LIBERAÇÃO DE SULFAMERAZINA (SMZ) A PARTIR DE COMPLEXOS POLIÔNICOS DE QUITOSANA E POLI(ÁCIDO ACRÍLICO) (PAA) Hyrla C.L. de Oliveira*, Regina C. Nunes, José Luís C. Fonseca e Márcia R. Pereira Departamento de Química, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Campus Universitário, Lagoa Nova, Natal, C.P. 1662, RN 59078-970, Brasil - [email protected] Release of sulfamerazine (SMZ) from polyionic complexes of chitosan and poly(acrylic acid) (PAA) Polyelectrolyte complex membranes between chitosan (CHI) as a cationic polyelectrolyte and poly(acrylic acid) (PAA) as an anionic specie were prepared by blending two polymer solutions in a ratio of 95:5. Characterization of CHI-PAA complex membrane was investigated by thermal analysis and universal testing machine. The permeability coefficients of polyelectrolyte membranes were calculated in relation to sulfamerazine. Thermal properties of polyelectrolyte membranes from CHI and PAA showed an increase in stability for the complex. The polyelectrolyte membranes also presented superior tensile strenght and lower elongation. Permeability coefficients for sulfamerazine were smaller than for pure CHI and decrease as the medium ionic strenght increases. These results were explained on terms of hydrogen bondering and physical interactions between the polymers. Introdução A quitosana, o derivado mais conhecido da quitina, é obtido através da desacetilação da mesma. Consiste de cadeias lineares de resíduos β (1→4) 2-amino-deoxiD-glucan. A quitosana possui grande potencial na indústria de alimentos e em aplicações biotecnológicas devido a sua biodegradabilidade, biocompatibilidade e seu caráter catiônico [1]. No entanto, uma de suas limitações é o fato deste polímero ser solúvel em pH ácido. Alguns autores [2] têm sugerido o uso de agentes reticulantes como, por exemplo, o glutaraldeído, para solucionar este problema. Outros apontam para a formação de hidrogéis sensíveis ao pH [3], reticulados tanto química como fisicamente. Estes hidrogéis se tornam bastantes úteis na liberação de antibióticos no ambiente ácido do fluido gástrico. Uma das principais vantagens destes hidrogéis é que suas formulações permanecem durante mais tempo do que os hidrogéis convencionais [4]. Vários hidrogéis quimicamente reticulados à base de quitosana têm sido desenvolvidos por vários autores para terapias de sítios específicos. Além destes, as misturas heterogenias de polímeros também podem ser usadas na formação de hidrogéis, sem a presença da reticulação química [5]. A lenta erosão em meio aquoso deste hidrogel fisicamente reticulado produz um material mais biodegradável do que os hidrogéis reticulados quimicamente. Os complexos são formados por associações das unidades repetitivas das cadeias poliméricas. Neste trabalho desenvolvemos complexos poliônicos formados por quitosana e poli(ácido acrílico). O objetivo deste trabalho é avaliar as diferentes interações eletrostáticas entre as cadeias catiônicas de quitosana e os grupos carboxílicos das cadeias de poli(ácido acrílico) dos hidrogéis poliônicos produzidos. O enfoque principal será dado a análise de: a) como as mudanças produzidas nos grupos iônicos de ambas cadeias poliméricas afetam a liberação da droga e b) a influência da força iônica do meio durante a produção destes hidrogéis. Experimental Materiais A Quitosana utilizada neste estudo foi obtida através da Polymar Ltda., com um grau de desacetilacao de 85% e o poli(ácido acrílico) foi obtido através da Aldrich Chemical Company Inc., com massa molar de 750.000 g.mol-1. Preparação do complexo A quitosana 1,5 % m/v foi dissolvida em solução aquosa 10 % v/v de acido fórmico sob agitação constante. O PAA 1 % m/v e foi dissolvido em solução aquosa de acido fórmico a 3,5 % v/v e 10 % v/v. A solução de quitosana foi filtrada e misturada a solução de PAA numa proporção 95:5 (ml QUI:ml PAA). A mistura foi despejada em placas de petri e em seguida as placas foram colocadas na estufa a uma temperatura de 50 °C durante aproximadamente 12 h. Posteriormente as membranas foram colocadas em solução de hidróxido de sódio 0,5 M e lavadas com água destilada para eliminação de sais. Após secagem, obtivemos filmes transparentes com espessuras na faixa de 40-60 µm. Anais do 7o Congresso Brasileiro de Polímeros 81 Caracterização da membrana 1) Termogravimetria (TG, DTG) As medidas de termogravimetria foram feitas usando uma termobalança Perkin Elmer. As amostras (~10mg) foram aquecidas a uma taxa de 10 ºC/min em uma atmosfera dinâmica de nitrogênio. 2) Propriedades mecânicas As propriedades mecânicas foram avaliadas usando uma máquina de teste universal (Instron 1101). Os testes foram realizados de acordo com a ASTM D882. Duas condições foram usadas: 1) temperatura de 20 ºC e umidade relativa de 61 % e 2) temperatura de 20 ºC e umidade relativa de 100 %. Ambas as condições foram feitas durante 48 h. Os testes foram realizados numa velocidade de 0,5 cm/min. 3) Permeabilidade O coeficiente de permeabilidade da membrana foi medido conforme sistema já descrito na literatura [6]. As membranas foram colocadas em uma célula de permeabilidade. No lado A da célula foi colocado água bidestilada e no lado B solução de sulfamerazina a 1 % m/v. O aumento da concentração no lado A foi medido através de um espectrômetro UV-visivel (Varian). Os valores de absorbância foram convertidos para concentração usando-se uma curva de calibração. Resultados e Discussão Termogravimetria Os termogramas para quitosana exibem comportamento típico para esse polissacarídeo [7,8]. A quitosana degrada em dois estágios, o primeiro pico na curva de DTG com uma taxa máxima a 68 ºC está associado com uma perda de massa de cerca de 11 % devido à liberação de água. O segundo pico com uma taxa máxima de decomposição a 254 ºC e com perda de massa de 70 % está associado com a liberação de material das unidades acetiladas e não acetiladas do polímero. Os termogramas para a mistura com o PAA também mostram dois estágios de degradação. As principais diferenças são que no primeiro estágio a liberação de água ocorre a uma temperatura mais alta, enquanto que a perda de massa no segundo estágio é bem menor comparado com a quitosana pura. Esses resultados indicam que o complexo formado é mais estável do que a quitosana pura. Propriedades mecânicas Os resultados mostram que o complexo QUI-PAA apresentou um aumento na tensão de ruptura e diminuição do alongamento na ruptura comparado com os valores para quitosana pura. Esses resultados podem ser interpretados em termos das interações entre as cadeias, que restringem a mobilidade resultando em rigidez. 82 Permeabilidade Tabela I - Tempo necessário para permeação de 0,3% da droga utilizada. QUI pura QUI-PAA 3,5 QUI-PAA 10 65 min 95 min 85 min Tempo A tabela mostra que para a quitosana pura 0,3 % da droga é liberada dentro de 65 min. e que com a adição do PAA este tempo aumenta para 95 e 85 minutos de acordo com a força iônica do meio. Supõe-se que a intensidade das pontes de hidrogênio e interações físicas entre o PAA e a quitosana nos complexos formados depende do pH do meio. Os valores de pKa do PAA e quitosana são 4,7 e 6,5 respectivamente. Portanto, podemos concluir que a estrutura do complexo, formado entre o íon amônia da quitosana e o íon carboxilato do PAA, será formado entre um pH 5 e 6. A medida que aumentarmos a concentração de ácido fórmico e conseqüentemente diminuirmos o pH do meio, provavelmente abaixo do valor de pKa do PAA, o grupo carboxilato permanece sob a forma não ionizada produzindo como conseqüência um menor número de interações e levando assim a uma maior permeabilidade [9]. Conclusões Todos os resultados mostrados confirmam a formação do complexo entre os íons amônia da quitosana e os íons carboxilato do PAA. As principais conseqüências observadas foram o aumento na estabilidade térmica e mecânica destas membranas. Os resultados de permeabilidade mostram que a formação do complexo poliônico é fortemente dependente da força iônica do meio, podendo este ser um parâmetro de controle dos mesmos. Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPq pelo suporte financeiro dado a este trabalho. Referências Bibliográficas 1. A.N.L. Rocha; T.N.C. Dantas; J.L.C. Fonseca; M.R. Pereira J.Appl.Polym.Sci. 2002, 84, 44-49. 2. A. Jae-Soon; C. Hoo-Kyun et al Biomaterials 2001, 23, 2985-2989. 3. G.T. Zhumadilova; A.D. Gazizov; L.A. Bimendina; S.E. Kudaibergnov Polymer 2001, 42, 2985-2989. 4. A. Jae-Soon; C. Hoo-Kyun et al Biomaterials 2001, 22, 923-928. 5. S.Y. Nan; Y.M. Lee J. Membrane Sci. 1997, 135, 161-171. 6. C.L. de Vasconcelos; A.N.L. Rocha; M.R. Pereira; J.L.C. Fonseca Polym. International 2001, 50, 309312. 7. J.M. Nieto; G. Padrón Thermochimica Acta, 1991, 176, 63-68. 8. F.A.A. Tirkistani Polymer Degradation and Stability 1998, 60, 67-70. 9. B. Krajewska, Reactive and Functional Polymers 2001, 47, 37-47. Anais do 7o Congresso Brasileiro de Polímeros