NANOMAGNETITAS REVESTIDAS COM BIOPOLÍMERO QUITOSANA PARA APLICAÇÃO NA REMEDIAÇÃO AMBIENTAL Maria Lucia da Silva Santos Rangel Rio de Janeiro 2012 MARIA LUCIA DA SILVA SANTOS RANGEL Aluna do Curso de Ciências Biológicas Matrícula 0823800076 NANOMAGNETITAS REVESTIDAS COM BIOPOLÍMERO QUITOSANA PARA APLICAÇÃO NA REMEDIAÇÃO AMBIENTAL Trabalho de conclusão de curso TCC, apresentado ao Curso de Graduação em Ciências Biológicas, da UEZO como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas sob a orientação da Profa. Maria Iaponeide Fernandes Macêdo. Rio de Janeiro 2012 R196 Rangel, Maria Lucia da Silva Santos. Nanomagnetitas revestidas com biopolímero quitosana para aplicação na remediação ambiental / Maria Lucia da Silva Santos Rangel. – 2012. 47f.; 30 cm. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas) - Centro Universitário Estadual da Zona Oeste, Rio de Janeiro, 2012. Bibliografia: f. 44-47. 1. Nanomagnetitas. 2. Biopolímero Quitosana. 3. Remediação ambiental. I.Título. CDD 577.273 NANOMAGNETITAS REVESTIDAS COM BIOPLÍMERO QUITOSANA PARA APLICAÇÃO NA REMEDIAÇÃO AMBIENTAL Elaborado por Maria Lucia da Silva Santos Rangel Aluna do Curso de Ciências Biológicas da UEZO Este trabalho de Graduação foi analisado e aprovado com Grau 9,0(nove) Rio de Janeiro, 16 de julho de 2012 Profa.Dra. Marise Costa de Mello Profa. Dra. Roberta Gaidzinski Profa. Dra. Maria Iaponeide Fernandes Macêdo - Orientadora RIO DE JANEIRO,RJ – BRASIL JULHO DE 2012 ii AGRADECIMENTOS Primeiramente a minha professora Maria Macêdo que aceitou me orientar e nunca mediu esforços para me ajudar na realização do meu trabalho. A minha família, em especial a minha filha Verônica,que sem a ajuda dela em casa não teria conseguido. A todos os colegas de turma e aos funcionários da Uezo. A todos os professores que colaboraram para a minha formação acadêmica e pessoal. Agradeço a DEUS pela realização deste sonho. iii “A vontade de se tornar algo melhor a cada dia é o que faz do ser humano uma máquina de sonhar. Projetar ideias e desejos, lutar para transformar o que um dia foi um simples pensamento em uma situação real. Nunca desistir de algo que se deseja muito e que se almeja fazer parte da vida. O ser humano sonha! Mas se ele apenas sonhasse nunca saberia do que é capaz, é preciso conquistar os sonhos”. Autor desconhecido iv LISTA DE FIGURAS FIGURA 1.Dimensões representativas de algumas espécies típicas, em suas escalas.....................................................................................................................2 FIGURA 2. Aplicações da nanotecnologia em algumas áreas do conhecimento..3 FIGURA 3. Representação da estrutura química (a) celulose; (b) quitina e (c) quitosana................................................................................................................10 FIGURA 4.Estrutura da magnetita (Fe3O4) espinélio invertida.............................15 FIGURA 5. Espectro de absorção no Infravermelho da quitina e da quitosana....25 FIGURA 6.Difratogramas de Raio-X da quitina e quitosana................................26 FIGURA 7. Curvas de TGA/DTG e DSC da quitina..............................................29 FIGURA 8. Curvas de TGA/DTG (a) e DSC da quitosana (b)..............................30 FIGURA 9. Espectro de RMN-1H da quitosana.....................................................31 FIGURA 10.Imagens de microscopia eletrônica de varredura (a) quitina e (b) quitosana...............................................................................................................33 FIGURA 11. Foto das nanomagnetitas na ausência e na presença de um campo (imã).......................................................................................................................33 FIGURA 12.Difratograma de raios-X das nanomagnetitas..................................34 FIGURA 13. Foto da suspensão aquosa de nanomagnetitas revestidas com quitosana e das nanomagnetitas na presença de um campo (imã)......................35 FIGURA 14. Imagens de MEV (a) nanomagnetitas e (b) nanomagnetitas revestidas com quitosana......................................................................................37 FIGURA 15. Espectros de absorção noinfravermelho (a) das nanomagnetitas e (b) das nanmagnetitas revestidas com quitosana..................................................38 FIGURA 16. Imagem de microscopia eletrônica de transmissão das nanomagnetitas revestidas com quitosana............................................................40 v LISTA DE TABELAS TABELA 1 Alguns polímeros naturais.....................................................................5 TABELA 2 Biomateriais e suas aplicações.............................................................6 TABELA 3 Índices de cristalinidade da quitina e da quitosana.............................27 TABELA 4 Picos e atribuições do espectro RMN 1H da quitosana ......................32 TABELA 5 Medidas de magnetização de saturação das nanomagnetitas e nanomagnetitas revestidas com quitosana............................................................36 TABELA 6 Principais grupos funcionais e atribuições das nanomagnetitas e magnetitas revestidas com quitosana....................................................................39 RESUMO A capacidade de criar estruturas ou de reduzir para dimensões em nanoescala conduz a materiais com propriedades únicas como por exemplo os nanomateriais magnéticos que exibem propriedades de superparamagnetismo. A síntese de nanopartículas tem sido muito estudada devido a obtenção de mudanças vantajosas nas propriedades estruturais, magnéticas, mecânicas, eletrônicas, dentre outras, criando um vasto campo de possibilidades que estimulam aplicações em nanotecnologia em diversos setores, tais como: catálise, ambiental, eletrônica, sensores e biomedicina. As nanopartículas são termodinamicamente instáveis e têm a tendência natural de se agregarem. O grande desafio consiste em sintetizar nanopartículas estáveis, ou, seja, que permaneçam nesta escala de tamanho sem sofrer decomposição e sem agregação e crescimento, como também monodispersos e que possam ser manipulados e depositados sobre substratos sem perder suas características. Neste contexto, fomos motivados a sintetizar nanomagnetitas revestidas com biopolímero quitosana. Este biopolímero é um produto natural, abundante, obtido das carapaças de crustáceos, de baixo custo, atóxico, renovável, biodegradável e de grande importância econômica e ambiental. Sua reutilização tem chamado a atenção da comunidade científica por gerar sustentabilidade ambiental, social e econômica, através da inovação tecnológica. Neste trabalho foi obtido um nanocompósito magnético, ou seja, magnetitas revestidas com biopolímero quitosana e caracterizados por DRX, FTIR,TGA,DSC, RMN-1H, MEV, TEM e medidas magnéticas. Os resultados das análises mostraram que o nanocompósito é constituído de nanomagnetitas superparamagnéticas que apresentou alta magnetização de saturação, evidenciando um material com potencial para aplicação na remediação ambiental. Palavras-chave: nanomagnetitas, biopolímero quitosana, remediação ambiental Vii ABSTRACT The ability to create structures or to reduce the dimensions leads nanoscale materials with unique properties such as nanomaterials which exhibit magnetic properties of superparamagnetism. The synthesis of nanoparticles has been widely studied due to the acquisition of beneficial changes in the structural, magnetic, mechanical, electronic, among others, creating a vast field of possibilities that stimulate nanotechnology applications in various industries, such as catalysis, environmental, electronics, sensors and biomedicine. Nanoparticles are thermodynamically unstable and have a natural tendency to aggregate. The challenge is to synthesize stable nanoparticles, ie they remain in this size range not decompose without aggregation and growth, as well as monodisperse and handled and can be deposited on substrates, dispersed without losing its characteristics. In this context, we were motivated to synthesize nanomagnetitas coated with the biopolymer chitosan.This biopolymer is natural, abundant, obtained from the shells of crustaceans, inexpensive,nontoxic, renewable, biodegradable and great economic and environmental importance. Reuse has drawn the attention of the scientific community to generate environmental, social and economic, through technological innovation. In this study was obtained a nanocomposite magnet, coated with biopolymer chitosan and characterized by XRD, FTIR,TGA,DSC, 1 H NMR, MEV,TEM and magnetic measurements. The analysis results showed that the nanocomposite is composed of superparamagnetic nanomagnetitas that showed high saturation magnetization, indicating a material with potential for application in environmental remediation. Keywords: nanomagnetitas, biopolymer chitosan, environmental remediation. viii SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS..............................................................................................v LISTA DE TABELAS ............................................................................................vi RESUMO ...............................................................................................................vii ABSTRACT............................................................................................................viii SUMÁRIO ..............................................................................................................ix 1.INTRODUÇÃO ....................................................................................................2 1.1. Biomateriais e suas aplicações.........................................................................3 1.2. Quitina e quitosana e suas aplicações..............................................................9 1.3. Mercado mundial da quitina............................................................................14 1.4.Compostos de ferro..........................................................................................14 1.5.Nanopartículas magnéticas.............................................................................15 1.6. Nanopartículas e o comportamento superparamagnético..............................16 2.OBJETIVOS........................................................................................................19 2.1. Objetivo geral..................................................................................................19 2.2. Objetivos específicos......................................................................................19 3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................20 3.1.Matéria prima...................................................................................................20 3.2. Síntese da quitina...........................................................................................20 3.3. Síntese da quitosana......................................................................................21 3.4. Síntese das nanomagnetitas...........................................................................21 3.5. Síntese das nanomagnetitas revestidas com quitosana.................................21 3.6. Caracterização dos materiais..........................................................................22 ix 3.6.1.Espectroscopia de absorção no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR).....................................................................................................................22 3.6.2. Difração de Raios-X (DRX)..........................................................................22 3.6.3. Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio (RMN-1H).........................23 3.6.4. Análises Térmicas (TGA/DTG,DSC)............................................................23 3.6.5. Microscopia Eletrônica de Varredura(MEV).................................................23 3.6.6. Microscopia Eletrônica de Transmissão (TEM)...........................................24 3.6.7. Medidas Magnéticas....................................................................................24 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................25 4.1.Espectroscopia de absorção no infravermelho da quitina e quitosana...........25 4.2. Difração de Raio X da quitina e quitosana......................................................26 4.3. Análise Térmica (TGA/DTG/DSC) da quitina e quitosana..............................27 4.4. Espectroscopia de ressonância magnética nuclear da quitosana..................30 4.5. Microscopia eletrônica da quitina e quitosana................................................32 4.6.Nanomagnetitas na presença e ausência de um campo magnético...............33 4.7. Difração de Raio X das nanomagnetitas.........................................................34 4.8. Nanomagnetitas e nanomagnetitas revestidas com quitosana.......................35 4.9. Magnetização das nanomagnetitas revestidas com quitosana.......................36 4.10. Microscopia eletrônica de varredura das nanomagnetitas e nanomagnetitas revestidas com quitosana......................................................................................37 4.11. Espectrometria infravermelho das nanomagnetitas e das nanomagnetitas revestidas com quitosana......................................................................................37 4.12. Microscopia eletrônica de transmissão das nanomagnetitas revestidas com quitosana................................................................................................................39 5 .CONCLUSÕES .................................................................................................41 6. PERSPECTIVAS FUTURAS .............................................................................43 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................44 1. INTRODUÇÃO A nanociência e nanotecnologia buscam estudar as propriedades de objetos de tamanho nanométrico e desenvolver seu uso em sistemas nos quais pelo menos uma das dimensões está nesta escala. Dessa forma, novos materiais, com novas propriedades e possibilidades de utilização, podem ser preparados através do controle do tamanho e da forma das partículas de materiais já conhecidos. Para se obter a propriedade desejada deve-se procurar não só a composição química e a estrutural do material, como também o tamanho e o formato de suas partículas (MACÊDO, FERREIRA, RANGEL, 2011). Nano, do grego “anão”, é um prefixo usado para designar uma parte em um bilhão, portanto, um nanômetro (1 nm) é a bilionésima parte de um metro, ou seja, 10-9. A nanoescala é a escala dos átomos e moléculas. Uma ligação típica entre dois átomos tem cerca de 0,15 nm de comprimento. Dez átomos de hidrogênio, alinhados, perfazem um nanômetro (TOMA, 2004). A Figura 1 mostra as dimensões representativas de algumas espécies típicas, em suas escalas (DURÁN et al., 2006). Figura 1. Dimensões representativas de algumas espécies típicas, em suas escalas Atualmente, a nanotecnologia encontra várias aplicações práticas. O aumento da capacidade de armazenamento e processamento de dados de computadores cada vez mais compactos, o desenvolvimento de materiais mais leves e mais resistentes e a melhoria na eficiência de lubrificantes são algumas das formas de aplicação da nanotecnologia. A Figura 2 mostra que a nanotecnologia está inserida em diferentes áreas e no cotidiano da sociedade, sejam em roupas, cosméticos, medicamentos, alimentos, materiais esportivos, catalisadores dos automóveis, computadores, entre outros (www.nanotech.ica.ele.puc.rio.br). Figura 2. Aplicações da nanotecnologia em algumas áreas do conhecimento 1.1.Biomateriais e suas aplicações Biomateriais são materiais sintéticos ou naturais usados para substituir partes individuais do organismo ou utilizados em dispositivos médicos que ficam em contato com sistemas biológicos, objetivando o tratamento ou substituição de tecidos individuais, órgãos inteiros ou algumas funções exercidas por eles (WILLIAM, 2007). Outras definições incluem uma substância sistemática e farmacologicamente inerte projetada para implantação ou incorporação em sistemas vivos, ou materiais de origem sintética ou natural em contacto com tecido, sangue e líquidos biológicos e destinados para uso em aplicações protéticas, diagnósticas, terapêuticas e de armazenamento, sem afetar o organismo vivo e seus componentes. Podem também ser definidos como "toda a substância (à exceção de fármacos) ou combinação de substâncias, sintéticas ou naturais, que podem ser usadas por qualquer período de tempo, no conjunto ou como uma parte de um sistema que trate, aumente, ou substitua tecidos, órgãos, ou funções do corpo" (PARK, 2002). Muitas das vezes associa-se ao conceito de biomateriais, a materiais de origem natural, mais conhecidos por biopolímeros, mas esta definição não é correta, já que existem biomateriais de origem sintética que podem estar em contato com o organismo, desempenhando diversas funções benéficas na área da saúde. A evolução dos biomateriais é relativamente recente. No entanto, é possível dividí-la em três gerações: (i) primeira geração de biomateriais, implantes ósseos (primeira articulação do quadril em 1961); (ii) segunda geração de biomateriais, dispositivos bioativos (iniciou-se nos anos 70) e (iii) terceira geração, engenharia de tecidos (até a atualidade) (AMARAL, et al., 2003; BOOTH, 1989). A área de biomateriais engloba o conhecimento e a colaboração de diversas especialidades, desde o comportamento mecânico até funções biológicas a nível molecular nos tecidos, passando pela engenharia de materiais, onde são desenvolvidos sistemas com propriedades adequadas a determinadas aplicações no organismo. A evolução atual dos biomateriais depende dos avanços das diversas áreas, de maneira global da biotecnologia e da ciência dos materiais. Os biomateriais podem ser bioinertes ou biodegradáveis. Materiais bioinertes não sofrem alterações, durante o período de implantação, causando resposta mínima nos tecidos adjacentes e mantendo as propriedades estruturais durante longos períodos (GILDING,1981). Os biomateriais degradáveis degradam -se quando em contato com os fluídos orgânicos. Dentre os biomateriais estão os biopolímeros naturais tais como, colágeno ácido hialurônico, dextrana, celulose e quitina e sua síntese envolve reações catalisadas enzimaticamente e reações de polimerização de cadeia. Os biopolímeros estruturais e de reserva energética mais importante são os polissacarídeos (quitina e quitosana) (AMARAL et al., 2003). Uma das vantagens destes materiais é seu baixo custo como resultado da disponibilidade da matériaprima (DUMITRY, 1996). A Tabela 1 mostra alguns dos biopolímeros atualmente disponíveis (KAPLAN, 1998). Tabela 1: Alguns biopolímeros naturais Plantas/Algas Animais Bactérias Amido (amilose, amilopectina), Celulose, Ácido hialurônico Pectina, Alginato, Carraginato, Gomas, Quitina Soja, Glúten de Trigo, Caseína, Soro de Quitosana Albumina, Elastina, Sedas e polihidroxialcanoatos Quitina Quitosana Xantano Poligalactosamina Gelano Dextrano Os biopolímeros constituem uma importante fonte de materiais com grande versatilidade química e elevado potencial de aplicações. As suas propriedades podem ser facilmente alteradas por diferentes métodos químicos e físicos e permitindo a seleção de propriedades importantes. A Tabela 2 lista os tipos de biomateriais usados em diferentes aplicações os quais constituem os sintéticos, bioreabsorvíveis, derivados de materiais biológicos, bioderivados de macromoléculas, modificações de superfícies por passivação, recobrimentos bioativos, adesivos de tecidos, metais e ligas metálicas, cerâmicas, inorgânicos, vidros, carbonos e compósitos (HELMUS & TWEDEN, 1995). Tabela 2: Biomateriais e suas aplicações Biomateriais Sintéticos não degradáveis Acrílicos Epoxies Fluorcarbonetos Hidrogéis Poli acetatos Poli amidas Poli amida elastomérica Poli carbonatos Poli ésteres Poli ésteres elastoméricos Poli eteracetonas Poli imidas Poli (metacrilato de metila) Poli metil-penteno Poli olefinas Poli olefina elastomérica Filmes de poli olefina de alta cristalinidade Poli sulfonas Aplicações Suportes para dispositivos extracorpóreos Suportes compósitos de fibras Enxertos vasculares, camadas em caráter, remendos periodontais, remendos abdominais Camadas para catéter, antiadesivos Estruturas para válvula cardíaca, partes estruturais Suturas Catéter, curativos para ferimentos Suportes para dispositivos extracorpóreos Enxertos vasculares, balões para angioplastia Catéteres Componentes estruturais, dispositivos ortopédicos Componentes estruturais, catéteres Cimento ósseo, lentes intra-oculares Suportes para dispositivos extracorpóreos Suturas, cateteres Tubos, corações artificiais,curativos Balões para angioplastia Componentes de sutura, dispositivos ortopédicos Poliuretanos Catéteres, corações artificiais, curativos Poli cloreto de vinila Tubos, bolsas sanguíneas Silicones Juntas para dedos, cateteres, válvulas cardíacas, curativos Polietileno de ultra alto peso molecular Cálice acetibular, tecidos de altaresistência Bioreabsorvíveis Poli aminoácidos Peptídeos de adesão celular e -4-Poli anidridos Poli caprolactonas Copolímeros de poli ácido lático/ácido glicólico Poli hidroxil butiratos Poli ortoésteres Colágeno Hidroxiapatita de baixa densidade Materiais biologicamente derivados Artérias e veias bovinas Pericárdio bovino Ligamentos bovinos Tendões bovinos Osso bovino liofilizado Osso bovino descalcificado Cordão umbilical humano Válvula cardíaca porcina Macromoléculas bioderivadas Albumina liofilizada Acetatos de celulose Celulose de cupramônia Quitosana Colágeno Elastina Gelatina liofilizada Ácido hialurônico Fosfolipídios Seda Recobrimentos passivos Albumina Cadeia de alcanos Fluorcarbonos liberação controlada Liberação controlada Suturas, liberação controlada Suturas, liberação controlada, placas ósseas Liberação controlada,placas ósseas Liberação controlada Camadas, reconstrução de tecidos moles Implantes ósseos, cirurgia reconstrutiva Enxertos vasculares Substitutos de pericárdio, válvulas cardíacas Ligamentos Tendões Implantes ósseos Implantes ósseos Enxertos vasculares Válvulas cardíacas Camadas de enxerto vascular, agente de contraste ultrasônico Membranas para hemodiálise Membranas para hemodiálise Experimental, camadas, liberação controlada Camadas, curativos, órgãos híbridos Camadas Camadas para corações artificiais Camadas, antiadesivo, anti-inflamatório ocular e de junta Lipossomos, camadas experimentais tromboresistentes Suturas, camadas experimentais de proteínas do tipo seda Tromboresistência Adsorve albumina para tromboresistência Arraste reduzido para catéteres Hidrogéis Silicones livres de sílica Óleos de silicone Recobrimentos Bioativos Hidroxiapatita Angicoagulantes (ex.: heparina e hirundina) Antimicrobianas Peptídeos aderentes a células Proteínas aderentes a células Superfícies carregadas negativamente Camadas polimerizadas por plasma Trombolíticos Tecidos adesivos Cianoacrilatos Cola de fibrina Arreste reduzido para cateteres Tromboresistência Lubrificante para agulhas e catéteres Recobrimentos em implantes edósseos Tromboresistência Resistência à infecção Adesão celular melhorada Adesão celular melhorada Tromboresistência Adesão celular melhorada Tromboresistência Microcirurgia para anastomose de vasos Camada de enxerto vascular, microcirurgia Adesão celular melhorada Cola de molusco Metais e Ligas Metálicas Ligas cobalto-cromo, ligas níquelArames guias, válvulas de coração cromo,ligas nitinol,(ligas efeito memória mecânico,orifícios e braços, válvula de de forma),aços inoxidáveis,tântalo, titânio coração biológico implantes ortopédicos e suas ligas e odontológicos, placas para fraturas,pregos e parafusos para reparo ósseo, coberturas para veia cava, suportes para corações artificiais, comandos para marca-passos e para estimuladores elétricos implantáveis Cerâmicas, inorgânicos e vidros Vidros bioativos Ligação óssea, cirurgia reconstrutiva Vitro-cerâmicas bioativas Ligação óssea, cirurgia reconstrutiva Alumina de alta densidade Implantes odontológicos e ortopédicos Hidroxiapatita Ligação óssea, cirurgia reconstrutiva Alumina monocristalina Implantes ortopédicos e odontológicos Carbonos Carbono pirolítico (isotrópico de baixa Válvulas cardíacas, camadas temperatura) cardiovasculares Carbono isotrópico de ultra-baixa Camadas em polímeros sensíveis à temperatura temperatura Compósitos Compósitos de fibra de carbono Materiais potenciais para orifícios, baseados em uma matriz de epóxi, poli eteracetonas, poli imida, poli sulfona Radiopacificadores (BaSO4, BaCl2,TiO2) misturados em polímeros de poli olefinas, poliuretanos, silicones Radiopacificadores em polimetimetacrilato discos e implantes ortopédicos Radiopaco em raios-X para identificação e localização do dispositivo Cimento ósseo radiopaco 1.2. Quitina e quitosana e suas aplicações A quitina foi isolada pela primeira vez em 1811 por Braconnot, trinta anos antes do isolamento da celulose, a partir de fungos. O nome quitina vem do grego chiton, que significa cobertura ou envoltura. Devido a sua insolubilidade em solventes comumente utilizados em laboratório e a falta de conhecimentos básicos de sua estrutura limitaram sua utilização até a década de 70. Atualmente a quitina e seus derivados como a quitosana são conhecidos como biopolímeros com diversas aplicações na área médica, farmacêutica e química (CAMPANA et al., 2007; COVAS, 2006). Amplamente encontrada na natureza, a quitina encontra-se na matriz da estrutura esquelética de invertebrados, como artrópodes, anelídeos, moluscos e celenterados, em algas diatomáceas, e também está presente nas paredes celulares de alguns fungos, como ascomicetos, zigomicetes, basidiomicetes e deuteromicetos (CAMPANA et al., 2007; COVAS, 2006). A quitina é a segunda substância orgânica mais abundante na biosfera sendo superada apenas pela celulose, mas supera esta última em termos de taxa de reposição, que chega a ser duas vezes maior. Quitina e celulose possuem características estruturais semelhantes, como mostra a Figura 3 e atuam como invólucros protetores e materiais de suporte e defesa nos organismos em que ocorrem. A diferença entre elas se encontra no carbono 2 que contém um grupamento hidróxido na celulose, um grupo acetamida na quitina e um grupo amino na quitosana (CAMPANA et al., 2007; COVAS, 2006; MOURA, et al, 2006). Figura 3. Representação da estrutura química (a) celulose; (b) quitina e (c) quitosana A quitina é um polímero linear no qual a unidade repetitiva é o dissacarídeo formado por 2-acetamido-2-deoxi-β-D-glicose (~95%) e 2-amino-2deoxi-β-D-glicose (~ 5%) unidos por ligação glicosídica β(1→4). É insolúvel em água, solventes orgânicos, ácidos diluídos e álcalis, e pode-se apresentar com estrutura cristalina ou amorfa. A quitosana é obtida através da desacetilação alcalina da quitina, sendo também um biopolímero, linear constituído de unidades 2-amino-2-deoxi-β-Dglicose (60~100%) e 2-acetamino-2-deoxi-β-D-glicose (0~50%), que se encontram unidas por ligações glicosídicas β(1→4). Possui grupamentos aminos disponíveis para reações químicas, os quais são atribuídos às propriedades de maior interesse. Tais grupamentos podem adquirir uma carga positiva em presença de soluções ácidas. Daí sua capacidade de solubilizar-se em ácidos orgânicos, o que constitui uma das principais características que diferencia a quitosana em relação à quitina (SENEL & MCCLURE, 2004; MUZZARELLI, 1973). A Figura 3 mostra a similaridade estrutural entre a quitosana e a quitina. Os critérios comumente aceitos para diferenciá-las são: o grau de desacetilação (geralmente superior a 0,45), a solubilidade em soluções diluídas de ácidos e a substituição do grupo acetamino na posição 2 pelo grupo amino. Além disso, também é semelhante à celulose, já que seu precursor, a quitina, é muito parecida com este biopolímero (MATHUR & NARANG, 1990). As principais matérias-primas para produção industrial de quitina são as carapaças de crustáceos originadas do processamento industrial de frutos do mar. A síntese química de quitina é uma tarefa demorada e sua produção pela via biotecnológica ainda não é economicamente atrativa. As cascas secas de crustáceos possuem 15-20% de quitina, 25-40% de proteína e 40-55% de carbonato de cálcio, além de pigmentos e lipídeos em pequena quantidade. A extração de quitina a partir da biomassa, a exemplo do que acontece com a extração de celulose de fibras vegetais, envolve a execução de tratamentos químicos sequenciais destinados a eliminar as substâncias que a acompanham. Em função do valor de mercado, algumas dessas substâncias, como as proteínas e os pigmentos, também podem ser comercialmente exploradas, dependendo do processamento adotado para sua dissociação da quitina. A matriz dos exoesqueletos é formada por epicutícula, que é a camada mais superficial e não contém quitina, e endocutícula, na qual três camadas se sobrepõem, a pigmentada, a calcificada e a não calcificada. A quitina ocorre na endocutícula associada a pigmentos, carbonatos e proteínas e, assim, sua extração a partir de exoesqueletos de crustáceos envolve, geralmente, a sequência desmineralização, desproteinação e despigmentação (CAMPANA, et al., 2007; COVAS, 2006; MOURA, et al., 2006). A quitina se encontra na natureza formando uma matriz sólida hidrata composta por regiões amorfas onde se encontram as zonas cristalinas organizada na forma de lamelas. Estas lamelas apoiam o exoesqueleto de crustáceos e insetos, uma vez que formam estruturas em cadeia que ficam empacotadas e associadas lateralmente devido a várias ligações de hidrogênio (COVAS, 2006). Existem formas polimorfas da quitina, sendo denominadas α, β e -quitina que correspondem a diferentes arranjos no estado sólido, decorrentes de disposições distintas das cadeias do polímero nas lamelas que constituem os domínios cristalinos. Além disso, a cristalinidade da quitina depende de vários fatores, tais como a natureza do organismo do qual a quitina foi extraída e as condições empregadas na extração do polímero (GOOSEN,1996). A α-quitina é encontrada em estruturas rígidas e resistentes, como a cutícula de artrópodes, e nesses casos ocorre fortemente associada a proteínas, materiais inorgânicos ou ambos. Esta estrutura corresponde a um empacotamento denso resultante da disposição antiparalela das cadeias poliméricas em diferentes lamelas, o que favorece a existência de numerosas ligações hidrogênio inter/intra cadeias da mesma lamela e de lamelas vizinhas (GOOSEN,1996). Já as formas β e -quitina ocorrem em estruturas flexíveis embora também resistentes. No caso de β quitina as cadeias pertencentes a diferentes lamelas dispõem-se paralelamente, o que dificulta o estabelecimento de ligações hidrogênio intermoleculares envolvendo cadeias de lamelas adjacentes e resulta em material menos densamente empacotado. Em -quitina parece ocorrer uma combinação dos dois arranjos anteriormente descritos, pois as cadeias de duas lamelas em disposição paralela são intercaladas por lamela em que as cadeias se dispõem antiparalelamente (GOOSEN, 1996). Essa estrutura é a menos conhecida e sugere-se que possa ser uma distorção das duas estruturas anteriores. A forma polimórfica mais abundante é a α-quitina, sendo também considerada a mais estável, visto que a conversão pode ocorrer a conversão irreversível de β e -quitina em α-quitina (CAMPANA, et al., 2007). O uso de polímeros naturais para aplicações diversificadas têm sido de vital importância para os avanços das ciências e apresenta várias vantagens como fácil obtenção, compatível e biodegradável. Os polissacarídeos, como uma classe de macromoléculas naturais, têm sua propensão extremamente bioativa, e são geralmente derivados de produtos agrícolas ou de crustáceos. Celulose e goma são exemplos de biopolímeros antigos, enquanto que a quitina e quitosana são exemplos de biopolímeros obtidos recentemente. Em termos de biodisponibilidade, a quitina é próxima a da celulose, são disponíveis numa extensão de mais de 10 gigatoneladas anualmente. As áreas de aplicações da quitina/quitosana e seus derivados são ilimitados, uma vez que estes podem ser obtidos na forma de fibras, microesferas e nanopartículas. São mencionadas aplicações na área de alimentos e nutrição, ciência dos materiais, ciências médicas e farmacêuticas, microbiologia, imunologia dentre outras (GOOSEN, 1996; THARANATHAN & PRASHANTH, 2007; MAJETI & KUMAR, 2000). A quitina, devido a sua versatilidade, pode ser utilizada como agente floculante no tratamento de efluentes, adsorvente na clarificação de óleos e principalmente na produção de quitosana. Assim, a quitosana, possui maior valor comercial e propriedades mais interessantes para âmbito industrial e fins de pesquisa, tornando-se uma alternativa de utilização da quitina (MOURA, et al., 2006). Algumas das principais áreas de aplicação da quitosana são na agricultura (mecanismos defensivos e adubo para plantas), tratamento de água (floculante para clarificação, remoção de íons metálicos, polímero ecológico e redução de odores), indústria alimentícia (fibras dietéticas, redutor de colesterol, conservante para molhos, fungicida e bactericida, recobrimento de frutas), indústria de cosméticos (esfoliante para a pele, tratamento de acne, hidratante capilar, creme dental) e biofarmacêutica (imunológico, antitumoral, hemostático e anticoagulante). Porém sua maior aplicação é na área biomédica (suturas cirúrgicas, implantes dentários, reconstituição óssea, lentes de contato, liberação controlada de drogas em animais e humanos, encapsulamento de materiais) (RINAUDO & DOMARD, 1989). O grau de desacetilação (GD) é uma das características mais importantes da quitosana. Ele determina o conteúdo de grupos amínicos livres no polissacarídeo diferenciando-o da quitina e influenciando principalmente a sua solubilidade. Para a produção de quitosana, a quitina bruta é desacetilada com hidróxido de sódio 40-50 % na temperatura de 110 -115oC (PETER, 1995). O grau de desacetilação pode variar entre 70 e 95%, dependendo da metodologia utilizada (KUMAR, 1982; LI et al.,1997). A quitosana possui propriedades que podem variar amplamente, tais como: pureza, viscosidade, grau de desacetilação e estrutura polimorfa devido às diversas variáveis de processamento, entre elas, temperatura, tempo de reação e composição dos reagentes, influenciando as características do produto final. Do ponto de vista ecológico, a produção de quitina e quitosana acarretam menos problemas do que a produção de celulose por requererem tratamentos com produtos químicos relativamente perigosos. Os produtos secundários obtidos, como acetato de sódio, carbonato de cálcio e determinados pigmentos podem ser reaproveitados. 1.3. Mercado mundial da quitina e quitosana A quitosana é produzida em grande escala em vários países e, devido à facilidade de se obter o polímero em várias formas físicas diferentes, muitas aplicações industriais têm surgido (PRASHANTH et al., 2007). O mercado mundial de quitina e quitosana relacionado aos segmentos de tratamento de água, cosméticos, alimentos, saúde, agroquímicos, biotecnologia, papel, têxtil, fotografia etc. está distribuído em 53 empresas localizadas nos EUA, no Canadá, no Japão, na Europa, na Ásia-Pacífico e no resto do mundo. 1.4. Compostos de ferro O elemento ferro pode ser encontrado sob a forma de três óxidos: FeO (óxido de ferro), Fe2O3 (hematita) e o Fe3O4 (magnetita) e todos eles tendem a ser não estequiométricos. O composto FeO quando analisado estruturalmente apresenta certa deficiência em metal, e fórmula Fe0,95O. .A tendência a não estequiometria exibida por óxidos de ferro se relaciona com a fácil mudança estrutural. Os óxidos de ferro apresentam formas cúbicas que diferem muito pouco entre si, sendo observada apenas alguma diferença na disposição dos íons Fe2+e Fe3+ nos interstícios octaédricos ou tetraédricos. A magnetita (Fe3O4) é o primeiro material magnético conhecido pelo homem. Foi este material que deu início à história do magnetismo. A sua estrutura magnética é do tipo Néel A-B (NÉEL,1948), onde A são sítios tetraédricos, correspondentes aos íons Fe3+, e B sítios octaédricos, correspondentes aos íons Fe2+ e Fe3+. Os íons dos sítios A estão com seus momentos magnéticos acoplados antiferromagneticamente com os momentos magnéticos dos íons dos sítios B. Devido ao maior número de íons de ferro nos sítios B, a resultante não é nula caracterizando, portanto, uma estrutura ferrimagnética. Acima de aproximadamente 580ºC, a magnetita se torna magneticamente desordenada, passando assim ao estado paramagnético. A estrutura cristalina da magnetita é do tipo espinélio invertido (NÉEL,1948). É um composto do tipo A2+B23+O42-, com rede de Bravais cúbica de faces centradas. Entretanto, pode ser representada por Fe3+(Fe2+Fe3+) O42-pois possui uma inversão na estrutura espinélio como mostra a Figura 4. Sua estrutura está de acordo com o grupo espacial Fd3m, com 8 unidades de Fe3O4 por cela unitária. . Figura 4. Estrutura da magnetita (Fe3O4) espinélio invertida (VERWEY, 1947) 1.5.Nanopartículas magnéticas As partículas em escala nanométrica, mais conhecida como nanopartículas, têm despertado grande interesse nos últimos anos, devido às suas propriedades químicas e físicas únicas (HEUSER et al, 2007; XUPING & YOGLAN, 2005), Os fenômenos únicos exibidos não são dependentes somente dos constituintes, mas também de seu tamanho e formato, bem como, do seu grande potencial em aplicações tecnológicas, industriais, ambientais, biológicas e médicas . O principal desafio das metodologias desenvolvidas para a preparação de nanoestruturas magnéticas é a obtenção de sistemas dispersos com controle do tamanho, da forma e das propriedades físico-químicas superficiais. O domínio sobre as variáveis durante a síntese possibilita um maior controle sobre as características das partículas, como cristalinidade, tamanho e distribuição de tamanho, formato e estabilidade química, que por sua vez influenciam as propriedades magnéticas dos materiais, determinando sua aplicação tecnológica (DURAN, 2006). Na literatura, são relatados diversos métodos para a síntese de nanomateriais magnéticos, tanto físicos quanto químicos. Dos métodos físicos, destacam-se o método de moagem e deposição por vapor. Dentre os procedimentos químicos, os mais utilizados são os métodos de precipitação por hidrólise alcalina, microemulsão, micelas reversas, redução e sonoquímico. Cada tipo de síntese determina o tamanho, a forma e a uniformidade dos tamanhos, que são fatores que podem interferir nas propriedades magnéticas. O método de precipitação consiste de dois processos a nucleação, onde ocorre a formação de centros de cristalização, e o crescimento,onde acontece aumento das partículas. As taxas relativas desses dois processos determinam o tamanho e a polidispersão das partículas.(AUZANS et al,1999) As nanopartículas magnéticas são compostos com propriedades magnéticas incorporados no material polimérico ou não, contendo sítios ativos e seletivos para íons ou moléculas (trocadores orgânicos iônicos) (OWEN et al,1989), ou ainda pode ser um material polimérico funcionalizados de acordo com as necessidades do seu processo (KAMINSKI & NUÑEZ, 1999; SAFARIK & SAFARIKOVÁ, 1999). 1.6. Nanopartículas e o comportamento superparamagnético A composição química de óxido de ferro superparamagnético tem a fórmula geral Fe23+O3M2+O Onde M2+ é um íon de um metal divalente tal como o ferro, manganês, níquel, cobalto ou magnésio. A magnetita é um óxido de ferro superparamagnético quando o íon do metal (M2+) é o ferro ferroso ( Fe2+). Fe23+O3Fe2+O Fe3O4 O superparamagnetismo ocorre quando um material é composto por cristais suficientemente pequenos com spins orientados em monodomínios que podem ser considerados como partículas termodinamicamente independentes. Os momentos magnéticos de tais monodomínios magnéticos refletem na interação dos elétrons desemparelhados. O momento magnético resultante torna-se muito maior do que o de uma substância paramagnética, e a susceptibilidade magnética específica destas partículas pode exceder significativamente o valor da correspondente espécie paramagnética solúvel, devido a este ordenamento magnético (BEAN, 1959; BEAN 1995). As substâncias superparamagnéticas precisam de magnetização remanescente quando o campo magnético é removido, pois as orientações dos monodomínios voltam a ser aleatórios. Isto significa que os agente de contraste de óxido de ferro superparamagnético não se agregarão devido a atração magnética. O superparamagnetismo tem uma natureza cristalina obrigatória; agentes superparamagnéticos serão então necessariamente ordenados e particulados (BEACH-GANSMO, 1993). A propriedade de superparamagnetismo nas partículas está diretamente ligada ao tamanho das nanopartículas magnéticas. Somente partículas com diâmetro menor que 30 nm são superparamagnéticas. Quanto mais próxima da forma esférica e maior uniformidade entre as formas, maior será a eficiência das nanopartículas com maior aplicabilidade, seja como ferrofluido, como separador de células ou removedor de poluentes. Sendo assim, o controle do tamanho das nanopartículas durante a síntese é extremamente importante para aplicações tecnológicas (SAFARIK et al.,1995). Partículas com comportamento superparamagnético têm sido utilizadas extensivamente em diagnóstico e outros campos de aplicação especialmente em biologia molecular para separação de ácidos nucléicos e oligonucleotídeos, em biologia celular para separação de células alvo e organelas celulares (WHITEHEAD et al.,1987; HÃFELI & PAUER, 1999), em microbiologia para a concentração de microorganismos patogênicos (LANDFESTER; RAMIREZ, 2003; TARTAJ et al, 2003), em bioquímica para isolar várias enzimas, lecitinas e anticorpos (PANKHURST et al., 2003) e em química analítica para préconcentração de alvos analíticos como também nas áreas ambiental e catálise (SHINKAI, 2002). 2. OBJETIVOS 2.1.Objetivo geral O presente trabalho teve por objetivo sintetizar e caracterizar as nanomagnetitas revestidas com o biopolímero quitosana para aplicação na remediação ambiental. 2.2. Os objetivos específicos foram: Sintetizar e caracterizar a quitina a partir das carapaças de camarão; Sintetizar e caracterizar a quitosana a partir da quitina; Sintetizar e caracterizar as nanopartículas de magnetita; Sintetizar e caracterizar as nanomagnetitas revestidas com quitosana; Caracterizar os materiais sintetizados pelas técnicas DRX, FTIR, TGA, DSC, 1H-RMN, MEV, TEM e medidas magnéticas. 3. MATERIAIS E MÉTODOS Todos os reagentes utilizados neste trabalho foram de grau analítico (PA) e marca VETEC e as soluções foram preparadas com água destilada. 3.1. Matéria prima Os resíduos de camarão cinza foram obtidos da Colônia de Pescadores da Pedra de Guaratiba-Rio de Janeiro-Brasil. 3.2. Síntese da quitina Para a obtenção da quitina realizou-se um pré-tratamento com a lavagem em água comum, separação e descarnagem dos 2.800 kg de resíduos de camarão. Após o pré-tratamento restaram apenas 270 g de matéria-prima. Em seguida, a amostra sofreu quatro lavagens de 3h com água destilada para a retirada de sais. A amostra foi seca em estufa a 50ºC por 12h. Em seguida foi feita a descarbonatação usando HCl 0,25 mol/L a temperatura ambiente sob agitação constante por 1h seguida de lavagem com água destilada até pH neutro. Este processo de descarbonatação visa à retirada de carbonato de cálcio (CaCO3) que estão ligados à quitina na parte calcificada da endocutícula das cascas de camarão. Após a neutralização foi feita a desproteinação que consiste na adição de uma solução de NaOH 1 mol/L a temperatura ambiente sob agitação constante, por 24h que tem a função de reduzir o teor de nitrogênio proteico, através da hidrólise das proteínas que envolvem a quitina. Após a desproteinação, a amostra foi seca em estufa a 50ºC e como não apresentou coloração, não foi necessária a etapa de despigmentação com solução de etanol a 95% (THARANATHAN & PRASHANTH, 2007). Após este processo a quitina foi caracterizada por Difração de Raios X (DRX), Espectroscopia de Absorção no Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR), Termogravimetria/Derivada Termogravimetria (TGA,DTG), Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) e Microscopia Eletrônica de Varredura (SEM). 3.3. Síntese da quitosana O processo de obtenção de quitosana parte da desacetilação alcalina da quitina. Cerca de 15 g de quitina foi adicionada em um becker contendo 30 mL de uma solução aquosa de NaOH 50% a 100°C, sob agitação constante por 3h. Após esse tempo de reação, o material foi resfriado e lavado com água destilada até pH neutro (THARANATHAN; PRASHANTH, 2007). A quitosana obtida foi seca em estufa a 50°C por 12 h e caracterizada por DRX, FTIR TGA/DTG, DSC e Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio (RMN 1H). 3.4. Síntese das nanomagnetitas As nanomagnetitas foram preparadas por co-precipitação, que consiste na alcalinização da mistura estequiométrica de íons de ferro com NaOH. Para preparar os íons de ferro dissolve-se uma quantidade apropriada de Fe+3 em HCl 2 mol\L que apresentou cor amarela. Os íons de ferro são reduzidos com sulfito de sódio, formando íons Fe+2 e SO3-2 de cor vermelha. Em seguida foi adicionado NH4OH concentrado, retornando a cor amarela e mantendo a agitação por 30 minutos. Depois desse tempo, as partículas foram decantadas com o auxílio de um imã descartando o sobrenadante em um recipiente adequado. O precipitado foi lavado com água destilada até pH neutro, filtrado à vácuo e seco à temperatura ambiente (SHENGCHUN et al., 1999; CORNELL & SCHERTMANN, 1991). O material obtido foi caracterizado por DRX, FTIR, MEV e Microscopia Eletrônica de Transmissão (TEM). 3.5. Síntese das nanomagnetitas revestidas com quitosana Foi preparada uma suspensão de quitosana (5 g) em um volume de 400 mL de ácido acético (2%) sob agitação por 30 min. Em seguida foi adicionada a esta, uma suspensão aquosa de magnetita (2g /100 mL) sob agitação por mais 30 minutos. O sistema ficou em repouso por 24h e colocado sobre um imã para a sedimentação das nanopartículas. Parte do sobrenadante foi retirado e descartado, e mantido um volume de 200 mL de suspensão. Em uma alíquota o sobrenadante foi adicionada gotas de NaOH 2 mol/L, ocorrendo a formação de uma base sólida esbranquiçada, indicando a presença de quitosana excedente que não revestiu a magnetita. Dessa forma, a massa de quitosana utilizada garantiu o recobrimento de todas as partículas de magnetita. Adicionou-se lentamente 200 mL de solução de NaOH (5 mol/L) sob agitação ao volume de 200 mL de suspensão de magnetita/quitosana para obtenção da quitosana solidificada nas partículas de magnetita. Esta suspensão foi colocada sobre um imã e o sobrenadante separado e descartado e realizadas várias lavagens com água destilada. O material obtido foi lavado com acetona para acelerar o processo de secagem. Foi obtido um pó preto de textura fina e caracterizado por DRX, FTIR, MEV, TEM e medidas magnéticas. 3.6. Caracterização dos materiais Os materiais obtidos foram caracterizados pelas seguintes técnicas: 3.6.1. Espectroscopia de Absorção no Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR) As medidas de FTIR dos compósitos foram realizadas no Espectrofotômetro Nicolet - MAGNA - IR 760 na faixa de 4000 a 400 cm-1 com resolução de 4 cm-1 e 64 scans. 3.6.2. Difração de Raios-X (DRX) Análises de DRX foram realizadas em um Difratômetro de Raios-X Miniflex, marca da Rigaku (V= 15 kV, I= 30 mA) que utiliza radiação kα de cobre (λ=1,5418 Å). O intervalo angular, 2θ, de 5-80° foi varrido com passos de 1°, utilizando tempo de contagem de 1s. Os resultados das análises foram obtidos por meio da indexação das fichas cristalográficas In Data collection of The Join Committee on Powder Diffraction Standard (JCPDS). 3.6.3. Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio (RMN-1H) O espectro de RMN-1H foi obtido em um espectrômetro marca BRUKER DRX400. A análise foi realizada nas seguintes condições: pulso acumulado de 16 varreduras e LB de 0,30 Hz. A largura espectral e os pontos foram de 5000 Hz e 64 K, respectivamente. Aproximadamente 10 mg de amostra foi solubilizada em 1mL de solução de HCl/D2O 1% (v/v), durante 24 h sob agitação a temperatura ambiente, formando uma solução viscosa. Uma alíquota dessa solução foi colocada em tubos de quartzo de 5 mm de diâmetro para a análise e o experimento realizado a uma temperatura de 70oC para diminuir a interferência do sinal do solvente com os picos da amostra (HIRAI et al., 1991; SIGNINI & CAMPANA FILHO, 1998). 3.6.4. Análises Térmicas (TGA/DTG, DSC) As análises termogravimétrica e a derivada da termogravimétrica (TGA/DTG) foram obtidas em um módulo termogravimétrico TGA 2050 e as análises térmicas de calorimetria exploratória diferencial (DSC) em um módulo calorimétrico DSC 2100, acoplados a um analisador térmico TA Instruments 2000. As análises termogravimétricas foram feitas usando porta-amostra de platina, com massa de amostra em torno de 10 mg. As análises DSC foram obtidas em porta-amostra de alumínio com tampa furada no centro e com massa de amostra em torno de 4 mg. As amostras, tanto para TGA quanto para o DSC, foram aquecidas a uma razão de aquecimento de 10°C min-1 em atmosfera de N2, com uma vazão de 90 mL min-1. 3.6.5. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) As análises de MEV foram realizadas no aparelho JEOL JSM 6490 LV A 30 KV. As amostras foram dispersas em uma fita de carbono sobre o porta amostra de alumínio, secas à vácuo e metalizadas com ouro por 120 segundos. 3.6.6. Microscopia Eletrônica de Transmissão (TEM) As análises de TEM foram realizadas no aparelho JEOL 2010 e operado a 200 kV. As amostras foram preparadas em isopropanol e sonicadas por 10 minutos. Gotas desta dispersão foram colocadas em grade de cobre. 3.6.7. Medidas Magnéticas As medidas de momento magnético DC foram realizadas com um magnetômetro SQUID (Superconducting Quantum Interference Device) da Quantum Desing, MPMS-5S de 1,8 a 400 K e campos até 50 kOe. Cerca de 0,1 g das amostras foram depositadas dentro de uma cápsula, esta foi preenchida com graxa de alto vácuo e então fixada com o auxílio de linha em um tubo plástico que auxilia como suporte para a amostra durante a realização das medidas. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Serão apresentados e discutidos os resultados das caracterizações das sínteses na seguinte sequência: quitina/quitosana, nanopartículas de magnetita e revestimento das nanomagnetitas com quitosana. Para caracterização dos materiais usou-se: FTIR, DRX, TGA/DTG, DSC, RMN-1H, MEV, TEM e medidas magnéticas. 4.1. Espectroscopia de absorção no infravermelho da quitina e quitosana A Figura 5 mostra os espectros no infravermelho da quitina e quitosana, que apresentam perfis semelhantes. 90 80 ----Quitina ----Quitosana Transmitância(%) 70 60 50 40 30 20 10 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 Número de onda (cm-1) Figura 5. Espectro de absorção no infravermelho da quitina e da quitosana Observam-se pequenas diferenças na forma e posição dos picos que são atribuídas aos diferentes índices de grupo acetamida nas regiões de 3700 a 3000 cm-1, 1800 a 1500 cm-1 e 1700 a 1300 cm-1. No espectro da quitosana mostra a diminuição da banda em 1560 cm-1 que é devido à deformação NH2 e que tende a diminuir conforme vai aumentando o grau de desacetilação da quitosana. As bandas de deformação axial NH (próximas de 1006 cm-1), correspondente às ligações de hidrogênio intermoleculares N-H evidenciadas no espectro da α-quitina. Além dessas bandas características, observam-se as bandas de polissacarídeos na região entre 890-1150 cm-1. Todas as bandas observadas são semelhantes às descritas na literatura (BRUGNEROTTO et al., 2001; SAIMOTO et al., 1996). 4.2. Difração de Raios X da quitina e quitosana A Figura 6 mostra os difratogramas da quitina e quitosana. 1600 1400 ---Quitina ---Quitosana Intensidade(cps) 1200 1000 800 600 400 200 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 2 theta (graus) Figura 6. Difratogramas de Raios -X da quitina e quitosana Observam-se no difratograma da quitina seis picos de difração (2)próximos a 10,0; 19,8; 21,6; 26,4; 29,2 e 37,9°, respectivamente, indicando que a estrutura polimórfica presente na amostra é a α-quitina concordando com o espectro infravermelho. No difratograma da quitosana observam-se quatro picos de difração (2) próximos a 10,2; 19,9; 26,6 e 29,4º de menor intensidade e deslocados para (2) maiores em relação ao espectro de quitina. O difratograma da quitina apresentando picos mais resolvidos e em maior número do que os picos observados no caso da quitosana. Este fato pode ser atribuído a existência de domínios cristalinos maiores, em maior número no caso da quitina (ROBERTS, 1992; ZHANG et al., 2000). Através do difratograma de raios X pode-se determinar os índices de cristalinidade (ICR) da quitina e da quitosana de acordo com a equação 1 (MANSUR, 2007). ICR = (∑AC - ∑AA /∑AC) x 100 (Equação 1) Sendo: AC e AA áreas dos sinais das regiões cristalinas e amorfo respectivamente. As áreas dos difratogramas foram calculadas através do programa Microcal Origin 7.0 e estão apresentadas na Tabela 3. Tabela 3: Índices de cristalinidades da quitina e quitosana Biopolímero ∑AA ∑AC % I CR Quitosana 48,8 237 79,4 Quitina 174 1043 83,3 Observa-se que a quitina possui maior grau de cristalinidade em relação a quitosana, sugerindo que a relação entre o grau de desacetilação e o índice de cristalinidade relativo seja inverso, pois quanto maior o índice de cristalinidade menor será o grau de desacetilação. 4.3. Análise Térmica (TGA/DTG/DSC) da quitina e quitosana Quando os materiais são aquecidos a temperaturas mais elevadas, várias mudanças físico-químicas podem ocorrer como a formação de gases, líquidos e mudanças de coloração. A degradação térmica é uma reação que envolve a ruptura das ligações das cadeias principais e secundárias e quando os materiais resistem à decomposição a altas temperaturas, chamamos de estabilidade térmica que é caracterizada pela temperatura na qual a decomposição do material se torna perceptível pela formação de produtos e cinética do processo. Um dos fatores determinantes da estabilidade térmica do polímero é a energia das ligações da cadeia principal ( LIM & WAN, 1995; TAGER, 1978). A ligação C-C é uma das mais resistentes à degradação térmica. A presença de átomos de hidrogênio na molécula do polímero diminui a energia entre a ligação C-C, motivo pelo qual os hidrocarbonetos com elevada massa molecular e seus derivados possuem comparativamente baixa estabilidade térmica sendo facilmente degradados com o aquecimento a temperaturas mais elevadas (PENICHE-COVAS & JIMÉNEZ, 1988). As Figuras 7 e 8 mostram as curvas termogravimétricas (TGA), termogravimétricas diferencial (DTG) e as de calorimetria exploratória diferencial (DSC) da quitina e quitosana,respectivamente. A Figura 7 mostra as curvas de TGA, DTG e DSC da quitina. A Figura 7a apresenta o perfil da decomposição térmica TGA/DTG com três etapas, a primeira etapa de decomposição, refere-se à perda de água, ocorrendo na temperatura de pico de 61,0oC, com perda de massa de 6,1%, a segunda etapa de decomposição refere-se à perda de material orgânico, ocorrendo numa temperatura de pico de 326,6o C, com perda de massa de 64,6% e na terceira etapa de decomposição, refere-se a material inorgânico carbonizado, ocorrendo na temperatura de pico de 512oC, com perda de massa de 26,45%. A Figura 7b mostra a curva DSC relacionadas às transições físicas e/ou químicas ocorridas durante o processo de decomposição. Observa-se dois eventos endotérmicos, a primeira decomposição a uma temperatura de pico de 110oC e a segunda temperatura de pico de 388oC. (a) (b) Figura 7. Curvas de TGA/DTG e DSC da quitina A Figura 8 mostra as curvas de (a) TGA/DTG e (b) DSC da quitosana. O perfil da decomposição térmica da TG/DTG da quitosana apresenta três etapas: a primeira etapa, refere-se à perda de água, ocorrendo na temperatura de pico de 75,5oC, com perda de massa de 6,0%, a segunda etapa refere-se à perda de material orgânico, ocorrendo numa temperatura de pico de 304,1oC, com perda de massa de 62,4% e na terceira etapa, refere-se a material inorgânico carbonizado, ocorrendo na temperatura de pico de 505oC, com perda de massa de 31,1%. A Figura 8b mostra a curva DSC da quitosana e observam-se três eventos térmicos. O primeiro pico endotérmico numa temperatura de 107oC, o segundo pico exotérmico com uma temperatura de 312oC e um terceiro pico endotérmico, com uma temperatura de pico de 409oC. Figura 8. Curvas de TGA/DTG (a) e DSC da quitosana (b) 4.4. Espectroscopia de ressonância magnética nuclear da quitosana A análise da quitosana por RMN-1H foi realizada com o intuito de determinar o grau de desacetilação da quitosana, que é uma medida do número médio de unidades 2-acetoamido-2deoxi β-D-glicose e 2-amino-2-deoxi β-Dglicose. A proporção relativa dessas unidades nas cadeias macromoléculas de quitosana tem efeito na solubilidade e nas propriedades das soluções de quitosana. A determinação do grau de desacetilação (GD) por RMN-1H foi obtida a partir da equação 2. GD = 100 [1- (1/3 HAc / 1/6 H2-6 ) ] Sendo : Hac = núcleos do grupo acetilado; H2-6 = núcleos dos hidrogênios ligados aos carbonos 2, 3, 4, 5 e 6. (Equação 2) A Figura 9 mostra o espectro de RMN-1H da quitosana onde se observa vários picos, e suas atribuições são apresentadas na Tabela 4. 1 Figura 9. Espectro de RMN- H da quitosana A Tabela 4 mostra as atribuições referentes aos picos observados no espectro RMN-1H. 1 Tabela 4: Picos e atribuições do espectro RMN- H da quitosana Picos (ppm) Tipo Atribuições REGE et al.,2003) 2,1 Singleto Corresponde ao hidrogênio da metila do grupo acetamido. 3,2 Tripleto Corresponde ao hidrogênio localizado na posição 2 do anel glicosamino Entre 3,6 e 4,2 Superpostos Correspondem aos hidrogênios ligados aos carbonos 3, 4, 5 e 6 do anel glicosamino. Entre 4,6 e 5,2 Superpostos Corresponde ao hidrogênio da posição 1 do anel glicosamino com vizinhança do grupo acetamido na posição 2. A partir dos resultados da integração das áreas dos picos do espectro de RMN-1H foi calculado o GD e obteve-se um valor de 89% significando que o tratamento nas condições citadas anteriormente foram suficientes para a obtenção de quitosana. Para efeito de comparação, as quitosanas comerciais possuem geralmente grau de desacetilação entre 70-95% (REGE et al.,2003), o qual evidenciou a obtenção de uma quitosana com uma boa homogeneidade. 4.5. Microscopia eletrônica de varredura da quitina e quitosana A Figura 10 mostra as imagens de MEV da quitina e quitosana. Observamse materiais fibrosos com texturas diferentes devido ao processo de desacetilação da quitina com NaOH. (a) (b) Figura 10. Imagens de microscopia eletrônica de varredura (a) quitina e (b) quitosana 4.6. Nanomagnetitas na presença e ausência de um campo magnético (imã) A Figura 11 mostra a foto das nanomagnetitas na presença e ausência de um campo magnético (imã). Observa-se um bom comportamento magnético que corresponde à magnetização residual próxima de zero na ausência de campo magnético, e na presença de um campo magnético provoca um alinhamento das nanomagnetitas. Esse alinhamento é facilmente desfeito após a remoção do campo como pode ser observado na Figura 11, característica de nanopartículas superparamagnéticas. (a) (b) imã Figura 11. Foto das nanomagnetitas na ausência e na presença de um campo (imã) 4.7. Difração de Raios X das nanomagnetitas A Figura 12 mostra o DRX das nanomagnetitas e observam-se oito picos em 2 = 18,3; 30,1; 35,7; 37,4; 43,2; 53,8; 57,3 e 63,0o típicos da magnetita nos planos 111, 220, 311, 222, 400, 422, 511, 440o respectivamente. Os picos são ligeiramente alargados e de baixa intensidade, como esperado para materiais nanocristalinos. As posições e intensidades relativas dos picos no difratograma permitiram identificar a estrutura e a composição da amostra que apresenta uma estrutura cristalina cúbica do tipo espinélio inversa e de composição de Fe3O4 (magnetita) segundo dados do Fe304, (JCPDS-166-169, 2001). (311) Intensidade (cps) 600 300 (440) (220) (511) (400) (111) (222) (422) 0 10 20 30 40 50 60 70 2 theta (graus) Figura 12.Difratograma de raios X das nanomagnetitas Pela técnica de raios X foi possível estimar o tamanho médio das partículas de magnetita sintetizadas, utilizando a equação de Scherrer (CULLITY,1967) representada na Equação 3 e o pico de maior intensidade em 2=35,7o . D= k. cos (Equação 3) Sendo: D= é o tamanho médio das partículas em Ǻngstrons; k=constante que depende do formato da partícula (0,89); = comprimento de onda da radiação k usado (cobre = 1,5418Ǻ); = largura a meia altura do pico difratado da amostra em radianos e = ângulo de difração de Bragg do ponto máximo do pico analisado. O tamanho médio calculado para as nanomagnetitas foi de 7,3 nm. As nanomagnetitas nessa grandeza exibem características superparamagnéticas, ou seja, após a remoção do campo aplicado não ocorre aglomeração das nanopartículas, além de possuir uma grande área superficial especifica. 4.8. Nanomagnetitas e nanomagnetitas revestidas com quitosana A Figura 13 mostra a suspensão aquosa de nanomagnetitas revestidas com quitosana e das nanomagnetitas na presença de um campo magnético. Verifica-se que nas mesmas condições quando se aproxima um campo magnético e num tempo de 1 minuto observa-se a separação tanto das magnetitas quanto das nanomagnetitas revestidas com quitosana da água. Este comportamento é tipico de nanomagnétitas superparamagnéticas. imã Figura 13. Foto da suspensão aquosa de nanomagnetitas revestidas com quitosana e das nanomagnetitas na presença de um campo (imã) 4.9. Magnetização das nanomagnetitas e das nanomagnetitas revestidas com quitosana. A Tabela 5 mostra as medidas de magnetização de saturação das nanomagnetitas e das nanomagnetitas revestidas com quitosana que exibiram resposta magnética intensa na presença de um campo magnético sem tornar-se magnético, ou seja um comportamento típico de material superparamagnético observado nas magnetitas nessas dimensões (CULLITY, 1972). Tabela 5: Medidas de magnetização de saturação das nanomagnetitas e nanomagnetitas revestidas com quitosana Amostra Medidas de magnetização de Saturação (Emu/g) Nanomagnetitas 63,5 Nanomagnetitas/quitosana 59,9 Observa-se pela Tabela 5 as medidas de magnetização de saturação das nanomagnetitas um valor de 63,5 emu/g e das nanomagnetitas recobertas com quitosana apresentou um valor de 59,9 emu/g, ou seja, um decréscimo no valor de magnetização de saturação de 3,6 emu/g das nanomagnetitas revestidas com quitosana em relação as nanomagnetitas, que pode ser atribuído ao filme de quitosana que evidencia o revestimento satisfatório das nanomagnetitas sem perder as propriedades. Desta forma, estas partículas podem ser atraídas e agrupadas por aplicação de um campo magnético e como não retêm a magnetização, podem ser desagrupadas, resultando em um material promissor para uma gama de aplicações. 4.10 Microscopia eletrônica de varredura das nanomagnetitas e nanomagnetitas revestidas com quitosana. A Figura 14 mostra as imagens de microscopia eletrônica de varredura das nanomagnetitas e nanomagnetitas revestidas com quitosana. Observa-se aglomerados de partículas esféricas muito pequenas e na Figura 14b também percebe-se, morfologias diferentes nos agregados que pode ser causado pelo filme de quitosana na superfície das nanomagnetitas. (a) (b) Figura 14. Imagens de MEV (a) nanomagnetitas e (b) nanomagnetitas revestidas com quitosana 4.11. Espectrometria infravermelho das nanomagnetitas e das nanomagnetitas revestidas com quitosana. A Figura 15 mostra os espectros de infravermelho das nanomagnetitas e das nanomagnetitas revestidas com quitosana e a Tabela 6 apresenta os principais grupos funcionais e as descrições das atribuições características das nanomagnetitas e nanomagnetitas revestidas com quitosana. Figura 15. Espectros de absorção no infravermelho (a) das nanomagnetitas e (b) das nanomagnetitas revestidas com quitosana Tabela 6. Principais grupos funcionais e atribuições das nanomagnetitas e magnetitas revestidas com quitosana. Número de onda (cm-1) Atribuições (NAKAMOTO, 1997; BUENO, 1989). Nanomagnetitas 556 e 635 Características das deformações das ligações Fe-O e FeO-Fe nos sítios octaédricos e tetraédricos na magnetita 1614 Característica de H2O adsorvida na magnetita. 3408 Característica da ligação de OH na magnetita. Nanomagnetitas revestidas com quitosana 557 e 631 Verifica-se um pequeno deslocamento das bandas relacionadas às deformações das ligações Fe-O e Fe-O-Fe 1000 Características de bandas de polissacarideos 1063 Características das vibrações das ligações nos grupos C-O e C-N. 1374-1461 Deformação simétrica da ligação C-H e da deformação da ligação N-H da quitosana. 1630 Deformação da ligação N-H na quitosana 3424 Banda larga e forte característica de estiramento da ligação (O-H) na quitosana. 4.12. Microscopia eletrônica de transmissão das nanomagnetitas revestidas com quitosana. A Figura 16 mostra a imagem da microscopia eletrônica de transmissão das magnetitas recobertas com quitosana, evidenciando partículas homogêneas com tamanho médio de 7,0 nm e não agrupadas, típicas de partículas superparamagnéticas. Figura 16. Imagem de microscopia eletrônica de transmissão das nanomagnetitas revestidas com quitosana 5. CONCLUSÕES O Brasil possui um imenso litoral e um grande potencial pesqueiro em constante desenvolvimento, e os resíduos dos crustáceos, são uma das preocupações da indústria pesqueira na destinação correta de seus resíduos, de maneira que a agressão ao meio ambiente seja a menor possível. Neste sentido, resíduos de crustáceos são fontes de quitina e consequentemente quitosana, que podem ser aplicadas em diversas formas e condições nas indústrias química, farmacêutica e alimentícia. Portanto, o material dito como resíduo da indústria pesqueira, transforma-se em um produto com valor agregado e não poluente do meio ambiente, que pode ser uma solução para este impasse, contribuindo com uma política ambiental sustentável. A obtenção de nanomagnetitas revestidas com quitosana, ou seja um compósito, foi realizada com sucesso, empregando-se uma metodologia relativamente simples, na qual as nanomagnetitas, produzidas por meio da coprecipitação dos íons Fe3+ em solução de NaOH, apresentando alta pureza, baixa temperatura e homogeneidade do processo. Estas nanomagnetitas foram vertidas sobre uma solução de quitosana obtendo-se, nanomagnetitas suficientemente revestidas com quitosana, apresentando propriedades superparamagnéticas e, portanto, eficientes na aplicação da técnica de separação magnética sólidolíquido. Pelo DRX foi obtido o grau de cristalinidade da quitina e quitosana, onde o difratograma da quitina apresenta mais picos e com maiores intensidades que o da quitosana. Pelo FTIR foi observado as vibrações de estiramento e deformações dos grupamentos específicos da quitina e quitosana. O TGA da quitina e quitosana apresentam três etapas de decomposição: a primeira etapa é perda de água, a segunda etapa refere-se à perda de material orgânico que corresponde a pirólise, a desidratação e despolimerização /decomposição das unidades acetiladas e desacetiladas do polímero, e na terceira etapa de decomposição, refere-se ao material inorgânico carbonizado. O DSC da quitina apresentou dois eventos endotérmicos, a primeira decomposição a uma temperatura de pico de 110oC e a segunda temperatura de pico de 388oC. Já o DSC da quitosana apresentou três eventos térmicos. Um endotérmico na temperatura de pico de 107oC, o segundo exotérmico, uma temperatura de pico de 312oC e o terceiro pico endotérmico, com uma temperatura de pico de 409oC que estão associados às etapas do DTG. Pelo espectro de RMN-1H foi calculado o grau de desacetilação da quitosana e obteve-se um valor de 89%. Pelo TEM foi observado que as nanopartículas revestidas com quitosana apresentaram tamanho médio de 7,0 nm. Os resultados das análises mostraram que as nanomagnetitas revestidas com quitosana, chamada muitas vezes de nanocompósitos, apresentaram propriedades superparamagnéticas, caracterizadas pelo tamanho das nanomagnetitas e pela elevada magnetização de saturação, como também ausência de magnetização residual, depois de cessada a aplicação do campo magnético, sendo possível controlar o movimento das partículas com a aplicação de um campo magnético, possibilitando a separação e o isolamento do meio com facilidade com o auxílio de um imã, evidenciando um material em potencial para aplicações ambientais. O uso desses nanocompósitos com caracteristicas superparamagnéticas aumentaria a eficiência e a seletividade de processos tecnológicos e consequentemente resultaria num consumo menor de energia e produção de quantidades menores para as mais diversas vertentes de aplicações. Foram obtidos materiais de baixo custo que poderão ser usados como adsorventes magnéticos e aplicados em processos de derramamento de petróleo, água residuárias, entre outros e que contribuirá com o desenvolvimento de uma tecnologia sustentável, evitando possíveis impactos ambientais decorrentes da disposição inadequada destes resíduos no meio ambiente, garantindo o futuro das próximas gerações. 6. PERSPECTIVAS FUTURAS As nanomagnetitas revestidas com quitosana, que também pode ser chamadas de nanocompósito magnético, poderá ser aplicado na remediação ambiental em alguns setores, com por exemplo: áreas de derramamento de petróleo e no tratamento de águas residuárias da indústria têxtil em razão do nanocompósito magnético desenvolvido possuir sítios ativos que promovem adsorção dos contaminantes dos efluentes e nanopartículas magnéticas que possibilita a retirada do sólido do meio líquido por aplicação de um campo magnético. Essa tecnologia dispensa o sistema de filtração ou centrifugação necessária para separar sólido de líquido, facilitando e reduzindo os custos de operações. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARAL, I. F.; BARBOSA, M.A.; BARRIAS, C. C.; CAVALH ,M. P.; GRANJA, P.L.; LOPES, M. A.; MARTINS M.C.L.; RIBEIRO C. C.; SANTOS, J.D.; SOUSA, S.R.; QUEIROZ, In: Biotecnologia., Lidel, 377-397, 2003. AUZANS, E; ZINS, D.; BLUMS, E.; MASSART, R. Synthesis and properties Mn-Zr ferrite ferrofluids. Journal of Materials Science v.34, p. 1253-1260, 1999. BEACH-GANSMO, T., Acta Radiológica. (supplementum),v.387,p.1,1993. BEAN, C.P.; Journal of Applied Physics, v.26,n.11,p.1381,1995 BEAN,C.P.; Livingston, J.D., Journal of Applied Physics, v.30,p.120,1959. BOOTH,C.E., PRICE,C. Polymers as biomaterials. In:Comprehensive polymer science – the synthesis, characterization, reaction and applications of polymers. Pergamon Press 202-208,1989. BRUGNEROTTO, J; LIZARDI,J.; GOYCOOLEA, F. 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