a escola e o mundo do trabalho XVII colóquio afirse secção portuguesa SILVA, Maria de Fátima Gomes da ([email protected]) Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto RESUMO Esta comunicação reflecte sobre as possibilidades de vivência da interdisciplinaridade no âmbito do trabalho na escola. As reflexões aqui fomentadas estão ancoradas por uma epistemologia da interdisciplinaridade, assente no pensamento complexo. Assim sendo, recorre-se às ideias de Morin, quando este levanta alguns princípios que considera pertinentes à educação do futuro1, ou seja, o da pertinência no conhecimento, o da inteligência geral e o da disjunção e especialização fechada. No âmbito desses princípios apontados por Morin, reflecte-se, neste trabalho, sobre a importância de se ter presente o contexto, o global, o multifuncional, e o complexo relativamente ao trabalho na escola, e sobre os prejuízos causados ao trabalho dos professores e alunos que ainda regem-se pelos princípios da disjunção e da especialização fechada. PALAVRAS-CHAVE: Interdisciplinaridade, complexidade, trabalho na escola. 1- Algumas reflexões sobre os princípios da pertinência no conhecimento, da inteligência geral e da disjunção e especialiazão fechada Relativamente às possibilidades de se ter presente a vivência da interdisciplinaridade, no âmbito do trabalho na escola, tendo por princípio a pertinência no conhecimento, é de referir que nessa era planetária o trabalho dos alunos e dos professores precisa de ter em conta o contexto global, o multidimensional e o complexo. Com relação ao princípio da inteligência geral, é de referir que na actualidade, é imprescindível que os professores e os alunos percebam, pelas vias do trabalho na escola, que as realidades globais e complexas se vistas por um único ângulo, fragmenta-se e desenraíza-se. Daí a importância de que a escola, enquanto um espaço de organização do trabalho, incite os professores e os alunos a fortalecerem a percepção relativamente aos fenómenos sociais. MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. 9ªEd. São Paulo: Cortez; Brasília,DF: UNESCO, 2004, pp. 35-46. 1 a escola e o mundo do trabalho XVII colóquio afirse secção portuguesa Com relação à vivência da interdisciplinaridade, na esfera do trabalho na escola, tendo por princípio a disjunção e especialização fechada, infere-se que faz-se necessário reflectir sobre os prejuízos causados ao trabalho dos professores e dos alunos que ainda regem-se por esse princípio, pois este, uma vez presente no trabalho na escola, impede tanto a percepção do global (que ela fragmenta em parcelas), quanto do essencial (que ela dissolve), uma vez que o trabalho na escola nos ensinou a separar, a compartimentar e a isolar e, não, a unir os conhecimentos, e assim, “(...) o conjunto deles constitui um quebracabeças ininteligível. (...) A incapacidade de organizar o saber disperso e compartimentado conduz à atrofia da disposição mental natural de contextualizar e de globalizar” ( ibidem, p. 43). É, pois, com base nessas primeiras reflexões, que sustentam-se os sub-itens a seguir, ou seja, na continuidade deste trabalho, traz-se à reflexão a importância de conduzir-se o trabalho na escola considerando o contexto, o global, o multidimensional e o complexo e procura-se atentar para os prejuízos causados ao trabalho dos professores e alunos que ainda regem- se pelos princípios da disjunção e da especialização fechada. 2- O Contexto, o Global, o Multifuncional e o Complexo Conforme foi atrás referido, nessa era planetária, o trabalho dos professores e dos alunos precisa de ter em conta o contexto, o global, o multidimensional e o complexo. No entanto, a esse propósito, indaga Morin (2004: 35): “Como é possivel perceber o Contexto, o Global (a relação todo/partes), o Multidimensional, o Complexo? E a este questionamento, o próprio Morin responde afirmando que, “para articular e organizar os conhecimentos e assim reconhecer e conhecer os problemas do mundo é necessária a reforma do pensamento”. (ibidem: ibidem). Para Morin (2001: 92), A exigida reforma do pensamento vai gerar um pensamento do contexto e do complexo. Vai gerar um pensamento que liga e enfrenta a incerteza. O pensamento que une substituirá a causalidade em círculo e multirreferencial; corrigirá a rigidez da lógica clássica pelo diálogo capaz de conceber noções ao mesmo tempo complementares e antagonistas, e completará o conhecimento da integração Maria Silva “O trabalho na escola sob a égide da Interdisciplinaridade” a escola e o mundo do trabalho XVII colóquio afirse secção portuguesa das partes em um todo, pelo reconhecimento da integração do todo no interior das partes. Nessa óptica, ou seja, no sentido de ter-se em conta o contexto, o global, o multidimensional e o complexo é que deverá guiar-se a educação do futuro2, pois é ao considerar esse espectro, que a educação torna-se pertinente (ibidem). Relativamente ao contexto, é de referir que o trabalho na escola, se desarticulado do contexto não tem sentido, ou seja, “o conhecimento das informações ou dos dados isolados é insuficiente” (ibidem: 36). Mais ainda, (…) para ter sentido, a palavra necessita do texto, que é o próprio contexto no qual se enuncia” (ibidem: ibidem). Nesse âmbito, também Freire (1989: 8), refere que, “(…) a leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica, implica a percepção das relações entre o texto e o contexto (…)”. Desse modo, Freire aponta para a importância dos sujeitos sociais dizerem a própria palavra. Isto dito de outra forma e nos meandros destas reflexões, implica dizer que é preciso que se tenha presente que o trabalho na escola, deverá “traduzir”, de facto, a “palavra” do aluno sem descurar, obviamente, do viés científico que essa “palavra” deverá ter, pois ao fazer a leitura do mundo ou do contexto, os professores e os alunos estarão, de certa forma, imbricados a avançarem nessa “leitura”, no sentido de que, uma vez contextualizada, essa palavra possa também ser dita de forma evolutiva e científica, materializando-se, por assim dizer, em práticas educativas interdisciplinares que possibilitem aos professores e aos alunos, saírem do ostracismo e isolacionismo em que tem sido realizado o trabalho na escola, pois isto só atrofia e reduz a capacidade de pensar. Reitera-se que é imprescindível que o trabalho na escola considere o contexto e que aconteça de forma global sob a égide da interdisciplinaridade interpelante ou históricodialéctica3, tendo em conta que o “(…) o global é mais que o contexto, é o conjunto das Para Morin (2004: 36), a educação do futuro confronta-se com a “inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre, de um lado, os saberes desunidos, divididos, compartimentados e, de outro, as realidades ou problemas cada vez mais multidisciplinares, transversais, multidimensionais, transversais, transnacionais, globais e planetários”. 2 A interdisciplinaridade interpelante ou histórico-dialéctica implica repensar, redescobir e reconceptualizar a realidade social, recuperando assim as vozes daqueles que foram silenciados por não fazerem parte dos interesses das classes hegemónicas 3 Maria Silva “O trabalho na escola sob a égide da Interdisciplinaridade” a escola e o mundo do trabalho XVII colóquio afirse secção portuguesa diversas partes ligadas a ele de modo inter-retroativo ou organizacional” (ibidem:37). A interdisciplinaridade interpelante ou histórico-dialéctica, considera que “(…) o todo tem qualidades ou propriedades que não são encontradas nas partes, se estas estiverem isoladas uma das outras, e certas qualidades ou propriedades das partes podem ser inibidas pelas restrições provenientes do todo”. (ibidem: 37). A seguir essa ordem de ideias, é de referir que é preciso recompor o todo, mas como fazer isto relativamente ao trabalho na escola? Como fazer isto de forma que os professores do ensino básico e também os professores e pesquisadores nas academias compreendam que a vivência de práticas educativas interdisciplinares, quer sejam na escola do ensino básico, quer sejam no ensino superior, não consiste apenas em uma simples integração de áreas. Com base nessas reflexões, é de referir que é necessário que o trabalho na escola oriente-se também pelas relações entre o todo e as partes, ou seja, que leve em consideração o global, pois “o global é mais que o contexto, é o conjunto das diversas partes ligadas a ele de modo inter-retroativo ou organizacional” (ibidem: ibidem). E, assim sendo, “(…) uma sociedade é mais que um contexto: é o todo organizador de que fazemos parte (…)” (ibidem: ibidem). Mais ainda, (…) o todo tem qualidades ou propriedades que não são encontradas nas partes, se estas estiverem isoladas umas das outras, e certas qualidades ou propriedades das partes, podem ser inibidas pelas restrições provenientes do todo (…)” (ibidem: ibidem). Na sequência dessas reflexões, ressalta-se que o trabalho na escola deverá fazer uma interpelação relativamente às relações entre o todo e as partes, pois do contrário, este estará fadado a um saber disciplinar e à simplificação do pensamento dos professsores e dos alunos que, nesse caso, actuam, muitas vezes, como meros reprodutores do pensamento de outrem que, para além de descontextualizado, não é pertinente e não liga o conhecimento das partes ao conhecimento do todo e , assim sendo, é reducionista. Uma outra forma de reflectir sobre a importância de se considerar o global nos meandros do trabalho na escola, é entender esse trabalho como um processo dialéctico. E, nesse sentido, é de referir que o termo dialéctica sugere diálogo ou discussão argumentativa, que estão a conduzir a sociedade. Nesse processo, há uma interpelação dos diversos saberes e, dessa forma, considera-se o contexto, o global, o multifuncional e o complexo em que esses saberes estão inseridos. Maria Silva “O trabalho na escola sob a égide da Interdisciplinaridade” a escola e o mundo do trabalho XVII colóquio afirse secção portuguesa resultando numa unidade ou consenso de posições anteriormente antagónicas e susceptíveis de novos e possíveis contrapontos. Daí que o trabalho na escola, sob a égide da interdisciplinaridade, que vislumbre a possiblidade de estabelecer ligações entre o conhecimento das partes ao conhecimento do todo, deverá ter em conta esse processo diálectico e dialógico sob forma a ser global e pertinente. Ao considerar a importância de ser o trabalho na escola contextualizado e global, é também de referir que este deverá ser multifuncional, uma vez que o ser humano e a sociedade são multidimensionais, ou seja, “(…) o ser humano é ao mesmo tempo biológico, psíquico, social, afetivo e racional (…)”(ibidem: ibidem). Portanto, sendo o ser humano e a sociedade unidades complexas, considera-se que o trabalho na escola deverá ter presente a complexidade e a multifuncionalidade. Isto dito de outra forma, equivale a dizer que o trabalho na escola deverá expressar, de alguma forma, a totalidade do património genético de cada indivíduo e também apresentar relações com a sociedade, pois “(…) a sociedade está presente em cada indivíduo, enquanto todo, através de sua linguagem, sua cultura, suas normas”. (Morin, 2001: 94). A essas relações Morin(2001), chama de princípio “hologrâmico”, o qual, Põe em evidência este aparente paradoxo das organizações complexas, e que não apenas a parte está no todo, como o todo está inscrito na parte. Assim, cada célula é uma parte de um todo – o organismo global -, mas também o todo está na parte: a totalidade do patrimônio genético está presente em cada célula individual(…). É de notar que o trabalho na escola para ser multifuncional e, de facto, conseguir “representar” o contexto dos sujeitos educandos e estabelecer ligações entre o conhecimento das partes ao conhecimento do todo, deverá ter em conta a complexidade, pois o conhecimento pertinente é complexo. A complexide, na opinião de Morin (2004: 38), “é a união entre a unidade e a multiplicidade”. Daí que o trabalho na escola não pode prescindir dessa relação unidade e multiciplicidade, ou dizendo de outra forma, esse trabalho deverá ser eminentemente interdisciplinar, pois a interdisciplinaridade, como refere Pombo (2007) está na ordem do dia4, ou seja, “(…) o progresso do conhecimento avançou 4 Entrevista realizada com a Professora Doutora Olga Pombo em 2007. Maria Silva “O trabalho na escola sob a égide da Interdisciplinaridade” a escola e o mundo do trabalho XVII colóquio afirse secção portuguesa de tal maneira que tornou necessária a prática da interdisciplinaridade (…). Nós estamos a desejar a interdisciplinaridade, porque no terreno profundo do conhecimento, ela está na ordem do dia (...)”5 (ibidem) É, portanto, com base nessas ideias de Pombo, que afirma-se ser imprescíndivel ao trabalho na escola a vivência da interdisciplinaridade, pois estando na ordem do dia e sendo vivenciada no trabalho na escola, esta propiciará a construção do conhecimento tendo por referência o contexto, o global o multifuncional e o complexo. Ressalta-se, entretanto, que o conhecimento, uma vez construído sob essa base, evitará, de certa forma, os problemas da disjunção e da especialização fechada, ou seja, os problemas causados por práticas educativas que não possibilitam a integração na problemática global ou na concepção de conjunto dos objectos do qual ela só considera um aspecto ou uma parte. 3- Os prejuízos causados ao trabalho dos professores e alunos que ainda regem-se pelos princípios da disjunção e da especialização fechada. Na sequência destas reflexões, têm-se como objecto de análise, neste sub-item, o que Morin (2004) chamou de “problemas essenciais” à Educação do Futuro, nomeadamente os problemas causados pela disjunção e pela especialização fechada. Relativamente ao trabalho na escola, é de referir que a disjunção e a especialização fechada, têm causado imensos prejuízos, uma vez que a hiperespecialização ou a especialização fechada, “(…) impede tanto a percepção do global (que ela fragmenta em parcelas), quanto do essencial (que ela dissolve)” (ibidem: 41). Assim, reflecte-se a seguir sobre a problemática da cultura da disciplinarização, considerando-se que esta constitui, de certa forma, um dos caminhos para a vivência da interdisciplinaridade no trabalho na escola. 3.1- A cultura da disciplinarização Sabe-se que o conceito de interdisciplinaridade repousa, de certa forma, em um contexto disciplinar, uma vez que a interdisciplinaridade pressupõe a existência de ao menos duas disciplinas como referência e a presença de uma ação recíproca (Silva: 2009). Entretanto, 5 Entrevista realizada com a Professora Doutora Olga Pombo em 2007 Maria Silva “O trabalho na escola sob a égide da Interdisciplinaridade” a escola e o mundo do trabalho XVII colóquio afirse secção portuguesa “o recorte das disciplinas impossibilita apreender “o que está tecido junto”, ou seja, segundo o sentido original do termo, o complexo” (Morin, 2004:41). A cultura da disciplinarização presente no trabalho na escola e nas diversas práticas educativas, tem também a ver com a forma como a escola está organizada. E, nesse sentido, pode dizer-se que a cultura escolar é ainda uma cultura patriarcal em que a disciplinaridade impera, e assim sendo, essa cultura patriarcal, no âmbito da escola, contribui para que, As disciplinas, organizando as “celas”, os “lugares” e as “fileiras” criem espaços complexos: ao mesmo tempo arquiteturais, funcionais e hierárquicos. São espaços que realizam a fixação e permitem a circulação; recortam segmentos individuais e estabelecem ligações operatórias; marcam lugares e indicam valores; garantem a obediência dos indivíduos, mas também uma melhor economia do tempo e dos gestos. São espaços mistos: reais pois que regem a disposição dos edifícios, de salas, de móveis, mas ideais, pois projetam-se sobre essa organização caracterizações, estimativas, hierarquias. A primeira das grandes operações da disciplina é então a constituição de “quadros vivos” que transformam as multidões confusas, inúteis ou perigosas em multiplicidades organizadas” (Foucault, 1999: 126-127). Apreende-se dessas ideias foucaulteanas, três aspectos importantes, ou seja, um que identifica na prática disciplinar a criação de espaços complexos, outro que ver na disciplinarização possibilidades de se “estabelecer ligações operatórias”, e outro que aponta para as possibilidades das disciplinas transformarem “as multidões confusas, inúteis ou perigosas em multiplicidades organizadas”. Observa-se que essas ideias foucaulteanas sobre as disciplinas, parecem apontar para uma direcção inversa e até optimista relativamente à disciplinarização. Se vistas por esse prisma que refere Foucault, as disciplinas passam a conformar o que foi atrás referido, ou seja, à ideia de que a interdisciplinaridade repousa, de certa, forma, num contexto disciplinar. Infere-se, pois, que relativamente ao trabalho na escola, nos meandros desses aspectos destacados do pensamento de Foucault, existe, de certa forma, o que atrás foi denominado Maria Silva “O trabalho na escola sob a égide da Interdisciplinaridade” a escola e o mundo do trabalho XVII colóquio afirse secção portuguesa de uma interdisciplinaridade interpelante, ou seja, se a cultura da disciplinarização incita, de certa forma, à criação de espaços complexos, esses espaços, ainda eu sejam organizados sob a forma de “celas”, “lugares” ou “fileiras”, poderão possibilitar a interpelação dos diversos saberes no trabalho escolar. No entanto, para tal é necessário aos sujeitos educadores e educandos uma atitude interdisciplinar, isto é, faz-se necessário que os professores, compreendam e aceitem partilhar com colegas e alunos os diversos saberes de diferentes contextos, de forma global e complexa. Essa atitude que os professores deverão ter com relação ao trabalho na escola, sob forma a que esse possa ser um processo interpelante relativamente a outros saberes, deverá constituir-se numa “atitude de abertura, não preconceituosa, de acordo com a qual todo o conhecimento é igualmente importante. Pressupõe o anonimato, pois o conhecimento pessoal anula-se frente ao saber universal.” (Fazenda, 1979: 8-9). Mais ainda, É uma atitude coerente, que supõe uma postura única frente aos fatos. É na opinião crítica do outro que fundamenta-se a opinião particular. Somente na intersubjetividade, num regime de copropriedade, de interação, é possível o diálogo, única condição de possibilidade da interdisciplinaridade. Assim sendo, pressupõe uma atitude engajada, um comprometimento pessoal. (ibidem: ibidem). Assim sendo, e ainda na esfera das reflexões sobre as ideias foucaulteanas, indaga-se: Como poderão os professores e os alunos assumirem atitudes interdisciplinares e partilharem os diversos saberes que atravessam o quotidiano escolar ? Estão esses sujeitos educadores e educandos preparados para isso? Obviamente, que a resposta a estas questões, num primeiro momento, seria não. No entanto, para que o trabalho na escola aconteça de forma interdisciplinar e em complexidade, faz-se necessário que os educadores conheçam-se a si mesmos e que exercitem dentro e fora da sala de aula, a reflexão crítica que lhes permita identificar o próprio saber e os saberes entre esse saber que lhes é peculiar com os saberes do outro, pois entende-se que só assim, será possível que o trabalho escolar seja vivenciado em complexidade. A vivência do trabalho escolar em espaços complexos e, portanto, interdisciplinares, aponta para o segundo aspecto que foi destacado do pensamento de Foucault, ou seja, sobre as possibilidades das práticas disciplinares estabelecerem ligações operatórias entre os Maria Silva “O trabalho na escola sob a égide da Interdisciplinaridade” a escola e o mundo do trabalho XVII colóquio afirse secção portuguesa diversas saberes. Reitera-se, entretanto, que essas diversas ligações operatórias que poderão ser estabelecidas entre as disciplinas, no âmbito do trabalho escolar, só poderão acontecer se os sujeitos educadores estiverem preparados e também dispostos a partilharem esses saberes. É, portanto, sob essa perspectiva de partilha e de complexidade, que o trabalho na escola poderá ajudar a transformar “as multidões confusas, inúteis ou perigosas em multiplicidades organizadas”. Isto dito de outra forma, equivale a dizer que poderá o trabalho na escola ajudar a educação a passar de um processo simplificador para um processo complexo e interdisciplinar, pelas vias da disciplinarização, pois embora a cultura da disciplinarização, por um lado, possa atrofiar a disposição mental dos sujeitos educadores de contextualizar e de globalizar relativamente ao trabalho na escola, por outro lado, a disciplinarização poderá resultar, ou seja, poderá trazer para dentro da escola o contexto, o global, o multifuncional e o complexo. Entretanto, para tal, as práticas educativas dentro e fora das salas de aula, deverão estar alicerçadas pelo exercício da interdisciplinaridade interpelante. Bibliografia FAZENDA, Ivani Catarina Arantes (1979). Integração e interdisciplinaridade no Ensino Brasileiro: efetividade ou ideologia. São Paulo: Loyola. FREIRE, Paulo (1989). A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados, Cortez. FOUCAULT, Michel (1999). Vigiar e punir: nascimento da prisão. 20ª ed. Petrópolis: Vozes. MORIN, Edgar (2004). Os sete saberes necessários à educação do futuro. 9ª ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO. MORIN, Edgar (2001). A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 4ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. SILVA, Maria de Fátima Gomes (2009). Para uma ressignificação da interdisciplinaridade na gestão dos currículos em Portugal e no Brasil. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian Maria Silva “O trabalho na escola sob a égide da Interdisciplinaridade”