CONSENSO NACIONAL DE NUTRIÇÃO ONCOLÓGICA 2009 Ministério da Saúde. Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial. Esta obra pode ser acessada, na íntegra, na Área Temática Controle de Câncer da Biblioteca Virtual em Saúde - BVS/MS (http://bvsms.saude.gov.br/bvs/controle_cancer) e no Portal do INCA (http://www.inca.gov.br) Tiragem: 5.000 exemplares Criação, Informação e Distribuição MINISTÉRIO DA SAÚDE Instituto Nacional de Câncer (INCA) Praça Cruz Vermelha, 23 – Centro 20231-130 - Rio de Janeiro – RJ www.inca.gov.br Realização Coordenação de Assistência (COAS) Hospital do Câncer I (HC I) Serviço de Nutrição e Dietética Praça Cruz Vermelha, 23 – 5o andar - Centro 20231-130 - Rio de Janeiro – RJ - Tel.: (21) 2506-6232 Edição Coordenação de Educação (CEDC) Serviço de Edição e Informação Técnico-Científica Rua do Rezende, 128 - Centro 20230-092 - Rio de Janeiro – RJ - Tel.: (21) 3970-7818 Impressão ESDEVA Impresso no Brasil / Printed in Brazil B823c Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Consenso nacional de nutrição oncológica. / Instituto Nacional de Câncer. – Rio de Janeiro: INCA, 2009. 126 p. ISBN 978-85-7318-154-8 1. Nutrição. 2. Neoplasias. 3. Desnutrição Calórica. 4. Consenso. I. Título. CDD 613.6 Catalogação na fonte – Seção de Bibliotecas MINISTÉRIO DA SAÚDE Instituto Nacional de Câncer - INCA CONSENSO NACIONAL DE NUTRIÇÃO ONCOLÓGICA Rio de Janeiro, RJ 2009 Supervisão Editorial Letícia Casado Produção Editorial Taís Facina Revisão ATO Training and Translation Center Capa, Projeto Gráfico e Diagramação Cecília Pachá Normalização Bibliográfica Eliana Rosa Fonseca – Bibliotecária Esther Rocha – Estagiária de Biblioteconomia FACILITADOR NACIONAL DO INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER Nut. Nivaldo Barroso de Pinho COFACILITADORA NACIONAL DO INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER Nut. Analucia Gomes Lopes Oliveira COFACILITADORES DO INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER Nut. Adriana Santos Nut. Analucia Gomes Lopes Oliveira Nut. Cristiane Feldman Fidalgo Pereira Nut. Giovanna Borges Damião Faillace Nut. Lúcia da Cunha Sampaio Nut. Mônica Santos Mello Nut. Nádia Dias Gruezo Nut. Rosilene Lima Pinheiro Nut. Viviane Dias Rodrigues GRUPO DE EDIÇÃO DO INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER Coordenadora de temas relacionados a paciente adulto Nut. Ana Maria dos Santos Moreira Coordenadora de temas relacionados a paciente pediátrico Nut. Luciana da Silva Marques Grupo Nut. Adriana Moreira Villas-Bôas dos Santos Nut. Ana Cristina de Souza Batalha da Silva Nut. Eliane Maria Pessôa Nut. Fabiana Félix Cavalcante Nut. Francilene Souza Almeida Nut. Ilka Fernandes Chaves Nut. João da Silva Almeida Nut. Márcia Ferreira Cordeiro Nut. Margareth Sardinha Linhares Nut. Maria Izabel Delfraro Pinto Nunes Nut. Patrícia Moreira Feijó Nut. Paula Cristina Moço Cascais Nut. Salim Soares da Silva APOIO NACIONAL Associação Médica Brasileira – Dr. José Luiz Gomes do Amaral Conselho Federal de Nutricionista – Nut. Nelcy Ferreira da Silva GANEP Nutrição Humana – Dr. Dan Linetzky Weitzberg NOVARTIS (Divisão de Oncologia) – Nut. Yara Baxter Sociedade Brasileira de Cancerologia – Dr. Roberto Porto Fonseca Sociedade Brasileira de Enfermagem Oncológica – Enf. Ângela Cóe Camargo da Silva Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral: Dr. José Vicente Spolidoro Dra. Maria Cristina Gonzalez Dra. Valéria Abrahão Dias Teixeira Nut. Diana Borges Dock Nascimento Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica – Dr. José Getúlio Martins Segalla NESTLÉ HealthCare Nutrition: Nut. Ana Luiza Reis Nut. Ângela Benedetti Nut. Carina Sande Nut. Cláudia Magalhães Nut. Débora Tauil Nut. Elisângela Pedreira Farm. Gabriela Lozi Nut. Janaína Gomes Nut. Luciana Bassoto Nut. Luciana Mottin Ferras Nut. Mônica Meale Farm. Renata Vasconcelos Publicitária – Tamara Araújo APOIO INTERNACIONAL Federação Latino-americana de Nutrição Parenteral e Enteral – Dr. Rafael Figueredo Grijalba Instituto Português de Oncologia do Porto: • Nut. Inês Saraiva • Nut. Laura Ribeiro • Nut. Maria Paula Castro Ferreira Alves Hospital de São João (Unidade de Oncologia – Portugal) – Nut. Sandra Marília Silva Royal University Hospital – Nut. Natasha Haskey St. Paul’s Hospital – Nut. Luiza Kent Smith LÍDERES REGIONAIS Hospital Araújo Jorge/Associação de Combate ao Câncer de Goiás – Nut. Carmen Isabel Ligoski Dal’Astra GANEP (São Paulo/SP) – Nut. Gabriela P. C. Oliveira Hospital Universitário Pedro Ernesto (Rio de Janeiro/RJ) – Nut. Ivany Alves Castanho Hospital das Clínicas de Porto Alegre (Porto Alegre/RS) – Nut. Luciane Beitler da Cruz Hospital Aristides Maltez/Liga Baiana Contra o Câncer (Salvador/BA) – Nut. Maria Lúcia Varjão da Costa Centro Infantil Boldrini (Campinas/SP) – Nut. Wanélia Vieira Afonso INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES REGIÃO SUDESTE AFECC/Hospital Santa Rita de Cássia – Nut. Flayda da Rocha Magalhães Santana ASCOMCER /Hospital Maria José Beata Reis – Nut. Carla Amaral Caetano de Castro Centro Infantil Boldrini – Nut. Wanélia Vieira Afonso Conjunto Hospitalar de Sorocaba – Nut. Ana Célia Amaral Ayres Dellosso Conselho Federal de Nutricionistas/ Região Sudeste – Nut. Wanise Maria de Souza Cruz GANEP Nutrição Humana – Nut. Gabriela Oliveira Instituto Annes Dias – Nut. Márcia Regina Cardoso Coelho Instituto Nacional de Câncer: Nut. Viviane Dias Rodrigues Nut. Analucia Gomes Lopes Oliveira Instituto Oncológico/Hospital 9 de Julho – Nut. Karina Junqueira de Souza Hospital A.C. Camargo – Nut. Edna Shibuya Hospital Copa D’Or – Nut. Danielle Mello Hospital das Clínicas de São Paulo – Nut. Maria Carolina Gonçalves Dias Hospital das Clínicas da UFMG – Nut. Maria Cristina Cassiano de Oliveira Hospital de Clínicas da Unicamp – Nut. Harumi Kinchoku Hospital do Andaraí – Nut. Ágata Costa Lauria Pinto Hospital Estadual Albert Schweitzer – Nut. Maristela de Souza Araújo da Cunha Hospital Quinta D’Or – Nut. Luciana Vieira Neves Hospital Santa Helena/UNIMED Paulistana – Nut. Sheila Mittelstaedt Pasquarelli Hospital Universitário Antônio Pedro – Nut. Ana Paula Black Veiga Hospital Universitário Pedro Ernesto – Nut. Ivany Alves Castanho REGIÕES NORTE E NORDESTE Associação Piauiense de Combate ao Câncer/Hospital São Marcos – Nut. Izabella Fontenelle de Menezes Freitas CEOC (Centro de Oncologia de Caruaru) – Nut. Ione Regina Ferreira Conselho Federal de Nutricionistas/Regiões Norte e Nordeste – Nut. Ana Maria Calábria Cardoso Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas – Nut. Edla Antunes Falcão Hospital Aliança da Bahia – Nut. Nely Baima Rabelo da Cunha Hospital Aristides Maltez/ Liga Baiana Contra o Câncer – Nut. Maria Lúcia Varjão da Costa Hospital de Urgências de Sergipe – Nut. Virgínia Gavazza Hospital do Câncer de Pernambuco – Nut. Isabel Cristina Leal Hospital Dr. Luiz Antônio/Liga Norte Riograndense Contra o Câncer – Nut. Maria Amélia Marques Dantas Hospital Ophir Loyola – Nut.Vera Lúcia Cardoso Fontenelle Hospital Universitário Walter Cantídio da UFC – Nut. Ana Filomena Camacho Santos Daltro IMIP – Nut. Ana Paula Gomes Ribeiro Núcleo de Oncologia da Bahia – Nut. Alice Pinho Sociedade Brasileira de Cancerologia – Dr. Robson Freitas de Moura REGIÃO SUL Centro de Pesquisas Oncológicas (CEPON) – Nut. Maria Emília de Souza Fabre Hospital de Clínicas de Porto Alegre – Nut. Luciane Beitler da Cruz Hospital Erasto Gaertner – Nut. Ana Cristina Matioski Hospital Geral de Caxias do Sul (FUCS) – Nut. Carin Weirich Gallon Hospital Nossa Senhora da Conceição – Nut. Lisiane Segabinazzi Hospital Santa Rita/Complexo da Santa Casa de Porto Alegre – Nut. Kátia Cilene Janz Hospital São Lucas da PUCRS – Nut. Marina Watte Hospital São Vicente de Paulo/Sociedade Hospitalar Beneficente – Nut. Ruth de Oliveira Polita Instituto de Câncer de Londrina – Nut. Vera Lúcia Tsutida Inoue REGIÃO CENTRO-OESTE Hospital Araújo Jorge/Associação de Combate ao Câncer de Goiás – Nut. Carmen Isabel Ligoski Dal’Astra Hospital do Câncer/Fundação Carmen Prudente – Nut.Tatiana Rocha Peres Hospital do Câncer de Cuiabá/Associação Matogrossense de Combate ao Câncer – Nut. Solange Maria de Moura COLABORADORES REGIÃO SUDESTE Centro de Atenção Integral a Saúde da Mulher/UNICAMP – Nut. Maria Éster Januário Clínica Oncomed – Centro de Prevenção e Tratamento de Doenças Neoplásicas – Nut. Kelly Cristine Gurgel Araújo EMTN do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo – Dra. Maria de Lourdes Teixeira da Silva Hospital das Clínicas de Marília – Nut. Mércia Santana Mattos Hospital Santa Catarina – Nut. Karina Guedes de Oliveira Hospital Sírio Libanês – Nut. Jamile Lacerda Instituto de Radiologia – Nut. Manuela Ferreira Alves Hospital Badim – Nut. Ana Paula Dames Hospital Cardiobarra Clínicas – Nut. Caroline Santos da Rocha Hospital da Lagoa – Nut. Fabiana Ferreira Martins Hospital da Piedade – Nut. Alessandra Pascoal Campos Hospital Geral de Bonsucesso – Nut. Fernanda Muniz de Macedo Hospital Geral de Jacarepaguá – Nut. Cristiane Aline D’Almeida Hospital Lourenço Jorge – Nut. Tânia Motta Hospital Marcílio Dias – Nut. Rosângela Pelluso C. Furtado Hospital Raphael de Paula e Souza – Nut. Verônica Rodrigues Reis Hospital Santa Cruz – Nut. Christiana Oliveira MEDLAR/Santa Casa de Misericórdia/RJ – Nut. Nara Lúcia Lopes Posto de Saúde Eitel Pinheiro O. Lima – Nut. Andréa Barcellos Mendes REGIÃO NORTE E NORDESTE Clínica de Endocrinologia e Metabologia (CEM) – Nut. Tatiane Correia Rios HEMOPE (CTMO) – Nut. Edna Mirtes Pereira Diniz Hospital Barão de Lucena - Nut. Filomena Madja Pires Spinelli Hospital da Polícia Militar de Pernambuco - Nut. Márcia Helena A. Leiming Hospital das Clínicas de Pernambuco – Nut. Maria Goretti P.A. Burgos Hospital Geral de Fortaleza (HGF) – Dra. Maria Luisa Pereira de Melo Hospital Universitário Prof. Alberto Antunes - Profa. Dra. Sandra Mary Lima Vasconcelos Hospital Universitário Professor Edgar Santos (HUPES) – Nut. Ethiane Sampaio O.C.S Distribuidora de Produtos Hospitalares – Nut. Susana Correa Bourguignon ONCOCLÍNICA Oncologistas Associados – Nut. Maria do Perpétuo Socorro de Sousa Coelho Santa Casa de Misericórdia da Bahia/Hospital Santa Izabel – Nut. Cristiane de Brito Magalhães Serviço Especializado em Nutrição Enteral e Parenteral – Nut. Luciana de Lira e Silva Lauria Universidade de Fortaleza (UNIFOR) – Dra. Maria de Fátima Rebouças Antunes Universidade Estadual do Ceará (UECE) – Nut. Helena Alves de Carvalho Sampaio Universidade Federal do Amazonas – Nut.Verônica Chasse Thurler Micchi Universidade Federal do RN – Nut. Sandra Maria Nunes Monteiro REGIÃO SUL Departamento de Ciências da Saúde/Curso de Nutrição da UNIJUÍ – Nut. Ingrid D. Schweigert Hospital da Criança Conceição – Nut. Renata Faccioni Salamon Hospital da Criança Santo Antônio – Nut. Isis Oliveira Hospital de Caridade de Ijuí – Nut. Caroline Schardong Bolignon Hospital de Clínicas da UFPR – Nut. Denise Johnson Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas – Nut. Patrícia Abrantes Duval Hospital Infantil Joana de Gusmão – Nut. Eliana Barbosa Hospital Moinhos de Vento – Nut. Anália Haag Barreto Hospital Universitário de Santa Maria – Nut. Andréa Rodrigues Marques Sociedade Beneficente e Caridade de Lajeado/Hospital Bruno Born – Nut. Juliana Lourenço Genezzini REGIÃO CENTRO-OESTE Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (FUFMS)/Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian – Nut. Suzete Torres Galvão Hospital Regional de Mato Grosso do Sul Rosa Pedrossian – Nut. Samantha Abrão de Souza Simioli da Silva Hospital São Salvador – Nut. Amanda Goulart de Oliveira Hospital Universitário de Brasília – Nut. Clarissa Hoffman Irala Hospital Universitário Júlio Muller – Nut. Carolina R. Ohara Barros Santa Casa – Nut. Francis Paula Pires de Barros Santa Casa de Misericórdia de Goiânia – Nut. Mariana Pontieri Ruiz PREFÁCIO No Brasil, as informações referentes ao ano de 2006 revelam que as neoplasias malignas foram responsáveis por 15,1% dos óbitos, tendo sido registradas taxas brutas de mortalidade por neoplasias malignas para o sexo masculino de 87,63 óbitos por 100 mil habitantes e de 72,93 óbitos por 100 mil mulheres1. Entre os homens, os tumores mais incidentes são os de próstata e os da via respiratória (traqueia, brônquios e pulmão); entre as mulheres as neoplasias de maior incidência são as de mama e o câncer do colo do útero2. A desnutrição calórica e proteica em indivíduos com câncer é muito frequente. Diversos fatores estão envolvidos no seu desenvolvimento, particularmente aqueles relacionados ao curso da doença (redução do apetite, dificuldades mecânicas para mastigar e deglutir alimentos), efeitos colaterais do tratamento e jejuns prolongados para exames pré ou pós-operatórios, que são agravados por condição socioeconômica precária e hábitos alimentares inadequados. Os principais fatores determinantes da desnutrição nesse indivíduo são: a redução na ingestão total de alimentos, as alterações metabólicas provocadas pelo tumor e o aumento da demanda calórica para crescimento do tumor, sendo frequente a ocorrência de desnutrição em indivíduos com câncer3. Este documento de consenso é obra do esforço conjunto do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e de representações nacionais de instituições que promovem a assistência nutricional ao indivíduo com câncer. Para sua elaboração, reuniram-se durante os anos de 2007, 2008 e 2009, 42 instituições que prestam assistência nutricional a esta população, distribuídas nas cinco regiões do Brasil. Contamos com o apoio do Conselho Federal de Nutricionistas e sociedades representativas de classe relacionadas aos temas consensuados. Esta obra tem o objetivo de homogeneizar as condutas nutricionais na assistência ao indivíduo com câncer, oferecendo, assim, a todos os usuários portadores de câncer da rede do Sistema Único de Saúde (SUS), equidade e qualidade na sua assistência. É um documento dinâmico, no qual as instituições envolvidas no processo de sua constituição comprometem-se a implementar suas decisões e a atualizá-las de forma permanente. Luiz Antonio Santini Rodrigues da Silva Diretor Geral Instituto Nacional de Câncer 1 BRASIL/DATASUS, 2008. MS. Estimativa 2008 – Incidência de Câncer no Brasil. 3 BARRERA, 2002; YANG, 2003; DEUTSCH; KOLHOUSE, 2004; ISENRING et al. 2004; SOLIANI et al., 2004; RAVASCO et al., 2005; SHANG et al., 2006; ISENRING, 2007. 2 SUMÁRIO PREFÁCIO 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES 13 LISTA DE ABREVIATURAS 15 INTRODUÇÃO METODOLOGIA REFERÊNCIAS 17 18 21 CAPÍTULO 1 – PACIENTE ONCOLÓGICO ADULTO 23 25 1.1 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE CIRÚRGICO (PRÉ E PÓS-OPERATÓRIO) 25 1.1.1 Avaliação Nutricional 27 1.1.2 Necessidades Nutricionais 28 1.1.3 Terapia Nutricional 31 1.1.4 Seguimento Ambulatorial 1.2 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE CLÍNICO (QUIMIOTERAPIA E 33 RADIOTERAPIA) 33 1.2.1 Avaliação Nutricional 34 1.2.2 Necessidades Nutricionais 36 1.2.3 Terapia Nutricional 38 1.2.4 Seguimento Ambulatorial 1.3 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE SUBMETIDO AO TRANSPLANTE DE 40 CÉLULAS-TRONCO HEMATOPOÉTICAS (PRÉ E PÓS-TCTH) 40 1.3.1 Avaliação Nutricional 41 1.3.2 Necessidades Nutricionais 43 1.3.3 Terapia Nutricional 45 1.3.4 Seguimento Ambulatorial 47 REFERÊNCIAS CAPÍTULO 2 – PACIENTE ONCOLÓGICO ADULTO EM CUIDADOS PALIATIVOS 2.1 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 2.2 NECESSIDADES NUTRICIONAIS 2.3 TERAPIA NUTRICIONAL 2.4 SEGUIMENTO AMBULATORIAL REFERÊNCIAS 51 53 56 57 61 63 CAPÍTULO 3 – PACIENTE ONCOLÓGICO PEDIÁTRICO 3.1 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE CIRÚRGICO (PRÉ E PÓS-OPERATÓRIO) 3.1.1 Avaliação Nutricional 3.1.2 Necessidades Nutricionais 3.1.3 Terapia Nutricional 3.1.4 Seguimento Ambulatorial 65 68 68 70 72 74 3.2 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE CLÍNICO (QUIMIOTERAPIA E RADIOTERAPIA) 75 3.2.1 Avaliação Nutricional 75 3.2.2 Necessidades Nutricionais 77 3.2.3 Terapia Nutricional 79 3.2.4 Seguimento Ambulatorial 81 3.3 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE SUBMETIDO A TRANSPLANTE DE CÉLULAS-TRONCO HEMATOPOÉTICAS (PRÉ E PÓS-TCTH) 83 3.3.1 Avaliação Nutricional 83 3.3.2 Necessidades Nutricionais 85 3.3.3 Terapia Nutricional 87 3.3.4 Seguimento Ambulatorial 89 REFERÊNCIAS 91 CAPÍTULO 4 – PACIENTE PEDIÁTRICO EM CUIDADOS PALIATIVOS 4.1 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL 4.2 NECESSIDADES NUTRICIONAIS 4.3 TERAPIA NUTRICIONAL 4.4 SEGUIMENTO AMBULATORIAL REFERÊNCIAS 95 97 99 101 105 106 CAPÍTULO 5 – ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS PARA SINAIS E SINTOMAS CAUSADOS PELA TERAPIA ANTITUMORAL 107 REFERÊNCIAS 116 CONSIDERAÇÕES FINAIS 119 GLOSSÁRIO 121 REFERÊNCIAS 125 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura Figura 1 – Fluxograma do processo de votação do Consenso Nacional de Nutrição Oncológica 19 Quadros Quadro 1 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico adulto cirúrgico 27 28 Quadro 2 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico adulto cirúrgico 30 Quadro 3 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico adulto cirúrgico 32 Quadro 4 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico adulto cirúrgico Quadro 5 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico adulto em tratamento 34 clínico Quadro 6 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico adulto em tratamento 35 clínico Quadro 7 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente adulto oncológico em tratamento 37 clínico Quadro 8 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico adulto em tratamento 39 clínico Quadro 9 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico adulto submetido a 41 TCTH Quadro 10 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico adulto submetido 42 a TCTH Quadro 11 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico adulto submetido 44 a TCTH Quadro 12 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico adulto submetido a TCTH 46 Quadro 13 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico adulto em cuidados 55 paliativos Quadro 14 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico adulto em cuidados 57 paliativos Quadro 15 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico adulto em cuidados 59 paliativos Quadro 16 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial nutricional para paciente oncológico adulto 61 em cuidados paliativos 69 Quadro 17 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico pediátrico cirúrgico 71 Quadro18 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico pediátrico cirúrgico 73 Quadro 19 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico pediátrico cirúrgico 74 Quadro 20 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico pediátrico cirúrgico Quadro 21 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico pediátrico em tratamento 76 clínico Quadro 22 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico pediátrico em 78 tratamento clínico Quadro 23 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico pediátrico em tratamento 80 clínico Quadro 24 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico pediátrico em 82 tratamento clínico Quadro 25 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico pediátrico submetido 84 a TCTH Quadro 26 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico pediátrico submetido a TCTH 86 Quadro 27 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico pediátrico submetido a 88 TCTH Quadro 28 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico pediátrico submetido 90 a TCTH Quadro 29 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico pediátrico em cuidados 98 paliativos Quadro 30 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico pediátrico em 100 cuidados paliativos Quadro 31 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico pediátrico em cuidados 103 paliativos Quadro 32 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico pediátrico em 105 cuidados paliativos 111 Quadro 33 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional na anorexia Quadro 34 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento 111 de disgeusia e disosmia Quadro 35 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento 111 de náuseas e vômitos Quadro 36 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento 112 da xerostomia Quadro 37 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento 112 de mucosite e úlceras orais Quadro 38 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento 112 da disfagia Quadro 39 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento 113 da odinofagia e esofagite Quadro 40 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento 113 da saciedade precoce Quadro 41 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento 114 do trismo Quadro 42 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento 114 da enterite Quadro 43 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento 114 da diarreia Quadro 44 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento 114 da constipação intestinal Quadro 45 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento 115 da neutropenia LISTA DE ABREVIATURAS AN – Avaliação Nutricional ASG – Avaliação Subjetiva Global ASGPPP – Avaliação Subjetiva Global pelo Próprio Paciente CB – Circunferência de Braço CMB – Circunferência Muscular de Braço CP – Cuidado Paliativo DEP – Desnutrição Energética Proteica DCT – Dobra Cutânea Triciptal DECH – Doença Enxerto Contra Hospedeiro EMTN – Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional EN – Estado Nutricional GE – Gasto Energético GET – Gasto Energético Total IMC – Índice de Massa Corporal KPS – Karnofsky Performance Status PP – Perda de Peso PS – Performance Status PTN – Proteína QV – Qualidade de Vida SND – Serviço de Nutrição e Dietética TN – Terapia Nutricional TNE – Terapia Nutricional Enteral TNO – Terapia Nutricional Oral TNP – Terapia Nutricional Parenteral TGI – Trato Gastrointestinal TCTH – Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas Tu – Tumor VET – Valor Energético Total VO – Via Oral Introdução INTRODUÇÃO O câncer é uma enfermidade que se caracteriza pelo crescimento descontrolado, rápido e invasivo de células com alteração em seu material genético. Muitos fatores influenciam o desenvolvimento do câncer, tanto os de causas externas (meio ambiente, hábitos ou costumes próprios de um ambiente social e cultural) como os de internas (geneticamente pré-determinadas), que resultam de eventos responsáveis por gerar mutações sucessivas no material genético das células, processo que pode ocorrer ao longo de décadas, em múltiplos estágios (ARAB; STECK-SCOTT, 2004; ERSON; PETTY, 2006). Parkin e Bray (2006) assinalam que no ano de 2000, ocorreram cerca de 10 milhões de casos novos de câncer em todo o mundo e, aproximadamente, 6 milhões de mortes devido à doença, o que representou um aumento de 22%, tanto na incidência como na mortalidade, em relação ao ano de 1990. Nos países em desenvolvimento, os cânceres mais frequentes em homens são: de pulmão, estômago, fígado, esôfago, cólon-reto, próstata, cavidade oral e bexiga; e nas mulheres são o de mama, colo do útero, estômago, cólon-reto, pulmão, fígado, esôfago e ovário (PARKIN; BRAY, 2006). A desnutrição calórica e proteica em indivíduos com câncer é muito frequente. Os principais fatores determinantes da desnutrição nesses indivíduos são a redução na ingestão total de alimentos, as alterações metabólicas provocadas pelo tumor e o aumento da demanda calórica pelo crescimento do tumor. (BARRERA, 2002; YANG, 2003; DEUTSCH; KOLHOUSE, 2004; ISENRING, et al. 2004; SOLIANI et al., 2004; RAVASCO et al., 2005; SHANG et al., 2006; ISENRING, 2007). Dentre as alterações metabólicas provocadas pelo tumor estão aquelas relacionadas ao metabolismo dos carbo-hidratos, à intolerância à glicose, à resistência periférica à ação da insulina e à alteração na sensibilidade das células beta do pâncreas à liberação de insulina (EHRMANNJÓSKO et al., 2006; FAROOKI; SCHNEIDER, 2007). Há, também, alterações no metabolismo dos ácidos graxos e proteínas provocadas por citocinas (JANKOWSKA; KOSACKA, 2003; INUI, 2004; JATOI et al., 2006; KAYACAN et al., 2006). O aumento da lipólise e a diminuição da síntese de ácidos graxos provocam aumento dos lipídios circulantes e consumo de reservas. Isto ocorre devido a alterações da atividade da lipase lipoproteica e à liberação de fatores tumorais lipolíticos (CERNE et al., 2007). Indivíduos portadores de câncer têm perda maciça de músculo esquelético estimulado por citocinas, incluindo o fator alfa de necrose tumoral, interleucina-1 beta, interleucina-6, interferon gama e fator indutor de proteólise (PIF) (MELSTROM et al., 2007). A desnutrição promove alterações morfológicas e funcionais. No pulmão, podem surgir atelectasias e pneumonias decorrentes da redução da massa muscular diafragmática e da redução dos níveis de concentração de lecitina nos alvéolos pulmonares em pacientes desnutridos. A desnutrição também modifica a morfologia hepática, provoca edema e atrofia dos hepatócitos, esteatose hepática, degeneração mitocondrial e dos microssomos, e compromete as funções hepáticas, restringindo a capacidade de depuração de fármacos e a síntese de albumina e peptídeos. A desnutrição pode, ainda, afetar as funções gastrointestinais, provocando síndrome de má-absorção, translocação intestinal de micro-organismos, hipocloridria por diminuição das enzimas intestinais, perda de gordura e adelgaçamento da parede intestinal, atrofia das mucosas gástrica e intestinal, diminuição das microvilosidades e diminuição da massa celular do tecido linfático associado ao intestino (MOREIRA; WAITZBERG, 2000). 17 18 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica O sistema imune também fica prejudicado no paciente desnutrido, devido à diminuição na produção de imunoglobulinas, redução na atividade do sistema complemento, do número de linfócitos T e CD4, no arrefecimento do poder bactericida dos neutrófilos, o qual propicia o aumento da susceptibilidade às infecções de feridas, sépsis abdominal e pneumonia pós-operatória (MOREIRA; WAITZBERG, 2000). Consequentemente, a desnutrição pode contribuir para a ocorrência de complicações no período pós-operatório, colaborando para o aumento do tempo de internação, comprometendo a qualidade de vida e tornando o tratamento mais oneroso. Estas condições clínicas e nutricionais acima descritas indicam a necessidade do desenvolvimento de protocolos criteriosos de assistência nutricional oferecida aos pacientes com câncer nas diferentes fases da doença e do tratamento, tendo em vista a otimização dos recursos empregados e a melhoria da qualidade da atenção prestada a esses pacientes. Metodologia O Consenso Nacional em Nutrição Oncológica foi idealizado em 2004 pelo Serviço de Nutrição e Dietética do Instituto Nacional de Câncer (INCA) com o objetivo de uniformizar a terapia e a assistência nutricional aos pacientes oncológicos, garantindo equidade e qualidade na assistência a indivíduos com câncer no Brasil. O primeiro passo, em 2005, foi a realização de um estudo para identificar e avaliar a representação por regiões de instituições no Brasil que prestam assistência nutricional a indivíduos portadores de câncer. No ano seguinte, em 2006, foi firmado um acordo com a HealthCare Nutrition/Nestlé para o recebimento de apoio à elaboração do consenso. De abril a julho de 2007, por meio de cartas-convite, as instituições que assistem indivíduos com câncer no Brasil foram convidadas a participar do I Fórum Nacional do Consenso, que aconteceu nos dias 9 e 10 de outubro de 2007, no INCA. Neste período, em reuniões internas com a participação de nutricionistas representantes das unidades hospitalares do INCA, foram definidos os temas a serem consensuados e a metodologia de elaboração do documento de consenso, com identificação dos atores internos para desempenharem os papéis estratégicos nessa tarefa. O I Fórum Nacional contou com a participação de 42 instituições. Os temas para discussão foram distribuídos por região entre as instituições participantes, sendo: •Centro-Oeste (três instituições): Orientações Nutricionais para os Sinais e Sintomas Causados pela Terapia Antitumoral. •Norte/Nordeste (dez instituições): Paciente Oncológico Adulto. •Sudeste/SP, ES e MG (dez instituições) e RJ (sete instituições): Paciente Adulto em Cuidados Paliativos. •Sudeste/SP e RJ (três instituições): Paciente Pediátrico em Cuidados Paliativos. •Sul (nove instituições): Paciente Oncológico Pediátrico. Neste I Fórum foram definidos os líderes regionais e cofacilitadores responsáveis pelas regiões. Introdução Cada instituição participante buscou em sua região instituições pares para trabalhar na formulação das propostas a serem discutidas nas reuniões regionais. As propostas foram desenvolvidas por cada instituição participante e seus pares e depois revisadas pelos cofacilitadores do INCA e re-encaminhadas para todas as instituições, para que conhecessem o conteúdo das discussões do Fórum Regional com antecedência. Os Fóruns Regionais aconteceram entre maio e junho de 2008, nas instituições representantes de cada região. Cada proposta gerada por uma instituição obedeceu ao seguinte Processo de Consenso: •Discussão do item: os dados de cada representante foram considerados cuidadosamente. •Formulação da Proposta. •Chamada para um consenso, feita pelo cofacilitador INCA. •Identificação e tratamento de preocupação: quando alguma proposta não atendia às necessidades do grupo, o participante dissidente expressava a sua preocupação e trabalhava junto ao criador da proposta na solução desta preocupação. •Modificação da proposta: se houvesse necessidade, a proposta era modificada e um novo processo de consenso era iniciado. Quando o consenso não era atingido, o participante dissidente poderia: 1) declarar reservas, com o intuito de registrar suas preocupações e gerar uma modificação na proposta; 2) ficar à parte, quando existia divergência pessoal ou incapacidade de entendimento ou participação; ou 3) bloquear a proposta. Toda essa dinâmica de discussão foi utilizada tanto nos Fóruns Regionais como nos Fóruns Nacionais de desenvolvimento do consenso (Figura 1). Como ferramentas para a votação das propostas dos temas do consenso, foram utilizados cartões coloridos para os Fóruns Regionais e Nacionais. Decidiu-se que, para o cancelamento de uma proposta, seria necessário 15% do número de participantes em bloqueios. Discussão Proposta Não Chamada para o Consenso Sim Modificação da Proposta Colocação de Preocupações Bloqueio "Ficar à parte" Consenso Ações geradas Figura 1 – Fluxograma do processo de votação do Consenso Nacional de Nutrição Oncológica 19 20 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Entre os meses de maio e junho de 2008, foram realizados os cinco Fóruns Regionais e elaboradas 334 propostas, que envolveram temas relacionados à assistência nutricional a pacientes oncológicos pediátrico e adulto, nas diferentes fases da doença e do tratamento. Os temas abordados foram Avaliação Nutricional, Recomendações Nutricionais, Terapia Nutricional, Seguimento Ambulatorial e Sinais e Sintomas Causados pela Terapia Antitumoral, em pacientes submetidos à cirurgia, quimioterapia e radioterapia e em cuidados paliativos. De julho a agosto de 2008, foi realizado o Fórum a Distância, em que todas as propostas desenvolvidas regionalmente foram votadas por todos participantes do Consenso. As propostas que não foram consensuadas nacionalmente foram submetidas à discussão e votação no II Fórum Nacional, que ocorreu em outubro de 2008, no Rio de Janeiro. As propostas preparadas e consensuadas nacionalmente foram enviadas às sociedades internacionais de Portugal, do Canadá e da América Latina, que fizeram as suas considerações. As estratégias de implementação das Diretrizes Nacionais de Nutrição Oncológica foram discutidas no III Fórum Nacional, em setembro de 2009, no Rio de Janeiro. O documento de Consenso foi registrado neste livro, editado pelo Instituto Nacional de Câncer/ Ministério da Saúde e lançado no Congresso Brasileiro de Nutrição Oncológica do INCA, 4ª Jornada Internacional de Nutrição Oncológica e 3ª Jornada Luso-Brasileira em Nutrição Oncológica, em outubro de 2009. Este é um documento dinâmico que será revisado por todos os participantes do Consenso em Fóruns Nacionais, realizados a cada 2 anos. Introdução Referências ARAB, L.; STECK-SCOTT, S. 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Taehan Kanho Hakhoe Chi., v. 33, n. 4, p. 478-87, Jun. 2003. 21 CAPÍTULO 1 PACIENTE ONCOLÓGICO ADULTO Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto INTRODUÇÃO A agressividade e a localização do tumor, os órgãos envolvidos, as condições clínicas, imunológicas e nutricionais impostas pela doença e agravadas pelo diagnóstico tardio e a magnitude da terapêutica são fatores que podem comprometer o estado nutricional do paciente adulto oncológico, com graves implicações prognósticas, e interferir diretamente no tratamento (SHILS et al., 2003). A perda de peso e a desnutrição são os distúrbios nutricionais frequentemente observados em pacientes com câncer (40% a 80% dos casos), sendo que até 30% dos pacientes adultos apresentam perda superior a 10% do peso (WONG et al., 2001). O déficit do estado nutricional está estreitamente relacionado à diminuição da resposta ao tratamento específico e à qualidade de vida, com maiores riscos de complicações pós-operatórias, aumento na morbimortalidade, no tempo de internação e no custo hospitalar (KYLE et al., 2004; SILVA, 2006; CARO et al., 2007). Propõe-se que a assistência nutricional ao paciente oncológico seja individualizada e compreenda desde a avaliação nutricional, o cálculo das necessidades nutricionais e a terapia nutricional, até o seguimento ambulatorial, com o objetivo de prevenir ou reverter o declínio do estado nutricional, bem como evitar a progressão para um quadro de caquexia, além de melhorar o balanço nitrogenado, reduzir a proteólise e aumentar a resposta imune (DAVIES, 2005; MARIAN, 2005). Uma detecção precoce das alterações nutricionais no paciente oncológico adulto permite intervenção em momento oportuno. Esta intervenção nutricional inicia-se no primeiro contato do profissional nutricionista com o paciente, através de sua percepção crítica, da história clínica e de instrumentos adequados, que definirão um plano terapêutico ideal. Pacientes que apresentem grave risco nutricional se beneficiam com suporte nutricional por um período de 10 a 14 dias antes de cirurgias de grande porte, nível de evidência A (ESPEN, 2006). O acompanhamento nutricional global é uma ferramenta fundamental que visa melhores resultados cirúrgicos e qualidade de vida do paciente. Neste capítulo serão apresentadas as intervenções nutricionais consensuadas para o paciente adulto oncológico nos períodos pré e pós-terapêutica. Estas estarão dispostas em quadros resumidos logo após a introdução dos temas que constam de avaliação nutricional, necessidades nutricionais, terapia nutricional e seguimento ambulatorial. 1.1 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE CIRÚRGICO (PRÉ E PÓS-OPERATÓRIO) 1.1.1 Avaliação Nutricional A avaliação do estado nutricional do paciente cirúrgico, seja no pré ou pós-operatório, deve ser uma prioridade no plano terapêutico (CEREZO, 2005; CARO et. al, 2007). Tem como objetivo auxiliar na determinação do risco cirúrgico, na seleção dos pacientes candidatos ao suporte nutricional e na identificação dos pacientes desnutridos. 25 26 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica A desnutrição associa-se a complicações no período pós-cirúrgico, maior risco de infecções, redução da qualidade de vida, maior tempo de permanência hospitalar e dos custos, além de maior mortalidade (GALVAN et. al., 2004; SALVINO et. al., 2004; PUTWATANA et. al., 2005; DAVIES, 2005; KYLE et. al., 2005; ALBERDA et. al., 2006). Diante disto, todos os pacientes no período pré e pós-operatório deverão passar por uma triagem nutricional para a identificação de risco nutricional. Dentre as ferramentas utilizadas para triagem do risco nutricional em pacientes com câncer, destacam-se a Avaliação Subjetiva Global (ASG) e a Avaliação Subjetiva Global Produzida pelo Próprio Paciente (ASG-PPP). Seu propósito é identificar, já na admissão, indivíduos em risco de desnutrição ou que já estão desnutridos, e que são candidatos à terapia nutricional. (CORISH, 1999; MOURÃO et.al, 2004; HUHMANN; CUNNINGHAM, 2005; KYLE et. al., 2005; DAVIES, 2005). Aqueles pacientes identificados como desnutridos ou em risco nutricional, deverão ser submetidos a uma avaliação nutricional completa, composta por dados clínicos e dietéticos (NITENBERG; RAYNARD, 2000; DAVIES, 2005; SIEZERGA et. al., 2007). A frequência da avaliação nutricional durante os períodos de pré e pós-operatório deve ser individualizada e considerar as particularidades de cada paciente. Ambulatorialmente, em ambos os períodos, o paciente sem risco nutricional deverá ser avaliado em até 30 dias, e os que apresentam risco nutricional em até 15 dias. Naqueles pacientes internados para tratamento cirúrgico, a avaliação deverá ser realizada até 48 horas da internação, com a realização da ASG e ASG-PPP na admissão hospitalar. Durante a internação deverão ser realizados os parâmetros antropométricos, parâmetros bioquímicos, anamnese alimentar, exame físico e clínico, respeitando os prazos de acordo com o que foi consensuado. Todos os dados da avaliação nutricional devem ser registrados, para que se tenha um diagnóstico nutricional mais completo. O Quadro 1 apresenta as condutas consensuadas sobre avaliação nutricional do paciente adulto oncológico cirúrgico (pré e pós-operatório). Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto Quadro 1 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico adulto cirúrgico Pré-cirúrgico - No momento da internação: ASG-PPP ou ASG - Durante a internação e ambulatorialmente: anamnese nutricional compreendendo dados clínicos e dietéticos Que indicadores de risco - ASG-PPP > ou = 2 e ASG= B ou C nutricional devo utilizar? - Ingestão alimentar < 60% das necessidades - Sintomas do Trato Gastrointestinal (TGI)- Localização da doença: estômago, esôfago, pâncreas, tumor de cavidade oral, faringe, laringe e pulmão - % de Perda de Peso (PP) – significativa ou severa Com que frequência devo Ambulatorialmente: avaliar? - Sem Risco Nutricional – em até 30 dias - Com Risco Nutricional – em até 15 dias Internado (até 48 horas): - Na admissão hospitalar: ASG e ASGPPP - Durante a internação: - Parâmetros antropométricos e parâmetros bioquímicos: até 48 horas da internação e semanalmente - Anamnese alimentar e exame físico e clínico: diariamente - Em caso de aumento de tempo préoperatório na enfermaria e/ou complicações – todos os dados da avaliação nutricional já definidos: 7/7 dias Quais os pacientes Ambulatorial e internado: todos os adultos oncológicos pacientes devem ser avaliados? Que dados da AN devo Todos os dados coletados da avaliação registrar? nutricional devem ser registrados em prontuário, em formulário específico do Serviço de Nutrição e Dietética (SND) e Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional (EMTN) Questão Que instrumentos devo utilizar para a Avaliação Nutricional (AN)? Pós-cirúrgico - No momento da internação: ASGPPP ou ASG - Durante a internação e ambulatorialmente: anamnese nutricional compreendendo dados clínicos e dietéticos - ASG-PPP > ou = 2 e ASG= B ou C - Ingestão alimentar < 60% das necessidades - Sintomas do TGI - Localização da doença: estômago, esôfago, pâncreas, tumor de cavidade oral, faringe, laringe e pulmão - % PP – significativa ou severa Ambulatorialmente: - Sem Risco Nutricional – em até 30 dias - Com Risco Nutricional – em até 15 dias Internado: - Parâmetros antropométricos: após 7 dias e semanalmente - Anamnese alimentar e exame físico e clínico: pós-imediato e diariamente - Em caso de aumento de tempo pós-operatório na enfermaria e/ou complicações – todos os dados da avaliação nutricional já definidos: 7/7 dias Ambulatorial e internado: todos os pacientes Todos os dados coletados da avaliação nutricional devem ser registrados em prontuário, em formulário específico do SND e EMTN 1.1.2 Necessidades Nutricionais A cirurgia pode contribuir para deterioração progressiva do estado nutricional por ação direta, com má absorção de proteína ou de gordura, observada frequentemente após gastrectomia e pancreatectomia, ou ainda por efeitos indiretos, como aumento da demanda metabólica resultante de infecções ou de reação febril neutropênica (WAITZBERG, 2004). 27 28 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Pacientes neoplásicos, dependendo do tipo de tumor e estadiamento, podem apresentar um requerimento energético maior, principalmente quando submetidos a tratamentos, como a cirurgia. Um método prático para estimar as necessidades energéticas é o cálculo a partir das calorias por quilo de peso corpóreo (MARTINS; CARDOSO, 2000; ASPEN, 2002; IKEMORI, 2003). O oferecimento adequado de proteínas faz-se necessário devido ao estresse patológico e cirúrgico que favorecem a degradação proteica. Esta ação catabólica resulta em desgaste e fadiga do músculo esquelético, podendo atrapalhar o tratamento e prognóstico do paciente (WAITZBERG, 2004; CUPPARI, 2005; MELO et al, 2006). Os requerimentos hídricos para pacientes no pré e pós-operatórios são semelhantes ao de indivíduos normais, que são de 1 ml/Kcal ou 35 ml/kg/P. Contudo, ajustes nestes cálculos poderão ser necessários quando ocorrerem perdas dinâmicas, drenagens e retenções hídricas muitas vezes apresentadas por estes pacientes (MAHAN et al, 1998; WAITZBERG, 2004; CUPPARI, 2005). O Quadro 2 apresenta as condutas consensuadas sobre as recomendações nutricionais para paciente oncológico adulto cirúrgico. Quadro 2 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico adulto cirúrgico Questão Qual método deve ser utilizado para estimativa das necessidades calóricas? Quais as recomendações proteicas? Quais as recomendações hídricas? Pré-Cirúrgico Adultos Kcal/Kg/Dia Realimentção 20 Obeso 21-25 Manutenção de peso 25-30 Ganho de peso 30-35 Repleção 35-45 Adultos Gramas/Kg/dia Sem complicações 1,0 – 1,2 Com estresse moderado 1,1 – 1,5 Com estresse grave e repleção proteica 1,5 – 2,0 Adultos ml/Kg/dia 18-55 anos 35 55-65 30 >65 25 Acrescentar perdas dinâmicas e descontar retenções hídricas Pós-Cirúrgico Adultos Kcal/Kg/Dia Realimentação 20 Obeso 21-25 Manutenção de peso 25-30 Ganho de peso 30-35 Repleção 35-45 Adultos Gramas/Kg/dia Sem complicações 1,0 – 1,2 Com estresse moderado 1,1 – 1,5 Com estresse grave e repleção proteica 1,5 – 2,0 Adultos ml/Kg/dia 18-55 anos 35 55-65 30 >65 25 Acrescentar perdas dinâmicas e descontar retenções hídricas Fonte: Adaptado de Martins C; Cardoso SP (2000). 1.1.3 Terapia Nutricional A terapia nutricional (TN) no paciente adulto oncológico cirúrgico objetiva a prevenção ou reversão do declínio do estado nutricional, assim como busca evitar a progressão para um quadro de caquexia e garantir melhor qualidade de vida ao paciente (PELTZ, 2002; RAVASCO et al, 2003; Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto MARIAN, 2005; ISENRING et al, 2007). A TN deve seguir critérios que visem a individualidade do paciente, seu estado nutricional, estágio da doença, efeitos do tratamento e sua função gastrointestinal (MARIAN, 2005). Quando indicada, a TN deve ser iniciada logo após o diagnóstico de risco nutricional ou desnutrição, tanto em pacientes ambulatoriais como internados. Estudos têm mostrado bons resultados, não só em resposta à cirurgia, como também melhorando a qualidade de vida dos pacientes, reduzindo o tempo de internação e os custos hospitalares (NITENBERG et al, 2000; RAVASCO, 2003; MARIAN, 2005). A terapia nutricional precoce possibilita ao paciente oncológico cirúrgico completar o curso do tratamento e pode reduzir a morbidade (NITENBERG et al, 2000). A TN pode ser enteral por via oral, enteral via sonda ou parenteral. A melhor opção é a via oral, visto que é a mais natural e menos invasiva, além de melhorar a resposta imune do paciente (ALLEN; CROCKER, 2004; MARIAN, 2005). A via sonda é indicada quando a ingestão via oral é insuficiente para garantir as necessidades diárias do paciente, devido ao quadro de hiporexia, disfagia e mucosites (MEKHAIL et al, 2001; MARIAN, 2005). A Terapia Nutricional Parenteral (TNP) será indicada quando o TGI estiver parcial ou totalmente impossibilitado para uso (ANDERS et al, 2000; SCOLAPIO, 2002; MUSCARATOLI et al, 2002; MARIAN, 2005; JUSTINO et al, 2006). A frequência da monitoração da resposta a esta terapia deve ser individualizada de acordo com os parâmetros consensuados pela American Society Parenteral and Enteral Nutrition. Os dados desta monitoração deverão ser registrados em formulário específico e anexados ao prontuário do paciente (ASPEN, 1998; ASPEN, 2002; DAVIES, 2005). A TN é interrompida quando o paciente oncológico apresentar melhor reserva muscular esquelética, recuperação do peso e da capacidade funcional (SKIPWORTH, 2007). O Quadro 3 apresenta as condutas consensuadas sobre a terapia nutricional em pacientes oncológicos adultos cirúrgicos. 29 30 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Quadro 3 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico adulto cirúrgico Questão Quais os objetivos da TN no paciente adulto? Que critérios devem ser utilizados para indicar TN? Quando indicada, a TN deve ser iniciada em que momento? Quais os critérios de indicação da via a ser utilizada? Que parâmetros devem ser utilizados para monitorar a resposta à TN? Que dados devem ser registrados da TN? Pré-Cirúrgico - Prevenir ou reverter o declínio do estado nutricional - Evitar a progressão para um quadro de caquexia - Auxiliar no manejo dos sintomas - Melhorar o balanço nitrogenado - Reduzir a proteólise - Aumentar a resposta imune - Reduzir o tempo de internação hospitalar e garantir uma melhor qualidade de vida ao paciente Todos os pacientes com risco nutricional e/ou presença de desnutrição Imediatamente após diagnóstico de risco nutricional ou de desnutrição, para pacientes ambulatoriais ou internados, desde que estejam hemodinâmicamente estáveis por um período mínimo de 7 dias TNE: TGI total ou parcialmente funcionante· • TNE via oral: os complementos enterais devem ser a primeira opção, quando a ingestão alimentar for < 75% das recomendações em até 5 dias, sem expectativa de melhora da ingestão· • TNE via sonda: impossibilidade de utilização da via oral, ingestão alimentar insuficiente (ingestão oral < 60% das recomendações) em até 5 dias consecutivos, sem expectativa de melhora da ingestão TNP: impossibilidade total ou parcial de uso do TGI Conforme os parâmetros consensuados por ASPEN 1998 e 2002 Pós-Cirúrgico - Prevenir ou reverter o declínio do estado nutricional - Evitar a progressão para um quadro de caquexia - Auxiliar no manejo dos sintomas - Melhorar o balanço nitrogenado - Reduzir a proteólise - Aumentar a resposta imune - Reduzir o tempo de internação hospitalar e garantir uma melhor qualidade de vida ao paciente Todos os pacientes com risco nutricional e/ou presença de desnutrição Imediatamente após diagnóstico de risco nutricional ou de desnutrição, para pacientes ambulatoriais ou internados, desde que estejam hemodinâmicamente estáveis por um período mínimo de 7 dias TNE: TGI total ou parcialmente funcionante· • TNE via oral: os complementos enterais devem ser a primeira opção, quando a ingestão alimentar for < 75% das recomendações em até 5 dias, sem expectativa de melhora da ingestão· • TNE via sonda: impossibilidade de utilização da via oral, ingestão alimentar insuficiente (ingestão oral < 60% das recomendações) em até 5 dias consecutivos, sem expectativa de melhora da ingestão TNP: impossibilidade total ou parcial de uso do TGI Conforme os parâmetros consensuados por ASPEN 1998 e 2002 Todos os dados coletados da monitorização da TN devem ser registrados em formulário específico do SND e EMTN e anexado ao prontuário Todos os dados coletados da monitorização da TN devem ser registrados em formulário específico do SND e EMTN e anexado ao prontuário Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto Quadro 3 (cont.) Questão Quando suspender a TN? Como programar o desmame? Pré-Cirúrgico TNE via oral: quando há inviabilidade da via (odinofagia, disfagia, obstrução, vômitos incoercíveis, risco de aspiração), recusa do paciente e intolerância TNE via sonda: instabilidade hemodinâmica e/ou persistentes intercorrências, como diarreia severa (acima de 500 ml/dia), vômitos incontroláveis (pós-adequações de volume, tempo e formulações da dieta) e quando há inviabilidade da via de acesso TNP: instabilidade hemodinâmica Progressivamente quando: TNE via oral: quando a ingestão da alimentação convencional for maior que 75% do GET por 5 dias consecutivos TNE via sonda: quando a ingestão oral permanecer ≥ 60% do GET por 3 dias consecutivos TNP: quando possível a utilização do TGI Pós-Cirúrgico TNE via oral: quando há inviabilidade da via (odinofagia, disfagia, obstrução, vômitos incoercíveis, risco de aspiração), recusa do paciente e intolerância TNE via sonda: instabilidade hemodinâmica e/ou persistentes intercorrências, como diarreia severa (acima de 500 ml/dia), vômitos incontroláveis (pósadequações de volume, tempo e formulações da dieta) e quando há inviabilidade da via de acesso TNP: instabilidade hemodinâmica Progressivamente quando: TNE via oral: quando a ingestão da alimentação convencional for maior do que 75% do GET por 5 dias consecutivos TNE via sonda: quando a ingestão oral permanecer ≥ 60% do GET por 3 dias consecutivos TNP: quando possível a utilização do TGI 1.1.4 Seguimento Ambulatorial O acompanhamento nutricional ambulatorial é necessário para fornecer continuidade ao cuidado com o paciente cirúrgico, garantindo a reversão ou manutenção do estado nutricional e minimizando os agravamentos decorrentes do tratamento (MAHAN, 1998; IKEMORI, 2003). Esta intervenção é um importante instrumento de assistência nutricional e tem evidenciado uma relação direta com o aumento na sobrevida e melhor reabilitação de pacientes. Procedimentos oncológicos cirúrgicos podem levar a alterações fisiopatológicas que prejudicam a ingestão, digestão, absorção e aproveitamento dos nutrientes ingeridos, tendo como consequência o comprometimento do estado nutricional do paciente. Nestes casos, se o paciente evoluir com sequelas do tratamento, as quais impliquem em consequências nutricionais negativas, deverá ser mantido o acompanhamento nutricional ambulatorial. O paciente que estiver sem evidência de doença e ausência de sequelas, mas com presença de comorbidades como diabetes, problemas cardiovasculares ou dislipidemia, deverá ser encaminhado para unidade de assistência básica. O Quadro 4 apresenta as condutas consensuadas no seguimento ambulatorial para pacientes oncológicos adultos cirúrgicos. 31 32 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Quadro 4 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico adulto cirúrgico Questão O paciente adulto sem evidência de doença, sem comorbidade e sem sequelas do tratamento deve ser acompanhado pelo ambulatório do SND? O paciente adulto com comorbidades e sem sequelas do tratamento deve ser acompanhado pelo ambulatório do SND? O paciente adulto com sequelas decorrentes do tratamento deve ser acompanhado pelo ambulatório do SND? Pós-operatório Não. Este paciente deverá ser encaminhado para a rede básica de saúde Não. Este paciente deverá ser encaminhado para a rede básica de saúde Todos os pacientes oncológicos com sequelas do tratamento com implicações nutricionais devem ser acompanhados pelo ambulatório do SND Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto 1.2 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE ADULTO CLÍNICO (QUIMIOTERAPIA E RADIOTERAPIA) 1.2.1 Avaliação Nutricional A avaliação nutricional (AN) no paciente clínico internado ou ambulatorial que será submetido à quimioterapia e/ou radioterapia deve ser realizada no início e durante todo o tratamento, para que seja possível a identificação dos pacientes com risco nutricional ou algum grau de desnutrição. Independentemente do estado nutricional inicial, os sintomas da quimio e/ou radioterapia podem levar a graves consequências nutricionais. A combinação de métodos de avaliação constitui uma ferramenta valiosa para este propósito, pois contempla dados informativos para terapêutica clínica e dietética (BACHMANN, 2001). A AN deverá ser realizada no momento da internação ou em até 48 horas, devendo compreender dados de uma Avaliação Subjetiva Global (ASG) ou Avaliação Subjetiva Global Produzida pelo Próprio Paciente (ASG-PPP), bem como dados referentes à anamnese alimentar, exames físico e clínico. A frequência da AN nos pacientes internados será semanal para os parâmetros antropométricos e diária para anamnese alimentar e exames físico e clínico. Os indicadores de risco nutricional consensuados devem ser os mesmos nas duas modalidades de tratamento, nas quais se consideram os parâmetros da ASG ou ASG-PPP; o percentual de ingestão alimentar; os sintomas do trato gastrointestinal (TGI); a localização da doença e o percentual de perda de peso. Nos pacientes tratados no ambulatório, os instrumentos utilizados para AN serão os mesmos utilizados para o paciente internado, com exceção da ASG e/ou ASG-PPP. Quando verificado, na triagem, risco nutricional ou presença de desnutrição, foi consensuado que estes pacientes deverão ser avaliados a cada 15 dias e aqueles sem risco nutricional, a cada 30 dias. Todos os dados coletados da avaliação nutricional devem ser registrados em prontuário, em formulário específico do Serviço de Nutrição e Dietética (SND) e Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional (EMTN) (DAVIES, 2005). O Quadro 5 apresenta as condutas consensuadas sobre avaliação nutricional do paciente adulto oncológico em tratamento clínico (quimioterapia e/ou radioterapia). 33 34 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Quadro 5 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico adulto em tratamento clínico Questão Que instrumentos devo utilizar para a AN? Quimioterapia - No momento da internação: ASGPPP ou ASG - Durante a internação e ambulatorialmente: anamnese nutricional Que indicadores de risco - ASG-PPP > ou = 2 e ASG= B ou C nutricional devo utilizar? - Ingestão alimentar < 60% das necessidades - Sintomas do TGI - Localização da doença: estômago, esôfago, pâncreas, tumor de cavidade oral, faringe, laringe e pulmão - % PP – significativa ou severa Com que frequência devo Ambulatorialmente: avaliar? - Sem Risco Nutricional – em até 30 dias - Com Risco Nutricional – em até 15 dias Internado - Na admissão hospitalar ou até 48 horas: ASG e ASG-PPP - Durante a internação – até 48 horas e semanalmente - Anamnese nutricional: •Parâmetros antropométricos e parâmetros bioquímicos: préinício da quimioterapia •Anamnese alimentar e exame físico e clínico: diariamente Quais os pacientes Ambulatorial e internado: todos os adultos oncológicos pacientes devem ser avaliados? Que dados da AN devo Todos os dados coletados da avaliação registrar? nutricional devem ser registrados em prontuário, em formulário específico do SND e EMTN Radioterapia - No momento da internação: ASGPPP ou ASG - Durante a internação e ambulatorialmente: anamnese nutricional - ASG-PPP > ou = 2 e ASG= B ou C - Ingestão alimentar < 60% das necessidades - Sintomas do TGI - Localização da doença: estômago, esôfago, pâncreas, tumor de cavidade oral, faringe, laringe e pulmão. - % PP – significativa ou severa Ambulatorialmente: - Sem Risco Nutricional – em até 30 dias - Com Risco Nutricional – em até 15 dias Internado: - Na admissão hospitalar ou até 48 horas: ASG e ASG-PPP - Durante a internação – até 48 horas e semanalmente - Anamnese nutricional: •Parâmetros antropométricos e parâmetros bioquímicos: préinício da radioterapia •Anamnese alimentar e exame físico e clínico: diariamente Ambulatorial e internado: todos os pacientes Todos os dados coletados da avaliação nutricional devem ser registrados em prontuário, em formulário específico do SND e EMTN 1.2.2 Necessidades Nutricionais O gasto energético (GE) no câncer pode estar aumentado ou diminuído dependendo do tipo de tumor, estágio da doença e das formas de tratamento (KNOX, 1983). Em estudos prévios, observou-se variação no GE desses pacientes e também controvérsias em relação às diversas fórmulas empregadas para o cálculo do GE. Dentre os métodos para estimativa de GE, foi consensuado um método direto, de fácil aplicabilidade, que utiliza a taxa calórica ideal por quilo de peso corporal, sendo este método altamente utilizado na prática clínica (MARTINS; CARDOSO, 2000; JUSTINO et al., 2004). Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto Assim como o GE, as necessidades diárias de proteínas para pacientes em radioterapia e/ou quimioterapia podem ser diferentes. Dependendo da doença, programação terapêutica, estado nutricional prévio e complicações presentes, as necessidades proteicas se alteram. No estresse prolongado e intenso, o catabolismo é de difícil controle, sendo que a depleção proteica grave nos estoques orgânicos pode prejudicar ou até mesmo interromper a quimioterapia e/ou radioterapia, influenciando negativamente na morbidade e mortalidade dos pacientes. Sendo assim, foi consensuado que as necessidades proteicas diárias para o paciente adulto em tratamento clínico serão estimadas por um método rápido e prático para o cálculo proteico (MARTINS; CARDOSO, 2000; JUSTINO et al., 2004). A necessidade basal de água para o adulto depende das perdas de água sensíveis (urinárias) e insensíveis, e varia de 1.250 a 3.000 ml/dia, dependendo da superfície corporal, quantidade de massa celular, idade e sexo. Em condições normais a oferta hídrica baseia-se na ingestão calórica, que é 1 ml/kcal para adultos ou 35 ml/kg/dia. Deve-se, também, fazer a correção frente a estados clínicos de perda ou retenção. Portanto, faz-se necessário o estímulo para o monitoramento da ingestão hídrica, visando à hidratação adequada para a eficácia e diminuição dos efeitos tóxicos durante o tratamento (CUPPARI, 2005; WAITZBERG, 2004; MAHAN et al., 1998). O Quadro 6 apresenta as condutas consensuadas sobre as necessidades nutricionais de pacientes adultos em tratamento clínico. Quadro 6 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico adulto em tratamento clínico Questão Qual método deve ser utilizado para estimativa das necessidades calóricas? Quais as recomendações proteicas? Quais as recomendações hídricas? Quimioterapia Adultos Kcal/Kg/dia Realimentção 20 Obeso 21-25 Manutenção de peso 25-30 Ganho de peso 30-35 Repleção 35-45 Adultos gramas/Kg/dia Tratamento oncológico sem complicações 1,0 – 1,2 Tratamento oncológico com estresse moderado 1,1 – 1,5 Tratamento oncológico com estresse grave e repleção proteica 1,5 –2,0 Adultos ml/Kg/dia 18-55 anos 35 55-65 30 >65 25 Acrescentar perdas dinâmicas e descontar retenções hídricas Fonte: Adaptado de Martins C; Cardoso SP (2000). Radioterapia Adultos Kcal/Kg/dia Realimentação 20 Obeso 21-25 Manutenção de peso 25-30 Ganho de peso 30-35 Repleção 35-45 Adultos gramas/Kg/dia Tratamento oncológico sem complicações 1,0 – 1,2 Tratamento oncológico com estresse moderado 1,1 – 1,5 Tratamento oncológico com estresse grave e repleção proteica 1,5 –2,0 Adultos ml/Kg/dia 18-55 anos 35 55-65 30 >65 25 Acrescentar perdas dinâmicas e descontar retenções hídricas 35 36 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica 1.2.3 Terapia Nutricional A preservação e/ou melhora do estado nutricional tem um importante efeito na qualidade de vida e no bem-estar de pacientes com câncer em quimioterapia e/ou radioterapia. A quimioterapia e/ou a radioterapia apresentam efeitos adversos que podem comprometer o estado físico, imunológico e nutricional, sendo que a terapia nutricional (TN), quando bem aplicada, auxilia no manejo dos sintomas, evitando a caquexia, e contribuindo para a melhora da qualidade de vida do paciente (DRESLER , 1987; OTTERY, 1996). A terapia nutricional (TN) deve ser iniciada tão logo se tenha o diagnóstico de risco nutricional ou qualquer grau de desnutrição, tanto para pacientes internados ou ambulatoriais, desde que estejam em condições hemodinâmicas estáveis, por um período mínimo de sete dias (MARIAN, 2005). O critério para a indicação da via a ser utilizada vai depender do funcionamento total ou parcial do trato gastrointestinal. A via oral é a melhor opção, porém quando a ingestão alimentar ficar comprometida, a terapia nutricional enteral via oral ou através de sondas deverá ser instituída. Sendo assim, ficou consensuado que a TNE por sonda deve ser indicada na impossibilidade de utilização da via oral e ingestão alimentar oral insuficiente, inferior a 60% das recomendações, sem expectativa de melhora da ingestão. A terapia nutricional parenteral (TNP) deve ser indicada na impossibilidade total ou parcial de uso do trato gastrointestinal (ANDRADE et al., 2004). Os pacientes devem ser avaliados e monitorados periodicamente de forma individualizada, conforme os parâmetros já estabelecidos pela American Society Parenteral and Enteral Nutrition, devendo todos estes dados ser registrados em formulário específico e anexado em prontuário (ASPEN, 1998; ASPEN, 2002). O programa de desmame da TN deve ser progressivo de acordo com a reabilitação alimentar convencional e o desmame da TNP deverá ocorrer tão logo for possível a utilização do TGI. Na vigência de instabilidade hemodinâmica a terapia nutricional deve ser suspensa (LAMEU, 2005). O Quadro 7 apresenta as condutas consensuadas sobre terapia nutricional do paciente adulto oncológico em tratamento clínico (quimioterapia e radioterapia). Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto Quadro 7 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente adulto oncológico em tratamento clínico Questão Quais os objetivos da TN no paciente adulto? Quimioterapia - Prevenir ou reverter a deterioração do estado nutricional - Evitar a progressão para um quadro de caquexia - Auxiliar no manejo dos sintomas - Melhorar o balanço nitrogenado - Reduzir a proteólise - Aumentar a resposta imune - Reduzir o tempo de internação hospitalar e promover melhor qualidade de vida ao paciente Que critérios devem Todos os pacientes com risco ser utilizados para nutricional e/ou presença de indicar TN? desnutrição Quando indicada, a A TN deve ser iniciada TN deve ser iniciada imediatamente após diagnóstico de em que momento? risco nutricional ou de desnutrição, para pacientes ambulatoriais ou internados, desde que estejam em condições hemodinâmicas estáveis, por um período mínimo de 7 dias Quais os critérios de TNE: TGI total ou parcialmente indicação da via a ser funcionante· utilizada? • TNE via oral: os complementos enterais devem ser a primeira opção, quando a ingestão alimentar for < 75% das recomendações em até 5 dias, sem expectativa de melhora da ingestão • TNE via sonda: impossibilidade de utilização da via oral, ingestão alimentar insuficiente (ingestão oral < 60% das recomendações) em até 5 dias consecutivos, sem expectativa de melhora da ingestão TNP: impossibilidade total ou parcial de uso do TGI Que parâmetros deConforme os parâmetros vem ser utilizados para consensuados por ASPEN 1998 e 2002 monitorar a resposta à TN? Que dados devem ser Todos os dados coletados da registrados da TN? monitorização da TN devem ser registrados em formulário específico do SND e EMTN e anexado ao prontuário Radioterapia - Prevenir ou reverter a deterioração do estado nutricional - Evitar a progressão para um quadro de caquexia - Auxiliar no manejo dos sintomas - Melhorar o balanço nitrogenado - Reduzir a proteólise - Aumentar a resposta imune - Reduzir o tempo de internação hospitalar e promover melhor qualidade de vida ao paciente Todos os pacientes com risco nutricional e/ou presença de desnutrição A TN deve ser iniciada imediatamente após diagnóstico de risco nutricional ou de desnutrição, para pacientes ambulatoriais ou internados, desde que estejam em condições hemodinâmicas estáveis, por um período mínimo de 7 dias TNE: TGI total ou parcialmente funcionante· • TNE via oral: os complementos enterais devem ser a primeira opção, quando a ingestão alimentar for < 75% das recomendações em até 5 dias, sem expectativa de melhora da ingestão • TNE via sonda: impossibilidade de utilização da via oral, ingestão alimentar insuficiente (ingestão oral < 60% das recomendações) em até 5 dias consecutivos, sem expectativa de melhora da ingestão TNP: impossibilidade total ou parcial de uso do TGI Conforme os parâmetros consensuados por ASPEN 1998 e 2002 Todos os dados coletados da monitorização da TN devem ser registrados em formulário específico do SND e EMTN e anexado ao prontuário 37 38 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Quadro 7 (cont.) Questão Quando suspender a TN? Como programar o desmame? Quimioterapia TNE via oral: quando há inviabilidade da via (odinofagia, disfagia, obstrução, vômitos incoercíveis, risco de aspiração), recusa do paciente e intolerância TNE via sonda: instabilidade hemodinâmica e/ou persistentes intercorrências, como diarreia severa (acima de 500 ml/dia), vômitos incontroláveis (pósadequações de volume, tempo e formulações da dieta) e quando há inviabilidade da via de acesso TNP: instabilidade hemodinâmica Progressivamente TNE via oral: quando a ingestão da alimentação convencional for maior do que 75% do GET por 5 dias consecutivos TNE via sonda: quando a ingestão oral permanecer ≥ 60% do GET por 3 dias consecutivos TNP: quando possível a utilização do TGI Radioterapia TNE via oral: quando há inviabilidade da via (odinofagia, disfagia, obstrução, vômitos incoercíveis, risco de aspiração), recusa do paciente e intolerância TNE via sonda: instabilidade hemodinâmica e/ou persistentes intercorrências, como diarreia evera (acima de 500 ml/dia), vômitos incontroláveis (pósadequações de volume, tempo e formulações da dieta) e quando há inviabilidade da via de acesso TNP: instabilidade hemodinâmica Progressivamente TNE via oral: uando a ingestão da alimentação convencional for maior do que 75% do GET por 5 dias consecutivos TNE via sonda: quando a ingestão oral permanecer ≥ 60% do GET por 3 dias consecutivos TNP: quando possível a utilização do TGI 1.2.4 Seguimento Ambulatorial O acompanhamento ambulatorial regular do estado nutricional durante a quimioterapia e radioterapia torna-se necessário diante das complicações provenientes dos efeitos tóxicos do tratamento oncológico. Através da adaptação dietética que deve acompanhar os efeitos colaterais do tratamento e evolução da própria doença, a assistência nutricional durante a quimioterapia e/ ou radioterapia deve promover a autonomia e independência do paciente, bem como da família, no planejamento de sua alimentação após o término do tratamento. O paciente adulto sem evidência de doença, com ou sem comorbidade e sem sequelas do tratamento, deverá ser devidamente encaminhado para a rede básica de saúde. Dependendo da proposta do tratamento clínico ou da área irradiada, alguns pacientes necessitam de acompanhamento nutricional após o término da quimioterapia e/ou radioterapia, pois podem apresentar sintomas tóxicos agudos ou tardios decorrentes do tratamento, sendo necessário acompanhamento nutricional até sua reabilitação. Neste caso, e de acordo com o que foi consensuado, todo paciente com sequelas do tratamento e implicações nutricionais deve ser acompanhado no ambulatório de nutrição até sua reabilitação. O Quadro 8 apresenta as condutas consensuadas sobre seguimento ambulatorial para pacientes oncológicos adultos em tratamento clínico (quimioterapia e radioterapia). Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto Quadro 8 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico adulto em tratamento clínico Questão O paciente adulto sem evidência de doença, sem comorbidade e sem sequelas do tratamento deve ser acompanhado pelo ambulatório do SND? Com comorbidades e sem sequelas do tratamento? Com sequelas decorrentes do tratamento? Pós-Quimioterapia Não. Este paciente deverá ser encaminhado para a rede básica de saúde Pós-Radioterapia Não. Este paciente deverá ser encaminhado para a rede básica de saúde Não. Este paciente deverá ser encaminhado para a rede básica de saúde Todos os pacientes oncológicos com sequelas do tratamento e implicações nutricionais devem ser acompanhados pelo ambulatório do SND Não. Este paciente deverá ser encaminhado para a rede básica de saúde Todos os pacientes oncológicos com sequelas do tratamento e implicações nutricionais devem ser acompanhados pelo ambulatório do SND 39 40 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica 1.3 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE SUBMETIDO A TRANSPLANTE DE CÉLULASTRONCO HEMATOPOÉTICAS (TCTH) 1.3.1 Avaliação Nutricional A avaliação nutricional (AN) em pacientes candidatos ao TCTH compreende primeiramente a detecção de carências eventuais, suscetíveis de serem rapidamente corrigidas, pois indivíduos com estado nutricional comprometido apresentam maiores riscos de infecção, falha na pega do enxerto e consequente queda na sobrevida (SCHLOERB; AMARE, 1993; MUSCARATOLI, 2002; JUSTINO; WAITZBERG, 2006). Um exame clínico e um interrogatório simples, assim como avaliação antropométrica, devem ser utilizados para avaliar e detectar este tipo de população, nas diferentes etapas do TCTH (CHENEY et al.,1987). O objetivo desses procedimentos é detectar possíveis carências nutricionais, possibilitando a intervenção precoce. E os indicadores de risco nutricional, como história de perda de peso, sintomas do trato gastrointestinal (TGI), percentual de ingestão alimentar e tipo de transplante, são de grande valia para identificar os pacientes sobre agravo nutricional (AKER, 1995; MUSCARATOLI, 2002). Entretanto, todos os pacientes, independente do tipo de TCTH, devem ser submetidos a AN. É recomendado que a frequência de avaliação destes pacientes baseie-se na presença ou não de risco nutricional, devendo esta periodicidade não exceder a 15 dias para pacientes ambulatoriais já sob risco nutricional e 30 dias para aqueles que ainda não apresentam risco (SCHLOERB; AMARE, 1993). Durante o período de internação, devido ao estado de hiper-hidratação e desequilíbrio de fluidos e eletrólitos, não é recomendada avaliação antropométrica como rotina, devendo esta ser realizada somente no período de pré-condicionamento (SCHLOERB; AMARE, 1993). Com relação aos parâmetros laboratoriais, devido à instabilidade destes doentes, deverão ser realizados, no mínimo, três vezes por semana. Demais parâmetros, como anamnese alimentar, exame físico e clínico, devem ser feitos diariamente, em virtude das intercorrências acima mencionadas, tanto no período pré quanto pós-condicionamento (COHN et al., 1981). Os parâmetros obtidos da AN devem ser registrados em formulário específico no prontuário, para que todos da equipe multidisciplinar tenham acesso às informações pertinentes ao estado nutricional destes pacientes (DAVIES, 2005). O Quadro 9 apresenta as condutas consensuadas sobre avaliação nutricional do paciente adulto oncológico em TCTH. Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto Quadro 9 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico adulto submetido a TCTH Questão Que instrumentos devo utilizar para a AN? Pré-TCTH - No momento da internação: ASGPPP ou ASG - Durante a internação: anamnese nutricional compreendendo dados clínicos e dietéticos Que indicadores de risco - ASG-PPP: > ou = 2 e ASG= B ou C nutricional devo utilizar? - Ingestão alimentar < 60% das necessidades - Sintomas do TGI - % PP – significativa ou severa - Tipo de transplante – Alogênico Com que frequência devo Ambulatorialmente: avaliar? - Sem Risco Nutricional – em até 30 dias - Com Risco Nutricional – em até 15 dias Internado: - Na admissão hospitalar: ASG ou ASG-PPP - Durante a internação: •Parâmetros antropométricos (pré-condicionamento) •Parâmetros laboratoriais: realizar no mínimo 3 vezes por semana - Anamnese alimentar e exame físico e clínico: diariamente Quais os pacientes Todos os pacientes, independente do adultos oncológicos tipo de TCTH devem ser avaliados? Que dados da AN devo Todos os dados coletados da avaliaregistrar? ção nutricional devem ser registrados em formulário específico do SND e EMTN no prontuário Pós-TCTH - No momento da internação: ASGPPP ou ASG - Durante a internação: anamnese nutricional compreendendo dados clínicos e dietéticos - ASG-PPP: > ou = 2 e ASG= B ou C - Ingestão alimentar < 60% das necessidades - Sintomas do TGI - % PP – significativa ou severa - Tipo de transplante – Alogênico - Anamnese alimentar e exame físico e clínico: diariamente - Parâmetros laboratoriais: realizar no mínimo 3 vezes por semana Todos os pacientes, independente do tipo de TCTH Todos os dados coletados da avaliação nutricional devem ser registrados em formulário específico do SND e EMTN no prontuário 1.3.2 Necessidades Nutricionais Durante o TCTH ocorrem duas situações distintas e simultâneas: a diminuição da ingestão oral de alimentos e o aumento das necessidades metabólicas, que irão interferir no estado nutricional do paciente. A manutenção de um bom estado nutricional é de extrema importância em todo o processo do TCTH. Para que tal fato ocorra, é necessária uma oferta adequada de nutrientes (ANDERS et al., 2000). Embora o gasto de energia possa ser diferente entre um transplante autólogo e um transplante alogênico, é consenso que os requerimentos energéticos podem variar, chegando até 150% do gasto energético basal (MUSCARATOLI et al., 2002). 41 42 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Na maioria dos centros de TCTH, os protocolos de recomendação energética são similares. Szeluga et al. (1995) demonstraram que, para manter um balanço nitrogenado em zero, foram necessárias de 30 a 50 kcal/kg de peso por dia para adolescentes e adultos. Segundo critérios do Fred Hutchinson Cancer Research Center, centro de referência mundial em TCTH, no período de pós-transplante imediato (30-50dias), as necessidades energéticas refletem o aumento do requerimento devido ao condicionamento, febre, infecções, doença enxerto contra hospedeiro aguda (DECH) e outras complicações metabólicas (FRED HUTCHINSON CANCER RESEARCH CENTER, 1985). Com relação às necessidades proteicas, são estimadas a fim de prover substrato para o reparo de tecido após a terapia de citorredução e poupar perda de massa magra (WEISDORF et al., 1987; FRED HUTCHINSON CANCER RESEARCH CENTER, 1985; MUSCARATOLI et al., 2002). Já os requerimentos hídricos para esta população de pacientes baseiam-se na oferta de líquidos preconizados para indivíduos normais, que é de 1 ml/kcal ou 35 ml/kg/p; contudo, devido às perdas dinâmicas e retenções hídricas muitas vezes apresentadas por estes pacientes, ajustes nestes cálculos poderão ser necessários (MAHAN et al., 1998; CUPPARI, 2005). O Quadro 10 apresenta as condutas consensuadas sobre as recomendações nutricionais para pacientes nas diferentes etapas do TCTH. Quadro 10 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico adulto submetido a TCTH Questão Qual método deve ser utilizado para estimativa das necessidades calóricas? Quais as recomendações proteicas? Quais as recomendações hídricas? Pré-TCTH Adultos Kcal/kg/dia Manutenção de peso 25-30 Ganho de peso 30-35 Repleção 35-45 Pós-TCTH Adultos Kcal/kg/dia Manutenção de peso 25-30 Ganho de peso 30-35 Repleção 35-45 Adultos gramas/kg/dia Manutenção 1,0 – 1,2 Repleção 1,2 – 1,5 Adultos ml/kg/dia 18 – 55 anos 35 55 – 65 anos 30 > 65 anos 25 Acrescentar perdas dinâmicas e descontar retenções hídricas Adultos Repleção gramas/kg/dia 1,5 – 2,0 Adultos ml/kg/dia 18 – 55 anos 35 55 – 65 anos 30 > 65 anos 25 Acrescentar perdas dinâmicas e descontar retenções hídricas Fonte: Adaptado de Fred Hutchinson, 1985; adaptado de Martins C; Cardoso SP (2000). Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto 1.3.3 Terapia Nutricional A terapia nutricional (TN) no TCTH tem como objetivo manter ou melhorar o estado nutricional, fornecer substrato de forma adequada para recuperação hematopoética e do sistema imune, além de minimizar as consequências do regime de condicionamento (ANDERS et al., 2000). Deverá ser indicada de forma individualizada, utilizando como critérios pacientes que estejam sob risco nutricional e/ou desnutridos (AKER; LESSEN, 1995; ALBERTINI; RUIZ, 2001; MUSCARATOLI et al., 2002). Quando indicada, a TN deve ser iniciada imediatamente após diagnóstico de risco nutricional ou desnutrição, tanto para pacientes ambulatoriais quanto internados, pois a TN precoce melhora não só a resposta aos tratamentos antitumor como também a qualidade de vida (MUSCARATOLI et al., 2002). Após indicada, a TN poderá ser administrada diretamente no trato gastrointestinal (TGI), se este estiver total ou parcialmente funcionante. A via oral deverá ser sempre a primeira opção, por ser a via mais fisiológica e menos invasiva. Caso ocorra a impossibilidade de utilização desta via ou ingestão oral inferior a 60% das recomendações, a TN poderá ser administrada através de uma sonda. Na impossibilidade total ou parcial de uso do TGI, a terapia nutricional parenteral (TNP) estará indicada (ANDERS et al., 2000; MUSCARATOLI et al., 2002; JUSTINO; WAITZBERG, 2006). A frequência da monitoração da resposta a esta terapia deve ser individualizada e norteada de acordo com os parâmetros já amplamente discutidos e consensuados pela American Society Parenteral and Enteral Nutrition, devendo todos os dados desta monitoração serem registrados em formulário específico e anexado ao prontuário do paciente (ASPEN, 1998; ASPEN, 2002). O desmame da TNE deverá ocorrer progressivamente, à medida que o paciente cursar com melhora da ingestão alimentar convencional, e da TNP quando for possível a utilização do TGI (ROBERTS, 1993). Nos estados de choque de qualquer etiologia, com grave repercussão hemodinâmica, se não for ofertado oxigênio adequadamente para as células, tanto a nutrição enteral como a parenteral estão formalmente suspensas (LAMEU, 2005). O Quadro 11 apresenta as condutas consensuadas sobre terapia nutricional em pacientes oncológicos adultos submetidos a TCTH. 43 44 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Quadro 11 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico adulto submetido a TCTH Questão Quais os objetivos da TN no paciente adulto? Pré-TCTH - Manter ou recuperar o estado nutricional - Evitar a desnutrição proteico-calórica - Evitar ou minimizar as deficiências nutricionais decorrentes da terapia oncológica - Implementar um plano dietoterápico individualizado que atenda às exigências nutricionais do paciente durante todas as fases do tratamento - Manter o TGI funcionante - Evitar futuros procedimentos invasivos como NPT - Encorajar a ingestão de alimentos VO, mediante a adequação da dieta aos sintomas decorrentes da terapia e da doença enxerto contra hospedeiro, respeitando hábitos e tolerância do paciente Todos os pacientes com risco nutricional e/ou presença de desnutrição Pós-TCTH - Manter ou recuperar o estado nutricional - Evitar a desnutrição proteico-calórica - Evitar ou minimizar as deficiências nutricionais decorrentes da terapia oncológica - Implementar um plano dietoterápico individualizado que atenda às exigências nutricionais do paciente durante todas as fases do tratamento - Manter o TGI funcionante - Evitar futuros procedimentos invasivos como NPT - Encorajar a ingestão de alimentos VO, mediante a adequação da dieta aos sintomas decorrentes da terapia e da doença enxerto contra hospedeiro, respeitando hábitos e tolerância do paciente Que critérios devem Todos os pacientes com risco ser utilizados para nutricional e/ou presença de indicar TN? desnutrição Quando indicada, a A TN deve ser iniciada A TN deve ser iniciada TN deve ser iniciada imediatamente após diagnóstico de ris- imediatamente após diagnóstico de risem que momento? co nutricional ou de desnutrição, para co nutricional ou de desnutrição, para pacientes ambulatoriais ou internados, pacientes ambulatoriais ou internados, desde que estejam em condições hedesde que estejam em condições hemodinâmicas estáveis, por um período modinâmicas estáveis, por um período mínimo de 7 dias mínimo de 7 dias Quais os critérios de TNE: TGI total ou parcialmente TNE: TGI total ou parcialmente funindicação da via a ser funcionante· cionante· utilizada? • TNE via oral: os complementos • TNE via oral: os complementos enterais devem ser a primeira enterais devem ser a primeira opção, opção, quando a ingestão alimentar quando a ingestão alimentar for for < 75% das recomendações < 75% das recomendações em até em até 5 dias, sem expectativa de 5 dias, sem expectativa de melhora melhora da ingestão da ingestão • TNE via sonda: impossibilidade • TNE via sonda: impossibilidade de utilização da via oral, ingestão de utilização da via oral, ingestão alimentar insuficiente (ingestão alimentar insuficiente (ingestão oral < 60% das recomendações) oral < 60% das recomendações) em até 5 dias consecutivos, sem em até 5 dias consecutivos, sem expectativa de melhora da ingestão expectativa de melhora da ingestão TNP: impossibilidade total ou parcial TNP: impossibilidade total ou de uso do TGI parcial de uso do TGI Que parâmetros deConforme os parâmetros Conforme os parâmetros vem ser utilizados para consensuados por ASPEN 1998 e 2002 consensuados por ASPEN 1998 e 2002 monitorar a resposta à TN? Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto Quadro 11 (cont.) Questão Que dados devem ser registrados da TN? Quando suspender a TN? Como programar o desmame? Pré-TCTH Todos os dados coletados da monitorização da TN devem ser registrados em formulário específico do SND e EMTN e anexado ao prontuário Na vigência de instabilidade hemodinâmica Progressivamente: TNE via oral: quando a ingestão da alimentação convencional for maior que 75% do GET por 5 dias consecutivos TNE via sonda: quando a ingestão oral permanecer ≥ 60% do GET por 3 dias consecutivos TNP: quando possível a utilização do TGI Pós-TCTH Todos os dados coletados da monitorização da TN devem ser registrados em formulário específico do SND e EMTN e anexado ao prontuário Na vigência de instabilidade hemodinâmica Progressivamente: TNE via oral: quando a ingestão da alimentação convencional for maior que 75% do GET por 5 dias consecutivos TNE via sonda: quando a ingestão oral permanecer ≥ 60% do GET por 3 dias consecutivos TNP: quando possível a utilização do TGI 1.3.4 Seguimento Ambulatorial Embora pouco explorado no meio científico, não resta dúvida de que o seguimento ambulatorial é considerado parte integrante dos cuidados de suporte para pacientes submetidos a TCTH, uma vez que tem por objetivo principal impedir a desnutrição secundária à toxicidade gastrointestinal e minimizar os efeitos das alterações metabólicas induzidas pelos regimes agressivos do condicionamento. O acompanhamento nutricional é importante após o fim do tratamento e no período de seguimento, pois existem diferenças significativas sobre o estado nutricional nos variados tipos de transplante, autólogo, singênico e alogênico (DICLEHAN et al., 2006). Além disto, o período de seis meses após o TCTH ou durante o uso de imunossupressores, é considerado o de maior risco de infecções oportunistas, em especial para aqueles pacientes que foram submetidos a transplante alogênico. O transplante autólogo, devido às células-tronco serem oriundas do próprio paciente e pelo fato de não usar drogas imunossupressoras, tem um tempo menor de risco, que pode variar de três a seis meses (MUSCARATOLI et al., 2002). Após estes períodos, não ocorrendo comorbidades e sequelas decorrentes do tratamento e tomando por base a prática clínica, estes pacientes devem ser encaminhados à rede básica de saúde. Entretanto, alguns pacientes podem apresentar complicações no pós-TCTH, como diabetes, dislipidemia e obesidade, decorrentes dos efeitos tardios de drogas como os imunossupressores e corticoides (GARÓFOLO et al., 2006). Neste caso, e de acordo com o que foi consensuado, esta população de pacientes deverá ter um acompanhamento nutricional periódico. O Quadro 12 apresenta as condutas consensuadas para o seguimento ambulatorial de pacientes adultos submetidos ao TCTH. 45 46 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Quadro 12 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico adulto submetido a TCTH Questão O paciente adulto sem evidência de doença, sem comorbidade e sem sequelas do tratamento deve ser acompanhado pelo ambulatório do SND? O paciente adulto com comorbidades e sem sequelas do tratamento deve ser acompanhado pelo ambulatório do SND? O paciente adulto com sequelas decorrentes do tratamento deve ser acompanhado pelo ambulatório do SND? Pós-TCTH (considerar as três modalidades de TCTH) - Autólogo/Singênico – até D + 100 - Alogênico – até D +180 Após estes períodos, encaminhar à rede básica de saúde Não, após o período de controle da doença, este paciente deverá ser encaminhado para a rede básica de saúde Todos pacientes oncológicos com sequelas do tratamento e implicações nutricionais devem ser acompanhados pelo ambulatório do SND Capítulo 1 – Paciente Oncológico Adulto Referências CARO, M.M.M et al. Nutritional intervention and quality of life in adult oncology patients. Clinical Nutrition, v.26, p.289-301, 2007. DAVIES, M. Nutritional screening and assessment in cancer-associated malnutrition. European Journal of Oncology Nursing, v.9, p. 564-573, 2005. KYLE, U.G.; PIRLICH, M.; SCHUETZ, T.; LOCHS, H.; PICHARD, C. Is nutritional depletion by nutritional risk index associated with increased length of hospital stay? A population-based study. JPEN. 2004; 28(2): 99-104. MARIAN, A. E. 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O objetivo do tratamento não é mais a cura e sim o alívio do sofrimento (WALKER; CAROLINE, 2000). Para a elaboração deste documento, foi considerado, entre todas as unidades assistenciais envolvidas, que o paciente com câncer avançado será o que apresentar expectativa de vida de mais de 6 meses e em estágio terminal da doença, expectativa menor do que 6 meses. Já em paciente ao fim da vida, a expectativa de vida considerada será a de até 72 horas. A caquexia do câncer, muito comum nesta fase avançada da doença, é caracterizada, principalmente, pela perda progressiva de peso e anorexia. Frequentemente os pacientes têm problemas como: disfagia, odinofagia, digeusia ou hipogeusia, estomatite, náuseas, vômitos, dispneia e outros, que levam, portanto, à redução do consumo alimentar, já prejudicado anteriormente por problemas específicos da localização tumoral e de seu tratamento. Neste momento, não há recuperação do estado nutricional que se estabelece no paciente terminal (ELDRIDGE, 2005; CABRAL; CORREIA, 2006; ROSENFELD, 2006). A orientação nutricional é conduzida mediante as queixas apresentadas pelo paciente, visando ao alívio dos sintomas relacionados à alimentação, através de uma conduta nutricional adequada. Esta deve ser baseada sempre na via de alimentação (oral ou enteral – cateteres ou ostomias), comorbidades associadas, intolerâncias alimentares, consistência e volume da dieta, dados estes obtidos através de uma anamnese alimentar detalhada. As restrições alimentares devem ser feitas somente na presença de sintomas e se a ingestão não estiver alterada. A antropometria como diagnóstico do estado nutricional no câncer avançado traz desvantagem se os pacientes apresentarem retenção hídrica e edema, disfarçando a detecção da perda muscular, que é a que mais contribui para a incapacidade funcional dos pacientes (CABRAL; CORREIA, 2006). Desta forma, os aspectos agradáveis da alimentação devem ser enfatizados e os esforços voltados para fazer disto algo prazeroso e sociável no final da vida, sem a preocupação com o teor, os nutrientes e a energia (ELDRIDGE, 2005; ROSENFELD, 2006). 2.1 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL A desnutrição atinge 66,4% dos pacientes com câncer, de acordo com o Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional (IBRANUTRI) (WAITZBERG et al., 2006). O grau e a prevalência da desnutrição estão relacionados, dentre outros fatores, ao estágio do tumor, podendo acometer mais gravemente os pacientes em cuidados paliativos (MORRISON, 1976). 53 54 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica A avaliação nutricional (AN) precede a indicação da Terapia Nutricional e, em cuidados paliativos, deve ser realizada, mesmo que com diferentes instrumentos, em cada fase da doença, tendo como objetivo coletar informações que irão auxiliar no planejamento dietético, devendo estar voltada para o alívio dos sintomas, bem-estar e conforto do paciente e seu cuidador (HUHMANN; CUNNINGHAN, 2005; CORRÊA; SHIBUYA, 2007). Na doença avançada e na doença terminal, recomenda-se a ASG ou ASG-PPP no momento da internação. Para o acompanhamento, anamnese nutricional compreendendo dados clínicos, dietéticos, antropométricos (dependendo das condições do paciente e da disponibilidade de equipamentos) e sinais e sintomas apresentados. Nos cuidados ao final da vida, a avaliação nutricional restringe-se à anamnese nutricional desde a internação até o acompanhamento, com objetivo maior de identificar e amenizar sintomatologia. Todos os dados obtidos através da avaliação nutricional devem ser registrados no prontuário do paciente, conforme rotina hospitalar. A assistência em cuidados paliativos deve ser total, ativa, contínua e integral, focando o controle da dor, conforto físico e emocional, o alívio dos sintomas e do sofrimento em busca da melhor qualidade de vida (BACHMANN et al., 2003). Qualquer instrumento de AN que possa gerar desconforto físico ou emocional não deve ser utilizado nesta fase. O Quadro 13 apresenta as condutas consensuadas para AN em pacientes em cuidados paliativos. Capítulo 2 – Paciente Oncológico Adulto em Cuidados Paliativos Quadro 13 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico adulto em cuidados paliativos Questão A AN deve ser realizada em pacientes adultos em cuidados paliativos? Quais os pacientes adultos em cuidados paliativos devem ser avaliados? Que instrumentos devo utilizar para a AN ? Sim Sim Cuidados ao final de Vida Sim Todos Todos Todos - No momento da internação: ASG-PPP ou ASG - Durante a internação: anamnese nutricional compreendendo dados clínicos e dietéticos Controle dos sintomas, acompanhamento da tolerância à dieta prescrita, da satisfação, do prazer da alimentação, da ingestão alimentar e hídrica e do estado de hidratação Anamnese nutricional compreendendo dados clínicos e dietéticos Diariamente e sempre que for necessário, de acordo com a evolução da doença e aparecimento ou agravamento dos sintomas Diariamente e sempre que for necessário, de acordo com a evolução da doença e aparecimento ou agravamento dos sintomas Todos os dados coletados devem ser registrados no prontuário (de acordo com a rotina hospitalar) Todos os dados coletados devem ser registrados no prontuário (de acordo com a rotina hospitalar) Doença Avançada - No momento da internação: ASG-PPP ou ASG -Durante a internação: anamnese nutricional compreendendo dados clínicos e dietéticos ASG ou ASG-PPP Quais indicadores de Anamnese alimentar risco nutricional devo Peso - atual ou referido, utilizar? se recente Altura - dependendo da disponibilidade de equipamentos e condições clínicas e emocionais do paciente. Sinais e sintomas apresentados Com que frequência Internação: admissão – devo avaliar? ASG Diariamente: sinais, sintomas e anamnese alimentar A cada 7 a 10 dias: peso e altura Ambulatorial: conforme agendamento ou demanda espontânea Quais dados da AN devo Todos os dados coletados registrar? devem ser registrados no prontuário (de acordo com a rotina hospitalar) Doença Terminal Controle dos sintomas, acompanhamento da tolerância à dieta prescrita, da satisfação, do prazer da alimentação, da ingestão alimentar e hídrica e do estado de hidratação 55 56 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica 2.2 NECESSIDADES NUTRICIONAIS Pacientes com câncer apresentam em geral anorexia e emagrecimento involuntário, levando ao estado de caquexia. A caquexia tem impacto negativo sobre a expectativa e na qualidade de vida do paciente com câncer em cuidado paliativo (STRASSER, 2003; WAITZBERG, 2006). As necessidades nutricionais no câncer podem variar de acordo com o tipo e a localização do tumor, o grau de estresse e o estágio da doença (ROBERTS; MATTO, 2007). A maioria dos estudos não descreve em detalhes a quantidade de calorias e de proteínas que são utilizadas para pacientes em cuidados paliativos. No entanto, alguns estudos relatam a dieta hipercalórica e hiperproteica para tentar amenizar a velocidade da perda ponderal e oferecer benefícios no cuidado e no tratamento deste paciente (BOSEAUS et al., 2005; MALTONI et al., 2005; OH, et al., 2007; RAVASCO et al., 2007; HULTTON et al., 2006). Pacientes com câncer avançado ou terminal devem receber de 20 a 35 kcal/kg peso atual/dia e 1,0 a 1,8 g proteína/kg peso atual/dia. O cálculo realizado não garante a ingestão ou administração de 100% do que foi prescrito. É preciso respeitar a tolerância e a aceitação do paciente. Distúrbios do trato gastrointestinal são frequentes e atingem 58% dos pacientes com câncer avançado (CHIU et al., 2002), impedindo o paciente de se alimentar e atingir suas necessidades nutricionais. A quantidade de calorias e proteínas que deve ser utilizada para o paciente oncológico no fim de vida não é descrita na literatura, já que a expectativa de vida é de até 72 horas (BOSEAUS et al., 2002; BOSEAUS et al., 2005; MALTONI et al., 2005; MEYENFELDT et al., 2005, OH et al., 2007). Sendo assim, para este paciente, as necessidades calóricas e proteicas serão estabelecidas de acordo com sua aceitação e tolerância para promoção de conforto, prioritariamente. O método utilizado para estimativa das necessidades calóricas e proteicas será conforme objetivo do plano dietoterápico (realimentação, desnutrição, obesidade, manutenção de peso, cirurgia e tratamento paliativo). A necessidade hídrica depende da sintomatologia apresentada, tolerância e sobrevida do paciente (EBERHARDIE, 2002). Em geral, no adulto é de 30 a 35 ml/kg de peso/dia e, no idoso, de 25 ml/kg de peso/dia. A maior parte dos pacientes em cuidados ao final da vida requer quantidades mínimas de água e alimento para saciar a fome e a sede (MCCANN et al., 1994), sendo a indicação hídrica basal preconizada de 500 ml/dia a 1.000 ml/dia (OH et al., 2007). Desta forma, a oferta tanto de líquidos como de nutrientes deve ser restringida de acordo com a tolerância e a sintomatologia deste paciente. O Quadro 14 apresenta as condutas consensuadas das recomendações nutricionais para os pacientes em cuidados paliativos nas três fases da doença. Capítulo 2 – Paciente Oncológico Adulto em Cuidados Paliativos Quadro 14 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico adulto em cuidados paliativos Cuidados ao Fim da Vida Qual método deve ser -20 Kcal/kg a 35 Kcal/ - 20 Kcal/kg a 35 Kcal/ As necessidades utilizado para kg/dia kg/dia calóricas para o paciente estimativa das - Se necessário, ajustar o - Utilizar o peso teórico oncológico no fim da necessidades calóricas? peso do paciente (edema, ou usual ou peso mais vida serão estabeleciobesidade, massa turecente das de acordo com a moral) aceitação e tolerância do paciente As necessidades Quais as recomendações - De 1.0 a 1.8 g ptn / kg /dia - Sempre respeitar a proteicas para o paciente proteicas? - Ajustar a recomendação tolerância e a aceitação oncológico no fim da proteica do paciente do paciente de acordo com o peso - Oferecer as necessidades vida serão estabelecidas de acordo (edema e massa tumoral) basais de 1g ptn/kg/dia, e comorbidades (doença podendo oferecer de 1.0 com a aceitação e tolerância do paciente renal e hepática) a 1.8 g ptn /kg /dia - Utilizar o peso teórico ou usual ou peso mais recente - Ajustar a recomendação proteica do paciente de acordo com comorbidades (doença renal e hepática) Quais as recomendações A necessidade hídrica A necessidade hídrica A necessidade hídrica hídricas? basal é: basal é: basal é de no mínimo - Adulto: de 30 a 35 ml/ - Adulto: de 30 a 35 ml/ 500 a 1.000 ml/dia: kg/dia kg/dia - Adulto: de 30 a 35 ml/ - Idoso: 25 ml/kg/dia - Idoso: 25 ml/kg/dia kg/dia A hidratação deve ser A hidratação deve ser - Idoso: 25 ml/kg/dia administrada de acordo administrada de acordo A hidratação deve ser com a tolerância e a com a tolerância e a sin- administrada de acordo sintomatologia do tomatologia do paciente com a tolerância e a paciente sintomatologia do paciente Questão Doença Avançada Doença Terminal Fonte: Adaptado de Martins C; Cardoso SP (2000). 2.3 TERAPIA NUTRICIONAL A indicação de terapia nutricional (TN) em pacientes em cuidados paliativos ainda é controversa. Nestas condições, seu principal objetivo é evitar desconforto através do controle de sintomas e promoção de qualidade de vida, garantindo assim uma sobrevida digna (CORRÊA; SHIBUYA, 2007; BRUERA et al., 2003). Embora grande parte dos pacientes oncológicos em cuidados paliativos apresente algum comprometimento do estado nutricional, nem sempre a recuperação através da TN é possível. 57 58 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Pacientes em cuidado ao fim da vida não se beneficiam desta intervenção; entretanto, é verificado que pacientes em fase avançada e com doença terminal podem se beneficiar desta terapia (MIRHOSSEIMI et al., 2005). A terapia nutricional enteral (TNE) via oral é a melhor opção, desde que o trato gastrointestinal (TGI) esteja íntegro e o paciente apresente condições clínicas para utilizála e assim o deseje (RIPAMONTI, 2001). A indicação da TNE via sonda tem tido sucesso em pacientes com impossibilidade de utilizar a via oral e que apresentam trato gastrointestinal funcionante, por diversos aspectos como: preservar a integridade intestinal, reduzir a privação nutricional, minimizar déficits nutricionais, reduzir complicações da desnutrição, controlar sintomas, evitar a desidratação, oferecer conforto e melhorar a capacidade funcional e a qualidade de vida (BOZZETTI, 2001; WAITZBERG, 2006). A Terapia Nutricional Parenteral (TNP) pode ser indicada para o paciente em estágio avançado com impossibilidade total ou parcial do uso do trato gastrointestinal, mas não é uma via de escolha para pacientes terminais e em cuidados ao fim da vida, já que não oferece benefícios (CHIU et al., 2002). Quando indicada, a TN deve ser iniciada em pacientes com risco nutricional ou presença de desnutrição, devendo estes apresentar: Performance Status (PS) igual ou menor do que 3 e Karnofsky Performance Status (KPS) igual ou maior do que 30%, pois são bons parâmetros para o valor prognóstico da doença. É essencial, independente de qualquer conduta dietoterápica, respeitar a vontade do indivíduo. Assim, antes de indicar a TN é necessário considerar os potenciais riscos e benefícios e o desejo do paciente e da família (CORREA; SHIBUYA, 2007). Todos os dados da monitoração da TN serão norteados de acordo com os parâmetros consensuados pela ASPEN e devem ser registrados em formulários específicos do SND e EMTN e anexados ao prontuário (ASPEN, 1998; ASPEN, 2002). O desmame da TN ocorrerá quando o paciente apresentar melhora da ingestão alimentar via oral e será suspensa na vigência de instabilidade hemodinâmica (WAITZBERG, 2006). O Quadro 15 apresenta as condutas consensuadas sobre terapia nutricional para os pacientes em cuidados paliativos nas três fases da doença. Capítulo 2 – Paciente Oncológico Adulto em Cuidados Paliativos Quadro 15 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico adulto em cuidados paliativos Questão Doença Avançada Quais os objetivos da - Evitar privação TN no paciente adulto? nutricional - Prevenir ou minimizar déficits nutricionais - Reduzir complicações da desnutrição - Controlar sintomas/ evitar desidratação - Confortar emocionalmente/ melhorar a autoestima - Melhorar capacidade funcional/ melhorar a qualidade de vida (QV) Que critérios devem Todos os pacientes com ser utilizados para risco nutricional e/ou preindicar TN? sença de desnutrição Quais as contra indicações para a TN? Doença Terminal - Promover conforto - Aliviar sintomas e melhorar a QV do paciente e seu cuidador Todos os pacientes com risco nutricional e/ou presença de desnutrição, devendo o paciente apresentar PS = ou < 3 e KPS = ou > 30%. Respeitar sempre a vontade do paciente e do seu cuidador TNE via oral: quando TNE via oral: quando ingestão calórica for maior não é possível ou do que 75% das quando há recusa recomendações; ↓ nível de TNE via sonda: consciência; quando quando há recusa do promove desconforto; paciente; quando o KPS recusa do paciente é < 30% e o PS é > 3 TNE via sonda: quando TNP: por não oferecer ingestão calórica VO for benefícios no estágio maior do que 75% das terminal da doença recomendações; quando promove desconforto; recusa do paciente TNP: TGI funcionante Cuidados ao Fim da Vida - Oferecer cuidado nutricional de suporte, promovendo conforto, alívio dos sintomas e melhora da QV do paciente Não há indicação, porém deve-se considerar os consensos entre o paciente, familiares e equipe multidisciplinar Instabilidade hemodinâmica, em caso de morte iminente, porém deve haver sempre um consenso entre a família e equipe multidisciplinar 59 60 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Quadro 15 (cont.) Questão Quais os critérios de indicação da via a ser utilizada? Doença Avançada Doença Terminal TNE: TGI total ou parcial- TNE: TGI total ou parcialmente mente funcionante· funcionante. •TNE via oral: •TNE via oral: os complementos os complementos enterais devem ser enterais devem ser a primeira opção, a primeira opção, quando a ingestão quando a ingestão alimentar for < 75% alimentar for < das recomendações 75% das recoem até 5 dias, sem exmendações em até pectativa de melhora 5 dias, sem expecda ingestão· tativa de melhora • TNE via sonda: da ingestão· impossibilidade de •TNE via sonda: utilização da via oral, impossibilidade de ingestão alimentar utilização da via insuficiente (ingestão oral, ingestão alioral < 60% das recomentar insuficiente mendações) em até (ingestão oral < 5 dias consecutivos, 60% das recosem expectativa de mendações) em até melhora da ingestão 5 dias consecutivos, TNP: impossibilidade total sem expectativa ou parcial de uso do TGI de melhora da ingestão TNP: não é uma via de escolha para o paciente com câncer terminal Conforme os Que parâmetros devem Conforme os parâmetros consensuados por ASPEN parâmetros ser utilizados para consensuados por monitorar a resposta à 1998 e 2002 ASPEN 1998 e 2002 TN? Considerar: bem-estar físico e mental do paciente/QV e satisfação do paciente e seus cuidadores Que dados devem ser Todos os dados coletados Todos os dados coletados da monitorização da TN registrados da TN? da monitorização da TN devem ser registrados em devem ser registrados em formulário formulário específico do SND e EMTN e anexados específico do SND e EMTN e anexados ao ao prontuário prontuário Na vigência de Quando suspender a Na vigência de instabilidade TN? instabilidade hemodinâmica hemodinâmica Ingestão via oral > 70% Como programar o TNE: quando a ingestão desmame? oral permanecer ≥ 60% do em 3 dias consecutivos GET por 3 dias consecutivos TNP: quando possível a utilização do TGI Cuidados ao Fim da Vida Não há indicação, porém deve-se considerar os consensos entre o paciente, familiares e equipe multidisciplinar Conforme os parâmetros consensuados por ASPEN 1998 e 2002 Considerar: bem-estar físico e mental do paciente/QV e satisfação do paciente e seus cuidadores Todos os dados coletados da monitorização da TN devem ser registrados em formulário específico do SND e EMTN e anexados ao prontuário Na vigência de instabilidade hemodinâmica Ingestão via oral > 70% em 3 dias consecutivos Capítulo 2 – Paciente Oncológico Adulto em Cuidados Paliativos 2.4 SEGUIMENTO AMBULATORIAL O acompanhamento do paciente em cuidados paliativos no ambulatório requer uma equipe multiprofissional e interdisciplinar que tenha como objetivos proporcionar conforto emocional, aliviar sintomas e sofrimento, manter e preservar a alimentação e a hidratação e promover qualidade de vida (BACHMAN et al., 2003; SARHILL et al., 2003; SILVA; HORTALE, 2006; BECCARO et al., 2007; CORREA; SHIBUYA, 2007). O atendimento telefônico e domiciliar deve ser disponibilizado, caso o paciente não tenha condições de ir ao consultório. O acompanhamento do paciente com câncer avançado deve ser realizado conforme necessidade individual, não devendo ultrapassar 30 dias, sendo este período diferenciado para o paciente terminal, o qual não deverá ultrapassar 15 dias, já que este paciente tem menor expectativa de vida. O Quadro 16 apresenta as condutas consensuadas para o seguimento ambulatorial nutricional de pacientes oncológicos adultos em cuidados paliativos. Quadro 16 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial nutricional para paciente oncológico adulto em cuidados paliativos Questão Doença Avançada Como deve ser o - Oferecer atendimento acompanhamento da individualizado, através de nutrição? uma equipe interdisciplinar treinada em CP e com foco na QV - Proporcionar conforto emocional, aliviar sintomas e sofrimento - Promover alimentação e hidratação adequadas - Disponibilizar atendimento telefônico e domiciliar - Fornecer de insumos para hidratação e dieta enteral Doença Terminal - Proporcionar conforto emocional, aliviar sintomas - Promover prazer - Manter e preservar a alimentação e a hidratação - Promover qualidade de vida Cuidados ao Fim da Vida - Oferecer atendimento individualizado, através de uma equipe interdisciplinar treinada em CP e com foco na QV - Proporcionar conforto emocional, aliviar sintomas e sofrimento - Promover alimentação e hidratação adequadas - Disponibilizar atendimento telefônico e domiciliar - Manter o fornecimento de insumos para hidratação e dieta enteral 61 62 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Quadro 16 (cont.) Questão Com que frequência esse paciente deve ser acompanhado pela nutrição? Doença Avançada - Ambulatório: conforme necessidade individual, não ultrapassando o período de 30 dias, podendo ser realizado através do cuidador, caso o paciente não possa comparecer - Visita domiciliar: conforme necessidade individual, não ultrapassando o período de 20 dias Quais são os dados que devem ser registrados durante o acompanhamento da nutrição? - Anamnese alimentar: hábitos alimentares, apetite, ingestão alimentar e hídrica (tipo, frequência e quantidade consumida), aversão/intolerância, preferências - Peso atual e altura (se aferidos) - Sinais e sintomas apresentados: anorexia, disgeusia, náuseas, vômitos, diarreia, constipação, odinofagia, disfagia, dispepsia, dor, infecção, xerostomia, desidratação, queda do nível de consciência, edema, ascite, dispneia e depressão, comorbidades, alterações de exames laboratoriais, PS ou KPS Doença Terminal A frequência do acompanhamento da nutrição ao paciente terminal deve ser quinzenal, junto com a equipe multiprofissional em visita domiciliar. Para os pacientes acompanhados no ambulatório, deve ser conforme necessidade individual, não ultrapassando o período de 20 dias, podendo ser acompanhamento ambulatorial através do cuidador, em caso do paciente não poder comparecer Todos os dados coletados na avaliação nutricional do paciente, nas diferentes fases do cuidado paliativo, devem ser registrados no prontuário e/ou formulário próprio do serviço Cuidados ao Fim da Vida Visita domiciliar: conforme necessidade individual - Anamnese alimentar: apetite, aceitação alimentar, preferências (tipo, frequência, quantidade e consistência) e aversão/intolerância - Sinais e sintomas apresentados (anorexia, disgeusia, náuseas, vômitos, diarreia, constipação, odinofagia, disfagia, dispepsia, dor, xerostomia, queda do nível de consciência, dispneia e depressão) Capítulo 2 – Paciente Oncológico Adulto em Cuidados Paliativos Referências ASPEN - American Society for Parenteral and Enteral Nutrition, 1998. ______ - American Society for Parenteral and Enteral Nutrition, 2002. 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A estimativa para o biênio 2008/09 é de 9.890 casos por ano. Entretanto, dados de 2005 apontam o câncer como segunda causa de morte em crianças e adolescentes, representando 8% de todas as causas de morte. Considerando que as causas externas (acidentes e violência) representam a primeira causa de morte em crianças e adolescentes, o câncer passa a ser a primeira causa de morte por doença (BRASIL, 2008). O câncer infanto-juvenil se apresenta de forma bem diferente daquele que acomete os adultos (etiologia, histologia, evolução e resposta ao tratamento), tornando a prevenção e o diagnóstico precoce mais difícil. O tratamento, que é a principal estratégia contra o câncer em pacientes pediátricos, deve ser realizado por equipe multiprofissional em instituições especializadas, garantindo maior sobrevida com o mínimo de efeitos colaterais (BRASIL, 2008). Observa-se que pacientes oncológicos pediátricos apresentam elevada incidência de desnutrição ao diagnóstico ou após o início do tratamento. Esta pode ser causada por inúmeros fatores e interfere na sobrevida e na resposta do paciente ao tratamento (FEARON, 2001; PINHO et al., 2004). A presença do tumor ou o tratamento antineoplásico pode causar complicações gastrointestinais com graves consequências para o estado nutricional do paciente (MAHAN: ESCOTT-STUMP, 1998; ANDERS, 2000; PINHO et al., 2004). O estresse da internação e a separação da família são outros fatores que podem levar o paciente pediátrico ao risco nutricional (PINHO et al., 2004). A intervenção e o acompanhamento nutricional têm como objetivo promover o crescimento e o desenvolvimento normal da criança, melhorar a resposta imunológica, aumentar a tolerância do paciente ao tratamento e melhorar a sua qualidade de vida (D’ANGIO et al., 1998; PINHO et al., 2004; KENT-SMITH e MARTINS, 2006). A intervenção nutricional é importante em qualquer etapa do tratamento, porém é mais eficaz quando iniciada ao diagnóstico (RAVASCO et al., 2003; PINHO et al., 2004). A atuação do nutricionista é ampla e deve estar presente em todas as fases do tratamento curativo e paliativo do paciente oncológico pediátrico, incluindo avaliação nutricional (AN), cálculo das necessidades nutricionais, instituição da terapia nutricional (TN) e acompanhamento ambulatorial. Devido ao crescimento contínuo da criança, a AN periódica permite que os problemas sejam detectados e tratados precocemente (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 1998). As necessidades energética, proteica e hídrica para crianças variam de acordo com a faixa etária (GARÓFOLO, 2005). A TN adequada minimiza os efeitos debilitantes da doença (D’ANGIO et al., 1998; PINHO et al., 2004) e aumenta a ingestão oral, promovendo melhora do estado nutricional (RAVASCO et al., 2003). O acompanhamento nutricional, através de consultas subsequentes, nos permite reavaliar a eficácia da terapia nutricional e fazer os ajustes e as modificações pertinentes. A orientação nutricional individual é mais uma ferramenta utilizada pelo nutricionista para adaptar a dieta à aceitação do paciente e às suas necessidades de calorias e proteínas (PINHO et al., 2004). O acompanhamento do paciente pediátrico em cuidados paliativos deve ser individualizado e realizado por equipe interdisciplinar especializada, com o objetivo de aliviar os sintomas e promover o prazer e a qualidade de vida (CORRÊA; SHIBUYA, 2007). Neste capítulo apresentamos a abordagem nutricional para pacientes oncológicos pediátricos em todas as fases do seu tratamento. 67 68 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica 3.1 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE PEDIÁTRICO CIRÚRGICO (PRÉ E PÓSOPERATÓRIO) 3.1.1 Avaliação Nutricional Mesmo com os avanços dos métodos terapêuticos sistêmicos, a cirurgia é parte fundamental do tratamento de pacientes oncológicos (LOPES; AGUIAR, 2005). A principal etapa deste acompanhamento é a avaliação nutricional (AN), que é realizada conforme as condições clínicas do paciente (SALA et al., 2004). Alterações nutricionais são fatores determinantes no desenvolvimento de complicações pós-operatórias (WARD, 2003). Os tumores sólidos, nos quais normalmente existe a necessidade de cirurgia, estão relacionados ao maior risco de desnutrição (GARÓFOLO; PETRILLI, 2002). A AN pré-operatória visa corrigir ou amenizar possíveis carências nutricionais, a fim de evitar ou diminuir as complicações após a cirurgia, principalmente as complicações infecciosas (LADAS et al., 2006). No período pré-operatório, é importante identificar a presença de desnutrição ou risco nutricional, iniciando assim um suporte nutricional adequado e precoce. A AN deve ser realizada no momento da abertura do prontuário ou em um período de no máximo 48 horas após a internação. Em situações em que o paciente está incapacitado de deambular devido à cirurgia ou existência de alterações ponderais por causa de massa tumoral ou edema, podem ser utilizados, em substituição ao peso e altura, dados como a medida das dobras cutâneas ou circunferências corporais (NEUMANN et al., 1982; GARÓFOLO et al., 2006). Depois do procedimento cirúrgico, a AN deve ser realizada logo após o reinício da alimentação do paciente, respeitando as condições clínicas impostas. A monitorização nutricional e metabólica sequencial torna-se fundamental na detecção precoce de desnutrição e na avaliação da adequação da terapia nutricional (DELGADO et al., 2000). A AN deve incluir dados antropométricos, clínicos e bioquímicos, recordatórios e inquéritos alimentares e dados subjetivos (BARNESS, 1992; DELGADO et al., 2000). Quanto mais completa a avaliação nutricional, melhores serão as chances de diagnóstico correto do estado nutricional. O Quadro 17 apresenta as condutas consensuadas para avaliação nutricional para paciente oncológico pediátrico cirúrgico. Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico Quadro 17 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico pediátrico cirúrgico Pré-cirúrgico Anamnese nutricional: dados clínicos e dietéticos Antropometria: peso, estatura, IMC, P/E, P/I, E/I, percentual de perda de peso, CB, CMB, dobra cutânea triciptal (> de 2 anos), perímetro cefálico e torácico (< 2 anos) e exame físico. Classificar os dados obtidos (IMC, P/E, P/I, E/I) através das curvas da OMS (2007). Utilizar como índice de referência o Escore Z ou o percentil para: P/I, P/E e E/I Avaliação laboratorial: hematócrito, bioquímica (albumina, cálcio, creatinina, uréia, glicose, sódio e potássio) Utilizar como indicadores de risco nutricional: P/I, E/I e P/E entre o – 1DP e – 2DP na classificação por Escore Z e entre o P10 e o P3 na classificação por percentil; Albumina sérica < 3,2 g/dl; Consumo alimentar < 70% das necessidades por 3 a 5 dias consecutivos, independente do déficit antropométrico Pós-cirúrgico Anamnese nutricional: dados clínicos e dietéticos Antropometria: peso, estatura, IMC, P/E, P/I, E/I, percentual de perda de peso, CB, CMB, dobra cutânea triciptal (> de 2 anos), perímetro cefálico e torácico (< 2 anos) e exame físico. Classificar os dados obtidos (IMC, P/E, P/I, E/I) através das curvas da OMS (2007). Utilizar como índice de referência o Escore Z ou o percentil para: P/I, P/E e E/I Avaliação laboratorial: bioquímica (glicose, uréia, creatinina, sódio e potássio) Perda de peso recente > 5% do peso antes da doença, sintomas do TGI Com que frequência Na abertura de prontuário: •Crianças eutróficas sem risco devo avaliar? nutricional: reavaliar no máximo em 30 dias •Crianças com risco nutricional ou qualquer grau de desnutrição: reavaliar no máximo em 15 dias Na internação: até 48 horas após, podendo variar conforme a situação clínica e nutricional da criança •Crianças eutróficas sem risco nutricional: na admissão e reavaliar no máximo em 15 dias •Crianças com risco nutricional ou qualquer grau de desnutrição: na admissão e reavaliar no máximo em 7 dias Todas as crianças antes do tratamento Quais os pacientes pediátricos oncológi- cirúrgico devem passar pela avaliação cos devem ser avali- nutricional rotineira, com o objetivo de acompanhar o crescimento e ados ? desenvolvimento e corrigir possíveis déficits nutricionais Que dados da AN Todos os dados decorrentes da anamnese devo registrar? nutricional: dados clínicos e dietéticos Perda de peso recente > 5% do peso antes da doença, sintomas do TGI Avaliar tão logo ocorra o reinício da alimentação, conforme risco nutricional ou desnutrição detectada na triagem Até 48 horas, podendo variar conforme a situação clínica e nutricional da criança: •Crianças eutróficas sem risco nutricional: reavaliar no máximo em 15 dias •Crianças com risco nutricional ou qualquer grau de desnutrição: reavaliar no máximo em 7 dias Questão Que instrumentos devo utilizar para a AN? Que indicadores de risco nutricional devo utilizar? Utilizar como indicadores de risco nutricional: P/I, E/I e P/E entre o – 1DP e – 2DP na classificação por Escore Z e entre o P10 e o P3 na classificação por percentil; Albumina sérica < 3,2 g/dl (do pré-operatório); Consumo alimentar < 70% das necessidades por 3 a 5 dias consecutivos, independente do déficit antropométrico Todas as crianças depois do tratamento cirúrgico devem passar pela avaliação nutricional rotineira, com o objetivo de acompanhar o crescimento e desenvolvimento e corrigir possíveis déficits nutricionais Todos os dados decorrentes da anamnese nutricional: dados clínicos e dietéticos 69 70 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica 3.1.2 Necessidades Nutricionais As necessidades nutricionais do paciente cirúrgico variam de acordo com o estado nutricional no momento pré ou pós-cirúrgico e as dimensões do procedimento, além de fatores já conhecidos como idade, sexo, presença de risco nutricional e outros (DELGADO et al., 2000). As situações críticas devem receber cuidado especial em razão do efeito deletério que pode vir a ocorrer no tratamento em geral. Para estimar as necessidades nutricionais, foi consensuado o uso das equações da Dietary Reference Intake (DRI) e a fórmula de Holliday and Segar (1957). O acompanhamento através de controle de ingestão alimentar deve ser realizado para verificar se as necessidades nutricionais estão sendo atingidas. A escolha de uma dieta adequada e seu monitoramento é imprescindível, para se evitar a superalimentação e suas conseqüências indesejáveis (FALCÃO; TANNURI, 2002). O metabolismo proteico se encontra alterado em pacientes com câncer (ANDRASSY; CHAWLS, 1998). Pacientes submetidos a cirurgias de grande porte podem necessitar de aumento da oferta proteica para auxiliar na cicatrização (DELGADO et al., 2000). Porém, é necessário acompanhamento da prescrição proteica para evitar oferta além do recomendado. A ingestão excessiva de proteína pode vir a causar sobrecarga renal. O Quadro 18 apresenta as condutas consensuadas sobre as recomendações nutricionais para o paciente oncológico pediátrico cirúrgico. Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico Quadro 18 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico pediátrico cirúrgico Questão Qual método deve ser utilizado para estimativa das necessidades calóricas? Quais as recomendações proteicas? Pré-cirúrgico 1) Dietary Reference Intake 2006 (DRIs) 0-3 meses: (89 x peso (kg) -100) +175 4-6 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 56 7-12 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 22 13 -35 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 20 Meninos 3-8 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x (26,7 x peso + 903 x altura) + 20 9-18 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x (26,7 x peso + 903 x altura) + 25 Meninas 3-8 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x peso + 934 x altura) + 20 9-18 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x peso + 934 x altura) + 25 Fator Atividade (FA): 1 = atividades do dia a dia ♀ = 1,16; ♂ = 1,13 – atividades do dia a dia + 30 a 60 minutos de atividade moderada ♀ = 1,31; ♂ = 1,26 – atividades do dia a dia + 60 minutos de atividade moderada Crianças com baixo peso utilizar P/E percentil 50 e escore Z= 0 Crianças eutróficas utilizar peso atual Crianças com sobrepeso ou obesas utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2 Este ajuste em relação ao peso atual não deve ultrapassar 20% Pós-cirúrgico 1) Dietary Reference Intake 2006 (DRIs) 0-3 meses: (89 x peso (kg) -100) + 175 4-6 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 56 7-12 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 22 13-35 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 20 Meninos 3-8 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x (26,7 x peso + 903 x altura) + 20 9-18 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x (26,7 x peso + 903 x altura) + 25 Meninas 3-8 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x peso + 934 x altura) + 20 9-18 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x peso + 934 x altura) + 25 Fator Atividade (FA): 1 = atividades do dia a dia ♀ = 1,16; ♂ = 1,13 – atividades do dia a dia + 30 a 60 minutos de atividade moderada ♀ = 1,31; ♂ = 1,26 – atividades do dia a dia + 60 minutos de atividade moderada Crianças com baixo peso utilizar P/E percentil 50 e escore Z= 0 Crianças eutróficas utilizar peso atual Crianças com sobrepeso ou obesas utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2 Este ajuste em relação ao peso atual não deve ultrapassar 20% 2) HOLLIDAY AND SEGAR, 1957 Crianças de 0 a 10 kg – 100 Kcal/kg Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 Kcal + 50 Kcal/kg para cada kg acima de 10 kg Crianças com mais de 20 kg – 1.500 Kcal + 20 Kcal/kg para cada kg acima de 20 kg Faixa etária e necessidades Neonatos até 2 anos – 2,5 a 3,0 g/kg/dia Crianças (2 a 11 anos) – 2,0 g/kg/dia Adolescentes (acima de 12 anos) – 1,5 a 2,0 g/kg/dia 2) HOLLIDAY AND SEGAR, 1957 Crianças de 0 a 10 kg – 100 Kcal/kg Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 Kcal + 50 Kcal/kg para cada kg acima de 10 kg Crianças com mais de 20 kg – 1.500 Kcal + 20 Kcal/kg para cada kg acima de 20 kg Faixa etária e necessidades Neonatos até 2 anos – 2,5 a 3,0 g/kg/dia Crianças (2 a 11 anos) – 2,0 g/kg/dia Adolescentes (acima de 12 anos) – 1,5 a 2,0 g/kg/dia Em casos de perda de peso e desnutrição sugere-se um incremento de 15% a 50% das recomendações de proteína Crianças com baixo peso utilizar P/E percentil 50 e escore Z= 0 Crianças eutróficas utilizar peso atual Crianças com sobrepeso ou obesas utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2 Este ajuste em relação ao peso atual não deve ultrapassar 20% Em casos de perda de peso e desnutrição sugere-se um incremento de 15% a 50% das recomendações de proteína Crianças com baixo peso utilizar P/E percentil 50 e escore Z= 0 Crianças eutróficas utilizar peso atual Crianças com sobrepeso ou obesas utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2 Este ajuste em relação ao peso atual não deve ultrapassar 20% 71 72 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Quadro 18 (cont.) Questão Quais as recomendações hídricas? Pré-cirúrgico Peso e necessidades Crianças de 1,5 a 3 kg – 110 a 130 ml/kg Crianças de 3 a 10 kg – 100 ml/kg Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 ml + 50 ml/kg para cada kg acima de 10 kg Crianças com mais de 20 kg – 1.500 ml + 20 ml/kg para cada kg acima de 20 kg Pós-cirúrgico Peso e necessidades Crianças de 1,5 a 3 kg – 110 a 130 ml/kg Crianças de 3 a 10 kg – 100 ml/kg Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 ml + 50 ml/kg para cada kg acima de 10 kg Crianças com mais de 20 kg – 1.500 ml + 20 ml/kg para cada kg acima de 20 kg Acrescentar perdas dinâmicas e descontar retenções hídricas Acrescentar perdas dinâmicas e descontar retenções hídricas Fonte: ASPEN, 2002. Fonte: adaptado ASPEN, 2002. 3.1.3 Terapia Nutricional A terapia nutricional (TN) deve ser instituída em todos os pacientes desnutridos ou que apresentem risco nutricional com o objetivo principal de restaurar a composição corporal em relação à massa magra metabolicamente ativa, proporcionando aporte adequado de nutrientes para manter as funções vitais e a homeostase (DELGADO et al., 2000; GARÓFOLO, 2005). No momento pré-operatório, a TN irá proporcionar ao paciente um suporte a fim de restabelecer seu estado nutricional, devendo ser iniciada no momento da internação, em condições hemodinâmicas estáveis. No período pós-cirúrgico a alimentação dos pacientes que não apresentam limitação no trato gastrointestinal deve ser reiniciada o mais precocemente, se possível em até 48 horas, para evitar déficits nutricionais (GARÓFOLO, 2005). A via de administração da dieta deve respeitar as limitações clínicas do paciente. A terapia nutricional enteral (TNE) via oral deve ser sempre a primeira opção, por ser mais fisiológica, podendo ser utilizados suplementos orais artesanais ou industrializados. Não sendo possível a utilização da via oral ou se a ingestão alimentar for insuficiente (menor do que 60% das recomendações em até 5 dias), a TNE via sonda é a indicada, porém é necessário que o trato gastrointestinal esteja total ou parcialmente funcionante. Quando não houver a possibilidade do uso do trato gastrointestinal ou este necessitar de repouso, a terapia nutricional parenteral é indicada (ANDRASSY; CHWALS, 1998; GARÓFOLO; PETRILLI, 2002). A monitorização da terapia nutricional deve ser individualizada e baseada nos parâmetros recomendados pela American Society Parenteral and Enteral Nutrition (ASPEN, 1998; ASPEN, 2002). Deve-se registrar em prontuário os dados referentes à terapia nutricional para melhor atendimento do paciente pela equipe multidisciplinar. O Quadro 19 apresenta as condutas consensuadas para terapia nutricional no paciente oncológico pediátrico cirúrgico. Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico Quadro 19 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico pediátrico cirúrgico Questão Quais os objetivos da TN no paciente pediátrico? Que critérios devem ser utilizados para indicar TN? Quando indicada, a TN deve ser iniciada em que momento? Pré-cirúrgico - Oferecer condições favoráveis para o estabelecimento do plano terapêutico - Tentar prevenir ou minimizar os efeitos da caquexia - Oferecer energia, fluídos e nutrientes em quantidades adequadas para manter as funções vitais e a homeostase - Recuperar a atividade do sistema imune - Garantir as ofertas proteica e energética adequadas para minimizar o catabolismo proteico e a perda nitrogenada para reduzir a taxa de morbidade e evitar que os pacientes sejam operados com balanço nitrogenado negativo Todos os pacientes com risco nutricional e/ou presença de desnutrição Imediatamente após diagnóstico de risco nutricional ou de desnutrição, para pacientes ambulatoriais ou internados, desde que estejam hemodinâmicamente estáveis por um período mínimo de 7 dias Quais os critérios TNE: TGI total ou parcialmente funciode indicação da via nante a ser utilizada? • TNE via oral: os complementos enterais devem ser a primeira opção, quando a ingestão alimentar for < 75% das recomendações em até 5 dias, sem expectativa de melhora da ingestão • TNE via sonda: na impossibilidade de utilização da via oral, ingestão alimentar insuficiente (ingestão oral < 60% das recomendações) em até 5 dias consecutivos, sem expectativa de melhora da ingestão TNP: impossibilidade total ou parcial de uso do TGI Que parâmetros Conforme os parâmetros consensuados devem ser utilizados por ASPEN 1998 e 2002 para monitorar a resposta à TN? Que dados da TN Todos os dados coletados da devem ser monitorização da TN devem ser registrados? registrados em formulário específico do SND e EMTN, que será anexado ao prontuário Quando suspender Na vigência de instabilidade a TN? hemodinâmica Como programar o Quando a ingestão oral permanecer desmame? ≥ 30% do VET calculado por 2-3 dias Pós-cirúrgico - Oferecer condições favoráveis para o estabelecimento do plano terapêutico - Tentar prevenir ou minimizar os efeitos da caquexia - Oferecer energia, fluídos e nutrientes em quantidades adequadas para manter as funções vitais e a homeostase - Recuperar a atividade do sistema imune - Garantir as ofertas proteica e energética adequadas para minimizar o catabolismo proteico e a perda nitrogenada para reduzir a taxa de morbidade Todos os pacientes com risco nutricional e/ou presença de desnutrição Deve ser preferencialmente enteral, iniciada em até 48 horas após a cirurgia. O início fica condicionado a alguns sinais como resíduo gástrico e recuperação da analgesia TNE: TGI total ou parcialmente funcionante • TNE via oral: os complementos enterais devem ser a primeira opção, quando a ingestão alimentar for < 75% das recomendações em até 5 dias, sem expectativa de melhora da ingestão • TNE via sonda: impossibilidade de utilização da via oral, ingestão alimentar insuficiente (ingestão oral < 60% das recomendações) em até 5 dias consecutivos, sem expectativa de melhora da ingestão TNP: impossibilidade total ou parcial de uso do TGI Conforme os parâmetros consensuados por ASPEN 1998 e 2002 Todos os dados coletados da monitorização da TN devem ser registrados em formulário específico do SND e EMTN, que será anexado ao prontuário Na vigência de instabilidade hemodinâmica Quando a ingestão oral permanecer ≥ 30% do VET calculado por 2-3 dias 73 74 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica 3.1.4 Seguimento Ambulatorial Os pacientes oncológicos pediátricos submetidos a procedimentos cirúrgicos invasivos devem ter acompanhamento nutricional tanto no período pré como no pós-operatório. Estudos da década de 1980 já demonstravam uma relação estreita entre perda de peso préoperatória e aumento de morbimortalidade pós-operatória (SMITH; HARTEMINK, 1988). A quebra da barreira cutâneo-mucosa pelas incisões e manipulações cirúrgicas e a exposição aos microorganismos são inevitáveis. Portanto, a existência de mecanismos de defesa imunológica funcionantes é essencial para assegurar a prevenção das complicações sépticas (CAMPOS, 1993). Por isso, assim que estiver definido qualquer plano cirúrgico, é fundamental encaminhar o paciente pediátrico à consulta de nutrição, iniciando o mais precocemente o suporte nutricional pré-operatório. Apesar do avanço das técnicas e procedimentos cirúrgicos, ainda existe a possibilidade do surgimento de comorbidades no período pós-operatório. Entre elas, as mais frequentes são as fístulas digestivas, as complicações infecciosas e o diabetes secundário, justificando a permanência deste paciente sob os cuidados da equipe de nutrição, no ambulatório, até a resolução da comorbidade, conforme consensuado no quadro abaixo. Após o controle da comorbidade, sugere-se que este paciente seja encaminhado à unidade de saúde mais próxima de sua residência. O seguimento nutricional ambulatorial se faz necessário de maneira contínua, para pacientes que ficaram com sequelas provenientes do tratamento, antineoplásico ou cirúrgico, que levem a implicações nutricionais. Nestes casos o paciente fica vinculado à equipe e ao Serviço até o controle total da sequela, pois na maioria delas existe a necessidade do acompanhamento dietoterápico específico. O Quadro 20 apresenta as condutas consensuadas para o seguimento ambulatorial do paciente oncológico pediátrico cirúrgico. Quadro 20 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico pediátrico cirúrgico Pós-Cirúrgico Exclusivo Não. Os pacientes sem evidência de doença e sem comorbidades devem ser encaminhados para a unidade de saúde mais próxima de sua residência Sim, até o controle da comorbidade. Depois, estes pacientes são encaminhados para acompanhamento do seu estado nutricional na unidade de saúde mais próxima de sua residência O paciente pediátrico sem evidência de doença, com Todos os pacientes oncológicos com sequelas do sequelas decorrentes do tratamento, deve ser acom- tratamento e com implicações nutricionais devem panhado pelo ambulatório do SND? ser acompanhados pelo ambulatório do SND Questão O paciente pediátrico sem evidência de doença oncológica e sem comorbidade deve ser acompanhado pelo ambulatório do SND? O paciente pediátrico sem evidência de doença, com comorbidades, deve ser acompanhado pelo ambulatório do SND? Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico 3.2 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE CLÍNICO (QUIMIOTERAPIA E RADIOTERAPIA) 3.2.1 Avaliação Nutricional A avaliação nutricional (AN) é componente essencial da avaliação inicial em crianças submetidas à terapia antineoplásica, pois permite a identificação do estado nutricional (TAZI et al., 2008). Os efeitos adversos causados pela quimioterapia e radioterapia incluem náuseas, vômitos, mucosites, anorexia, entre outros (CZAJKA-NARINS, 1989). A desnutrição energético-proteica (DEP) comumente encontrada pode ser causada tanto pela doença como pelo tratamento. A determinação precoce do grau de desnutrição ou de risco nutricional permite estabelecer medidas de intervenção nutricional contribuindo para melhor qualidade de vida e sobrevida das crianças durante o tratamento do câncer (SIGULEM et al., 2000). Em crianças com câncer, o peso e a estatura são instrumentos antropométricos muito utilizados no diagnóstico do estado nutricional (EN). Outros parâmetros como medidas de pregas cutâneas triciptal, circunferência muscular do braço, avaliação de dados laboratoriais, clínicos e dietéticos também contribuem para auxiliar no diagnóstico nutricional em oncologia na infância (ALMEIDA et al., 1999; KENT-SMITH; MARTINS, 2004). A AN deve ser realizada em todas as crianças até 48 horas após a internação para tratamento clínico, com o objetivo de detectar os possíveis déficits nutricionais e otimizar a intervenção nutricional. Considerando que o tratamento pode induzir tanto ao ganho ponderal de massa gorda como à perda de reservas musculares, a frequência das avaliações nutricionais não deve exceder a 15 dias para crianças eutróficas e a 7 dias para crianças desnutridas ou em risco nutricional durante a internação. Para classificação do diagnóstico nutricional, os dados antropométricos de peso para idade, peso para estatura e estatura para idade expressa em percentil ou escore Z, a perda de peso recente, o consumo alimentar inadequado e os sintomas gastrointestinais são instrumentos fundamentais para a classificação do estado nutricional e o acompanhamento destes indivíduos pediátricos. No tratamento oncológico pediátrico, devido à necessidade da integralidade da assistência em qualquer faixa etária, a atenção multiprofissional é primordial. Sendo assim, os dados obtidos na avaliação global devem estar registrados de maneira clara e precisa para acesso de todas as áreas envolvidas no cuidado ao paciente (DAVIES, 2005). O Quadro 21 apresenta as condutas consensuadas para avaliação nutricional de pacientes oncológicos pediátricos submetidos à quimioterapia e radioterapia. 75 76 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Quadro 21 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico pediátrico em tratamento clínico Questão Que instrumentos devo utilizar para a AN? Que indicadores de risco nutricional devo utilizar? Com que frequência devo avaliar? Quais os pacientes pediátricos oncológicos devem ser avaliados? Que dados da AN devo registrar? Quimioterapia Anamnese nutricional: dados clínicos e dietéticos Antropometria: peso, estatura, IMC, P/E, P/I, E/I, percentual de perda de peso, CB, CMB, prega cutânea triciptal (> de 2 anos), perímetro cefálico e torácico (< 2 anos) e exame físico. Classificar os dados obtidos (IMC, P/E, P/I, E/I) através das curvas da OMS (2007). Utilizar como índice de referência o Escore Z ou o percentil para: P/I, P/E e E/I Avaliação laboratorial (pré): hematócrito, bioquímica (albumina, cálcio, creatinina, ureia, glicose, sódio, potássio) Avaliação laboratorial (pós): bioquímica (glicose, ureia, creatinina, sódio, potássio) - Utilizar como indicadores de risco nutricional: P/I, E/I e P/E entre o – 1DP e – 2DP na classificação por Escore Z e entre o P10 e o P3 na classificação por percentil - Dados bioquímicos - Consumo alimentar < 70% das necessidades por 3 a 5 dias consecutivos, independente do déficit antropométrico - Perda de peso recente > 5% do peso antes da doença, sintomas do TGI - Obesidade e sobrepeso Ambulatório: • Crianças eutróficas sem risco nutricional: reavaliar no máximo em 30 dias • Crianças com risco nutricional ou qualquer grau de desnutrição: reavaliar no máximo em 15 dias Na internação: até 48 horas após, podendo variar conforme a situação clínica e nutricional da criança: • Crianças eutróficas sem risco nutricional: na admissão e reavaliar no máximo em 15 dias • Crianças com risco nutricional ou qualquer grau de desnutrição: na admissão e reavaliar no máximo em 7 dias Todas as crianças antes, durante e depois da quimioterapia devem passar pela avaliação nutricional rotineira, com o objetivo de acompanhar o crescimento e o desenvolvimento e corrigir possíveis déficits nutricionais Registrar todos os dados da anamnese nutricional: dados clínicos e dietéticos Radioterapia Anamnese nutricional: dados clínicos e dietéticos Antropometria: peso, estatura, IMC, P/E, P/I, E/I, percentual de perda de peso, CB, CMB, prega cutânea triciptal (> de 2 anos), perímetro cefálico e torácico (< 2 anos) e exame físico. Classificar os dados obtidos (IMC, P/E, P/I, E/I) através das curvas da OMS (2007). Utilizar como índice de referência o Escore Z ou o percentil para: P/I, P/E e E/I Avaliação laboratorial (pré): hematócrito, bioquímica (albumina, cálcio, creatinina, ureia, glicose, sódio, potássio) Avaliação laboratorial (pós): bioquímica (glicose, ureia, creatinina, sódio, potássio) - Utilizar como indicadores de risco nutricional: P/I, E/I e P/E entre o – 1DP e – 2DP na classificação por Escore Z e entre o P10 e o P3 na classificação por percentil - Dados bioquímicos - Consumo alimentar < 70% das necessidades por 3 a 5 dias consecutivos, independente do déficit antropométrico - Perda de peso recente > 5% do peso antes da doença, sintomas do TGI. Obesidade e sobrepeso Ambulatório: • Crianças eutróficas sem risco nutricional: reavaliar no máximo em 30 dias • Crianças com risco nutricional ou qualquer grau de desnutrição: reavaliar no máximo em 15 dias Na internação: até 48 horas após, podendo variar conforme a situação clínica e nutricional da criança • Crianças eutróficas sem risco nutricional: na admissão e reavaliar no máximo em 15 dias • Crianças com risco nutricional ou qualquer grau de desnutrição: na admissão e reavaliar no máximo em 7 dias Todas as crianças antes, durante e depois da radioterapia devem passar pela avaliação nutricional rotineira, com o objetivo de acompanhar o crescimento e desenvolvimento e corrigir possíveis déficits nutricionais Registrar todos os dados da anamnese nutricional: dados clínicos e dietéticos Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico 3.2.2 Necessidades Nutricionais As alterações metabólicas observadas durante o tratamento neoplásico estão entre os principais fatores de risco nutricional e caquexia em crianças (FEARON, 2001). A resposta do organismo na tentativa de suprir o substrato para o crescimento tumoral inclui a alteração no metabolismo dos carbohidratos, envolvendo glicogenólise e gliconeogênese, turnover proteico e oxidação dos ácidos graxos (WAITZBERG et al., 2004). Sabe-se, entretanto, que as necessidades de energia e nutrientes para crianças variam de acordo com a faixa etária, sexo, peso e estatura e devem permitir um crescimento e desenvolvimento adequados e a manutenção de um bom estado de saúde (KENT-SMITH; MARTINS, 2004). Embora com necessidades nutricionais aumentadas, as recomendações de nutrientes para criança com câncer são as mesmas das crianças saudáveis (FEARON, 2001; ASPEN, 2002; KENTSMITH; MARTINS 2004). A determinação das necessidades nutricionais pode ser obtida através de várias equações, não havendo, na literatura, recomendação específica estabelecida para crianças submetidas à quimioterapia e radioterapia. Por esta razão, com base na prática clínica, foi consenso adotar como utilização para cálculo das necessidades calóricas a equação da Dietary Reference Intake 2006 (DRIs) ou Holliday and Segar (1957). Para as necessidades proteicas consensuou-se a utilização das recomendações da ASPEN (2002) e, em caso de perda de peso e desnutrição, um aumento de 15% a 50% das recomendações de proteínas. Assim como na desnutrição, o ajuste de peso nos casos de sobrepeso e obesidade também se faz necessário. No entanto, esta adequação não deve ultrapassar 20% do peso atual. O aporte hídrico está relacionado ao gasto de energia e pode ser estabelecido com base no peso atual e nas necessidades energéticas. Porém, as perdas dinâmicas devem ser repostas e as retenções hídricas descontadas. O Quadro 22 apresenta as condutas consensuadas das recomendações nutricionais para pacientes oncológicos pediátricos submetidos à quimioterapia e radioterapia. 77 78 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Quadro 22 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais ao paciente oncológico pediátrico em tratamento clínico Questão Qual método deve ser utilizado para estimativa das necessidades calóricas? Quais as recomendações proteicas? Quimioterapia 1) Dietary Reference Intake 2006 (DRIs) 0-3 meses: (89 x peso (kg) -100) + 175 4-6 meses: ( 89 x peso (kg) -100) + 56 7-12 meses: (89 x peso (kg) -100) + 22 13-35 meses: (89 x peso (kg) -100) + 20 Meninos 3-8 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x (26,7 x peso + 903 x altura) + 20 9-18 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x (26,7 x peso + 903 x altura) + 25 Meninas 3-8 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x peso + 934 x altura) + 20 9-18 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x peso + 934 x altura) + 25 Fator Atividade (FA): 1 = atividades do dia a dia ♀ = 1,16; ♂ = 1,13 – atividades do dia a dia + 30 a 60 minutos de atividade moderada ♀ = 1,31; ♂ = 1,26 – atividades do dia a dia + 60 minutos de atividade moderada Crianças com baixo peso utilizar P/E percentil 50 e escore Z= 0 Crianças eutróficas utilizar peso atual Crianças com sobrepeso ou obesas utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2 Este ajuste em relação ao peso atual não deve ultrapassar 20% Radioterapia 1) Dietary Reference Intake 2006 (DRIs) 0-3 meses: (89 x peso (kg) -100) + 175 4-6 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 56 7-12 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 22 13-35 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 20 Meninos 3 -8 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x (26,7 x peso + 903 x altura) + 20 9-18 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x (26,7 x peso + 903 x altura) + 25 Meninas 3-8 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x peso + 934 x altura) + 20 9-18 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x peso + 934 x altura) + 25 Fator Atividade (FA): 1 = atividades do dia a dia ♀ = 1,16; ♂ = 1,13 – atividades do dia a dia + 30 a 60 minutos de atividade moderada ♀ = 1,31; ♂ = 1,26 – atividades do dia a dia + 60 minutos de atividade moderada Crianças com baixo peso utilizar P/E percentil 50 e escore Z= 0 Crianças eutróficas utilizar peso atual Crianças com sobrepeso ou obesas utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2 Este ajuste em relação ao peso atual não deve ultrapassar 20% 2) HOLLIDAY AND SEGAR, 1957 Crianças de 0 a 10 kg – 100 Kcal/kg Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 Kcal + 50 Kcal/kg para cada kg acima de 10 kg Crianças com mais de 20 kg – 1.500 Kcal + 20 Kcal/kg para cada kg acima de 20 kg Faixa etária e necessidades Neonatos até 2 anos – 2,5 a 3,0 g/kg/dia Crianças (2 a 11 anos) – 2,0 g/kg/dia Adolescentes (acima de 12 anos) – 1,5 a 2,0 g/kg/dia 2) HOLLIDAY AND SEGAR, 1957 Crianças de 0 a 10 kg – 100 Kcal/kg Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 Kcal + 50 Kcal/kg para cada kg acima de 10 kg Crianças com mais de 20 kg – 1.500 Kcal + 20 Kcal/kg para cada kg acima de 20 kg Faixa etária e necessidades Neonatos até 2 anos – 2,5 a 3,0 g/kg/dia Crianças (2 a 11 anos) – 2,0 g/kg/dia Adolescentes (acima de 12 anos) – 1,5 a 2,0 g/kg/dia Em casos de perda de peso e desnutrição sugere-se um incremento de 15% a 50% das recomendações de proteína Crianças com baixo peso utilizar P/E percentil 50 e escore Z= 0 Crianças eutróficas utilizar peso atual Crianças com sobrepeso ou obesas utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2 Este ajuste em relação ao peso atual não deve ultrapassar 20% Em casos de perda de peso e desnutrição sugere-se um incremento de 15% a 50% das recomendações de proteína Crianças com baixo peso utilizar P/E percentil 50 e escore Z= 0 Crianças eutróficas utilizar peso atual Crianças com sobrepeso ou obesas utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2 Este ajuste em relação ao peso atual não deve ultrapassar 20% Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico Quadro 22 (cont.) Questão Quais as recomendações hídricas? Quimioterapia Peso e necessidades Crianças de 1,5 a 3 kg – 110 a 130 ml/kg Crianças de 3 a 10 kg – 100 ml/kg Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 ml + 50 ml/kg para cada kg acima de 10 kg Crianças com mais de 20 kg – 1.500 ml + 20 ml/kg para cada kg acima de 20 kg Radioterapia Peso e necessidades Crianças de 1,5 a 3 kg – 110 a 130 ml/kg Crianças de 3 a 10 kg – 100 ml/kg Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 ml + 50 ml/kg para cada kg acima de 10 kg Crianças com mais de 20 kg – 1.500 ml + 20 ml/kg para cada kg acima de 20 kg Acrescentar perdas dinâmicas e descontar retenções hídricas Acrescentar perdas dinâmicas e descontar retenções hídricas Fonte: adaptado ASPEN, 2002. 3.2.3 Terapia Nutricional A desnutrição em crianças com câncer é clinicamente manifestada por perda de peso, anorexia e ingestão alimentar inadequada. O grau de desnutrição também está relacionado ao tipo da neoplasia, extensão da doença e tratamento estabelecido (GARÓFOLO; PETRELLI, 2002; FILHO et al., 2006). A terapia nutricional (TN) individualizada é parte essencial no tratamento global do paciente. Quando indicada de maneira adequada, a probabilidade de recuperação é maior e poderá causar impacto positivo na diminuição da morbimortalidade (DELGADO et al., 2000). O principal objetivo da TN em crianças em risco nutricional ou desnutridas submetidas à quimio e/ou radioterapia é oferecer energia, fluidos e nutrientes em quantidades adequadas para manter as funções vitais e a homeostase, minimizando os efeitos adversos causados pelo tratamento, favorecendo um balanço nitrogenado positivo, e desta forma, garantir seu crescimento e desenvolvimento adequados com qualidade de vida (GARÓFOLO, 2005). A TN deve ser indicada e iniciada precocemente em todas as crianças com risco nutricional ou desnutridas, desde que em condições hemodinâmicas estáveis, por um período mínimo de sete dias. Várias são as possibilidades de administração da TN, desde a terapia nutricional enteral (TNE) via oral ou via sonda até a TN via parenteral, sendo esta última somente indicada na vigência da impossibilidade total ou parcial do uso do trato gastrointestinal (DIAS, 2004). A TNE via oral é a mais recomendada e deve ser a primeira opção quando a ingestão alimentar for menor do que 75% das recomendações em até cinco dias consecutivos. A TNE via sonda deve ser considerada mediante a impossibilidade da utilização da via oral ou na presença de ingestão alimentar inadequada (menor do que 60% das recomendações por até cinco dias consecutivos), sem expectativa de melhora da ingestão. Para a monitorização da resposta à TN os parâmetros adotados por este consenso foram os mesmos recomendados pela American Society Parenteral and Enteral Nutrition, (ASPEN, 1998; ASPEN, 2002) e todos os dados coletados foram registrados em formulário específico no prontuário. A descontinuidade da TN deve ser realizada mediante a instabilidade hemodinâmica e seu desmame deverá ser programado quando a ingestão oral alcançar 30% das recomendações por dois a três dias consecutivos. 79 80 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica O Quadro 23 apresenta as condutas consensuadas para terapia nutricional em pacientes pediátricos oncológicos submetidos à quimioterapia e radioterapia. Quadro 23 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico pediátrico em tratamento clínico Questão Quais os objetivos da TN no paciente pediátrico? Que critérios devem ser utilizados para indicar TN? Quando indicada, a TN deve ser iniciada em que momento? Quimioterapia Oferecer fluídos e nutrientes em quantidades adequadas para manter as funções vitais e tentar garantir o crescimento e desenvolvimento normal da criança na presença dos efeitos tóxicos mais comuns como náuseas, vômitos, mucosite, má absorção, diarreia e constipação, bem como melhorar a qualidade de vida destes pacientes Todos os pacientes com risco nutricional e/ou presença de desnutrição Imediatamente após diagnóstico de risco nutricional ou de desnutrição, para pacientes ambulatoriais ou internados, desde que hemodinâmicamente estáveis por um período mínimo de 7 dias Quais os critérios TNE: TGI total ou parcialmente de indicação da via funcionante a ser utilizada? • TNE via oral: os complementos enterais devem ser a primeira opção quando a ingestão alimentar for < 75% das recomendações em até 5 dias, sem expectativa de melhora da ingestão • TNE via sonda: impossibilidade de utilização da via oral, ingestão alimentar insuficiente (ingestão oral < 60% das recomendações) em até 5 dias consecutivos, sem expectativa de melhora da ingestão TNP: impossibilidade total ou parcial de uso do TGI Que parâmetros Conforme os parâmetros consensuados devem ser utilizados por ASPEN 1998 e 2002 para monitorar a resposta à TN? Que dados da TN Todos os dados coletados da monitorização devem ser da TN devem ser registrados em registrados? formulário específico do SND e EMTN, que será anexado ao prontuário Radioterapia Oferecer fluídos e nutrientes em quantidades adequadas para manter as funções vitais e tentar garantir o crescimento e desenvolvimento normal da criança na presença dos efeitos tóxicos mais comuns como náuseas, vômitos, mucosite, má absorção, diarreia e constipação, bem como melhorar a qualidade de vida destes pacientes Todos os pacientes com risco nutricional e/ou presença de desnutrição Imediatamente após diagnóstico de risco nutricional ou de desnutrição, para pacientes ambulatoriais ou internados, desde que hemodinâmicamente estáveis por um período mínimo de 7 dias TNE: TGI total ou parcialmente funcionante. • TNE via oral: os complementos enterais devem ser a primeira opção, quando a ingestão alimentar for < 75% das recomendações em até 5 dias, sem expectativa de melhora da ingestão • TNE via sonda: impossibilidade de utilização da via oral, ingestão alimentar insuficiente (ingestão oral < 60% das recomendações) em até 5 dias consecutivos, sem expectativa de melhora da ingestão TNP: impossibilidade total ou parcial de uso do TGI Conforme os parâmetros consensuados por ASPEN 1998 e 2002 Todos os dados coletados da monitorização da TN devem ser registrados em formulário específico do SND e EMTN, que será anexado ao prontuário Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico Quadro 23 (cont.) Questão Quando suspender a TN? Como programar o desmame? Quimioterapia Na vigência de instabilidade hemodinâmica Radioterapia Na vigência de instabilidade hemodinâmica Iniciar o desmame da TN quando a ingestão oral permanecer ≥ 30% do VET calculado por 2-3 dias Iniciar o desmame da TN quando a ingestão oral permanecer ≥ 30% do VET calculado por 2-3 dias 3.2.4 Seguimento Ambulatorial Nos últimos anos tem-se verificado um aumento significativo na sobrevida de crianças acometidas por câncer tratadas com quimio e/ou radioterapia. O aumento da taxa de sobrevida tem levado os profissionais de saúde a acompanhar esses pacientes tratados, com o objetivo de observar o impacto dos efeitos tardios na tentativa de reduzir a frequência das complicações inerentes ao tratamento e contribuir para a melhora da qualidade de vida destas crianças (LOPES; BIANCHI, 2000). Algumas manifestações tardias da terapêutica podem surgir mais precocemente e outras a longo prazo. Do ponto de vista nutricional, nas crianças submetidas à radioterapia ou quimioterapia, muitas vezes os efeitos deletérios da terapia podem interferir no seu crescimento e desenvolvimento normal (LOPES; BIANCHI, 2000; DARZY et al., 2004). Desta forma, após o término do tratamento, o acompanhamento nutricional em pacientes sem evidência de doença deve ser feito rotineiramente no primeiro ano. Os pacientes que apresentarem qualquer tipo de comorbidade devem ser acompanhados pelo Serviço, podendo ser posteriormente encaminhados para seguimento na unidade de saúde mais próxima à sua residência. No entanto, pacientes oncológicos pediátricos que apresentaram, após o término da terapia, sequelas decorrentes do tratamento ao qual foram submetidos, devem ser acompanhados pelo ambulatório do Serviço de Nutrição no qual foram tratados. O Quadro 24 apresenta as condutas consensuadas para o seguimento ambulatorial nutricional de pacientes oncológicos pediátricos submetidos à terapia antineoplásica. 81 82 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Quadro 24 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico pediátrico em tratamento clínico Questão O paciente pediátrico sem evidência de doença oncológica e sem comorbidade deve ser acompanhado pelo ambulatório do SND? O paciente pediátrico sem evidência de doença e com comorbidades deve ser acompanhado pelo ambulatório do SND? O paciente pediátrico sem evidência de doença, com sequelas decorrentes do tratamento, deve ser acompanhado pelo ambulatório do SND? Pós-Quimioterapia Sim, no primeiro ano após o término do tratamento, com frequência trimestral Pós-Radioterapia Sim, no primeiro ano após o término do tratamento, com frequência trimestral Sim, até o controle da comorbidade. Depois, estes pacientes são encaminhados para acompanhamento do seu estado nutricional na unidade de saúde mais próxima de sua residência Todos os pacientes oncológicos com sequelas do tratamento e com implicações nutricionais devem ser acompanhados pelo ambulatório do SND Sim, até o controle da comorbidade. Depois, estes pacientes são encaminhados para acompanhamento do seu estado nutricional na unidade de saúde mais próxima de sua residência Todos os pacientes oncológicos com sequelas do tratamento e com implicações nutricionais devem ser acompanhados pelo ambulatório do SND Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico 3.3 ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE SUBMETIDO A TRANSPLANTE DE CÉLULASTRONCO HEMATOPOÉTICAS (PRÉ E PÓS-TCTH) 3.3.1 Avaliação Nutricional O câncer infantil, devido à sua magnitude, não pode ser considerado como uma simples doença, mas sim uma gama de diferentes malignidades, que acomete cerca de 0,5% a 3% da população (GARÓFOLO, 2005; BRASIL, 2009). Considerando diferentes estudos, a prevalência de desnutrição como diagnóstico de crianças com câncer tem demonstrado uma variação de 6% a 50%, sendo principalmente, uma consequência da heterogeneidade dos critérios vigentes para a classificação da desnutrição (MUSCARITOLI et al., 2002; GARÓFOLO, 2005). A avaliação nutricional geralmente é feita com base em critérios objetivos obtidos por meio de história clínica alimentar, exame físico, antropometria, exames laboratoriais, história da perda ponderal, modificações da dieta habitual, intolerâncias alimentares, doenças crônicas e tratamentos prévios (ABIB et al., 1996; ANDERS et al., 2000; IKEMORI, 2003). Porém, até o presente momento ainda não foram definidos claramente os parâmetros mais indicados para os pacientes especificamente destinados ao Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas (TCTH) (IKEMORI, 2003). A antropometria tem sido amplamente utilizada para avaliação do risco nutricional em crianças sadias, através da relação entre dimensões corporais durante o processo de crescimento e desenvolvimento (ACCIOLY et al., 2004). No entanto, nesta população são comuns alterações de fluidos, além de flutuações rápidas na massa corporal (AKER, 1990; IKEMORI, 2003; RUIZ; ALBERTINI, 2004). Regimes de hidratação agressivos, retenção hídrica, nutrição parenteral, vômitos e diarreia podem causar significativas alterações no peso que não estejam, necessariamente, correlacionadas a mudanças na composição corporal (PAPADOPOULOU, 1998). Portanto, faz-se necessário um acompanhamento rigoroso de todas as crianças, registrando e compartilhando com os demais membros da equipe interdisciplinar os dados decorrentes da anamnese nutricional, registrando dados clínicos e dietéticos, antropometria e avaliação laboratorial nos períodos pré e pós-TCTH. O Quadro 25 apresenta as condutas consensuadas para avaliação nutricional no paciente oncológico pediátrico submetido ao TCTH. 83 84 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Quadro 25 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico pediátrico submetido a TCTH Questão Que instrumentos devo utilizar para a AN? Que indicadores de risco nutricional devo utilizar? Com que frequência devo avaliar? Quais os pacientes pediátricos oncológicos devem ser avaliados? Que dados da AN devo registrar? Pré-TCTH Anamnese nutricional: dados clínicos e dietéticos Antropometria: peso, estatura, IMC, P/E, P/I, E/I, percentual de perda de peso, CB, CMB, prega cutânea triciptal (> de 2 anos), perímetro cefálico e torácico (<' 2 anos) e exame físico. Classificar os dados obtidos (IMC, P/E, P/I, E/I) através das curvas da OMS (2007). Utilizar como índice de referência o escore Z ou o percentil para P/I, P/E e E/I Avaliação laboratorial: hematócrito, bioquímica (albumina, cálcio, creatinina, ureia, glicose, sódio e potássio) - Utilizar como indicadores de risco nutricional: P/I, E/I e P/E entre o – 1DP e – 2DP na classificação por escore Z e entre o P10 e o P3 na classificação por percentil - CMB e PCT entre o percentil 25 e 10 - Albumina sérica < 3,2 g/dl - Consumo alimentar < 70% das necessidades por 5 dias consecutivos, independente do déficit antropométrico - Perda de peso recente > 5% do peso ntes da doença, sintomas do TGI presentes por 5 dias Avaliação antropométrica: realizar na admissão, ou até 24 horas após, porém antes do início do condicionamento Avaliação dietética: realizar diariamente e durante o período de condicionamento. Atentar para alterações da ingestão, apetite e sintomas do TGI Avaliação laboratorial: avaliar no mínimo 3 vezes por semana Todas as crianças no pré-TCTH devem passar pela avaliação nutricional rotineira com o objetivo de acompanhar o crescimento e o desenvolvimento Registrar todos os dados da anamnese nutricional: dados clínicos e dietéticos Pós-TCTH Anamnese nutricional: dados clínicos e dietéticos Antropometria: peso, estatura, IMC, P/E, P/I, E/I, percentual de perda de peso, CB, CMB, prega cutânea triciptal (> de 2 anos), perímetro cefálico e torácico (< 2 anos) e exame físico. Classificar os dados obtidos (IMC, P/E, P/I, E/I) através das curvas da OMS (2007). Utilizar como índice de referência o Escore Z ou o percentil para: P/I, P/E e E/I Avaliação laboratorial: bioquímica (glicose, colesterol, triglicerídeo, zinco, magnésio, vitamina D e cálcio sérico) - Consumo alimentar < 70% das necessidades por 5 dias consecutivos, independente do déficit antropométrico - Perda de peso recente > 5% do peso antes da doença, sintomas do TGI presentes por 5 dias Avaliação antropométrica: 24 horas antes da alta hospitalar Avaliação dietética: realizar diariamente durante internação. Atentar para alterações da ingestão, apetite e sintomas do TGI Avaliação laboratorial: avaliar no mínimo 3 vezes por semana Todas as crianças no pós-TCTH devem passar pela avaliação nutricional rotineira com o objetivo de acompanhar o crescimento e o desenvolvimento Registrar todos os dados da anamnese nutricional: dados clínicos e dietéticos Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico 3.3.2 Necessidades Nutricionais A desnutrição proteico-calórica, frequentemente, está presente desde o diagnóstico até durante o tratamento de crianças com doenças neoplásicas. A diminuição do status nutricional antes do Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas (TCTH) é um fator prognóstico negativo para o resultado póstransplante (MUSCARITOLI et al., 2002). A manutenção de um estado nutricional adequado é especialmente importante no processo do tratamento do TCTH e fundamental para o sucesso deste procedimento (ANDERS, 2000). As necessidades energéticas e de nutrientes específicos para crianças variam essencialmente em função da faixa etária. Na criança a energia é direcionada para a manutenção das necessidades metabólicas e para seu crescimento e desenvolvimento (GARÓFOLO, 2005). Em relação às necessidades proteicas, na criança com câncer estão aumentadas, variando também conforme a faixa etária e peso (ACCIOLY et al., 2004). Estas destinam-se a restaurar ou preservar a massa magra corporal e fornecer substrato para o estado hipercatabólico após a terapia citorredutora (AKER, 1990; IKEMORI, 2003; RUIZ; ALBERTINI, 2004). Cabe salientar que na vigência de alterações da função hepática ou renal, as necessidades deverão ser modificadas e adequadas individualmente (AKER, 1990). Segundo a ASPEN, as necessidades hídricas estão diretamente relacionadas ao gasto energético, podendo ser determinadas por meio do peso corporal, guardando a proporção de 100 ml/100 Kcal ou 1 ml/1 Kcal para repor as perdas de fluidos. Algumas situações exigem ajustes destas quantidades, cabendo ao profissional efetuar a correção ou controle de acordo com a perda ponderal. O Quadro 26 apresenta as condutas consensuadas das recomendações nutricionais para pacientes pediátricos submetidos ao TCTH. 85 86 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Quadro 26 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico pediátrico submetido a TCTH Questão Qual método deve ser utilizado para estimativa das necessidades calóricas? Quais as recomendações proteicas? Pré-TCTH 1) Dietary Reference Intake 2006 (DRIs) 0-3 meses: (89 x peso (kg) -100) + 175 4-6 meses: ( 89 x peso (kg) -100) + 56 7-12 meses: (89 x peso (kg) -100) + 22 13-35 meses: (89 x peso (kg) -100) + 20 Meninos 3-8 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x (26,7 x peso + 903 x altura) + 20 9-18 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x (26,7 x peso + 903 x altura) + 25 Meninas 3-8 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x peso + 934 x altura) + 20 9-18 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x peso + 934 x altura) + 25 Fator Atividade (FA): 1 = atividades do dia a dia ♀ = 1,16; ♂ = 1,13 – atividades do dia a dia + 30 a 60 minutos de atividade moderada ♀ = 1,31; ♂ = 1,26 – atividades do dia a dia + 60 minutos de atividade moderada Crianças com baixo peso utilizar P/E percentil 50 e escore Z= 0 Crianças eutróficas utilizar peso atual Crianças com sobrepeso ou obesas utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2 Este ajuste em relação ao peso atual não deve ultrapassar 20% Pós-TCTH 1) Dietary Reference Intake 2006 (DRIs) 0-3 meses: (89 x peso (kg) -100) + 175 4-6 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 56 7-12 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 22 13-35 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 20 Meninos 3 -8 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x (26,7 x peso + 903 x altura) + 20 9-18 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x (26,7 x peso + 903 x altura) + 25 Meninas 3-8 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x peso + 934 x altura) + 20 9-18 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x peso + 934 x altura) + 25 Fator Atividade (FA): 1 = atividades do dia a dia ♀ = 1,16; ♂ = 1,13 – atividades do dia a dia + 30 a 60 minutos de atividade moderada ♀ = 1,31; ♂ = 1,26 – atividades do dia a dia + 60 minutos de atividade moderada Crianças com baixo peso utilizar P/E percentil 50 e escore Z= 0 Crianças eutróficas utilizar peso atual Crianças com sobrepeso ou obesas utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2 Este ajuste em relação ao peso atual não deve ultrapassar 20% 2) HOLLIDAY AND SEGAR, 1957 Crianças de 0 a 10 kg – 100 Kcal/kg Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 Kcal + 50 Kcal/kg para cada kg acima de 10 kg Crianças com mais de 20 kg – 1.500 Kcal + 20 Kcal/kg para cada kg acima de 20 kg Faixa etária e necessidades* Neonatos até 2 anos – 2,5 a 3,0 g/kg/dia Crianças (2 a 11 anos) – 2,0 g/kg/dia Adolescentes (acima de 12 anos) – 1,5 a 2,0 g/kg/dia 2) HOLLIDAY AND SEGAR, 1957 Crianças de 0 a 10 kg – 100 Kcal/kg Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 Kcal + 50 Kcal/kg para cada kg acima de 10 kg Crianças com mais de 20 kg – 1.500 Kcal + 20 Kcal/kg para cada kg acima de 20 kg Faixa etária e necessidades** 0-6 anos = 2,5 a 3,0 g/kg de peso atual 7–10 anos = 2,4 g/kg de peso atual 11–14 anos = 2,0 g/kg de peso atual 15–18 anos = 1,8 g/kg de peso atual Em casos de perda de peso e desnutrição sugere-se um incremento de 15% a 50% das recomendações de proteína Crianças com baixo peso utilizar P/E percentil 50 e escore Z= 0 Crianças eutróficas utilizar peso atual Crianças com sobrepeso ou obesas utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2 Este ajuste em relação ao peso atual não deve ultrapassar 20% Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico Quadro 26 (cont.) Questão Quais as recomendações hídricas?*** Pré-TCTH Peso e necessidades Crianças de 1,5 a 3 kg – 110 a 130 ml/kg Crianças de 3 a 10 kg – 100 ml/kg Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 ml + 50 ml/kg para cada kg acima de 10 kg Crianças com mais de 20 kg – 1.500 ml + 20 ml/kg para cada kg acima de 20 kg Pós-TCTH Peso e necessidades Crianças de 1,5 a 3 kg – 110 a 130 ml/kg Crianças de 3 a 10 kg – 100 ml/kg Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 ml + 50 ml/kg para cada kg acima de 10 kg Crianças com mais de 20 kg – 1.500 ml + 20 ml/kg para cada kg acima de 20 kg Acrescentar perdas dinâmicas e descontar retenções hídricas Acrescentar perdas dinâmicas e descontar retenções hídricas *Fonte: Adaptado ASPEN, 2002; Garofolo et al., 2001 **Fonte: Seattle Cancer Care Alliance, 2002 ***Fonte: adaptado ASPEN, 2002 3.3.3 Terapia Nutricional A terapia nutricional (TN) em Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas (TCTH) tem como principal objetivo corrigir as deficiências preexistentes decorrentes da terapêutica, minimizar ou evitar perdas de peso, bem como instituir um plano dietoterápico individualizado capaz de atender às exigências nutricionais em todas as etapas do tratamento (ANDERS, 2000; RUIZ; ALBERTINI, 2004). Uma das dificuldades frequentes na nutrição do paciente pediátrico criticamente enfermo consiste em suprir as necessidades calóricas e proteicas elevadas, pois durante e após o condicionamento para o TCTH, os pacientes pediátricos geralmente evoluem com a redução da ingestão de nutrientes (WAITZBERG, 2000). Portanto, a escolha da terapia mais adequada dependerá da situação em que o paciente está envolvido no momento (ASPEN, 2002). A TN deverá ser indicada sempre que houver diagnóstico de risco nutricional ou de desnutrição vigente. A via de eleição preferencial para a administração de alimentos, mesmo em pacientes críticos, é a digestiva (WAITZBERG, 2000). A terapia nutricional enteral (TNE) via oral deve ser indicada e mantida sempre que possível, incluindo complementos enterais. Caso ocorra impossibilidade desta via ou ingestão dietética inferior a 60% das recomendações preconizadas, a TNE via sonda poderá ser instituída. As manifestações gastrointestinais graves provocadas pelo tratamento agressivo frequentemente excluem o uso da TNE via oral e sonda, e neste caso deverá ser indicada a terapia nutricional parenteral (TNP) (AKER, 1990; ANDERS, 2000). O monitoramento da terapia nutricional é fundamental para verificar a tolerância do programa instituído e, para tanto, deve-se avaliar constantemente os parâmetros utilizando os critérios adotados e consensuados pelo American Society Parenteral and Enteral Nutrition e pela presença de intercorrências relacionadas à intolerância ou instabilidade hemodinâmica (ASPEN, 1998; ASPEN, 2002). O desmame da TN deverá ocorrer gradativamente, registrando em prontuário as condutas instituídas. O Quadro 27 apresenta as condutas consensuadas para terapia nutricional no paciente oncológico pediátrico submetido ao TCTH. 87 88 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Quadro 27 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico pediátrico submetido ao TCTH Questão Quais os objetivos da TN no paciente pediátrico? Pré-TCTH Oferecer fluídos e nutrientes em quantidades adequadas para manter as funções vitais e tentar garantir o crescimento e desenvolvimento normal da criança na presença dos efeitos tóxicos mais comuns como náuseas, vômitos, mucosite, má absorção, diarreia e constipação, bem como melhorar a qualidade de vida destes pacientes Que critérios devem Todos os pacientes com risco nutricional e/ou presença de desnutrição ser utilizados para indicar TN? Quando indicada, Imediatamente após diagnóstico de risco a TN deve ser nutricional ou de desnutrição, para iniciada em que pacientes ambulatoriais ou internados, momento? desde que hemodinâmicamente estáveis por um período mínimo de 7 dias Quais os critérios TNE: TGI total ou parcialmente de indicação da via funcionante a ser utilizada? • TNE via oral: os complementos enterais devem ser a primeira opção, quando a ingestão alimentar for < 75% das recomendações em até 5 dias, sem expectativa de melhora da ingestão • TNE via sonda: impossibilidade de utilização da via oral, ingestão alimentar insuficiente (ingestão oral < 60% das recomendações) em até 5 dias consecutivos, sem expectativa de melhora da ingestão TNP: impossibilidade total ou parcial de uso do TGI Que parâmetros Conforme os parâmetros consensuados devem ser utilizados por ASPEN 1998 e 2002 para monitorar a resposta à TN? Que dados da TN Todos os dados coletados da monitorizadevem ser ção da TN devem ser registrados em registrados? formulário específico do SND e EMTN, que será anexado ao prontuário Quando suspender Na vigência de instabilidade a TN? hemodinâmica Quando suspender Na vigência de instabilidade a TN? hemodinâmica Pós-TCTH Oferecer fluídos e nutrientes em quantidades adequadas para manter as funções vitais e tentar garantir o crescimento e desenvolvimento normal da criança na presença dos efeitos tóxicos mais comuns como náuseas, vômitos, mucosite, má absorção, diarreia e constipação, bem como melhorar a qualidade de vida destes pacientes Todos os pacientes com risco nutricional e/ou presença de desnutrição Imediatamente após diagnóstico de risco nutricional ou de desnutrição, para pacientes ambulatoriais ou internados, desde que hemodinâmicamente estáveis por um período mínimo de 7 dias TNE: TGI total ou parcialmente funcionante. • TNE via oral: os complementos enterais devem ser a primeira opção, quando a ingestão alimentar for < 75% das recomendações em até 5 dias, sem expectativa de melhora da ingestão • TNE via sonda: impossibilidade de utilização da via oral, ingestão alimentar insuficiente (ingestão oral < 60% das recomendações) em até 5 dias consecutivos, sem expectativa de melhora da ingestão TNP: impossibilidade total ou parcial de uso do TGI Conforme os parâmetros consensuados por ASPEN 1998 e 2002 Todos os dados coletados da monitorização da TN devem ser registrados em formulário específico do SND e EMTN, que será anexado ao prontuário Na vigência de instabilidade hemodinâmica Na vigência de instabilidade hemodinâmica Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico 3.3.4 Seguimento Ambulatorial O Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas (TCTH) caracteriza-se como uma terapia promissora no desenvolvimento da cura dos pacientes. Para que esta terapêutica seja bem-sucedida é necessário acompanhamento nutricional em todas as fases deste tratamento (IKEMORI, 2003). Atenção especial deve ser dada ao acompanhamento nutricional desta população, uma vez que é comum a apresentação de inúmeras complicações no decorrer do tratamento, capazes de comprometer significativamente o estado nutricional (ABIB et al., 1996a; ABIB et al., 1996b). O objetivo do acompanhamento ambulatorial é principalmente monitorar a ocorrência de deficiências nutricionais e as diversas complicações associadas ao transplante, de forma a corrigir o mais precocemente possível os déficits nutricionais (ABIB et al., 1996b). O paciente pediátrico sem evidência de doença oncológica e sem comorbidades associadas deve ser acompanhado no ambulatório de nutrição a fim de avaliar o seu crescimento e desenvolvimento, identificando e corrigindo quaisquer deficiências de nutrientes, pois deficiências nutricionais específicas, dependendo da severidade e do tempo, poderão interferir secundariamente no crescimento (ACCIOLY et al., 2004). O seguimento ambulatorial dos pacientes submetidos aos transplantes autólogos e singênicos deverá ser realizado quinzenalmente até o D+100 e, após, com frequência trimestral. Nos casos de transplantes alogênicos, o seguimento deverá ocorrer quinzenalmente até o D+100 e, posteriormente, a frequência deverá ser mensal (ABIB et al., 1996b; BERGERSON, 1998; IKEMORI, 2003). Após estes referidos períodos, os pacientes com sequelas decorrentes do tratamento antineoplásico com implicações nutricionais deverão continuar sendo acompanhados em ambulatório, periodicamente até a estabilização do quadro. Todavia, se os pacientes não apresentarem mais intercorrências decorrentes do tratamento em questão, deverão ser encaminhados à rede básica de saúde para acompanhamento do seu estado nutricional. O Quadro 28 apresenta as condutas consensuadas para o seguimento ambulatorial do paciente oncológico pediátrico submetido ao TCTH. 89 90 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Quadro 28 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico pediátrico submetido a TCTH Questão O paciente pediátrico sem evidência de doença e sem comorbidade deve ser acompanhado pelo ambulatório do SND? O paciente pediátrico sem evidência de doença, com comorbidades, deve ser acompanhado pelo ambulatório do SND? O paciente pediátrico sem evidência de doença, com sequelas decorrentes do tratamento, deve ser acompanhado pelo ambulatório do SND? Pós-TCTH (considerar as três modalidades de TCTH) Autólogo/Singênico: a cada 15 dias até o D+100. Após o D+100, a frequência deverá ser trimestral, até completar 1 ano de transplanteAlogênico: a cada 15 dias até o D+100. Após o D+100, a frequência deverá ser mensal, até o término da terapia de imunossupressão Sim, até o controle, respeitando o período de acompanhamento conforme a modalidade de transplante. Depois estes pacientes são encaminhados para acompanhamento do seu estado nutricional na unidade de saúde mais próxima de sua residência Todos os pacientes oncológicos com sequelas do tratamento e implicações nutricionais devem ser acompanhados pelo ambulatório do SND, respeitando o período de acompanhamento conforme a modalidade de transplante Capítulo 3– Paciente Oncológico Pediátrico Referências ANDERS, J.C.; SOLER, V.M.; BRANDÃO, E.M. et al. 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Nos últimos anos, grandes avanços têm ocorrido no tratamento do câncer infantil, sendo que hoje aproximadamente 70% das crianças afetadas são curadas. Entretanto, apesar dos notáveis progressos verificados nas últimas décadas, há ainda um grande número de pacientes que não consegue obter a cura e necessita de cuidados paliativos na fase final de sua doença (FURRER et al., 2000). Os cuidados paliativos compreendem um conjunto de medidas que enfatiza o cuidar global do paciente, quando este não apresenta mais possibilidades terapêuticas de cura (FURRER et al., 2000; PESSINI; BERTACHINI, 2004; OMS, 2004; FERNÁNDEZ-ROLDÁN, 2005). O universo do cuidar é mais abrangente do que o de curar. Sob esta ótica, os cuidados paliativos têm como objetivo atingir o máximo bem-estar físico, psíquico e social, fornecendo melhor qualidade de vida ao indivíduo e sua família (FURRER et al. 2000; OMS, 2004). Por este motivo, o enfoque maior é dado ao controle da dor, sofrimento e melhora dos sintomas, e não em restabelecer a saúde integralmente. As necessidades de higiene e nutrição são valorizadas e oferecidas, pois também são partes do tratamento (OMS, 2004). A abrangência do objetivo implica na necessidade de uma visão multidisciplinar dos cuidados paliativos, que envolvem médicos, enfermeiras, nutricionistas, fisioterapeutas, além de apoio psicológico, social e espiritual. No caso da criança ou adolescente, sua família também deve ser incluída nesta abordagem multidisciplinar (FURRER et al., 2000). É comum o paciente em cuidado paliativo apresentar inapetência, baixa ingestão alimentar, depleção de tecido magro e adiposo e caquexia em decorrência do próprio avanço da doença. Além disto, os efeitos colaterais dos tratamentos medicamentosos, como náuseas, vômitos, diarreia, saciedade precoce, má absorção, obstipação intestinal, disfagia, entre outros, podem contribuir para o agravo desta condição (HUHMANN, 2005). A nutrição, portanto, deve ter como objetivo oferecer substratos visando manter ou minimizar as perdas nutricionais comuns nesta população, mas sobretudo proporcionar conforto emocional, alívio dos sintomas, prazer, auxiliar na diminuição da ansiedade, aumentar a autoestima e independência, além de permitir maior comunicação com seus familiares, devendo ser adequada aos hábitos e às condições clínicas da criança, sempre que possível (ADA, 1992; SHIBUYA, 2005). 4.1. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL A desnutrição energético-proteica na criança com câncer tem sido registrada em 8% a 60% dos pacientes; caso seja associada à terapêutica oncológica, pode aumentar a morbidade, diminuir a função imunológica e a resposta ao tratamento, reduzindo a qualidade de vida (LADAS et al., 2005; VAN CUSTEM; ARENDS, 2005). Em cuidados paliativos, na maioria dos casos, o paciente apresenta algum grau de desnutrição decorrente do tratamento agressivo e da anorexia comumente observados (BEARDSMORE; FITZMAURICE, 2002). 97 98 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica A avaliação nutricional (AN) é importante na determinação do plano de cuidado nutricional, independente do estágio da doença. Tem como objetivo obter informações que irão auxiliar no planejamento dietético, voltado para o alívio dos sintomas, bem-estar e conforto do paciente e cuidador (DELMORE, 1997; HUHMANN; CUNNINGHAM, 2005). O paciente deverá ser avaliado diariamente e sempre que for necessário, de acordo com o histórico da doença e o aparecimento ou agravamento dos sintomas. Para tanto, é importante conhecer o histórico da doença e as propostas de tratamento. A avaliação nutricional no paciente oncológico terminal é baseada na presença de sinais e sintomas gastrointestinais, nível de consciência e estado de hidratação, servindo como instrumento para adequação da dieta prescrita. A antropometria e a bioimpedância apresentam desvantagens para diagnóstico nutricional nesse estágio da doença, podendo mascarar a depleção ponderal, não sendo apropriadas. Dados bioquímicos, como proteínas plasmáticas, podem oferecer resultados duvidosos em pacientes hipercatabólicos, com distúrbio hidroeletrolítico, infecção e inflamação (STRASSER; BRUERA, 2002). O Quadro 29 apresenta as condutas consensuadas para avaliação nutricional do paciente oncológico pediátrico em cuidados paliativos. Quadro 29 – Quadro-resumo sobre avaliação nutricional no paciente oncológico pediátrico em cuidados paliativos Questão Doença avançada A AN deve ser realizada Sim em pacientes pediátricos em cuidados paliativos? Quais os pacientes Todos devem ser avaliados? Que instrumentos devo utilizar para AN? Doença terminal Sim Todos. Respeitando sempre a vontade do paciente e do cuidador Anamnese nutricional: Anamnese nutricional: dados clínicos e dietéticos dados clínicos e dietéticos. Utilizar Antropometria: peso, Questionário de estatura, IMC, P/E, P/I, Frequência de E/I, percentual de perda de peso, CB, CMB, prega Consumo Alimentar OU recordatório 24 cutânea triciptal (> de 2 horas OU Questionário anos) perímetro cefálico de Consumo Alimentar e torácico (< 2 anos) e exame físico. Classificar Atual os dados obtidos (IMC, P/E, P/I, E/I) através das curvas da OMS (2007). Utilizar como índice de referência o escore Z ou o percentil: crianças < de 2 anos usar P/I, crianças maiores de 2 anos usar P/E e E/I Avaliação laboratorial: hemograma e bioquímica (cálcio, creatinina, ureia, glicose, sódio, potássio) Cuidados ao fim da vida Sim Todos. Respeitando sempre a vontade do paciente e do cuidador Anamnese nutricional: dados clínicos e dietéticos. Utilizar Questionário de Frequência de Consumo Alimentar OU recordatório 24 horas OU Questionário de Consumo Alimentar Atual Capítulo 4– Paciente Pediátrico em Cuidados Paliativos Quadro 29 – (cont.) Questão Que indicadores de risco nutricional devo utilizar? Com que frequência devo avaliar? Que dados da AN devo registrar? Doença avançada • P/I, P/E e E/I entre o – 1DP e – 2DP na classificação por escore Z e entre o P10 e o P3 na classificação por percentil • Consumo alimentar < 70% das necessidades por 5 dias consecutivos, independente do déficit antropométrico • Perda de peso > 5% comparado com o último peso referido • Sintomas do TGI Na admissão ou em até 48 horas após, podendo variar conforme a situação clínica e nutricional da criança e a cada 7 dias Todos os dados coletados devem ser registrados em prontuário conforme rotina hospitalar Doença terminal Cuidados ao fim da vida - - O paciente com câncer terminal deve ser avaliado diariamente e sempre que for necessário, de acordo com a evolução da doença e aparecimento ou agravamento dos sintomas Todos os dados coletados devem ser registrados em prontuário conforme rotina hospitalar O paciente em cuidados ao fim da vida deve ser avaliado diariamente e sempre que for necessário, de acordo com a evolução da doença e aparecimento ou agravamento dos sintomas Todos os dados coletados devem ser registrados em prontuário conforme rotina hospitalar 4.2. NECESSIDADES NUTRICIONAIS As recomendações nutricionais adotadas em cuidados paliativos pediátrico devem ser baseadas naquelas estabelecidas para pacientes pediátricos oncológicos, adaptando-as conforme a sintomatologia apresentada pela criança. A prescrição dietética, além de fornecer as necessidades nutricionais do paciente deve, acima de tudo, oferecer prazer e conforto. A necessidade de água está relacionada ao gasto de energia, podendo ser determinada por meio do peso corporal. Como as perdas sensíveis equivalem a 40 ml/100 Kcal e as perdas urinárias a 60 ml/100 Kcal em 24 horas, então 100 ml/100 Kcal ou 1 ml/Kcal são necessários para repor a perda de fluidos em 24 horas (ASPEN, 2002). A hidratação deve ser administrada de acordo com a sobrevida e sintomatologia do paciente (EBERHARDIE, 2002), observando-se débito urinário, presença de desidratação e de edema, buscando atender à necessidade hídrica basal, garantindo equilíbrio e conforto ao paciente. O Quadro 30 apresenta as condutas consensuadas das recomendações nutricionais para paciente oncológico pediátrico em cuidados paliativos. 99 100 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Quadro 30 – Quadro-resumo das recomendações nutricionais no paciente oncológico pediátrico em cuidados paliativos Questão Qual método deve ser utilizado para estimativa das necessidades calóricas? Cuidados ao Fim da Vida 1) Dietary Reference Intake 2006 1) Dietary Reference Intake 2006 As (DRIs) (DRIs) necessidades 0-3 meses: (89 x peso (kg) -100) + 175 0-3 meses: (89 x peso (kg) -100) + 175 calóricas para o 4-6 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 56 paciente 4-6 meses: ( 89 x peso (kg) -100) + 56 7-12 meses: (89 x peso (kg) -100) + 22 7-12 meses: (89 x peso (kg) - 100) + 22 oncológico no 13-35 meses: (89 x peso (kg) -100) + 20 13-35 meses: (89 x peso (kg) - 100) fim da vida + 20 serão Meninos estabelecidas Meninos 3-8 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x de acordo com 3-8 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x (26,7 x peso + 903 x altura) + 20 a aceitação e (26,7 x peso + 903 x altura) + 20 9-18 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x 9-18 anos: 88,5 - 61,9 x idade + FA x tolerância do (26,7 x peso + 903 x altura) + 25 paciente (26,7 x peso + 903 x altura) + 25 Meninas Doença avançada 3-8 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x peso + 934 x altura) + 20 9-18 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x peso + 934 x altura) + 25 Fator Atividade (FA): 1 = atividades do dia a dia ♀ = 1,16; ♂ = 1,13 – atividades do dia a dia + 30 a 60 minutos de atividade moderada ♀ = 1,31; ♂ = 1,26 – atividades do dia a dia + 60 minutos de atividade moderada Crianças com baixo peso utilizar P/E percentil 50 e escore Z= 0 Crianças eutróficas utilizar peso atual Crianças com sobrepeso ou obesas utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2 Este ajuste em relação ao peso atual não deve ultrapassar 20% 2) HOLLIDAY AND SEGAR, 1957 Crianças de 0 a 10 kg – 100 Kcal/kg Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 Kcal + 50 Kcal/kg para cada kg acima de 10 kg Crianças com mais de 20 kg – 1.500 Kcal + 20 Kcal/kg para cada kg acima de 20 kg Doença Terminal Meninas 3-8 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x peso + 934 x altura) + 20 9-18 anos: 135,3 - 30,8 x idade + FA x (10 x peso + 934 x altura) + 25 Fator Atividade (FA): 1 = atividades do dia a dia ♀ = 1,16; ♂ = 1,13 – atividades do dia a dia + 30 a 60 minutos de atividade moderada ♀ = 1,31; ♂ = 1,26 – atividades do dia a dia + 60 minutos de atividade moderada Crianças com baixo peso utilizar P/E percentil 50 e escore Z= 0 Crianças eutróficas utilizar peso atual Crianças com sobrepeso ou obesas utilizar P/E percentil 90 e escore Z= +2 Este ajuste em relação ao peso atual não deve ultrapassar 20% 2) HOLLIDAY AND SEGAR, 1957 Crianças de 0 a 10 kg – 100 Kcal/kg Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 Kcal + 50 Kcal/kg para cada kg acima de 10 kg Crianças com mais de 20 kg – 1.500 Kcal + 20 Kcal/kg para cada kg acima de 20 kg Capítulo 4– Paciente Pediátrico em Cuidados Paliativos Quadro 30 (cont.) Questão Quais as recomendações proteicas? Quais as recomendações hídricas? Doença avançada Doença Terminal Utilizar as recomendações do ASPEN, adaptando-as conforme a sintomatologia apresentada pela criança Utilizar as recomendações do ASPEN, adaptando-as conforme a sintomatologia apresentada pela criança Faixa etária e necessidades Neonatos até 2 anos – 2,5 a 3,0 g/kg/dia Crianças (2 a 11 anos) – 2,0 g/ kg/dia Adolescentes (acima de 12 anos) – 1,5 a 2,0 g/kg/dia Faixa etária e necessidades Crianças de 1,5 a 3 kg – 110 a 130 ml/kg Crianças de 3 a 10 kg – 100 ml/kg Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 ml + 50 ml/kg para cada kg acima de 10 kg Crianças com mais de 20 kg – 1.500 ml + 20 ml/kg para cada kg acima de 20 kg Faixa etária e necessidades Neonatos até 2 anos – 2,5 a 3,0 g/ kg/dia Crianças (2 a 11 anos) – 2,0 g/kg/ dia Adolescentes (acima de 12 anos) – 1,5 a 2,0 g/kg/dia Faixa etária e necessidades Crianças de 1,5 a 3 kg – 110 a 130 ml/kg Crianças de 3 a 10 kg – 100 ml/kg Crianças de 10 a 20 kg – 1.000 ml + 50 ml/kg para cada kg acima de 10 kg Crianças com mais de 20 kg – 1.500 ml + 20 ml/kg para cada kg acima de 20 kg A hidratação deve ser administrada de acordo com a tolerância e a sintomatologia do paciente Acrescentar perdas dinâmicas e descontar retenções hídricas Cuidados ao Fim da Vida As necessidades proteicas para o paciente oncológico no fim de vida serão estabelecidas de acordo com a aceitação e tolerância do paciente A hidratação deve ser administrada de acordo com a tolerância e a sintomatologia do paciente A hidratação deve ser administrada de acordo com a tolerância e a sintomatologia do paciente Acrescentar perdas dinâmicas e descontar retenções hídricas Fonte: adaptado ASPEN, 2002 4.3. TERAPIA NUTRICIONAL A terapia nutricional (TN) no câncer avançado tem como objetivo manter ou recuperar o estado nutricional, evitar a progressão da desnutrição e promover a qualidade de vida (EBERHARDIE, 2002; WOLFE et al., 2002). Está indicada em pacientes inapetentes ou anoréxicos, com intuito de complementar as necessidades nutricionais, promovendo melhora das condições clínicas, nutricionais e da qualidade de vida. A TN está contraindicada quando o potencial de risco é maior do que o benefício e/ou possa gerar algum tipo de desconforto (NITENBERG; RAYNARD, 2000). A dieta via oral deve ser a primeira opção, sempre que possível, devendo adequar-se aos hábitos e condições clínicas, considerando as seguintes questões: TGI funcionante, capacidade para se alimentar, grau de desconforto, nível de consciência, sintomatologia apresentada (RIPAMONTI et al., 2001; EBERHARDIE, 2002; KURASHIMA et al., 2004; SHIBUYA, 2005). Em muitos casos, 101 102 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica pequenos lanches em vez de grandes refeições ao longo do dia são mais eficazes. A introdução de outra via, que não a oral, deve ser discutida entre familiares e equipe médica (STRASSER; BRUERA, 2002; POSTOVSKY; BEN ARUSH, 2004). A escolha da via deve ser criteriosa, com o intuito de poupar a criança de mais um procedimento invasivo; por esta razão a indicação da TNE via sonda deve ser discutida com os pais e/ou responsáveis e com a criança, se possível, e equipe médica (BOZETTI et al., 1996; BOZZETI, 2003; HANMARKEY, 2000; HUHMANN & CUNNINGHAM, 2005). Em muitos casos, os pais demonstram resistência à TNE via sonda, preferindo a terapia nutricional parenteral (TNP) (SHIBUYA, 2005). A TNP possui poucas aplicações em pacientes com câncer avançado, sendo indicada somente em casos de obstruções intestinais irreversíveis, vômitos intratáveis, fístulas, TGI não funcionante, desde que contribua para melhor qualidade de vida e que haja perspectiva de vida considerável (maior do que três meses). Pacientes com câncer terminal deverão ser poupados de procedimentos invasivos que influenciem negativamente seu estado psicológico. É essencial, independente de qualquer conduta dietoterápica, respeitar a vontade do indivíduo, ou seja, a TN deve ser suspensa em pacientes que não a desejam mais (CORREA; SHIBUYA, 2007). O Quadro 31 apresenta as condutas consensuadas para terapia nutricional em paciente oncológico pediátrico em cuidados paliativos. Capítulo 4– Paciente Pediátrico em Cuidados Paliativos Quadro 31 – Quadro-resumo sobre terapia nutricional no paciente oncológico pediátrico em cuidados paliativos Cuidados ao Fim da Vida - Promover conforto - Manter o estado nutricional e - Promover conforto Quais os - Aliviar sintomas evitar a progressão da objetivos da - Aliviar sintomas - Melhorar a qualidade de vida - Melhorar a qualidade TN no paciente desnutrição do paciente e seu cuidador - Oferecer energia, fluídos pediátrico? de vida do paciente e e nutrientes em quantidades seu cuidador adequadas - Promover melhora na qualidade de vida Questão Que critérios devem ser utilizados para indicar TN? Doença avançada Todos os pacientes com risco nutricional e/ou presença de desnutrição Quais as TNE via oral: quando houver contraindicações impossibilidade da via, para a TN? ingestão calórica for maior do que 50% das recomendações; baixo nível de consciência; quando promove desconforto; recusa do paciente e/ou do cuidador TNE via sonda: quando houver impossibilidade da via, ingestão calórica VO for maior do que 50% das recomendações; quando promove desconforto; recusa do paciente e/ou do cuidador TNP: pacientes com TGI funcionante e por não oferecer benefícios no estágio avançado da doença Doença Terminal Todos os pacientes com risco nutricional e/ou presença de desnutrição. Respeitar sempre a vontade do paciente e do seu cuidador TNO e TNE: não é indicada, porém pode ser mantida quando promover satisfação do paciente pediátrico e/ou cuidador TNP: não é indicada e não deve ser mantida nos últimos momentos de vida - Há recusa do paciente e cuidador - Quando é um risco potencia - Quando é um elemento de desconforto - 103 104 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Quadro 31 (cont.) Questão Doença avançada Doença Terminal TNE: TGI total ou parcialmente funcionante • TNE via oral: os complementos enterais devem ser a primeira opção, quando a ingestão alimentar for < 75% das recomendações em até 5 dias, sem expectativa de melhora da ingestão • TNE via sonda: impossibilidade de utilização da via oral, ingestão alimentar insuficiente (ingestão oral < 60% das recomendações) em até 5 dias consecutivos, sem expectativa de melhora da ingestão TNP: não é uma via de escolha para o paciente com câncer terminal Que Conforme os parâmetros con- Conforme os parâmetros conparâmetros sensuados por ASPEN 1998 e sensuados por ASPEN 1998 e devem ser 2002 2002 utilizados para Considerar: Considerar: monitorar a • Bem-estar físico e mental do • Bem-estar físico e mental do resposta à TN? paciente/QV paciente/QV • Satisfação do paciente e seus • Satisfação do paciente e seus cuidadores cuidadores Quais os critérios de indicação da via a ser utilizada? TNE: TGI total ou parcialmente funcionante· • TNE via oral: os complementos enterais devem ser a primeira opção, quando a ingestão alimentar for < 75% das recomendações em até 5 dias, sem expectativa de melhora da ingestão • TNE via sonda: impossibilidade de utilização da via oral, ingestão alimentar insuficiente (ingestão oral < 60% das recomendações) em até 5 dias consecutivos, sem expectativa de melhora da ingestão TNP: impossibilidade total ou parcial de uso do TGI Que dados da TN devem ser registrados? Todos os dados coletados da monitorização da TN devem ser registrados em formulário específico do SND e EMTN, que será anexado ao prontuário Todos os dados coletados da monitorização da TN devem ser registrados em formulário específico do SND e EMTN, que será anexado ao prontuário Quando suspender a TN? Como programar o desmame? Na vigência de instabilidade hemodinâmica Na vigência de instabilidade hemodinâmica TNE via oral: quando a ingestão oral permanecer ≥ 50% do VET calculado por 2-3 dias TNE via sonda: quando a ingestão oral permanecer ≥ 30% do VET calculado por 2-3 dias TNP: quando o TGI estiver funcionante Quando a ingestão oral permanecer ≥ 50% do VET calculado por 2-3 dias ou quando o paciente referir satisfação Cuidados ao Fim da Vida - Conforme os parâmetros consensuados por ASPEN 1998 e 2002 Considerar: • Bem-estar físico e mental do paciente/QV • Satisfação do paciente e seus cuidadores Todos os dados coletados da monitorização da TN devem ser registrados em formulário específico do SND e EMTN, que será anexado ao prontuário Na vigência de instabilidade hemodinâmica Capítulo 4– Paciente Pediátrico em Cuidados Paliativos 4.4. SEGUIMENTO AMBULATORIAL O acompanhamento e controle da sintomatologia apresentada pelo paciente é um fator relevante para adequação da nutrição instituída (CORREA; SHIBUYA, 2007). Devem ser acompanhados: a ingestão de alimentos, através do recordatório de 24 horas; hábitos alimentares; alergias, aversões ou intolerâncias; interações entre drogas e nutrientes; hábitos intestinais; além de sintomas relacionados ao TGI. Exames bioquímicos devem ser acompanhados para avaliar a presença de distúrbios bioquímicos que possam influenciar negativamente o bem-estar do paciente (por exemplo: uremia, hiper ou hipoglicemia etc.) (SARHILL et al., 2003; CORREA; SHIBUYA, 2007). A frequência do seguimento deve ser programada, sempre que possível, conforme estado nutricional, condições clínicas e necessidades voluntárias da criança e/ou cuidador, não devendo ultrapassar 30 dias. O Quadro 32 apresenta as condutas consensuadas para seguimento ambulatorial do paciente oncológico pediátrico em cuidados paliativos. Quadro 32 – Quadro-resumo do seguimento ambulatorial para paciente oncológico pediátrico em cuidados paliativos Questão Como deve ser o acompanhamento da nutrição? Com que frequência esse paciente deve ser acompanhado pela nutrição? Doença avançada O acompanhamento deve ser de forma a atingir os objetivos já definidos na assistência ao paciente internado nas diferentes fases do cuidado paliativo Conforme o estado nutricional, condições clínicas e necessidades voluntárias do paciente pediátrico e/ou cuidador, não devendo ultrapassar 30 dias Disponibiliza-se, juntamente com a equipe cuidadora, para atendimento domiciliar ou plantão telefônico Todos os dados coletados Quais são os dados que devem na avaliação nutricional ser registrados do paciente, nas diferentes durante o fases do cuidado paliativo, acompanhamento devem ser registrados no da nutrição? prontuário e/ou formulário próprio do serviço Doença Terminal O acompanhamento deve ser de forma a atingir os objetivos já definidos na assistência ao paciente internado nas diferentes fases do cuidado paliativo Cuidados ao Fim da Vida O acompanhamento deve ser de forma a atingir os objetivos já definidos na assistência ao paciente internado nas diferentes fases do cuidado paliativo Conforme o estado nutricional, condições clínicas e necessidades voluntárias do paciente pediátrico e/ou cuidador, não devendo ultrapassar 30 dias Disponibiliza-se, juntamente com a equipe cuidadora, para atendimento domiciliar ou plantão telefônico Todos os dados coletados na avaliação nutricional do paciente, nas diferentes fases do cuidado paliativo, devem ser registrados no prontuário e/ou formulário próprio do serviço Disponibiliza-se, junto com a equipe cuidadora, para atendimento domiciliar ou plantão telefônico Todos os dados coletados na avaliação nutricional do paciente, nas diferentes fases do cuidado paliativo, devem ser registrados no prontuário e/ou formulário próprio do serviço 105 106 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Referências AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION (ADA). 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CAPÍTULO 5 ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS PARA SINAIS E SINTOMAS CAUSADOS PELA TERAPIA ANTITUMORAL Capítulo 5– Orientações Nutricionais para Sinais e Sintomas Causados pela Terapia Antitumoral ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS PARA SINAIS E SINTOMAS CAUSADOS PELA TERAPIA ANTITUMORAL Pacientes em tratamento antitumoral apresentam vários sinais e sintomas que levam à diminuição da ingestão diária de nutrientes que comprometem o estado nutricional. Durante o tratamento antitumoral, os pacientes oncológicos podem evoluir para desnutrição moderada ou grave e, cerca de 20% desses pacientes, morrem em decorrência da desnutrição e não da doença maligna (OTTERY, 1994). A desnutrição leva ao aumento da morbimortalidade e da toxicidade causada pela quimio e radioterapia, resultando em aumento no tempo de internação e dos custos hospitalares. Tudo isso prejudica a condição geral do paciente e sua qualidade de vida (SENESSE et al., 2008). Cerca de 60% dos pacientes com câncer são desnutridos e esse percentual aumenta para 81% naqueles que estão em cuidados paliativos. Aproximadamente 70% apresenta alguma dificuldade para se alimentar. Mais da metade dos pacientes necessita de aconselhamento nutricional e controle dos sintomas que interferem na ingestão de alimentos e cerca de 30% necessitam de suplemento nutricional (MARIN et al., 2008). A perda de peso antes do diagnóstico da doença maligna atinge 31% a 87% dos pacientes (DEWYS et al., 1980; CHUTE et al., 1985; WIGMORE et al., 1997; ANDREYEV et al., 1998). No momento do diagnóstico, cerca de 80% dos pacientes com câncer de esôfago estão desnutridos (KIRBY; TERAN 1998; LAVIANO et al., 1996; van BOKHORST et al., 1997), 85% dos pacientes com câncer gástrico ou pancreático apresentam perda de peso e 30% estão desnutridos de maneira grave (DEWYS et al., 1980). Alguns estudos investigaram a prevalência da desnutrição e sua correlação com a presença de efeitos colaterais em pacientes oncológicos em tratamento adjuvante ou neoadjuvante. Um recente estudo multicêntrico envolvendo 65 hospitais e 561 pacientes submetidos a tratamento adjuvante mostrou que 90,7% apresentavam perda de peso. Esse mesmo estudo constatou que 96,4% apresentavam complicações nutricionais tais como anorexia (70,9%), transtornos gastrointestinais (32,6%), disgeusia (40,5%) e disfagia, entre outros (SAN ORTIZ et al., 2008). Em outro estudo multicêntrico, Bozzeti (no prelo) avaliou 1.000 pacientes com câncer em 17 centros da Europa e encontrou perda significativa de peso (igual ou maior do que 10%) em 39,7% e risco nutricional em 33,8%. A perda de peso mais acentuada ocorreu em pacientes com câncer avançado e do trato gastrointestinal alto. Nessa casuística, 54% dos casos apresentavam anorexia, 39% referiam náuseas/ vômitos, 33% disgeusia/disosmia, 23% relataram disfagia/odinofagia, 50% apresentaram diarreia e 41% saciedade precoce. Outras complicações da terapia antitumoral, tais como trismo, xerostomia, enterite e mucosite, também podem estar presentes. Trismo é uma complicação frequente (5%-38%) nos pacientes em tratamento para câncer de cabeça e pescoço (DIJKSTRA et al., 2004; BENCHALAL et al., 1995; BERTRAND et al., 2000). Rieger e colaboradores (2006), em uma revisão da literatura, mostraram um prejuízo da qualidade de vida em pacientes com câncer de cabeça. Esses pacientes apresentaram, frequentemente, xerostomia, restrições dietéticas, disfagia e dificuldades para comer em público. A xerostomia foi relatada como o sintoma com maior tempo de duração. 109 110 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica A enterite é muito frequente (25%-75%) em pacientes com tratamento radioterápico para câncer pélvico ou abdominal (YAVUZ et al., 2002; MARTENSON et al., 2000). A forma aguda aparece logo após a seção de radioterapia e desaparece após a segunda ou terceira semana (YEOH & HOROWITZ 1987). Diarreia, tenesmo e sangramento retal geralmente estão presentes quando a radioterapia está associada à quimioterapia (MINSKY et al., 1991; BOSSET et al., 2006; BOSSET et al., 2005). Outro problema é a neutropenia, que está associada ao aumento de infecções. Infecções oportunistas, incluindo as causadas por alimentos, podem ocorrer no período em que os pacientes estão imunodeprimidos. As práticas adequadas, como a higienização, o armazenamento e a cocção dos alimentos, podem controlar o aparecimento de doenças e infecções. A orientação adequada ao paciente quanto aos cuidados com a dieta e com os alimentos que devem ser ingeridos e restringidos é imprescindível nessa fase de imunodepressão (MEDEIROS et al., 2004). A quimioterapia e a radioterapia resultam em toxicidade para o trato gastrointestinal, com o surgimento de efeitos colaterais tais como anorexia, náuseas, vômitos, disgeusia, mucosite, diarreia, xerostomia, entre outros. A ingestão oral nesses pacientes é frequentemente insatisfatória. Portanto, a intervenção nutricional através da orientação dietética e da prescrição de suplementos é necessária para todos esses pacientes (ASPEN – NUTRITION SUPPORT CORE CURRICULUM, 2007). Pequenas e constantes modificações, como aumento da densidade calórica na dieta e uso de suplementos nutricionais, devem ser encorajadas para aumentar a ingestão. Vários estudos mostraram que o aconselhamento nutricional melhora a ingestão e a qualidade de vida dos pacientes com câncer (RAVASCO et al.,2003; ISENRING et al., 2004; RAVASCO et al., 2005a; BAUER; CAPRA 2005). Ravasco et al. (2005b), em estudo randomizado com pacientes portadores de câncer de cabeça e pescoço submetidos à radioterapia, encontraram uma melhora na ingestão de calorias e proteínas no grupo que recebeu orientação nutricional versus pacientes sem intervenção que tiveram uma piora na qualidade de vida. Houve uma redução de 91% na incidência da anorexia, náuseas, vômitos, xerostomia e disgeusia no grupo que recebeu orientação nutricional. Nos Quadros 33 a 45 estão listadas as recomendações nutricionais que podem auxiliar no controle dos sinais e/ou sintomas causados pela terapia antitumoral. Capítulo 5– Orientações Nutricionais para Sinais e Sintomas Causados pela Terapia Antitumoral Quadro 33 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional na anorexia Sinais e sintomas Anorexia Condutas • Conscientizar o paciente da necessidade de comer apesar da inapetência • Ajustar a ingestão atual para o ideal • Modificar a consistência da dieta conforme a aceitação do paciente • Aumentar o fracionamento da dieta e reduzir o volume por refeição, oferecendo de 6 a 8 refeições ao dia • Aumentar a densidade calórica das refeições • Quando necessário, utilizar complementos nutricionais hipercalóricos ou hiperproteicos • Orientar o paciente a: - Dar preferência a alimentos umedecidos - Adicionar caldos e molhos às preparações - Aumentar a variedade de legumes e carnes nas preparações - Utilizar temperos naturais nas preparações Quadro 34 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento de disgeusia e disosmia Sinais e sintomas Disgeusia e disosmia Condutas • Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar da disgeusia e disosmia • Estimular a ingestão de alimentos mais prazerosos • Aumentar o fracionamento da dieta e reduzir o volume por refeição, oferecendo de 6 a 8 refeições ao dia • Modificar a consistência dos alimentos conforme aceitação, liquidificando-os quando necessário • Quando necessário, utilizar complementos nutricionais com flavorizantes e aromas • Orientar o paciente a: - Preparar pratos visualmente agradáveis e coloridos - Lembrar do sabor dos alimentos antes de ingeri-los - Dar preferência a alimentos com sabores mais fortes - Utilizar ervas aromáticas e condimentos nas preparações Quadro 35 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento de náuseas e vômitos Sinais e sintomas Náuseas e vômitos Condutas • Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar das náuseas e vômitos. • Aumentar o fracionamento da dieta e reduzir o volume por refeição, oferecendo de 6 a 8 refeições ao dia • Dar preferência a alimentos mais secos • Dar preferência a alimentos de consistência branda • Orientar o paciente a: - Preparar pratos visualmente agradáveis e coloridos - Evitar jejuns prolongados - Mastigar ou chupar gelo 40 minutos antes das refeições - Evitar preparações que contenham frituras e alimentos gordurosos - Evitar preparações com temperaturas extremas - Evitar preparações e alimentos muito doces - Evitar beber líquidos durante as refeições, utilizando-os em pequenas quantidades nos intervalos - Manter cabeceira elevada (45°) durante e após as refeições - Realizar as refeições em locais arejados, evitando locais que tenham odores fortes 111 112 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Quadro 36 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento da xerostomia Sinais e sintomas Xerostomia Condutas • Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar da xerostomia • Estimular a ingestão de alimentos mais prazerosos • Adequar os alimentos conforme aceitação, ajustando a consistência • Quando necessário, utilizar complementos nutricionais industrializados com flavorizantes cítricos • Orientar o paciente a: - Dar preferência a alimentos umedecidos - Preparar pratos visualmente agradáveis e coloridos - Utilizar gotas de limão nas saladas e bebidas - Ingerir líquidos junto com as refeições para facilitar a mastigação e deglutição - Adicionar caldos e molhos às preparações - Dar preferência a alimentos umedecidos - Usar ervas aromáticas como tempero nas preparações, evitando sal e condimentos em excesso - Mastigar e chupar gelo feito de água, água de coco e suco de fruta adoçado Quadro 37 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento de mucosite e úlceras orais Sinais e sintomas Mucosite e úlceras orais Condutas • Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar de mucosite e úlceras orais • Modificar a consistência da dieta de acordo com o grau de mucosite (grau I, II, III) • Orientar o paciente a: - Evitar alimentos secos, duros ou picantes - Utilizar alimentos à temperatura ambiente, fria ou gelada - Diminuir o sal das preparações - Consumir alimentos mais macios e pastosos - Evitar vegetais frescos crus - Evitar líquidos e temperos abrasivos Quadro 38 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento da disfagia Sinais e sintomas Disfagia Condutas • Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar da disfagia • Modificar a consistência da dieta conforme aceitação, de acordo com as orientações do fonoaudiólogo e a capacidade do paciente • Em caso de disfagia a líquidos, semilíquidos e pastosos, indicar o uso de espessantes • Em caso de disfagia a alimentos sólidos, orientar o paciente a ingerir pequenos volumes de líquidos junto às refeições para facilitar a mastigação e deglutição • Orientar o paciente a: - Evitar alimentos secos - Dar preferência a alimentos umedecidos - Usar preparações de fácil mastigação/deglutição, conforme tolerância Capítulo 5– Orientações Nutricionais para Sinais e Sintomas Causados pela Terapia Antitumoral Quadro 39 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento da odinofagia e esofagite Sinais e sintomas Odinofagia Esofagite Condutas • Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar da odinofagia • Modificar a consistência da dieta de acordo com a aceitação do paciente (intensidade da dor) • Aumentar o fracionamento da dieta e reduzir o volume por refeição, oferecendo de 6 a 8 refeições ao dia • Quando necessário, utilizar complementos nutricionais com flavorizantes não cítricos • Orientar o paciente a: - Evitar alimentos secos e duros - Utilizar alimentos em temperatura ambiente - Utilizar dieta hipolipídica - Diminuir o sal das preparações - Dar preferência a alimentos na consistência pastosa (carnes macias, bem cozidas, picadas, desfiadas ou moídas) ou liquidificados - Usar papas de frutas e sucos não ácidos - Mastigar bem os alimentos evitando a aerofagia - Evitar condimentos ácidos que possam irritar a mucosa • Modificar a consistência da dieta de acordo com a aceitação do paciente (intensidade da dor) • Aumentar o fracionamento da dieta e reduzir o volume por refeição, oferecendo de 6 a 8 refeições ao dia • Quando necessário, utilizar complementos nutricionais com flavorizantes não cítricos • Orientar o paciente a: - Evitar alimentos secos e duros - Utilizar alimentos em temperatura ambiente - Utilizar dieta hipolipídica e pobre em fibras insolúveis - Diminuir o sal das preparações - Dar preferência a alimentos na consistência pastosa (carnes macias, bem cozidas, picadas, desfiadas ou moídas) ou liquidificados - Usar papas de frutas e sucos não ácidos - Mastigar bem os alimentos evitando a aerofagia - Manter cabeceira elevada (45°) durante e após as refeições - Evitar a ingestão de café, bebidas alcoólicas, refrigerantes ou qualquer bebida gaseificada - Evitar condimentos ácidos que possam irritar a mucosa Quadro 40 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento da saciedade precoce Sinais e sintomas Saciedade precoce Condutas • Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar da saciedade precoce • Modificar a consistência da dieta, se necessário, dando preferência a alimentos abrandados • Aumentar o fracionamento da dieta e reduzir o volume por refeição, oferecendo de 6 a 8 refeições ao dia • Aumentar a densidade calórica das refeições • Orientar o paciente a: - Dar preferência à ingestão de legumes cozidos e frutas sem casca e bagaço -Priorizar sucos mistos de legumes com frutas, ao invés de ingerir separadamente na forma in natura -Dar preferência à ingestão de grãos em geral liquidificados ou somente o caldo da preparação destes -Não ingerir líquidos durante as refeições -Utilizar ervas aromáticas e condimentos nas preparações -Diminuir o sal das preparações -Utilizar carnes magras, cozidas, picadas, desfiadas ou moídas -Evitar alimentos e preparações hiperlipídicas -Manter cabeceira elevada (45°) durante e após as refeições -Evitar a ingestão de café, bebidas alcoólicas, refrigerantes ou qualquer bebida gaseificada 113 114 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Quadro 41 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento do trismo Sinais e sintomas Trismo Condutas • Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar do trismo • Adequar a consistência dos alimentos de acordo com a aceitação do paciente • Utilizar artifícios para facilitar a ingestão (canudos, seringas, colheres, squeezes/ garrafa tipo atleta) Quadro 42 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento da enterite Sinais e sintomas Enterite Condutas • Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar da enterite • Aumentar o fracionamento da dieta e reduzir o volume por refeição, oferecendo de 6 a 8 refeições ao dia • Progredir a consistência e conteúdo da dieta conforme melhora clínica do paciente • Orientar a ingestão adequada de líquidos (volume e tipo) • Quando necessário, utilizar complementos nutricionais com fórmula pobre em resíduo, isenta de glúten, lactose e sacarose • Orientar o paciente a: -Utilizar dieta pobre em resíduos, glúten e sacarose -Utilizar dieta isenta de lactose, teína e cafeína -Utilizar dieta pobre em fibras insolúveis e adequada em fibras solúveis Quadro 43 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento da diarreia Sinais e sintomas Diarreia Condutas • Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar da diarreia • Aumentar o fracionamento da dieta e reduzir o volume por refeição, oferecendo de 6 a 8 refeições ao dia • Avaliar a necessidade de restrição de lactose, sacarose, glúten, cafeína e teína • Considerar o uso de prebiótico, probiótico ou simbiótico • Orientar o paciente a: -Evitar alimentos flatulentos e hiperosmolares -Utilizar dieta pobre em fibras insolúveis e adequada em fibras solúveis -Ingerir líquidos isotônicos entre as refeições, em volumes proporcionais às perdas Quadro 44 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento da constipação intestinal Sinais e sintomas Constipação intestinal Condutas • Conscientizar o paciente da necessidade de comer, apesar da constipação intestinal • Orientar a ingestão de alimentos ricos em fibras e com características laxativas • Considerar o uso de prebiótico, probiótico ou simbiótico • Considerar a utilização de módulo fibra dietética mista • Estimular a ingestão hídrica conforme recomendações Capítulo 5– Orientações Nutricionais para Sinais e Sintomas Causados pela Terapia Antitumoral Quadro 45 – Quadro-resumo das recomendações para conduta terapêutica nutricional no tratamento da neutropenia Sinais e sintomas Neutropenia Condutas Neutropenia moderada (neutrófilos entre 1.500 e 500 células/mm3): • Não se recomenda o uso de probióticos • Orientar o paciente a: -Higienizar frutas e verduras com sanitizantes -Utilizar água potável filtrada ou fervida -Ingerir apenas frutas de casca grossa, consumindo apenas a polpa -Ingerir frutas de casca fina somente cozidas -Ingerir vegetais, condimentos, oleaginosas e grãos somente coccionados -Ingerir leites e derivados somente pasteurizados -Ingerir carnes e ovos somente bem coccionados -Utilizar preparações produzidas por estabelecimentos que tenham todos os cuidados adequados à segurança alimentar Neutropenia grave (neutrófilos < 500 células/mm3): • Orientar a utilização de dieta “baixa bactéria” (alimentos bem coccionados) • Não se recomenda o uso de probióticos • Orientar o paciente a: -Ingerir alimentos processados em embalagens individuais -Utilizar preparações produzidas por estabelecimentos que tenham todos os cuidados adequados à segurança alimentar 115 116 Consenso Nacional de Nutrição Oncológica Referências AMERICAN SOCIETY OF PARENTERAL AND ENTERAL NUTRITION. The A.S.P.E.N Nutrition support core curriculum: a case-based approach- the adult patient. 2. ed. United States of America: Managing 2007. 824 p. ANDREYEV, H. J. N.; NORMAN, A. R.; OATES, J.; CUNNINGHAM, D. Why do patients with weight loss have a worse outcome when undergoing chemotherapy for gastrointestinal malignancies? European Journal of Cancer, v.34, n. 4, p. 503–509, 1998. BAUER, J. D.; CAPRA, S. Nutrition intervention improves outcomes in patients with cancer cachexia receiving chemotherapy—a pilot study. Supportive Care in Cancer, v.13 p. 270–274, 2005. BENCHALAL, M.; BACHAUD, J. M.; FRANÇOIS, P.; ALZIEU, C.; GIRAUD, P.; DAVID, J. M et al. Hyperfractionation in the reirradiation of head and neck cancers. Result of a pilot study. Radiotherapy and Oncology, v.36 p. 203–210, 1995. BERTRAND, J; LUC, B; PHILIPPE, M; PHILIPPE, P. Anterior mandibular osteotomy for tumor extirpation: a critical evaluation. Head & Neck, v.22 p. 323-327, 2000. BOSSET, J. 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O objetivo deste trabalho é garantir, em nosso país, de dimensões continentais, a equidade e qualidade da assistência nutricional ao paciente oncológico. Algumas discussões, tais como o uso de imunomoduladores e a assistência nutricional aos pacientes oncológicos críticos adultos e pediátricos, não foram abordadas nesta primeira etapa de construção. Para tal, ao longo dos próximos anos iremos constituir grupos de discussão sobre esses temas, que serão levados à votação em fóruns nacionais. As etapas seguintes incluem divulgação, implementação das ações consensuadas nas instituições envolvidas com a criação deste documento e a criação de um grupo de revisão permanente. A assistência ao paciente oncológico é interdisciplinar e será necessário envolver outros especialistas na revisão deste documento, para que, desse modo, haja plenitude na atenção ao indivíduo portador de câncer. Tentamos envolver profissionais e instituições que pudessem de fato representar a assistência nutricional em oncologia no Brasil. Socializamos todas as discussões e demos oportunidade a todos, com o mesmo nível de participação. Este documento certamente contribuirá para a melhor definição das políticas públicas que envolvem a atenção ao paciente com câncer no Brasil. Nivaldo Barroso de Pinho Facilitador Nacional do Consenso Nacional em Nutrição Oncológica Chefe do Serviço de Nutrição do Hospital do Câncer I/INCA GLOSSÁRIO Aerofagia – hábito de deglutir o ar, que surge em algumas pessoas, especialmente as que sofrem de dispepsia ou de certos estados. Alimentos processados - alimentos produzidos pelo homem através de matéria-prima conseguida muitas vezes pela natureza. Anamnese nutricional - consiste na coleta de dados antropométricos, bioquímicos e consumo alimentar, através de inquéritos alimentares; além de dados psicossocioeconômicos, hábitos alimentares e culturais. Anamnese alimentar - coleta detalhada de informações sobre hábitos alimentares, picas, alergias ou intolerâncias, presença de náuseas, vômitos, obstipação, diarreia, lesões orais, distúrbios de mastigação ou deglutição, alterações de peso, uso de medicamentos ou suplementos, nível de atividade física: além de dados psicossocioeconômicos e culturais relacionados com a aquisição e o preparo de alimentos. Anorexia - falta fisiopatológica de apetite, acompanhada de uma aversão a comida e inabilidade em comer. Sinônimo de inapetência. Avaliação Subjetiva Global (ASG) - método que combina informações relativas a alterações alimentares (ingestão, digestão e absorção) e seus efeitos na composição corporal e capacidade funcional, com base na história clínica e exame físico do paciente. Avaliação nutricional - envolve avaliação clínica e do consumo alimentar, acrescida de dados laboratoriais que revelem a deficiência de nutrientes específicos ou a gravidade da enfermidade. Balanço Nitrogenado (BN) – o BN é a medida da ingestão de nitrogênio, presente nas proteínas, menos o nitrogênio excretado ou perdido (urina, fezes e outras perdas) pelo organismo durante um determinado tempo, geralmente um período de 24 horas. Assim, o BN resulta da diferença entre o nitrogênio ingerido e o nitrogênio excretado. Caloria - segundo o sistema internacional de unidades, 1 caloria equivale a 4,18 joules; a quantidade de calor necessária para elevar em 1 grau Celsius a temperatura de 1 mililitro de água. Constipação intestinal - progressão lenta da matéria fecal no intestino grosso, acompanhada em geral do acúmulo de grande quantidade de fezes secas e duras do cólon descendente, devido ao tempo disponível para a reabsorção de água. Cuidados ao fim da vida - oferecimento de um adequado controle dos sintomas que geram sofrimento para o paciente, independente da possibilidade de cura, que já não existe mais nos casos de doença avançada. Cuidados paliativos - são os cuidados totais ativos aos pacientes, cuja doença não responde a tratamento curativo, sendo fundamental o controle da dor, de outros sintomas e de problemas psicológicos, sociais e espirituais. Dados clínicos - informações obtidas através da observação clínica; relativos aos sintomas apresentados. Dados dietéticos - informações sobre a dieta e a alimentação de pessoas ou grupos de pessoas. Diarreia – a diarreia consiste no aumento do número de evacuações e/ou a presença de fezes amolecidas ou até líquidas nas evacuações. Dieta pobre em resíduo – resíduo refere-se a elementos dietéticos não absorvidos e os conteúdos lumiais totais presentes após a digestão. Os alimentos que contêm resíduos tendem a aumentar o resíduo fecal e o peso das fezes. Dieta restrita em resíduo pode ser considerada aquela que contém menos do que 20 g de fibras por dia. Disfagia – dificuldade em deglutir ou uma sensação de comida “presa” na garganta ou no esôfago. Disgeusia – ausência no sentido do paladar. Disosmia – perturbação do olfato. Doença avançada – doença que se aproxima da fase terminal. Doença terminal – uma doença ou estado no qual a morte é possível ou iminente. Enterite – inflamação de qualquer segmento do intestino delgado. Esofagite – inflamação aguda ou crônica do esôfago, causada por bactérias, químicos ou trauma. Espessantes – substância capaz de aumentar a viscosidade de soluções, emulsões e suspensões. Estresse moderado – processo patológico resultante de uma reação do corpo a forças externas e condições anormais que alteram a homeostase do organismo, de intensidade moderada. Fibras insolúveis – parte comestível das plantas ou carbo-hidratos análogos, insolúveis em água, resistentes à digestão e à absorção no intestino delgado de humanos, com fermentação completa ou parcial no intestino grosso. Fibras solúveis – parte comestível das plantas ou carbo-hidratos análogos, solúveis em água, resistentes à digestão e à absorção no intestino delgado de humanos, com fermentação completa ou parcial no intestino grosso. Flavorizantes – flavorizante é qualquer substância que confere ou intensifica o sabor e o aroma dos alimentos. Glúten – glúten é a principal proteína presente no trigo, aveia, centeio, cevada e no malte (subproduto da cevada), cereais amplamente utilizados na composição de alimentos, medicamentos, bebidas industrializadas, assim como cosméticos e outros produtos não ingeríveis. Hiperlipídicas – hiper: prefixo de origem grega que significa acima e indica um excesso, um aumento ou uma posição superior; com maior quantidade de lipídeos. Hipolipídica – hipo: prefixo de origem grega que significa abaixo e indica insuficiência, diminuição ou posição inferior; com menor quantidade de lipídeos. Inapetência – falta fisiopatológica de apetite, acompanhada de uma aversão a comida e inabilidade em comer. Sinônimo de anorexia. Iso-osmolar – do grego ísos, igual; de mesma osmolaridade. Jejum – estado de privação de alimento sólido ou líquido durante um tempo determinado. Lactose – dissacarídeo, composto por glicose e galactose, presente no leite. Mucosite – inflamação da mucosa com sensação de queimação ou de prurido. Náuseas – sensação de enjoo. Necessidades nutricionais – quantidades de várias substâncias necessárias na alimentação de um organismo para sustentar uma vida saudável. Neutropenia – redução do número de granulócitos. Algumas vezes a redução nos neutrófilos circulantes é acentuada e tem repercussões graves porque predispõe a infecções. Obeso – indivíduo com o Índice de Massa Corporal (IMC) superior ou igual a 30kg/m². Odinofagia – dor ao deglutir. Oleaginosa – são frutas que contêm, aproximadamente, 60% de lipídeos na sua composição. Parâmetros antropométricos – medidas de peso, tamanho e proporções do corpo humano. Parâmetros bioquímicos – medidas de substâncias que permitem avaliar as funções de órgãos ou tecidos. Pasteurizados – que sofreram pasteurização. A pasteurização é um tratamento térmico que elimina os microorganismos termossensíveis (todos os patogênicos e outros não esporulados) existentes no alimento. Prebiótico – componentes alimentares não digeríveis que afetam beneficamente o hospedeiro, por estimularem seletivamente a proliferação ou atividade de populações de bactérias desejáveis no cólon. Probiótico – os probióticos são micro-organismos vivos, administrados em quantidades adequadas, que conferem benefícios à saúde do hospedeiro. Proteólise – processo de degradação enzimática de proteínas. Qualidade de vida – qualidade de vida é um termo empregado para descrever a qualidade das condições de vida, levando em consideração fatores como a saúde, a educação, o bem-estar físico, psicológico, emocional e mental, e a expectativa de vida. A qualidade de vida envolve também elementos não relacionados, como a família, amigos, emprego ou outras circunstâncias da vida. Quimioterapia – a quimioterapia é o método que utiliza compostos químicos, chamados quimioterápicos, no tratamento de doenças causadas por agentes biológicos. Quando aplicada ao câncer, a quimioterapia é chamada de quimioterapia antineoplásica ou quimioterapia antiblástica. Radioterapia – a radioterapia é um método capaz de destruir células tumorais, empregando feixe de radiações ionizantes. Resposta imunológica – reação do sistema imunológico diante de agentes agressores. Risco nutricional – considera-se qualquer fator que já comprometeu ou que possa comprometer o bom estado nutricional. Sacarose – dissacarídeo, composto por glicose e frutose, presente naturalmente em frutas, vegetais e mel. Simbiótico – aquele no qual um probiótico e um prebiótico estão combinados. Temperatura ambiente – estado do ambiente que se manifesta no ar e nos corpos em forma de calor, em uma gradação que flutua entre dois extremos que, convencionalmente, se denominam: quente e frio. Terapia nutricional – melhoramento do estado de saúde de um indivíduo mediante o ajuste da quantidade, qualidade e dos métodos de ingestão de nutrientes. Terapia nutricional por sonda – fornecimento de nutrientes líquidos através de sondas, diretamente para o trato gastrointestinal. Terapia nutricional parenteral – consiste em suprir a necessidade nutricional total ou parcial por via venosa. Trismo - impossibilidade de abrir a boca, devido à contração espasmódica dos músculos mastigadores. Úlceras orais – área de escoriação na mucosa oral (boca) causada pela ação digestiva de substância irritante, corrosiva. Vômitos – eliminação, após esforço, de material contido no tubo digestivo. Xerostomia – ressecamento anormal da mucosa da boca. Referências BAXER, Y. C.; BORGHI, R. Nutrientes imunomoduladores e suas aplicações. In:____ SILVA, S. M. C. S.; MURA, J. D. P. Tratado de Alimentação, Nutrição & Dietoterapia. São Paulo: Roca, 2007. Cap. 59; Sessão 9, p.922. BOZZETI, F. Suporte Nutricional de pacientes com Câncer. In:____ GIBNEY, M.; ELIA, M.; LJUNGQVIST, O.; DOWSETT, J. Nutrição Clínica. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan. 2007.Cap. 21; p.316. BURLA, C. Cuidados ao fim da vida: uma preocupação da prática da Medicina Geriátrica. Textos Envelhecimento. Rio de Janeiro. v.4; n.8, 2002. Disponível em: http://www.unati.uerj.br/tse/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-59282002000200003&lng=pt&nrm=iso CARDOSO, M. A. Nutrição Humana. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2006. p. 21; p. 335. FILISETTI, T. M. C. Fibra Alimentar – Definições, componentes e métodos analíticos. In:____ SILVA, S. M. C. 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