RECONSTRUÇÃO DE UMA ESCALA DE LOCUS-DE-CONTROLO DE SAÚDE1 (*) JOSÉ LUIS PAIS RIBEIRO (**) Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação- Universidade do Porto Resumo O presente artigo apresenta a reconstrução de uma escala de avaliação do Locus-de-Controlo de Saúde. Os itens utilizados foram recolhidos de várias escalas de língua inglesa que, depois de traduzidos e analisados, e de verificadas as suas propriedades métricas, deram origem a uma escala de avaliação do Locus-deControlo de Saúde com dois factores. O estudo foi realizado em dois momentos com duas amostras de estudantes da Universidade do Porto. A consistência interna da escala mostrou-se satisfatória. Abstract Reconstruction of a health locus of control scale The development of a Health Locus-of-Control Scale is described. Scales have been developed to tap beliefs that the source of reinforcements for health related behaviours is primarily internal, a matter of chance or under the control of powerful others. This scale is based on earlier work, with various health-locus-of-control scales, developed in English. Two investigations were conducted for the discovery of factor structure. The results suggested the existence of two factors, internal control and powerful others. Alpha internal consistency reliability coefficients for factors 1 and 2 scales were .75 and .74. 1 Publicado em: Psiquiatria clínica, 15(4), 1994, pp.207-214, (*) Esta investigação foi parcialmente subsidiada pela Fundação Calouste Gulbenkian e pelo Instituto Nacional de Investigação Científica. (**) Professor Auxiliar da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto 2 INTRODUÇÃO Recentemente tem crescido o interesse pelo papel de determinadas variáveis de personalidade no comportamento relacionado com a saúde e com as doenças e, de entre estas, o Locus-de-controlo tem recebido particular atenção. Desde 1966, as investigações têm mostrado que o Locus-de-Controlo é um importante predictor dos resultados de saúde1. Um resumo de Lau2 confirma que um controlo interno tem sido associado a variáveis consideradas importantes, tanto para o sistema de saúde em geral, como para o de cuidados de saúde em particular, nomeadamente: conhecimento acerca das doenças, capacidade para deixar de fumar, capacidade para perder peso, seguimento adequado das prescrições médicas, uso adequado de métodos de controlo de natalidade, vacinação, uso de cinto de segurança, prevenção dentária, prever e controlar crises epilépticas. Para além destes aspectos outras investigações têm demonstrado que ele está associado a: envelhecimento saudável3; ajustamento à dor4; adopção de comportamentos de promoção de saúde tais como a redução de peso excessivo5; redução do consumo de tabaco6; adesão às prescrições médicas7; ajustamento à doença cancerosa8. É, igualmente, considerada uma variável importante para o desenvolvimento de programas de intervenção na promoção da saúde9, 10. Locus-de-Controlo O Locus-de-Controlo é um constructo nascido no seio da Teoria da Aprendizagem Social. Define-se como uma característica psicológica que tipifica o grau em que o indivíduo percebe que o que lhe acontece na vida do dia a dia é consequência das suas acções e, por isso, pode ser controlado por ele (controlo interno) ou, como não tendo relação com o seu comportamento e, por isso, está fora do seu controlo (controlo externo). Como diz Rotter, é a percepção do indivíduo "que um reforço sucede, ou é contingente, ao 3 seu comportamento, versus a percepção, que o reforço é controlado por forças exteriores a ele e pode ocorrer independentemente da sua acção"11 (p.1). Embora o Locus-de-Controlo tenha sido concebido como uma característica geral, diversos autores têm defendido que esta variável pode, e deve, ser considerada em domínios específicos. Por exemplo, Strickland12, defende a importância de considerar a especificidade do Locus-de-Controlo no domínio da saúde. Avaliação do Locus-de-Controlo Rotter11 defende que o Locus-de-Controlo é uma característica unidimensional que se representa como um contínuo onde, num extremo, se encontra a internalidade e, no outro, a externalidade. Rotter construiu uma escala de avaliação desta dimensão que incluía um conjunto de 23 itens com uma resposta de escolha forçada: o respondente tem de escolher uma de duas alternativas, a que melhor se lhe aplica, e em que uma das alternativas reflecte uma orientação interna e a outra externa. A ideia de continuidade entre internalidade e externalidade tem sido desafiada por diversos autores13-17. Do mesmo modo, tem sido questionado se o Locus-de-Controlo é uma característica unidimensional ou multidimensional. Estudos de análise factorial realizados sobre a escala original de Rotter têm encontrado diversos factores14 levando os autores a afirmar que ao invés de ser uma escala unidimensional ela é multidimensional. Embora o Locus-de-Controlo seja uma característica geral que se aplica a todas as situações da vida, inúmeros instrumentos têm sido construídos para avaliar o Locus-deControlo em aspectos específicos, como é o caso da saúde. Uma das primeiras tentativas de construir uma escala para avaliar o Locus-de-Controlo no contexto específico da saúde deve-se a Wallston et al.,18. Estas escalas divergem da escala de Rotter no modo de responder aos itens, utilizando, ao invés de uma resposta de escolha forçada, resposta numa escala tipo Lickert. 4 Uma questão que se coloca é a de saber se as duas estratégias de avaliação do Locusde-Controlo, resposta de escolha forçada como na escala de Rotter, ou resposta em escala tipo Lickert, chegam aos mesmos resultados. Collins14 respondeu a essa questão: Converteu os 23 itens de escolha forçada da escala de Rotter (cada item tem duas afirmações antagónicas das quais é forçada a escolha de uma) numa escala em que cada afirmação passa a item, dando assim origem a uma escala com 46 itens com resposta tipo Lickert. Passou as duas escalas (uma com os 46 itens e resposta tipo Lickert e outra com a formulação original de Rotter, com 23 itens de escolha forçada), a uma população de 300 estudantes da universidade de Wisconsin. A autora verificou, através da análise estatística, que os respondentes eram classificados da mesma maneira através de uma ou de outra forma de resposta, concluindo que: "os formatos de resposta de escolha forçada e de Lickert são, do ponto de vista empírico, e na essência, idênticos" (p.382). A análise de Collins sobre a escala original de Rotter encontrou duas dimensões distintas, ao longo das quais os indivíduos podem variar nas atribuições de causalidade, a saber: a) predictibilidade dos acontecimentos versus sorte e, b) atribuições situacionais versus pessoais. A primeira reflecte a medida em que as pessoas acreditam que o que acontece está subordinado a algum padrão de regularidade, por leis e, por isso, é controlável ou se, pelo contrário, é imprevisível e, por isso, incontrolável. Na segunda as pessoas podem variar quanto à medida em que acreditam que as coisas boas ou más dependem deles ou, pelo contrário, dependem de outras pessoas ou de outros aspectos que não controlam. As duas dimensões podem ser consideradas como dois eixos que, sendo cruzados, dão origem a quatro quadrantes. Na sua investigação, Collins, encontra quatro factores que confirmam estes quatro quadrantes, embora nestes quatro factores identifique uma característica de externalidade versus internalidade comum a todos. A internalidade versus externalidade, consoante o factor em que se encontra, não se correlaciona com as outras internalidades ou 5 externalidades de outros factores. Isto pode significar que as pessoas são mais ou menos externas em função do contexto, ou da situação, a que se aplica o questionário. Esta hipótese reforça a convicção de que, provavelmente; a- as pessoas são mais ou menos internas versus externas consoante as dimensões, contextos, ou situações; b- as pessoas tendem a variar, quanto ao Locus-de-Controlo, ao longo de um contínuo de externalidade versus internalidade, tal como na proposta original de Rotter. Noutro estudo com uma escala de avaliação do Locus-de-Controlo no contexto específico de saúde, Boyle e Harrison13 encontraram dois factores que reflectiam as dimensões de internalidade e externalidade, de que são exemplo os seguintes itens: internalidade - se eu ficar doente, isso acontece devido a algo que eu fiz; externalidade- a saúde é, em larga medida, uma questão de sorte. Estes dois itens, um numa formulação interna e outro numa formulação externa, exemplificam os itens que saturam os dois factores que os autores referidos encontraram através da análise factorial. Ambos podem ser representantes de internalidade ou de externalidade consoante o método de classificação dos itens. Se, por exemplo, numa escala de Lickert de 6 posições, variando entre "concordo em absoluto com a afirmação" até "discordo em absoluto da afirmação", um indivíduo responder ao primeiro item que discorda em absoluto, e ao segundo que concorda em absoluto está, em ambos, a representar a dimensão de externalidade. Isto não acontecia no sistema de avaliação de Rotter, que consistia num questionário com resposta de escolha forçada em que o indivíduo tinha de escolher entre um item ou outro. No presente artigo apresentam-se os resultados de um processo de reconstrução de uma escala de avaliação do Locus-de-Controlo de Saúde realizada em dois estudos distintos e complementares: no primeiro procedeu-se à escolha dos itens que deviam ser incluídos na escala, à sua organização aplicação e análise; no segundo aplicou-se e analisou-se a escala resultante do primeiro estudo. Este estudo incluía-se num projecto de 6 investigação que visava identificar factores psicológicos que estavam associados à saúde (e não às doenças)19. MÉTODO Sujeitos No primeiro estudo, a amostra consistiu em 135 sujeitos jovens e saudáveis, 85% do sexo feminino, recrutados entre alunos da universidade do Porto maioritariamente do terceiro ano da universidade. A idade média dos indivíduos do sexo feminino era de 22,5 anos (entre 18 e 30); a idade média dos indivíduos do sexo masculino era de 23,7 anos (entre 20 e 30). No segundo estudo recorreu-se a uma amostra intencional que abrangeu 609 estudantes saudáveis, 53% do sexo feminino, entre os 11º ano de escolaridade e último ano da universidade, pertencentes a três escolas secundárias de zonas diferentes da cidade do Porto, e a nove escolas da Universidade do Porto, com idades entre os 16 e 30 anos. Os estudantes do 11º ano de escolaridade foram escolhidos de entre os que, pelo seu comportamento escolar, tal como era percebido pelos professores, tinham alta probabilidade de aceder à universidade. Este procedimento permitiria considerar este grupo como pré-universitário. Material O primeiro passo da construção do questionário consistiu na escolha dos items a incluir na escala. Foram escolhidos entre os itens das seguintes escalas: Health Locus of Control Scale18; Multidimensional Health Locus of Control Scales20; Health-Specific Locus-of-Control 16. Muitos dos itens repetiam-se nas diferentes escalas embora a sua redacção não fosse exactamente igual, por vezes estavam formulados na primeira pessoa, outras vezes de forma impessoal. Na tradução escolheu-se a forma impessoal para todos os itens. Foram produzidos 39 itens pertencentes às várias sub-escalas que constituíam os 7 instrumentos referidos. A resposta é dada numa escala tipo Lickert de sete posições que pode ser vista em anexo Processo de construção Cada vez que se utiliza um instrumento de avaliação de personalidade, ele deve ser colocado em questão. Uma nova população tem características diferentes das populações anteriores levando-nos a questionar se o instrumento utilizado avalia os construtos que se pretende, ou seja, a questionar a validade do instrumento. Ora não parece possível nem desejável, nem sequer de bom senso, verificar as propriedades psicométricas de um instrumento cada vez que ele é utilizado. Mas se a asserção anterior é verdadeira quando nos referimos a instrumentos que foram estudados com amostras provenientes da mesma população, ela já não o é quando se estão a utilizar instrumentos que foram construídos e estudados para outras populações e, principalmente, noutro idioma. Neste caso, o problema da língua é particularmente importante porque o processo de tradução é susceptível de alterar o sentido original de cada frase; mesmo quando a tradução é perfeita pode tomar um sentido completamente diferente no idioma para que é traduzido. Pelas razões aduzidas, considerou-se que a adaptação de um instrumento e o consequente processo de tradução são um processo de reconstrução muito semelhante ao processo de construção. Procedimento Os passos dados na reconstrução da escala foram os seguintes: 1-escolha da poule de itens a incluir no questionário; 2- tradução dos itens; 2.1) tradução pelo autor; 2.2) tradução por uma pessoa cuja língua maternal era a língua do instrumento e a língua de educação fosse a resultante da tradução; 8 3) discussão e comparação do sentido da tradução nas duas línguas. Quando esse sentido era ambíguo, as diversas traduções geradas pelo item original eram incluídas na versão traduzida. 4) avaliação dos itens por especialistas para saber se; 5.1) cada item mede o construto que se propõe medir; 5.2) há outra forma mais simples ou adequada de apresentar o item; 5.3) o formato do conjunto de itens é o mais adequado; 5.4) o tipo de resposta pedido é adequado; 5) reflexão falada com membros da população alvo para identificar se percebiam a expressão do modo que se pretendia; 6) passagem do questionário à população do estudo; 7) análise da distribuição das respostas por item; 8) tratamento psicométrico dos itens. A primeira fase da análise dos itens descrita no ponto 8 baseou-se análise da estrutura factorial da escala. Para esta procedeu-se à Análise de Componentes Principais dos items. Esta é recomendada como primeiro procedimento de análise factorial quando o principal interesse do investigador consiste na redução de um grande número de variáveis a um reduzido número de componentes21, 22 . A escolha da solução factorial tomou em conta os seguintes critérios: a) validade convergente de cada item com o factor que satura. Utilizou-se, como critério para considerar que um item está correlacionado com o factor, ter uma correlação igual ou superior a 0,40 com esse hipotético factor; b) validade discriminante, que é a medida em que um item satura apenas um factor. Utilizou-se como critério que, um item para ter validade discriminante, deve apresentar uma diferença entre as correlações com o factor a que pertence e a correlação seguinte de maior magnitude, de valor igual ou superior a 15 pontos; 9 c) a percentagem da variância total que é explicada por cada solução factorial. Esta percentagem deve ser superior a 50%, embora, como será referido, os instrumentos originais de onde foram retirados os itens, não respeitem esse critério; d) a coerência de cada solução factorial: coerência significa que a análise de conteúdo dos itens que saturam cada factor não apresenta discrepâncias incompatíveis com a solução teórica original; e) o tamanho do questionário: quanto mais pequeno melhor. Perante duas soluções factoriais com as mesmas propriedades psicométricas a que incluísse menor número de itens seria preferida. Esta fase concluiu com a: a) decisão sobre o número de factores e de itens a incluir na escala; b) análise da consistência interna da escala e de cada sub-escala definida pela análise factorial; d) análise da validade de critério da escala e sub-escalas. RESULTADOS Análise factorial No primeiro estudo, com recurso a software SPSS23 versão 4.0, procedeu-se a uma Análise de Componentes Principais (PCA) de todos os 39 itens, com diversas soluções factoriais. A adequação da amostra foi testada com o teste Kaiser-Meyer-Olkin, cujo valor foi de 0,78. Segundo Tabachnick e Fidell22 este valor deve ser superior a 0,60. Foi escolhida uma solução de dois factores proveniente de rotação ortogonal (varimax), conforme a análise dos eigenvalues sugeria. A solução de dois factores explica 43% da variância total. O primeiro factor explica 24,3% da variância total (e 55,9% da variância comum); o segundo factor 19% da variância total (e 44,1% da comum). Para esta solução ficaram na equação 14 itens, dos quais oito pertenciam ao primeiro factor e seis ao segundo. Os factores foram denominados do seguinte modo: o primeiro factor "Locus-de- 10 Controlo" (LC): o segundo "Outros Poderosos" (OP). São exemplos de itens de cada factor: LC-a sorte desempenha um papel importante na quantidade de tempo que uma pessoa leva a recuperar de uma doença; OP-manter contacto regular com o médico é a única maneira de evitar ficar doente. O resultado do somatório dos itens varia entre 14 e 98. O valor mais baixo corresponde ao locus externo e o mais elevado ao locus interno. A resposta é dada numa escala de Lickert de 7 posições. Esta versão da escala foi passada no segundo estudo, tendo-se repetido a ACP com os resultados desta segunda amostra. A solução factorial encontrada com a ACP explicava 41,8% da variância total, com o primeiro factor a explicar 22,1% da variância total e 55,9% da comum, o segundo 19,7% da variância total e 44,1% da comum. No quadro 1 apresenta-se a informação sumária sobre os items que foram conservados, assim como a média e desvio padrão das respostas relativamente a cada item. No quadro só são apresentados valores da carga factorial superiores a 0,40. Quadro 1 Informação sumária sobre os itens de Locus-de-Controlo de saúde, incluindo a carga factorial e distribuição por factores Itens O facto de as pessoas se sentirem bem, ou não, depende, muitas vazes, do acaso As pessoas que nunca adoecem é porque têm muita sorte Em saúde não se pode invocar, nunca, má sorte Recuperar de uma doença não tem nada a ver com a sorte Ter, ou não, boa saúde é, apenas, uma questão de sorte Se uma pessoa tiver cuidado com o que faz consegue evitar muitas doenças Muitas das coisas que afectam a saúde das pessoas são fruto do acaso A sorte desempenha um papel importante na quantidade Factores LC Média DP OP 0,57 2,73 1,39 0,64 0,58 2,54 1,38 4,71 1,66 0,62 2,57 1,42 0,76 1,85 1,02 0,40 1,68 0,66 0,72 2,76 1,59 11 de tempo que uma pessoa leva a recuperar de uma doença Procurar o médico para fazer check-ups regulares é um factor chave para se manter saudável Para se recuperar de uma doença são necessários, essencialmente, bons cuidados médicos Manter contacto regular com o médico é a única maneira de evitar ficar doente No que diz respeito à saúde, as pessoas têm, apenas, de seguir as instruções do seu médico Quando alguém recupera de uma doença é, normalmente, porque algumas pessoas (por ex. o médico ou enfermeira, família, amigos) tomaram bem conta dela Consultarem regularmente um bom médico é a única coisa que se pode fazer para não ter problemas de saúde 0,74 2,47 1,30 0,53 2,03 1,13 0,54 5,34 1,11 0,78 4,89 1,42 0,72 3,64 1,65 0,55 4,28 1,43 0,76 2,50 1,38 Factores- LC- "Locus-de-Controlo"; OP- "Outros Poderosos" Os resultados mostram estabilidade para os valores da solução factorial entre a primeira e segunda passagem, mas o valor da variância total explicada por esta solução é modesto. No entanto a revisão da literatura sobre estudos de análise factorial com estes tipo de escalas apontam para valores idênticos. Na análise realizada por Boyle e Harrison13, com recurso à análise factorial, sobre a escala de Locus-de-Controlo de saúde de Wallston, et al.,18 verificaram que uma solução de três factores explicava 46% da variância total. Gutkin, Robbins e Andrews15 no estudo da mesma escala encontram uma solução de dois factores que explicava 41% da variância total. Collins14, no seu estudo de transformação do tipo de resposta de escolha forçada para escala de Lickert encontrou uma solução de 4 factores que explicavam respectivamente, 29,3%, 25,7%, 24,7% e 20,3%, da variância comum, não apresentando os resultados da variância total. Podemos, assim, concluir que os valores encontrados por este tipo de escalas são idênticos nos diversos estudos. No quadro 2 apresentam-se os valores da correlação entre a escala e sub-escalas desta variável. QUADRO 2 Correlação entre as notas da escala e sub-escalas de Locus-de-Controlo de saúde TOTAL LC OP 12 TOTAL LC OP 0,74 0,67 0,01 LC- Locus-de-Controlo; OP- outros poderosos A correlação entre os resultados dos dois factores mostra que não há correlação entre os dois factores, e valores de correlação sub-escala-escala total, idênticos. Consistência interna A análise da consistência interna - Alfa de Cronbach - da escala e sub-escalas, nos dois estudos, foi a seguinte (o valor entre parentesis refere-se ao valor de alfa encontrado no primeiro estudo): primeiro factor, alfa=0,75 (0,78); segundo alfa=0,74 (0,60). A consistência interna para a escala total, no segundo estudo, foi de alfa=0,69. Segundo Nunnaly24, o valor da consistência interna deve ser superior a 0,60. Comparando estes valor com o de outras escalas que se propõem avaliar o Locus-deControlo de Saúde, verifica-se o seguinte: a escala original de Wallston, et al.,18 apresentava valores de alfa, para três populações diferentes, entre 0,40 e 0,72. Uma revisão de Boyle e Harrison13 da mesma escala, encontra um valor de 0,49 para a consistência interna da escala total. Gutkin, Robbins e Andrews15 utilizando a mesma escala unidimensional encontraram valores de 0,70 e 0,67. Lau e Ware16 no estudo de construção de uma escala de Locus-de-Controlo de saúde encontraram valores de consistência interna que variavam entre 0,39 e 0,71. Pode-se então concluir que os valores encontrados para a escala apresentada neste estudo são superiores aos de instrumentos semelhantes de língua inglesa. Validade discriminante Procedeu-se à verificação da validade discriminante da escala contra uma escala de avaliação da Auto-Eficácia de Sherer, et al.,25. Para tal realizou-se uma análise factorial 13 (PCA) da totalidade dos itens das duas escalas (62 itens). A distribuiição dos itens fez-se por 15 factores. Apenas em três factores há sobreposição de itens que incluia um item de uma das escala misturado com itens da outra escala. Por outro lado, a correlação entre os resultados das escalas de Locus-de-Controlo de Saúde e da Escala-de-Auto-Eficácia é modesto(r=0,11). A escala de Locus-de-Controlo de Saúde mostrou-se predictora de resultados de saúde, nomeadamente com a percepção geral de saúde (p<0,05) avaliada com General Health Perception Battery do Rand's Health Perceptions Study 26, com os indivíduos mais internos com melhor percepção de saúde. A sub-escala da escala de Locus-de-Controlo de Saúde, "outros poderosos" mostrou-se, igualmente, predictora dos domínios "prevenção" (p <0,01) e protecção" (p <0,05) do questionário de avaliação dos comportamentos/ atitudes pertencente ao Life-Style-Assessment-Questionnaire27. CONCLUSÃO A primeira conclusão a retirar é que a versão resultante deste estudo apresenta propriedades métricas idênticas, ou superiores, às das escalas deste tipo existentes em língua inglesa. No entanto, tal como nas escalas de língua inglesa permanecem algumas questões básicas de que se salienta: a) O Locus-de-Controlo é um constructo unidimensional como Rotter11 defendia, ou, pelo contrário é um constructo multidimensional? b) O tipo de resposta deve ser de escolha forçada como na escala original de Rotter ou deve ser noutro tipo de resposta? c) A contribuição do Locus-de-Controlo para a saúde e as doenças é importante ou, como recentemente afirmavam vários autores28, 29, tem um papel muito menos significativo na predição do comportamentos relacionado com a saúde do que muitas outras variáveis equivalentes? 14 d) Recentemente Rotter30 colocava questões importantes acerca da concepção teórica da natureza dos itens que têm sido utilizados para avaliar o Locus-de-Controlo, nomeadamente defendendo que os itens são amostras de comportamento ao invés de indícios. A ser assim, tem de ser reconsiderada a consistência interna das sub-escalas, a própria existência de sub-escalas e a natureza da nota que resulta da escala. e) Finalmente é importante discutir a importância de se ter um locus interno ou externo. A investigação tende a considerar que a internalidade é uma característica importante mas, por exemplo, Strickland12 explicava que em algumas circunstâncias é mais adequado ser externo do que ser interno. Relativamente à escala neste estudo, é necessário continuar a aperfeiçoar a sua construção, nomeadamente, produzindo mais e melhores itens de modo a que explicação da variância total proporcionada pelos factores resultantes da análise factorial, suba para valores acima dos 50%. BIBLIOGRAFIA: 1-Lowery, B.J. (1981). Misconceptions and limitations of locus of control and the I-E scale. Nursing Research, 30 (5), 294-298. 2-Lau,R. (1982). Origins of health locus of control beliefs. 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Americam Psychologist, 45(4), 489-493. 17 LOCUS DE CONTROLO DE SAÚDE Vai encontrar, a seguir, um conjunto de afirmações acerca da maneira como as pessoas pensam acerca da saúde. À frente de cada afirmação encontra 7 letras (de A a G). Se assinalar a A significa que discorda totalmente da afirmação e que você nunca a faria; se assinalar a letra G significa que concorda totalmente e que corresponde totalmente à sua maneira de pensar. Entre estes dois extremos tem ainda 5 possibilidades (5 letras) de escolha, consoante estiver mais em desacordo ou de acordo com a sua maneira de pensar. Assinale apenas uma das letras. Não há respostas certas ou erradas. Todas as respostas que der são igualmente correctas. Peço-lhe que reflicta bem na resposta que der, de modo que ela expresse a maneira como pensa. 1 A B C D E F G 2 A B C D E F G A B C D E F G A B C D E F G A B C D E F G A B C D E F G A B C D E F G A B C D E F G A B C D E F G A B C D E F G A B C D E F G A B C D E F G A B C D E F G A B C D E F G 3 4 ! " $ # $ 5 % 6 & 7 ' 8 ( % # % 9 ) # 10 * + # ! %, 11 - % . /0 12 1 ) 2 # 13 % 14 3 # # 18 MUITO OBRIGADO PELA SUA COLABORAÇÃO