Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional
EN – Estado Nutricional
GE – Gasto Energético
GET – Gasto Energético Total
IMC – Índice de Massa Corporal
KPS – Karnofsky Performance Status
PP – Perda de Peso
PS – Performance Status
PTN – Proteína
QV – Qualidade de Vida
SND – Serviço de Nutrição e Dietética
TN – Terapia Nutricional
TNE – Terapia Nutricional Enteral
TNO – Terapia Nutricional Oral
TNP – Terapia Nutricional Parenteral
TGI – Trato Gastrointestinal
TCTH – Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas
Tu – Tumor
VET – Valor Energético Total
VO – Via Oral
Introdução
INTRODUÇÃO
O câncer é uma enfermidade que se caracteriza pelo crescimento descontrolado, rápido
e invasivo de células com alteração em seu material genético. Muitos fatores influenciam o
desenvolvimento do câncer, tanto os de causas externas (meio ambiente, hábitos ou costumes
próprios de um ambiente social e cultural) como os de internas (geneticamente pré-determinadas),
que resultam de eventos responsáveis por gerar mutações sucessivas no material genético das células,
processo que pode ocorrer ao longo de décadas, em múltiplos estágios (ARAB; STECK-SCOTT,
2004; ERSON; PETTY, 2006).
Parkin e Bray (2006) assinalam que no ano de 2000, ocorreram cerca de 10 milhões de casos
novos de câncer em todo o mundo e, aproximadamente, 6 milhões de mortes devido à doença, o que
representou um aumento de 22%, tanto na incidência como na mortalidade, em relação ao ano de 1990.
Nos países em desenvolvimento, os cânceres mais frequentes em homens são: de pulmão, estômago,
fígado, esôfago, cólon-reto, próstata, cavidade oral e bexiga; e nas mulheres são o de mama, colo do
útero, estômago, cólon-reto, pulmão, fígado, esôfago e ovário (PARKIN; BRAY, 2006).
A desnutrição calórica e proteica em indivíduos com câncer é muito frequente. Os principais
fatores determinantes da desnutrição nesses indivíduos são a redução na ingestão total de alimentos,
as alterações metabólicas provocadas pelo tumor e o aumento da demanda calórica pelo crescimento
do tumor. (BARRERA, 2002; YANG, 2003; DEUTSCH; KOLHOUSE, 2004; ISENRING, et al.
2004; SOLIANI et al., 2004; RAVASCO et al., 2005; SHANG et al., 2006; ISENRING, 2007).
Dentre as alterações metabólicas provocadas pelo tumor estão aquelas relacionadas ao
metabolismo dos carbo-hidratos, à intolerância à glicose, à resistência periférica à ação da insulina
e à alteração na sensibilidade das células beta do pâncreas à liberação de insulina (EHRMANNJÓSKO et al., 2006; FAROOKI; SCHNEIDER, 2007). Há, também, alterações no metabolismo dos
ácidos graxos e proteínas provocadas por citocinas (JANKOWSKA; KOSACKA, 2003; INUI, 2004;
JATOI et al., 2006; KAYACAN et al., 2006). O aumento da lipólise e a diminuição da síntese de
ácidos graxos provocam aumento dos lipídios circulantes e consumo de reservas. Isto ocorre devido
a alterações da atividade da lipase lipoproteica e à liberação de fatores tumorais lipolíticos (CERNE
et al., 2007). Indivíduos portadores de câncer têm perda maciça de músculo esquelético estimulado
por citocinas, incluindo o fator alfa de necrose tumoral, interleucina-1 beta, interleucina-6, interferon
gama e fator indutor de proteólise (PIF) (MELSTROM et al., 2007).
A desnutrição promove alterações morfológicas e funcionais. No pulmão, podem surgir
atelectasias e pneumonias decorrentes da redução da massa muscular diafragmática e da redução dos
níveis de concentração de lecitina nos alvéolos pulmonares em pacientes desnutridos. A desnutrição
também modifica a morfologia hepática, provoca edema e atrofia dos hepatócitos, esteatose hepática,
degeneração mitocondrial e dos microssomos, e compromete as funções hepáticas, restringindo a
capacidade de depuração de fármacos e a síntese de albumina e peptídeos. A desnutrição pode, ainda,
afetar as funções gastrointestinais, provocando síndrome de má-absorção, translocação intestinal
de micro-organismos, hipocloridria por diminuição das enzimas intestinais, perda de gordura
e adelgaçamento da parede intestinal, atrofia das mucosas gástrica e intestinal, diminuição das
microvilosidades e diminuição da massa celular do tecido linfático associado ao intestino (MOREIRA;
WAITZBERG, 2000).
17
18
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
O sistema imune também fica prejudicado no paciente desnutrido, devido à diminuição na
produção de imunoglobulinas, redução na atividade do sistema complemento, do número de linfócitos
T e CD4, no arrefecimento do poder bactericida dos neutrófilos, o qual propicia o aumento da
susceptibilidade às infecções de feridas, sépsis abdominal e pneumonia pós-operatória (MOREIRA;
WAITZBERG, 2000). Consequentemente, a desnutrição pode contribuir para a ocorrência de
complicações no período pós-operatório, colaborando para o aumento do tempo de internação,
comprometendo a qualidade de vida e tornando o tratamento mais oneroso.
Estas condições clínicas e nutricionais acima descritas indicam a necessidade do
desenvolvimento de protocolos criteriosos de assistência nutricional oferecida aos pacientes com
câncer nas diferentes fases da doença e do tratamento, tendo em vista a otimização dos recursos
empregados e a melhoria da qualidade da atenção prestada a esses pacientes.
Metodologia
O Consenso Nacional em Nutrição Oncológica foi idealizado em 2004 pelo Serviço de
Nutrição e Dietética do Instituto Nacional de Câncer (INCA) com o objetivo de uniformizar a terapia
e a assistência nutricional aos pacientes oncológicos, garantindo equidade e qualidade na assistência
a indivíduos com câncer no Brasil.
O primeiro passo, em 2005, foi a realização de um estudo para identificar e avaliar a
representação por regiões de instituições no Brasil que prestam assistência nutricional a indivíduos
portadores de câncer.
No ano seguinte, em 2006, foi firmado um acordo com a HealthCare Nutrition/Nestlé para o
recebimento de apoio à elaboração do consenso.
De abril a julho de 2007, por meio de cartas-convite, as instituições que assistem indivíduos
com câncer no Brasil foram convidadas a participar do I Fórum Nacional do Consenso, que aconteceu
nos dias 9 e 10 de outubro de 2007, no INCA.
Neste período, em reuniões internas com a participação de nutricionistas representantes das
unidades hospitalares do INCA, foram definidos os temas a serem consensuados e a metodologia de
elaboração do documento de consenso, com identificação dos atores internos para desempenharem
os papéis estratégicos nessa tarefa.
O I Fórum Nacional contou com a participação de 42 instituições. Os temas para discussão
foram distribuídos por região entre as instituições participantes, sendo:
•Centro-Oeste (três instituições): Orientações Nutricionais para os Sinais e Sintomas
Causados pela Terapia Antitumoral.
•Norte/Nordeste (dez instituições): Paciente Oncológico Adulto.
•Sudeste/SP, ES e MG (dez instituições) e RJ (sete instituições): Paciente Adulto em Cuidados
Paliativos.
•Sudeste/SP e RJ (três instituições): Paciente Pediátrico em Cuidados Paliativos.
•Sul (nove instituições): Paciente Oncológico Pediátrico.
Neste I Fórum foram definidos os líderes regionais e cofacilitadores responsáveis pelas regiões.
Introdução
Cada instituição participante buscou em sua região instituições pares para trabalhar na formulação
das propostas a serem discutidas nas reuniões regionais.
As propostas foram desenvolvidas por cada instituição participante e seus pares e depois
revisadas pelos cofacilitadores do INCA e re-encaminhadas para todas as instituições, para que
conhecessem o conteúdo das discussões do Fórum Regional com antecedência.
Os Fóruns Regionais aconteceram entre maio e junho de 2008, nas instituições representantes
de cada região.
Cada proposta gerada por uma instituição obedeceu ao seguinte Processo de Consenso:
•Discussão do item: os dados de cada representante foram considerados cuidadosamente.
•Formulação da Proposta.
•Chamada para um consenso, feita pelo cofacilitador INCA.
•Identificação e tratamento de preocupação: quando alguma proposta não atendia às
necessidades do grupo, o participante dissidente expressava a sua preocupação e trabalhava
junto ao criador da proposta na solução desta preocupação.
•Modificação da proposta: se houvesse necessidade, a proposta era modificada e um novo
processo de consenso era iniciado.
Quando o consenso não era atingido, o participante dissidente poderia: 1) declarar reservas, com o
intuito de registrar suas preocupações e gerar uma modificação na proposta; 2) ficar à parte, quando existia
divergência pessoal ou incapacidade de entendimento ou participação; ou 3) bloquear a proposta.
Toda essa dinâmica de discussão foi utilizada tanto nos Fóruns Regionais como nos Fóruns
Nacionais de desenvolvimento do consenso (Figura 1).
Como ferramentas para a votação das propostas dos temas do consenso, foram utilizados
cartões coloridos para os Fóruns Regionais e Nacionais. Decidiu-se que, para o cancelamento de uma
proposta, seria necessário 15% do número de participantes em bloqueios.
Discussão
Proposta
Não
Chamada para o
Consenso
Sim
Modificação da
Proposta
Colocação de
Preocupações
Bloqueio
"Ficar à parte"
Consenso
Ações geradas
Figura 1 – Fluxograma do processo de votação do Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
19
20
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Entre os meses de maio e junho de 2008, foram realizados os cinco Fóruns Regionais e
elaboradas 334 propostas, que envolveram temas relacionados à assistência nutricional a pacientes
oncológicos pediátrico e adulto, nas diferentes fases da doença e do tratamento. Os temas abordados
foram Avaliação Nutricional, Recomendações Nutricionais, Terapia Nutricional, Seguimento
Ambulatorial e Sinais e Sintomas Causados pela Terapia Antitumoral, em pacientes submetidos à
cirurgia, quimioterapia e radioterapia e em cuidados paliativos.
De julho a agosto de 2008, foi realizado o Fórum a Distância, em que todas as propostas
desenvolvidas regionalmente foram votadas por todos participantes do Consenso. As propostas
que não foram consensuadas nacionalmente foram submetidas à discussão e votação no II Fórum
Nacional, que ocorreu em outubro de 2008, no Rio de Janeiro.
As propostas preparadas e consensuadas nacionalmente foram enviadas às sociedades
internacionais de Portugal, do Canadá e da América Latina, que fizeram as suas considerações.
As estratégias de implementação das Diretrizes Nacionais de Nutrição Oncológica foram
discutidas no III Fórum Nacional, em setembro de 2009, no Rio de Janeiro.
O documento de Consenso foi registrado neste livro, editado pelo Instituto Nacional de Câncer/
Ministério da Saúde e lançado no Congresso Brasileiro de Nutrição Oncológica do INCA, 4ª Jornada
Internacional de Nutrição Oncológica e 3ª Jornada Luso-Brasileira em Nutrição Oncológica, em
outubro de 2009.
Este é um documento dinâmico que será revisado por todos os participantes do Consenso em
Fóruns Nacionais, realizados a cada 2 anos.
Introdução
Referências
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21
CAPÍTULO 1
PACIENTE ONCOLÓGICO ADULTO
Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto
INTRODUÇÃO
A agressividade e a localização do tumor, os órgãos envolvidos, as condições clínicas,
imunológicas e nutricionais impostas pela doença e agravadas pelo diagnóstico tardio e a magnitude
da terapêutica são fatores que podem comprometer o estado nutricional do paciente adulto oncológico,
com graves implicações prognósticas, e interferir diretamente no tratamento (SHILS et al., 2003).
A perda de peso e a desnutrição são os distúrbios nutricionais frequentemente observados em
pacientes com câncer (40% a 80% dos casos), sendo que até 30% dos pacientes adultos apresentam
perda superior a 10% do peso (WONG et al., 2001).
O déficit do estado nutricional está estreitamente relacionado à diminuição da resposta ao
tratamento específico e à qualidade de vida, com maiores riscos de complicações pós-operatórias,
aumento na morbimortalidade, no tempo de internação e no custo hospitalar (KYLE et al., 2004;
SILVA, 2006; CARO et al., 2007).
Propõe-se que a assistência nutricional ao paciente oncológico seja individualizada e compreenda
desde a avaliação nutricional, o cálculo das necessidades nutricionais e a terapia nutricional, até o
seguimento ambulatorial, com o objetivo de prevenir ou reverter o declínio do estado nutricional, bem
como evitar a progressão para um quadro de caquexia, além de melhorar o balanço nitrogenado, reduzir
a proteólise e aumentar a resposta imune (DAVIES, 2005; MARIAN, 2005).
Uma detecção precoce das alterações nutricionais no paciente oncológico adulto permite
intervenção em momento oportuno. Esta intervenção nutricional inicia-se no primeiro contato do
profissional nutricionista com o paciente, através de sua percepção crítica, da história clínica e de
instrumentos adequados, que definirão um plano terapêutico ideal.
Pacientes que apresentem grave risco nutricional se beneficiam com suporte nutricional por
um período de 10 a 14 dias antes de cirurgias de grande porte, nível de evidência A (ESPEN, 2006).
O acompanhamento nutricional global é uma ferramenta fundamental que visa melhores resultados
cirúrgicos e qualidade de vida do paciente.
Neste capítulo serão apresentadas as intervenções nutricionais consensuadas para o paciente
adulto oncológico nos períodos pré e pós-terapêutica. Estas estarão dispostas em quadros resumidos
logo após a introdução dos temas que constam de avaliação nutricional, necessidades nutricionais,
terapia nutricional e seguimento ambulatorial.
1.1 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE CIRÚRGICO (PRÉ E PÓS-OPERATÓRIO)
1.1.1 Avaliação Nutricional
A avaliação do estado nutricional do paciente cirúrgico, seja no pré ou pós-operatório, deve
ser uma prioridade no plano terapêutico (CEREZO, 2005; CARO et. al, 2007). Tem como objetivo
auxiliar na determinação do risco cirúrgico, na seleção dos pacientes candidatos ao suporte nutricional
e na identificação dos pacientes desnutridos.
25
26
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
A desnutrição associa-se a complicações no período pós-cirúrgico, maior risco de infecções,
redução da qualidade de vida, maior tempo de permanência hospitalar e dos custos, além de maior
mortalidade (GALVAN et. al., 2004; SALVINO et. al., 2004; PUTWATANA et. al., 2005; DAVIES,
2005; KYLE et. al., 2005; ALBERDA et. al., 2006). Diante disto, todos os pacientes no período pré e
pós-operatório deverão passar por uma triagem nutricional para a identificação de risco nutricional.
Dentre as ferramentas utilizadas para triagem do risco nutricional em pacientes com câncer,
destacam-se a Avaliação Subjetiva Global (ASG) e a Avaliação Subjetiva Global Produzida pelo
Próprio Paciente (ASG-PPP). Seu propósito é identificar, já na admissão, indivíduos em risco de
desnutrição ou que já estão desnutridos, e que são candidatos à terapia nutricional. (CORISH, 1999;
MOURÃO et.al, 2004; HUHMANN; CUNNINGHAM, 2005; KYLE et. al., 2005; DAVIES, 2005).
Aqueles pacientes identificados como desnutridos ou em risco nutricional, deverão ser submetidos
a uma avaliação nutricional completa, composta por dados clínicos e dietéticos (NITENBERG;
RAYNARD, 2000; DAVIES, 2005; SIEZERGA et. al., 2007).
A frequência da avaliação nutricional durante os períodos de pré e pós-operatório deve ser
individualizada e considerar as particularidades de cada paciente. Ambulatorialmente, em ambos os
períodos, o paciente sem risco nutricional deverá ser avaliado em até 30 dias, e os que apresentam
risco nutricional em até 15 dias. Naqueles pacientes internados para tratamento cirúrgico, a avaliação
deverá ser realizada até 48 horas da internação, com a realização da ASG e ASG-PPP na admissão
hospitalar. Durante a internação deverão ser realizados os parâmetros antropométricos, parâmetros
bioquímicos, anamnese alimentar, exame físico e clínico, respeitando os prazos de acordo com o que
foi consensuado.
Todos os dados da avaliação nutricional devem ser registrados, para que se tenha um
diagnóstico nutricional mais completo.
O Quadro 1 apresenta as condutas consensuadas sobre avaliação nutricional do paciente
adulto oncológico cirúrgico (pré e pós-operatório).
Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto
Quadro 1 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico adulto cirúrgico
Pré-cirúrgico
- No momento da internação: ASG-PPP
ou ASG
- Durante a internação e ambulatorialmente: anamnese nutricional
compreendendo dados clínicos e dietéticos
Que indicadores de risco - ASG-PPP > ou = 2 e ASG= B ou C
nutricional devo utilizar? - Ingestão alimentar < 60% das necessidades
- Sintomas do Trato Gastrointestinal
(TGI)- Localização da doença:
estômago, esôfago, pâncreas, tumor de
cavidade oral, faringe, laringe e pulmão
- % de Perda de Peso (PP) –
significativa ou severa
Com que frequência devo Ambulatorialmente:
avaliar?
- Sem Risco Nutricional – em até 30
dias
- Com Risco Nutricional – em até 15
dias
Internado (até 48 horas):
- Na admissão hospitalar: ASG e ASGPPP
- Durante a internação:
- Parâmetros antropométricos e
parâmetros bioquímicos: até 48 horas
da internação e semanalmente
- Anamnese alimentar e exame físico e
clínico: diariamente
- Em caso de aumento de tempo préoperatório na enfermaria e/ou complicações – todos os dados da avaliação
nutricional já definidos: 7/7 dias
Quais os pacientes
Ambulatorial e internado: todos os
adultos oncológicos
pacientes
devem ser avaliados?
Que dados da AN devo
Todos os dados coletados da avaliação
registrar?
nutricional devem ser registrados em
prontuário, em formulário específico do
Serviço de Nutrição e Dietética (SND)
e Equipe Multidisciplinar de Terapia
Nutricional (EMTN)
Questão
Que instrumentos devo
utilizar para a Avaliação
Nutricional (AN)?
Pós-cirúrgico
- No momento da internação: ASGPPP ou ASG
- Durante a internação e ambulatorialmente: anamnese nutricional
compreendendo dados clínicos e
dietéticos
- ASG-PPP > ou = 2 e ASG= B ou C
- Ingestão alimentar < 60% das
necessidades
- Sintomas do TGI
- Localização da doença: estômago,
esôfago, pâncreas, tumor de
cavidade oral, faringe, laringe e
pulmão
- % PP – significativa ou severa
Ambulatorialmente:
- Sem Risco Nutricional – em até 30
dias
- Com Risco Nutricional – em até 15
dias
Internado:
- Parâmetros antropométricos: após
7 dias e semanalmente
- Anamnese alimentar e exame físico
e clínico: pós-imediato e diariamente
- Em caso de aumento de tempo
pós-operatório na enfermaria e/ou
complicações – todos os dados da
avaliação nutricional já definidos:
7/7 dias
Ambulatorial e internado: todos os
pacientes
Todos os dados coletados da avaliação nutricional devem ser registrados em prontuário, em formulário
específico do SND e EMTN
1.1.2 Necessidades Nutricionais
A cirurgia pode contribuir para deterioração progressiva do estado nutricional por ação
direta, com má absorção de proteína ou de gordura, observada frequentemente após gastrectomia e
pancreatectomia, ou ainda por efeitos indiretos, como aumento da demanda metabólica resultante de
infecções ou de reação febril neutropênica (WAITZBERG, 2004).
27
28
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Pacientes neoplásicos, dependendo do tipo de tumor e estadiamento, podem apresentar um
requerimento energético maior, principalmente quando submetidos a tratamentos, como a cirurgia.
Um método prático para estimar as necessidades energéticas é o cálculo a partir das calorias por quilo
de peso corpóreo (MARTINS; CARDOSO, 2000; ASPEN, 2002; IKEMORI, 2003).
O oferecimento adequado de proteínas faz-se necessário devido ao estresse patológico e
cirúrgico que favorecem a degradação proteica. Esta ação catabólica resulta em desgaste e fadiga
do músculo esquelético, podendo atrapalhar o tratamento e prognóstico do paciente (WAITZBERG,
2004; CUPPARI, 2005; MELO et al, 2006).
Os requerimentos hídricos para pacientes no pré e pós-operatórios são semelhantes ao de
indivíduos normais, que são de 1 ml/Kcal ou 35 ml/kg/P. Contudo, ajustes nestes cálculos poderão
ser necessários quando ocorrerem perdas dinâmicas, drenagens e retenções hídricas muitas vezes
apresentadas por estes pacientes (MAHAN et al, 1998; WAITZBERG, 2004; CUPPARI, 2005).
O Quadro 2 apresenta as condutas consensuadas sobre as recomendações nutricionais para
paciente oncológico adulto cirúrgico.
Quadro 2 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico adulto cirúrgico
Questão
Qual método deve ser utilizado para estimativa das
necessidades calóricas?
Quais as recomendações
proteicas?
Quais as recomendações
hídricas?
Pré-Cirúrgico
Adultos
Kcal/Kg/Dia
Realimentção
20
Obeso
21-25
Manutenção
de peso
25-30
Ganho de peso
30-35
Repleção
35-45
Adultos
Gramas/Kg/dia
Sem complicações 1,0 – 1,2
Com estresse
moderado
1,1 – 1,5
Com estresse grave
e repleção proteica 1,5 – 2,0
Adultos
ml/Kg/dia
18-55 anos
35
55-65
30
>65
25
Acrescentar perdas dinâmicas e
descontar retenções hídricas
Pós-Cirúrgico
Adultos
Kcal/Kg/Dia
Realimentação
20
Obeso
21-25
Manutenção
de peso
25-30
Ganho de peso
30-35
Repleção
35-45
Adultos
Gramas/Kg/dia
Sem complicações 1,0 – 1,2
Com estresse
moderado
1,1 – 1,5
Com estresse grave
e repleção proteica 1,5 – 2,0
Adultos
ml/Kg/dia
18-55 anos
35
55-65
30
>65
25
Acrescentar perdas dinâmicas e
descontar retenções hídricas
Fonte: Adaptado de Martins C; Cardoso SP (2000).
1.1.3 Terapia Nutricional
A terapia nutricional (TN) no paciente adulto oncológico cirúrgico objetiva a prevenção ou
reversão do declínio do estado nutricional, assim como busca evitar a progressão para um quadro
de caquexia e garantir melhor qualidade de vida ao paciente (PELTZ, 2002; RAVASCO et al, 2003;
Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto
MARIAN, 2005; ISENRING et al, 2007). A TN deve seguir critérios que visem a individualidade do
paciente, seu estado nutricional, estágio da doença, efeitos do tratamento e sua função gastrointestinal
(MARIAN, 2005).
Quando indicada, a TN deve ser iniciada logo após o diagnóstico de risco nutricional ou
desnutrição, tanto em pacientes ambulatoriais como internados. Estudos têm mostrado bons
resultados, não só em resposta à cirurgia, como também melhorando a qualidade de vida dos pacientes,
reduzindo o tempo de internação e os custos hospitalares (NITENBERG et al, 2000; RAVASCO,
2003; MARIAN, 2005). A terapia nutricional precoce possibilita ao paciente oncológico cirúrgico
completar o curso do tratamento e pode reduzir a morbidade (NITENBERG et al, 2000).
A TN pode ser enteral por via oral, enteral via sonda ou parenteral. A melhor opção é a via
oral, visto que é a mais natural e menos invasiva, além de melhorar a resposta imune do paciente
(ALLEN; CROCKER, 2004; MARIAN, 2005). A via sonda é indicada quando a ingestão via oral é
insuficiente para garantir as necessidades diárias do paciente, devido ao quadro de hiporexia, disfagia
e mucosites (MEKHAIL et al, 2001; MARIAN, 2005). A Terapia Nutricional Parenteral (TNP) será
indicada quando o TGI estiver parcial ou totalmente impossibilitado para uso (ANDERS et al, 2000;
SCOLAPIO, 2002; MUSCARATOLI et al, 2002; MARIAN, 2005; JUSTINO et al, 2006).
A frequência da monitoração da resposta a esta terapia deve ser individualizada de acordo
com os parâmetros consensuados pela American Society Parenteral and Enteral Nutrition. Os dados
desta monitoração deverão ser registrados em formulário específico e anexados ao prontuário do
paciente (ASPEN, 1998; ASPEN, 2002; DAVIES, 2005).
A TN é interrompida quando o paciente oncológico apresentar melhor reserva muscular
esquelética, recuperação do peso e da capacidade funcional (SKIPWORTH, 2007).
O Quadro 3 apresenta as condutas consensuadas sobre a terapia nutricional em pacientes
oncológicos adultos cirúrgicos.
29
30
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Quadro 3 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico adulto cirúrgico
Questão
Quais os objetivos
da TN no paciente
adulto?
Que critérios devem
ser utilizados para
indicar TN?
Quando indicada, a
TN deve ser iniciada
em que momento?
Quais os critérios de
indicação da via a ser
utilizada?
Que parâmetros
devem ser utilizados
para monitorar a
resposta à TN?
Que dados devem ser
registrados da TN?
Pré-Cirúrgico
- Prevenir ou reverter o declínio do
estado nutricional
- Evitar a progressão para um quadro de
caquexia
- Auxiliar no manejo dos sintomas
- Melhorar o balanço nitrogenado
- Reduzir a proteólise
- Aumentar a resposta imune
- Reduzir o tempo de internação
hospitalar e garantir uma melhor
qualidade de vida ao paciente
Todos os pacientes com risco
nutricional e/ou presença de
desnutrição
Imediatamente após diagnóstico de
risco nutricional ou de desnutrição,
para pacientes ambulatoriais ou internados, desde que estejam
hemodinâmicamente estáveis por um
período mínimo de 7 dias
TNE: TGI total ou parcialmente
funcionante·
• TNE via oral: os complementos
enterais devem ser a primeira
opção, quando a ingestão alimentar
for < 75% das recomendações em
até 5 dias, sem expectativa de
melhora da ingestão·
• TNE via sonda: impossibilidade
de utilização da via oral, ingestão
alimentar insuficiente (ingestão
oral < 60% das recomendações)
em até 5 dias consecutivos, sem
expectativa de melhora da ingestão
TNP: impossibilidade total ou parcial
de uso do TGI
Conforme os parâmetros
consensuados por ASPEN 1998 e 2002
Pós-Cirúrgico
- Prevenir ou reverter o declínio do
estado nutricional
- Evitar a progressão para um quadro de
caquexia
- Auxiliar no manejo dos sintomas
- Melhorar o balanço nitrogenado
- Reduzir a proteólise
- Aumentar a resposta imune
- Reduzir o tempo de internação
hospitalar e garantir uma melhor qualidade de vida ao paciente
Todos os pacientes com risco
nutricional e/ou presença de
desnutrição
Imediatamente após diagnóstico de
risco nutricional ou de desnutrição,
para pacientes ambulatoriais ou
internados, desde que estejam
hemodinâmicamente estáveis por um
período mínimo de 7 dias
TNE: TGI total ou parcialmente
funcionante·
• TNE via oral: os complementos
enterais devem ser a primeira
opção, quando a ingestão alimentar
for < 75% das recomendações em
até 5 dias, sem expectativa de
melhora da ingestão·
• TNE via sonda: impossibilidade
de utilização da via oral, ingestão
alimentar insuficiente (ingestão
oral < 60% das recomendações)
em até 5 dias consecutivos, sem
expectativa de melhora da ingestão
TNP: impossibilidade total ou parcial
de uso do TGI
Conforme os parâmetros
consensuados por ASPEN 1998 e 2002
Todos os dados coletados da
monitorização da TN devem ser
registrados em formulário
específico do SND e EMTN e
anexado ao prontuário
Todos os dados coletados da
monitorização da TN devem ser
registrados em formulário
específico do SND e EMTN e
anexado ao prontuário
Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto
Quadro 3 (cont.)
Questão
Quando suspender a
TN?
Como programar o
desmame?
Pré-Cirúrgico
TNE via oral: quando há
inviabilidade da via (odinofagia, disfagia, obstrução, vômitos
incoercíveis, risco de aspiração), recusa
do paciente e intolerância
TNE via sonda: instabilidade
hemodinâmica e/ou persistentes
intercorrências, como diarreia severa
(acima de 500 ml/dia), vômitos
incontroláveis (pós-adequações de
volume, tempo e formulações da
dieta) e quando há inviabilidade da via
de acesso
TNP: instabilidade hemodinâmica
Progressivamente quando:
TNE via oral: quando a ingestão da
alimentação convencional for maior
que 75% do GET por 5 dias
consecutivos
TNE via sonda: quando a ingestão oral
permanecer ≥ 60% do GET por 3 dias
consecutivos
TNP: quando possível a utilização do
TGI
Pós-Cirúrgico
TNE via oral: quando há
inviabilidade da via (odinofagia,
disfagia, obstrução, vômitos
incoercíveis, risco de aspiração),
recusa do paciente e intolerância
TNE via sonda: instabilidade
hemodinâmica e/ou persistentes
intercorrências, como diarreia
severa (acima de 500 ml/dia),
vômitos incontroláveis (pósadequações de volume, tempo e
formulações da dieta) e quando há
inviabilidade da via de acesso
TNP: instabilidade hemodinâmica
Progressivamente quando:
TNE via oral: quando a ingestão da
alimentação convencional for maior do
que 75% do GET por 5 dias consecutivos
TNE via sonda: quando a ingestão oral
permanecer ≥ 60% do GET por 3 dias
consecutivos
TNP: quando possível a utilização do
TGI
1.1.4 Seguimento Ambulatorial
O acompanhamento nutricional ambulatorial é necessário para fornecer continuidade ao
cuidado com o paciente cirúrgico, garantindo a reversão ou manutenção do estado nutricional e
minimizando os agravamentos decorrentes do tratamento (MAHAN, 1998; IKEMORI, 2003).
Esta intervenção é um importante instrumento de assistência nutricional e tem evidenciado
uma relação direta com o aumento na sobrevida e melhor reabilitação de pacientes.
Procedimentos oncológicos cirúrgicos podem levar a alterações fisiopatológicas que
prejudicam a ingestão, digestão, absorção e aproveitamento dos nutrientes ingeridos, tendo como
consequência o comprometimento do estado nutricional do paciente. Nestes casos, se o paciente
evoluir com sequelas do tratamento, as quais impliquem em consequências nutricionais negativas,
deverá ser mantido o acompanhamento nutricional ambulatorial.
O paciente que estiver sem evidência de doença e ausência de sequelas, mas com presença de
comorbidades como diabetes, problemas cardiovasculares ou dislipidemia, deverá ser encaminhado
para unidade de assistência básica.
O Quadro 4 apresenta as condutas consensuadas no seguimento ambulatorial para pacientes
oncológicos adultos cirúrgicos.
31
32
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Quadro 4 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico adulto cirúrgico
Questão
O paciente adulto sem evidência de doença, sem
comorbidade e sem sequelas do tratamento deve ser
acompanhado pelo ambulatório do SND?
O paciente adulto com comorbidades e sem sequelas do tratamento deve ser acompanhado pelo
ambulatório do SND?
O paciente adulto com sequelas decorrentes do
tratamento deve ser acompanhado pelo ambulatório
do SND?
Pós-operatório
Não. Este paciente deverá ser encaminhado para a
rede básica de saúde
Não. Este paciente deverá ser encaminhado para a
rede básica de saúde
Todos os pacientes oncológicos com sequelas do
tratamento com implicações nutricionais devem ser
acompanhados pelo ambulatório do SND
Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto
1.2 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE ADULTO CLÍNICO (QUIMIOTERAPIA E
RADIOTERAPIA)
1.2.1 Avaliação Nutricional
A avaliação nutricional (AN) no paciente clínico internado ou ambulatorial que será submetido
à quimioterapia e/ou radioterapia deve ser realizada no início e durante todo o tratamento, para
que seja possível a identificação dos pacientes com risco nutricional ou algum grau de desnutrição.
Independentemente do estado nutricional inicial, os sintomas da quimio e/ou radioterapia podem
levar a graves consequências nutricionais. A combinação de métodos de avaliação constitui uma
ferramenta valiosa para este propósito, pois contempla dados informativos para terapêutica clínica e
dietética (BACHMANN, 2001).
A AN deverá ser realizada no momento da internação ou em até 48 horas, devendo compreender
dados de uma Avaliação Subjetiva Global (ASG) ou Avaliação Subjetiva Global Produzida pelo
Próprio Paciente (ASG-PPP), bem como dados referentes à anamnese alimentar, exames físico e
clínico.
A frequência da AN nos pacientes internados será semanal para os parâmetros antropométricos
e diária para anamnese alimentar e exames físico e clínico.
Os indicadores de risco nutricional consensuados devem ser os mesmos nas duas modalidades
de tratamento, nas quais se consideram os parâmetros da ASG ou ASG-PPP; o percentual de ingestão
alimentar; os sintomas do trato gastrointestinal (TGI); a localização da doença e o percentual de
perda de peso.
Nos pacientes tratados no ambulatório, os instrumentos utilizados para AN serão os mesmos
utilizados para o paciente internado, com exceção da ASG e/ou ASG-PPP. Quando verificado, na
triagem, risco nutricional ou presença de desnutrição, foi consensuado que estes pacientes deverão
ser avaliados a cada 15 dias e aqueles sem risco nutricional, a cada 30 dias.
Todos os dados coletados da avaliação nutricional devem ser registrados em prontuário, em
formulário específico do Serviço de Nutrição e Dietética (SND) e Equipe Multiprofissional de Terapia
Nutricional (EMTN) (DAVIES, 2005).
O Quadro 5 apresenta as condutas consensuadas sobre avaliação nutricional do paciente
adulto oncológico em tratamento clínico (quimioterapia e/ou radioterapia).
33
34
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Quadro 5 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico adulto em tratamento
clínico
Questão
Que instrumentos devo
utilizar para a AN?
Quimioterapia
- No momento da internação: ASGPPP ou ASG
- Durante a internação e ambulatorialmente: anamnese nutricional
Que indicadores de risco - ASG-PPP > ou = 2 e ASG= B ou C
nutricional devo utilizar? - Ingestão alimentar < 60% das
necessidades
- Sintomas do TGI
- Localização da doença: estômago,
esôfago, pâncreas, tumor de cavidade
oral, faringe, laringe e pulmão
- % PP – significativa ou severa
Com que frequência devo Ambulatorialmente:
avaliar?
- Sem Risco Nutricional – em até 30
dias
- Com Risco Nutricional – em até 15
dias
Internado
- Na admissão hospitalar ou até 48
horas: ASG e ASG-PPP
- Durante a internação – até 48 horas
e semanalmente
- Anamnese nutricional:
•Parâmetros antropométricos e
parâmetros bioquímicos: préinício da quimioterapia
•Anamnese alimentar e exame
físico e clínico: diariamente
Quais os pacientes
Ambulatorial e internado: todos os
adultos oncológicos
pacientes
devem ser avaliados?
Que dados da AN devo
Todos os dados coletados da avaliação
registrar?
nutricional devem ser registrados em
prontuário, em formulário específico
do SND e EMTN
Radioterapia
- No momento da internação: ASGPPP ou ASG
- Durante a internação e ambulatorialmente: anamnese nutricional
- ASG-PPP > ou = 2 e ASG= B ou C
- Ingestão alimentar < 60% das necessidades
- Sintomas do TGI
- Localização da doença: estômago,
esôfago, pâncreas, tumor de cavidade
oral, faringe, laringe e pulmão.
- % PP – significativa ou severa
Ambulatorialmente:
- Sem Risco Nutricional – em até 30
dias
- Com Risco Nutricional – em até 15
dias
Internado:
- Na admissão hospitalar ou até 48
horas: ASG e ASG-PPP
- Durante a internação – até 48 horas
e semanalmente
- Anamnese nutricional:
•Parâmetros antropométricos e
parâmetros bioquímicos: préinício da radioterapia
•Anamnese alimentar e exame
físico e clínico: diariamente
Ambulatorial e internado: todos os
pacientes
Todos os dados coletados da
avaliação nutricional devem ser
registrados em prontuário, em
formulário específico do SND e
EMTN
1.2.2 Necessidades Nutricionais
O gasto energético (GE) no câncer pode estar aumentado ou diminuído dependendo do tipo de
tumor, estágio da doença e das formas de tratamento (KNOX, 1983). Em estudos prévios, observou-se
variação no GE desses pacientes e também controvérsias em relação às diversas fórmulas empregadas
para o cálculo do GE. Dentre os métodos para estimativa de GE, foi consensuado um método direto,
de fácil aplicabilidade, que utiliza a taxa calórica ideal por quilo de peso corporal, sendo este método
altamente utilizado na prática clínica (MARTINS; CARDOSO, 2000; JUSTINO et al., 2004).
Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto
Assim como o GE, as necessidades diárias de proteínas para pacientes em radioterapia e/ou
quimioterapia podem ser diferentes. Dependendo da doença, programação terapêutica, estado nutricional
prévio e complicações presentes, as necessidades proteicas se alteram. No estresse prolongado e intenso,
o catabolismo é de difícil controle, sendo que a depleção proteica grave nos estoques orgânicos pode
prejudicar ou até mesmo interromper a quimioterapia e/ou radioterapia, influenciando negativamente
na morbidade e mortalidade dos pacientes. Sendo assim, foi consensuado que as necessidades proteicas
diárias para o paciente adulto em tratamento clínico serão estimadas por um método rápido e prático
para o cálculo proteico (MARTINS; CARDOSO, 2000; JUSTINO et al., 2004).
A necessidade basal de água para o adulto depende das perdas de água sensíveis (urinárias) e
insensíveis, e varia de 1.250 a 3.000 ml/dia, dependendo da superfície corporal, quantidade de massa
celular, idade e sexo. Em condições normais a oferta hídrica baseia-se na ingestão calórica, que é 1
ml/kcal para adultos ou 35 ml/kg/dia. Deve-se, também, fazer a correção frente a estados clínicos de
perda ou retenção. Portanto, faz-se necessário o estímulo para o monitoramento da ingestão hídrica,
visando à hidratação adequada para a eficácia e diminuição dos efeitos tóxicos durante o tratamento
(CUPPARI, 2005; WAITZBERG, 2004; MAHAN et al., 1998).
O Quadro 6 apresenta as condutas consensuadas sobre as necessidades nutricionais de
pacientes adultos em tratamento clínico.
Quadro 6 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico adulto em tratamento
clínico
Questão
Qual método deve ser utilizado para estimativa das
necessidades calóricas?
Quais as recomendações
proteicas?
Quais as recomendações
hídricas?
Quimioterapia
Adultos
Kcal/Kg/dia
Realimentção
20
Obeso
21-25
Manutenção
de peso
25-30
Ganho de peso
30-35
Repleção
35-45
Adultos
gramas/Kg/dia
Tratamento
oncológico sem
complicações
1,0 – 1,2
Tratamento
oncológico com
estresse moderado 1,1 – 1,5
Tratamento
oncológico com
estresse grave e
repleção proteica
1,5 –2,0
Adultos
ml/Kg/dia
18-55 anos
35
55-65
30
>65
25
Acrescentar perdas dinâmicas e
descontar retenções hídricas
Fonte: Adaptado de Martins C; Cardoso SP (2000).
Radioterapia
Adultos
Kcal/Kg/dia
Realimentação
20
Obeso
21-25
Manutenção
de peso
25-30
Ganho de peso
30-35
Repleção
35-45
Adultos
gramas/Kg/dia
Tratamento
oncológico sem
complicações
1,0 – 1,2
Tratamento
oncológico com
estresse moderado
1,1 – 1,5
Tratamento
oncológico com
estresse grave e
repleção proteica
1,5 –2,0
Adultos
ml/Kg/dia
18-55 anos
35
55-65
30
>65
25
Acrescentar perdas dinâmicas e
descontar retenções hídricas
35
36
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
1.2.3 Terapia Nutricional
A preservação e/ou melhora do estado nutricional tem um importante efeito na qualidade de
vida e no bem-estar de pacientes com câncer em quimioterapia e/ou radioterapia.
A quimioterapia e/ou a radioterapia apresentam efeitos adversos que podem comprometer o
estado físico, imunológico e nutricional, sendo que a terapia nutricional (TN), quando bem aplicada,
auxilia no manejo dos sintomas, evitando a caquexia, e contribuindo para a melhora da qualidade de
vida do paciente (DRESLER , 1987; OTTERY, 1996).
A terapia nutricional (TN) deve ser iniciada tão logo se tenha o diagnóstico de risco nutricional
ou qualquer grau de desnutrição, tanto para pacientes internados ou ambulatoriais, desde que estejam
em condições hemodinâmicas estáveis, por um período mínimo de sete dias (MARIAN, 2005).
O critério para a indicação da via a ser utilizada vai depender do funcionamento total ou
parcial do trato gastrointestinal. A via oral é a melhor opção, porém quando a ingestão alimentar ficar
comprometida, a terapia nutricional enteral via oral ou através de sondas deverá ser instituída. Sendo
assim, ficou consensuado que a TNE por sonda deve ser indicada na impossibilidade de utilização da
via oral e ingestão alimentar oral insuficiente, inferior a 60% das recomendações, sem expectativa
de melhora da ingestão. A terapia nutricional parenteral (TNP) deve ser indicada na impossibilidade
total ou parcial de uso do trato gastrointestinal (ANDRADE et al., 2004).
Os pacientes devem ser avaliados e monitorados periodicamente de forma individualizada,
conforme os parâmetros já estabelecidos pela American Society Parenteral and Enteral Nutrition,
devendo todos estes dados ser registrados em formulário específico e anexado em prontuário (ASPEN,
1998; ASPEN, 2002).
O programa de desmame da TN deve ser progressivo de acordo com a reabilitação alimentar
convencional e o desmame da TNP deverá ocorrer tão logo for possível a utilização do TGI. Na
vigência de instabilidade hemodinâmica a terapia nutricional deve ser suspensa (LAMEU, 2005).
O Quadro 7 apresenta as condutas consensuadas sobre terapia nutricional do paciente adulto
oncológico em tratamento clínico (quimioterapia e radioterapia).
Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto
Quadro 7 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente adulto oncológico em tratamento clínico
Questão
Quais os objetivos
da TN no paciente
adulto?
Quimioterapia
- Prevenir ou reverter a deterioração do
estado nutricional
- Evitar a progressão para um quadro de
caquexia
- Auxiliar no manejo dos sintomas
- Melhorar o balanço nitrogenado
- Reduzir a proteólise
- Aumentar a resposta imune
- Reduzir o tempo de internação
hospitalar e promover melhor
qualidade de vida ao paciente
Que critérios devem
Todos os pacientes com risco
ser utilizados para
nutricional e/ou presença de
indicar TN?
desnutrição
Quando indicada, a
A TN deve ser iniciada
TN deve ser iniciada
imediatamente após diagnóstico de
em que momento?
risco nutricional ou de desnutrição, para
pacientes ambulatoriais ou internados,
desde que estejam em condições hemodinâmicas estáveis, por um período
mínimo de 7 dias
Quais os critérios de
TNE: TGI total ou parcialmente
indicação da via a ser funcionante·
utilizada?
• TNE via oral: os complementos
enterais devem ser a primeira opção,
quando a ingestão alimentar for
< 75% das recomendações em até
5 dias, sem expectativa de melhora
da ingestão
• TNE via sonda: impossibilidade
de utilização da via oral, ingestão
alimentar insuficiente (ingestão
oral < 60% das recomendações)
em até 5 dias consecutivos, sem
expectativa de melhora da ingestão
TNP: impossibilidade total ou parcial
de uso do TGI
Que parâmetros deConforme os parâmetros
vem ser utilizados para consensuados por ASPEN 1998 e 2002
monitorar a resposta
à TN?
Que dados devem ser Todos os dados coletados da
registrados da TN?
monitorização da TN devem ser
registrados em formulário específico do
SND e EMTN e anexado ao prontuário
Radioterapia
- Prevenir ou reverter a
deterioração do estado nutricional
- Evitar a progressão para um quadro de
caquexia
- Auxiliar no manejo dos sintomas
- Melhorar o balanço nitrogenado
- Reduzir a proteólise
- Aumentar a resposta imune
- Reduzir o tempo de internação
hospitalar e promover melhor
qualidade de vida ao paciente
Todos os pacientes com risco
nutricional e/ou presença de
desnutrição
A TN deve ser iniciada
imediatamente após diagnóstico de
risco nutricional ou de desnutrição, para
pacientes ambulatoriais ou internados,
desde que estejam em condições hemodinâmicas estáveis, por um período
mínimo de 7 dias
TNE: TGI total ou parcialmente
funcionante·
• TNE via oral: os complementos
enterais devem ser a primeira
opção, quando a ingestão alimentar
for < 75% das recomendações
em até 5 dias, sem expectativa de
melhora da ingestão
• TNE via sonda: impossibilidade
de utilização da via oral, ingestão
alimentar insuficiente (ingestão
oral < 60% das recomendações)
em até 5 dias consecutivos, sem
expectativa de melhora da ingestão
TNP: impossibilidade total ou
parcial de uso do TGI
Conforme os parâmetros
consensuados por ASPEN 1998 e 2002
Todos os dados coletados da
monitorização da TN devem ser
registrados em formulário
específico do SND e EMTN e
anexado ao prontuário
37
38
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Quadro 7 (cont.)
Questão
Quando suspender a
TN?
Como programar o
desmame?
Quimioterapia
TNE via oral: quando há
inviabilidade da via (odinofagia,
disfagia, obstrução, vômitos
incoercíveis, risco de aspiração), recusa
do paciente e intolerância
TNE via sonda: instabilidade
hemodinâmica e/ou persistentes
intercorrências, como diarreia
severa (acima de 500 ml/dia),
vômitos incontroláveis (pósadequações de volume, tempo e
formulações da dieta) e quando há
inviabilidade da via de acesso
TNP: instabilidade
hemodinâmica
Progressivamente
TNE via oral: quando a ingestão da
alimentação convencional for maior do
que 75% do GET por 5 dias
consecutivos
TNE via sonda: quando a ingestão oral
permanecer ≥ 60% do GET por
3 dias consecutivos
TNP: quando possível a utilização do
TGI
Radioterapia
TNE via oral: quando há
inviabilidade da via (odinofagia,
disfagia, obstrução, vômitos
incoercíveis, risco de aspiração),
recusa do paciente e intolerância
TNE via sonda: instabilidade
hemodinâmica e/ou persistentes
intercorrências, como diarreia
evera (acima de 500 ml/dia),
vômitos incontroláveis (pósadequações de volume, tempo e
formulações da dieta) e quando há
inviabilidade da via de acesso
TNP: instabilidade hemodinâmica
Progressivamente
TNE via oral: uando a ingestão da
alimentação convencional for maior do
que 75% do GET por 5 dias
consecutivos
TNE via sonda: quando a ingestão oral
permanecer ≥ 60% do GET por 3 dias
consecutivos
TNP: quando possível a utilização do
TGI
1.2.4 Seguimento Ambulatorial
O acompanhamento ambulatorial regular do estado nutricional durante a quimioterapia
e radioterapia torna-se necessário diante das complicações provenientes dos efeitos tóxicos do
tratamento oncológico. Através da adaptação dietética que deve acompanhar os efeitos colaterais
do tratamento e evolução da própria doença, a assistência nutricional durante a quimioterapia e/
ou radioterapia deve promover a autonomia e independência do paciente, bem como da família, no
planejamento de sua alimentação após o término do tratamento.
O paciente adulto sem evidência de doença, com ou sem comorbidade e sem sequelas do
tratamento, deverá ser devidamente encaminhado para a rede básica de saúde.
Dependendo da proposta do tratamento clínico ou da área irradiada, alguns pacientes necessitam de
acompanhamento nutricional após o término da quimioterapia e/ou radioterapia, pois podem apresentar
sintomas tóxicos agudos ou tardios decorrentes do tratamento, sendo necessário acompanhamento
nutricional até sua reabilitação. Neste caso, e de acordo com o que foi consensuado, todo paciente
com sequelas do tratamento e implicações nutricionais deve ser acompanhado no ambulatório de
nutrição até sua reabilitação.
O Quadro 8 apresenta as condutas consensuadas sobre seguimento ambulatorial para pacientes
oncológicos adultos em tratamento clínico (quimioterapia e radioterapia).
Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto
Quadro 8 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico adulto em tratamento
clínico
Questão
O paciente adulto sem
evidência de doença,
sem comorbidade
e sem sequelas do
tratamento deve ser
acompanhado pelo
ambulatório do SND?
Com comorbidades e
sem sequelas do tratamento?
Com sequelas
decorrentes do
tratamento?
Pós-Quimioterapia
Não. Este paciente deverá ser
encaminhado para a rede básica de
saúde
Pós-Radioterapia
Não. Este paciente deverá ser
encaminhado para a rede básica de
saúde
Não. Este paciente deverá ser
encaminhado para a rede básica de
saúde
Todos os pacientes oncológicos com
sequelas do tratamento e implicações
nutricionais devem ser
acompanhados pelo ambulatório do
SND
Não. Este paciente deverá ser
encaminhado para a rede básica de
saúde
Todos os pacientes oncológicos com
sequelas do tratamento e implicações
nutricionais devem ser acompanhados
pelo ambulatório do SND
39
40
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
1.3 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE SUBMETIDO A TRANSPLANTE DE CÉLULASTRONCO HEMATOPOÉTICAS (TCTH)
1.3.1 Avaliação Nutricional
A avaliação nutricional (AN) em pacientes candidatos ao TCTH compreende primeiramente
a detecção de carências eventuais, suscetíveis de serem rapidamente corrigidas, pois indivíduos com
estado nutricional comprometido apresentam maiores riscos de infecção, falha na pega do enxerto e
consequente queda na sobrevida (SCHLOERB; AMARE, 1993; MUSCARATOLI, 2002; JUSTINO;
WAITZBERG, 2006). Um exame clínico e um interrogatório simples, assim como avaliação
antropométrica, devem ser utilizados para avaliar e detectar este tipo de população, nas diferentes
etapas do TCTH (CHENEY et al.,1987).
O objetivo desses procedimentos é detectar possíveis carências nutricionais, possibilitando a
intervenção precoce. E os indicadores de risco nutricional, como história de perda de peso, sintomas
do trato gastrointestinal (TGI), percentual de ingestão alimentar e tipo de transplante, são de grande
valia para identificar os pacientes sobre agravo nutricional (AKER, 1995; MUSCARATOLI, 2002).
Entretanto, todos os pacientes, independente do tipo de TCTH, devem ser submetidos a AN. É
recomendado que a frequência de avaliação destes pacientes baseie-se na presença ou não de risco
nutricional, devendo esta periodicidade não exceder a 15 dias para pacientes ambulatoriais já sob
risco nutricional e 30 dias para aqueles que ainda não apresentam risco (SCHLOERB; AMARE,
1993).
Durante o período de internação, devido ao estado de hiper-hidratação e desequilíbrio
de fluidos e eletrólitos, não é recomendada avaliação antropométrica como rotina, devendo esta
ser realizada somente no período de pré-condicionamento (SCHLOERB; AMARE, 1993). Com
relação aos parâmetros laboratoriais, devido à instabilidade destes doentes, deverão ser realizados,
no mínimo, três vezes por semana. Demais parâmetros, como anamnese alimentar, exame físico e
clínico, devem ser feitos diariamente, em virtude das intercorrências acima mencionadas, tanto no
período pré quanto pós-condicionamento (COHN et al., 1981).
Os parâmetros obtidos da AN devem ser registrados em formulário específico no prontuário,
para que todos da equipe multidisciplinar tenham acesso às informações pertinentes ao estado
nutricional destes pacientes (DAVIES, 2005).
O Quadro 9 apresenta as condutas consensuadas sobre avaliação nutricional do paciente
adulto oncológico em TCTH.
Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto
Quadro 9 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico adulto submetido a
TCTH
Questão
Que instrumentos devo
utilizar para a AN?
Pré-TCTH
- No momento da internação: ASGPPP ou ASG
- Durante a internação: anamnese
nutricional compreendendo dados
clínicos e dietéticos
Que indicadores de risco - ASG-PPP: > ou = 2 e ASG= B ou C
nutricional devo utilizar? - Ingestão alimentar < 60% das
necessidades
- Sintomas do TGI
- % PP – significativa ou severa
- Tipo de transplante – Alogênico
Com que frequência devo Ambulatorialmente:
avaliar?
- Sem Risco Nutricional – em até 30
dias
- Com Risco Nutricional – em até 15
dias
Internado:
- Na admissão hospitalar: ASG ou
ASG-PPP
- Durante a internação:
•Parâmetros antropométricos
(pré-condicionamento)
•Parâmetros laboratoriais: realizar
no mínimo 3 vezes por semana
- Anamnese alimentar e exame físico
e clínico: diariamente
Quais os pacientes
Todos os pacientes, independente do
adultos oncológicos
tipo de TCTH
devem ser avaliados?
Que dados da AN devo
Todos os dados coletados da avaliaregistrar?
ção nutricional devem ser registrados
em formulário específico do SND e
EMTN no prontuário
Pós-TCTH
- No momento da internação: ASGPPP ou ASG
- Durante a internação: anamnese
nutricional compreendendo dados
clínicos e dietéticos
- ASG-PPP: > ou = 2 e ASG= B ou C
- Ingestão alimentar < 60% das
necessidades
- Sintomas do TGI
- % PP – significativa ou severa
- Tipo de transplante – Alogênico
- Anamnese alimentar e exame físico
e clínico: diariamente
- Parâmetros laboratoriais: realizar no
mínimo 3 vezes por semana
Todos os pacientes, independente do
tipo de TCTH
Todos os dados coletados da
avaliação nutricional devem ser
registrados em formulário específico
do SND e EMTN no prontuário
1.3.2 Necessidades Nutricionais
Durante o TCTH ocorrem duas situações distintas e simultâneas: a diminuição da ingestão oral de
alimentos e o aumento das necessidades metabólicas, que irão interferir no estado nutricional do paciente.
A manutenção de um bom estado nutricional é de extrema importância em todo o processo do TCTH. Para
que tal fato ocorra, é necessária uma oferta adequada de nutrientes (ANDERS et al., 2000).
Embora o gasto de energia possa ser diferente entre um transplante autólogo e um transplante
alogênico, é consenso que os requerimentos energéticos podem variar, chegando até 150% do gasto
energético basal (MUSCARATOLI et al., 2002).
41
42
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Na maioria dos centros de TCTH, os protocolos de recomendação energética são similares.
Szeluga et al. (1995) demonstraram que, para manter um balanço nitrogenado em zero, foram
necessárias de 30 a 50 kcal/kg de peso por dia para adolescentes e adultos.
Segundo critérios do Fred Hutchinson Cancer Research Center, centro de referência mundial
em TCTH, no período de pós-transplante imediato (30-50dias), as necessidades energéticas refletem
o aumento do requerimento devido ao condicionamento, febre, infecções, doença enxerto contra
hospedeiro aguda (DECH) e outras complicações metabólicas (FRED HUTCHINSON CANCER
RESEARCH CENTER, 1985).
Com relação às necessidades proteicas, são estimadas a fim de prover substrato para o reparo
de tecido após a terapia de citorredução e poupar perda de massa magra (WEISDORF et al., 1987;
FRED HUTCHINSON CANCER RESEARCH CENTER, 1985; MUSCARATOLI et al., 2002).
Já os requerimentos hídricos para esta população de pacientes baseiam-se na oferta de líquidos
preconizados para indivíduos normais, que é de 1 ml/kcal ou 35 ml/kg/p; contudo, devido às perdas
dinâmicas e retenções hídricas muitas vezes apresentadas por estes pacientes, ajustes nestes cálculos
poderão ser necessários (MAHAN et al., 1998; CUPPARI, 2005).
O Quadro 10 apresenta as condutas consensuadas sobre as recomendações nutricionais para
pacientes nas diferentes etapas do TCTH.
Quadro 10 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico adulto submetido
a TCTH
Questão
Qual método deve ser
utilizado para
estimativa das
necessidades
calóricas?
Quais as
recomendações
proteicas?
Quais as
recomendações
hídricas?
Pré-TCTH
Adultos
Kcal/kg/dia
Manutenção de peso
25-30
Ganho de peso
30-35
Repleção
35-45
Pós-TCTH
Adultos
Kcal/kg/dia
Manutenção de peso
25-30
Ganho de peso
30-35
Repleção
35-45
Adultos
gramas/kg/dia
Manutenção
1,0 – 1,2
Repleção
1,2 – 1,5
Adultos
ml/kg/dia
18 – 55 anos
35
55 – 65 anos
30
> 65 anos
25
Acrescentar perdas dinâmicas e
descontar retenções hídricas
Adultos
Repleção
gramas/kg/dia
1,5 – 2,0
Adultos
ml/kg/dia
18 – 55 anos
35
55 – 65 anos
30
> 65 anos
25
Acrescentar perdas dinâmicas e
descontar retenções hídricas
Fonte: Adaptado de Fred Hutchinson, 1985; adaptado de Martins C; Cardoso SP (2000).
Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto
1.3.3 Terapia Nutricional
A terapia nutricional (TN) no TCTH tem como objetivo manter ou melhorar o estado
nutricional, fornecer substrato de forma adequada para recuperação hematopoética e do sistema imune,
além de minimizar as consequências do regime de condicionamento (ANDERS et al., 2000). Deverá
ser indicada de forma individualizada, utilizando como critérios pacientes que estejam sob risco
nutricional e/ou desnutridos (AKER; LESSEN, 1995; ALBERTINI; RUIZ, 2001; MUSCARATOLI
et al., 2002).
Quando indicada, a TN deve ser iniciada imediatamente após diagnóstico de risco nutricional ou
desnutrição, tanto para pacientes ambulatoriais quanto internados, pois a TN precoce melhora não só a
resposta aos tratamentos antitumor como também a qualidade de vida (MUSCARATOLI et al., 2002).
Após indicada, a TN poderá ser administrada diretamente no trato gastrointestinal (TGI), se
este estiver total ou parcialmente funcionante. A via oral deverá ser sempre a primeira opção, por
ser a via mais fisiológica e menos invasiva. Caso ocorra a impossibilidade de utilização desta via ou
ingestão oral inferior a 60% das recomendações, a TN poderá ser administrada através de uma sonda.
Na impossibilidade total ou parcial de uso do TGI, a terapia nutricional parenteral (TNP) estará
indicada (ANDERS et al., 2000; MUSCARATOLI et al., 2002; JUSTINO; WAITZBERG, 2006).
A frequência da monitoração da resposta a esta terapia deve ser individualizada e norteada
de acordo com os parâmetros já amplamente discutidos e consensuados pela American Society
Parenteral and Enteral Nutrition, devendo todos os dados desta monitoração serem registrados em
formulário específico e anexado ao prontuário do paciente (ASPEN, 1998; ASPEN, 2002).
O desmame da TNE deverá ocorrer progressivamente, à medida que o paciente cursar
com melhora da ingestão alimentar convencional, e da TNP quando for possível a utilização do
TGI (ROBERTS, 1993). Nos estados de choque de qualquer etiologia, com grave repercussão
hemodinâmica, se não for ofertado oxigênio adequadamente para as células, tanto a nutrição enteral
como a parenteral estão formalmente suspensas (LAMEU, 2005).
O Quadro 11 apresenta as condutas consensuadas sobre terapia nutricional em pacientes
oncológicos adultos submetidos a TCTH.
43
44
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Quadro 11 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico adulto submetido a TCTH
Questão
Quais os objetivos
da TN no paciente
adulto?
Pré-TCTH
- Manter ou recuperar o estado
nutricional
- Evitar a desnutrição proteico-calórica
- Evitar ou minimizar as deficiências
nutricionais decorrentes da terapia
oncológica
- Implementar um plano dietoterápico
individualizado que atenda às
exigências nutricionais do paciente
durante todas as fases do tratamento
- Manter o TGI funcionante
- Evitar futuros procedimentos
invasivos como NPT
- Encorajar a ingestão de alimentos VO,
mediante a adequação da dieta aos
sintomas decorrentes da terapia e da
doença enxerto contra hospedeiro,
respeitando hábitos e tolerância do
paciente
Todos os pacientes com risco nutricional e/ou presença de desnutrição
Pós-TCTH
- Manter ou recuperar o estado
nutricional
- Evitar a desnutrição proteico-calórica
- Evitar ou minimizar as
deficiências nutricionais
decorrentes da terapia oncológica
- Implementar um plano dietoterápico
individualizado que atenda às
exigências nutricionais do paciente
durante todas as fases do tratamento
- Manter o TGI funcionante
- Evitar futuros procedimentos
invasivos como NPT
- Encorajar a ingestão de alimentos
VO, mediante a adequação da dieta
aos sintomas decorrentes da terapia e
da doença enxerto contra hospedeiro,
respeitando hábitos e tolerância do
paciente
Que critérios devem
Todos os pacientes com risco
ser utilizados para
nutricional e/ou presença de
indicar TN?
desnutrição
Quando indicada, a
A TN deve ser iniciada
A TN deve ser iniciada
TN deve ser iniciada
imediatamente após diagnóstico de ris- imediatamente após diagnóstico de risem que momento?
co nutricional ou de desnutrição, para
co nutricional ou de desnutrição, para
pacientes ambulatoriais ou internados, pacientes ambulatoriais ou internados,
desde que estejam em condições hedesde que estejam em condições hemodinâmicas estáveis, por um período modinâmicas estáveis, por um período
mínimo de 7 dias
mínimo de 7 dias
Quais os critérios de
TNE: TGI total ou parcialmente
TNE: TGI total ou parcialmente funindicação da via a ser funcionante·
cionante·
utilizada?
• TNE via oral: os complementos
• TNE via oral: os complementos
enterais devem ser a primeira
enterais devem ser a primeira opção,
opção, quando a ingestão alimentar
quando a ingestão alimentar for
for < 75% das recomendações
< 75% das recomendações em até
em até 5 dias, sem expectativa de
5 dias, sem expectativa de melhora
melhora da ingestão
da ingestão
• TNE via sonda: impossibilidade
• TNE via sonda: impossibilidade
de utilização da via oral, ingestão
de utilização da via oral, ingestão
alimentar insuficiente (ingestão
alimentar insuficiente (ingestão
oral < 60% das recomendações)
oral < 60% das recomendações)
em até 5 dias consecutivos, sem
em até 5 dias consecutivos, sem
expectativa de melhora da ingestão
expectativa de melhora da ingestão
TNP: impossibilidade total ou parcial
TNP: impossibilidade total ou
de uso do TGI
parcial de uso do TGI
Que parâmetros deConforme os parâmetros
Conforme os parâmetros
vem ser utilizados para consensuados por ASPEN 1998 e 2002 consensuados por ASPEN 1998 e 2002
monitorar a resposta
à TN?
Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto
Quadro 11 (cont.)
Questão
Que dados devem ser
registrados da TN?
Quando suspender a
TN?
Como programar o
desmame?
Pré-TCTH
Todos os dados coletados da
monitorização da TN devem ser
registrados em formulário
específico do SND e EMTN e
anexado ao prontuário
Na vigência de instabilidade
hemodinâmica
Progressivamente:
TNE via oral: quando a ingestão da
alimentação convencional for maior
que 75% do GET por 5 dias
consecutivos
TNE via sonda: quando a ingestão oral
permanecer ≥ 60% do GET por
3 dias consecutivos
TNP: quando possível a utilização do
TGI
Pós-TCTH
Todos os dados coletados da
monitorização da TN devem ser
registrados em formulário
específico do SND e EMTN e
anexado ao prontuário
Na vigência de instabilidade
hemodinâmica
Progressivamente:
TNE via oral: quando a ingestão da
alimentação convencional for maior
que 75% do GET por 5 dias
consecutivos
TNE via sonda: quando a ingestão oral
permanecer ≥ 60% do GET por 3 dias
consecutivos
TNP: quando possível a utilização do
TGI
1.3.4 Seguimento Ambulatorial
Embora pouco explorado no meio científico, não resta dúvida de que o seguimento
ambulatorial é considerado parte integrante dos cuidados de suporte para pacientes submetidos
a TCTH, uma vez que tem por objetivo principal impedir a desnutrição secundária à toxicidade
gastrointestinal e minimizar os efeitos das alterações metabólicas induzidas pelos regimes agressivos
do condicionamento.
O acompanhamento nutricional é importante após o fim do tratamento e no período de
seguimento, pois existem diferenças significativas sobre o estado nutricional nos variados tipos de
transplante, autólogo, singênico e alogênico (DICLEHAN et al., 2006).
Além disto, o período de seis meses após o TCTH ou durante o uso de imunossupressores,
é considerado o de maior risco de infecções oportunistas, em especial para aqueles pacientes que
foram submetidos a transplante alogênico. O transplante autólogo, devido às células-tronco serem
oriundas do próprio paciente e pelo fato de não usar drogas imunossupressoras, tem um tempo menor
de risco, que pode variar de três a seis meses (MUSCARATOLI et al., 2002).
Após estes períodos, não ocorrendo comorbidades e sequelas decorrentes do tratamento e
tomando por base a prática clínica, estes pacientes devem ser encaminhados à rede básica de saúde.
Entretanto, alguns pacientes podem apresentar complicações no pós-TCTH, como diabetes,
dislipidemia e obesidade, decorrentes dos efeitos tardios de drogas como os imunossupressores e
corticoides (GARÓFOLO et al., 2006). Neste caso, e de acordo com o que foi consensuado, esta
população de pacientes deverá ter um acompanhamento nutricional periódico.
O Quadro 12 apresenta as condutas consensuadas para o seguimento ambulatorial de pacientes
adultos submetidos ao TCTH.
45
46
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Quadro 12 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico adulto submetido a
TCTH
Questão
O paciente adulto sem evidência de doença, sem
comorbidade e sem sequelas do tratamento deve ser
acompanhado pelo ambulatório do SND?
O paciente adulto com comorbidades e sem sequelas do tratamento deve ser acompanhado pelo
ambulatório do SND?
O paciente adulto com sequelas decorrentes do
tratamento deve ser acompanhado pelo ambulatório
do SND?
Pós-TCTH
(considerar as três modalidades de TCTH)
- Autólogo/Singênico – até D + 100
- Alogênico – até D +180
Após estes períodos, encaminhar à rede básica de
saúde
Não, após o período de controle da doença, este
paciente deverá ser encaminhado para a rede básica
de saúde
Todos pacientes oncológicos com sequelas do
tratamento e implicações nutricionais devem ser
acompanhados pelo ambulatório do SND
Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto
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49
CAPÍTULO 2
PACIENTE ONCOLÓGICO ADULTO EM
CUIDADOS PALIATIVOS
Capítulo 2 – Paciente Oncológico Adulto em Cuidados Paliativos
INTRODUÇÃO
O conceito de cuidados paliativos foi definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS),
em 2002, como: “... uma modalidade de cuidar que melhora a qualidade de vida de pacientes e suas
famílias diante dos problemas associados às doenças que ameaçam a vida, através da prevenção e
alívio do sofrimento por meio de identificação precoce e avaliação impecável, e tratamento da dor e
de outros sintomas” (CIMINO, 2003).
O câncer em seu estágio mais avançado acarreta ao paciente: dor, sofrimento, estigma, medo,
perda de qualidade de vida e morte iminente. A medicina paliativa estuda o manejo do paciente com
doença ativa, progressiva e avançada, cujo prognóstico é limitado e o foco do cuidado é na qualidade
de vida (QV) (DOYLE et al., 2005). O objetivo do tratamento não é mais a cura e sim o alívio do
sofrimento (WALKER; CAROLINE, 2000).
Para a elaboração deste documento, foi considerado, entre todas as unidades assistenciais
envolvidas, que o paciente com câncer avançado será o que apresentar expectativa de vida de mais
de 6 meses e em estágio terminal da doença, expectativa menor do que 6 meses. Já em paciente ao
fim da vida, a expectativa de vida considerada será a de até 72 horas.
A caquexia do câncer, muito comum nesta fase avançada da doença, é caracterizada,
principalmente, pela perda progressiva de peso e anorexia. Frequentemente os pacientes têm problemas
como: disfagia, odinofagia, digeusia ou hipogeusia, estomatite, náuseas, vômitos, dispneia e outros,
que levam, portanto, à redução do consumo alimentar, já prejudicado anteriormente por problemas
específicos da localização tumoral e de seu tratamento. Neste momento, não há recuperação do estado
nutricional que se estabelece no paciente terminal (ELDRIDGE, 2005; CABRAL; CORREIA, 2006;
ROSENFELD, 2006).
A orientação nutricional é conduzida mediante as queixas apresentadas pelo paciente, visando
ao alívio dos sintomas relacionados à alimentação, através de uma conduta nutricional adequada. Esta
deve ser baseada sempre na via de alimentação (oral ou enteral – cateteres ou ostomias), comorbidades
associadas, intolerâncias alimentares, consistência e volume da dieta, dados estes obtidos através de
uma anamnese alimentar detalhada. As restrições alimentares devem ser feitas somente na presença
de sintomas e se a ingestão não estiver alterada. A antropometria como diagnóstico do estado
nutricional no câncer avançado traz desvantagem se os pacientes apresentarem retenção hídrica e
edema, disfarçando a detecção da perda muscular, que é a que mais contribui para a incapacidade
funcional dos pacientes (CABRAL; CORREIA, 2006).
Desta forma, os aspectos agradáveis da alimentação devem ser enfatizados e os esforços
voltados para fazer disto algo prazeroso e sociável no final da vida, sem a preocupação com o teor,
os nutrientes e a energia (ELDRIDGE, 2005; ROSENFELD, 2006).
2.1 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL
A desnutrição atinge 66,4% dos pacientes com câncer, de acordo com o Inquérito Brasileiro
de Avaliação Nutricional (IBRANUTRI) (WAITZBERG et al., 2006). O grau e a prevalência da
desnutrição estão relacionados, dentre outros fatores, ao estágio do tumor, podendo acometer mais
gravemente os pacientes em cuidados paliativos (MORRISON, 1976).
53
54
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
A avaliação nutricional (AN) precede a indicação da Terapia Nutricional e, em cuidados
paliativos, deve ser realizada, mesmo que com diferentes instrumentos, em cada fase da doença,
tendo como objetivo coletar informações que irão auxiliar no planejamento dietético, devendo estar
voltada para o alívio dos sintomas, bem-estar e conforto do paciente e seu cuidador (HUHMANN;
CUNNINGHAN, 2005; CORRÊA; SHIBUYA, 2007).
Na doença avançada e na doença terminal, recomenda-se a ASG ou ASG-PPP no momento da
internação. Para o acompanhamento, anamnese nutricional compreendendo dados clínicos, dietéticos,
antropométricos (dependendo das condições do paciente e da disponibilidade de equipamentos) e
sinais e sintomas apresentados. Nos cuidados ao final da vida, a avaliação nutricional restringe-se à
anamnese nutricional desde a internação até o acompanhamento, com objetivo maior de identificar e
amenizar sintomatologia.
Todos os dados obtidos através da avaliação nutricional devem ser registrados no prontuário
do paciente, conforme rotina hospitalar.
A assistência em cuidados paliativos deve ser total, ativa, contínua e integral, focando o
controle da dor, conforto físico e emocional, o alívio dos sintomas e do sofrimento em busca da
melhor qualidade de vida (BACHMANN et al., 2003). Qualquer instrumento de AN que possa gerar
desconforto físico ou emocional não deve ser utilizado nesta fase.
O Quadro 13 apresenta as condutas consensuadas para AN em pacientes em cuidados
paliativos.
Capítulo 2 – Paciente Oncológico Adulto em Cuidados Paliativos
Quadro 13 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico adulto em cuidados
paliativos
Questão
A AN deve ser realizada
em pacientes adultos em
cuidados paliativos?
Quais os pacientes
adultos em cuidados
paliativos devem ser
avaliados?
Que instrumentos devo
utilizar para a AN ?
Sim
Sim
Cuidados ao final de
Vida
Sim
Todos
Todos
Todos
- No momento da internação: ASG-PPP ou ASG
- Durante a internação:
anamnese nutricional
compreendendo dados
clínicos e dietéticos
Controle dos sintomas,
acompanhamento da
tolerância à dieta prescrita, da satisfação, do
prazer da alimentação,
da ingestão alimentar e
hídrica e do estado de
hidratação
Anamnese nutricional
compreendendo dados
clínicos e dietéticos
Diariamente e sempre
que for necessário, de
acordo com a evolução
da doença e
aparecimento ou
agravamento dos
sintomas
Diariamente e sempre
que for necessário, de
acordo com a evolução
da doença e aparecimento ou
agravamento dos
sintomas
Todos os dados coletados
devem ser registrados no
prontuário (de acordo
com a rotina hospitalar)
Todos os dados coletados
devem ser registrados
no prontuário (de acordo
com a rotina hospitalar)
Doença Avançada
- No momento da internação: ASG-PPP ou ASG
-Durante a internação:
anamnese nutricional
compreendendo dados
clínicos e dietéticos
ASG ou ASG-PPP
Quais indicadores de
Anamnese alimentar
risco nutricional devo
Peso - atual ou referido,
utilizar?
se recente
Altura - dependendo da
disponibilidade de equipamentos e condições
clínicas e emocionais do
paciente.
Sinais e sintomas
apresentados
Com que frequência
Internação: admissão –
devo avaliar?
ASG
Diariamente: sinais,
sintomas e anamnese
alimentar
A cada 7 a 10 dias: peso
e altura
Ambulatorial: conforme
agendamento ou demanda espontânea
Quais dados da AN devo Todos os dados coletados
registrar?
devem ser registrados
no prontuário (de acordo
com a rotina hospitalar)
Doença Terminal
Controle dos sintomas,
acompanhamento da
tolerância à dieta
prescrita, da satisfação,
do prazer da alimentação, da ingestão alimentar e hídrica e do estado
de hidratação
55
56
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
2.2 NECESSIDADES NUTRICIONAIS
Pacientes com câncer apresentam em geral anorexia e emagrecimento involuntário, levando
ao estado de caquexia. A caquexia tem impacto negativo sobre a expectativa e na qualidade de vida
do paciente com câncer em cuidado paliativo (STRASSER, 2003; WAITZBERG, 2006).
As necessidades nutricionais no câncer podem variar de acordo com o tipo e a localização do
tumor, o grau de estresse e o estágio da doença (ROBERTS; MATTO, 2007). A maioria dos estudos
não descreve em detalhes a quantidade de calorias e de proteínas que são utilizadas para pacientes
em cuidados paliativos. No entanto, alguns estudos relatam a dieta hipercalórica e hiperproteica para
tentar amenizar a velocidade da perda ponderal e oferecer benefícios no cuidado e no tratamento
deste paciente (BOSEAUS et al., 2005; MALTONI et al., 2005; OH, et al., 2007; RAVASCO et al.,
2007; HULTTON et al., 2006).
Pacientes com câncer avançado ou terminal devem receber de 20 a 35 kcal/kg peso atual/dia
e 1,0 a 1,8 g proteína/kg peso atual/dia. O cálculo realizado não garante a ingestão ou administração
de 100% do que foi prescrito. É preciso respeitar a tolerância e a aceitação do paciente. Distúrbios do
trato gastrointestinal são frequentes e atingem 58% dos pacientes com câncer avançado (CHIU et al.,
2002), impedindo o paciente de se alimentar e atingir suas necessidades nutricionais. A quantidade
de calorias e proteínas que deve ser utilizada para o paciente oncológico no fim de vida não é descrita
na literatura, já que a expectativa de vida é de até 72 horas (BOSEAUS et al., 2002; BOSEAUS et
al., 2005; MALTONI et al., 2005; MEYENFELDT et al., 2005, OH et al., 2007). Sendo assim, para
este paciente, as necessidades calóricas e proteicas serão estabelecidas de acordo com sua aceitação
e tolerância para promoção de conforto, prioritariamente.
O método utilizado para estimativa das necessidades calóricas e proteicas será conforme
objetivo do plano dietoterápico (realimentação, desnutrição, obesidade, manutenção de peso, cirurgia
e tratamento paliativo).
A necessidade hídrica depende da sintomatologia apresentada, tolerância e sobrevida do
paciente (EBERHARDIE, 2002). Em geral, no adulto é de 30 a 35 ml/kg de peso/dia e, no idoso, de
25 ml/kg de peso/dia.
A maior parte dos pacientes em cuidados ao final da vida requer quantidades mínimas de
água e alimento para saciar a fome e a sede (MCCANN et al., 1994), sendo a indicação hídrica
basal preconizada de 500 ml/dia a 1.000 ml/dia (OH et al., 2007). Desta forma, a oferta tanto de
líquidos como de nutrientes deve ser restringida de acordo com a tolerância e a sintomatologia deste
paciente.
O Quadro 14 apresenta as condutas consensuadas das recomendações nutricionais para os
pacientes em cuidados paliativos nas três fases da doença.
Capítulo 2 – Paciente Oncológico Adulto em Cuidados Paliativos
Quadro 14 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico adulto em cuidados
paliativos
Cuidados ao Fim da
Vida
Qual método deve ser
-20 Kcal/kg a 35 Kcal/
- 20 Kcal/kg a 35 Kcal/
As necessidades
utilizado para
kg/dia
kg/dia
calóricas para o paciente
estimativa das
- Se necessário, ajustar o - Utilizar o peso teórico oncológico no fim da
necessidades calóricas? peso do paciente (edema, ou usual ou peso mais
vida serão estabeleciobesidade, massa turecente
das de acordo com a
moral)
aceitação e tolerância do
paciente
As necessidades
Quais as recomendações - De 1.0 a 1.8 g ptn / kg /dia - Sempre respeitar a
proteicas para o paciente
proteicas?
- Ajustar a recomendação tolerância e a aceitação
oncológico no fim da
proteica do paciente
do paciente
de acordo com o peso
- Oferecer as necessidades vida serão
estabelecidas de acordo
(edema e massa tumoral) basais de 1g ptn/kg/dia,
e comorbidades (doença podendo oferecer de 1.0 com a aceitação e
tolerância do paciente
renal e hepática)
a 1.8 g ptn /kg /dia
- Utilizar o peso teórico
ou usual ou peso mais
recente
- Ajustar a recomendação
proteica do paciente de
acordo com
comorbidades (doença
renal e hepática)
Quais as recomendações A necessidade hídrica
A necessidade hídrica
A necessidade hídrica
hídricas?
basal é:
basal é:
basal é de no mínimo
- Adulto: de 30 a 35 ml/ - Adulto: de 30 a 35 ml/ 500 a 1.000 ml/dia:
kg/dia
kg/dia
- Adulto: de 30 a 35 ml/
- Idoso: 25 ml/kg/dia
- Idoso: 25 ml/kg/dia
kg/dia
A hidratação deve ser
A hidratação deve ser
- Idoso: 25 ml/kg/dia
administrada de acordo
administrada de acordo
A hidratação deve ser
com a tolerância e a
com a tolerância e a sin- administrada de acordo
sintomatologia do
tomatologia do paciente com a tolerância e a
paciente
sintomatologia do
paciente
Questão
Doença Avançada
Doença Terminal
Fonte: Adaptado de Martins C; Cardoso SP (2000).
2.3 TERAPIA NUTRICIONAL
A indicação de terapia nutricional (TN) em pacientes em cuidados paliativos ainda é
controversa. Nestas condições, seu principal objetivo é evitar desconforto através do controle de
sintomas e promoção de qualidade de vida, garantindo assim uma sobrevida digna (CORRÊA;
SHIBUYA, 2007; BRUERA et al., 2003). Embora grande parte dos pacientes oncológicos em cuidados
paliativos apresente algum comprometimento do estado nutricional, nem sempre a recuperação
através da TN é possível.
57
58
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Pacientes em cuidado ao fim da vida não se beneficiam desta intervenção; entretanto, é
verificado que pacientes em fase avançada e com doença terminal podem se beneficiar desta terapia
(MIRHOSSEIMI et al., 2005). A terapia nutricional enteral (TNE) via oral é a melhor opção, desde
que o trato gastrointestinal (TGI) esteja íntegro e o paciente apresente condições clínicas para utilizála e assim o deseje (RIPAMONTI, 2001). A indicação da TNE via sonda tem tido sucesso em pacientes
com impossibilidade de utilizar a via oral e que apresentam trato gastrointestinal funcionante, por
diversos aspectos como: preservar a integridade intestinal, reduzir a privação nutricional, minimizar
déficits nutricionais, reduzir complicações da desnutrição, controlar sintomas, evitar a desidratação,
oferecer conforto e melhorar a capacidade funcional e a qualidade de vida (BOZZETTI, 2001;
WAITZBERG, 2006). A Terapia Nutricional Parenteral (TNP) pode ser indicada para o paciente em
estágio avançado com impossibilidade total ou parcial do uso do trato gastrointestinal, mas não é uma
via de escolha para pacientes terminais e em cuidados ao fim da vida, já que não oferece benefícios
(CHIU et al., 2002).
Quando indicada, a TN deve ser iniciada em pacientes com risco nutricional ou presença
de desnutrição, devendo estes apresentar: Performance Status (PS) igual ou menor do que 3 e
Karnofsky Performance Status (KPS) igual ou maior do que 30%, pois são bons parâmetros para o
valor prognóstico da doença. É essencial, independente de qualquer conduta dietoterápica, respeitar
a vontade do indivíduo. Assim, antes de indicar a TN é necessário considerar os potenciais riscos e
benefícios e o desejo do paciente e da família (CORREA; SHIBUYA, 2007).
Todos os dados da monitoração da TN serão norteados de acordo com os parâmetros
consensuados pela ASPEN e devem ser registrados em formulários específicos do SND e EMTN
e anexados ao prontuário (ASPEN, 1998; ASPEN, 2002). O desmame da TN ocorrerá quando o
paciente apresentar melhora da ingestão alimentar via oral e será suspensa na vigência de instabilidade
hemodinâmica (WAITZBERG, 2006).
O Quadro 15 apresenta as condutas consensuadas sobre terapia nutricional para os pacientes
em cuidados paliativos nas três fases da doença.
Capítulo 2 – Paciente Oncológico Adulto em Cuidados Paliativos
Quadro 15 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico adulto em cuidados
paliativos
Questão
Doença Avançada
Quais os objetivos da - Evitar privação
TN no paciente adulto? nutricional
- Prevenir ou minimizar
déficits nutricionais
- Reduzir complicações da
desnutrição
- Controlar sintomas/
evitar desidratação
- Confortar emocionalmente/
melhorar a autoestima
- Melhorar capacidade
funcional/ melhorar a
qualidade de vida (QV)
Que critérios devem
Todos os pacientes com
ser utilizados para
risco nutricional e/ou preindicar TN?
sença de desnutrição
Quais as contra
indicações para a TN?
Doença Terminal
- Promover conforto
- Aliviar sintomas e
melhorar a QV do
paciente e seu cuidador
Todos os pacientes com
risco nutricional e/ou
presença de desnutrição,
devendo o paciente
apresentar PS = ou < 3 e
KPS = ou > 30%. Respeitar sempre a vontade
do paciente e do seu
cuidador
TNE via oral: quando
TNE via oral: quando
ingestão calórica for maior não é possível ou
do que 75% das
quando há recusa
recomendações; ↓ nível de TNE via sonda:
consciência; quando
quando há recusa do
promove desconforto;
paciente; quando o KPS
recusa do paciente
é < 30% e o PS é > 3
TNE via sonda: quando
TNP: por não oferecer
ingestão calórica VO for
benefícios no estágio
maior do que 75% das
terminal da doença
recomendações; quando
promove desconforto;
recusa do paciente
TNP: TGI funcionante
Cuidados ao Fim da Vida
- Oferecer cuidado
nutricional de suporte,
promovendo conforto,
alívio dos sintomas e
melhora da QV do
paciente
Não há indicação, porém
deve-se considerar os
consensos entre o
paciente, familiares e
equipe multidisciplinar
Instabilidade
hemodinâmica, em caso
de morte iminente, porém
deve haver sempre um
consenso entre a família e
equipe multidisciplinar
59
60
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Quadro 15 (cont.)
Questão
Quais os critérios de
indicação da via a ser
utilizada?
Doença Avançada
Doença Terminal
TNE: TGI total ou parcial- TNE: TGI total ou
parcialmente
mente funcionante·
funcionante.
•TNE via oral:
•TNE via oral:
os complementos
os complementos
enterais devem ser
enterais devem ser
a primeira opção,
a primeira opção,
quando a ingestão
quando a ingestão
alimentar for < 75%
alimentar for <
das recomendações
75% das recoem até 5 dias, sem exmendações em até
pectativa de melhora
5 dias, sem expecda ingestão·
tativa de melhora
• TNE via sonda:
da ingestão·
impossibilidade de
•TNE via sonda:
utilização da via oral,
impossibilidade de
ingestão alimentar
utilização da via
insuficiente (ingestão
oral, ingestão alioral < 60% das recomentar insuficiente
mendações) em até
(ingestão oral <
5 dias consecutivos,
60% das recosem expectativa de
mendações) em até
melhora da ingestão
5 dias consecutivos,
TNP: impossibilidade total
sem expectativa
ou parcial de uso do TGI
de melhora da ingestão
TNP: não é uma via de
escolha para o paciente
com câncer terminal
Conforme os
Que parâmetros devem Conforme os parâmetros
consensuados por ASPEN parâmetros
ser utilizados para
consensuados por
monitorar a resposta à 1998 e 2002
ASPEN 1998 e 2002
TN?
Considerar: bem-estar
físico e mental do paciente/QV e
satisfação do paciente e
seus cuidadores
Que dados devem ser Todos os dados coletados Todos os dados coletados
da monitorização da TN
registrados da TN?
da monitorização da TN
devem ser registrados em devem ser registrados
em formulário
formulário específico do
SND e EMTN e anexados específico do SND e
EMTN e anexados ao
ao prontuário
prontuário
Na vigência de
Quando suspender a
Na vigência de
instabilidade
TN?
instabilidade
hemodinâmica
hemodinâmica
Ingestão via oral > 70%
Como programar o
TNE: quando a ingestão
desmame?
oral permanecer ≥ 60% do em 3 dias consecutivos
GET por 3 dias consecutivos
TNP: quando possível a
utilização do TGI
Cuidados ao Fim da Vida
Não há indicação, porém
deve-se considerar os
consensos entre o
paciente, familiares e
equipe multidisciplinar
Conforme os parâmetros
consensuados por ASPEN
1998 e 2002
Considerar: bem-estar
físico e mental do
paciente/QV e satisfação
do paciente e seus
cuidadores
Todos os dados coletados
da monitorização da TN
devem ser registrados em
formulário específico do
SND e EMTN e anexados
ao prontuário
Na vigência de
instabilidade
hemodinâmica
Ingestão via oral > 70%
em 3 dias consecutivos
Capítulo 2 – Paciente Oncológico Adulto em Cuidados Paliativos
2.4 SEGUIMENTO AMBULATORIAL
O acompanhamento do paciente em cuidados paliativos no ambulatório requer uma equipe
multiprofissional e interdisciplinar que tenha como objetivos proporcionar conforto emocional, aliviar
sintomas e sofrimento, manter e preservar a alimentação e a hidratação e promover qualidade de vida
(BACHMAN et al., 2003; SARHILL et al., 2003; SILVA; HORTALE, 2006; BECCARO et al.,
2007; CORREA; SHIBUYA, 2007). O atendimento telefônico e domiciliar deve ser disponibilizado,
caso o paciente não tenha condições de ir ao consultório.
O acompanhamento do paciente com câncer avançado deve ser realizado conforme necessidade
individual, não devendo ultrapassar 30 dias, sendo este período diferenciado para o paciente terminal,
o qual não deverá ultrapassar 15 dias, já que este paciente tem menor expectativa de vida.
O Quadro 16 apresenta as condutas consensuadas para o seguimento ambulatorial nutricional
de pacientes oncológicos adultos em cuidados paliativos.
Quadro 16 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial nutricional para paciente oncológico adulto
em cuidados paliativos
Questão
Doença Avançada
Como deve ser o
- Oferecer atendimento
acompanhamento da individualizado, através de
nutrição?
uma equipe
interdisciplinar treinada
em CP e com foco na QV
- Proporcionar conforto
emocional, aliviar sintomas
e sofrimento
- Promover alimentação e
hidratação adequadas
- Disponibilizar
atendimento telefônico e
domiciliar
- Fornecer de insumos para
hidratação e dieta enteral
Doença Terminal
- Proporcionar conforto
emocional, aliviar
sintomas
- Promover prazer
- Manter e preservar a
alimentação e a
hidratação
- Promover qualidade de
vida
Cuidados ao Fim da Vida
- Oferecer atendimento
individualizado, através de
uma equipe interdisciplinar treinada em CP e com
foco na QV
- Proporcionar conforto
emocional, aliviar sintomas
e sofrimento
- Promover alimentação e
hidratação adequadas
- Disponibilizar
atendimento telefônico e
domiciliar
- Manter o fornecimento
de insumos para hidratação
e dieta enteral
61
62
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Quadro 16 (cont.)
Questão
Com que frequência
esse paciente deve
ser acompanhado
pela nutrição?
Doença Avançada
- Ambulatório: conforme
necessidade individual,
não ultrapassando o
período de 30 dias, podendo ser realizado através do
cuidador, caso o paciente
não possa comparecer
- Visita domiciliar:
conforme necessidade
individual, não
ultrapassando o período de
20 dias
Quais são os dados que devem ser
registrados durante o
acompanhamento da
nutrição?
- Anamnese alimentar:
hábitos alimentares,
apetite, ingestão alimentar
e hídrica (tipo, frequência
e quantidade consumida),
aversão/intolerância,
preferências
- Peso atual e altura (se
aferidos)
- Sinais e sintomas
apresentados: anorexia,
disgeusia, náuseas, vômitos,
diarreia, constipação,
odinofagia, disfagia,
dispepsia, dor, infecção,
xerostomia, desidratação,
queda do nível de
consciência, edema, ascite,
dispneia e depressão,
comorbidades, alterações
de exames laboratoriais,
PS ou KPS
Doença Terminal
A frequência do
acompanhamento da
nutrição ao paciente
terminal deve ser
quinzenal, junto com a
equipe multiprofissional
em visita domiciliar. Para
os pacientes
acompanhados no
ambulatório, deve ser
conforme necessidade
individual, não
ultrapassando o período
de 20 dias, podendo ser
acompanhamento
ambulatorial através do
cuidador, em caso do
paciente não poder
comparecer
Todos os dados coletados
na avaliação nutricional
do paciente, nas diferentes
fases do cuidado
paliativo, devem ser
registrados no prontuário
e/ou formulário próprio
do serviço
Cuidados ao Fim da Vida
Visita domiciliar:
conforme necessidade
individual
- Anamnese alimentar:
apetite, aceitação
alimentar, preferências
(tipo, frequência,
quantidade e consistência)
e aversão/intolerância
- Sinais e sintomas
apresentados (anorexia,
disgeusia, náuseas,
vômitos, diarreia,
constipação, odinofagia,
disfagia, dispepsia, dor,
xerostomia, queda do nível
de consciência, dispneia e
depressão)
Capítulo 2 – Paciente Oncológico Adulto em Cuidados Paliativos
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CAPÍTULO 3
PACIENTE ONCOLÓGICO PEDIÁTRICO
Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico
INTRODUÇÃO
O câncer infanto-juvenil no Brasil é considerado raro, representando de 2% a 3% de todos os
tumores malignos. A estimativa para o biênio 2008/09 é de 9.890 casos por ano. Entretanto, dados de
2005 apontam o câncer como segunda causa de morte em crianças e adolescentes, representando 8%
de todas as causas de morte. Considerando que as causas externas (acidentes e violência) representam
a primeira causa de morte em crianças e adolescentes, o câncer passa a ser a primeira causa de morte
por doença (BRASIL, 2008).
O câncer infanto-juvenil se apresenta de forma bem diferente daquele que acomete os adultos
(etiologia, histologia, evolução e resposta ao tratamento), tornando a prevenção e o diagnóstico precoce
mais difícil. O tratamento, que é a principal estratégia contra o câncer em pacientes pediátricos, deve
ser realizado por equipe multiprofissional em instituições especializadas, garantindo maior sobrevida
com o mínimo de efeitos colaterais (BRASIL, 2008).
Observa-se que pacientes oncológicos pediátricos apresentam elevada incidência de desnutrição
ao diagnóstico ou após o início do tratamento. Esta pode ser causada por inúmeros fatores e interfere na
sobrevida e na resposta do paciente ao tratamento (FEARON, 2001; PINHO et al., 2004).
A presença do tumor ou o tratamento antineoplásico pode causar complicações gastrointestinais
com graves consequências para o estado nutricional do paciente (MAHAN: ESCOTT-STUMP, 1998;
ANDERS, 2000; PINHO et al., 2004). O estresse da internação e a separação da família são outros
fatores que podem levar o paciente pediátrico ao risco nutricional (PINHO et al., 2004).
A intervenção e o acompanhamento nutricional têm como objetivo promover o crescimento
e o desenvolvimento normal da criança, melhorar a resposta imunológica, aumentar a tolerância do
paciente ao tratamento e melhorar a sua qualidade de vida (D’ANGIO et al., 1998; PINHO et al.,
2004; KENT-SMITH e MARTINS, 2006). A intervenção nutricional é importante em qualquer etapa
do tratamento, porém é mais eficaz quando iniciada ao diagnóstico (RAVASCO et al., 2003; PINHO
et al., 2004).
A atuação do nutricionista é ampla e deve estar presente em todas as fases do tratamento
curativo e paliativo do paciente oncológico pediátrico, incluindo avaliação nutricional (AN), cálculo
das necessidades nutricionais, instituição da terapia nutricional (TN) e acompanhamento ambulatorial.
Devido ao crescimento contínuo da criança, a AN periódica permite que os problemas sejam detectados
e tratados precocemente (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 1998). As necessidades energética, proteica
e hídrica para crianças variam de acordo com a faixa etária (GARÓFOLO, 2005). A TN adequada
minimiza os efeitos debilitantes da doença (D’ANGIO et al., 1998; PINHO et al., 2004) e aumenta a
ingestão oral, promovendo melhora do estado nutricional (RAVASCO et al., 2003).
O acompanhamento nutricional, através de consultas subsequentes, nos permite reavaliar a
eficácia da terapia nutricional e fazer os ajustes e as modificações pertinentes. A orientação nutricional
individual é mais uma ferramenta utilizada pelo nutricionista para adaptar a dieta à aceitação do
paciente e às suas necessidades de calorias e proteínas (PINHO et al., 2004).
O acompanhamento do paciente pediátrico em cuidados paliativos deve ser individualizado e
realizado por equipe interdisciplinar especializada, com o objetivo de aliviar os sintomas e promover
o prazer e a qualidade de vida (CORRÊA; SHIBUYA, 2007).
Neste capítulo apresentamos a abordagem nutricional para pacientes oncológicos pediátricos
em todas as fases do seu tratamento.
67
68
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
3.1 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE PEDIÁTRICO CIRÚRGICO (PRÉ E PÓSOPERATÓRIO)
3.1.1 Avaliação Nutricional
Mesmo com os avanços dos métodos terapêuticos sistêmicos, a cirurgia é parte fundamental do
tratamento de pacientes oncológicos (LOPES; AGUIAR, 2005). A principal etapa deste acompanhamento
é a avaliação nutricional (AN), que é realizada conforme as condições clínicas do paciente (SALA
et al., 2004). Alterações nutricionais são fatores determinantes no desenvolvimento de complicações
pós-operatórias (WARD, 2003). Os tumores sólidos, nos quais normalmente existe a necessidade de
cirurgia, estão relacionados ao maior risco de desnutrição (GARÓFOLO; PETRILLI, 2002).
A AN pré-operatória visa corrigir ou amenizar possíveis carências nutricionais, a fim de evitar
ou diminuir as complicações após a cirurgia, principalmente as complicações infecciosas (LADAS
et al., 2006). No período pré-operatório, é importante identificar a presença de desnutrição ou risco
nutricional, iniciando assim um suporte nutricional adequado e precoce. A AN deve ser realizada no
momento da abertura do prontuário ou em um período de no máximo 48 horas após a internação.
Em situações em que o paciente está incapacitado de deambular devido à cirurgia ou existência
de alterações ponderais por causa de massa tumoral ou edema, podem ser utilizados, em substituição
ao peso e altura, dados como a medida das dobras cutâneas ou circunferências corporais (NEUMANN
et al., 1982; GARÓFOLO et al., 2006).
Depois do procedimento cirúrgico, a AN deve ser realizada logo após o reinício da alimentação
do paciente, respeitando as condições clínicas impostas. A monitorização nutricional e metabólica
sequencial torna-se fundamental na detecção precoce de desnutrição e na avaliação da adequação da
terapia nutricional (DELGADO et al., 2000).
A AN deve incluir dados antropométricos, clínicos e bioquímicos, recordatórios e inquéritos
alimentares e dados subjetivos (BARNESS, 1992; DELGADO et al., 2000). Quanto mais completa
a avaliação nutricional, melhores serão as chances de diagnóstico correto do estado nutricional.
O Quadro 17 apresenta as condutas consensuadas para avaliação nutricional para paciente
oncológico pediátrico cirúrgico.
Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico
Quadro 17 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico pediátrico cirúrgico
Pré-cirúrgico
Anamnese nutricional: dados clínicos
e dietéticos
Antropometria: peso, estatura, IMC,
P/E, P/I, E/I, percentual de perda de
peso, CB, CMB, dobra cutânea
triciptal (> de 2 anos), perímetro cefálico e torácico (< 2 anos) e exame físico.
Classificar os dados obtidos (IMC, P/E,
P/I, E/I) através das curvas da OMS
(2007). Utilizar como índice de
referência o Escore Z ou o percentil
para: P/I, P/E e E/I
Avaliação laboratorial: hematócrito,
bioquímica (albumina, cálcio, creatinina,
uréia, glicose, sódio e potássio)
Utilizar como indicadores de risco
nutricional: P/I, E/I e P/E entre o – 1DP
e – 2DP na classificação por Escore Z e
entre o P10 e o P3 na classificação por
percentil; Albumina sérica < 3,2 g/dl;
Consumo alimentar < 70% das
necessidades por 3 a 5 dias consecutivos, independente do déficit antropométrico
Pós-cirúrgico
Anamnese nutricional: dados clínicos
e dietéticos
Antropometria: peso, estatura, IMC,
P/E, P/I, E/I, percentual de perda de
peso, CB, CMB, dobra cutânea
triciptal (> de 2 anos), perímetro cefálico e torácico (< 2 anos) e exame físico.
Classificar os dados obtidos (IMC, P/E,
P/I, E/I) através das curvas da OMS
(2007). Utilizar como índice de
referência o Escore Z ou o percentil
para: P/I, P/E e E/I
Avaliação laboratorial: bioquímica
(glicose, uréia, creatinina, sódio e potássio)
Perda de peso recente > 5% do peso
antes da doença, sintomas do TGI
Com que frequência Na abertura de prontuário:
•Crianças eutróficas sem risco
devo avaliar?
nutricional: reavaliar no máximo
em 30 dias
•Crianças com risco nutricional ou
qualquer grau de desnutrição:
reavaliar no máximo em 15 dias
Na internação: até 48 horas após,
podendo variar conforme a situação
clínica e nutricional da criança
•Crianças eutróficas sem risco nutricional: na admissão e reavaliar no
máximo em 15 dias
•Crianças com risco nutricional ou
qualquer grau de desnutrição: na
admissão e reavaliar no máximo
em 7 dias
Todas as crianças antes do tratamento
Quais os pacientes
pediátricos oncológi- cirúrgico devem passar pela avaliação
cos devem ser avali- nutricional rotineira, com o objetivo de
acompanhar o crescimento e
ados ?
desenvolvimento e corrigir possíveis
déficits nutricionais
Que dados da AN
Todos os dados decorrentes da anamnese
devo registrar?
nutricional: dados clínicos e dietéticos
Perda de peso recente > 5% do peso
antes da doença, sintomas do TGI
Avaliar tão logo ocorra o reinício da
alimentação, conforme risco nutricional
ou desnutrição detectada na triagem
Até 48 horas, podendo variar conforme
a situação clínica e nutricional da
criança:
•Crianças eutróficas sem risco
nutricional: reavaliar no máximo
em 15 dias
•Crianças com risco nutricional ou
qualquer grau de desnutrição: reavaliar no máximo em 7 dias
Questão
Que instrumentos
devo utilizar para a
AN?
Que indicadores de
risco nutricional
devo utilizar?
Utilizar como indicadores de risco
nutricional: P/I, E/I e P/E entre o – 1DP
e – 2DP na classificação por Escore Z e
entre o P10 e o P3 na classificação por
percentil; Albumina sérica < 3,2 g/dl
(do pré-operatório); Consumo alimentar
< 70% das necessidades por 3 a 5 dias
consecutivos, independente do déficit
antropométrico
Todas as crianças depois do tratamento
cirúrgico devem passar pela avaliação
nutricional rotineira, com o objetivo de
acompanhar o crescimento e
desenvolvimento e corrigir possíveis
déficits nutricionais
Todos os dados decorrentes da anamnese
nutricional: dados clínicos e dietéticos
69
70
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
3.1.2 Necessidades Nutricionais
As necessidades nutricionais do paciente cirúrgico variam de acordo com o estado nutricional
no momento pré ou pós-cirúrgico e as dimensões do procedimento, além de fatores já conhecidos
como idade, sexo, presença de risco nutricional e outros (DELGADO et al., 2000). As situações
críticas devem receber cuidado especial em razão do efeito deletério que pode vir a ocorrer no
tratamento em geral.
Para estimar as necessidades nutricionais, foi consensuado o uso das equações da Dietary
Reference Intake (DRI) e a fórmula de Holliday and Segar (1957).
O acompanhamento através de controle de ingestão alimentar deve ser realizado para
verificar se as necessidades nutricionais estão sendo atingidas. A escolha de uma dieta adequada e seu
monitoramento é imprescindível, para se evitar a superalimentação e suas conseqüências indesejáveis
(FALCÃO; TANNURI, 2002).
O metabolismo proteico se encontra alterado em pacientes com câncer (ANDRASSY;
CHAWLS, 1998). Pacientes submetidos a cirurgias de grande porte podem necessitar de aumento
da oferta proteica para auxiliar na cicatrização (DELGADO et al., 2000). Porém, é necessário
acompanhamento da prescrição proteica para evitar oferta além do recomendado. A ingestão excessiva
de proteína pode vir a causar sobrecarga renal.
O Quadro 18 apresenta as condutas consensuadas sobre as recomendações nutricionais para
o paciente oncológico pediátrico cirúrgico.
Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico
Quadro 18 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico pediátrico cirúrgico
Questão
Qual método deve
ser utilizado para
estimativa das
necessidades
calóricas?
Quais as
recomendações
proteicas?
Pré-cirúrgico
1) Dietary Reference Intake 2006 (DRIs)
0-3 meses: (89 x peso (kg) -100) +175
4-6 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 56
7-12 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 22
13 -35 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 20
Meninos
3-8 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x
(26,7 x peso + 903 x altura) + 20
9-18 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x
(26,7 x peso + 903 x altura) + 25
Meninas
3-8 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10
x peso + 934 x altura) + 20
9-18 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x
(10 x peso + 934 x altura) + 25
Fator Atividade (FA):
1 = atividades do dia a dia
♀ = 1,16; ♂ = 1,13 – atividades do dia a dia
+ 30 a 60 minutos de atividade moderada
♀ = 1,31; ♂ = 1,26 – atividades do dia a
dia + 60 minutos de atividade moderada
Crianças com baixo peso utilizar P/E
percentil 50 e escore Z= 0
Crianças eutróficas utilizar peso atual
Crianças com sobrepeso ou obesas utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2
Este ajuste em relação ao peso atual não
deve ultrapassar 20%
Pós-cirúrgico
1) Dietary Reference Intake 2006 (DRIs)
0-3 meses: (89 x peso (kg) -100) + 175
4-6 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 56
7-12 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 22
13-35 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 20
Meninos
3-8 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x (26,7 x
peso + 903 x altura) + 20
9-18 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x (26,7
x peso + 903 x altura) + 25
Meninas
3-8 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x
peso + 934 x altura) + 20
9-18 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x
peso + 934 x altura) + 25
Fator Atividade (FA):
1 = atividades do dia a dia
♀ = 1,16; ♂ = 1,13 – atividades do dia a dia
+ 30 a 60 minutos de atividade moderada
♀ = 1,31; ♂ = 1,26 – atividades do dia a
dia + 60 minutos de atividade moderada
Crianças com baixo peso utilizar P/E
percentil 50 e escore Z= 0
Crianças eutróficas utilizar peso atual
Crianças com sobrepeso ou obesas
utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2
Este ajuste em relação ao peso atual não
deve ultrapassar 20%
2) HOLLIDAY AND SEGAR, 1957
Crianças de 0 a 10 kg – 100 Kcal/kg
Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 Kcal +
50 Kcal/kg para cada kg acima de 10 kg
Crianças com mais de 20 kg – 1.500 Kcal
+ 20 Kcal/kg para cada kg acima de 20 kg
Faixa etária e necessidades
Neonatos até 2 anos – 2,5 a 3,0 g/kg/dia
Crianças (2 a 11 anos) – 2,0 g/kg/dia
Adolescentes (acima de 12 anos) – 1,5 a
2,0 g/kg/dia
2) HOLLIDAY AND SEGAR, 1957
Crianças de 0 a 10 kg – 100 Kcal/kg
Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 Kcal + 50
Kcal/kg para cada kg acima de 10 kg
Crianças com mais de 20 kg – 1.500 Kcal
+ 20 Kcal/kg para cada kg acima de 20 kg
Faixa etária e necessidades
Neonatos até 2 anos – 2,5 a 3,0 g/kg/dia
Crianças (2 a 11 anos) – 2,0 g/kg/dia
Adolescentes (acima de 12 anos) – 1,5 a
2,0 g/kg/dia
Em casos de perda de peso e desnutrição
sugere-se um incremento de 15% a 50%
das recomendações de proteína
Crianças com baixo peso utilizar P/E
percentil 50 e escore Z= 0
Crianças eutróficas utilizar peso atual
Crianças com sobrepeso ou obesas utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2
Este ajuste em relação ao peso atual não
deve ultrapassar 20%
Em casos de perda de peso e desnutrição
sugere-se um incremento de 15% a 50%
das recomendações de proteína
Crianças com baixo peso utilizar P/E
percentil 50 e escore Z= 0
Crianças eutróficas utilizar peso atual
Crianças com sobrepeso ou obesas
utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2
Este ajuste em relação ao peso atual não
deve ultrapassar 20%
71
72
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Quadro 18 (cont.)
Questão
Quais as
recomendações
hídricas?
Pré-cirúrgico
Peso e necessidades
Crianças de 1,5 a 3 kg – 110 a 130 ml/kg
Crianças de 3 a 10 kg – 100 ml/kg
Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 ml
+ 50 ml/kg para cada kg acima de 10 kg
Crianças com mais de 20 kg – 1.500 ml
+ 20 ml/kg para cada kg acima de 20 kg
Pós-cirúrgico
Peso e necessidades
Crianças de 1,5 a 3 kg – 110 a 130 ml/kg
Crianças de 3 a 10 kg – 100 ml/kg
Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 ml
+ 50 ml/kg para cada kg acima de 10 kg
Crianças com mais de 20 kg – 1.500 ml
+ 20 ml/kg para cada kg acima de 20 kg
Acrescentar perdas dinâmicas e descontar retenções hídricas
Acrescentar perdas dinâmicas e
descontar retenções hídricas
Fonte: ASPEN, 2002.
Fonte: adaptado ASPEN, 2002.
3.1.3 Terapia Nutricional
A terapia nutricional (TN) deve ser instituída em todos os pacientes desnutridos ou que
apresentem risco nutricional com o objetivo principal de restaurar a composição corporal em relação
à massa magra metabolicamente ativa, proporcionando aporte adequado de nutrientes para manter as
funções vitais e a homeostase (DELGADO et al., 2000; GARÓFOLO, 2005).
No momento pré-operatório, a TN irá proporcionar ao paciente um suporte a fim de
restabelecer seu estado nutricional, devendo ser iniciada no momento da internação, em condições
hemodinâmicas estáveis. No período pós-cirúrgico a alimentação dos pacientes que não apresentam
limitação no trato gastrointestinal deve ser reiniciada o mais precocemente, se possível em até 48
horas, para evitar déficits nutricionais (GARÓFOLO, 2005).
A via de administração da dieta deve respeitar as limitações clínicas do paciente. A terapia
nutricional enteral (TNE) via oral deve ser sempre a primeira opção, por ser mais fisiológica, podendo
ser utilizados suplementos orais artesanais ou industrializados. Não sendo possível a utilização da
via oral ou se a ingestão alimentar for insuficiente (menor do que 60% das recomendações em até 5
dias), a TNE via sonda é a indicada, porém é necessário que o trato gastrointestinal esteja total ou
parcialmente funcionante. Quando não houver a possibilidade do uso do trato gastrointestinal ou este
necessitar de repouso, a terapia nutricional parenteral é indicada (ANDRASSY; CHWALS, 1998;
GARÓFOLO; PETRILLI, 2002).
A monitorização da terapia nutricional deve ser individualizada e baseada nos parâmetros
recomendados pela American Society Parenteral and Enteral Nutrition (ASPEN, 1998; ASPEN,
2002). Deve-se registrar em prontuário os dados referentes à terapia nutricional para melhor
atendimento do paciente pela equipe multidisciplinar.
O Quadro 19 apresenta as condutas consensuadas para terapia nutricional no paciente
oncológico pediátrico cirúrgico.
Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico
Quadro 19 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico pediátrico cirúrgico
Questão
Quais os objetivos
da TN no paciente
pediátrico?
Que critérios devem ser utilizados
para indicar TN?
Quando indicada,
a TN deve ser
iniciada em que
momento?
Pré-cirúrgico
- Oferecer condições favoráveis para o
estabelecimento do plano terapêutico
- Tentar prevenir ou minimizar os efeitos
da caquexia
- Oferecer energia, fluídos e nutrientes
em quantidades adequadas para manter
as funções vitais e a homeostase
- Recuperar a atividade do sistema imune
- Garantir as ofertas proteica e energética
adequadas para minimizar o catabolismo
proteico e a perda nitrogenada para reduzir a taxa de morbidade e evitar que os
pacientes sejam operados com balanço
nitrogenado negativo
Todos os pacientes com risco nutricional
e/ou presença de desnutrição
Imediatamente após diagnóstico de risco
nutricional ou de desnutrição, para
pacientes ambulatoriais ou internados,
desde que estejam hemodinâmicamente
estáveis por um período mínimo de 7 dias
Quais os critérios
TNE: TGI total ou parcialmente funciode indicação da via nante
a ser utilizada?
• TNE via oral: os complementos
enterais devem ser a primeira opção,
quando a ingestão alimentar for <
75% das recomendações em até 5
dias, sem expectativa de melhora da
ingestão
• TNE via sonda: na impossibilidade
de utilização da via oral, ingestão
alimentar insuficiente (ingestão oral
< 60% das recomendações) em até
5 dias consecutivos, sem expectativa
de melhora da ingestão
TNP: impossibilidade total ou parcial de
uso do TGI
Que parâmetros
Conforme os parâmetros consensuados
devem ser utilizados por ASPEN 1998 e 2002
para monitorar a
resposta à TN?
Que dados da TN
Todos os dados coletados da
devem ser
monitorização da TN devem ser
registrados?
registrados em formulário específico
do SND e EMTN, que será anexado ao
prontuário
Quando suspender Na vigência de instabilidade
a TN?
hemodinâmica
Como programar o Quando a ingestão oral permanecer
desmame?
≥ 30% do VET calculado por 2-3 dias
Pós-cirúrgico
- Oferecer condições favoráveis para o estabelecimento do plano terapêutico
- Tentar prevenir ou minimizar os efeitos da
caquexia
- Oferecer energia, fluídos e nutrientes em
quantidades adequadas para manter as funções vitais e a homeostase
- Recuperar a atividade do sistema imune
- Garantir as ofertas proteica e energética
adequadas para minimizar o catabolismo
proteico e a perda nitrogenada para reduzir a
taxa de morbidade
Todos os pacientes com risco
nutricional e/ou presença de desnutrição
Deve ser preferencialmente enteral,
iniciada em até 48 horas após a cirurgia.
O início fica condicionado a alguns
sinais como resíduo gástrico e
recuperação da analgesia
TNE: TGI total ou parcialmente
funcionante
• TNE via oral: os complementos
enterais devem ser a primeira
opção, quando a ingestão alimentar
for < 75% das recomendações em
até 5 dias, sem expectativa de
melhora da ingestão
• TNE via sonda: impossibilidade de
utilização da via oral, ingestão
alimentar insuficiente (ingestão oral
< 60% das recomendações) em até 5
dias consecutivos, sem expectativa de
melhora da ingestão
TNP: impossibilidade total ou parcial de
uso do TGI
Conforme os parâmetros consensuados
por ASPEN 1998 e 2002
Todos os dados coletados da
monitorização da TN devem ser
registrados em formulário específico
do SND e EMTN, que será anexado ao
prontuário
Na vigência de instabilidade
hemodinâmica
Quando a ingestão oral permanecer
≥ 30% do VET calculado por 2-3 dias
73
74
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
3.1.4 Seguimento Ambulatorial
Os pacientes oncológicos pediátricos submetidos a procedimentos cirúrgicos invasivos devem
ter acompanhamento nutricional tanto no período pré como no pós-operatório. Estudos da década de 1980 já demonstravam uma relação estreita entre perda de peso préoperatória e aumento de morbimortalidade pós-operatória (SMITH; HARTEMINK, 1988). A quebra
da barreira cutâneo-mucosa pelas incisões e manipulações cirúrgicas e a exposição aos microorganismos são inevitáveis. Portanto, a existência de mecanismos de defesa imunológica funcionantes
é essencial para assegurar a prevenção das complicações sépticas (CAMPOS, 1993). Por isso, assim
que estiver definido qualquer plano cirúrgico, é fundamental encaminhar o paciente pediátrico à
consulta de nutrição, iniciando o mais precocemente o suporte nutricional pré-operatório.
Apesar do avanço das técnicas e procedimentos cirúrgicos, ainda existe a possibilidade do
surgimento de comorbidades no período pós-operatório. Entre elas, as mais frequentes são as fístulas
digestivas, as complicações infecciosas e o diabetes secundário, justificando a permanência deste
paciente sob os cuidados da equipe de nutrição, no ambulatório, até a resolução da comorbidade,
conforme consensuado no quadro abaixo. Após o controle da comorbidade, sugere-se que este
paciente seja encaminhado à unidade de saúde mais próxima de sua residência.
O seguimento nutricional ambulatorial se faz necessário de maneira contínua, para pacientes
que ficaram com sequelas provenientes do tratamento, antineoplásico ou cirúrgico, que levem a
implicações nutricionais. Nestes casos o paciente fica vinculado à equipe e ao Serviço até o controle
total da sequela, pois na maioria delas existe a necessidade do acompanhamento dietoterápico
específico.
O Quadro 20 apresenta as condutas consensuadas para o seguimento ambulatorial do paciente
oncológico pediátrico cirúrgico.
Quadro 20 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico pediátrico cirúrgico
Pós-Cirúrgico Exclusivo
Não. Os pacientes sem evidência de doença e sem
comorbidades devem ser encaminhados para a
unidade de saúde mais próxima de sua residência
Sim, até o controle da comorbidade. Depois, estes
pacientes são encaminhados para acompanhamento
do seu estado nutricional na unidade de saúde mais
próxima de sua residência
O paciente pediátrico sem evidência de doença, com Todos os pacientes oncológicos com sequelas do
sequelas decorrentes do tratamento, deve ser acom- tratamento e com implicações nutricionais devem
panhado pelo ambulatório do SND?
ser acompanhados pelo ambulatório do SND
Questão
O paciente pediátrico sem evidência de doença
oncológica e sem comorbidade deve ser
acompanhado pelo ambulatório do SND?
O paciente pediátrico sem evidência de doença, com
comorbidades, deve ser acompanhado pelo ambulatório do SND?
Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico
3.2 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE CLÍNICO (QUIMIOTERAPIA E RADIOTERAPIA)
3.2.1 Avaliação Nutricional
A avaliação nutricional (AN) é componente essencial da avaliação inicial em crianças
submetidas à terapia antineoplásica, pois permite a identificação do estado nutricional (TAZI et al.,
2008). Os efeitos adversos causados pela quimioterapia e radioterapia incluem náuseas, vômitos,
mucosites, anorexia, entre outros (CZAJKA-NARINS, 1989). A desnutrição energético-proteica (DEP)
comumente encontrada pode ser causada tanto pela doença como pelo tratamento. A determinação
precoce do grau de desnutrição ou de risco nutricional permite estabelecer medidas de intervenção
nutricional contribuindo para melhor qualidade de vida e sobrevida das crianças durante o tratamento
do câncer (SIGULEM et al., 2000).
Em crianças com câncer, o peso e a estatura são instrumentos antropométricos muito utilizados
no diagnóstico do estado nutricional (EN). Outros parâmetros como medidas de pregas cutâneas
triciptal, circunferência muscular do braço, avaliação de dados laboratoriais, clínicos e dietéticos
também contribuem para auxiliar no diagnóstico nutricional em oncologia na infância (ALMEIDA et
al., 1999; KENT-SMITH; MARTINS, 2004).
A AN deve ser realizada em todas as crianças até 48 horas após a internação para tratamento
clínico, com o objetivo de detectar os possíveis déficits nutricionais e otimizar a intervenção nutricional.
Considerando que o tratamento pode induzir tanto ao ganho ponderal de massa gorda como à perda de
reservas musculares, a frequência das avaliações nutricionais não deve exceder a 15 dias para crianças
eutróficas e a 7 dias para crianças desnutridas ou em risco nutricional durante a internação.
Para classificação do diagnóstico nutricional, os dados antropométricos de peso para idade,
peso para estatura e estatura para idade expressa em percentil ou escore Z, a perda de peso recente, o
consumo alimentar inadequado e os sintomas gastrointestinais são instrumentos fundamentais para a
classificação do estado nutricional e o acompanhamento destes indivíduos pediátricos.
No tratamento oncológico pediátrico, devido à necessidade da integralidade da assistência
em qualquer faixa etária, a atenção multiprofissional é primordial. Sendo assim, os dados obtidos
na avaliação global devem estar registrados de maneira clara e precisa para acesso de todas as áreas
envolvidas no cuidado ao paciente (DAVIES, 2005).
O Quadro 21 apresenta as condutas consensuadas para avaliação nutricional de pacientes
oncológicos pediátricos submetidos à quimioterapia e radioterapia.
75
76
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Quadro 21 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico pediátrico em tratamento
clínico
Questão
Que instrumentos
devo utilizar para a
AN?
Que indicadores de
risco nutricional
devo utilizar?
Com que frequência devo avaliar?
Quais os pacientes
pediátricos oncológicos devem
ser avaliados?
Que dados da AN
devo registrar?
Quimioterapia
Anamnese nutricional: dados clínicos e
dietéticos
Antropometria: peso, estatura, IMC,
P/E, P/I, E/I, percentual de perda de peso,
CB, CMB, prega cutânea triciptal (> de 2
anos), perímetro cefálico e torácico (< 2
anos) e exame físico. Classificar os dados
obtidos (IMC, P/E, P/I, E/I) através das
curvas da OMS (2007). Utilizar como
índice de referência o Escore Z ou o
percentil para: P/I, P/E e E/I
Avaliação laboratorial (pré): hematócrito,
bioquímica (albumina, cálcio, creatinina,
ureia, glicose, sódio, potássio)
Avaliação laboratorial (pós): bioquímica
(glicose, ureia, creatinina, sódio, potássio)
- Utilizar como indicadores de risco
nutricional: P/I, E/I e P/E entre o – 1DP
e – 2DP na classificação por Escore Z e
entre o P10 e o P3 na classificação por
percentil
- Dados bioquímicos
- Consumo alimentar < 70% das
necessidades por 3 a 5 dias consecutivos,
independente do déficit antropométrico
- Perda de peso recente > 5% do peso
antes da doença, sintomas do TGI
- Obesidade e sobrepeso
Ambulatório:
• Crianças eutróficas sem risco
nutricional: reavaliar no máximo
em 30 dias
• Crianças com risco nutricional
ou qualquer grau de desnutrição:
reavaliar no máximo em 15 dias
Na internação: até 48 horas após, podendo
variar conforme a situação clínica e
nutricional da criança:
• Crianças eutróficas sem risco
nutricional: na admissão e reavaliar
no máximo em 15 dias
• Crianças com risco nutricional ou
qualquer grau de desnutrição: na
admissão e reavaliar no máximo em
7 dias
Todas as crianças antes, durante e depois
da quimioterapia devem passar pela
avaliação nutricional rotineira, com o
objetivo de acompanhar o crescimento e
o desenvolvimento e corrigir possíveis
déficits nutricionais
Registrar todos os dados da anamnese
nutricional: dados clínicos e dietéticos
Radioterapia
Anamnese nutricional: dados clínicos e
dietéticos
Antropometria: peso, estatura, IMC, P/E,
P/I, E/I, percentual de perda de peso, CB,
CMB, prega cutânea triciptal (> de 2 anos),
perímetro cefálico e torácico (< 2 anos) e
exame físico. Classificar os dados obtidos
(IMC, P/E, P/I, E/I) através das curvas
da OMS (2007). Utilizar como índice de
referência o Escore Z ou o percentil para:
P/I, P/E e E/I
Avaliação laboratorial (pré): hematócrito,
bioquímica (albumina, cálcio, creatinina,
ureia, glicose, sódio, potássio)
Avaliação laboratorial (pós): bioquímica
(glicose, ureia, creatinina, sódio, potássio)
- Utilizar como indicadores de risco
nutricional: P/I, E/I e P/E entre o – 1DP
e – 2DP na classificação por Escore Z e
entre o P10 e o P3 na classificação por
percentil
- Dados bioquímicos
- Consumo alimentar < 70% das
necessidades por 3 a 5 dias consecutivos,
independente do déficit antropométrico
- Perda de peso recente > 5% do peso
antes da doença, sintomas do TGI.
Obesidade e sobrepeso
Ambulatório:
• Crianças eutróficas sem risco
nutricional: reavaliar no máximo
em 30 dias
• Crianças com risco nutricional ou
qualquer grau de desnutrição:
reavaliar no máximo em 15 dias
Na internação: até 48 horas após, podendo
variar conforme a situação clínica e
nutricional da criança
• Crianças eutróficas sem risco
nutricional: na admissão e reavaliar
no máximo em 15 dias
• Crianças com risco nutricional ou
qualquer grau de desnutrição: na
admissão e reavaliar no máximo em
7 dias
Todas as crianças antes, durante e depois
da radioterapia devem passar pela
avaliação nutricional rotineira, com o
objetivo de acompanhar o crescimento
e desenvolvimento e corrigir possíveis
déficits nutricionais
Registrar todos os dados da anamnese
nutricional: dados clínicos e dietéticos
Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico
3.2.2 Necessidades Nutricionais
As alterações metabólicas observadas durante o tratamento neoplásico estão entre os principais
fatores de risco nutricional e caquexia em crianças (FEARON, 2001). A resposta do organismo na
tentativa de suprir o substrato para o crescimento tumoral inclui a alteração no metabolismo dos carbohidratos, envolvendo glicogenólise e gliconeogênese, turnover proteico e oxidação dos ácidos graxos
(WAITZBERG et al., 2004).
Sabe-se, entretanto, que as necessidades de energia e nutrientes para crianças variam de acordo
com a faixa etária, sexo, peso e estatura e devem permitir um crescimento e desenvolvimento adequados
e a manutenção de um bom estado de saúde (KENT-SMITH; MARTINS, 2004).
Embora com necessidades nutricionais aumentadas, as recomendações de nutrientes para
criança com câncer são as mesmas das crianças saudáveis (FEARON, 2001; ASPEN, 2002; KENTSMITH; MARTINS 2004).
A determinação das necessidades nutricionais pode ser obtida através de várias equações, não
havendo, na literatura, recomendação específica estabelecida para crianças submetidas à quimioterapia
e radioterapia. Por esta razão, com base na prática clínica, foi consenso adotar como utilização para
cálculo das necessidades calóricas a equação da Dietary Reference Intake 2006 (DRIs) ou Holliday and
Segar (1957). Para as necessidades proteicas consensuou-se a utilização das recomendações da ASPEN
(2002) e, em caso de perda de peso e desnutrição, um aumento de 15% a 50% das recomendações de
proteínas.
Assim como na desnutrição, o ajuste de peso nos casos de sobrepeso e obesidade também se faz
necessário. No entanto, esta adequação não deve ultrapassar 20% do peso atual.
O aporte hídrico está relacionado ao gasto de energia e pode ser estabelecido com base no peso
atual e nas necessidades energéticas. Porém, as perdas dinâmicas devem ser repostas e as retenções
hídricas descontadas.
O Quadro 22 apresenta as condutas consensuadas das recomendações nutricionais para pacientes
oncológicos pediátricos submetidos à quimioterapia e radioterapia.
77
78
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Quadro 22 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais ao paciente oncológico pediátrico em
tratamento clínico
Questão
Qual método
deve ser utilizado
para estimativa
das necessidades
calóricas?
Quais as recomendações proteicas?
Quimioterapia
1) Dietary Reference Intake 2006 (DRIs)
0-3 meses: (89 x peso (kg) -100) + 175
4-6 meses: ( 89 x peso (kg) -100) + 56
7-12 meses: (89 x peso (kg) -100) + 22
13-35 meses: (89 x peso (kg) -100) + 20
Meninos
3-8 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x
(26,7 x peso + 903 x altura) + 20
9-18 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x
(26,7 x peso + 903 x altura) + 25
Meninas
3-8 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10
x peso + 934 x altura) + 20
9-18 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x
(10 x peso + 934 x altura) + 25
Fator Atividade (FA):
1 = atividades do dia a dia
♀ = 1,16; ♂ = 1,13 – atividades do dia a
dia + 30 a 60 minutos de atividade moderada
♀ = 1,31; ♂ = 1,26 – atividades do dia a
dia + 60 minutos de atividade moderada
Crianças com baixo peso utilizar P/E
percentil 50 e escore Z= 0
Crianças eutróficas utilizar peso atual
Crianças com sobrepeso ou obesas utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2
Este ajuste em relação ao peso atual não
deve ultrapassar 20%
Radioterapia
1) Dietary Reference Intake 2006 (DRIs)
0-3 meses: (89 x peso (kg) -100) + 175
4-6 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 56
7-12 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 22
13-35 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 20
Meninos
3 -8 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x (26,7 x
peso + 903 x altura) + 20
9-18 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x (26,7
x peso + 903 x altura) + 25
Meninas
3-8 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x
peso + 934 x altura) + 20
9-18 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x
peso + 934 x altura) + 25
Fator Atividade (FA):
1 = atividades do dia a dia
♀ = 1,16; ♂ = 1,13 – atividades do dia a dia
+ 30 a 60 minutos de atividade moderada
♀ = 1,31; ♂ = 1,26 – atividades do dia a
dia + 60 minutos de atividade moderada
Crianças com baixo peso utilizar P/E
percentil 50 e escore Z= 0
Crianças eutróficas utilizar peso atual
Crianças com sobrepeso ou obesas
utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2
Este ajuste em relação ao peso atual não
deve ultrapassar 20%
2) HOLLIDAY AND SEGAR, 1957
Crianças de 0 a 10 kg – 100 Kcal/kg
Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 Kcal + 50
Kcal/kg para cada kg acima de 10 kg
Crianças com mais de 20 kg – 1.500
Kcal + 20 Kcal/kg para cada kg acima de
20 kg
Faixa etária e necessidades
Neonatos até 2 anos – 2,5 a 3,0 g/kg/dia
Crianças (2 a 11 anos) – 2,0 g/kg/dia
Adolescentes (acima de 12 anos) – 1,5 a
2,0 g/kg/dia
2) HOLLIDAY AND SEGAR, 1957
Crianças de 0 a 10 kg – 100 Kcal/kg
Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 Kcal + 50
Kcal/kg para cada kg acima de 10 kg
Crianças com mais de 20 kg – 1.500
Kcal + 20 Kcal/kg para cada kg acima de
20 kg
Faixa etária e necessidades
Neonatos até 2 anos – 2,5 a 3,0 g/kg/dia
Crianças (2 a 11 anos) – 2,0 g/kg/dia
Adolescentes (acima de 12 anos) – 1,5 a
2,0 g/kg/dia
Em casos de perda de peso e desnutrição
sugere-se um incremento de 15% a 50%
das recomendações de proteína
Crianças com baixo peso utilizar P/E
percentil 50 e escore Z= 0
Crianças eutróficas utilizar peso atual
Crianças com sobrepeso ou obesas utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2
Este ajuste em relação ao peso atual não
deve ultrapassar 20%
Em casos de perda de peso e desnutrição
sugere-se um incremento de 15% a 50%
das recomendações de proteína
Crianças com baixo peso utilizar P/E
percentil 50 e escore Z= 0
Crianças eutróficas utilizar peso atual
Crianças com sobrepeso ou obesas
utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2
Este ajuste em relação ao peso atual não
deve ultrapassar 20%
Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico
Quadro 22 (cont.)
Questão
Quais as recomendações
hídricas?
Quimioterapia
Peso e necessidades
Crianças de 1,5 a 3 kg – 110 a 130 ml/kg
Crianças de 3 a 10 kg – 100 ml/kg
Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 ml
+ 50 ml/kg para cada kg acima de 10 kg
Crianças com mais de 20 kg – 1.500 ml
+ 20 ml/kg para cada kg acima de 20 kg
Radioterapia
Peso e necessidades
Crianças de 1,5 a 3 kg – 110 a 130 ml/kg
Crianças de 3 a 10 kg – 100 ml/kg
Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 ml
+ 50 ml/kg para cada kg acima de 10 kg
Crianças com mais de 20 kg – 1.500 ml
+ 20 ml/kg para cada kg acima de 20 kg
Acrescentar perdas dinâmicas e
descontar retenções hídricas
Acrescentar perdas dinâmicas e
descontar retenções hídricas
Fonte: adaptado ASPEN, 2002.
3.2.3 Terapia Nutricional
A desnutrição em crianças com câncer é clinicamente manifestada por perda de peso, anorexia
e ingestão alimentar inadequada. O grau de desnutrição também está relacionado ao tipo da neoplasia,
extensão da doença e tratamento estabelecido (GARÓFOLO; PETRELLI, 2002; FILHO et al., 2006).
A terapia nutricional (TN) individualizada é parte essencial no tratamento global do paciente. Quando
indicada de maneira adequada, a probabilidade de recuperação é maior e poderá causar impacto positivo
na diminuição da morbimortalidade (DELGADO et al., 2000).
O principal objetivo da TN em crianças em risco nutricional ou desnutridas submetidas à quimio
e/ou radioterapia é oferecer energia, fluidos e nutrientes em quantidades adequadas para manter as
funções vitais e a homeostase, minimizando os efeitos adversos causados pelo tratamento, favorecendo
um balanço nitrogenado positivo, e desta forma, garantir seu crescimento e desenvolvimento adequados
com qualidade de vida (GARÓFOLO, 2005).
A TN deve ser indicada e iniciada precocemente em todas as crianças com risco nutricional ou
desnutridas, desde que em condições hemodinâmicas estáveis, por um período mínimo de sete dias.
Várias são as possibilidades de administração da TN, desde a terapia nutricional enteral (TNE)
via oral ou via sonda até a TN via parenteral, sendo esta última somente indicada na vigência da
impossibilidade total ou parcial do uso do trato gastrointestinal (DIAS, 2004). A TNE via oral é a
mais recomendada e deve ser a primeira opção quando a ingestão alimentar for menor do que 75%
das recomendações em até cinco dias consecutivos. A TNE via sonda deve ser considerada mediante a
impossibilidade da utilização da via oral ou na presença de ingestão alimentar inadequada (menor do que
60% das recomendações por até cinco dias consecutivos), sem expectativa de melhora da ingestão.
Para a monitorização da resposta à TN os parâmetros adotados por este consenso foram os
mesmos recomendados pela American Society Parenteral and Enteral Nutrition, (ASPEN, 1998;
ASPEN, 2002) e todos os dados coletados foram registrados em formulário específico no prontuário.
A descontinuidade da TN deve ser realizada mediante a instabilidade hemodinâmica e seu
desmame deverá ser programado quando a ingestão oral alcançar 30% das recomendações por dois a
três dias consecutivos.
79
80
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
O Quadro 23 apresenta as condutas consensuadas para terapia nutricional em pacientes
pediátricos oncológicos submetidos à quimioterapia e radioterapia.
Quadro 23 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico pediátrico em tratamento
clínico
Questão
Quais os objetivos
da TN no paciente
pediátrico?
Que critérios devem ser utilizados
para indicar TN?
Quando indicada,
a TN deve ser
iniciada em que
momento?
Quimioterapia
Oferecer fluídos e nutrientes em quantidades adequadas para manter as funções
vitais e tentar garantir o crescimento e
desenvolvimento normal da criança na
presença dos efeitos tóxicos mais comuns
como náuseas, vômitos, mucosite, má
absorção, diarreia e constipação, bem
como melhorar a qualidade de vida destes
pacientes
Todos os pacientes com risco nutricional
e/ou presença de desnutrição
Imediatamente após diagnóstico de risco
nutricional ou de desnutrição, para pacientes ambulatoriais ou internados, desde
que hemodinâmicamente estáveis por um
período mínimo de 7 dias
Quais os critérios
TNE: TGI total ou parcialmente
de indicação da via funcionante
a ser utilizada?
• TNE via oral: os complementos
enterais devem ser a primeira opção
quando a ingestão alimentar for
< 75% das recomendações em até 5
dias, sem expectativa de melhora da
ingestão
• TNE via sonda: impossibilidade
de utilização da via oral, ingestão
alimentar insuficiente (ingestão oral
< 60% das recomendações) em até 5
dias consecutivos, sem expectativa
de melhora da ingestão
TNP: impossibilidade total ou parcial de
uso do TGI
Que parâmetros
Conforme os parâmetros consensuados
devem ser utilizados por ASPEN 1998 e 2002
para monitorar a
resposta à TN?
Que dados da TN
Todos os dados coletados da monitorização
devem ser
da TN devem ser registrados em
registrados?
formulário específico do SND e EMTN,
que será anexado ao prontuário
Radioterapia
Oferecer fluídos e nutrientes em quantidades adequadas para manter as funções vitais e tentar garantir o crescimento e desenvolvimento normal da criança na presença
dos efeitos tóxicos mais comuns como
náuseas, vômitos, mucosite, má absorção,
diarreia e constipação, bem como melhorar
a qualidade de vida destes pacientes
Todos os pacientes com risco nutricional e/ou presença de desnutrição
Imediatamente após diagnóstico de
risco nutricional ou de desnutrição, para
pacientes ambulatoriais ou internados,
desde que hemodinâmicamente estáveis
por um período mínimo de 7 dias
TNE: TGI total ou parcialmente
funcionante.
• TNE via oral: os complementos enterais devem ser a primeira
opção, quando a ingestão alimentar for < 75% das recomendações
em até 5 dias, sem expectativa de
melhora da ingestão
• TNE via sonda: impossibilidade
de utilização da via oral, ingestão
alimentar insuficiente (ingestão oral
< 60% das recomendações) em até 5
dias consecutivos, sem expectativa
de melhora da ingestão
TNP: impossibilidade total ou parcial
de uso do TGI
Conforme os parâmetros consensuados
por ASPEN 1998 e 2002
Todos os dados coletados da monitorização
da TN devem ser registrados em
formulário específico do SND e EMTN,
que será anexado ao prontuário
Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico
Quadro 23 (cont.)
Questão
Quando suspender
a TN?
Como programar o
desmame?
Quimioterapia
Na vigência de instabilidade hemodinâmica
Radioterapia
Na vigência de instabilidade hemodinâmica
Iniciar o desmame da TN quando a
ingestão oral permanecer ≥ 30% do VET
calculado por 2-3 dias
Iniciar o desmame da TN quando a
ingestão oral permanecer ≥ 30% do
VET calculado por 2-3 dias
3.2.4 Seguimento Ambulatorial
Nos últimos anos tem-se verificado um aumento significativo na sobrevida de crianças
acometidas por câncer tratadas com quimio e/ou radioterapia. O aumento da taxa de sobrevida tem
levado os profissionais de saúde a acompanhar esses pacientes tratados, com o objetivo de observar o
impacto dos efeitos tardios na tentativa de reduzir a frequência das complicações inerentes ao tratamento
e contribuir para a melhora da qualidade de vida destas crianças (LOPES; BIANCHI, 2000).
Algumas manifestações tardias da terapêutica podem surgir mais precocemente e outras a longo
prazo. Do ponto de vista nutricional, nas crianças submetidas à radioterapia ou quimioterapia, muitas
vezes os efeitos deletérios da terapia podem interferir no seu crescimento e desenvolvimento normal
(LOPES; BIANCHI, 2000; DARZY et al., 2004).
Desta forma, após o término do tratamento, o acompanhamento nutricional em pacientes sem
evidência de doença deve ser feito rotineiramente no primeiro ano. Os pacientes que apresentarem
qualquer tipo de comorbidade devem ser acompanhados pelo Serviço, podendo ser posteriormente
encaminhados para seguimento na unidade de saúde mais próxima à sua residência.
No entanto, pacientes oncológicos pediátricos que apresentaram, após o término da terapia,
sequelas decorrentes do tratamento ao qual foram submetidos, devem ser acompanhados pelo
ambulatório do Serviço de Nutrição no qual foram tratados.
O Quadro 24 apresenta as condutas consensuadas para o seguimento ambulatorial nutricional
de pacientes oncológicos pediátricos submetidos à terapia antineoplásica.
81
82
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Quadro 24 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico pediátrico em
tratamento clínico
Questão
O paciente pediátrico
sem evidência de
doença oncológica e
sem comorbidade deve
ser acompanhado pelo
ambulatório do SND?
O paciente pediátrico
sem evidência de doença
e com comorbidades
deve ser acompanhado
pelo ambulatório do
SND?
O paciente pediátrico
sem evidência de
doença, com sequelas
decorrentes do
tratamento, deve ser
acompanhado pelo
ambulatório do SND?
Pós-Quimioterapia
Sim, no primeiro ano após o término
do tratamento, com frequência
trimestral
Pós-Radioterapia
Sim, no primeiro ano após o término do
tratamento, com frequência trimestral
Sim, até o controle da comorbidade.
Depois, estes pacientes são
encaminhados para acompanhamento
do seu estado nutricional na unidade
de saúde mais próxima de sua
residência
Todos os pacientes oncológicos com
sequelas do tratamento e com
implicações nutricionais devem ser
acompanhados pelo ambulatório do
SND
Sim, até o controle da comorbidade.
Depois, estes pacientes são
encaminhados para acompanhamento
do seu estado nutricional na unidade de
saúde mais próxima de sua residência
Todos os pacientes oncológicos com
sequelas do tratamento e com implicações
nutricionais devem ser acompanhados
pelo ambulatório do SND
Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico
3.3 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE SUBMETIDO A TRANSPLANTE DE CÉLULASTRONCO HEMATOPOÉTICAS (PRÉ E PÓS-TCTH)
3.3.1 Avaliação Nutricional
O câncer infantil, devido à sua magnitude, não pode ser considerado como uma simples
doença, mas sim uma gama de diferentes malignidades, que acomete cerca de 0,5% a 3% da população
(GARÓFOLO, 2005; BRASIL, 2009). Considerando diferentes estudos, a prevalência de desnutrição
como diagnóstico de crianças com câncer tem demonstrado uma variação de 6% a 50%, sendo
principalmente, uma consequência da heterogeneidade dos critérios vigentes para a classificação da
desnutrição (MUSCARITOLI et al., 2002; GARÓFOLO, 2005).
A avaliação nutricional geralmente é feita com base em critérios objetivos obtidos por meio de
história clínica alimentar, exame físico, antropometria, exames laboratoriais, história da perda ponderal,
modificações da dieta habitual, intolerâncias alimentares, doenças crônicas e tratamentos prévios (ABIB
et al., 1996; ANDERS et al., 2000; IKEMORI, 2003). Porém, até o presente momento ainda não foram
definidos claramente os parâmetros mais indicados para os pacientes especificamente destinados ao
Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas (TCTH) (IKEMORI, 2003).
A antropometria tem sido amplamente utilizada para avaliação do risco nutricional em crianças
sadias, através da relação entre dimensões corporais durante o processo de crescimento e desenvolvimento
(ACCIOLY et al., 2004). No entanto, nesta população são comuns alterações de fluidos, além de
flutuações rápidas na massa corporal (AKER, 1990; IKEMORI, 2003; RUIZ; ALBERTINI, 2004).
Regimes de hidratação agressivos, retenção hídrica, nutrição parenteral, vômitos e diarreia
podem causar significativas alterações no peso que não estejam, necessariamente, correlacionadas a
mudanças na composição corporal (PAPADOPOULOU, 1998).
Portanto, faz-se necessário um acompanhamento rigoroso de todas as crianças, registrando e
compartilhando com os demais membros da equipe interdisciplinar os dados decorrentes da anamnese
nutricional, registrando dados clínicos e dietéticos, antropometria e avaliação laboratorial nos períodos
pré e pós-TCTH.
O Quadro 25 apresenta as condutas consensuadas para avaliação nutricional no paciente
oncológico pediátrico submetido ao TCTH.
83
84
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Quadro 25 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico pediátrico submetido a
TCTH
Questão
Que instrumentos
devo utilizar para a
AN?
Que indicadores de
risco nutricional
devo utilizar?
Com que
frequência devo
avaliar?
Quais os pacientes
pediátricos
oncológicos devem
ser avaliados?
Que dados da AN
devo registrar?
Pré-TCTH
Anamnese nutricional: dados clínicos e
dietéticos
Antropometria: peso, estatura, IMC,
P/E, P/I, E/I, percentual de perda de peso,
CB, CMB, prega cutânea triciptal (> de 2
anos), perímetro cefálico e torácico (<' 2
anos) e exame físico. Classificar os dados
obtidos (IMC, P/E, P/I, E/I) através das
curvas da OMS (2007). Utilizar como
índice de referência o escore Z ou o
percentil para P/I, P/E e E/I
Avaliação laboratorial: hematócrito,
bioquímica (albumina, cálcio, creatinina,
ureia, glicose, sódio e potássio)
- Utilizar como indicadores de risco nutricional: P/I, E/I e P/E entre o – 1DP e –
2DP na classificação por escore Z e entre
o P10 e o P3 na classificação por percentil
- CMB e PCT entre o percentil 25 e 10
- Albumina sérica < 3,2 g/dl
- Consumo alimentar < 70% das
necessidades por 5 dias consecutivos,
independente do déficit antropométrico
- Perda de peso recente > 5% do peso
ntes da doença, sintomas do TGI
presentes por 5 dias
Avaliação antropométrica: realizar na
admissão, ou até 24 horas após, porém
antes do início do condicionamento
Avaliação dietética: realizar diariamente
e durante o período de condicionamento.
Atentar para alterações da ingestão,
apetite e sintomas do TGI
Avaliação laboratorial: avaliar no
mínimo 3 vezes por semana
Todas as crianças no pré-TCTH devem
passar pela avaliação nutricional rotineira
com o objetivo de acompanhar o
crescimento e o desenvolvimento
Registrar todos os dados da anamnese
nutricional: dados clínicos e dietéticos
Pós-TCTH
Anamnese nutricional: dados clínicos e
dietéticos
Antropometria: peso, estatura, IMC, P/E,
P/I, E/I, percentual de perda de peso, CB,
CMB, prega cutânea triciptal
(> de 2 anos), perímetro cefálico e torácico
(< 2 anos) e exame físico. Classificar os
dados obtidos (IMC, P/E, P/I, E/I) através
das curvas da OMS (2007). Utilizar como
índice de referência o Escore Z ou o percentil para: P/I, P/E e E/I
Avaliação laboratorial: bioquímica
(glicose, colesterol, triglicerídeo, zinco,
magnésio, vitamina D e cálcio sérico)
- Consumo alimentar < 70% das
necessidades por 5 dias consecutivos,
independente do déficit antropométrico
- Perda de peso recente > 5% do peso
antes da doença, sintomas do TGI
presentes por 5 dias
Avaliação antropométrica: 24 horas
antes da alta hospitalar
Avaliação dietética: realizar
diariamente durante internação. Atentar
para alterações da ingestão, apetite e
sintomas do TGI
Avaliação laboratorial: avaliar no
mínimo 3 vezes por semana
Todas as crianças no pós-TCTH devem
passar pela avaliação nutricional
rotineira com o objetivo de acompanhar
o crescimento e o desenvolvimento
Registrar todos os dados da anamnese
nutricional: dados clínicos e dietéticos
Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico
3.3.2 Necessidades Nutricionais
A desnutrição proteico-calórica, frequentemente, está presente desde o diagnóstico até durante o
tratamento de crianças com doenças neoplásicas. A diminuição do status nutricional antes do Transplante
de Células-Tronco Hematopoéticas (TCTH) é um fator prognóstico negativo para o resultado póstransplante (MUSCARITOLI et al., 2002).
A manutenção de um estado nutricional adequado é especialmente importante no processo
do tratamento do TCTH e fundamental para o sucesso deste procedimento (ANDERS, 2000). As
necessidades energéticas e de nutrientes específicos para crianças variam essencialmente em função da
faixa etária. Na criança a energia é direcionada para a manutenção das necessidades metabólicas e para
seu crescimento e desenvolvimento (GARÓFOLO, 2005).
Em relação às necessidades proteicas, na criança com câncer estão aumentadas, variando
também conforme a faixa etária e peso (ACCIOLY et al., 2004). Estas destinam-se a restaurar ou
preservar a massa magra corporal e fornecer substrato para o estado hipercatabólico após a terapia
citorredutora (AKER, 1990; IKEMORI, 2003; RUIZ; ALBERTINI, 2004). Cabe salientar que na
vigência de alterações da função hepática ou renal, as necessidades deverão ser modificadas e adequadas
individualmente (AKER, 1990).
Segundo a ASPEN, as necessidades hídricas estão diretamente relacionadas ao gasto energético,
podendo ser determinadas por meio do peso corporal, guardando a proporção de 100 ml/100 Kcal ou
1 ml/1 Kcal para repor as perdas de fluidos. Algumas situações exigem ajustes destas quantidades,
cabendo ao profissional efetuar a correção ou controle de acordo com a perda ponderal.
O Quadro 26 apresenta as condutas consensuadas das recomendações nutricionais para pacientes
pediátricos submetidos ao TCTH.
85
86
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Quadro 26 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico pediátrico submetido
a TCTH
Questão
Qual método
deve ser utilizado
para estimativa
das necessidades
calóricas?
Quais as
recomendações
proteicas?
Pré-TCTH
1) Dietary Reference Intake 2006 (DRIs)
0-3 meses: (89 x peso (kg) -100) + 175
4-6 meses: ( 89 x peso (kg) -100) + 56
7-12 meses: (89 x peso (kg) -100) + 22
13-35 meses: (89 x peso (kg) -100) + 20
Meninos
3-8 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x
(26,7 x peso + 903 x altura) + 20
9-18 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x
(26,7 x peso + 903 x altura) + 25
Meninas
3-8 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10
x peso + 934 x altura) + 20
9-18 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x
(10 x peso + 934 x altura) + 25
Fator Atividade (FA):
1 = atividades do dia a dia
♀ = 1,16; ♂ = 1,13 – atividades do dia a dia
+ 30 a 60 minutos de atividade moderada
♀ = 1,31; ♂ = 1,26 – atividades do dia a
dia + 60 minutos de atividade moderada
Crianças com baixo peso utilizar P/E
percentil 50 e escore Z= 0
Crianças eutróficas utilizar peso atual
Crianças com sobrepeso ou obesas utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2
Este ajuste em relação ao peso atual não
deve ultrapassar 20%
Pós-TCTH
1) Dietary Reference Intake 2006 (DRIs)
0-3 meses: (89 x peso (kg) -100) + 175
4-6 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 56
7-12 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 22
13-35 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 20
Meninos
3 -8 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x (26,7 x
peso + 903 x altura) + 20
9-18 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x (26,7
x peso + 903 x altura) + 25
Meninas
3-8 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x
peso + 934 x altura) + 20
9-18 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x
(10 x peso + 934 x altura) + 25
Fator Atividade (FA):
1 = atividades do dia a dia
♀ = 1,16; ♂ = 1,13 – atividades do dia a dia
+ 30 a 60 minutos de atividade moderada
♀ = 1,31; ♂ = 1,26 – atividades do dia a
dia + 60 minutos de atividade moderada
Crianças com baixo peso utilizar P/E
percentil 50 e escore Z= 0
Crianças eutróficas utilizar peso atual
Crianças com sobrepeso ou obesas
utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2
Este ajuste em relação ao peso atual não
deve ultrapassar 20%
2) HOLLIDAY AND SEGAR, 1957
Crianças de 0 a 10 kg – 100 Kcal/kg
Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 Kcal + 50
Kcal/kg para cada kg acima de 10 kg
Crianças com mais de 20 kg – 1.500
Kcal + 20 Kcal/kg para cada kg acima de
20 kg
Faixa etária e necessidades*
Neonatos até 2 anos – 2,5 a 3,0 g/kg/dia
Crianças (2 a 11 anos) – 2,0 g/kg/dia
Adolescentes (acima de 12 anos) – 1,5 a
2,0 g/kg/dia
2) HOLLIDAY AND SEGAR, 1957
Crianças de 0 a 10 kg – 100 Kcal/kg
Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 Kcal + 50
Kcal/kg para cada kg acima de 10 kg
Crianças com mais de 20 kg – 1.500
Kcal + 20 Kcal/kg para cada kg acima de
20 kg
Faixa etária e necessidades**
0-6 anos = 2,5 a 3,0 g/kg de peso atual
7–10 anos = 2,4 g/kg de peso atual
11–14 anos = 2,0 g/kg de peso atual
15–18 anos = 1,8 g/kg de peso atual
Em casos de perda de peso e desnutrição
sugere-se um incremento de 15% a 50%
das recomendações de proteína
Crianças com baixo peso utilizar P/E
percentil 50 e escore Z= 0
Crianças eutróficas utilizar peso atual
Crianças com sobrepeso ou obesas utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2
Este ajuste em relação ao peso atual não
deve ultrapassar 20%
Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico
Quadro 26 (cont.)
Questão
Quais as
recomendações
hídricas?***
Pré-TCTH
Peso e necessidades
Crianças de 1,5 a 3 kg – 110 a 130 ml/kg
Crianças de 3 a 10 kg – 100 ml/kg
Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 ml
+ 50 ml/kg para cada kg acima de 10 kg
Crianças com mais de 20 kg – 1.500 ml
+ 20 ml/kg para cada kg acima de 20 kg
Pós-TCTH
Peso e necessidades
Crianças de 1,5 a 3 kg – 110 a 130 ml/kg
Crianças de 3 a 10 kg – 100 ml/kg
Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 ml
+ 50 ml/kg para cada kg acima de 10 kg
Crianças com mais de 20 kg – 1.500 ml
+ 20 ml/kg para cada kg acima de 20 kg
Acrescentar perdas dinâmicas e
descontar retenções hídricas
Acrescentar perdas dinâmicas e
descontar retenções hídricas
*Fonte: Adaptado ASPEN, 2002; Garofolo et al., 2001
**Fonte: Seattle Cancer Care Alliance, 2002
***Fonte: adaptado ASPEN, 2002
3.3.3 Terapia Nutricional
A terapia nutricional (TN) em Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas (TCTH) tem como
principal objetivo corrigir as deficiências preexistentes decorrentes da terapêutica, minimizar ou evitar
perdas de peso, bem como instituir um plano dietoterápico individualizado capaz de atender às exigências
nutricionais em todas as etapas do tratamento (ANDERS, 2000; RUIZ; ALBERTINI, 2004).
Uma das dificuldades frequentes na nutrição do paciente pediátrico criticamente enfermo
consiste em suprir as necessidades calóricas e proteicas elevadas, pois durante e após o condicionamento
para o TCTH, os pacientes pediátricos geralmente evoluem com a redução da ingestão de nutrientes
(WAITZBERG, 2000).
Portanto, a escolha da terapia mais adequada dependerá da situação em que o paciente está
envolvido no momento (ASPEN, 2002). A TN deverá ser indicada sempre que houver diagnóstico de risco
nutricional ou de desnutrição vigente. A via de eleição preferencial para a administração de alimentos,
mesmo em pacientes críticos, é a digestiva (WAITZBERG, 2000). A terapia nutricional enteral (TNE)
via oral deve ser indicada e mantida sempre que possível, incluindo complementos enterais. Caso ocorra
impossibilidade desta via ou ingestão dietética inferior a 60% das recomendações preconizadas, a TNE
via sonda poderá ser instituída. As manifestações gastrointestinais graves provocadas pelo tratamento
agressivo frequentemente excluem o uso da TNE via oral e sonda, e neste caso deverá ser indicada a
terapia nutricional parenteral (TNP) (AKER, 1990; ANDERS, 2000).
O monitoramento da terapia nutricional é fundamental para verificar a tolerância do programa
instituído e, para tanto, deve-se avaliar constantemente os parâmetros utilizando os critérios adotados e
consensuados pelo American Society Parenteral and Enteral Nutrition e pela presença de intercorrências
relacionadas à intolerância ou instabilidade hemodinâmica (ASPEN, 1998; ASPEN, 2002). O desmame
da TN deverá ocorrer gradativamente, registrando em prontuário as condutas instituídas.
O Quadro 27 apresenta as condutas consensuadas para terapia nutricional no paciente oncológico
pediátrico submetido ao TCTH.
87
88
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Quadro 27 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico pediátrico submetido ao
TCTH
Questão
Quais os objetivos
da TN no paciente
pediátrico?
Pré-TCTH
Oferecer fluídos e nutrientes em
quantidades adequadas para manter as
funções vitais e tentar garantir o
crescimento e desenvolvimento normal
da criança na presença dos efeitos tóxicos
mais comuns como náuseas, vômitos,
mucosite, má absorção, diarreia e
constipação, bem como melhorar a
qualidade de vida destes pacientes
Que critérios devem Todos os pacientes com risco nutricional
e/ou presença de desnutrição
ser utilizados para
indicar TN?
Quando indicada,
Imediatamente após diagnóstico de risco
a TN deve ser
nutricional ou de desnutrição, para
iniciada em que
pacientes ambulatoriais ou internados,
momento?
desde que hemodinâmicamente estáveis
por um período mínimo de 7 dias
Quais os critérios
TNE: TGI total ou parcialmente
de indicação da via funcionante
a ser utilizada?
• TNE via oral: os complementos
enterais devem ser a primeira opção, quando a ingestão alimentar for
< 75% das recomendações em até 5
dias, sem expectativa de melhora da
ingestão
• TNE via sonda: impossibilidade de
utilização da via oral, ingestão alimentar insuficiente (ingestão oral <
60% das recomendações) em até 5
dias consecutivos, sem expectativa
de melhora da ingestão
TNP: impossibilidade total ou parcial de
uso do TGI
Que parâmetros
Conforme os parâmetros consensuados
devem ser utilizados por ASPEN 1998 e 2002
para monitorar a
resposta à TN?
Que dados da TN
Todos os dados coletados da monitorizadevem ser
ção da TN devem ser registrados em
registrados?
formulário específico do SND e EMTN,
que será anexado ao prontuário
Quando suspender Na vigência de instabilidade
a TN?
hemodinâmica
Quando suspender Na vigência de instabilidade
a TN?
hemodinâmica
Pós-TCTH
Oferecer fluídos e nutrientes em
quantidades adequadas para manter as
funções vitais e tentar garantir o
crescimento e desenvolvimento normal da
criança na presença dos efeitos tóxicos
mais comuns como náuseas, vômitos,
mucosite, má absorção, diarreia e
constipação, bem como melhorar a
qualidade de vida destes pacientes
Todos os pacientes com risco
nutricional e/ou presença de desnutrição
Imediatamente após diagnóstico de
risco nutricional ou de desnutrição, para
pacientes ambulatoriais ou internados,
desde que hemodinâmicamente estáveis
por um período mínimo de 7 dias
TNE: TGI total ou parcialmente
funcionante.
• TNE via oral: os complementos
enterais devem ser a primeira
opção, quando a ingestão alimentar
for < 75% das recomendações em
até 5 dias, sem expectativa de
melhora da ingestão
• TNE via sonda: impossibilidade
de utilização da via oral, ingestão
alimentar insuficiente (ingestão oral
< 60% das recomendações) em até 5
dias consecutivos, sem expectativa de
melhora da ingestão
TNP: impossibilidade total ou parcial de
uso do TGI
Conforme os parâmetros consensuados
por ASPEN 1998 e 2002
Todos os dados coletados da monitorização
da TN devem ser registrados em
formulário específico do SND e EMTN,
que será anexado ao prontuário
Na vigência de instabilidade
hemodinâmica
Na vigência de instabilidade
hemodinâmica
Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico
3.3.4 Seguimento Ambulatorial
O Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas (TCTH) caracteriza-se como uma terapia
promissora no desenvolvimento da cura dos pacientes. Para que esta terapêutica seja bem-sucedida é
necessário acompanhamento nutricional em todas as fases deste tratamento (IKEMORI, 2003).
Atenção especial deve ser dada ao acompanhamento nutricional desta população, uma vez que é
comum a apresentação de inúmeras complicações no decorrer do tratamento, capazes de comprometer
significativamente o estado nutricional (ABIB et al., 1996a; ABIB et al., 1996b).
O objetivo do acompanhamento ambulatorial é principalmente monitorar a ocorrência de
deficiências nutricionais e as diversas complicações associadas ao transplante, de forma a corrigir o
mais precocemente possível os déficits nutricionais (ABIB et al., 1996b).
O paciente pediátrico sem evidência de doença oncológica e sem comorbidades associadas deve
ser acompanhado no ambulatório de nutrição a fim de avaliar o seu crescimento e desenvolvimento,
identificando e corrigindo quaisquer deficiências de nutrientes, pois deficiências nutricionais específicas,
dependendo da severidade e do tempo, poderão interferir secundariamente no crescimento (ACCIOLY
et al., 2004).
O seguimento ambulatorial dos pacientes submetidos aos transplantes autólogos e singênicos
deverá ser realizado quinzenalmente até o D+100 e, após, com frequência trimestral. Nos casos de
transplantes alogênicos, o seguimento deverá ocorrer quinzenalmente até o D+100 e, posteriormente, a
frequência deverá ser mensal (ABIB et al., 1996b; BERGERSON, 1998; IKEMORI, 2003).
Após estes referidos períodos, os pacientes com sequelas decorrentes do tratamento
antineoplásico com implicações nutricionais deverão continuar sendo acompanhados em ambulatório,
periodicamente até a estabilização do quadro. Todavia, se os pacientes não apresentarem mais
intercorrências decorrentes do tratamento em questão, deverão ser encaminhados à rede básica de
saúde para acompanhamento do seu estado nutricional.
O Quadro 28 apresenta as condutas consensuadas para o seguimento ambulatorial do paciente
oncológico pediátrico submetido ao TCTH.
89
90
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Quadro 28 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico pediátrico submetido
a TCTH
Questão
O paciente pediátrico sem evidência de doença
e sem comorbidade deve ser acompanhado pelo
ambulatório do SND?
O paciente pediátrico sem evidência de doença,
com comorbidades, deve ser acompanhado pelo
ambulatório do SND?
O paciente pediátrico sem evidência de doença,
com sequelas decorrentes do tratamento, deve ser
acompanhado pelo ambulatório do SND?
Pós-TCTH
(considerar as três modalidades de TCTH)
Autólogo/Singênico: a cada 15 dias até o D+100.
Após o D+100, a frequência deverá ser trimestral, até
completar 1 ano de transplanteAlogênico: a cada 15
dias até o D+100. Após o D+100, a frequência
deverá ser mensal, até o término da terapia de
imunossupressão
Sim, até o controle, respeitando o período de
acompanhamento conforme a modalidade de
transplante. Depois estes pacientes são encaminhados
para acompanhamento do seu estado nutricional na
unidade de saúde mais próxima de sua residência
Todos os pacientes oncológicos com sequelas do
tratamento e implicações nutricionais devem ser
acompanhados pelo ambulatório do SND,
respeitando o período de acompanhamento conforme
a modalidade de transplante
Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico
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93
Capítulo 4– Paciente Pediátrico em Cuidados Paliativos
CAPÍTULO 4
PACIENTE PEDIÁTRICO EM CUIDADOS
PALIATIVOS
95
Capítulo 4– Paciente Pediátrico em Cuidados Paliativos
INTRODUÇÃO
O câncer infantil já é considerado, atualmente, uma doença potencialmente curável. Nos
últimos anos, grandes avanços têm ocorrido no tratamento do câncer infantil, sendo que hoje
aproximadamente 70% das crianças afetadas são curadas. Entretanto, apesar dos notáveis progressos
verificados nas últimas décadas, há ainda um grande número de pacientes que não consegue obter
a cura e necessita de cuidados paliativos na fase final de sua doença (FURRER et al., 2000). Os
cuidados paliativos compreendem um conjunto de medidas que enfatiza o cuidar global do paciente,
quando este não apresenta mais possibilidades terapêuticas de cura (FURRER et al., 2000; PESSINI;
BERTACHINI, 2004; OMS, 2004; FERNÁNDEZ-ROLDÁN, 2005).
O universo do cuidar é mais abrangente do que o de curar. Sob esta ótica, os cuidados paliativos
têm como objetivo atingir o máximo bem-estar físico, psíquico e social, fornecendo melhor qualidade
de vida ao indivíduo e sua família (FURRER et al. 2000; OMS, 2004). Por este motivo, o enfoque
maior é dado ao controle da dor, sofrimento e melhora dos sintomas, e não em restabelecer a saúde
integralmente. As necessidades de higiene e nutrição são valorizadas e oferecidas, pois também são
partes do tratamento (OMS, 2004).
A abrangência do objetivo implica na necessidade de uma visão multidisciplinar dos cuidados
paliativos, que envolvem médicos, enfermeiras, nutricionistas, fisioterapeutas, além de apoio
psicológico, social e espiritual. No caso da criança ou adolescente, sua família também deve ser
incluída nesta abordagem multidisciplinar (FURRER et al., 2000).
É comum o paciente em cuidado paliativo apresentar inapetência, baixa ingestão alimentar,
depleção de tecido magro e adiposo e caquexia em decorrência do próprio avanço da doença. Além
disto, os efeitos colaterais dos tratamentos medicamentosos, como náuseas, vômitos, diarreia,
saciedade precoce, má absorção, obstipação intestinal, disfagia, entre outros, podem contribuir para
o agravo desta condição (HUHMANN, 2005).
A nutrição, portanto, deve ter como objetivo oferecer substratos visando manter ou minimizar
as perdas nutricionais comuns nesta população, mas sobretudo proporcionar conforto emocional, alívio
dos sintomas, prazer, auxiliar na diminuição da ansiedade, aumentar a autoestima e independência,
além de permitir maior comunicação com seus familiares, devendo ser adequada aos hábitos e às
condições clínicas da criança, sempre que possível (ADA, 1992; SHIBUYA, 2005).
4.1. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL
A desnutrição energético-proteica na criança com câncer tem sido registrada em 8% a 60%
dos pacientes; caso seja associada à terapêutica oncológica, pode aumentar a morbidade, diminuir
a função imunológica e a resposta ao tratamento, reduzindo a qualidade de vida (LADAS et al.,
2005; VAN CUSTEM; ARENDS, 2005). Em cuidados paliativos, na maioria dos casos, o paciente
apresenta algum grau de desnutrição decorrente do tratamento agressivo e da anorexia comumente
observados (BEARDSMORE; FITZMAURICE, 2002).
97
98
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
A avaliação nutricional (AN) é importante na determinação do plano de cuidado nutricional,
independente do estágio da doença. Tem como objetivo obter informações que irão auxiliar no
planejamento dietético, voltado para o alívio dos sintomas, bem-estar e conforto do paciente e
cuidador (DELMORE, 1997; HUHMANN; CUNNINGHAM, 2005).
O paciente deverá ser avaliado diariamente e sempre que for necessário, de acordo com o
histórico da doença e o aparecimento ou agravamento dos sintomas. Para tanto, é importante conhecer
o histórico da doença e as propostas de tratamento. A avaliação nutricional no paciente oncológico
terminal é baseada na presença de sinais e sintomas gastrointestinais, nível de consciência e estado
de hidratação, servindo como instrumento para adequação da dieta prescrita. A antropometria e a
bioimpedância apresentam desvantagens para diagnóstico nutricional nesse estágio da doença,
podendo mascarar a depleção ponderal, não sendo apropriadas. Dados bioquímicos, como proteínas
plasmáticas, podem oferecer resultados duvidosos em pacientes hipercatabólicos, com distúrbio
hidroeletrolítico, infecção e inflamação (STRASSER; BRUERA, 2002).
O Quadro 29 apresenta as condutas consensuadas para avaliação nutricional do paciente
oncológico pediátrico em cuidados paliativos.
Quadro 29 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico pediátrico em cuidados
paliativos
Questão
Doença avançada
A AN deve ser realizada Sim
em pacientes pediátricos
em cuidados paliativos?
Quais os pacientes
Todos
devem ser avaliados?
Que instrumentos devo
utilizar para AN?
Doença terminal
Sim
Todos. Respeitando
sempre a vontade do
paciente e do cuidador
Anamnese nutricional:
Anamnese nutricional:
dados clínicos e dietéticos dados clínicos e
dietéticos. Utilizar
Antropometria: peso,
Questionário de
estatura, IMC, P/E, P/I,
Frequência de
E/I, percentual de perda
de peso, CB, CMB, prega Consumo Alimentar
OU recordatório 24
cutânea triciptal (> de 2
horas OU Questionário
anos) perímetro cefálico
de Consumo Alimentar
e torácico (< 2 anos) e
exame físico. Classificar Atual
os dados obtidos (IMC,
P/E, P/I, E/I) através das
curvas da OMS (2007).
Utilizar como índice de
referência o escore Z ou
o percentil: crianças < de
2 anos usar P/I, crianças
maiores de 2 anos usar
P/E e E/I
Avaliação laboratorial:
hemograma e bioquímica
(cálcio, creatinina, ureia,
glicose, sódio, potássio)
Cuidados ao fim da vida
Sim
Todos. Respeitando
sempre a vontade do
paciente e do cuidador
Anamnese nutricional:
dados clínicos e dietéticos.
Utilizar Questionário de
Frequência de
Consumo Alimentar OU
recordatório 24 horas OU
Questionário de Consumo
Alimentar Atual
Capítulo 4– Paciente Pediátrico em Cuidados Paliativos
Quadro 29 – (cont.)
Questão
Que indicadores de
risco nutricional devo
utilizar?
Com que frequência
devo avaliar?
Que dados da AN devo
registrar?
Doença avançada
• P/I, P/E e E/I entre o –
1DP e – 2DP na classificação por escore Z e entre
o P10 e o P3 na classificação por percentil
• Consumo alimentar
< 70% das necessidades
por 5 dias consecutivos,
independente do déficit
antropométrico
• Perda de peso > 5%
comparado com o último
peso referido
• Sintomas do TGI
Na admissão ou em até
48 horas após, podendo
variar conforme a situação clínica e nutricional
da criança e a cada 7 dias
Todos os dados coletados
devem ser registrados
em prontuário conforme
rotina hospitalar
Doença terminal
Cuidados ao fim da vida
-
-
O paciente com câncer
terminal deve ser
avaliado diariamente
e sempre que for
necessário, de acordo
com a evolução da
doença e aparecimento
ou agravamento dos
sintomas
Todos os dados
coletados devem ser
registrados em
prontuário conforme
rotina hospitalar
O paciente em cuidados ao
fim da vida deve ser
avaliado diariamente
e sempre que for
necessário, de acordo com
a evolução da doença e
aparecimento ou
agravamento dos
sintomas
Todos os dados coletados
devem ser registrados
em prontuário conforme
rotina hospitalar
4.2. NECESSIDADES NUTRICIONAIS
As recomendações nutricionais adotadas em cuidados paliativos pediátrico devem ser
baseadas naquelas estabelecidas para pacientes pediátricos oncológicos, adaptando-as conforme a
sintomatologia apresentada pela criança. A prescrição dietética, além de fornecer as necessidades
nutricionais do paciente deve, acima de tudo, oferecer prazer e conforto.
A necessidade de água está relacionada ao gasto de energia, podendo ser determinada por
meio do peso corporal. Como as perdas sensíveis equivalem a 40 ml/100 Kcal e as perdas urinárias
a 60 ml/100 Kcal em 24 horas, então 100 ml/100 Kcal ou 1 ml/Kcal são necessários para repor a
perda de fluidos em 24 horas (ASPEN, 2002). A hidratação deve ser administrada de acordo com
a sobrevida e sintomatologia do paciente (EBERHARDIE, 2002), observando-se débito urinário,
presença de desidratação e de edema, buscando atender à necessidade hídrica basal, garantindo
equilíbrio e conforto ao paciente.
O Quadro 30 apresenta as condutas consensuadas das recomendações nutricionais para
paciente oncológico pediátrico em cuidados paliativos.
99
100
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Quadro 30 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico pediátrico em
cuidados paliativos
Questão
Qual método
deve ser
utilizado para
estimativa das
necessidades
calóricas?
Cuidados ao
Fim da Vida
1) Dietary Reference Intake 2006
1) Dietary Reference Intake 2006
As
(DRIs)
(DRIs)
necessidades
0-3 meses: (89 x peso (kg) -100) + 175 0-3 meses: (89 x peso (kg) -100) + 175 calóricas para o
4-6 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 56 paciente
4-6 meses: ( 89 x peso (kg) -100) + 56
7-12 meses: (89 x peso (kg) -100) + 22 7-12 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 22 oncológico no
13-35 meses: (89 x peso (kg) -100) + 20 13-35 meses: (89 x peso (kg) - 100) fim da vida
+ 20
serão
Meninos
estabelecidas
Meninos
3-8 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x
de acordo com
3-8 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x
(26,7 x peso + 903 x altura) + 20
a aceitação e
(26,7 x peso + 903 x altura) + 20
9-18 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x
9-18 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x tolerância do
(26,7 x peso + 903 x altura) + 25
paciente
(26,7 x peso + 903 x altura) + 25
Meninas
Doença avançada
3-8 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x
(10 x peso + 934 x altura) + 20
9-18 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x
(10 x peso + 934 x altura) + 25
Fator Atividade (FA):
1 = atividades do dia a dia
♀ = 1,16; ♂ = 1,13 – atividades do dia
a dia + 30 a 60 minutos de atividade
moderada
♀ = 1,31; ♂ = 1,26 – atividades do dia a
dia + 60 minutos de atividade moderada
Crianças com baixo peso utilizar P/E
percentil 50 e escore Z= 0
Crianças eutróficas utilizar peso atual
Crianças com sobrepeso ou obesas
utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2
Este ajuste em relação ao peso atual não
deve ultrapassar 20%
2) HOLLIDAY AND SEGAR, 1957
Crianças de 0 a 10 kg – 100 Kcal/kg
Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 Kcal +
50 Kcal/kg para cada kg acima de 10 kg
Crianças com mais de 20 kg – 1.500
Kcal + 20 Kcal/kg para cada kg acima
de 20 kg
Doença Terminal
Meninas
3-8 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x
(10 x peso + 934 x altura) + 20
9-18 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA
x (10 x peso + 934 x altura) + 25
Fator Atividade (FA):
1 = atividades do dia a dia
♀ = 1,16; ♂ = 1,13 – atividades do
dia a dia + 30 a 60 minutos de
atividade moderada
♀ = 1,31; ♂ = 1,26 – atividades do
dia a dia + 60 minutos de atividade
moderada
Crianças com baixo peso utilizar P/E
percentil 50 e escore Z= 0
Crianças eutróficas utilizar peso atual
Crianças com sobrepeso ou obesas
utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2
Este ajuste em relação ao peso atual
não deve ultrapassar 20%
2) HOLLIDAY AND SEGAR,
1957
Crianças de 0 a 10 kg – 100 Kcal/kg
Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 Kcal
+ 50 Kcal/kg para cada kg acima de
10 kg
Crianças com mais de 20 kg – 1.500
Kcal + 20 Kcal/kg para cada kg
acima de 20 kg
Capítulo 4– Paciente Pediátrico em Cuidados Paliativos
Quadro 30 (cont.)
Questão
Quais as
recomendações
proteicas?
Quais as
recomendações
hídricas?
Doença avançada
Doença Terminal
Utilizar as recomendações do
ASPEN, adaptando-as conforme a sintomatologia apresentada pela criança
Utilizar as recomendações do
ASPEN, adaptando-as conforme
a sintomatologia apresentada pela
criança
Faixa etária e necessidades
Neonatos até 2 anos – 2,5 a 3,0
g/kg/dia
Crianças (2 a 11 anos) – 2,0 g/
kg/dia
Adolescentes (acima de 12
anos) – 1,5 a 2,0 g/kg/dia
Faixa etária e necessidades
Crianças de 1,5 a 3 kg – 110 a
130 ml/kg
Crianças de 3 a 10 kg – 100
ml/kg
Crianças de 10 a 20 kg – 1.000
ml + 50 ml/kg para cada kg
acima de 10 kg
Crianças com mais de 20 kg –
1.500 ml + 20 ml/kg para cada
kg acima de 20 kg
Faixa etária e necessidades
Neonatos até 2 anos – 2,5 a 3,0 g/
kg/dia
Crianças (2 a 11 anos) – 2,0 g/kg/
dia
Adolescentes (acima de 12 anos) –
1,5 a 2,0 g/kg/dia
Faixa etária e necessidades
Crianças de 1,5 a 3 kg – 110 a 130
ml/kg
Crianças de 3 a 10 kg – 100 ml/kg
Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 ml
+ 50 ml/kg para cada kg acima de
10 kg
Crianças com mais de 20 kg –
1.500 ml + 20 ml/kg para cada kg
acima de 20 kg
A hidratação deve ser
administrada de acordo com a
tolerância e a sintomatologia
do paciente
Acrescentar perdas dinâmicas e
descontar retenções hídricas
Cuidados ao
Fim da Vida
As necessidades
proteicas para o
paciente
oncológico no
fim de vida
serão
estabelecidas
de acordo com
a aceitação e
tolerância do
paciente
A hidratação
deve ser
administrada
de acordo com
a tolerância e a
sintomatologia
do paciente
A hidratação deve ser administrada
de acordo com a tolerância e a
sintomatologia do paciente
Acrescentar perdas dinâmicas e
descontar retenções hídricas
Fonte: adaptado ASPEN, 2002
4.3. TERAPIA NUTRICIONAL
A terapia nutricional (TN) no câncer avançado tem como objetivo manter ou recuperar o estado
nutricional, evitar a progressão da desnutrição e promover a qualidade de vida (EBERHARDIE,
2002; WOLFE et al., 2002).
Está indicada em pacientes inapetentes ou anoréxicos, com intuito de complementar as
necessidades nutricionais, promovendo melhora das condições clínicas, nutricionais e da qualidade
de vida. A TN está contraindicada quando o potencial de risco é maior do que o benefício e/ou possa
gerar algum tipo de desconforto (NITENBERG; RAYNARD, 2000).
A dieta via oral deve ser a primeira opção, sempre que possível, devendo adequar-se aos
hábitos e condições clínicas, considerando as seguintes questões: TGI funcionante, capacidade para
se alimentar, grau de desconforto, nível de consciência, sintomatologia apresentada (RIPAMONTI et
al., 2001; EBERHARDIE, 2002; KURASHIMA et al., 2004; SHIBUYA, 2005). Em muitos casos,
101
102
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
pequenos lanches em vez de grandes refeições ao longo do dia são mais eficazes. A introdução de
outra via, que não a oral, deve ser discutida entre familiares e equipe médica (STRASSER; BRUERA,
2002; POSTOVSKY; BEN ARUSH, 2004).
A escolha da via deve ser criteriosa, com o intuito de poupar a criança de mais um procedimento
invasivo; por esta razão a indicação da TNE via sonda deve ser discutida com os pais e/ou responsáveis
e com a criança, se possível, e equipe médica (BOZETTI et al., 1996; BOZZETI, 2003; HANMARKEY, 2000; HUHMANN & CUNNINGHAM, 2005). Em muitos casos, os pais demonstram
resistência à TNE via sonda, preferindo a terapia nutricional parenteral (TNP) (SHIBUYA, 2005).
A TNP possui poucas aplicações em pacientes com câncer avançado, sendo indicada somente
em casos de obstruções intestinais irreversíveis, vômitos intratáveis, fístulas, TGI não funcionante,
desde que contribua para melhor qualidade de vida e que haja perspectiva de vida considerável
(maior do que três meses).
Pacientes com câncer terminal deverão ser poupados de procedimentos invasivos que
influenciem negativamente seu estado psicológico.
É essencial, independente de qualquer conduta dietoterápica, respeitar a vontade do indivíduo,
ou seja, a TN deve ser suspensa em pacientes que não a desejam mais (CORREA; SHIBUYA, 2007).
O Quadro 31 apresenta as condutas consensuadas para terapia nutricional em paciente
oncológico pediátrico em cuidados paliativos.
Capítulo 4– Paciente Pediátrico em Cuidados Paliativos
Quadro 31 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico pediátrico em cuidados
paliativos
Cuidados ao Fim da
Vida
- Promover conforto
- Manter o estado nutricional e - Promover conforto
Quais os
- Aliviar sintomas
evitar a progressão da
objetivos da
- Aliviar sintomas
- Melhorar a qualidade de vida - Melhorar a qualidade
TN no paciente desnutrição
do paciente e seu cuidador
- Oferecer energia, fluídos
pediátrico?
de vida do paciente e
e nutrientes em quantidades
seu cuidador
adequadas
- Promover melhora na
qualidade de vida
Questão
Que critérios
devem ser
utilizados para
indicar TN?
Doença avançada
Todos os pacientes com risco
nutricional e/ou
presença de desnutrição
Quais as
TNE via oral: quando houver
contraindicações impossibilidade da via,
para a TN?
ingestão calórica for maior do
que 50% das recomendações;
baixo nível de consciência;
quando promove desconforto;
recusa do paciente e/ou do
cuidador
TNE via sonda: quando
houver impossibilidade da
via, ingestão calórica VO for
maior do que 50% das
recomendações; quando
promove desconforto; recusa
do paciente e/ou do cuidador
TNP: pacientes com TGI
funcionante e por não oferecer
benefícios no estágio
avançado da doença
Doença Terminal
Todos os pacientes com
risco nutricional e/ou
presença de desnutrição.
Respeitar sempre a vontade do
paciente e do seu
cuidador
TNO e TNE: não é
indicada, porém pode
ser mantida quando
promover satisfação do
paciente pediátrico e/ou
cuidador
TNP: não é indicada e
não deve ser mantida
nos últimos momentos
de vida
- Há recusa do paciente e
cuidador
- Quando é um risco potencia
- Quando é um elemento de
desconforto
-
103
104
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Quadro 31 (cont.)
Questão
Doença avançada
Doença Terminal
TNE: TGI total ou parcialmente
funcionante
• TNE via oral: os
complementos enterais
devem ser a primeira
opção, quando a ingestão
alimentar for < 75% das
recomendações em até 5
dias, sem expectativa de
melhora da ingestão
• TNE via sonda:
impossibilidade de
utilização da via oral,
ingestão alimentar
insuficiente (ingestão oral
< 60% das
recomendações) em até
5 dias consecutivos, sem
expectativa de melhora
da ingestão
TNP: não é uma via de
escolha para o paciente com
câncer terminal
Que
Conforme os parâmetros con- Conforme os parâmetros conparâmetros
sensuados por ASPEN 1998 e sensuados por ASPEN 1998 e
devem ser
2002
2002
utilizados para Considerar:
Considerar:
monitorar a
• Bem-estar físico e mental do • Bem-estar físico e mental do
resposta à TN? paciente/QV
paciente/QV
• Satisfação do paciente e seus • Satisfação do paciente e seus
cuidadores
cuidadores
Quais os
critérios de
indicação da
via a ser
utilizada?
TNE: TGI total ou parcialmente
funcionante·
• TNE via oral: os
complementos enterais
devem ser a primeira
opção, quando a ingestão
alimentar for < 75% das
recomendações em até 5
dias, sem expectativa de
melhora da ingestão
• TNE via sonda:
impossibilidade de
utilização da via oral,
ingestão alimentar
insuficiente (ingestão
oral < 60% das recomendações) em até 5
dias consecutivos, sem
expectativa de melhora
da ingestão
TNP: impossibilidade total ou
parcial de uso do TGI
Que dados da
TN devem ser
registrados?
Todos os dados coletados da
monitorização da TN devem
ser registrados em formulário
específico do SND e EMTN,
que será anexado ao
prontuário
Todos os dados coletados da
monitorização da TN devem
ser registrados em formulário
específico do SND e EMTN,
que será anexado ao
prontuário
Quando
suspender a
TN?
Como
programar o
desmame?
Na vigência de instabilidade
hemodinâmica
Na vigência de instabilidade
hemodinâmica
TNE via oral: quando a
ingestão oral permanecer
≥ 50% do VET calculado por
2-3 dias
TNE via sonda: quando a ingestão oral permanecer ≥ 30%
do VET calculado por 2-3 dias
TNP: quando o TGI estiver
funcionante
Quando a ingestão oral
permanecer ≥ 50% do VET
calculado por 2-3 dias ou
quando o paciente referir
satisfação
Cuidados ao Fim da
Vida
-
Conforme os parâmetros
consensuados por ASPEN 1998 e 2002
Considerar:
• Bem-estar físico e
mental do paciente/QV
• Satisfação do paciente
e seus cuidadores
Todos os dados coletados
da monitorização da TN
devem ser registrados
em formulário específico
do SND e EMTN, que
será anexado ao
prontuário
Na vigência de
instabilidade
hemodinâmica
Capítulo 4– Paciente Pediátrico em Cuidados Paliativos
4.4. SEGUIMENTO AMBULATORIAL
O acompanhamento e controle da sintomatologia apresentada pelo paciente é um fator
relevante para adequação da nutrição instituída (CORREA; SHIBUYA, 2007).
Devem ser acompanhados: a ingestão de alimentos, através do recordatório de 24 horas;
hábitos alimentares; alergias, aversões ou intolerâncias; interações entre drogas e nutrientes; hábitos
intestinais; além de sintomas relacionados ao TGI. Exames bioquímicos devem ser acompanhados
para avaliar a presença de distúrbios bioquímicos que possam influenciar negativamente o bem-estar
do paciente (por exemplo: uremia, hiper ou hipoglicemia etc.) (SARHILL et al., 2003; CORREA;
SHIBUYA, 2007).
A frequência do seguimento deve ser programada, sempre que possível, conforme estado
nutricional, condições clínicas e necessidades voluntárias da criança e/ou cuidador, não devendo
ultrapassar 30 dias.
O Quadro 32 apresenta as condutas consensuadas para seguimento ambulatorial do paciente
oncológico pediátrico em cuidados paliativos.
Quadro 32 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico pediátrico em cuidados
paliativos
Questão
Como deve
ser o
acompanhamento
da nutrição?
Com que frequência
esse paciente deve
ser acompanhado
pela nutrição?
Doença avançada
O acompanhamento deve ser
de forma a atingir os objetivos
já definidos na assistência
ao paciente internado nas
diferentes fases do cuidado
paliativo
Conforme o estado
nutricional, condições
clínicas e necessidades
voluntárias do paciente
pediátrico e/ou cuidador,
não devendo ultrapassar
30 dias
Disponibiliza-se, juntamente
com a equipe cuidadora,
para atendimento domiciliar
ou plantão telefônico
Todos os dados coletados
Quais são os
dados que devem na avaliação nutricional
ser registrados
do paciente, nas diferentes
durante o
fases do cuidado paliativo,
acompanhamento devem ser registrados no
da nutrição?
prontuário e/ou formulário
próprio do serviço
Doença Terminal
O acompanhamento deve
ser de forma a atingir os
objetivos já definidos na
assistência ao paciente
internado nas diferentes
fases do cuidado paliativo
Cuidados ao Fim da Vida
O acompanhamento deve
ser de forma a atingir os
objetivos já definidos na
assistência ao paciente
internado nas diferentes
fases do cuidado paliativo
Conforme o estado
nutricional, condições
clínicas e necessidades
voluntárias do paciente
pediátrico e/ou cuidador,
não devendo ultrapassar
30 dias
Disponibiliza-se, juntamente
com a equipe cuidadora,
para atendimento domiciliar
ou plantão telefônico
Todos os dados coletados
na avaliação nutricional
do paciente, nas diferentes
fases do cuidado paliativo,
devem ser registrados no
prontuário e/ou formulário
próprio do serviço
Disponibiliza-se,
junto com a equipe
cuidadora, para
atendimento domiciliar ou
plantão telefônico
Todos os dados coletados
na avaliação nutricional
do paciente, nas diferentes
fases do cuidado paliativo,
devem ser registrados no
prontuário e/ou formulário
próprio do serviço
105
106
Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
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CAPÍTULO 5
ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS PARA
SINAIS E SINTOMAS CAUSADOS PELA
TERAPIA ANTITUMORAL
Capítulo 5– Orientações Nutricionais para Sinais e Sintomas Causados pela Terapia Antitumoral
ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS PARA SINAIS E SINTOMAS CAUSADOS PELA TERAPIA
ANTITUMORAL
Pacientes em tratamento antitumoral apresentam vários sinais e sintomas que levam
à diminuição da ingestão diária de nutrientes que comprometem o estado nutricional. Durante o
tratamento antitumoral, os pacientes oncológicos podem evoluir para desnutrição moderada ou grave
e, cerca de 20% desses pacientes, morrem em decorrência da desnutrição e não da doença maligna
(OTTERY, 1994). A desnutrição leva ao aumento da morbimortalidade e da toxicidade causada pela
quimio e radioterapia, resultando em aumento no tempo de internação e dos custos hospitalares.
Tudo isso prejudica a condição geral do paciente e sua qualidade de vida (SENESSE et al., 2008).
Cerca de 60% dos pacientes com câncer são desnutridos e esse percentual aumenta para 81%
naqueles que estão em cuidados paliativos. Aproximadamente 70% apresenta alguma dificuldade
para se alimentar. Mais da metade dos pacientes necessita de aconselhamento nutricional e controle
dos sintomas que interferem na ingestão de alimentos e cerca de 30% necessitam de suplemento
nutricional (MARIN et al., 2008).
A perda de peso antes do diagnóstico da doença maligna atinge 31% a 87% dos pacientes
(DEWYS et al., 1980; CHUTE et al., 1985; WIGMORE et al., 1997; ANDREYEV et al., 1998).
No momento do diagnóstico, cerca de 80% dos pacientes com câncer de esôfago estão desnutridos
(KIRBY; TERAN 1998; LAVIANO et al., 1996; van BOKHORST et al., 1997), 85% dos pacientes
com câncer gástrico ou pancreático apresentam perda de peso e 30% estão desnutridos de maneira
grave (DEWYS et al., 1980).
Alguns estudos investigaram a prevalência da desnutrição e sua correlação com a presença
de efeitos colaterais em pacientes oncológicos em tratamento adjuvante ou neoadjuvante. Um
recente estudo multicêntrico envolvendo 65 hospitais e 561 pacientes submetidos a tratamento
adjuvante mostrou que 90,7% apresentavam perda de peso. Esse mesmo estudo constatou que 96,4%
apresentavam complicações nutricionais tais como anorexia (70,9%), transtornos gastrointestinais
(32,6%), disgeusia (40,5%) e disfagia, entre outros (SAN ORTIZ et al., 2008). Em outro estudo
multicêntrico, Bozzeti (no prelo) avaliou 1.000 pacientes com câncer em 17 centros da Europa e
encontrou perda significativa de peso (igual ou maior do que 10%) em 39,7% e risco nutricional
em 33,8%. A perda de peso mais acentuada ocorreu em pacientes com câncer avançado e do trato
gastrointestinal alto. Nessa casuística, 54% dos casos apresentavam anorexia, 39% referiam náuseas/
vômitos, 33% disgeusia/disosmia, 23% relataram disfagia/odinofagia, 50% apresentaram diarreia e
41% saciedade precoce.
Outras complicações da terapia antitumoral, tais como trismo, xerostomia, enterite e mucosite,
também podem estar presentes. Trismo é uma complicação frequente (5%-38%) nos pacientes em
tratamento para câncer de cabeça e pescoço (DIJKSTRA et al., 2004; BENCHALAL et al., 1995;
BERTRAND et al., 2000). Rieger e colaboradores (2006), em uma revisão da literatura, mostraram
um prejuízo da qualidade de vida em pacientes com câncer de cabeça. Esses pacientes apresentaram,
frequentemente, xerostomia, restrições dietéticas, disfagia e dificuldades para comer em público. A
xerostomia foi relatada como o sintoma com maior tempo de duração.
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Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
A enterite é muito frequente (25%-75%) em pacientes com tratamento radioterápico para
câncer pélvico ou abdominal (YAVUZ et al., 2002; MARTENSON et al., 2000). A forma aguda
aparece logo após a seção de radioterapia e desaparece após a segunda ou terceira semana (YEOH
& HOROWITZ 1987). Diarreia, tenesmo e sangramento retal geralmente estão presentes quando a
radioterapia está associada à quimioterapia (MINSKY et al., 1991; BOSSET et al., 2006; BOSSET
et al., 2005).
Outro problema é a neutropenia, que está associada ao aumento de infecções. Infecções
oportunistas, incluindo as causadas por alimentos, podem ocorrer no período em que os pacientes
estão imunodeprimidos. As práticas adequadas, como a higienização, o armazenamento e a cocção
dos alimentos, podem controlar o aparecimento de doenças e infecções. A orientação adequada ao
paciente quanto aos cuidados com a dieta e com os alimentos que devem ser ingeridos e restringidos
é imprescindível nessa fase de imunodepressão (MEDEIROS et al., 2004).
A quimioterapia e a radioterapia resultam em toxicidade para o trato gastrointestinal, com o
surgimento de efeitos colaterais tais como anorexia, náuseas, vômitos, disgeusia, mucosite, diarreia,
xerostomia, entre outros. A ingestão oral nesses pacientes é frequentemente insatisfatória. Portanto,
a intervenção nutricional através da orientação dietética e da prescrição de suplementos é necessária
para todos esses pacientes (ASPEN – NUTRITION SUPPORT CORE CURRICULUM, 2007).
Pequenas e constantes modificações, como aumento da densidade calórica na dieta e uso de
suplementos nutricionais, devem ser encorajadas para aumentar a ingestão. Vários estudos mostraram
que o aconselhamento nutricional melhora a ingestão e a qualidade de vida dos pacientes com câncer
(RAVASCO et al.,2003; ISENRING et al., 2004; RAVASCO et al., 2005a; BAUER; CAPRA 2005).
Ravasco et al. (2005b), em estudo randomizado com pacientes portadores de câncer de cabeça e
pescoço submetidos à radioterapia, encontraram uma melhora na ingestão de calorias e proteínas no
grupo que recebeu orientação nutricional versus pacientes sem intervenção que tiveram uma piora
na qualidade de vida. Houve uma redução de 91% na incidência da anorexia, náuseas, vômitos,
xerostomia e disgeusia no grupo que recebeu orientação nutricional.
Nos Quadros 33 a 45 estão listadas as recomendações nutricionais que podem auxiliar no
controle dos sinais e/ou sintomas causados pela terapia antitumoral.
Capítulo 5– Orientações Nutricionais para Sinais e Sintomas Causados pela Terapia Antitumoral
Quadro 33 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional na anorexia
Sinais e sintomas
Anorexia
Condutas
• Conscientizar o paciente da necessidade de comer apesar da inapetência
• Ajustar a ingestão atual para o ideal
• Modificar a consistência da dieta conforme a aceitação do paciente
• Aumentar o fracionamento da dieta e reduzir o volume por refeição,
oferecendo de 6 a 8 refeições ao dia
• Aumentar a densidade calórica das refeições
• Quando necessário, utilizar complementos nutricionais hipercalóricos ou hiperproteicos
• Orientar o paciente a:
- Dar preferência a alimentos umedecidos
- Adicionar caldos e molhos às preparações
- Aumentar a variedade de legumes e carnes nas preparações
- Utilizar temperos naturais nas preparações
Quadro 34 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento de
disgeusia e disosmia
Sinais e sintomas
Disgeusia e disosmia
Condutas
• Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar da disgeusia e disosmia
• Estimular a ingestão de alimentos mais prazerosos
• Aumentar o fracionamento da dieta e reduzir o volume por refeição,
oferecendo de 6 a 8 refeições ao dia
• Modificar a consistência dos alimentos conforme aceitação, liquidificando-os
quando necessário
• Quando necessário, utilizar complementos nutricionais com flavorizantes e aromas
• Orientar o paciente a:
- Preparar pratos visualmente agradáveis e coloridos
- Lembrar do sabor dos alimentos antes de ingeri-los
- Dar preferência a alimentos com sabores mais fortes
- Utilizar ervas aromáticas e condimentos nas preparações
Quadro 35 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento de
náuseas e vômitos
Sinais e sintomas
Náuseas e vômitos
Condutas
• Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar das náuseas e vômitos.
• Aumentar o fracionamento da dieta e reduzir o volume por refeição,
oferecendo de 6 a 8 refeições ao dia
• Dar preferência a alimentos mais secos
• Dar preferência a alimentos de consistência branda
• Orientar o paciente a:
- Preparar pratos visualmente agradáveis e coloridos
- Evitar jejuns prolongados
- Mastigar ou chupar gelo 40 minutos antes das refeições
- Evitar preparações que contenham frituras e alimentos gordurosos
- Evitar preparações com temperaturas extremas
- Evitar preparações e alimentos muito doces
- Evitar beber líquidos durante as refeições, utilizando-os em pequenas
quantidades nos intervalos
- Manter cabeceira elevada (45°) durante e após as refeições
- Realizar as refeições em locais arejados, evitando locais que tenham odores fortes
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Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Quadro 36 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento da
xerostomia
Sinais e sintomas
Xerostomia
Condutas
• Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar da xerostomia
• Estimular a ingestão de alimentos mais prazerosos
• Adequar os alimentos conforme aceitação, ajustando a consistência
• Quando necessário, utilizar complementos nutricionais industrializados com
flavorizantes cítricos
• Orientar o paciente a:
- Dar preferência a alimentos umedecidos
- Preparar pratos visualmente agradáveis e coloridos
- Utilizar gotas de limão nas saladas e bebidas
- Ingerir líquidos junto com as refeições para facilitar a mastigação e deglutição
- Adicionar caldos e molhos às preparações
- Dar preferência a alimentos umedecidos
- Usar ervas aromáticas como tempero nas preparações, evitando sal e
condimentos em excesso
- Mastigar e chupar gelo feito de água, água de coco e suco de fruta adoçado
Quadro 37 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento de
mucosite e úlceras orais
Sinais e sintomas
Mucosite e úlceras orais
Condutas
• Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar de mucosite e úlceras
orais
• Modificar a consistência da dieta de acordo com o grau de mucosite (grau I, II, III)
• Orientar o paciente a:
- Evitar alimentos secos, duros ou picantes
- Utilizar alimentos à temperatura ambiente, fria ou gelada
- Diminuir o sal das preparações
- Consumir alimentos mais macios e pastosos
- Evitar vegetais frescos crus
- Evitar líquidos e temperos abrasivos
Quadro 38 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento da
disfagia
Sinais e sintomas
Disfagia
Condutas
• Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar da disfagia
• Modificar a consistência da dieta conforme aceitação, de acordo com as
orientações do fonoaudiólogo e a capacidade do paciente
• Em caso de disfagia a líquidos, semilíquidos e pastosos, indicar o uso de
espessantes
• Em caso de disfagia a alimentos sólidos, orientar o paciente a ingerir pequenos
volumes de líquidos junto às refeições para facilitar a mastigação e deglutição
• Orientar o paciente a:
- Evitar alimentos secos
- Dar preferência a alimentos umedecidos
- Usar preparações de fácil mastigação/deglutição, conforme tolerância
Capítulo 5– Orientações Nutricionais para Sinais e Sintomas Causados pela Terapia Antitumoral
Quadro 39 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento da
odinofagia e esofagite
Sinais e sintomas
Odinofagia
Esofagite
Condutas
• Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar da odinofagia
• Modificar a consistência da dieta de acordo com a aceitação do paciente (intensidade da dor)
• Aumentar o fracionamento da dieta e reduzir o volume por refeição, oferecendo
de 6 a 8 refeições ao dia
• Quando necessário, utilizar complementos nutricionais com flavorizantes não cítricos
• Orientar o paciente a:
- Evitar alimentos secos e duros
- Utilizar alimentos em temperatura ambiente
- Utilizar dieta hipolipídica
- Diminuir o sal das preparações
- Dar preferência a alimentos na consistência pastosa (carnes macias, bem
cozidas, picadas, desfiadas ou moídas) ou liquidificados
- Usar papas de frutas e sucos não ácidos
- Mastigar bem os alimentos evitando a aerofagia
- Evitar condimentos ácidos que possam irritar a mucosa
• Modificar a consistência da dieta de acordo com a aceitação do paciente (intensidade da dor)
• Aumentar o fracionamento da dieta e reduzir o volume por refeição, oferecendo
de 6 a 8 refeições ao dia
• Quando necessário, utilizar complementos nutricionais com flavorizantes não cítricos
• Orientar o paciente a:
- Evitar alimentos secos e duros
- Utilizar alimentos em temperatura ambiente
- Utilizar dieta hipolipídica e pobre em fibras insolúveis
- Diminuir o sal das preparações
- Dar preferência a alimentos na consistência pastosa (carnes macias, bem
cozidas, picadas, desfiadas ou moídas) ou liquidificados
- Usar papas de frutas e sucos não ácidos
- Mastigar bem os alimentos evitando a aerofagia
- Manter cabeceira elevada (45°) durante e após as refeições
- Evitar a ingestão de café, bebidas alcoólicas, refrigerantes ou qualquer bebida gaseificada
- Evitar condimentos ácidos que possam irritar a mucosa
Quadro 40 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento da
saciedade precoce
Sinais e sintomas
Saciedade precoce
Condutas
• Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar da saciedade precoce
• Modificar a consistência da dieta, se necessário, dando preferência a alimentos abrandados
• Aumentar o fracionamento da dieta e reduzir o volume por refeição, oferecendo
de 6 a 8 refeições ao dia
• Aumentar a densidade calórica das refeições
• Orientar o paciente a:
- Dar preferência à ingestão de legumes cozidos e frutas sem casca e bagaço
-Priorizar sucos mistos de legumes com frutas, ao invés de ingerir separadamente na forma in natura
-Dar preferência à ingestão de grãos em geral liquidificados ou somente o
caldo da preparação destes
-Não ingerir líquidos durante as refeições
-Utilizar ervas aromáticas e condimentos nas preparações
-Diminuir o sal das preparações
-Utilizar carnes magras, cozidas, picadas, desfiadas ou moídas
-Evitar alimentos e preparações hiperlipídicas
-Manter cabeceira elevada (45°) durante e após as refeições
-Evitar a ingestão de café, bebidas alcoólicas, refrigerantes ou qualquer bebida gaseificada
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Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
Quadro 41 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento do
trismo
Sinais e sintomas
Trismo
Condutas
• Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar do trismo
• Adequar a consistência dos alimentos de acordo com a aceitação do paciente
• Utilizar artifícios para facilitar a ingestão (canudos, seringas, colheres, squeezes/
garrafa tipo atleta)
Quadro 42 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento da
enterite
Sinais e sintomas
Enterite
Condutas
• Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar da enterite
• Aumentar o fracionamento da dieta e reduzir o volume por refeição, oferecendo
de 6 a 8 refeições ao dia
• Progredir a consistência e conteúdo da dieta conforme melhora clínica do paciente
• Orientar a ingestão adequada de líquidos (volume e tipo)
• Quando necessário, utilizar complementos nutricionais com fórmula pobre em
resíduo, isenta de glúten, lactose e sacarose
• Orientar o paciente a:
-Utilizar dieta pobre em resíduos, glúten e sacarose
-Utilizar dieta isenta de lactose, teína e cafeína
-Utilizar dieta pobre em fibras insolúveis e adequada em fibras solúveis
Quadro 43 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento da
diarreia
Sinais e sintomas
Diarreia
Condutas
• Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar da diarreia
• Aumentar o fracionamento da dieta e reduzir o volume por refeição, oferecendo
de 6 a 8 refeições ao dia
• Avaliar a necessidade de restrição de lactose, sacarose, glúten, cafeína e teína
• Considerar o uso de prebiótico, probiótico ou simbiótico
• Orientar o paciente a:
-Evitar alimentos flatulentos e hiperosmolares
-Utilizar dieta pobre em fibras insolúveis e adequada em fibras solúveis
-Ingerir líquidos isotônicos entre as refeições, em volumes proporcionais às
perdas
Quadro 44 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento da
constipação intestinal
Sinais e sintomas
Constipação intestinal
Condutas
• Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar da constipação intestinal
• Orientar a ingestão de alimentos ricos em fibras e com características laxativas
• Considerar o uso de prebiótico, probiótico ou simbiótico
• Considerar a utilização de módulo fibra dietética mista
• Estimular a ingestão hídrica conforme recomendações
Capítulo 5– Orientações Nutricionais para Sinais e Sintomas Causados pela Terapia Antitumoral
Quadro 45 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento da
neutropenia
Sinais e sintomas
Neutropenia
Condutas
Neutropenia moderada (neutrófilos entre 1.500 e 500 células/mm3):
• Não se recomenda o uso de probióticos
• Orientar o paciente a:
-Higienizar frutas e verduras com sanitizantes
-Utilizar água potável filtrada ou fervida
-Ingerir apenas frutas de casca grossa, consumindo apenas a polpa
-Ingerir frutas de casca fina somente cozidas
-Ingerir vegetais, condimentos, oleaginosas e grãos somente coccionados
-Ingerir leites e derivados somente pasteurizados
-Ingerir carnes e ovos somente bem coccionados
-Utilizar preparações produzidas por estabelecimentos que tenham todos os
cuidados adequados à segurança alimentar
Neutropenia grave (neutrófilos < 500 células/mm3):
• Orientar a utilização de dieta “baixa bactéria” (alimentos bem coccionados)
• Não se recomenda o uso de probióticos
• Orientar o paciente a:
-Ingerir alimentos processados em embalagens individuais
-Utilizar preparações produzidas por estabelecimentos que tenham todos os
cuidados adequados à segurança alimentar
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Consenso Nacional de Nutrição Oncológica
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este documento, elaborado por dezenas de profissionais, é o primeiro consenso em nutrição
produzido no Brasil. Ele possibilitará discussões que envolvam a assistência nutricional ao indivíduo
com câncer, dando-se, assim, o primeiro passo para a construção da Rede de Atenção Nutricional em
Oncologia.
O desenvolvimento deste consenso possibilitou o fortalecimento das relações entre
profissionais e organizações, que frutificarão na criação de protocolos e projetos multicêntricos,
envolvendo as áreas de Nutrição e Oncologia.
O conteúdo deste documento descreve, em linhas gerais, a assistência nutricional do paciente
adulto e do paciente pediátrico com câncer nas diferentes fases da doença e do tratamento. Contemplouse, também, o indivíduo com doença avançada, terminal e ao final da vida, adulto e pediátrico, para
os quais a atenção nutricional continua fazendo parte da terapêutica oncológica.
O objetivo deste trabalho é garantir, em nosso país, de dimensões continentais, a equidade e
qualidade da assistência nutricional ao paciente oncológico.
Algumas discussões, tais como o uso de imunomoduladores e a assistência nutricional aos
pacientes oncológicos críticos adultos e pediátricos, não foram abordadas nesta primeira etapa de
construção. Para tal, ao longo dos próximos anos iremos constituir grupos de discussão sobre esses
temas, que serão levados à votação em fóruns nacionais.
As etapas seguintes incluem divulgação, implementação das ações consensuadas
nas instituições envolvidas com a criação deste documento e a criação de um grupo de revisão
permanente.
A assistência ao paciente oncológico é interdisciplinar e será necessário envolver outros
especialistas na revisão deste documento, para que, desse modo, haja plenitude na atenção ao
indivíduo portador de câncer.
Tentamos envolver profissionais e instituições que pudessem de fato representar a assistência
nutricional em oncologia no Brasil. Socializamos todas as discussões e demos oportunidade a todos,
com o mesmo nível de participação.
Este documento certamente contribuirá para a melhor definição das políticas públicas que
envolvem a atenção ao paciente com câncer no Brasil.
Nivaldo Barroso de Pinho
Facilitador Nacional do Consenso Nacional em Nutrição Oncológica
Chefe do Serviço de Nutrição do Hospital do Câncer I/INCA
GLOSSÁRIO
Aerofagia – hábito de deglutir o ar, que surge em algumas pessoas, especialmente as que sofrem de dispepsia
ou de certos estados.
Alimentos processados - alimentos produzidos pelo homem através de matéria-prima conseguida muitas
vezes pela natureza.
Anamnese nutricional - consiste na coleta de dados antropométricos, bioquímicos e consumo alimentar,
através de inquéritos alimentares; além de dados psicossocioeconômicos, hábitos alimentares e culturais.
Anamnese alimentar - coleta detalhada de informações sobre hábitos alimentares, picas, alergias ou
intolerâncias, presença de náuseas, vômitos, obstipação, diarreia, lesões orais, distúrbios de mastigação ou
deglutição, alterações de peso, uso de medicamentos ou suplementos, nível de atividade física: além de dados
psicossocioeconômicos e culturais relacionados com a aquisição e o preparo de alimentos.
Anorexia - falta fisiopatológica de apetite, acompanhada de uma aversão a comida e inabilidade em comer.
Sinônimo de inapetência.
Avaliação Subjetiva Global (ASG) - método que combina informações relativas a alterações alimentares
(ingestão, digestão e absorção) e seus efeitos na composição corporal e capacidade funcional, com base na
história clínica e exame físico do paciente.
Avaliação nutricional - envolve avaliação clínica e do consumo alimentar, acrescida de dados laboratoriais
que revelem a deficiência de nutrientes específicos ou a gravidade da enfermidade.
Balanço Nitrogenado (BN) – o BN é a medida da ingestão de nitrogênio, presente nas proteínas, menos
o nitrogênio excretado ou perdido (urina, fezes e outras perdas) pelo organismo durante um determinado
tempo, geralmente um período de 24 horas. Assim, o BN resulta da diferença entre o nitrogênio ingerido e o
nitrogênio excretado.
Caloria - segundo o sistema internacional de unidades, 1 caloria equivale a 4,18 joules; a quantidade de calor
necessária para elevar em 1 grau Celsius a temperatura de 1 mililitro de água.
Constipação intestinal - progressão lenta da matéria fecal no intestino grosso, acompanhada em geral do
acúmulo de grande quantidade de fezes secas e duras do cólon descendente, devido ao tempo disponível para
a reabsorção de água.
Cuidados ao fim da vida - oferecimento de um adequado controle dos sintomas que geram sofrimento para o
paciente, independente da possibilidade de cura, que já não existe mais nos casos de doença avançada.
Cuidados paliativos - são os cuidados totais ativos aos pacientes, cuja doença não responde a tratamento
curativo, sendo fundamental o controle da dor, de outros sintomas e de problemas psicológicos, sociais e
espirituais.
Dados clínicos - informações obtidas através da observação clínica; relativos aos sintomas apresentados.
Dados dietéticos - informações sobre a dieta e a alimentação de pessoas ou grupos de pessoas.
Diarreia – a diarreia consiste no aumento do número de evacuações e/ou a presença de fezes amolecidas ou
até líquidas nas evacuações.
Dieta pobre em resíduo – resíduo refere-se a elementos dietéticos não absorvidos e os conteúdos lumiais
totais presentes após a digestão. Os alimentos que contêm resíduos tendem a aumentar o resíduo fecal e o peso
das fezes. Dieta restrita em resíduo pode ser considerada aquela que contém menos do que 20 g de fibras por
dia.
Disfagia – dificuldade em deglutir ou uma sensação de comida “presa” na garganta ou no esôfago.
Disgeusia – ausência no sentido do paladar.
Disosmia – perturbação do olfato.
Doença avançada – doença que se aproxima da fase terminal.
Doença terminal – uma doença ou estado no qual a morte é possível ou iminente.
Enterite – inflamação de qualquer segmento do intestino delgado.
Esofagite – inflamação aguda ou crônica do esôfago, causada por bactérias, químicos ou trauma.
Espessantes – substância capaz de aumentar a viscosidade de soluções, emulsões e suspensões.
Estresse moderado – processo patológico resultante de uma reação do corpo a forças externas e condições
anormais que alteram a homeostase do organismo, de intensidade moderada.
Fibras insolúveis – parte comestível das plantas ou carbo-hidratos análogos, insolúveis em água, resistentes
à digestão e à absorção no intestino delgado de humanos, com fermentação completa ou parcial no intestino
grosso.
Fibras solúveis – parte comestível das plantas ou carbo-hidratos análogos, solúveis em água, resistentes à
digestão e à absorção no intestino delgado de humanos, com fermentação completa ou parcial no intestino
grosso.
Flavorizantes – flavorizante é qualquer substância que confere ou intensifica o sabor e o aroma dos alimentos.
Glúten – glúten é a principal proteína presente no trigo, aveia, centeio, cevada e no malte (subproduto da
cevada), cereais amplamente utilizados na composição de alimentos, medicamentos, bebidas industrializadas,
assim como cosméticos e outros produtos não ingeríveis.
Hiperlipídicas – hiper: prefixo de origem grega que significa acima e indica um excesso, um aumento ou uma
posição superior; com maior quantidade de lipídeos.
Hipolipídica – hipo: prefixo de origem grega que significa abaixo e indica insuficiência, diminuição ou
posição inferior; com menor quantidade de lipídeos.
Inapetência – falta fisiopatológica de apetite, acompanhada de uma aversão a comida e inabilidade em comer.
Sinônimo de anorexia.
Iso-osmolar – do grego ísos, igual; de mesma osmolaridade.
Jejum – estado de privação de alimento sólido ou líquido durante um tempo determinado.
Lactose – dissacarídeo, composto por glicose e galactose, presente no leite.
Mucosite – inflamação da mucosa com sensação de queimação ou de prurido.
Náuseas – sensação de enjoo.
Necessidades nutricionais – quantidades de várias substâncias necessárias na alimentação de um organismo
para sustentar uma vida saudável.
Neutropenia – redução do número de granulócitos. Algumas vezes a redução nos neutrófilos circulantes é
acentuada e tem repercussões graves porque predispõe a infecções.
Obeso – indivíduo com o Índice de Massa Corporal (IMC) superior ou igual a 30kg/m².
Odinofagia – dor ao deglutir.
Oleaginosa – são frutas que contêm, aproximadamente, 60% de lipídeos na sua composição.
Parâmetros antropométricos – medidas de peso, tamanho e proporções do corpo humano.
Parâmetros bioquímicos – medidas de substâncias que permitem avaliar as funções de órgãos ou tecidos.
Pasteurizados – que sofreram pasteurização. A pasteurização é um tratamento térmico que elimina os microorganismos termossensíveis (todos os patogênicos e outros não esporulados) existentes no alimento.
Prebiótico – componentes alimentares não digeríveis que afetam beneficamente o hospedeiro, por estimularem seletivamente a proliferação ou atividade de populações de bactérias desejáveis no cólon.
Probiótico – os probióticos são micro-organismos vivos, administrados em quantidades adequadas, que conferem benefícios à saúde do hospedeiro.
Proteólise – processo de degradação enzimática de proteínas.
Qualidade de vida – qualidade de vida é um termo empregado para descrever a qualidade das condições de
vida, levando em consideração fatores como a saúde, a educação, o bem-estar físico, psicológico, emocional
e mental, e a expectativa de vida. A qualidade de vida envolve também elementos não relacionados, como a
família, amigos, emprego ou outras circunstâncias da vida.
Quimioterapia – a quimioterapia é o método que utiliza compostos químicos, chamados quimioterápicos,
no tratamento de doenças causadas por agentes biológicos. Quando aplicada ao câncer, a quimioterapia é
chamada de quimioterapia antineoplásica ou quimioterapia antiblástica.
Radioterapia – a radioterapia é um método capaz de destruir células tumorais, empregando feixe de radiações
ionizantes.
Resposta imunológica – reação do sistema imunológico diante de agentes agressores.
Risco nutricional – considera-se qualquer fator que já comprometeu ou que possa comprometer o bom estado
nutricional.
Sacarose – dissacarídeo, composto por glicose e frutose, presente naturalmente em frutas, vegetais e mel.
Simbiótico – aquele no qual um probiótico e um prebiótico estão combinados.
Temperatura ambiente – estado do ambiente que se manifesta no ar e nos corpos em forma de calor, em uma
gradação que flutua entre dois extremos que, convencionalmente, se denominam: quente e frio.
Terapia nutricional – melhoramento do estado de saúde de um indivíduo mediante o ajuste da quantidade,
qualidade e dos métodos de ingestão de nutrientes.
Terapia nutricional por sonda – fornecimento de nutrientes líquidos através de sondas, diretamente para o
trato gastrointestinal.
Terapia nutricional parenteral – consiste em suprir a necessidade nutricional total ou parcial por via venosa.
Trismo - impossibilidade de abrir a boca, devido à contração espasmódica dos músculos mastigadores.
Úlceras orais – área de escoriação na mucosa oral (boca) causada pela ação digestiva de substância irritante,
corrosiva.
Vômitos – eliminação, após esforço, de material contido no tubo digestivo.
Xerostomia – ressecamento anormal da mucosa da boca.
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