UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC DIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA ANDRESSA MATIAS DA ROSA FIGURAS GEOMÉTRICAS: INSTRUMENTO IMPORTANTE PARA O ENSINO DA GEOMETRIA CRICIÚMA, FEVEREIRO DE 2009 1 ANDRESSA MATIAS DA ROSA FIGURAS GEOMÉTRICAS: INSTRUMENTO IMPORTANTE PARA O ENSINO DA GEOMETRIA Monografia apresentada à Diretoria de PósGraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, para a obtenção do título de especialista em Educação Matemática. Orientador: Prof. MSc. Adriane Brogni Uggioni CRICIÚMA, FEVEREIRO DE 2009 2 Dedico este trabalho primeiramente à Deus, em especial aos meus pais e aos meus irmãos. A mim pela força de vontade de vencer mais uma etapa, na conquista de mais um título profissional. 3 AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais Renato e Chirlei, pelos quais eu vim a existir, pelo apoio, incentivo e compreensão. Aos meus familiares, em especial à minha maninha do coração Renata, pela força e companheirismo durante a trajetória desta conquista, e meus irmãos Roberto e Adilton que sempre torceram por minha vitória. Às minhas cunhadas Ramira e Gláucia pela amizade, orações e carinho. Aos meus sobrinhos Kenidy e Emanuel que dão um colorido e sabor especial à minha vida. Aos meus amigos pelas palavras positivas e pela amizade. À minha orientadora, professora Adriane, por suas orientações, paciência e carinho. Mas acima de tudo e de todos ao PAI, por ter acreditado em mim quando nem eu mesma acreditava, e por ser o grande autor da obra de minha existência. À JESUS, por ser o consumador e grande amigo. Ao ESPÍRITO SANTO, pela luz, consolo e companheirismo. À ELE toda honra, toda glória e todo louvor, pois sem ELE eu não conseguiria ter chegado até aqui. 4 Feliz o homem que encontrou a sabedoria, daquele que adquiriu a inteligência, porque mais vale esse lucro que o da prata, e o fruto que se obtém é melhor que o fino ouro. Ela é mais preciosa que as pérolas, jóia alguma a pode igualar. Na mão direita ela sustenta uma longa vida; Na esquerda, riqueza e glória. (Provérbios 3.13-16) 5 RESUMO Este trabalho apresenta um estudo realizado sobre as figuras geométricas como instrumento importante para o ensino da geometria nas Escolas da Rede Estadual de Ensino do Município de Criciúma. A inquietação por este tema surgiu a partir da experiência como acadêmica do curso de Licenciatura em Matemática, onde percebemos uma enorme dificuldade dos alunos a entenderem os conceitos geométricos dentro da matemática. Delimitamos como objetivo geral compreender a importância das figuras geométricas no ensino da Geometria. Tendo como objetivos específicos: Levantar a produção bibliográfica a respeito da temática pesquisada; verificar quais dificuldades em trabalhar os conceitos geométricos; verificar se os métodos que os professores utilizam, fazem com que assimilem o conteúdo abordado; constatar se ocorreu ou não a apropriação, por parte dos alunos, sobre o conceito geométrico; identificar as teorias metodológicas utilizadas pelos professores. Buscamos nos pautar numa perspectiva qualiquantitativa de pesquisa para alcançar os objetivos propostos neste trabalho. Para concretização deste trabalho realizamos uma pesquisa bibliográfica num enfoque dialético. A metodologia utilizada na análise dos dados é de cunho qualiquantitativo. Para coletar os dados com os educadores, utilizamos como suporte instrumental um questionário, composto com algumas questões abertas e outras fechadas, aplicado a vinte e cinco professores de sala de aula. Buscamos analisar os dados descritivamente à luz do referencial teórico. As análises nos apontam que os professores utilizam figuras geométricas para ensinar geometria. Palavras-chave: Geometria. Ensino. Aprendizagem. Metodologia. Professor. 6 LISTA DE QUADROS E GRÁFICOS Quadro 1: O que os professores fazem para que seus alunos compreendam os conceitos geométricos............................................................................................. 38 Gráfico 1: O que os professores fazem para que seus alunos compreendam os conceitos geométricos............................................................................................. 39 Quadro 2: Dificuldades encontradas pelos professores para trabalhar os conceitos geométricos............................................................................................. 40 Gráfico 2: Dificuldades encontradas pelos professores para trabalhar os conceitos geométricos............................................................................................. 41 Quadro 3: Teoria metodológica que o professor se identifica.................................43 44 Gráfico 3: Teoria metodológica que o professor se identifica................................... 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................ 08 2 AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS........................................................................... 11 2.1 Tradicional.............................................................................................................. 12 2.2 Tecnicista...............................................................................................................14 2.3 Construtivismo........................................................................................................ 16 2.4 Histórico-Cultural..................................................................................................18 3 GEOMETRIA.............................................................................................................21 3.1 O Ensino da Geometria nas Últimas Décadas...................................................21 3.2 A Importância do Ensino da Geometria.............................................................24 3.3 Níveis de Desenvolvimento do Pensamento Geométrico: Níveis de Van Hiele.......................................................................................................................... 25 4 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS.....................................................................................29 5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..................................................................35 6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS........................................................... 37 7 CONCLUSÃO............................................................................................................47 REFERÊNCIAS.............................................................................................................49 APÊNDICE A – Modelo de Questionário Aplicado aos Professores......................52 8 1 INTRODUÇÃO Através da experiência como acadêmica do curso de Matemática da Universidade do Extremo Sul Catarinense, tem-se percebido uma enorme dificuldade dos alunos a entenderem os conceitos matemáticos. Pois atualmente a Geometria é aplicada de forma muito abstrata, levando ao educando o não entendimento da mesma, tornando-a uma disciplina nada agradável e de difícil compreensão. Pesquisas têm demonstrado que este problema pode estar relacionado com a forma como os professores ensinam, já que os mesmos também têm dificuldades de ensinar a geometria. A matemática desenvolve o raciocínio lógico, estimula o pensamento independente e a criatividade. Segundo a Proposta Curricular de Santa Catarina (SANTA CATARINA, 1998) a matemática é uma forma especial de pensamento e de linguagem, a apropriação deste conhecimento pelo aluno se dá por um trabalho gradativo, interativo e reflexivo. O professor é o mediador entre o conhecimento historicamente produzido e sistematizado é aquele adquirido pelo aluno em situações que não envolvam a atividade na Escola. O conhecimento socialmente relevante para o aluno é aquele que é capaz de desenvolver suas capacidades cognitivas, que permite produzir significados, estabelecer relações, justificar, analisar e criar. Através de estudos relacionados à disciplina, pretende-se tornar a Geometria uma disciplina agradável, como algo mais criativo e curioso para os alunos. Diversas pesquisas em educação matemática, realizada nos últimos tempos, constatam que para o ensino da geometria, o uso do desenho, é fundamental para a aprendizagem matemática. De fato, a figura desempenha um papel importante na aprendizagem geométrica, sobretudo, na resolução de problemas. Então, é importante saber de que modo o ensino pode lançar mão do uso de figuras geométricas, não só como instrumentos mediadores de conhecimentos geométricos, mas também para o desenvolvimento da visualização e, conseqüentemente, para a aprendizagem matemática de uma forma geral. A preferência por métodos didáticos que privilegiem a visualização, vem do fato que se acredita que o incentivo a tal habilidade poderá suprir uma deficiência do ensino tradicional. 9 O papel intuitivo que as figuras têm na representação geométrica é uma opinião comumente admitida, pois as figuras permitem analisar uma situação em conjunto, é um meio mais direto para explorar os diferentes aspectos, antecipar os resultados e selecionar uma solução para o problema. De fato, as figuras representam um auxílio na resolução de problemas. Para a maioria dos alunos, elas não têm cumprido este papel. Normalmente, trabalha-se com as figuras numa abordagem exclusivamente psicológica da percepção, a qual não dá condições ao aluno para olhar a figura sob outros aspectos. Com isso, é necessário investigar de que maneira os professores estão ensinando os seus alunos para que compreendam o conceito de geometria. Nesta perspectiva, escolheu-se como tema: Figuras geométricas: instrumento importante para o ensino da geometria, com o intuito de contribuir para a reflexão da maneira como os professores estão ensinando a geometria, já que a mesma faz com que as pessoas desenvolvam o pensar geométrico ou raciocínio visual, e também, facilita a compreensão e resolução de outras áreas do conhecimento humano. Partindo deste pressuposto, é que se propôs esta pesquisa que aponta como problema: Investigar a importância das figuras geométricas no ensino da Geometria do Ensino Fundamental e Ensino Médio, da rede estadual de ensino, no município de Criciúma. Tendo como objetivo geral: Compreender a importância das figuras geométricas no ensino da Geometria. Assim, os objetivos específicos geram em torno de: a) Levantar a produção bibliográfica a respeito da temática pesquisada; b) Verificar quais dificuldades em trabalhar os conceitos geométricos; c) Verificar se os métodos que os professores utilizam, fazem com que assimilem o conteúdo abordado; d) Constatar se ocorreu ou não a apropriação, por parte dos alunos, sobre o conceito geométrico; e) Identificar as teorias metodológicas utilizadas pelos professores. Para detalhar o problema de pesquisa estabeleceram-se as seguintes questões norteadoras: Qual o conceito de geometria na visão dos professores da rede estadual de ensino, no município de Criciúma? Como os professores fazem para que os alunos compreendam os conceitos geométricos? Quais dificuldades encontradas pelos professores em trabalhar os conceitos geométricos? Os métodos 10 utilizados pelos professores são eficazes para a compreensão do conteúdo abordado? Qual teoria metodológica o professor se identifica? Tendo em vista o caráter específico deste estudo, realizou-se a elaboração do referencial teórico para fazer uma reflexão a partir da opinião de alguns teóricos sobre: Teorias Metodológicas; Conceito de Geometria e sua importância de aprendizagem no Ensino Fundamental e Ensino Médio; e por fim as Práticas Pedagógicas. No primeiro capítulo discute-se a construção do conhecimento à luz de algumas teorias metodológicas: Tradicional, Tecnicista, Construtivista e HistóricoCultural. Certamente a teoria Histórico-Cultural é a teoria em que mais trabalhou-se, visto que dentro desta concepção o ser humano é agente e produto da cultura, ele transforma o meio onde vive e é transformado pelo meio. Em seguida, abordou-se o conceito de geometria como fator importante de aprendizagem, já que as relações geométricas estão presentes em várias áreas do conhecimento e fazem parte do nosso ambiente de vida. Logo, foi investigado sobre a necessidade de refletir sobre as práticas pedagógicas no que diz respeito a conhecer e reconhecer a importância do sujeito da aprendizagem, a entender o que pode facilitar ou impedir que o aluno aprenda. Na seqüência, descreve-se a análise dos dados obtidos por meio de questionário aplicado a professores da rede estadual de ensino, no município de Criciúma. E, por fim, são tecidas algumas considerações resultantes das reflexões realizadas. 11 2 AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS Inicia-se este estudo partindo do pressuposto de que o professor necessita conhecer as tendências que influenciaram o ensino e a aprendizagem ao longo da história, para poder entender a situação da educação no contexto atual e refletir sobre sua atuação pedagógica com o objetivo de aperfeiçoá-la. Dominar os conhecimentos históricos relacionados com a educação é de fundamental importância como subsídio para uma ação transformadora no ensino e na aprendizagem na atualidade. A busca de propostas contemporâneas para tratar das questões do ensino-aprendizagem, nas instituições de ensino formal, vem sendo uma das principais preocupações dos educadores brasileiros nas duas últimas décadas. Como afirma Barbosa (1989, p. 14): [...] um dos instrumentos de conscientização dos educadores poderá se constituir na análise do sistema educacional, que numa sociedade dependente, de acordo com Berger, “necessariamente tem que ser histórica”, porque a análise histórica atravessa o processo de transformação, modernização e inovação do sistema educacional. Ao analisar as tendências pedagógicas que influenciaram e continuam influenciando o ensino-aprendizagem têm-se condições de escolher qual a prática educativa mais adequada como caminho a seguir neste novo milênio. Para compreender e assumir melhor as responsabilidades como professor, é importante saber como a geometria vem sendo ensinada, suas relações com a educação, escola e com o processo histórico-social. A partir dessas noções o sujeito pode-se reconhecer na construção histórica, esclarecendo como está atuando e como quer construir sua história (FUSARI e FERRAZ, 1992, p. 20-21). Muito já se escreveu sobre as tendências pedagógicas relacionadas à prática em sala de aula, portanto, neste estudo não é intenção discuti-las aprofundadamente, mas sim retomá-las como base para a compreensão e reflexão sobre a situação em que se encontram o ensino e a aprendizagem na atualidade. 12 2.1 Tradicional Na tendência tradicional, a pedagogia se caracteriza por acentuar o ensino humanístico, de cultura geral, no qual o aluno é educado para atingir, pelo próprio esforço, sua plena realização como pessoa. Os conteúdos, os procedimentos didáticos, a relação professor-aluno não têm nenhuma relação com o cotidiano do aluno e muito menos com as realidades sociais. É a predominância da palavra do professor, das regras impostas, do cultivo exclusivamente intelectual. O compromisso da escola é com a cultura, os problemas sociais pertencem à sociedade. Metodologicamente, o ensino da escola tradicional é autoritário e rígido, pois, se existe uma essência humana, o ensino pode ser igual para todos, numa ordem lógica e preestabelecida. Nesse sistema o adulto tem muita autoridade, não só porque sabe mais, mas também porque adulto é sinônimo de completo, de indivíduo acabado, e a criança é um ser incompleto e inacabado. Por isso ela deve respeito e obediência ao adulto. O caminho cultural em direção ao saber é o mesmo para todos os alunos, desde que se esforcem. Assim, os menos capazes devem lutar para superar suas dificuldades e conquistar seu lugar junto aos mais capazes. Caso não consigam, devem procurar o ensino mais profissionalizante (LIBÂNEO, 1990, p.8-9). Os conteúdos de ensino são os conhecimentos e valores sociais acumulados pelas gerações adultas e repassados ao aluno como verdades. As matérias de estudo visam preparar o aluno para a vida, são determinadas pela sociedade e ordenadas na legislação. Os conteúdos são separados da experiência do aluno e das realidades sociais, valendo pelo valor intelectual, razão pela qual a pedagogia tradicional é criticada como intelectualista. A principal metodologia de ensino é aula expositiva verbal da matéria e a demonstração do professor à classe, tomada como auditório passivo. Ao aluno cabe apenas receber passivamente as informações transmitidas pelo professor e repetilas corretamente. Freire (1996), chamou essa pedagogia de educação bancária, pois o professor “deposita” os conteúdos na cabeça dos alunos. A ênfase nos exercícios, na repetição de conceitos ou fórmulas, na memorização visa disciplinar a mente e formar hábitos. 13 O relacionamento entre professor e aluno é extremamente hierarquizado, onde um é a autoridade máxima e o outro o receptor passivo. Um detém o saber e verdade e o outro nada sabe, deve pois, permanecer atencioso e em silêncio. O professor é um depositário de conhecimentos, uma autoridade, um modelo, que reflete os modelos do passado glorioso da humanidade, grandes filósofos e cientistas. Predomina a autoridade do professor que exige atitude receptiva dos alunos e impede qualquer comunicação entre eles no decorrer da aula. O professor transmite o conteúdo na forma de verdade a ser absorvida; em consequência, a disciplina imposta é o meio mais eficaz para assegurar a atenção e o silêncio (LIBÂNEO, 1990, p. 10). A idéia de que o ensino consiste em repassar os conhecimentos para o espírito da criança é acompanhada de uma outra: a de que a capacidade de assimilação da criança é idêntica à do adulto, apenas menos desenvolvida. Os programas, então, devem ser dados numa progressão lógica, estabelecida pelo adulto, sem levar em conta as características próprias de cada idade. A aprendizagem, assim é receptiva e mecânica, para que se recorre frequentemente à coação. A retenção do material ensinado é garantida pela repetição de exercícios sistemáticos e recapitulação da matéria. A transferência da aprendizagem depende do treino, é indispensável à retenção, a fim de que o aluno possa responder as situações novas de forma semelhante às respostas dadas em situações anteriores. A avaliação é uma forma de verificar se o aluno reteve o conhecimento repassado pelo professor, e não uma oportunidade de reelaborar o conhecimento. Se o aluno não conseguiu decorar o que o professor passou, é punido com uma nota baixa. Na sua versão mais difundida, a avaliação é feita pontualmente, através de prova. Em um único momento, o aluno é testado e seu desempenho no processo de aprendizagem tem pouca importância na avaliação. “O homem é encarado como constituído por uma essência imutável, cabendo à educação conformar-se a essência humana. As mudanças são, pois, consideradas acidentais” (SAVIANI, 1983, p. 24). A pedagogia tradicional é viva e atuante em nossas escolas. Na descrição apresentada aqui incluem-se as escolas religiosas ou leigas que adotam uma orientação clássico-humanista ou uma orientação humano-científica, sendo que esta se aproxima mais do modelo de escola predominante em nossa história educacional. 14 2.2 Tecnicista Num sistema social harmônico, orgânico e funcional, a escola funciona como modeladora do comportamento humano, através de técnicas específicas. À educação escolar compete organizar o processo de aquisição de habilidades, atitudes e conhecimentos específicos, úteis e necessários para que os indivíduos se integrem na máquina do sistema social global. Este sistema social é regido por leis naturais cientificamente descobertas. Basta aplicá-las. A atividade da descoberta é função da educação, mas deve ser restrita aos especialistas. Nesta escola, as informações transmitidas são rápidas, precisas e objetivas, baseadas em princípios e leis. Seu principal objetivo é preparar indivíduos competentes para o mercado de trabalho. A escola atua, assim, no aperfeiçoamento da ordem social vigente (o sistema capitalista), articulando-se diretamente com o sistema produtivo; para tanto, emprega a ciência da mudança de comportamento, ou seja, a tecnologia comportamental. Seu interesse imediato é o de produzir indivíduos “competentes” para o mercado de trabalho, transmitindo, eficientemente, informações precisas, objetivas e rápidas (LIBÂNEO, 1990, p. 16). Os conteúdos de ensino são as informações, princípios científicos e leis estabelecidas e ordenadas numa seqüência lógica e psicológica por especialistas. É matéria de ensino apenas o que é redutível ao conhecimento observável e mensurável, os conteúdos decorrem, assim, da ciência objetiva, eliminando-se qualquer sinal de subjetividade. O material instrucional encontra-se sistematizado nos manuais, nos livros didáticos, nos módulos de ensino e nos dispositivos audiovisuais. A tarefa do professor é oferecer respostas apropriadas aos objetivos institucionais, a fim de conseguir o comportamento adequado pelo controle do ensino através da tecnologia educacional. A tecnologia educacional é a “aplicação sistemática de princípios científicos comportamentais e tecnológicos, a problemas educacionais, em função de resultados efetivos, utilizando uma metodologia e abordagem abrangente” (AURICCHIO, 1978, p. 25). A relação entre professor e aluno é estruturada e objetiva com papéis bem definidos. O professor administra as condições de transmissão da matéria, conforme uma instrucional eficiente e efetivo em termos de resultados da 15 aprendizagem, o aluno recebe, aprende e fixa as informações. O professor é apenas um elo entre a verdade científica e o aluno cabendo-lhe empregar o sistema instrucional previsto. O aluno é um indivíduo responsivo, não participa da elaboração do programa educacional. Ambos são expectadores frente à verdade objetiva. A comunicação professor-aluno tem um sentido exclusivamente técnico, que garante a eficácia da transmissão do conhecimento. Debates, discussões, questionamentos são desnecessários, assim como pouco importam as relações afetivas e pessoais dos sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem. As teorias de aprendizagem que fundamentam a pedagogia tecnicista dizem que aprender é uma questão de modificação do desempenho: o bom ensino depende de organizar eficientemente as condições estimuladoras, de modo a que o aluno saia da situação de aprendizagem diferente de como entrou. Ou seja, o ensino é um processo de condicionamento através do uso de reforçamento das respostas que se quer obter. Assim, os sistemas instrucionais visam o controle do comportamento individual face a objetivos preestabelecidos. Trata-se de um enfoque diretivo do ensino, centrado no controle das condições que cercam o organismo que se comporta. O objetivo da ciência pedagógica, a partir da psicologia, é o estudo científico do comportamento: descobrir as leis presidem as reações físicas do organismo que aprende, a fim de aumentar o controle das variáveis que afetam. Os componentes da aprendizagem – motivação, retenção, transferência – decorrem da aplicação do comportamento operante. Segundo Skinner (1938, p. 21): [...] o comportamento aprendido é uma resposta a estímulos externos, controlados por meio de reforços que ocorrem, sem a resposta ou após a mesma: Se a ocorrência de um (comportamento) operante é seguida pela apresentação de um estímulo (reforçador), a probabilidade de reforçamento é aumentada. A despeito da máquina oficial, não há indícios seguros de que os professores da escola pública tenham assimilado a pedagogia tecnicista. A aplicação da pedagogia tecnicista (planejamento, livros didáticos programados, procedimentos de avaliação, etc.) não configura uma postura tecnicista do professor, antes, o exercício profissional do professor continua mais para uma postura eclética em torno de princípios pedagógicos assentados nas pedagogias tradicional e renovada (LUCKESI, 1993, p. 63). 16 2.3 Construtivismo O construtivismo ou interacionismo representa uma postura epistemológica que compreende a origem do conhecimento na interação do sujeito com o objeto. A aprendizagem não procede só do sujeito, nem só do objeto, mas da interação de ambos. Não há sujeito sem objeto e não há objeto sem sujeito que o construa. O sujeito não está simplesmente situado no mundo, mas o meio (o objeto) entra como parte integrante do próprio sujeito, como matéria e conteúdo cognitivo e histórico. Assim, o construtivismo é uma teoria do conhecimento que engloba numa só estrutura os dois pólos, o sujeito histórico e o objeto cultural, em interação recíproca, ultrapassando dialeticamente e sem cessar as construções já acabadas para satisfazer as lacunas ou carências. Construtivismo significa isto: a idéia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo que podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento (BECKER, 1994, p. 88-89). Piaget traçou paralelos e analogias entre a Biologia e a Psicologia e mostrou que a inteligência é o principal meio de adaptação do ser humano. Com efeito, a vida é uma criação contínua de formas cada vez mais complexas e uma equilibração progressiva entre essas formas e o meio. Dizer que a inteligência é um caso particular de adaptação biológica é, pois, supor que ela é, essencialmente, uma organização e que sua função consiste em estruturar o universo da mesma forma que o organismo estrutura o meio imediato (PIAGET, 1979, p. 10). A inteligência não cria organismos novos, mas constrói mentalmente estruturas suscetíveis de aplicar-se às estruturas do meio. Ela constitui uma atividade organizadora cujo funcionamento prolonga o da organização biológica e o supera, graças à elaboração de novas estruturas. A adaptação é um equilíbrio entre a assimilação e a acomodação. A assimilação ocorre para que haja as transformações necessárias, tanto do ponto de 17 vista físico, biológico como intelectual. A inteligência é assimilação na medida em que incorpora nos seus quadros todo e qualquer dado da experiência. Quer se trate do pensamento quer graças ao juízo faz ingressar o novo no desconhecido e reduz assim o universo às suas noções próprias, quer se trate da inteligência sensóriomotora que estrutura as coisas percebidas, integrando-as nos seus esquemas (PIAGET, 1979, p. 16). A acomodação se torna necessária para ajustar os novos dados incorporados aos de esquemas anteriores no processo de assimilação, produzindo a adaptação. Cada esquema é coordenado com os demais e constitui ele próprio uma totalidade formada de partes diferenciadas. A organização, por sua vez, é inseparável da adaptação. O primeiro diz respeito ao aspecto interno do ciclo e o segundo ao externo. A concordância do pensamento com as coisas e a concordância do pensamento consigo mesmo exprimem essa dupla invariante funcional da adaptação e da organização. Ora, esses dois aspectos são indissociáveis: é adaptando-se às coisas que o pensamento se organiza e é organizando-se que estrutura as coisas (PIAGET, 1979, p. 19). A inteligência constitui uma atividade organizadora cujo funcionamento prolonga o da organização biológica e o supera, graças à elaboração de novas estruturas. Para Piaget (1979), o conhecimento tem início quando o recém-nascido, através de seus reflexos que fazem parte de sua bagagem hereditária, age assimilando alguma coisa do meio físico ou social. Ele se dedicou a estudar, a partir das estruturas iniciais do recém-nascido, as sucessivas estruturações, discernindo um conjunto de etapas características, chamadas estágios ou níveis de conhecimento. O primeiro estágio é o da inteligência sensório-motora, a crianças trabalham em cima de seus reflexos inatos (sugar, engolir, tossir, agarrar, etc.) e aprende a se movimentar e dirige as sensações na construção do objeto. Na idade de mais ou menos um ano e meio a criança atinge o segundo estágio, chamando de inteligência simbólica ou pré-operatória, quando aparece a função simbólica. A criança aprende a falar, imaginar, fazer jogos simbólicos e assim por diante. Este estágio dura até a idade aproximada de 8 anos (PIAJET, 1979). O nível três é o das operações concretas, começa o pensamento lógico. 18 Neste estágio, abrem-se novos horizontes, surge a linguagem escrita, mundo dos números e da lógica (PIAGET, 1979). Por volta de 12 anos a criança inicia o quarto nível, que Piaget chama de “Operações Formais”. O pensamento emancipa-se da presença do material concreto (PIAGET, 1979). Em cada estágio ocorre um patamar de equilíbrio e os estágios constituem um processo de equilibrações sucessivas. “A partir do instante em que o equilíbrio é atingido num ponto, a estrutura integra-se num novo equilíbrio em formação até ser alcançado novo equilíbrio, sempre mais estável e de campo sempre mais extenso” (PIAGET, 1973, p. 65). O conceito de aprendizagem para Piaget (1973) envolve sempre uma atividade inteligente, através de descobertas ou da invenção. Os interesses espontâneos das crianças refletem com frequência um desequilíbrio e podem constituir fontes de motivação. Considerando o ponto de vista interacionista da motivação para a aprendizagem, impõem-se uma reformulação das práticas pedagógicas tradicionais. Os educadores deverão desenvolver estratégias que encorajem o desequilíbrio através de métodos ativos. A pedagogia construtivista é relacional. O professor acredita que seu aluno é capaz de aprender sempre e a partir do que o aluno construiu até hoje, ocorre nova construção do conhecimento. Aprendizagem é, por excelência, construção; ação e tomada de consciência da coordenação das ações. Na prática pedagógica é importante o professor conhecer como ocorre a aprendizagem e ter claro a sua posição. 2.4 Histórico-Cultural Na concepção Histórico-Cultural, a educação não fica à espera do desenvolvimento intelectual da criança. Ao contrário, sua função é levar o aluno adiante, pois quanto mais ele aprende, mais se desenvolve mentalmente. Segundo Vygotsky (1998), essa demanda por desenvolvimento é característica das crianças. Se elas próprias fazem da brincadeira um exercício de ser o que ainda não são, a escola que se limita ao que elas já sabem é inútil. As potencialidades do indivíduo devem ser levadas em conta durante o 19 processo de ensino-aprendizagem. Isto porque, a partir do contato com pessoa mais experiente e com o quadro histórico-cultural, as potencialidades do aprendiz são transformadas em situações em que ativam nele esquemas processuais cognitivos ou comportamentais. Pode acontecer também de que este convívio produza no indivíduo novas potencialidades, num processo dialético contínuo. Assim, como a aprendizagem impulsiona o desenvolvimento, a escola tem um papel essencial na construção do ser psicológico e racional. A escola deve dirigir o ensino não para etapas intelectuais já alcançadas, mas sim para estágios de desenvolvimento ainda não incorporados pelos alunos, funcionando como um incentivador de novas conquistas psicológicas. A escola tem ou deveria ter como ponto de partida o nível de desenvolvimento real do aluno (em relação ao conteúdo) e como ponto de chegada os objetivos da aula que deve ser alcançado, ou seja, chegar ao potencial da criança. Aqui o professor tem o papel explícito de interferir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos, provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente. O nível de desenvolvimento real refere-se ao que o aluno no seu nível atual, real e efetivo consegue fazer sem ajuda de outro. Enquanto que no nível de desenvolvimento proximal são as funções que não amadurecem, mas estão em estado embrionário – diz respeito às potencialidades e aos processos a longo prazo. Por conseguinte, o que ocorre é que o aprendizado progride mais rapidamente do que o desenvolvimento. Por isso, a proposta do termo ZDP (Zona de Desenvolvimento Proximal) em sua teoria, e que é onde a escola deve atuar. É aí que o professor, agente mediador (por meio da linguagem, material, cultural, entre outros), intervém e auxilia para a construção e reelaboração do conhecimento do aluno, para que haja seu desenvolvimento. O professor tem o papel explícito de interferir no processo, diferentemente de situações informais nas quais o aluno aprende por imersão em um ambiente cultural. Portanto, é papel do docente provocar avanços nos alunos e isso se torna possível com sua interferência na zona proximal. As concepções de Vygotsky sobre o processo de formação de conceitos remetem às relações entre pensamento e linguagem, à questão cultural no processo de construção de significados pelos indivíduos, ao processo de indenização e ao papel da escola na transmissão de conhecimento, que é de natureza diferente daqueles aprendidos na vida cotidiana. Propõe uma visão de formação das funções 20 psíquicas superiores como internalização mediada pela cultura. O desenvolvimento cognitivo é produzido pelo processo de internalização da interação social com materiais fornecidos pela cultura, sendo que o processo se constrói de fora para dentro. Para Vygotsky (1998), a atividade do sujeito refere-se ao domínio dos instrumentos de mediação, inclusive sua transformação por uma atividade mental. Um conceito só é caracterizado quando as características resumidas são sintetizadas de forma que a resultante se torne um instrumento de pensamento. O aluno progride na formação de conceitos após dominar o abstrato e combinar com pensamentos mais complexos e avançados. Na continuação da educação os conceitos tornam-se concretos, aplicam-se as habilidades aprendidas, por instruções, e as adquiridas em experiências da convivência social. O sujeito não é apenas ativo, mas interativo, porque forma conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e interpessoais. É na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se vão internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a formação de conhecimentos e da própria consciência. Assim, a escola é lugar onde a intervenção pedagógica intencional desencadeia o processo ensino-aprendizagem. Priorizando as interações entre os próprios alunos e deles com o professor, o objetivo da escola, então, é fazer com que os conceitos espontâneos, que os alunos desenvolvem na convivência social, evoluam para o nível dos conceitos científicos, parte de um sistema organizado de conhecimentos adquiridos pelo ensino. Nesse sentido, o mediador é quem ajuda o aluno concretizar um desenvolvimento que ele ainda não atinge sozinho. Na escola, o professor e os colegas mais experientes são os principais mediadores. A interação social exerce um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo. Cabe ao educador associar aquilo que o aprendiz sabe a uma linguagem culta ou científica para ampliar seus conhecimentos daquele que aprende, de forma a interá-lo histórica e socialmente no mundo, ou ao menos, integrá-lo intelectualmente no seu espaço vital (VYGOTSKY, 1998, p. 72). O aluno não é tão somente o sujeito da aprendizagem, mas, aquele que aprende junto ao outro o que o seu grupo social produz, tal como: valores, linguagem e o próprio conhecimento. 21 3 GEOMETRIA A geometria é um ramo da matemática que estuda as formas, planas e espaciais, com as suas propriedades. É a parte da matemática que trata de curvas, superficies e volumes, trata das regras de medição de distância e ângulos. A geometria aparece nas atividades humanas e está presente no dia-a-dia das pessoas e na natureza através de curvas, formas e relações geométricas. As espirais, por esxemplo, podem ser encontradas em caramujos, botões de flor, girassóis, margaridas, presas de elefante, chifres, unhas, abacaxis, frutos do pinheiro. Também encontramos muitas outras formas geométricas nos cristais, favos e flores, além de inúmeros exemplos de simetria (LORENZATO, 1995, p. 25). A geometria está apoiada sobre alguns axiomas, postulados, definições, teorema e corolários. Sendo que essas afirmações e definições são usados para demonstrar a validade de cada teorema. 3.1 O Ensino da Geometria nas Últimas Décadas A Geometria é descrita como um corpo de conhecimentos fundamental para a compreensão do mundo e participação ativa do homem na sociedade, pois facilita a resolução de problemas de diversas áreas do conhecimento e desenvolve o raciocínio visual. Está presente no dia-a-dia como nas embalagens dos produtos, na arquitetura das casas e edifícios, na planta de terrenos, no artesanato e na tecelagem, nos campos de futebol e quadras de esportes, nas coreografias das danças e até na grafia das letras. Em inúmeras ocasiões, precisamos observar o espaço tridimensional como, por exemplo, na localização e na trajetória de objetos e na melhor ocupação de espaços. Sobre a importância da Geometria, Lorenzato (1995) diz que esta tem função essencial na formação dos indivíduos, pois possibilita uma interpretação mais completa do mundo, uma comunicação mais abrangente de idéias e uma visão mais equilibrada da Matemática. Segundo Fainguelernt (1995), a Geometria desempenha um papel fundamental no ensino porque ativa as estruturas mentais na passagem de dados concretos e experimentais para os processos de abstração e generalização; é tema 22 integrador entre as diversas partes da Matemática, sendo a intuição, o formalismo, a abstração e a dedução constituintes de sua essência. Após 1950, a Educação Matemática no Brasil e no mundo passou por intensas reformulações e modernização do currículo escolar com um movimento de um grande número de professores e matemáticos que ficou conhecido como Movimento da Matemática Moderna (MMM). Esse movimento eclodiu devido à necessidade de profissionais capacitados para atender à expansão tecnológica que se tornou mais acentuada a partir da segunda guerra mundial. Em 1957, houve o lançamento, pela Rússia, do primeiro satélite artificial do mundo, o Sputnik I, acirrando a disputa tecnológica com os Estados Unidos. Esse fato impulsionou a preparação de profissionais de diversas áreas como matemática, física e engenharia por meio de parcerias com instituições financeiras. Nessa época, o ensino da Matemática no Brasil encontrava-se em crise, visto que esta disciplina era considerada desvinculada da realidade, difícil e de acesso a poucos. Vários educadores passaram a repensar o ensino buscando a sua melhoria. Assim, o MMM, que foi idealizado nos Estados Unidos em torno de novos métodos de ensino, num clima de busca da sociedade por novas descobertas, teve repercussão mundial e foi amparado pelo governo brasileiro, vindo ao encontro das aspirações de pesquisadores. Um dos propósitos desse movimento era a unificação dos três campos fundamentais da Matemática: Álgebra, Aritmética e Geometria. Essa unificação se daria por elementos tais como a teoria dos conjuntos, as estruturas algébricas e as relações que constituiriam a base para a construção lógica matemática. As idéias defendidas pelo MMM centravam-se no rigor e abstração, no formalismo e na geometria não-euclidiana. Para Pavanello (1989, p. 103): A idéia central da Matemática Moderna consistia em trabalhar a matemática do ponto de vista de estruturas algébricas com a utilização da linguagem simbólica da teoria dos conjuntos. Sob esta orientação, não só se enfatizava o ensino da álgebra, como se inviabilizava o da Geometria da forma como este era feito tradicionalmente. No entender da autora, com os novos métodos de se abordar a Matemática ainda não eram dominados pela grande maioria dos professores, a 23 Geometria passou a ser desenvolvida intuitivamente, sem qualquer preocupação com a construção de uma sistematização. Assim, optou-se por apenas acentuar as noções de figuras geométricas e de intersecção de figuras como conjunto de pontos no plano. A coerência da Matemática Moderna exigia que a Geometria fosse trabalhada sob o enfoque das transformações e como os professores estavam despreparados, aos poucos deixaram de ensinar os conteúdos geométricos, trabalhando principalmente com a álgebra ou a aritmética e com a teoria dos conjuntos. No Brasil, o Movimento da Matemática Moderna teve influência por longo tempo, só vindo a refluir a partir da inadequação de alguns de seus princípios básicos e das distorções ocorridas. Porém, ainda hoje, nota-se a formalização de conceitos, as poucas aplicações práticas da Matemática em sala de aula, bem como do predomínio da álgebra no Ensino Fundamental e Médio. Os anos 70 marcaram uma época em que o currículo de Matemática preocupava-se com o aumento no escore de testes e habilidades básicas ou computacionais. Segundo Fiorentini (1995, p. 15): A educação escolar teria a finalidade de preparar e “integrar” o indivíduo à sociedade, tornando-o capaz e útil ao sistema. Os alunos eram capacitados para a resolução de exercícios ou de problemas-padrão e a Geometria não fugia à regra nas raras situações em que era abordada. A partir de 1980, a compreensão de aspectos sociais, linguísticos e cognitivos na aprendizagem da Matemática abriram novos caminhos às discussões curriculares. As práticas pedagógicas voltadas para a resolução de problemas emergem, ganhando espaço no mundo inteiro. Todavia, pesquisas realizadas nas últimas décadas revelam que professores e alunos ainda têm muitas dificuldades em relação à Geometria. Autores já citados como Pavanello (1989) e Lorenzato (1995) denunciam esta situação. Também Pirola (2003), Passos (2000) e Pereira (2001) enfatizam a necessidade de que sejam empreendidos esforços no sentido de resgatar o espaço da Geometria na escola e investir na melhoria do trabalho docente. Pirola (2003) ressalta que os alunos têm acentuadas dificuldades em resolver problemas envolvendo conceitos geométricos. Aponta que há uma forte resistência no ensino da Geometria, inclusive no Ensino Superior, onde é também pouco abordada, e que as dificuldades dos professores no seu ensino deve-se, em 24 grande parte, ao pouco acesso ao estudo de tais conceitos na sua formação ou pelo fato de não gostarem de Geometria. 3.2 A Importância do Ensino da Geometria Pensando na importância do ensino da Geometria e também no fato desse conteúdo, muitas vezes, ter sido relegado a um segundo plano, convém tecermos algumas considerações a esse respeito. Segundo Pavanello (1993), uma das possíveis causas do abandono do ensino da geometria ocorre com a promulgação da Lei 5672/71, que dava as escolas liberdade na escolha dos programas possibilitando aos professores de matemática o abandono do ensino da geometria ou deixar este conteúdo para o final do ano letivo, talvez, por insegurança sobre a matéria. Porém tal situação é preocupante no sentido que a geometria durante a evolução das ciências sempre foi considerada como essencial à formação intelectual do indivíduo, assim com na capacidade de raciocínio. Sendo assim como um conteúdo tão importante pode simplesmente ser abandonado, privando os alunos de conhecer algo que se depara em todos os lugares de sua vida? Lorenzato (1995, p. 5), justifica: A necessidade do ensino de geometria, pelo fato de que um indivíduo sem este conteúdo, nunca poderia desenvolver o pensar geométrico, ou ainda, o raciocínio visual, além de não conseguir resolver situações da vida que forem geometrizadas. E ainda não poderão se utilizar à geometria como facilitadora para compreensão e resolução de questões de outras áreas do conhecimento humano. A importância da geometria também se dá pelo fator de estarmos cercados de geometria em nosso cotidiano. Lidamos constantemente com idéias de paralelismo, congruência, semelhança, simetria, além de fatores de medição como área, volume. Isso ocorre sem que as pessoas percebam, pois faz parte do cotidiano de suas vidas; quanto “cabe” de água neste pote? (volume), quantos metros de piso eu compro? (metros quadrados – área). E apesar desta utilização, as pessoas não fazem muitas vezes, a menor idéia do que está ocorrendo. Não sabem o significado de área ou volume de uma maneira mais formal, porém podem até conseguir ter uma idéia intuitiva sobre isto. Além de ser de grande importância no apoio ao ensino de outras 25 disciplinas, como, por exemplo, no auxílio da interpretação de mapas, nos gráficos estatísticos, conceitos de medições, para se entender a evolução histórica da arte, tanto na pintura como na arquitetura. Além de poder esclarecer situações abstratas, facilitando a comunicação da idéia matemática. 3.3 Níveis de Desenvolvimento do Pensamento Geométrico: Níveis de Van Hiele Segundo Hans Freudenthal (um importante matemático do séc. XX) o ensino da Geometria é fundamental nos quatro primeiros anos de escolaridade na medida em que naturalmente integrada no desenvolvimento da criança, favorecendo a relação entre a matemática e o mundo real. Segundo vários estudos, as primeiras experiências que as crianças vivem são de natureza geométrica, por exemplo, quando se deslocam de um ponto para o outro ou quando verificam que um dado objeto está mais próximo de si e outro mais distante. A Geometria permite o desenvolvimento da orientação espacial – o qual é imprescindível para escrever, seguir uma determinada direção, localizar objetos e localizar-se a si próprio e aos outros, entre outros. Assim, pode-se dizer que a Geometria está presente na vida das crianças a partir do momento em que estas começam a ver, sentir e movimentar-se no espaço que ocupam. A atividade física é uma das bases do conhecimento e, para aprender eficazmente, a criança precisa de participar em acontecimentos e não ser apenas uma espectadora. Para desenvolver os seus conceitos de número e de espaço não basta olhar somente para os objetos, precisa tocar-lhes, manipulá-los e reuni-los. Neste contexto, são estes os objetivos fundamentais da Geometria: a exploração do espaço e das formas com a intenção de fazer apelo à criatividade, ao sentido estético da criança, respondendo à sua natural e progressiva procura de equilíbrio e de harmonia; a utilização de materiais e de instrumentos na construção e desenho de modelos geométricos que permitirão muitas descobertas e desenvolverão as capacidades de relacioná-las, classificar e transformar. Desta forma, pode-se dizer que as linhas orientadoras do seu ensino devem basear-se na observação dos objetos, na transformação e construção de materiais e no diálogo questionado. 26 Para aprender Geometria, as crianças precisam investigar, explorar e experimentar podendo, para isso, utilizar tanto objetos do cotidiano como materiais físicos e específicos da didática da Geometria. Conjuntamente com a visualização, o desenho e a comparação, as atividades que suscitam este tipo de atitudes desenvolvem na criança a capacidade de orientação espacial. Embora, a facilidade em usar a linguagem geométrica seja importante, esta não deve constituir a incidência principal do programa de Geometria, pois o seu processo de desenvolvimento deve gerar-se em torno da exploração e da experiência. O desenvolvimento das idéias geométricas progride uma hierarquia de níveis. Primeiro, os alunos prendem a conhecer globalmente as formas, procedendo depois à sua particularização através da análise das propriedades relevantes de cada uma. O desenvolvimento curricular e o processo de ensino-aprendizagem da Geometria devem decorrer respeitando estes níveis. Sob a orientação do eminente educador matemático Hans Freudenthal, Dina van Hiele e Pierre Marie van Hiele pesquisaram o ensino da Geometria com alunos europeus: eles colocaram ênfase na manipulação de figuras, acreditando que um procedimento didático adequado podia melhorar a aprendizagem do aluno e que se dava quando o nível de ensino era superior ao nível de pensamento do aluno. No Brasil, o importante trabalho dos van Hiele ainda não recebeu o devido reconhecimento, mas quem pretende ensinar Geometria ou pesquisar sobre o ensino da Geometria, não pode deixar de conhecer o “Modelo de van Hiele”, que concebe cinco níveis de aprendizagem geométrica ou níveis de desenvolvimento do pensamento geométrico, que vão desde a possibilidade dos alunos reconhecerem figuras diferenciadas pelo seu aspecto físico, até níveis mais complexos em que são capazes de compreender os sistemas axiomáticos (NASSER, 1992). O primeiro nível é a visualização ou reconhecimento, neste estágio o fundamental é a aparência dos objetos (forma); conceitos geométricos são vistos como um todo, sem consideração de suas propriedades. As figuras geométricas são reconhecidas e nomeadas, mas os alunos não conseguem identificar suas propriedades. Um aluno neste nível é capaz de aprender algum vocábulo geométrico, identificar formas especificadas, reproduzir figuras. No entanto, para ele o quadrado não é retângulo só porque eles possuem aparências diferentes. O segundo nível é a análise, neste nível há um início de análise dos conceitos geométricos, através da observação e da experimentação. Os alunos são 27 capazes de perceber várias características das figuras, que são reconhecidas pelas suas partes. No entanto, os alunos ainda não conseguem estabelecer relações entre propriedades ou figuras e, por isso, as definições ainda não podem ser entendidas. Enquanto que no primeiro nível o centro das atenções era a forma, agora as atenções recaem nas propriedades. O terceiro nível é a síntese ou ordenação, neste nível os alunos conseguem perceber inter-relações de propriedades dentro da figura e entre figuras. Assim, os alunos são capazes de entender a inclusão de classes, reconhecer classes de figuras e propriedades de uma figura. No entanto, neste nível os alunos não compreendem ainda o significado da dedução como um todo ou a função dos axiomas. Provas formais podem ser elaboradas, mas os alunos não conseguem construir uma prova a partir de premissas diferentes ou alterando uma ordem já vista. O quarto nível é a dedução (formal), neste nível os alunos são capazes de entender que a partir da dedução pode-se chegar a estabelecer uma teoria geométrica e também são capazes de compreender a função de axiomas, definições, teoremas, provas, termos indefinidos na estrutura axiomática. Os alunos conseguem compreender a natureza da dedução; construir provas e perceber a possibilidade de desenvolver uma prova de diferentes maneiras. O quinto nível é o rigor, neste nível os alunos são capazes de entender a Geometria de forma abstrata, conseguindo estudar e comparar diferentes sistemas axiomáticos, independentemente de modelos concretos. Poucos alunos alcançam este nível. No ensino básico, os primeiros níveis são fundamentais, requerendo que se percorra uma fase inicial, prolongada, de abordagem intuitiva e experimental do conhecimento do espaço e de desenvolvimento das formas mais elementares de raciocínio geométrico, ligado ao conhecimento das propriedades fundamentais das figuras e das relações entre elas. A Geometria é uma área propícia ao desenvolvimento do pensamento matemático, à realização de investigações e de outras atividades que envolvem aspectos essenciais da natureza da matemática, como fazer conjecturas e validálas. Conjuntamente com a visualização espacial, esta área proporciona meios de percepcionar o mundo físico e de interpretar, modificar e antecipar 28 transformações relativamente aos objetos. Estabelecer e comunicar relações espaciais entre os objetos, fazer estimativas relativamente à forma e à medida, descobrir propriedades das figuras e aplicá-las em diversas situações são processos importantes do pensamento geométrico. Todos estes aspectos são de muita importância, já que é da maioria deles que depende a nossa vida em sociedade. Isto porque a Geometria está presente em vários campos da nossa sociedade atual, como: na produção industrial, no design, na arquitetura, na topografia, nas artes plásticas, no estudo dos elementos da natureza e na nossa comunicação com os outros, por exemplo, para dar e receber informações relativas sobre o modo de se chegar a um determinado lugar. O conhecimento básico da formas geométricas é, ainda, importante na nossa vida cotidiana porque é através dele que nos orientamos, estimamos forças e distâncias, fazemos medições indiretas e apreciamos a ordem e a estética da natureza e da arte. A Geometria não só se apresenta como um elo entre as diversas áreas da Matemática, já que aborda inúmeros conceitos das mesmas o que facilitará então o seu ensino, como desenvolve também o raciocínio matemático na medida em que permite aos alunos descobrir como se resolve problemas. Os professores que privam os seus alunos da aprendizagem da Geometria estão a provocar danos irreversíveis no seu futuro matemático e no desenvolvimento das suas competências matemáticas. Um aluno nunca será bem sucedido se não tiver consolidado os fundamentos básicos da Matemática, entre os quais se destacam muitos conceitos geométricos. No entanto, o ensino da Geometria não poderá consistir numa mera transmissão de conteúdos (por parte do professor) e respectiva memorização (por parte dos alunos), mas sim numa experiência geométrica informal em que os alunos descobrem, através da exploração, visualização, registros, comparações e discussões e onde ao professor cabe um papel de orientador e facilitador da aprendizagem. 29 4 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS O ensino da Matemática, no sistema educativo, é aquele em que os estudantes mais questionam e acham difícil, pois os conhecimentos matemáticos são desenvolvidos como processo repetitivo e mecânico através de inúmeros exercícios, tendo muitos alunos frequentando as aulas e a Matemática não tendo nenhum significado. Por isso, nos últimos tempos, diferentes práticas pedagógicas relacionadas ao saber da experiência, na ação docente, tem sido objeto de estudo já publicado por vários grupos de pesquisa nacionais e internacionais. Embora haja inúmeras pesquisas desenvolvidas a respeito da educação matemática, um número significativo de professores continua priorizando a nacionalidade instrumental, chegam à sala de aula, explicam o conteúdo e mandam os alunos resolverem exercícios mecanicamente e em grande quantidade. Exige-se memorização de termos específicos, a repetição e a quantidade em detrimento da qualidade. Pontes (2002, p. 250), diz que: “A Matemática é ensinada de modo a ser difícil. Tudo começa pelos currículos, que apontam para a abstração precoce e privilegiam a quantidade dos assuntos em relação à qualidade da aprendizagem”. Essa prática pedagógica resulta num alto índice de reprovação, o que, para muitos professores, é natural e não lhes diz respeito. Aprender a lidar com o desconhecido, com o conflito, com o inusitado, com o erro, com a dificuldade, transformar informação em conhecimento, ser seletivo e buscar na pesquisa as alternativas para resolverem os problemas que surgem são tarefas que fazem parte do cotidiano das pessoas. A escola, no cumprimento da sua função social, deve desenvolver nos alunos que nela confiam a sua formação, competências e habilidades para preparálos para agir conforme as exigências da contemporaneidade. Como não há como se distanciar desta realidade, todos os profissionais da educação sentem a necessidade de refletir sobre suas práticas pedagógicas no que diz respeito a conhecer e reconhecer a importância do sujeito da aprendizagem, a entender o que pode facilitar ou impedir que se aprenda. A sociedade atual experimenta mudanças rápidas e complexas devido ao fluxo de informações variadas e numerosas. Somos estimulados continuamente, através de sons e imagens, a perceber um mundo plural, colorido, virtual, interligado. 30 Não podemos mais ignorar “[...] a televisão, o vídeo, o cinema, o computador, o telefone, o fax, que são veículos de informação, de comunicação, de aprendizagem” (LIBÂNEO, 2002, p. 23). Os alunos entram nas salas de aula sabendo muitas coisas ouvidas no rádio, vistas na televisão, em apelos de outdoors e informes de mercado e shopping centers que visitam desde pequenos. Conhecem relógios digitais, calculadoras eletrônicas, video-games, discos a laser, gravadores e muitos outros aparelhos que a tecnologia vem colocando à disposição para serem usados na vida cotidiana. Estes alunos estão acostumados a aprender através dos sons, das cores, das imagens fixas das fotografias ou, em movimento, nos filmes e programas televisivos. [...] O mundo desses alunos é polifônico e policrômico. É cheio de cores, imagens e sons, muito distante do espaço quase que exclusivamente monótono, monofônico e espaço quase que exclusivamente monótono, monofônico e monocromático que a escola costuma lhes oferecer (LIBÂNEO, 2002, p. 23). Diante do exposto, é emergente transformar a relação que se estabelece com a maneira de aprender. Não basta mais ter informações a respeito de um determinado assunto, resolver os problemas de qualquer forma, ou utilizar um determinado procedimento. Com a complexidade que o mundo moderno apresenta, o sujeito contemporâneo necessita buscar as informações, saber selecioná-las, analisar as possibilidades que elas oferecem para solucionar uma situação problematizadora e adotar uma postura criativa, com maturidade emocional para posicionar-se frente a qualquer escolha que venha a fazer. Para saber optar com coerência diante das solicitações cotidianas, é necessário estar constantemente estudando e consequentemente aprendendo. Para cumprir com o papel de mediador na aquisição do conhecimento, apresentando o elenco de informações de forma adequada ao grau de compreensão que seu aluno é capaz de ter, o professor precisa observar, educar o seu olhar na perspectiva do outro, adotar a escuta como meio de conhecer mais o seu aluno, refletir sobre sua prática, buscar nas pesquisas e em outros profissionais a resposta para suas questões, resgatar o seu aluno, conduzindo-o ao prazer de conhecer e aprender. “O professor deverá cumprir com o seu papel de facilitador da aquisição de informações como mediador do processo ensino-aprendizagem e conduzir à aquisição de ideologias e conteúdos libertadores” (SCOZ, 1996, p. 66). 31 Ao realizar seus planejamentos, o professor antes de organizá-los deve considerar as vivências, os conhecimentos e as informações que o aluno carrega e a sua forma de ver e de viver no mundo moderno, para optar por uma forma metodológica que auxilia a transpor o conteúdo sistematizado, científico e promover uma aprendizagem significativa. Outro aspecto que deverá preocupar as instituições e, principalmente, professores, é a avaliação. Uma prática mais humana e justa, formativa e reflexiva e não-excludente encorajará os alunos a encarar os seus resultados, suas falhas e a prosseguir sem medo de fracassar, de errar, de crescer, pois o erro não é um corpo estranho, uma falha na aprendizagem. Ele é essencial, faz parte do processo. Ninguém aprende sem errar. O homem tem uma estrutura cerebral ligada ao erro, é intrínseco ao saber pensar a capacidade de avaliar e refinar, por acerto e erro, até chegar a uma aproximação final (DEMO, 2000, p. 26). Nessa perspectiva, André e Passos (2002) pronunciam que a avaliação não pode, pois, se limitar a uma apreciação sobre o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos. Ela deve levar a uma revisão dos conteúdos selecionados, do método utilizado, das atividades realizadas, das relações estabelecidas em sala de aula, ou seja, a uma revisão do ensino, pois não existe melhor critério para avaliar a eficácia do ensino do que a aprendizagem dos alunos. Sabe-se que o ambiente escolar deve ser estimulador para que o aluno se desenvolva plenamente. Isso trará como consequência, um comprometimento pessoal com sua própria aprendizagem e uma profunda dedicação nas tarefas escolares. Cada atividade desenvolvida deverá ter como base a integração, a socialização, o estímulo as aprendizagens e metodologias diversificadas. Dessa forma, estará se desenvolvendo em cada aluno à vontade de aprender, sua aprendizagem se tornará mais prazerosa e será possível ver em cada atividade uma função social. Reforça-se também o pensamento de que deve-se exercer uma prática docente em parceria, em equipe, onde todos deverão voltar seu olhar e sua escuta para o sujeito da aprendizagem. Não há como refletir sobre o trabalho do professor e buscar continuamente agregar valores a sua formação, resignificar os conteúdos e adotar novas posturas avaliativas, se não conhecer o ser que se está educando e a grande responsabilidade que é a de participar da sua formação. Ao realizar a atuação docente elaborando vínculos afetivos com este ser que aprende, mesmo que não deseje aprender naquele momento, por alguma 32 circunstância, certamente se estará preparando-o para operar autonomamente seu futuro usando sua cabeça para pensar em alternativas viáveis para os problemas da sua sociedade, seu coração para sentir as exigências e apelos sociais e suas mãos para agir em prol do bem comum. As novas gerações começam a enfrentar os desafios da contemporaneidade, sem esta parcela do conhecimento, com uma educação fragmentada, uma formação precária e insuficiente, facilitando o desequilíbrio futuro e o despreparo para o avanço do saber. É urgente buscar uma nova proposta de educação, que seja de fato plena diante do mundo, da vida, da comunicação humana focada hoje no apelo visual, no acesso às novas tecnologias, à informática, no distanciamento dos valores, das tradições, no esquecimento do ser. Aprender geometria e poder desenhar a natureza e as formas criadas pelo homem torna-se ferramenta imprescindível neste contexto, dando aquele que a detêm, facilidades na comunicação e na interpretação de vários códigos. Partir para uma nova educação, em busca da formação do novo homem é talvez o único caminho possível, segundo a máxima de uma nova abordagem que surge para iluminar a vida humana, seus meandros, em especial a educação: a transdisciplinaridade (KOPKE, 2005). A transdisciplinaridade é uma nova abordagem que contamina todo o mundo e se preocupa com uma interação entre as disciplinas, não as perdendo de vista e buscando um além de si: sua finalidade é a compreensão do mundo presente, de modo que possa haver uma unidade plural de conhecimentos. Na questão do confronto de disciplinas há uma incompreensão que permeia os prefixos ‘multi’, ‘pluri’, ‘inter’ e ‘trans’, tratando-os quase sempre de similares, quando há diferenças passíveis de serem conhecidas. Desde Japiassú (1976), passando por Fazenda (1979), Nicolescu (2001), Iribarry (2003), Domingues (2005) e Sommerman (2006) observam-se a intenção dos autores em esclarecer os limites desses arranjos disciplinares numa definição por eles partilhada. Em linhas gerais, a multidisciplinaridade se refere a uma justaposição de disciplinas, sem necessariamente a comunicação entre elas. O modelo que se tem hoje de escola é, em geral, multidisciplinar, pois o aluno recebe informações de cada uma das disciplinas, de cada professor e não há necessariamente uma ligação de um saber com o outro. A matemática – em que se 33 encontra a geometria – está ao lado da arte – em que se pode encontrar o desenho – mas não se apropriam disso para enriquecerem-se mutuamente. O mesmo se dá com matemática e as demais ciências, da história com a arte, como exemplos. A pluridisciplinaridade implica na justaposição de diversas disciplinas situadas, em geral, no mesmo nível hierárquico e agrupadas de modo que apareçam as relações existentes entre elas. Há cooperação, mas sem coordenação. Um projeto isolado e temporário entre história e geografia, entre matemática e física, entre matemática (geometria) e arte (desenho) poderia ser assim retratado. Os professores cooperam, mas não se articulam necessariamente de maneira coordenada, num processo contínuo. Nesse caso, a cooperação não é automática, mas cumpre a finalidade de estabelecer contatos previstos no projeto. Na interdisciplinaridade existe a interação entre duas ou mais disciplinas, tanto desde a simples comunicação entre elas, quanto da troca de conceitos e métodos. Num programa escolar pode-se pensar nas disciplinas arte e língua portuguesa planejadas em comum acordo, entre seus professores, brindando os alunos com temas simultaneamente estudados em ambas as disciplinas. Isso pode ser classificado como projeto interdisciplinar. O mesmo poderia acontecer entre arte e matemática, entre história e matemática, tendo em comum o aprofundamento da geometria. Já a transdisciplinaridade torna-se um desafio coletivo: cada professor, no caso, a partir de um macroplanejamento, entra na disciplina do colega, aprende com ela e com ele, olha pela ótica do outro professor, contribui com sua atuação e saber específicos, analisando prática e teoria utilizadas por ambos. O conceito do termo já incita a amplitude, pois é tudo aquilo que está entre, através e além das disciplinas. É muito mais que romper fronteiras das disciplinas. Deve haver um objetivo maior, humano, em relação à formação plena do aluno e a continuada, dos próprios professores. O professor de matemática se apropriando da análise histórica da disciplina história ou do trabalho com o lúdico e criativo, próprio do professor de arte (e vice-versa). Todos poderiam avançar em seu conhecimento iluminando sua própria abordagem, apropriando-se de outra forma de tratar ‘seu’ assunto, até que para o aluno, já não existiria diferença se é este ou aquele professor, que o contaminaria com a plenitude deste ou daquele conhecimento, nesta ou naquela disciplina. 34 Este é o ideal a ser perseguido, o que depende de uma ação global da escola, partindo de sua administração, partilhada por professores, funcionários, alunos e estendida às famílias que em geral são chamadas a participar do processo educativo. 35 5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Este trabalho de pesquisa tem como objetivo problematizar a importância das figuras geométricas no ensino da Geometria no Ensino Fundamental e Ensino Médio das escolas da Rede Estadual de Ensino, no município de Criciúma. O início da pesquisa foi do tipo bibliográfica que implicou na análise de materiais já elaborados, constituindo-se de publicações, livros, artigos científicos, etc., pois segundo Lakatos e Marconi (1990, p. 24), “esse tipo de pesquisa é um apanhado sobre os principais trabalhos realizados, revestidos de importância por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados com o tema”. A soma de material coletado aproveitável e adequado variará de acordo com a habilidade do investigador, de sua experiência e capacidade em descobrir indícios e subsídios importantes para o seu trabalho. Esta pesquisa foi realizada em enfoque dialético, o qual considera a realidade dos fatos e fenômenos. A verdade é sempre provisória, o conhecimento está em construção permanente. Segundo Leopardi (2001), a dialética busca descobrir a essência e refletir os movimentos dos fenômenos, onde o pesquisador foi no ambiente onde aconteceram os fatos, buscando compreendê-los. O desenvolvimento da pesquisa foi do tipo qualiquantitativa, por sustentar-se no princípio do Marxismo. A teoria Marxista nos oferece um caminho com bons propósitos. Segue uma linha comprometida com um projeto de transformação da realidade social, sua intervenção oferece toda uma preocupação com a análise dialética da realidade. Além disso, procura buscar explicações coerentes, lógicas e racionais, sem deixar de ressaltar a prática social como critério de verdade. A pesquisa também é descritiva, pois segundo Leopardi (2001), tem como objetivo clarificar, desvendar, explicar a experiência vivida de tal forma que o fenômeno se torne presente e possa ser interpretado. Foram feitas também descrições, análises, registros, levantamentos de questões, proporcionando assim problematizarem-se e interpretarem-se os fenômenos atuais objetivando o seu funcionamento no presente. Rudio (1986, p. 71), amplia com outras informações, também contribuindo com esta reflexão, destacando que: “para alcançar resultados válidos, a pesquisa 36 necessita ser elaborada corretamente, submetendo-se as exigências do Método”. Para a realização da pesquisa utilizamos dados coletados por meio de questionários, aplicados para professores que atuam no Ensino Fundamental e Ensino Médio pertencente à rede pública de ensino no município de Criciúma. Por meio da pesquisa de campo, o conhecimento construído com o sujeito pesquisado tornou-se valioso. Os sujeitos questionados foram vinte e cinco professores de Ensino Fundamental e Ensino Médio da rede estadual. Foram utilizadas as metodologias de pesquisas objetiva e descritiva por meio de questionários com perguntas subjetivas, do qual se obteve a fonte de dados que foram coletados no segundo semestre de 2008. O questionário foi composto por seis questões objetivas e descritivas intercaladas. Posteriormente se fará a análise de dados tomando por base o referencial teórico adotado. Algumas respostas serão apresentadas em forma de citação e outras em forma de quadro e gráfico, conforme a fala dos sujeitos pesquisados. 37 6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS As perguntas respondidas pelos professores foram as seguintes: Questão 1: O que você entende por geometria? Nesta questão, ao perguntarmos aos professores o que entendem por geometria, dez professores responderam que: “Geometria é a parte da matemática que estuda as figuras geométricas sob vários aspectos, como formas e medidas”. Um professor respondeu que: “É tudo o que envolve medida das linhas, das superfícies e dos volumes”. Três professores responderam que: “É o estudo das formas e dimensões de cada figura”. Cinco professores responderam que: “É o estudo das formas planas, espaciais e tridimensionais e suas propriedades”. Seis professores responderam que: “É a parte da matemática que estuda o espaço e as formas que podem ocupá-lo”. Diante das respostas apresentadas pelos professores questionados, pode-se definir a geometria como uma junção de todas as respostas. Pois geometria é um ramo da matemática que estuda as formas, planas e espaciais, com as suas propriedades. É a parte da matemática que trata de curvas, superficies e volumes, trata das regras de medição de distância e ângulos. Segundo Lorenzato (1995, p. 25), “a geometria aparece nas atividades humanas e está presente no dia-a-dia das pessoas e na natureza, através de curvas, formas e relações geométricas”. 38 Questão 2: O que você faz para que seus alunos compreendam os conceitos geométricos? 1. ( ) Relaciono o conteúdo geométrico com o dia-a-dia dos alunos. 2. ( ) Uso materiais didáticos (figuras geométricas, caixas, garrafas, etc.). 3. ( ) Aulas dialogadas. 4. ( ) Apresento como um conjunto de definições, nomes e fórmulas. 5. ( ) Outros:_______________________________________________ Item Descrição Professores Entrevistados 1 Relaciono o conteúdo geométrico com o dia-a-dia dos alunos. 02 Relaciono o conteúdo geométrico com o dia-a-dia dos 2 alunos; Uso materiais didáticos (figuras geométricas, caixas, garrafas, etc.). 3 06 Relaciono o conteúdo geométrico com o dia-a-dia dos alunos; Aulas dialogadas. 02 Relaciono o conteúdo geométrico com o dia-a-dia dos 4 alunos; Uso materiais didáticos (figuras geométricas, caixas, garrafas, etc.); Aulas dialogadas. 02 Relaciono o conteúdo geométrico com o dia-a-dia dos 5 alunos; Aulas dialogadas; Apresento como um conjunto de definições, nomes e fórmulas. 6 7 Uso materiais didáticos (figuras geométricas, caixas, garrafas, etc.). 01 02 Uso materiais didáticos (figuras geométricas, caixas, garrafas, etc.); Aulas dialogadas. 01 Relaciono o conteúdo geométrico com o dia-a-dia dos 8 alunos; Uso materiais didáticos (figuras geométricas, caixas, garrafas, etc.); Aulas dialogadas; Apresento como um conjunto de definições, nomes e fórmulas. 09 Quadro 1: O que os professores fazem para que seus alunos compreendam os conceitos geométricos 39 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% Item 1 Item 2 Item 7 Item 8 Item 3 Item 4 Item 5 Item 6 Gráfico 1: O que os professores fazem para que seus alunos compreendam os conceitos geométricos Fonte: Dados da pesquisa, 2008. Analisando as respostas dos professores percebe-se que a maioria optou por todos os itens, isto é, o item 8, utilizando-se de vários métodos para que os alunos compreendam os conceitos geométricos. Como citamos anteriormente no referencial, o ensino da geometria não poderá consistir numa mera transmissão de conteúdos (por parte do professor) e respectiva memorização (por parte dos alunos), mas sim numa experiência geométrica informal em que os alunos descobrem, através da exploração, visualização, registros, comparações e discussões e onde ao professor cabe um papel de orientador e facilitador da aprendizagem. “O professor deverá cumprir com o seu papel de facilitador da aquisição de informações como mediador do processo ensino-aprendizagem e conduzir à aquisição de ideologias e conteúdos libertadores” (SCOZ, 1996, p. 66). É urgente buscar uma nova proposta de educação, que seja de fato plena diante do mundo, da vida, da comunicação humana focada hoje no apelo visual, no acesso às novas tecnologias, à informática, no distanciamento dos valores e das tradições. 40 Questão 3: Quais dificuldades encontradas por você professor em trabalhar os conceitos geométricos? 1. ( ) Falta de tempo, devido a sua jornada de trabalho. 2. ( ) Assimilar o conteúdo ao cotidiano dos alunos. 3. ( ) Falta de interesse dos alunos pela geometria. 4. ( ) Por não possuir o conhecimento necessário em geometria para transmitir aos alunos. 5. ( ) Outros: ______________________________________________ Item Descrição Professores Entrevistados 1 2 Falta de tempo, devido a sua jornada de trabalho. 04 Falta de tempo, devido a sua jornada de trabalho; Assimilar 01 o conteúdo ao cotidiano dos alunos. Falta de tempo, devido a sua jornada de trabalho; Falta de 3 interesse dos alunos pela geometria; Por não possuir o 01 conhecimento necessário em geometria para transmitir aos alunos. 4 Assimilar o conteúdo ao cotidiano dos alunos. 01 5 Falta de interesse dos alunos pela geometria. 10 Por não possuir o conhecimento necessário em geometria 2 6 para transmitir aos alunos. 7 Outros 1: Falta de materiais didáticos por parte dos alunos. 03 8 Outros 2: Poucas aulas de matemática no currículo escolar. 03 Quadro 2: Dificuldades encontradas pelos professores para trabalhar os conceitos geométricos 41 45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% Item 1 Item 2 Item 7 Item 8 Item 3 Item 4 Item 5 Item 6 Gráfico 2: Dificuldades encontradas pelos professores para trabalhar os conceitos geométricos Fonte: Dados da pesquisa, 2008. Nesta questão, alguns professores atribuem ao aluno a falta de interesse pela geometria. Outros atribuem à falta de tempo, devido a sua jornada de trabalho. Pode-se constatar que o ensino da matemática, no sistema educativo, é aquele em que os estudantes mais questionam e acham difícil, pois os conhecimentos matemáticos, são desenvolvidos como processo repetitivo e mecânico através de inúmeros exercícios, tendo muitos alunos freqüentando as aulas e a matemática não tendo nenhum significado. Pontes (2002, p. 250), diz que “a matemática é ensinada de modo a ser difícil.” Autores já citados no referencial enfatizam a necessidade de que sejam empreendidos esforços no sentido de resgatar o espaço da geometria na escola e investir na melhoria do trabalho docente. Com a complexidade que o mundo moderno apresenta, o sujeito contemporâneo necessita buscar as informações, saber selecioná-las, analisar as possibilidades que elas oferecem para solucionar uma situação problematizadora e adotar uma postura criativa, com maturidade emocional para posicionar-se frente a qualquer escolha que venha a fazer. Para saber optar com coerência diante das solicitações cotidianas, é necessário estar constantemente estudando e aprendendo. 42 Questão 4: Os métodos que você utiliza são eficazes para a compreensão do conteúdo abordado? De que forma você observa esse resultado? Nesta questão, onze professores responderam que: “Sim. Pela participação, atividade, interesse e avaliação escrita”. Cinco professores responderam que: “Sim. Pela aplicação no dia-a-dia, pelas experiências demonstradas pelos alunos em sala de aula”. Cinco professores responderam que: “Sim. Pelo interesse dos alunos na construção de figuras geométricas”. Três professores responderam que: “Não. Pelas atividades e avaliações”. Um professor respondeu que: “Nunca trabalhou geometria com seus alunos”. De acordo com as respostas dos professores, verifica-se que os métodos utilizados pela maioria deles, são eficazes para compreensão do conteúdo abordado, sendo observados pela participação, atividades, interesse e avaliação. Sabe-se que o ambiente escolar deve ser estimulador para que o aluno se desenvolva plenamente. Isso trará como consequência, um comprometimento pessoal com sua própria aprendizagem e uma profunda dedicação nas tarefas escolares. Cada atividade desenvolvida deverá ter como base a integração, a socialização, o estímulo a aprendizagens e metodologias diversificadas. Dessa forma, estará se desenvolvendo em cada aluno à vontade de aprender, sua aprendizagem se tornará mais prazerosa e será possível ver em cada atividade uma função social. Segundo André e Passos (2002) pronunciam que a avaliação não pode, pois, se limitar a uma apreciação sobre o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos. Ela deve levar a uma revisão dos conteúdos selecionados, do método utilizado, das atividades realizadas, das relações estabelecidas em sala de aula, ou seja, a uma revisão do ensino, pois não existe melhor critério para avaliar a eficácia do ensino do que a aprendizagem dos alunos. 43 Questão 5: Qual teoria metodológica você se identifica? Por quê? 1. ( ) Construtivista – centrado na produção do saber pelo aluno, parte de modelos e concepções existentes no aluno e coloca-as à prova para modificálas ou construir novas. 2. ( ) Tradicional – centrada na figura do professor, encarregado de transmitir o conhecimento. O aluno é um elemento passivo, que recebe e assimila o que é transmitido. 3. ( ) Histórico-Cultural – o indivíduo transforma-se de biológico em histórico, num processo em que a cultura tem o papel de “modelador”. Dentro desta concepção o ser humano é agente e produto da cultura, ele transforma o meio onde vive e é transformado por esse meio. 4. ( ) Tecnicista – é valorizada a tecnologia. O professor passa a ser um mero especialista, sendo apenas um elo entre a verdade científica e o aluno. 5. ( ) Outros: ______________________________________________ Item Descrição Professores Entrevistados 1 Construtivista 06 2 Construtivista e Tradicional 02 3 Construtivista e Histórico-Cultural 03 4 Construtivista, Tradicional e Histórico-Cultural 01 5 Tradicional 01 6 Tradicional e Histórico-Cultural 01 7 Histórico-Cultural 08 8 Construtivista, Tradicional, Histórico-Cultural e Tecnicista 03 Quadro 3: Teoria metodológica que o professor se identifica 44 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% Item 1 Item 2 Item 7 Item 8 Item 3 Item 4 Item 5 Item 6 Gráfico 3: Teoria metodológica que o professor se identifica Fonte: Dados da pesquisa, 2008. Na questão três, a maioria dos professores responderam que se identificam com a teoria Histórico-Cultural, isto é, item 7, pois nesta teoria o sujeito não é apenas ativo, mas sim interativo, porque forma conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e interpessoais. É na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se vão internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a formação de conhecimentos e da própria consciência. Para Vygotsky (1998, p. 72), “a interação social exerce um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo”. Alguns professores também se identificam com a teoria Construtivista, ou seja, item 1, pois acreditam que seus alunos são capazes de aprender sempre e a partir do que o aluno construiu até hoje, ocorra nova construção do conhecimento. Para eles, aprendizagem é construção, ação e tomada de consciência da coordenação das ações. Outros professores acreditam que a teoria Tradicional (item 5) é viva e atuante nas escolas. Na prática pedagógica é importante o professor conhecer como ocorre a aprendizagem e ter claro sua posição. 45 Questão 6: Apresente algumas sugestões para melhorar o ensino da geometria. Nesta questão, ao pedir sugestões para melhorar o ensino da geometria aos professores, seis sugeriram: “Fazer aplicação na vida cotidiana dos alunos”. Cinco professores sugeriram: “Reformular os materiais (livros) integrando álgebra e geometria”. Seis professores sugeriram: “Curso de capacitação”. Um professor sugeriu: “Fazer uma parceria com os professores de 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, dando ênfase à Geometria nas séries iniciais”. Dois professores sugeriram: “Construção de Laboratório de Matemática”. Três professores sugeriram: “Construir figuras geométricas com os alunos, pois ajuda na compreensão do conceito”. Um professor sugeriu: “Fazer o aluno perceber o quanto de Geometria possuem nossa sala de aula, nossas casas, nossas ruas, etc.”. Um professor sugeriu: “Trabalhar bastante com planificações de figuras e noções de espaço geométrico”. De acordo com as sugestões dos professores para melhorar o ensino da geometria, percebe-se que para cumprir com o papel de mediador na aquisição do conhecimento da geometria, o professor precisa refletir sobre sua prática, buscar nas pesquisas e em outros profissionais as respostas para suas questões, resgatar o seu aluno, conduzindo-o ao prazer de conhecer e aprender. Para aprender geometria, os alunos precisam investigar, explorar e experimentar podendo, para isso utilizar tanto objetos do cotidiano como materiais físicos e específicos da didática da geometria. Conjuntamente com a visualização o desenho e a comparação, as atividades que suscitam esse tipo de atividade desenvolvem no aluno a capacidade de orientação espacial. Reforça-se também o 46 pensamento de que deve-se exercer uma prática docente em parceria, em equipe, onde todos devem voltar seu olhar e sua escuta para o sujeito da aprendizagem. Não há como refletir sobre o trabalho do professor e buscar continuamente agregar valores a sua formação, resignificar os conteúdos e adotar novas posturas avaliativas. Segundo Lorenzato (1995, p. 3), “será também necessário modificar os currículos dos cursos de aperfeiçoamento do professor em exercício e lançar novas publicações tanto a alunos como a professores”. Este é o ideal a ser perseguido, o que depende de uma ação global da escola, partindo de sua administração, partilhada por professores, funcionários, alunos e estendida às famílias que em geral são chamadas a participar do processo educativo. 47 7 CONCLUSÃO A presente monografia apresenta algumas idéias que podem ajudar os professores positivamente no ensino da geometria aos seus alunos e a melhorar os processos de aprendizagem que se desenvolvem na escola. É importante ter muito presente o tema, pesquisar sobre ele, refletir de forma sistemática sobre a nossa prática educativa acreditando que se podem melhorar, convencidos de que os esforços não são inúteis. Nossa profissão requer de nós uma atitude mais criativa, uma confiança maior em nós mesmos e em nossas capacidades. É importante questionar determinadas rotinas consolidadas em nossas escolas ao longo de anos que à simples vista parece muito difícil de mudar. Considera-se que a prática pedagógica do professor de matemática é um aspecto relevante para formação do educando, principalmente porque através de sua prática o educador contribui com aquisição do conhecimento dos seus educandos à percepção do meio social em que está inserido. Com o desenvolvimento deste trabalho constatou-se que a aprendizagem de geometria é mais eficaz com a utilização de figuras geométricas. A geometria está em toda a parte, lidamos em nosso cotidiano com as idéias de paralelismo, perpendicularismo, congruência, semelhança, proporcionalidade, medição (comprimento, área, volume) e simetria, cotidianamente estamos envolvidos com a geometria. Os professores questionados nos informam através da análise das informações obtidas por meio do questionário, que a dificuldade encontrada por eles para ensinar os conceitos geométricos é a falta de interesse do aluno pelo conteúdo. Infelizmente, pelo referencial teórico, muitos educadores ainda não se deram conta que a matemática é ensinada pelo método tradicional, onde apenas exercitam o que os alunos já sabem, sem desafiá-los a algo novo e motivador. Os professores também afirmaram que os métodos utilizados por eles são eficazes para que os alunos compreendam o assunto, e isso, é constatado através da avaliação e da observação em sala de aula. O trabalho por ser muito extenso e abrangente, não obteve a total realização de seus objetivos, mas a autora pretende dar continuidade para verificar 48 se realmente ocorre à aprendizagem por parte dos alunos. Através da pesquisa, pode-se identificar que a teoria metodológica mais utilizada pelos professores é a histórico-cultural, pois nesta todos os sujeitos trocam conhecimentos, transformam o meio onde vivem e são transformados por esse meio. A interação social exerce papel fundamental no desenvolvimento cognitivo. Para ocorrer aprendizagem, é necessário que cada momento vá ao encontro das necessidades do aluno. É preciso um novo pensar sobre o ensino da geometria na sala de aula, dar preferência a uma aprendizagem significativa para o aluno, proporcionando a ele uma visão matemática diferente daquela que tradicionalmente vivenciamos. 49 REFERÊNCIAS ANDRÉ, M.; PASSOS, L. Avaliação escolar: desafios e perspectivas. São Paulo: Pioneira, 2002. AURICCHIO, Lígia de Oliveira. Manual de tecnologia educacional. São Paulo: Francisco Alves, 1978. BARBOSA, Ana Mae. Recorte e colagem: influência de John Dewey no ensino da arte no Brasil. 2.ed. São Paulo: Cortez, 1989. BECKER, Fernando. A propósito da “desconstrução”. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 19, n. 1, p. 3-6, jan./jun., 1994. DEMO, Pedro. Conhecer & aprender sabedoria dos limites e desafios. Porto Alegre: Artmed, 2000. DOMINGUES, Ivan (Org.). Conhecimento e transdisciplinaridade II: aspectos metodológicos. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2005. 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( ) Relaciono o conteúdo geométrico com o dia-a-dia dos alunos. ( ) Uso materiais didáticos (figuras geométricas, caixas, garrafas, etc.). ( ) Aulas dialogadas. ( ) Apresento como um conjunto de definições, nomes e fórmulas. ( ) Outros: _________________________________________________________ 54 3. Quais dificuldades encontradas por você professor em trabalhar os conceitos geométricos? ( ) Falta de tempo, devido a sua jornada de trabalho. ( ) Assimilar o conteúdo ao cotidiano dos alunos. ( ) Falta de interesse dos alunos pela geometria. ( ) Por não possuir o conhecimento necessário em geometria para transmitir aos alunos. ( ) Outros: _________________________________________________________ 4. Os métodos que você utiliza são eficazes para compreensão do conteúdo abordado? De que forma você observa esse resultado? 5. Qual teoria metodológica você se identifica? Por quê? ( ) Construtivista – centrado na produção do saber pelo aluno, parte de modelos e concepções existentes no aluno e coloca-as à prova para modificá-las ou construir novas. ( ) Tradicional – centrada na figura do professor, encarregado de transmitir o conhecimento. O aluno é um elemento passivo, que recebe e assimila o que é transmitido. ( ) Histórico-Cultural – o indivíduo transforma-se de biológico em histórico, num processo em que a cultura tem o papel de “modelador”. Dentro desta concepção o ser humano é agente e produto da cultura, ele transforma o meio onde vive e é transformado por esse meio. ( ) Tecnicista – é valorizado,a tecnologia. O professor passa a ser um mero especialista, sendo apenas um elo entre a verdade científica e o aluno. ( ) Outros: ________________________________________________________ 6. Apresente algumas sugestões para melhorar o ensino da geometria. Sugestões: __________________________________________________________