RECONSTRUÇÃO DE UMA ESCALA DE
LOCUS-DE-CONTROLO DE SAÚDE1 (*)
JOSÉ LUIS PAIS RIBEIRO (**)
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação- Universidade do Porto
Resumo
O presente artigo apresenta a reconstrução de uma escala de avaliação do
Locus-de-Controlo de Saúde. Os itens utilizados foram recolhidos de várias escalas
de língua inglesa que, depois de traduzidos e analisados, e de verificadas as suas
propriedades métricas, deram origem a uma escala de avaliação do Locus-deControlo de Saúde com dois factores. O estudo foi realizado em dois momentos com
duas amostras de estudantes da Universidade do Porto. A consistência interna da
escala mostrou-se satisfatória.
Abstract
Reconstruction of a health locus of control scale
The development of a Health Locus-of-Control Scale is described. Scales have
been developed to tap beliefs that the source of reinforcements for health related
behaviours is primarily internal, a matter of chance or under the control of powerful
others. This scale is based on earlier work, with various health-locus-of-control
scales, developed in English. Two investigations were conducted for the discovery of
factor structure. The results suggested the existence of two factors, internal control
and powerful others. Alpha internal consistency reliability coefficients for factors 1
and 2 scales were .75 and .74.
1 Publicado em: Psiquiatria clínica, 15(4), 1994, pp.207-214,
(*) Esta investigação foi parcialmente subsidiada pela Fundação Calouste Gulbenkian e pelo Instituto
Nacional de Investigação Científica.
(**) Professor Auxiliar da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto
2
INTRODUÇÃO
Recentemente tem crescido o interesse pelo papel de determinadas variáveis de
personalidade no comportamento relacionado com a saúde e com as doenças e, de entre
estas, o Locus-de-controlo tem recebido particular atenção.
Desde 1966, as investigações têm mostrado que o Locus-de-Controlo é um importante
predictor dos resultados de saúde1. Um resumo de Lau2 confirma que um controlo interno
tem sido associado a variáveis consideradas importantes, tanto para o sistema de saúde em
geral, como para o de cuidados de saúde em particular, nomeadamente: conhecimento
acerca das doenças, capacidade para deixar de fumar, capacidade para perder peso,
seguimento adequado das prescrições médicas, uso adequado de métodos de controlo de
natalidade, vacinação, uso de cinto de segurança, prevenção dentária, prever e controlar
crises epilépticas. Para além destes aspectos outras investigações têm demonstrado que ele
está associado a: envelhecimento saudável3; ajustamento à dor4; adopção de
comportamentos de promoção de saúde tais como a redução de peso excessivo5; redução
do consumo de tabaco6; adesão às prescrições médicas7; ajustamento à doença cancerosa8.
É, igualmente, considerada uma variável importante para o desenvolvimento de programas
de intervenção na promoção da saúde9, 10.
Locus-de-Controlo
O Locus-de-Controlo é um constructo nascido no seio da Teoria da Aprendizagem
Social. Define-se como uma característica psicológica que tipifica o grau em que o
indivíduo percebe que o que lhe acontece na vida do dia a dia é consequência das suas
acções e, por isso, pode ser controlado por ele (controlo interno) ou, como não tendo
relação com o seu comportamento e, por isso, está fora do seu controlo (controlo externo).
Como diz Rotter, é a percepção do indivíduo "que um reforço sucede, ou é contingente, ao
3
seu comportamento, versus a percepção, que o reforço é controlado por forças exteriores a
ele e pode ocorrer independentemente da sua acção"11 (p.1). Embora o Locus-de-Controlo
tenha sido concebido como uma característica geral, diversos autores têm defendido que
esta variável pode, e deve, ser considerada em domínios específicos. Por exemplo,
Strickland12, defende a importância de considerar a especificidade do Locus-de-Controlo
no domínio da saúde.
Avaliação do Locus-de-Controlo
Rotter11 defende que o Locus-de-Controlo é uma característica unidimensional que se
representa como um contínuo onde, num extremo, se encontra a internalidade e, no outro,
a externalidade. Rotter construiu uma escala de avaliação desta dimensão que incluía um
conjunto de 23 itens com uma resposta de escolha forçada: o respondente tem de escolher
uma de duas alternativas, a que melhor se lhe aplica, e em que uma das alternativas
reflecte uma orientação interna e a outra externa. A ideia de continuidade entre
internalidade e externalidade tem sido desafiada por diversos autores13-17. Do mesmo
modo, tem sido questionado se o Locus-de-Controlo é uma característica unidimensional
ou multidimensional. Estudos de análise factorial realizados sobre a escala original de
Rotter têm encontrado diversos factores14 levando os autores a afirmar que ao invés de ser
uma escala unidimensional ela é multidimensional.
Embora o Locus-de-Controlo seja uma característica geral que se aplica a todas as
situações da vida, inúmeros instrumentos têm sido construídos para avaliar o Locus-deControlo em aspectos específicos, como é o caso da saúde.
Uma das primeiras tentativas de construir uma escala para avaliar o Locus-de-Controlo
no contexto específico da saúde deve-se a Wallston et al.,18. Estas escalas divergem da
escala de Rotter no modo de responder aos itens, utilizando, ao invés de uma resposta de
escolha forçada, resposta numa escala tipo Lickert.
4
Uma questão que se coloca é a de saber se as duas estratégias de avaliação do Locusde-Controlo, resposta de escolha forçada como na escala de Rotter, ou resposta em escala
tipo Lickert, chegam aos mesmos resultados. Collins14 respondeu a essa questão:
Converteu os 23 itens de escolha forçada da escala de Rotter (cada item tem duas
afirmações antagónicas das quais é forçada a escolha de uma) numa escala em que cada
afirmação passa a item, dando assim origem a uma escala com 46 itens com resposta tipo
Lickert. Passou as duas escalas (uma com os 46 itens e resposta tipo Lickert e outra com a
formulação original de Rotter, com 23 itens de escolha forçada), a uma população de 300
estudantes da universidade de Wisconsin.
A autora verificou, através da análise estatística, que os respondentes eram
classificados da mesma maneira através de uma ou de outra forma de resposta, concluindo
que: "os formatos de resposta de escolha forçada e de Lickert são, do ponto de vista
empírico, e na essência, idênticos" (p.382). A análise de Collins sobre a escala original de
Rotter encontrou duas dimensões distintas, ao longo das quais os indivíduos podem variar
nas atribuições de causalidade, a saber:
a) predictibilidade dos acontecimentos versus sorte e,
b) atribuições situacionais versus pessoais.
A primeira reflecte a medida em que as pessoas acreditam que o que acontece está
subordinado a algum padrão de regularidade, por leis e, por isso, é controlável ou se, pelo
contrário, é imprevisível e, por isso, incontrolável. Na segunda as pessoas podem variar
quanto à medida em que acreditam que as coisas boas ou más dependem deles ou, pelo
contrário, dependem de outras pessoas ou de outros aspectos que não controlam. As duas
dimensões podem ser consideradas como dois eixos que, sendo cruzados, dão origem a
quatro quadrantes. Na sua investigação, Collins, encontra quatro factores que confirmam
estes quatro quadrantes, embora nestes quatro factores identifique uma característica de
externalidade versus internalidade comum a todos. A internalidade versus externalidade,
consoante o factor em que se encontra, não se correlaciona com as outras internalidades ou
5
externalidades de outros factores. Isto pode significar que as pessoas são mais ou menos
externas em função do contexto, ou da situação, a que se aplica o questionário. Esta
hipótese reforça a convicção de que, provavelmente;
a- as pessoas são mais ou menos internas versus externas consoante as dimensões,
contextos, ou situações;
b- as pessoas tendem a variar, quanto ao Locus-de-Controlo, ao longo de um contínuo
de externalidade versus internalidade, tal como na proposta original de Rotter.
Noutro estudo com uma escala de avaliação do Locus-de-Controlo no contexto
específico de saúde, Boyle e Harrison13 encontraram dois factores que reflectiam as
dimensões de internalidade e externalidade, de que são exemplo os seguintes itens:
internalidade - se eu ficar doente, isso acontece devido a algo que eu fiz;
externalidade- a saúde é, em larga medida, uma questão de sorte.
Estes dois itens, um numa formulação interna e outro numa formulação externa,
exemplificam os itens que saturam os dois factores que os autores referidos encontraram
através da análise factorial. Ambos podem ser representantes de internalidade ou de
externalidade consoante o método de classificação dos itens. Se, por exemplo, numa escala
de Lickert de 6 posições, variando entre "concordo em absoluto com a afirmação" até
"discordo em absoluto da afirmação", um indivíduo responder ao primeiro item que
discorda em absoluto, e ao segundo que concorda em absoluto está, em ambos, a
representar a dimensão de externalidade. Isto não acontecia no sistema de avaliação de
Rotter, que consistia num questionário com resposta de escolha forçada em que o
indivíduo tinha de escolher entre um item ou outro.
No presente artigo apresentam-se os resultados de um processo de reconstrução de
uma escala de avaliação do Locus-de-Controlo de Saúde realizada em dois estudos
distintos e complementares: no primeiro procedeu-se à escolha dos itens que deviam ser
incluídos na escala, à sua organização aplicação e análise; no segundo aplicou-se e
analisou-se a escala resultante do primeiro estudo. Este estudo incluía-se num projecto de
6
investigação que visava identificar factores psicológicos que estavam associados à saúde
(e não às doenças)19.
MÉTODO
Sujeitos
No primeiro estudo, a amostra consistiu em 135 sujeitos jovens e saudáveis, 85% do
sexo feminino, recrutados entre alunos da universidade do Porto maioritariamente do
terceiro ano da universidade. A idade média dos indivíduos do sexo feminino era de 22,5
anos (entre 18 e 30); a idade média dos indivíduos do sexo masculino era de 23,7 anos
(entre 20 e 30).
No segundo estudo recorreu-se a uma amostra intencional que abrangeu 609
estudantes saudáveis, 53% do sexo feminino, entre os 11º ano de escolaridade e último ano
da universidade, pertencentes a três escolas secundárias de zonas diferentes da cidade do
Porto, e a nove escolas da Universidade do Porto, com idades entre os 16 e 30 anos. Os
estudantes do 11º ano de escolaridade foram escolhidos de entre os que, pelo seu
comportamento escolar, tal como era percebido pelos professores, tinham alta
probabilidade de aceder à universidade. Este procedimento permitiria considerar este
grupo como pré-universitário.
Material
O primeiro passo da construção do questionário consistiu na escolha dos items a
incluir na escala. Foram escolhidos entre os itens das seguintes escalas: Health Locus of
Control Scale18; Multidimensional Health Locus of Control Scales20; Health-Specific
Locus-of-Control
16.
Muitos dos itens repetiam-se nas diferentes escalas embora a sua
redacção não fosse exactamente igual, por vezes estavam formulados na primeira pessoa,
outras vezes de forma impessoal. Na tradução escolheu-se a forma impessoal para todos os
itens. Foram produzidos 39 itens pertencentes às várias sub-escalas que constituíam os
7
instrumentos referidos. A resposta é dada numa escala tipo Lickert de sete posições que
pode ser vista em anexo
Processo de construção
Cada vez que se utiliza um instrumento de avaliação de personalidade, ele deve ser
colocado em questão. Uma nova população tem características diferentes das populações
anteriores levando-nos a questionar se o instrumento utilizado avalia os construtos que se
pretende, ou seja, a questionar a validade do instrumento. Ora não parece possível nem
desejável, nem sequer de bom senso, verificar as propriedades psicométricas de um
instrumento cada vez que ele é utilizado. Mas se a asserção anterior é verdadeira quando
nos referimos a instrumentos que foram estudados com amostras provenientes da mesma
população, ela já não o é quando se estão a utilizar instrumentos que foram construídos e
estudados para outras populações e, principalmente, noutro idioma. Neste caso, o
problema da língua é particularmente importante porque o processo de tradução é
susceptível de alterar o sentido original de cada frase; mesmo quando a tradução é perfeita
pode tomar um sentido completamente diferente no idioma para que é traduzido. Pelas
razões aduzidas, considerou-se que a adaptação de um instrumento e o consequente
processo de tradução são um processo de reconstrução muito semelhante ao processo de
construção.
Procedimento
Os passos dados na reconstrução da escala foram os seguintes:
1-escolha da poule de itens a incluir no questionário;
2- tradução dos itens; 2.1) tradução pelo autor; 2.2) tradução por uma pessoa cuja
língua maternal era a língua do instrumento e a língua de educação fosse a resultante da
tradução;
8
3) discussão e comparação do sentido da tradução nas duas línguas. Quando esse
sentido era ambíguo, as diversas traduções geradas pelo item original eram incluídas na
versão traduzida.
4) avaliação dos itens por especialistas para saber se; 5.1) cada item mede o
construto que se propõe medir; 5.2) há outra forma mais simples ou adequada de
apresentar o item; 5.3) o formato do conjunto de itens é o mais adequado; 5.4) o tipo de
resposta pedido é adequado;
5) reflexão falada com membros da população alvo para identificar se percebiam a
expressão do modo que se pretendia;
6) passagem do questionário à população do estudo;
7) análise da distribuição das respostas por item;
8) tratamento psicométrico dos itens.
A primeira fase da análise dos itens descrita no ponto 8 baseou-se análise da estrutura
factorial da escala. Para esta procedeu-se à Análise de Componentes Principais dos items.
Esta é recomendada como primeiro procedimento de análise factorial quando o principal
interesse do investigador consiste na redução de um grande número de variáveis a um
reduzido número de componentes21, 22 . A escolha da solução factorial tomou em conta os
seguintes critérios:
a) validade convergente de cada item com o factor que satura. Utilizou-se, como
critério para considerar que um item está correlacionado com o factor, ter uma correlação
igual ou superior a 0,40 com esse hipotético factor;
b) validade discriminante, que é a medida em que um item satura apenas um factor.
Utilizou-se como critério que, um item para ter validade discriminante, deve apresentar
uma diferença entre as correlações com o factor a que pertence e a correlação seguinte de
maior magnitude, de valor igual ou superior a 15 pontos;
9
c) a percentagem da variância total que é explicada por cada solução factorial. Esta
percentagem deve ser superior a 50%, embora, como será referido, os instrumentos
originais de onde foram retirados os itens, não respeitem esse critério;
d) a coerência de cada solução factorial: coerência significa que a análise de
conteúdo dos itens que saturam cada factor não apresenta discrepâncias incompatíveis com
a solução teórica original;
e) o tamanho do questionário: quanto mais pequeno melhor. Perante duas soluções
factoriais com as mesmas propriedades psicométricas a que incluísse menor número de
itens seria preferida.
Esta fase concluiu com a:
a) decisão sobre o número de factores e de itens a incluir na escala;
b) análise da consistência interna da escala e de cada sub-escala definida pela
análise factorial;
d) análise da validade de critério da escala e sub-escalas.
RESULTADOS
Análise factorial
No primeiro estudo, com recurso a software SPSS23 versão 4.0, procedeu-se a uma
Análise de Componentes Principais (PCA) de todos os 39 itens, com diversas soluções
factoriais. A adequação da amostra foi testada com o teste Kaiser-Meyer-Olkin, cujo valor
foi de 0,78. Segundo Tabachnick e Fidell22 este valor deve ser superior a 0,60. Foi
escolhida uma solução de dois factores proveniente de rotação ortogonal (varimax),
conforme a análise dos eigenvalues sugeria. A solução de dois factores explica 43% da
variância total. O primeiro factor explica 24,3% da variância total (e 55,9% da variância
comum); o segundo factor 19% da variância total (e 44,1% da comum). Para esta solução
ficaram na equação 14 itens, dos quais oito pertenciam ao primeiro factor e seis ao
segundo. Os factores foram denominados do seguinte modo: o primeiro factor "Locus-de-
10
Controlo" (LC): o segundo "Outros Poderosos" (OP). São exemplos de itens de cada
factor:
LC-a sorte desempenha um papel importante na quantidade de tempo que uma
pessoa leva a recuperar de uma doença;
OP-manter contacto regular com o médico é a única maneira de evitar ficar doente.
O resultado do somatório dos itens varia entre 14 e 98. O valor mais baixo corresponde
ao locus externo e o mais elevado ao locus interno. A resposta é dada numa escala de
Lickert de 7 posições.
Esta versão da escala foi passada no segundo estudo, tendo-se repetido a ACP com os
resultados desta segunda amostra. A solução factorial encontrada com a ACP explicava
41,8% da variância total, com o primeiro factor a explicar 22,1% da variância total e
55,9% da comum, o segundo 19,7% da variância total e 44,1% da comum. No quadro 1
apresenta-se a informação sumária sobre os items que foram conservados, assim como a
média e desvio padrão das respostas relativamente a cada item. No quadro só são
apresentados valores da carga factorial superiores a 0,40.
Quadro 1
Informação sumária sobre os itens de Locus-de-Controlo de
saúde, incluindo a carga factorial e distribuição por factores
Itens
O facto de as pessoas se sentirem bem, ou não,
depende, muitas vazes, do acaso
As pessoas que nunca adoecem é porque têm
muita sorte
Em saúde não se pode invocar, nunca, má sorte
Recuperar de uma doença não tem nada a ver
com a sorte
Ter, ou não, boa saúde é, apenas, uma questão
de sorte
Se uma pessoa tiver cuidado com o que faz
consegue evitar muitas doenças
Muitas das coisas que afectam a saúde das pessoas
são fruto do acaso
A sorte desempenha um papel importante na quantidade
Factores
LC
Média DP
OP
0,57
2,73 1,39
0,64
0,58
2,54 1,38
4,71 1,66
0,62
2,57 1,42
0,76
1,85 1,02
0,40
1,68 0,66
0,72
2,76 1,59
11
de tempo que uma pessoa leva a recuperar de uma doença
Procurar o médico para fazer check-ups regulares é
um factor chave para se manter saudável
Para se recuperar de uma doença são necessários,
essencialmente, bons cuidados médicos
Manter contacto regular com o médico é a única
maneira de evitar ficar doente
No que diz respeito à saúde, as pessoas têm, apenas,
de seguir as instruções do seu médico
Quando alguém recupera de uma doença é, normalmente,
porque algumas pessoas (por ex. o médico ou enfermeira,
família, amigos) tomaram bem conta dela
Consultarem regularmente um bom médico é a única coisa
que se pode fazer para não ter problemas de saúde
0,74
2,47 1,30
0,53
2,03 1,13
0,54
5,34 1,11
0,78
4,89 1,42
0,72
3,64 1,65
0,55
4,28 1,43
0,76
2,50 1,38
Factores- LC- "Locus-de-Controlo"; OP- "Outros Poderosos"
Os resultados mostram estabilidade para os valores da solução factorial entre a
primeira e segunda passagem, mas o valor da variância total explicada por esta solução é
modesto. No entanto a revisão da literatura sobre estudos de análise factorial com estes
tipo de escalas apontam para valores idênticos. Na análise realizada por Boyle e
Harrison13, com recurso à análise factorial, sobre a escala de Locus-de-Controlo de saúde
de Wallston, et al.,18 verificaram que uma solução de três factores explicava 46% da
variância total. Gutkin, Robbins e Andrews15 no estudo da mesma escala encontram uma
solução de dois factores que explicava 41% da variância total. Collins14, no seu estudo de
transformação do tipo de resposta de escolha forçada para escala de Lickert encontrou uma
solução de 4 factores que explicavam respectivamente, 29,3%, 25,7%, 24,7% e 20,3%, da
variância comum, não apresentando os resultados da variância total. Podemos, assim,
concluir que os valores encontrados por este tipo de escalas são idênticos nos diversos
estudos.
No quadro 2 apresentam-se os valores da correlação entre a escala e sub-escalas desta
variável.
QUADRO 2
Correlação entre as notas da escala e sub-escalas de Locus-de-Controlo de saúde
TOTAL
LC
OP
12
TOTAL
LC
OP
0,74
0,67
0,01
LC- Locus-de-Controlo; OP- outros poderosos
A correlação entre os resultados dos dois factores mostra que não há correlação entre
os dois factores, e valores de correlação sub-escala-escala total, idênticos.
Consistência interna
A análise da consistência interna - Alfa de Cronbach - da escala e sub-escalas, nos dois
estudos, foi a seguinte (o valor entre parentesis refere-se ao valor de alfa encontrado no
primeiro estudo): primeiro factor, alfa=0,75 (0,78); segundo alfa=0,74 (0,60). A
consistência interna para a escala total, no segundo estudo, foi de alfa=0,69. Segundo
Nunnaly24, o valor da consistência interna deve ser superior a 0,60.
Comparando estes valor com o de outras escalas que se propõem avaliar o Locus-deControlo de Saúde, verifica-se o seguinte: a escala original de Wallston, et al.,18
apresentava valores de alfa, para três populações diferentes, entre 0,40 e 0,72. Uma revisão
de Boyle e Harrison13 da mesma escala, encontra um valor de 0,49 para a consistência
interna da escala total. Gutkin, Robbins e Andrews15 utilizando a mesma escala
unidimensional encontraram valores de 0,70 e 0,67. Lau e Ware16 no estudo de construção
de uma escala de Locus-de-Controlo de saúde encontraram valores de consistência interna
que variavam entre 0,39 e 0,71. Pode-se então concluir que os valores encontrados para a
escala apresentada neste estudo são superiores aos de instrumentos semelhantes de língua
inglesa.
Validade discriminante
Procedeu-se à verificação da validade discriminante da escala contra uma escala de
avaliação da Auto-Eficácia de Sherer, et al.,25. Para tal realizou-se uma análise factorial
13
(PCA) da totalidade dos itens das duas escalas (62 itens). A distribuiição dos itens fez-se
por 15 factores. Apenas em três factores há sobreposição de itens que incluia um item de
uma das escala misturado com itens da outra escala. Por outro lado, a correlação entre os
resultados das escalas de Locus-de-Controlo de Saúde e da Escala-de-Auto-Eficácia é
modesto(r=0,11).
A escala de Locus-de-Controlo de Saúde mostrou-se predictora de resultados de saúde,
nomeadamente com a percepção geral de saúde (p<0,05) avaliada com General Health
Perception Battery do Rand's Health Perceptions Study
26,
com os indivíduos mais
internos com melhor percepção de saúde. A sub-escala da escala de Locus-de-Controlo de
Saúde, "outros poderosos" mostrou-se, igualmente, predictora dos domínios "prevenção"
(p <0,01) e protecção" (p <0,05) do questionário de avaliação dos comportamentos/
atitudes pertencente ao Life-Style-Assessment-Questionnaire27.
CONCLUSÃO
A primeira conclusão a retirar é que a versão resultante deste estudo apresenta
propriedades métricas idênticas, ou superiores, às das escalas deste tipo existentes em
língua inglesa. No entanto, tal como nas escalas de língua inglesa permanecem algumas
questões básicas de que se salienta:
a) O Locus-de-Controlo é um constructo unidimensional como Rotter11 defendia, ou,
pelo contrário é um constructo multidimensional?
b) O tipo de resposta deve ser de escolha forçada como na escala original de Rotter ou
deve ser noutro tipo de resposta?
c) A contribuição do Locus-de-Controlo para a saúde e as doenças é importante ou,
como recentemente afirmavam vários autores28,
29,
tem um papel muito menos
significativo na predição do comportamentos relacionado com a saúde do que muitas
outras variáveis equivalentes?
14
d) Recentemente Rotter30 colocava questões importantes acerca da concepção teórica
da natureza dos itens que têm sido utilizados para avaliar o Locus-de-Controlo,
nomeadamente defendendo que os itens são amostras de comportamento ao invés de
indícios. A ser assim, tem de ser reconsiderada a consistência interna das sub-escalas, a
própria existência de sub-escalas e a natureza da nota que resulta da escala.
e) Finalmente é importante discutir a importância de se ter um locus interno ou
externo. A investigação tende a considerar que a internalidade é uma característica
importante mas, por exemplo, Strickland12 explicava que em algumas circunstâncias é
mais adequado ser externo do que ser interno.
Relativamente à escala neste estudo, é necessário continuar a aperfeiçoar a sua
construção, nomeadamente, produzindo mais e melhores itens de modo a que explicação
da variância total proporcionada pelos factores resultantes da análise factorial, suba para
valores acima dos 50%.
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17
LOCUS DE CONTROLO DE SAÚDE
Vai encontrar, a seguir, um conjunto de afirmações acerca da maneira como as pessoas
pensam acerca da saúde. À frente de cada afirmação encontra 7 letras (de A a G). Se
assinalar a A significa que discorda totalmente da afirmação e que você nunca a faria; se
assinalar a letra G significa que concorda totalmente e que corresponde totalmente à sua
maneira de pensar. Entre estes dois extremos tem ainda 5 possibilidades (5 letras) de
escolha, consoante estiver mais em desacordo ou de acordo com a sua maneira de
pensar. Assinale apenas uma das letras. Não há respostas certas ou erradas. Todas as
respostas que der são igualmente correctas. Peço-lhe que reflicta bem na resposta que
der, de modo que ela expresse a maneira como pensa.
1
A
B
C
D
E
F
G
2
A
B
C
D
E
F
G
A
B
C
D
E
F
G
A
B
C
D
E
F
G
A
B
C
D
E
F
G
A
B
C
D
E
F
G
A
B
C
D
E
F
G
A
B
C
D
E
F
G
A
B
C
D
E
F
G
A
B
C
D
E
F
G
A
B
C
D
E
F
G
A
B
C
D
E
F
G
A
B
C
D
E
F
G
A
B
C
D
E
F
G
3
4
!
"
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#
$
5
%
6
&
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8
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9
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11
-
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.
/0
12
1
)
2
#
13
%
14
3
#
#
18
MUITO OBRIGADO PELA SUA COLABORAÇÃO
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locus de controlo de saúde