Editorial Laranjeiras Vol. 1, No 1, dezembro 2002 S U M Á R I O 5 Editorial Artigos Originais AVALIAÇÃO FUNCIONAL DO VENTRÍCULO ESQUERDO EM PACIENTES SUBMETIDOS AO TRANSPLANTE AUTÓLOGO DE MEDULA ÓSSEA Marco Antonio de Mattos, Daniele Gusmão Toledo, Carlos Eduardo de Mattos, Aristarco Gonçalves de Siquiera Filho 6 PERFIL CLÍNICO E ECOCARDIOGRÁFICO DE PACIENTES COM DIAGNÓSTICO DE ENDOCARDITE INFECCIOSA, EM HOSPITAL DE CARDIOLOGIA DE REFERÊNCIA Cynthia Karla Magalhães 11 ANÁLISE DA DENSIDADE DE VOLTAGEM MIOCÁRDICA UTILIZANDO O ELETROCARDIOGRAMA DE SUPERFÍCIE NA HIPERTROFIA VENTRICULAR ESQUERDA Luiz Carlos Bernardino Junior, Paulo Roberto Benchimol Barbosa, Fernanda Bernardes, Jose Barbosa Filho, Ivan Cordovil, Jurandir Nadal 13 PERFIL CLÍNICO E ANGIOGRÁFICO DA DOENÇA ARTERIAL CORONÁRIA EM PACIENTES COM IDADE INFERIOR A 50 ANOS Antônio Sérgio Cordeiro da Rocha; Maria Elisa Matiello; Ademir Batista Cunha; Denise Sena Paris; Felipe José Monassa Pittella; Júlio Cesar Melhado; Maria Luiza Guerra; Suely Bondarovsky; Paulo Roberto Dutra da Silva; 16 ANGIOPLASTIA CORONÁRIA EM PACIENTES OCTOGENÁRIOS Paulo Sergio de Oliveira, Marta Labrunie, Waldir Malheiros, Leonardo Duarte, Sergio Leandro, Norival Romão, André Pessanha, Marcelo Lemos, Paulo Eduardo Kyburz, Maria da Conceição Alves, Marcio Macri, Rafael Lauria de Oliveira. 19 Untitled-1 1 25 ABORDAGEM DIAGNÓSTICA DAS ARRITMIAS CARDÍACAS À BEIRA DO LEITO: ATÉ ONDE PODEMOS CHEGAR? Roberto Luiz Menssing da Silva Sá, Márcio Fagundes; Fernando Cruz Filho e Angela Valverde 28 ESTENOSE AÓRTICA VALVAR – INDICAÇÃO CIRÚRGICA Jacob Fuks 32 SÍNCOPE VASO-VAGAL E TESTE DA MESA DE INCLINAÇÃO Paulo Roberto Benchimol Barbosa, Luís Carlos Bernardino Júnior, José Barbosa Filho, Roberto Luiz Messing de Sá, Ivan Cordovil*. 34 Metodologia Científica DESENHOS DE ESTUDOS: UM GUIA PARA A INVESTIGAÇÃO EM SAÚDE Bernardo Rangel Tura 38 Relato de Caso CIRURGIA DE RASTELLI COM A UTILIZAÇÃO DE HOMOENXERTO PULMONAR CRIOPRESERVADO: RELATO DE CASO . Andrey Monteiro; Rodrigo Barbosa; Milton Meier; Jose Aldrovando. 41 TROMBOSE DE PRÓTESE MITRAL Márcia Barbeito, Wilma Felix, Claudia Cantanheda, Clara Weksler 42 Ponto de Vista DIRETRIZES DE CONDUTAS MÉDICAS (“GUIDELINES”): CAMISA DE FORÇA ? Berdj A Meguerian Revisão É FACTÍVEL O GLENN BIDIRECIONAL COMO PROCEDIMENTO CIRÚRGICO DEFINITIVO EM CARDIOPATIAS COM O VENTRÍCULO DIREITO NÃO FUNCIONANTE? Marco Aurélio Santos; Vitor Manuel Pereira Azevedo. INDICAÇÃO DE REVASCULARIZAÇÃO MIOCÁRDICA NA DOENÇA CORONARIANA CRÔNICA Felipe José Monassa Pittella 21 Regras para publicação 4/6/2004, 17:10 44 Editorial Laranjeiras 2 Untitled-1 2 4/6/2004, 17:10 Editorial Laranjeiras EDITORIAL LARANJEIRAS Vol. 1, No 1, dezembro 2002 REVISTA DO INSTITUTO NACIONAL DE CARDIOLOGIA-RIO DE JANEIRO-RJ EDITORES: Ademir Batista da Cunha Daniel Arcader Kopiler Luis Carlos Simões CONSELHO EDITORIAL Ademir Batista da Cunha, Daniel Arkader Kopiler, Carlos Scherr, Augusto Bozza, Jose Geraldo Amino, Paulo Sérgio de Oliveira, Antônio Sérgio C. Rocha, Paulo Roberto Dutra, Luis Carlos Simões, Helena F. Martino, Clara Weksler, Marco Aurélio dos Santos, Renato Vieira Gomes, Marco Antônio Mattos, Luis Henrique Weitzel, Walmir Barzam, Berdj Meguerian, Luis Eduardo Tessarolo, Roberto Sá, Lílian Faertes Nascimento, Paulo Moura, Ivan Luiz Cordovil de Oliveira, Jose Barbosa Filho, Cynthia Karla Magalhães, Paulo José de Andrade, Ana Carolina Gurgel Câmara, Renato Dias Barreiro Filho, Marcelo Viana Barros. A REVISTA EDITORIAL LARANJEIRAS é editada trimestralmente pelo Centro de Estudos do Instituto Nacional de Cardiologia, Rua das Laranjeiras 374, 12o andar, CEP 22240002 – Rio de Janeiro, RJ. Tel. (21) 2557-0894/Fax: (21) 22055097 E-mail: [email protected] Impressão: Editora e Grafica La Salle Tiragem: 2.500 exemplares Distribuição Dirigida Capa: Marcelo Souza Hadlich 3 Untitled-1 3 4/6/2004, 17:10 Editorial Laranjeiras 4 Untitled-1 4 4/6/2004, 17:10 Editorial Laranjeiras Editorial É com satisfação que apresentamos à Cardiologia do estado do Rio de Janeiro a contribuição do Instituto Nacional de Cardiologia para o aprimoramento de nossa especialidade. Não se trata apenas de mais uma revista em circulação, mas representa a reunião de inúmeros esforços- acumulados em mais de 20 anos de intensos trabalhos que culminaram na criação do INSTITUTO NACIONAL DE CARDIOLOGIA (órgão referência do Ministério da Saúde em Cardiologia), e naturalmente, de uma revista que vem expressar o nível de reflexão científica dessa instituição. O atual Instituto passou por vários cliclos, desde a exclusiva prestação de serviços assistenciais à população e geração de mão-de-obra às instituições públicas e privadas (via Residência Médica) até a presente fase, revigorada por uma reforma estrutural e conceitual (Planejamento Estratégico da Fundação Getúlio Vargas) onde, além de continuar oferecendo primorosa assistência aos seus clientes (Sus/planos de saúde Via Fundacor) engloba atividades de ensino (Pós-Graduação Lato-sensu, Residência Médica, Educação Continuada) Pesquisa (inauguração do centro de pesquisas básicas, celebrando convênio com a Coppe) e busca ocupar o espaço de um verdadeiro Instituto Nacional através de sua visão Ser centro de excelência e vanguarda, com reconhecimento da sociedadee sua missão Oferecer as melhores soluções em saúde cardiovascular,qualificando para o futuro . Contribuições de todos os seviços serão bem recebidas, e buscamos a reunião de todas as forças da Cardiologia para consolidarmos o nosso Instituto, de natureza pública e atraindo o privado via Fundacor para assim revigorado representar a força da Cardiologia do Rio de Janeiro. O nome da revista EDITORIAL LARANJEIRAS representa a denominação compacta de todo o nosso esforço em reunir os valores e talentos da instituição sob a sigla Laranjeiras como um gesto afetuoso de arquivar o nome que representa 3 décadas de trabalho e agora passa a representar o estímulo permanente para avançar assumindo o verdadeiro papel de Instituto Nacional, registrado no capítulo, parágrafo e linha de um edital em Brasília tão arduamente conquistado, mas que para se tornar verdadeiro (como sempre) depende de nós. Ademir Batista da Cunha Presidente do Centro de Estudos 5 Untitled-1 5 4/6/2004, 17:10 Editorial Laranjeiras AVALIAÇÃO FUNCIONAL DO VENTRÍCULO ESQUERDO EM PACIENTES SUBMETIDOS AO TRANSPLANTE AUTÓLOGO DE MEDULA ÓSSEA Marco Antonio de Mattos*, Daniele Gusmão Toledo, Carlos Eduardo de Mattos, Aristarco Gonçalves de Siquiera Filho INTRODUÇÃO No Brasil, desde 1987, o câncer tem permanecido como a terceira causa de óbitos, com crescimento em torno de 28% ao ano.1 Estima-se para 1998, que ocorrerão 269.000 casos novos, com mortalidade aproximada de 107.950 óbitos.2 A aplicação das técnicas atuais de tratamento como a cirurgia, radioterapia, quimioterapia, terapia biológica e, recentemente, o transplante de medula óssea, curam mais da metade dos pacientes.3 O transplante autólogo de medula óssea (TAMO) consiste na infusão intra venosa de células progenitoras do sistema hematopoiético do próprio paciente, após quimioterapia em altas doses e/ou terapia radioativa, com o objetivo de restabelecer a função medular. É indicado principalmente nos linfomas, mieloma múltiplo, leucemia mielóide aguda e no câncer de mama.4 Os quimioterápicos utilizados com o intuito de eliminar as células tumorais, podem provocar uma variedade de manifestações cardiotóxicas. 5 Além da terapia quimioterápica, a infusão da medula criopreservada com dimetilsufóxido (DMSO) pode ser responsável pela ocorrência de alterações cardiovasculares.6 A toxicidade cardíaca em pacientes submetidos à TAMO é heterogênea, com aparecimento de arritmias, alterações da repolarização ventricular, redução da voltagem do complexo QRS, derrame pericárdico, falência cardíaca e, mais raramente, morte súbita.7 Apesar de numerosos relatos de casos de toxicidade cardíaca no TAMO, o risco de desenvolvimento desta complicação não é claramente definida, com diversos resultados contraditórios.8-11 O objetivo deste trabalho, dando-se início a uma linha de pesquisa de avaliação cardíaca no TAMO, consistiu em avaliar prospectivamente a função sistólica do ventrículo esquerdo, através da fração de ejeção e de encurtamento sistólico, utilizando-se a ecocardiografia transtorácica seriada. CRITÉRIOS GERAIS DE EXCLUSÃO PARA TAMO ü ü ü ü idade superior a 65 anos; Presença de malignidade concomitante; Presença de distúrbio psiquiátrico; Função cardíaca anormal (fração de ejeção <50%); PROTOCOLO DE TRANSPLANTE Todos os pacientes selecionados para o TAMO foram submetidos à retirada de sangue periférico para obtenção das células progenitoras do sistema hematopoiético, após terem sido submetidos à mobilização . A partir de então, iniciou-se o esquema quimioterápico em altas doses (condicionamento da medula óssea). Após repouso de 2 a 4 dias, dependendo da patologia, seguiu-se a reinfusão das células progenitoras, depois de criopreservada com dimetilsufóxido (DMSO). Designou-se como dia zero (D0) o dia da infusão da medula óssea, os dias antecedentes, os quais eram realizados a quimioterapia em altas doses como dias negativos (D-), e os dias após o transplante de dias positivos (D+). Mobilização das Células Progenitoras A mobilização foi realizada de acordo com o protocolo do Serviço de Hematologia, utilizando-se o seguinte esquema: Ciclofosfamida 1500mg/m2, diluído em 250 ml de soro glicosado 5% (SG 5%) em dose única; mesna 1000mg/m2 de dose total, dividido em 3 doses; furosemide 20mg intravenoso trinta minutos (30 min) antes da ciclofosfamida e filgrastima (fator estimulador de colônias de granulócitos humanos): 10 mcg/kg/dia (em média 2 ampolas), iniciando 24h após a ciclofosfamida, até o penúltimo dia de obtenção de células progenitoras do sangue periférico (aférese). Iniciou-se aférese com a leucometria superior a 1000 celulas/mm3. A aférese era interrompida quando se obtivesse um número de 5,0 x 106 células CD34/kg. Condicionamento - Quimioterapia em Altas Doses O esquema terapêutico utilizado variou de acordo com a neoplasia, e foi realizado seguindo-se as normas do Serviço de Hematologia. A - Mieloma Múltiplo ü Melfalan: 100mg/m2/dia nos dias -3 e -2 . C.2.2-Linfoma- C.B.V: -Ciclofosfamida: 6g/m2 de dose total, dividido em 4 dias (1,5g/m 2/dia). Dias -6, -5, -4, -3; Carmustina/ BCNU:300mg/m 2 de dose total, dose única no dia 6; Etoposide:1200mg/m2 de dose total, divididos em 3 dias (200mg/m2/dia de 12 em 12h) nos dias -6, -5, -4; Mesna: 1000mg/m2/dia, dividida em três doses. CASUÍSTICA E MÉTODOS Delineamento: trata-se de estudo observacional, longitudinal, prospectivo Após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, de acordo com as linhas gerais da Convenção de Helsinque e obtenção por escrito do termo de consentimento pelos pacientes envolvidos neste estudo , foram estudados consecutivamente os pacientes internados na Unidade de Transplante de Medula Óssea (UTAMO) do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho,para realização de transplante autólogo de medula óssea, no período de agosto de 1997 a setembro de 1998. *CHEFE DA UNIDADE CORONÁRIA DO INC 6 Untitled-1 6 4/6/2004, 17:10 Editorial Laranjeiras comparações múltiplas baseado na soma de pontos de FRIEDMAN foi aplicado para especificar quais os momentos que diferem entre si. O critério de determinação de significância foi o nível de 5%. RESULTADOS Processamento da Medula Óssea Após colheita da bolsa de sangue periférico, realização do ensaio clonogênico e criopreservação com dimetilsufóxido (DMSO), esta era congelada em câmara de criopreservação, quando, então, as bolsas eram transferidas para o vapor de nitrogênio overnight. Trinta e um pacientes foram avaliados prospectivamente, porém, somente fizeram parte da presente análise, 25 pacientes. Seis pacientes foram excluídos: três portadores de câncer de mama e um de leucemia mielóide crônica, eliminados da análise devido ao número reduzido de casos; os dois outros pacientes eram portadores de linfoma, sendo que um faleceu antes do condicionamento da medula óssea, e a outra, durante o condicionamento, porém, de causa não cardíaca. Dos 25 indivíduos analisados, 12 eram portadores de linfoma (Grupo LF) e os 13 restantes portadores de mieloma múltiplo (Grupo MM) Reinfusão das Células Progenitoras As células são descongeladas a 37ºC e infundidas à velocidade de 50ul/seg. Cada bolsa era descongeada imediatamente antes de reinfusão. AVALIAÇÃO DOS PACIENTES Antes da realização do transplante os pacientes foram avaliados clinicamente através de anamnese cardiovascular dirigida e exame físico, eletrocardiograma de doze derivações monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) 24 h, ecocardiograma transtorácico unibidimensional com Doppler à cores. Os eletrocardiogramas, MAPA 24 h e HOLTER 24 h, foram feitos no dia do transplante, anterior e posterior. A avaliação ecocardiográfica seriada foi realizada nos seguintes dias, e assim designada:Eco Basal: realizado no dia da internação;Eco Pré-TAMO: realizado ao final da quimioterapia ,ou seja, no dia anterior ao transplante;Eco Pós TAMO: realizado no dia seguinte ao transplante;Eco alta: realizado entre 10 a 14 dias após o transplante. Todos os exames foram realizados pelo autor, e revisados por dois observadores independentes, com inquestionável experiência, e não conhecedores dos casos. Análise Demográfica Dos 12 pacientes do grupo LF, nove (75%) do sexo feminino e 3 (25%) do sexo masculino. Dos 13 pacientes do grupo MM , 7 (53,85%) eram do sexo feminino e 6 (46,15%) do sexo masculino. As características gerais da amostra à admissão hospitalar são demonstradas na tabela 1. A idade média dos grupos foi de 33,08 x 48,84 anos e a altura média de 1,60 x 1,57m2 . Não foram observadas diferenças significativas em relação a média do peso corporal e da área de superfície corporal nos grupos, ao longo de todo o procolo do TAMO. (Tabela 2). Análise Estrutural do Coração Em relação a análise da média das medidas cavitárias e as espessuras parietais do VE ao longo dos 4 exames ecocardiográficos realizados, não foram demonstradas diferenças significativas nos grupos estudados assim como no Índice de Massa Cardíaca (Tabela 3). Variáveis Clínicas e Demográficas Antes da realização do ecocardiograma, foi aferida a pressão arterial sistêmica (PA) e a freqüência cardíaca (FC). O peso e altura foram determinados ao acordar, antes do café da manhã do dia da realização do ecocardiograma. A área de superfície corporal (ASC) foi calculada baseada na fórmula proposta por RACHID et al.12,13 Análise da Função Sistólica A - Fracão de ejeção (FE) No grupo LF, a fração de ejeção média basal do VE foi de 72,61 ± 7,15 %, com mínimo de 62,47% e máximo de 87,60%, e, na alta, o valor médio encontrado foi de 75,09 ± 6,31%, com mínimo de 63,83% e máximo de 84,35%. Não foi demonstrada diferença significativa (valor de p = 0,82) deste parâmetro ao longo do tratamento realizado. No grupo MM, a fração de ejeção média basal do VE foi 76,01 ± 5,81%, com valor mínimo de 60,67% e máximo de 82,22%, e, na alta, o valor encontrado foi de 74,96 ± 6,18%, com mínimo de 64,16% e máximo de 84,62%. Não foi demonstrada diferença significativa (valor de p = 0,93) deste parâmetro ao longo dos 4 exames realizados (Figura 1). Variáveis Ecocardiográficas As medidas cavitárias e as espessuras parietais esquerdas foram realizadas ao modo unidimensional, seguindo-se a padronização da Sociedade Americana de Ecocardiografia14 e em pelo menos três ciclos cardíacos com monitorização eletrocardiográfica, e obteve-se a média delas. O cálculo da massa ventricular esquerda foi obtida através da fórmula de DEVEREUX15 utilizando a equação de regressão, e do cubo, descrita por TROY16, utilizando as medidas cativarias, segundo as normas da Sociedade Americana de Ecocardiografia.14 Para o cálculo do índice de massa ventricular esquerdo foi adotado a fórmula de DEVEREUX.15 A análise da função ventricular esquerda foi feita através da fração de encurtamento sistólico (%DD) e da fração de ejeção (FE). B - Fração de Encurtamento Sistólico No grupo LF, a fração de encurtamento sistólico média basal do VE foi de 35,58 ± 6,23%, com valor mínimo de 27,86% e máximo de 50,22%, e, na alta, o valor médio calculado foi de 37,42 ± 5,22%, com mínimo de 28,75% e máximo de 46,08%. Não foi demonstrada diferença significativa (valor de p = 0,81) deste parâmetro ao longo dos 4 exames realizados. No grupo MM a fração de encurtamento sistólico média Análise Estatística O método estatístico utilizado foi a Análise de Variância de Friedman, visando analisar a evolução ecocardiográfica ao longo do protocolo de transplante autólogo de células progenitoras em 4 (quatro) momentos: basal, prétransplante, pós-transplante e alta hospitalar. O teste de 7 Untitled-1 7 4/6/2004, 17:10 Editorial Laranjeiras basal do VE foi de 38,23 ± 4,71%, com mínimo de 26,73% e máximo de 43,99%, e, na alta, o valor médio encontrado foi de 37,37 ± 5,21%, com mínimo de 28,97% e máximo de 46,42%. Não foi demonstrada diferença significativa (valor de p = 0,96) deste parâmetro ao longo dos 4 exames realizados. semana. O envolvimento cardíaco é resultado da injúria endotelial, com exsudação de fluidos e de sangue dos capilares para o interstício miocárdico, levando ao típico miocárdio edematoso, com aumento da massa cardíaca e da espessura das paredes ventriculares. No presente estudo, os ecocardiogramas foram realizados 10 a 14 dias após o transplante, ou seja , entre 16 e 20 dias do início da quimioterapia, prazo que seria suficiente para detectar qualquer acometimento miocárdio e, por conseguinte, da função sistólica do VE. Este dado é corroborado pela ausência de alterações enzimáticas de marcadores de injúria miocárdica, das manifestações eletrocardiográficas de redução da voltagem do QRS e de alterações do segmento ST-T, que são marcadores precoces de falência cardíaca, e de ausência de manifestações clínicas de insuficiência cardíaca. Comparado aos estudos anteriores, já relatados, a função ventricular sistólica aqui avaliada, não foi afetada com o regime quimioterápico de altas doses , utilizado no presente estudo. Os diâmetros cavitários e as espessuras das paredes do ventrículo esquerdo, foram medidos de acordo com as normas da Sociedade Americana de Ecocardiografia, já descritas previamente.14 KUPARI et al., 21 estudando 45 pacientes consecutivamente submetidos a transplante de medula óssea com regime de condicionamento composto de ciclofosfamida 120mg/Kg e irradiação corporal total de 10-12Gy, detectaram aumento significativo do diâmetro diastólico e das espessuras do septo interventricular e da parede posterior do VE, nos 15 pacientes, que evoluíram com disfunção ventricular. No presente estudo, não houve alteração significativa dos diâmetros cavitários, nem das espessuras miocárdicas, quando avaliadas entre os quatro ecocardiogramas realizados. Destes dados, pode-se concluir que não houve acometimento miocárdico que pudesse levar à formação de edema e infiltrar as paredes miocárdicas. As condições de carga poderiam atuar deprimindo a função sistólica, porém, a pressão arterial durante o protocolo não se elevou de forma significativa, nem houve aumento de volemia por sobrecarga iatrogênica de fluido, conforme já demonstrado pela análise estatística. Nenhum paciente aqui acompanhado, ganhou mais de 2 quilos de peso corporal por mais de 48 horas consecutivas, pois eram acompanhados rigorosamente por balanço hídrico diário, e utilizavam diuréticos. O ganho de peso se dá mais freqüentemente durante o condicionamento, ou imediatamente após.25 Outro dado do estudo de KUPARI21 é que foi utilizada radioterapia corporal total, que leva à disfunção ventricular por efeitos diretos no miocárdio, além de aumentar e prolongar os efeitos da ciclofosfamida22. Os pacientes do presente estudo, foram submetidos apenas ao condicionamento com quimioterapia. Aqui, não se observou diferença significativa na fração de ejeção, quando avaliada pela ecocardiografia, ao longo dos 4 exames realizados com valor de p = 0,82 e 0,93, respectivamente, para o grupo LF e MM, nem se detectou qualquer variação significativa entre os exames . Da mesma forma, na análise da fração de encurtamento sistólico, novamente não foi demonstrada diferença significativa ao longo dos exames realizados, nem houve variação significativa evolutiva. A avaliação da função ventricular sistólica não sofreu limitações que pudessem prejudicar sua valorização, pois os pacientes realizaram o ecocardiograma antes de iniciar o protocolo de transplante, assim como não apresentaram qualquer manifestação de doença coronariana que pudesse alterar a função sistólica segmentar do VE.Além disso, os exames foram realizados DISCUSSÃO O transplante autólogo de células progenitoras periféricas é uma modalidade terapêutica em uso crescente, porém, uma das maiores limitações para sua realização é a cardiotoxicidade, conseqüente ao emprego de altas doses de quimioterápicos, a qual pode resultar em miopericardite, derrame pericárdico e falência cardíaca.5,7 A importância do acompanhamento cardiológico nesses pacientes, objetiva a detecção precoce de qualquer anormalidade, a fim de que se possa adequar a terapeutica antineoplásica, antes da reinfusão das células progenitoras.3 Os pacientes aqui estudados, pertenciam a dois grupos de patologias, mieloma múltiplo e linfoma de Hodgkin e não Hodgkin, com anamnese e exame físico à admissão hospitalar sem qualquer indicação de alteração estrutural nem funcional do coração. Sabe-se, por estudos clínicos, que as antraciclinas,17,18,19 a ciclofosfamida, 8,20,21 e radioterapia,22,23 administradas previamente, ou durante o protocolo de condicionamento da medula, são causadoras de cardiotoxicidade SANTOS et al. 9 relataram cardiomiopatia fatal em um paciente que recebeu ciclofosfamida na dose total de 270mg/ Kg em dez dias de tratamento, enquanto BUCKNER et al 10 observaram 2 óbitos com dose total de 240mg/Kg, divididas em 4 dias de tratamento. APPELBAUM et al 11 demonstraram cardiomiopatia fatal em 4 de 15 pacientes tratados com dose de 180mg/Kg, e GOTTDIENER et al20 , duas mortes por falência miocárdica refratária em pacientes que receberam a mesma dose. As doses utilizadas nos 4 estudos acima expostos, em relação à área de superfície corporal 2 eram superiores à 1,55g/m /dia. GRAW et al24 , não relataram evidência de efeitos cardíacos tóxicos em 9 pacientes que receberam ciclofosfamida na dose de 45 mg/Kg/dia, perfazendo um total de 180 mg/Kg em 4 dias. No presente estudo, a maioria dos pacientes do grupo linfoma havia sido submetido a tratamento quimioterápico com antraciclinas e ciclofosfamida e radioterapia, previamente ao protocolo de transplante. A dose máxima total utilizada no transplante foi de 6,0g/m2 de ciclofosfamida, associada à carmustina e etoposide, e nenhum paciente recebeu radioterapia concomitante à quimioterapia em altas doses. No grupo mieloma múltiplo, todos os pacientes já haviam sido submetidos à tratamento prévio com quimioterápicos, e, no transplante, utilizaram melfalam em altas doses. Nenhum paciente era portador de cardiopatia . A medida do peso diário e o balanço hídrico foram acompanhados rigorosamente, para se evitar a sobrecarga hídrica abrupta. No dia da realização do ecocardiograma, o paciente foi pesado e calculada a área de superfície corporal. Não foi observada diferença significativa do peso ao longo dos exames realizados, com valor de p = 0,09 e 0,24 para os grupos LF e MM, respectivamente. Em relação à área de superfície corporal, também não foi demonstrada diferença significativa (valor de p= 0,13 e 0,23, respectivamente) ao longo dos 4 exames realizados para os grupos LF e MM. GOTTDIENER et al 20 demonstraram, pela ecocardiografia, que a disfunção sistólica com altas doses de quimioterápicos se torna máxima dentro de duas semanas do início do tratamento, e desaparece ao fim da quarta 8 Untitled-1 8 4/6/2004, 17:10 Editorial Laranjeiras pelo mesmo observador, que diminui a variabilidade intraobservador, e revisados por ecocardiografistas não conhecedores dos casos. Estes dados tornam a análise da função sistólica mais confiável, além de se poder considerar o primeiro ecocardiograma como um exame controle para ambos os grupos estudados. O índice de massa cardíaco (IMC) foi utilizado como mais uma variável para se analisar a injúria endotelial.26,21 A massa ventricular foi calculada pela equação de regressão de DEVEREUX 15 . A indexação da massa ventricular esquerda foi realizada pela área de superfície corporal, e calculada em cada ecocardiograma, obtendo-se a evolução ao longo do protocolo. A massa ventricular esquerda sofre influência de diversos fatores , tais como a hipertensão arterial sistêmica, que pode levar à sobrecarga crônica de pressão com pronunciado aumento das espessuras das paredes, e em menor proporção, do volume da cavidade; a ingestão de álcool; a atividade física que é caracterizada por aumento no volume ventricular e, portanto, hipertrofia ventricular excêntrica. Nenhum paciente dos grupos aqui estudados era portador de cardiopatia hipertensiva, nem realizava exercício físico, devido à sua doença. A ingestão de álcool foi negada pelos pacientes estudados, já na anamnese admissional. Portanto, para o cálculo da massa ventricular esquerda, esses fatores puderam ser desprezados. Não houve aumento dos diâmetros cavitários, nem das espessuras miocárdicas, como já demonstrado pelos resultados estatísticos. KUPARI et al 21 e 20 GOTTDIENER et al demonstraram aumento significativo no índice de massa ventricular esquerdo, devido à formação de edema miocárdico por efeito tóxico direto ao endotélio pela ciclofosfamida, levando à microtromboses, com aumento da permeabilidade capilar e exsudação de fluidos para o interstício miocárdico. No atual estudo, nenhum dos pacientes apresentou variação significativa do índice de massa cardíaca entre os quatro exames ecocardiográficos realizados. Estes dados, associados à ausência de alterações enzimáticas de injúria miocárdica e de mudanças eletrocardiográficas corroboram a hipótese de não acometimento clínico do miocárdio e a preservação da função sistólica nestes pacientes. Em suma, a utilização do ecocardiograma modo unidimensional, para obtenção da massa ventricular neste trabalho, não teve limitações importantes, apresentado-se como método de fácil realização, seguro e preciso. Há estudos experimentais com DMSO27 (em gatos e cachorros), mostrando alteração inotrópica negativa em concentrações moderadas. Apesar do objetivo do presente estudo ter sido a avaliação da função sistólica durante o protocolo de transplante de células progenitoras periféricas, incluindo o condicionamento e a reinfusão das células, e não de momentos do protocolo, através da análise de dados obtidos, pelos ecocardiogramas realizados pré e pós transplante, algumas considerações podem ser feitas. A área de superfície corporal e o peso não se alteraram significativamente entre estes dois momentos, demonstrando não ter havido ganho de peso que pudesse aumentar a volemia abruptamente em pacientes debilitados pela doença, e prejudicar a função sistólica pelo aumento da pré-carga em qualquer dos dois grupos estudados. Os diâmetros cavitários do ventrículo esquerdo, as espessuras miocárdicas e o índice de massa cardíaca não sofreram variação significativas entre os dois exames realizados para os dois grupos de pacientes, o que corrobora o não acometimento miocárdico pelo dimetilsufóxico, pois não houve dilatação cavitária aguda, nem infiltração das paredes do ventrículo esquerdo. A análise da função sistólica pela fração de ejeção e de encurtamento sistólico não sofreu modificações significativas entre os dois exames, o que demonstra não haver acometimento agudo pelo criopreservante. CONCLUSÕES 1 - O protocolo de transplante autólogo de células progenitoras hematopoiéticas, utilizado pelo Serviço de Hematologia – Unidade de Transplante de Medula Óssea do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, não provoca alteração da função sistólica do ventrículo esquerdo, quando avaliada através da fração de ejeção e de encurtamento sistólico, calculadas pelo ecocardiograma. 2 - A fração de ejeção e de encurtamento sistólico, são índices de contratilidade global adequados para avaliação deste grupo de pacientes que apresentam geometria ventricular esquerda normal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 - BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Câncer no Brasil: dados dos Registros de Câncer de Base Populacional. Rio de Janeiro: Pro-Onco/ INCA,1995. v. 2 2 - BRASIL. Ministério da Saúde. Estatísticas de Mortalidade: Brasil 1980-1995. Sistema de Informação Sobre Mortalidade – SIM. Brasília: FNS/DATASUS, 1996. 3 - SLAPAK, C.; KUFE, D. W. 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Acad. Sci., v. 411, p. 84-93, 1983. 9 Untitled-1 9 4/6/2004, 17:10 Editorial Laranjeiras Tabela 1 2 - Análise Demográfica dos Grupos LINFOMA ASC média MIELOMA MÚLTIPLO Basal 1,65 Pré 1,64 Pós 1,64 64,2 63,2 63,8 PESO médio Alta 1,63 62,6 “p” 0,13 Basal 1,65 0,09 Pré Pós Alta “p' 1,63 1,62 1,63 0,23 66,9 66,4 65,3 65,6 0,24 LF= Linfoma; MM= Mieloma Múltiplo; ASC= Área de superfície corporal (m2) Tabela 2 3 - Análise Estrutural do Coração LINFOMA Basal Pré Pós MIELOMA MÚLTIPLO Alta “p” Basal Pré Pós Alta “p' 4,40 0,13 4,60 4,62 4,54 4,60 0,81 0,24 2,84 2,83 2,80 2,87 0,30 VEd 4,50 4,40 4,22 VEs 2,92 2,91 2,70 2,80 SIV 0,79 0,80 0,81 0,79 0,60 0,83 0,87 0,88 0,88 0,84 0,78 0,82 0,78 0,06 0,84 0,84 0,88 0,88 0,37 PP 0,871 LF= Linfoma; MM= Mieloma Múltiplo; VEd= diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo; VEs= diâmetro sistólico do ventrículo esquerdo;SIV=septo interventricular; PP=parede posterior Gráfico 11 - Valor médio da FE ao longo do tempo, segundo o grupo Gráfico 12 - Valor médio do % D ao longo do tempo, segundo o grupo 50 90 45 80 40 70 35 %D FE(%) 100 60 30 50 25 40 20 30 15 20 10 10 5 0 0 BASAL PRÉ PÓS LF BASAL ALTA PRÉ LF MM 10 Untitled-1 10 PÓS 4/6/2004, 17:10 MM ALTA Editorial Laranjeiras PERFIL CLÍNICO E ECOCARDIOGRÁFICO DE PACIENTES COM DIAGNÓSTICO DE ENDOCARTIDE INFECCIOSA, EM HOSPITAL DE CARDIOLOGIA DE REFERÊNCIA CYNTHIA KARLA MAGALHÃES* 1. INTRODUÇÃO E OBJETIVO b) Poucos capítulos da Medicina Interna sofreram tantas alterações como o da Endocardite Infecciosa (EI). Essas modificações se relacionaram com a população afetada, critérios e acurácia de métodos diagnósticos, microorganismos envolvidos e avanços na terapia clínico cirúrgica. Complicações: abscesso cardíaco, cavidades perivalvares, aneurisma de folheto, perfuração de folheto, rotura de folheto, rotura de cordoalha e desinserção do anel, vegetações univalvares ou multivalvares/outros locais. 3. Baseado nisso, decidiu-se analisar através deste estudo retrospectivo o perfil clínico e ecocardiográfico dos pacientes internados com diagnóstico de EI no Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras (INCL). 2. RESULTADOS Dos 100 pacientes incluídos, 59 eram do sexo masculino e 41 do sexo feminino. Com relação à faixa etária, houve a seguinte distribuição: . Crianças (0 a 12 anos) = 17 pacientes . Adultos (13 a 65 anos) = 74 pacientes . Idosos (66 a 100 anos) = 9 pacientes PACIENTES E MÉTODOS Foram analisados retrospectivamente prontuários médicos de 314 pacientes internados no INCL, com o diagnóstico de EI no período de janeiro de 1991 a dezembro de 1998. Destes, foram excluídos 214 pacientes, por não preencherem critério diagnóstico definitivo segundo a Universidade de Duke(1). Cinqüenta e oito por cento dos pacientes avaliados eram brancos e 42% não brancos. O tempo médio de internação foi de 44,8 dias (3-200 dias) e a classificação dos pacientes em relação ao número de critérios de Duke presentes foi: Examinou-se um conjunto de variáveis clínicas e ecocardiográficas: a) Variáveis ecocardiográficas 2 Maiores 1 Maior/3 Menores Variáveis clínicas 53 Sexo, idade, raça, tempo de internação, critérios de Duke presentes, intervalo de tempo decorrido entre início da sintomatologia e início do tratamento, história prévia de EI, classe funcional (NYHA) na admisão hospitalar, fatores predisponentes cardíacos (cardiopatia reumática, cardiopatia congênita, prolapso valvar mitral, prótese valvar e outros), fatores predisponentes infecciosos (manipulação dentária, cirurgia, uso de drogas venosas e outros), manifestações clínicas (febre, ICC, cefaléia, anemia, insuficiência renal, artrite ou evento neurológico). Os eventos neurológicos considerados foram: rotura de aneurisma micótico, hemorragia cerebral, infarto cerebral e abscesso cerebral, achados ao exame físico da internação hospitalar (sopro cardíaco, hepatomegalia, esplenomegalia, petéquias, nódulos de Osler, manchas de Janeway e manchas de Roth), positividade das hemoculturas, etiologia da EI, indicação cirúrgica(foram considerados os seguintes critérios de indicação cirúrgica: insuficiência cardíaca de difícil controle, embolia recorrente no decurso do tratamento clínico, infecção refratária à terapia antimicrobiana e endocardite fúngica). 06 100 O intervalo médio de tempo entre o início dos sintomas e o início do tratamento foi de 34,2 dias (2 a 150 dias) e 14% dos pacientes já havia apresentado EI previamente. A classe funcional dos pacientes segundo a NYHA na admissão hospitalar obedeceu a seguinte distribuição: I 04 II 36 III 35 IV 17 Total 92 Em relação à prevalência dos fatores predisponentes cardíacos, o predomínio foi de cardiopatia reumática: Número de pacientes Total de pacientes Cardiopatia reumática Prótese Valvar Cardiopatia congênita Outros Prolapso valvular mitral Nenhum identificado 42 24 21 10 9 6 11 11 Total 41 *MESTRE EM CARDIOLOGIA PELA UFRJ - CHEFE DA UAT DO INC Untitled-1 5 Menores 4/6/2004, 17:10 na amostra 100 100 100 100 100 100 Prevalência 42% 24% 21% 10% 9% 6% Editorial Laranjeiras Em quase metade (49%) dos casos de EI, não se identificou qualquer fator predisponenente infeccioso: Número de pacientes Total de pacientes na amostra Número de pacientes Total de pacientes na amostra Prevalência Mitral 61 100 61% Aórtica 30 100 30% Outro local 16 100 16% Tricúspide 8 100 8% Pulmonar 2 100 2% Prevalência Nenhum Outros Manipulação dentária Cirurgia 49 17 16 16 100 100 98 100 49% 17% 16% 16% Uso de drogas IV 04 99 4% Em relação ao número de vegetações identificadas ao ecocardiograma, Observa-se que em 60% dos pacientes havia uma só vegetação e que em 15% dos casos não se identificou qualquer vegetação. Em relação às manifestações clínicas, a febre esteve presente na maioria (97%) dos pacientes: Número de pacientes Total de pacientes na mostra Prevalência Febre Insuficiência cardíaca Anemia Artrite/artralgia Cefaléia Evento neurológico 97 64 54 21 19 14 100 100 100 100 100 100 97% 64% 54% 21% 19% 14% Houve indicação cirúrgica na amostra estudada em 40% dos casos. Insuficiência renal 10 100 10% O tipo de cirurgia realizada nos 29 pacientes operados foi: Os principais achados ao exame físico da internação hospitalar seguiram a seguinte distribuição, nos pacientes avaliados: Número de pacientes Sopro cardíaco Hepatomegalia Esplenomegalia Petéquias Manchas de Janeway Nódulos de Osler Manchas de Roth Total de pacientes na amostra 96 52 31 11 11 03 02 Cirurgia No. de pacientes Implante de prótese mitral biológica 11 Implante de prótese aórtica metálica 7 Implante de prótese mitral metálica 11 Prevalência 100 100 100 100 100 100 100 96% 52% 31% 11% 3% 3% 2% REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. As hemoculturas foram positivas em 71% dos pacientes e negativas em 29%, havendo a seguinte prevalência de agentes infecciosos isolados: 3. Agente Número de pacientes Streptococcus viridans 38 Staphylococcus aureus 10 Outros agentes 10 Staphylococcus epidermidis 06 Gram negativo 03 Cândida 01 Tamanho da amostra 68 4. Em relação às variáveis ecocardiográficas, quase 2/3 dos pacientes (73%) não fizeram ETE, sendo que 25% fizeram um ETE e 2% realizaram dois exames. 9. 5. 6. 7. 8. 10. As principais complicações diagnosticadas do ecocardiograma foram: Complicação Número de pacientes Rotura de cordoalha Prolapso ou rotura de folheto Perfuração de folheto Abscesso Aneurisma de folheto Desinserção do anel Cavidades perivalvares 19 13 07 06 04 03 02 Total de pacientes na amostra 100 100 100 100 100 100 100 11. 12. Revalência 19% 13% 7% 6% 4% 3% 2% 13. 14. 15. Em relação à localização das vegetações ao ecocardiograma, nota-se que a válvula mitral foi a principal estrutura acometida (61%): 16. 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Diversos fatores como predisposição genética, hiperinsulinemia, idade e obesidade, associados ou isolados, são capazes de desencadear modificações estruturais no miocárdio, compatíveis com a hipertrofia ventricular esquerda (HVE), microscopicamente e macroscopicamente detectáveis, antes consideradas conseqüências apenas do aumento do trabalho cardíaco pela sobrecarga de volume e/ou pressão. Dentre as moificações já conhecidas podemos citar: reexpressão de genes fetais, ativação de protooncogenes, maior síntese proteica, aumento do número de sarcômeros, aumento do volume celular (podendo o diâmetro da celula passar de normal, 15mm, para até 25mm), aumento da síntese de matriz extracelular e alterações nos canais e correntes iônicas da membrana dos miócitos (M). Quanto maior o tempo e/ou a intensidade que o miocádio for submetido aos fatores desencadeantes, maior será a resposta. Por isso, pode-se encontrar diferentes graus de HVE entre os indivíduos, ou em um mesmo indivíduo, porém em momentos diferentes de sua vida. Diante da grande importância da HVE como marcador de morbi-mortalidade, diversos critérios eletrocardiográficos foram criados, tais como Sokolow-Lyon, Romhilt-Estes, Cornel e Gubner que valorizam a amplitude do complexo QRS para detectar HVE1,2. Infelizmente, tais critérios pecam pela baixa sensibilidade e/ou especificidade, a ponto de na prática clínica terem sido substituídos pelo ecocardiograma e na literatura muitos autores já questionarem o uso do eletrocardiograma (ECG) para o diagnóstico de HVE3. A instuição sugere que a amplitude do complexo QRS reflete a quantidade de massa miocárdica despolarizada. A HVE deveria, portanto, aumentar proporcionalmente a amplitude do QRS. Porém isso não acontece. Pergunta-se: Por que? Por que alguns indivíduos com HVE ao ECO não apresentam aumento da amplitude do complexo QRS? De acordo com a teoria do ângulo sólido do eletrodo, a amplitude do sinal de ECG registrado na superfície é formada por dois componentes distintos: o geométrico e o não-geométrico. O componente geométrico é constituído pelas características morfométricas do tórax e do coração (diâmetro do tórax, diâmetro de cavidades cardíacas, espessura de paredes do coração e localização do coração no tórax). O componente não-geométrico, por sua vez, compreende as características eletrofisiológicas do músculo cardíaco (impedância elétrica intra e extra-celular, densidade de correntes iônicas, amplitude do potencial transmembrana). OBJETIVOS Utilizar a densidade de voltagem miocárdica, definida pela relação entre a amplitude máxima do complexo QRS e a massa do ventrículo esquerdo (VE), procurando explicar a baixa sensibilidade/especificidade dos critérios eletrocardiográficos convencionais para o diagnóstico da HVE. FUNDAMENTOS Existem quatro pontos principais para fundamentar este trabalho. (1) O crescimento da célula gera aumento linear da proporção volume/superfície celular, ou seja, o volume aumenta muito mais que a superfície, pois seu crescimento obedece uma função cúbica enquanto o da superfície uma função quadrática. Como o potencial detectado pelo ECG reflete o movimento de cargas pela M, que é a superfície do miócito, subentende-se um dos motivos para a amplitude do QRS não corresponder linearmente ao aumento da massa do VE (Figura 1)4,5. (2) Se na HVE ocorresse um aumento exclusivo do número de células seria mantida a relação superfície/volume celular, mas não é o que acontece. Na HVE há um predomínio do crescimento celular quando comparado ao aumento do número de células. (3) A produção exacerbada de matriz extracelular causa distanciamento dos miócitos, de forma que dois segmentos de miocárdio do mesmo tamanho, sendo um de coração normal e outro de coração hipertrofiado, terão celularidades diferentes, pois o hipertrofiado conterá menor número de células, por unidade de volume, que o normal. (4) Alterações nas propriedades elétricas da M também são detectadas em vigência de HVE, tais como redução da amplitude do “overshoot” do potencial de ação, aumento da impedância da membrana e redução na densidade de correntes iônicas (principalmente de potássio) que entre outras, foram comprovadas em estudos experimentais com animais de laboratório 6,7,8,9,10,11,12,13,14,15,16,17,18. 1 Programa de Engenharia Biomédica – COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro Universidade Gama Filho Departamento de Hipertensão Arterial - Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras 4 Hospital Municipal de Piabetá 2 3 13 Untitled-1 13 4/6/2004, 17:10 Editorial Laranjeiras Imagine uma célula “A” sendo um cubo de lado L. Calculando a superfície (S) e o volume (V) de “A”, teremos que SA=L2x 6 e que o VA=L3. Ao dividir VA/SA temos que VA/SA = L/6, que será constante para todas as células de lado “L”. Agora considere que o tamanho da célula aumente (célula “B”) e seu lado “L” passe para “2L”. Os cálculos mostram SB=(2L)2x 6, ou seja, SB=4L2x 6.; já o volume será VB=(2L)3 ou VB=8L3. Dividindo VB/SB temos que VB/SB=L/3, ambos cresceram, porém o volume cresceu mais que a superfície. Conclusão, sempre que a célula aumentar, seu volume crescerá linearmente mais que a superfície. Como o potencial captado pelo ECG reflete as correntes da M, o aumento da célula não se acompanha de aumento linearmente proporcional do potencial. RESULTADOS Observou-se leve tendência de aumento do VM (não constante) com o crescimento da massa do VE (Figura 2), ou seja, muitos dos pacientes com HVE tinham amplitude pequena ou menor do que os indivíduos controle. O índice de Romhilt-Estes teve 39,5% de sensibilidade e 87,1% de especificidade na amostra analisada (tabela). Avaliando a DVM, detectou-se diferença estatisticamente significativa entre os grupos (Figura 3). MÉTODOS Foi realizado um estudo transversal, caso-controle, ajustado para idade, sexo, superfície corporal (SC) e diâmetro torácico ântero-posterior (DT). Critérios de inclusão: idade entre 18 e 75 anos, indivíduos controle ou com hipertensão arterial e consentimento do paciente (livre e esclarecido). Critérios de exclusão: hipertensão pulmonar, hipertrofia ventricular direita, história de infarto agudo do miocárdico, doenças primárias do miocárdio, alterações eletrolíticas e bloqueio de ramo completo. A amostra foi formada por 134 indivíduos (55 mulheres), idade média de 52,6 ± 12,5 anos, SC=1,75 ± 0,18 m2 e DT=23 ± 2,4 cm. Todos foram submetidos à rotina de avaliação da função e massa do VE, sendo utilizado o índice de Devereux para a determinação da presença de HVE. Distribuímos os indivíduos em três grupos principais; 25 controles (Grupo I), 40 hipertensos sem HVE (Grupo II) e 40 hipertensos com HVE (Grupo III). Foi analisado ainda um quarto grupo (Grupo IV), composto por pacientes com disfunção de VE (FE<50%). Neste último, alguns pacientes apresentavam bloqueio de ramo completo. ECG convencional (12 derivações) e o de alta resolução (ECGAR), com as derivações XYZ de Frank, também foram feitos. Vale salientar que o ECGAR permite a determinação do vetor magnitude (VM) do coração, que representa de forma mais precisa a ativação ventricular, haja vista a disposição ortogonal dos planos avaliados pelas derivações de Frank. Definiu-se VM à raiz quadrada da soma dos quadrados das derivações orotogonais (XYZ). Para o cálculo da DVM foi estabelecida a razão entre a amplitude máxima do VM da ativação ventricular e a massa do VE. A análise estatística teve testes paramétricos e não paramétricos, com normalização das variáveis com distribuição assimétrica e foi aceito erro a=0,05. CONCLUSÕES (1) Na HVE observa-se significativa redução da DVM. (2) Indivíduos com HAS sem HVE apresentam DVM inferior aos indivíduos controle e superior aos com HVE, sugerindo a presença de uma remodelagem elétrica miocárdica e alterações dos volumes, intra e extracelulares, com a progressão da cardiopatia hipertensiva. (3) A redução da DVM explica, parcialmente, a baixa sensibilidade dos critérios eletrocardiográficos convencionais baseados na amplitude do complexo QRS. 14 Untitled-1 14 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras 8. AGRADECIMENTOS Ao apoio financeiro do CNPq, ao departamento de Engenharia Biomédica da UFRJ e ao INCL que tem permitido e nos incentivado no desenvolvimento de diversas frentes de pesquisa científica. 9. 10. 11. 12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Gasparim CA, et al. “Análise dos critérios eletrocardiográficos para determinação de sobrecarga ventricular esquerda.” Arq Bras Cardiol 2002; 78: 59-71. 2. 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Spach MS, et al. “Electrophysiological effects of remodeling cardiac gap junctions and cell size: experimental and model studies of normal cardiac growth.” Cir Res 2000; 86: 302-11. 15 Untitled-1 15 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras Perfil Clínico e Angiográfico da Doença Arterial Coronária em Pacientes Com Idade Inferior a 50 Anos Antônio Sérgio Cordeiro da Rocha*; Maria Elisa Matiello; Ademir B Cunha; Denise Sena Paris; Felipe José Monassa Pittella; Júlio Cesar Melhado; Maria Luiza Guerra; Suely Bondarovsky; Paulo Roberto Dutra da Silva; Divisão de Doença Coronária do Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras – Ministério da Saúde, Rio de Janeiro, Brasil. Introdução Estudos clínicos tem demonstrado que pacientes com doença arterial coronariana (DAC) precoce apresentam uma preponderância de lesões univasculares e múltiplos fatores de risco(1-3). Avaliações epidemiológicas sugerem que os fatores de risco podem ser diferentes nos pacientes mais jovens portadores de DAC(4-6). Também, a progressão da DAC em pacientes jovens, tratados medicamente, parece ser mais freqüente e pronunciada do que em pacientes mais velhos(7,8). Estudos recentes tem demonstrado que a DAC começa cedo na vida dos indivíduos e que as placas ateroscleróticas desses pacientes são caracterizadas por uma grande quantidade de células espumosas repletas de lipídios e uma relativa escassez de tecido cicatricial acelular(9-11). Com base nessas observações é concebível admitir que as manifestações clínicas, os fatores de risco e as manifestações angiográficas da DAC prematura sejam diferentes das observadas na faixa etária de maior prevalência da doença. O objetivo desse estudo foi analisar os aspectos demográficos, os fatores de risco, as manifestações clínicas e os achados cinecoronariográficos em pacientes com idade 50 anos internados, com o diagnóstico presuntivo de DAC, em um hospital de referência em cardiologia. período de internação. Dos 123, nós obtivemos dados adequados de 120. Destes, 62 pacientes que preenchiam os critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados para o estudo. O diagnóstico de infarto agudo do miocárdio(IAM) foi realizado de acordo com os critérios da European Society of Cardiology e American College of Cardiology( 12). O diagnóstico de angina instável(AI) de acordo com os critérios propostos por Braunwald(13) e angina estável(AE) quando havia história de dor torácica típica. A AE foi classificada de acordo com a Canadian Cardiovascular Society( 14). O diagnóstico de insuficiência cardíaca congestiva(ICC) foi realizado quando havia sinais e sintomas de congestão venocapilar pulmonar e/ou associada à congestão venosa sistêmica. Hipertensão arterial sistêmica (HAS) era considerada presente quando o paciente apresentava níveis tensionais, medidos através de esfigmomanômetro, iguais ou superiores a 140/90 mmHg ou fazia uso de medicação anti-hipertensiva. Diabetes melitos(DM) era diagnosticado quando o paciente fazia uso de hipoglicemiante oral ou insulina. Dislipidemia foi considerada presente quando o paciente apresentava níveis séricos de colesterol total superiores a 200 mg/dl ou triglicerídeos superiores a 150 mg/dl ou LDL colesterol superiores a 130 mg/dl e/ou HDL inferiores a 35 mg/dl, nos homens, e inferiores a 55 mg/dl, nas mulheres. Nós consideramos como sedentários os indivíduos que não exerciam qualquer tipo de atividade física, além das habituais. Pacientes e Métodos Trata-se de um estudo observacional, no qual foram analisados os prontuários de 123 pacientes, com idade 50 anos, internados entre janeiro de 1999 e fevereiro de 2002. Na cinecoronariografia nós consideramos como normais as artérias que não apresentavam qualquer grau de obstrução da luz arterial. Os critérios de inclusão foram: diagnóstico clínico 50 anos, prontuários com presuntivo de DAC, idade preenchimento adequado dos dados a serem analisados e realização de cinecoronariografia durante a internação. Os critérios de exclusão incluíam: idade > 50 anos, prontuários com dados incompletos, pericardite ou miocardite aguda, cardiopatia orovalvar ou congênita, miocardiopatia de qualquer tipo e realização de revascularização miocárdica prévia. Na análise estatística os dados numéricos foram expostos pela média e 1 desvio-padrão e os dados categóricos por números absolutos e proporções. Para comparação entre as variáveis contínuas foi utilizado o teste t de Student ou o teste de análise da variância. Para comparação entre os dados categóricos foi utilizado o teste do Quiquadrado ou teste exato de Fisher. Para analisar o fator ou fatores que determinavam a presença de DAC significativa, nós utilizamos a análise multivariável de regressão logística quando os valores de p, na análise univariável, eram 0,10. Os valores de p eram bicaudais. O nível de significância aceito foi de 5%. Os seguintes dados clínicos foram corrigidos: idade, sexo, diagnóstico clínico final de internação, fatores de risco para aterosclerose coronária, tais como, hipertensão arterial sistêmica, tabagismo, diabetes melitos, dislipidemia, sedentarismo ou história familiar de DAC, presença de DAC significativa, isto é, obstruções > 60% da luz arterial ou > 50% da luz do tronco da coronária esquerda(TCE), realização de revascularização miocárdica, isto é, angioplastia percutânea coronária(ATC) ou cirurgia de revascularização miocárdica(CRM) e morte durante o Resultados Dos 62, 37(59,6%) eram homens e 25 mulheres(40,4%), com idade de 45±4,8 anos, variando de 26 a 50 anos. Em 14(22,5%) o diagnóstico final de internação foi IAM, em 25(40,3%) AI, em 22(35,4%) AE, classe funcional II a IV e em 1(1,6%) edema agudo de pulmão. Vinte e *CHEFE DA DIVISÃO DE CORONARIOPATIA DO INC 16 Untitled-1 16 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras DAC, demonstrou uma incidência relativamente alta de elevações do colesterol total e do LDL colesterol, além de sobrepeso e obesidade(20). No Chicago Heart Association Detection Project( 19), em homens entre 18 e 39 anos acompanhados por 20 anos, foi demonstrado que a presença de fatores de risco maiores, como idade, hipercolesterolemia, hipertensão arterial e tabagismo estava significativamente associado à morte por DAC. Estes dados ajudam a entender o porquê da importância da identificação desses indivíduos a fim de propociar uma estratégia apropriada para correção daqueles fatores e, desse modo, tentar interferir na história natural da doença. cinco(40,3%) dos pacientes apresentavam história prévia de IAM e 1(1,6%) de acidente vascular encefálico. Hipertensão arterial estava presente em 42(67,7%), diabetes melitos em 19(30,6%), dislipidemia em 45(72,5%), história familiar de DAC em 38(61,2%), tabagismo em 43(69,3%) e sendentarismo em 37(59,6%). Quarenta e três(69,3%) apresentavam 2 ou mais fatores de risco, enquanto os restantes 19(30,7%) apresentavam 1 fator de risco. O índice de massa corporal foi de 27,4±4,2 kg/m2, variando de 18 a 42,2. As coronárias estavam normais em 7(11,2%) pacientes; doença uniarterial em 12(19,3%), biarterial em 19(30,6%), triarterial em 20(32,2%) e lesão do tronco da coronária esquerda(TCE) em 4(6,4%). Estudos clínicos em pacientes jovens com DAC tem demonstrado que, diferentemente dos mais idosos, esses pacientes apresentam preponderância de doença uniarterial e fatores de risco tais como, hipercolesterolemia, história familiar de DAC e tabagismo(1,3). Chen e colaboradores(3) comparando a manifestação clínica de DAC em 100 homens, com idade abaixo dos 45 anos, em relação a outros 100, com idade acima dos 60 anos, verificou que os pacientes com DAC prematura, referendados para cinecoronariografia, comumente apresentavam síndromes isquêmicas agudas, sem manifestações prévias e lesões coronarianas morfologicamente complexas e menos extensas. Em nosso estudo foi visto que mais de 70% dos casos apresentavam dislipidemia, quase 70% deles fumavam ou eram hipertensos e quase 60% apresentavam história familiar de DAC ou eram sedentários. Na maioria dos nossos casos a manifestação clínica da DAC, que motivou a internação, foi uma síndrome coronária aguda (IAM ou IA em aproximadamente 58% dos casos). Nós observamos, também, que o IMC de nossos pacientes colocava-os na condição de sobrepeso e que 1/3 deles era portador de diabetes melitos. Diferentemente do descrito na literatura, encontramos um alto porcentual de pacientes com história prévia de IAM (aproximadamente 40%) e na cinecoronariografia uma maior incidência de lesões multiarteriais ou lesão do tronco da coronária esquerda (79% dos casos). Provavelmente, estes achados estão relacionados ao fato do hospital ser referência em cardiologia, o que pode ter contribuído para maior prevalência de casos mais graves de DAC. Quando comfrontamos dados demográficos, diagnóstico clínico e fatores de risco com o resultado da cinecoronariografia, verificamos que mais mulheres (6 de 25 vs 1 de 37; p=0,014; OR=11,37;IC95%=1,20 a 537,01) apresentavam coronárias normais do que os homens. Nenhum diagnóstico clínico ou fator de risco manteve correlação com a presença ou não de DAC. Discussão Embora os pacientes com DAC tornem-se sintomáticos após os 40 anos de idade, estudos baseados em necrópsias tem demonstrado que a aterosclerose começa cedo na vida(14,15). Estudos realizados com o auxílio do ultrassom intravascular, em corações transplantados de doadores jovens, demonstraram que cerca de 51,9% destes indivíduos apresentavam lesões ateroscleróticas e que a prevalência da aterosclerose variava de 17%, nos indivíduos abaixo dos 20 anos, a 85%, naqueles com 50 anos ou mais( 16). Esses autores mostraram que 1 em cada 6 adolescentes apresentavam aterosclerose coronária(16). A DAC permanece como a causa lider de morte nos EUA(17). No Brasil, de acordo com os dados do SUS, no ano de 1999, as doenças do aparelho circulatório foram responsáveis por 32,27 mortes por 100 mil habitantes, ocupando o primeiro lugar entre todas as causas de morte no país( 18). Neste mesmo ano, nos EUA, as doenças cardiovasculares foram responsáveis por 40,1% de todas as mortes, ou seja, 1 em cada 2,5(17). Nos EUA, se todas as doenças cardiovasculares fossem eliminadas, a expectativa de vida da população aumentaria 7 anos, enquanto que se o cancer fosse eliminado, o ganho seria de 3 anos(17). Dentre as doenças cardiovasculares, a DAC é uma das causas mais importantes de mortalidade e morbidade. Na Europa, a DAC sozinha é a causa mais comum de morte(17). No Brasil, segundo dados do SUS 1999, a doença isquêmica cardíaca foi responsável por cerca de 46,75 mortes por 100 mil indivíduos. Portanto, não resta dúvida de que sendo a DAC uma das principais causas de morte em nosso país, o seu aparecimento em indivíduos jovens representa uma situação de extrema gravidade e importância para a saúde pública. Na análise univariável e multivariável nós verificamos que nenhum fator clínico ou fator de risco manteve associação com a presença ou a gravidade da DAC, no entanto, entre as mulheres houve maior número de pacientes com coronárias normais do que entre os homens(p=0,014). Em conclusão, nós verificamos que na população de pacientes com idade igual ou inferior a 50 anos, internada em enfermaria de hospital de referência em cardiologia e submetidos à cinecoronariografia, a maioria apresentavase clinicamente com síndrome coronariana aguda, muitos eram hipertensos, dislipidêmicos, tabagistas, sedentários, diabéticos, com história familiar de DAC e com sobrepeso. A maioria deles era portadora de doença multiarterial e as entre as mulheres observou-se um maior número de coronárias normais do que entre os homens. A aterosclerose está intimamente associada aos fatores de risco para seu desenvolvimento e quantos mais fatores estiverem presentes maiores são as chances do desenvolvimento da aterosclerose e suas complicações(17,19). Estudo recente demonstrou que a associação de hipertensão arterial e hipercolesterolemia, em indivíduos abaixo dos 55 anos de idade, aumentou significativamente o risco de doença cardiovascular e DAC, especialmente, nos homens(20). Estudo realizado no INCOR em crianças e adolescentes, filhos de pacientes jovens com evidência de Limitações do estudo: este é um estudo observacional realizado em uma população muito selecionada de indivíduos com suspeição clínica de DAC, o que dificulta a extrapolação de nossos achados para outras populações de pacientes com idade semelhante, mas com quadro clínico diverso. 17 Untitled-1 17 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. Referências Bibliográficas Wolfe MW, Vacek JL. Myocardial infarction in the young: angiographic features and risk factor analysis of patients with myocardial infarction at or before the age of 35 years. Chest 1988; 94:926-930 Chouhan L, Hajar HA, Pomposiello JC. Comparison of thrombolytic therapy for acute myocardial infarction in patients aged <35 and >55 years. Am. J. Cardiol. 1993; 71:157-159. Chen L, Chester M, Kaski JC. Clinical factors and angiographic features associated with premature coronary artery disease. 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Quanto a Função Ventricular Esquerda 9,3% apresentavam função normal, 31,3% discreta disfunção, 43,8% moderada disfunção, e 15,6% disfunção severa. Havia 30,3% de pacientes univasculares, 39,4% bivasculares e 30,3% trivasculares. Foram tratadas em média 1,33 lesões por paciente. A via de acesso utilizada para o procedimento foi a femoral em 93,8%, e as vias radial e braquial em 3,1% cada. Em 39,4% foi utilizado apenas o balão , stent em 57,5% e Rotablator seguido de stent apenas 1 caso (3,1%). Das 44 lesões tratadas, 18 eram na Artéria Descendente Anterior, 13 na Coronária Direita, 5 na Artéria Circunflexa, 4 na Artéria Diagonal e 1 em Ponte de safena. Em 66,7% das lesões havia calcificação visível à angiografia. As lesões eram do tipo A em 6,1%, do tipo B1 21,1%, B2 36,4% e do tipo C 36,4%. Havia oclusão total do vaso tratado em 6 pacientes e lesão sub-total em 5 pacientes. Foram utilizados os Antagonistas das Glicoproteinas IIb/IIIa em 9,1% dos casos. (Tabela I) INTRODUÇÃO Com o aumento da expectativa de vida nos últimos 20 anos observamos o crescente número de pacientes acima de 80 anos de idade necessitando de intervenção coronária. Estes apresentam quadro de angina estável intratável medicamente, angina instável ou Infarto Agudo do Miocárdio. O Censo Populacional Americano de 1990 mostrou que de 1987 a 1990 aumentou em 55% o número de angioplastias em pacientes acima de 65 anos de idade 1. Os pacientes octogenários freqüentemente apresentam patologias não cardíacas associadas a doença coronária, como insuficiência renal, arteriopatias periféricas de membros inferiores e cerebral, distúrbios mentais, e incidência maior de Insuficiência Cardíaca. Isto faz com que apresentem maiores taxas de morbidade e mortalidade na angioplastia coronária, quando comparadas com pacientes mais jovens. O procedimento em si apresenta maior complexidade, pois as artérias são mais tortuosas, mais calcificadas, com ateromatose generalizada. A cateterização dos óstios é mais difícil, e a estabilização do cateter guia também é mais difícil. Há maior necessidade de uso do Rotablator, devendo o procedimento ser realizado por equipe mais experiente. Na “era” da angioplastia com balão o sucesso era de 85%. Após o procedimento os pacientes melhoravam a capacidade física em 33%, e 55% diminuíam o uso de medicação anti-anginosa. A sobrevida após 3 anos era de 80-91% e mais de 90% indicavam alto índice de satisfação com melhora na qualidade de vida e estado de saúde. A mortalidade hospitalar variou de 0 a 23%, com média de 7,5%. A incidência média de Infarto do Miocárdio foi de 4,1% 2-3-4-5-6-7-8-9-10-11-12-13-14-15. Com a introdução do stent houve uma acentuada melhora nos resultados, atingindo 96 a 99% de sucesso. Porém o índice de complicações ainda permanece elevado se comparado com pacientes mais jovens 16-17-18-19-20-21. Tabela I: No. de Pacientes Idade Média Sexo Masculino Angina Estável Angina Instável IAM Diabéticos Cir. Revasc. Prévia Angioplastia prévia Disfunção severa do VE RESULTADOS Obtivemos sucesso em 100% dos pacientes. Nenhum paciente foi encaminhado para cirurgia de revascularização de emergência. Não tivemos Infarto Agudo do miocárdio no pós-operatório imediato. As medidas das lesões pré-angioplastia realizadas pelo software do aparelho Siemens foram 2,91 + 0,37 mm de Diâmetro de Referência (DLR), 0,80 + 0,49 mm de Diâmetro Luminal Mínimo (DLM) e 11,0 + 3,64 mm de Comprimento médio. Pós Angioplastia as medidas foram 3,12 + 0,38 mm de DLR e 3,00 + 0,50 mm de DLM. Não tivemos oclusão aguda ou subaguda do vaso. Não tivemos complicações vasculares. Ocorreu um caso de Insuficiência Renal Aguda num paciente com Infarto Agudo do Miocárdio e Choque Cardiogênico. Na evolução tardia, após 6 meses, tivemos 2 óbitos, 1 Angioplastia e nenhuma cirurgia de revascularização, o que corresponde a uma taxa de 16,66% de eventos. Após MATERIAL E MÉTODOS De fevereiro de 1998 a setembro de 2002 foram realizadas no Instituto Nacional de Cardiologia 33 angioplastias em pacientes octogenários com idade média de 83 + 2,6 anos, sendo 63,6% do sexo masculino. Apresentavam quadro clínico de Angina Estável 12 pacientes (36,36%), Angina Instável 14 pacientes (42,42%) e Infarto Agudo do Miocárdio 7 pacientes (21,22%). Um dos pacientes com IAM estava no primeiro dia de pós-operatório de cirurgia de revascularização miocárdica e apresentava choque cardiogênico. Havia 18,8% de pacientes diabéticos, SERVIÇO DE HEMODINÂMICA E CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA DO INC. 19 Untitled-1 19 Dados Clínicos 33 83+2,6 63,6% 36,36% 42,42% 21,22% 18,8% 15,2% 21,2% 15,6% 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras 12 meses de evolução além das descritas, tivemos mais uma re-angioplastia (22,22% de eventos). Tabela II: Sucesso DLR pré (mm) DLM pré (mm) Comprimento da lesão (mm) DLR pós (mm) DLM pós (mm) CONCLUSÃO 1- Pelos resultados obtidos podemos afirmar que a Angioplastia Coronária deve ser o tratamento de escolha para pacientes octogenários que apresentam lesões e condições clínicas favoráveis a um procedimento rápido e de baixo risco. Resultados 100% 2,91 + 0,37 0,80 + 0,49 11,0 + 3,6 3,12 + 0,38 3,00 + 0,50 2- A seleção dos casos proporcionou o sucesso em todos os pacientes da série, evitando complicações, apesar de apresentarem morbidade potencialmente alta. DISCUSSÃO BIBLIOGRAFIA 1. 2. Consideramos que a primeira opção para tratamento dos pacientes octogenários com Insuficiência Coronária é o tratamento clínico. Porém existem dados que mostram que em grupos selecionados os resultados deste tratamento, como os da cirurgia de revascularização são inferiores quando comparados com os da angioplastia coronária 21. 3. 4. 5. 6. A indicação de cinecoronariografia neste grupo de pacientes se limita àqueles cujo tratamento clínico não consegue debelar as crises anginosas, ou no de Infarto Agudo do Miocárdio. As limitações físicas dos pacientes mais idosos prejudicam a indicação de provas funcionais para detecção de isquemia miocárdica, como o teste ergométrico, a cintilografia miocárdica, e o ecocardiograma com dobutamina ou com microbolhas. Por outro lado, não é raro encontramos octogenários com grande vigor físico, se comportando como pacientes de faixa etária mais baixa. 7. 8. 9. 10. 11. 12. O fator fundamental para o sucesso obtido nas angioplastias em pacientes idosos foi a seleção dos casos. Acreditamos este fator tenha sido o responsável pelos excelentes resultados encontrados no nosso grupo. Se observarmos, somente 18,8% dos pacientes eram diabéticos, e apenas 15,6% apresentavam disfunção severa do ventrículo esquerdo. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. Podemos observar que 69,7% dos nossos pacientes eram bivasculares ou trivasculares, porém abordamos, em média, apenas 1,33 lesões por paciente. Isto demonstra a nossa estratégia para estes pacientes. Geralmente não nos preocupamos em realizar uma revascularização completa. Tratamos apenas a lesão crítica, aquela que interpretamos ser a causadora da instabilidade clínica. 20. 21. Kahn JK, Freed M. The new manual of interventional cardiology 1996-pg.176. Jollis JG, Peterson ED, Bedchuk JD, Delong ER, et al. Coronary angioplasty in 20006 patients over age 80 in the United States. J Am Coll Card 1995; March Special Issue:47A Weyrens F, Goldberg I et al. Percutaneous transluminal coronary angioplasty in patients age >90 years. Am J Cardiol 1994;74:397-398. Little T, Milner M, Lee K, Constantine J, Pichard AD, Lindsay JJ. Late outcome and quality of life following percutaneous transluminal angioplasty coronary in octagenarians. Cathet Cardiovasc Diagn 1993;29:261-266. 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Na nossa série de pacientes tivemos apenas um caso de Insuficiência Renal Aguda, no paciente com Infarto Agudo do Miocárdio e Choque Cardiogênico, no pós operatório imediato de cirurgia de revascularização miocárdica. 20 Untitled-1 20 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras É factível o Glenn bidirecional como procedimento cirúrgico definitivo em cardiopatias com o ventrículo direito não funcionante? Marco Aurélio Santos*; Vitor Manuel Pereira Azevedo. Histórico: bidirecional ou anastomose cavopulmonar bidirecional na cirurgia de Fontan, algumas modificações foram realizadas. Na denominada hemi-Fontan, a conexão entre a veia cava superior e a porção cranial do átrio direito é feita lado a lado com a artéria pulmonar direita, sem desconectar a veia cava superior. Um retalho é então colocado na porção cranial do átrio direito separando o fluxo sangüíneo da veia cava superior do da veia hepática e da cava inferior. 11 desenvolveram, Kreutzer et al independentemente, uma técnica na qual foi criada anastomose término-terminal entre o apêndice atrial direito e o tronco da artéria pulmonar, utilizando válvula homóloga, porém sem a utilização da anastomose de Glenn ou a colocação de válvula adicional no orifício da veia cava inferior. A partir de então foram publicados inúmeros trabalhos 12-16 relatando o sucesso no tratamento da atresia tricúspide, utilizando este procedimento e outros com algumas modificações técnicas. Glenn bidirecional ou cavopulmonar bidirecional: O manuseio daqueles pacientes, que ainda não são os candidatos ideais para a cirurgia de Fontan, mas que necessitam de tratamento cirúrgico em função do aumento da cianose e do desenvolvimento pondero-estatural limitado, permanece como um problema de difícil resolução. As opções cirúrgicas disponíveis para tais pacientes incluem comunicações arteriais sistêmico-pulmonares; comunicação unidirecional cavo-pulmonar com descontinuidade das artérias pulmonares (procedimento de Glenn) e anastomose cavo-pulmonar bidirecional. As vantagens oferecidas pelo procedimento de Glenn, comparadas com os clássicos shunts sistêmicopulmonares são: a) aumento do fluxo sangüíneo pulmonar efetivo, já que o sangue que alcança a circulação pulmonar é totalmente insaturado e não uma mistura arteriovenosa (parcialmente insaturado); b) redução e não aumento da carga volumétrica ventricular esquerda; c) redução do fluxo sangüíneo para o átrio direito; d) prevenção do desenvolvimento tardio de doença obstrutiva vascular pulmonar no pulmão direito; e) aumento do débito cardíaco com o exercício. Em função dessas características o clássico procedimento de Glenn oferece vantagens favoráveis em relação as convencionais comunicações arteriais sistêmicopulmonares, quando se considera a correção ortoterminal como o destino final destes pacientes. A anastomose cavo-pulmonar bidirecional apresenta ainda maiores vantagens em relação ao clássico procedimento de Glenn: a) a continuidade entre os dois ramos da artéria pulmonar é mantida; b) presença de fluxo sangüíneo pulmonar bilateral; c) possibilidade de reconstrução simultânea arterial pulmonar desde que o A concepção de excluir o ventrículo direito da circulação como parte do tratamento de algumas cardiopatias complexas foi proposto inicialmente por Rodbard e Wagner 1. Posteriormente Carlon et al 2, realizaram, em cães, a anastomose da porção distal do ramo direito da artéria pulmonar, previamente secionado, com a porção distal da veia ázigos, ligando por fim a veia cava inferior. Todos esses experimentos em animais, nos quais todo o retorno venoso das cavas era subitamente direcionado para os pulmões, estavam associados à hipertensão venosa, congestão esplênica e morte. Wardem et al 3 em 1954 realizaram em cães uma anastomose entre o apêndice atrial direito e o tronco da artéria pulmonar e a seguir obliteraram o orifício da válvula tricúspide. A partir de então, constatouse que os sobreviventes a estes procedimentos eram somente aqueles que preliminarmente tinham sido submetidos a criação de uma estenose tricúspide. Ficou assim demonstrado que era possível a sobrevida sem a participação do ventrículo direito. Os primeiros relatos clínicos publicados sobre a possibilidade de sobrevida com a exclusão do ventrículo direito da circulação foram feitos por Hurwitt, Young e Escher 4 e por Shumacker 5, porém ambos sem sucesso. Em 1958 Glenn 6, utilizando estes conceitos, realizou uma anastomose término-terminal entre a veia cava superior e o ramo distal da artéria pulmonar direita previamente desconectado do ramo direito. Este princípio foi aplicado por outros investigadores 7-9 criando-se por fim a anastomose cavopulmonar (Glenn) bidirecional que consistia na conexão da porção terminal da veia cava superior com a porção lateral da artéria pulmonar direita não seccionada, perfundindo-se, assim, ambos os pulmões. Durante este procedimento o fluxo anterógrado, se presente, do tronco da artéria pulmonar, deveria ser interrompido. Além disso a veia ázigos deveria ser ligada para impedir a comunicação da veia cava superior com o sistema da veia cava inferior. Embora em 1968 Fontan de Baudet tivessem realizado com sucesso a primeira anastomose átriopulmonar, o seu relato na literatura ocorreu somente em 1971 10. Neste procedimento a anastomose de Glenn foi inicialmente realizada, seguida pela conexão do apêndice atrial direito com o ramo proximal direito da artéria pulmonar, através da interposição de válvula aórtica homóloga. O defeito do septo interatrial foi fechado, uma válvula pulmonar homóloga foi inserida no orifício da veia cava inferior e finalmente o tronco da artéria pulmonar ligado. No sentido de facilitar a conversão do Glenn *MÉDICODODEPARTAMENTODEENSINOEPESQUISADOINC 21 Untitled-1 21 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras procedimento seja realizado via esternotomia mediana e em by-pass cardiopulmonar; d) possibilidade para futuros procedimentos cirúrgicos. Além disso a anastomose cavopulmonar bidirecional aumenta a saturação de oxigênio arterial pelo aumento do fluxo sangüíneo pulmonar efetivo. Embora todos os pacientes permaneçam parcialmente insaturados, o aumento da saturação de oxigênio sistêmico combinado com a redução da carga volumétrica ventricular, são fatores responsáveis pela substancial melhora das condições clínicas do paciente. Sendo assim o crescimento/ desenvolvimento passa a ser normal, na telerradiografia de tórax o índice cardiotorácico diminui, bem como as necessidades terapêuticas medicamentosas. A redução da saturação de oxigênio observada durante o exercício, está inversamente relacionada com o aumento do débito cardíaco. É possível que o aumento significativo do retorno venoso da veia cava inferior e do seio coronariano durante o exercício, possa explicar a insaturação sistêmica ao esforço, uma vez que este retorno venoso pósanastomose cavo-pulmonar continua sendo direcionado à aorta. Os melhores resultados com esse procedimento cirúrgico são observados em pacientes com interrupção do segmento hepático da veia cava inferior e drenagem pela ázigos, já que nesses casos, todo o retorno venoso sistêmico é reorientado para a circulação pulmonar, exceto o sangue do seio venoso coronário e das veias hepáticas. O pós-operatório imediato relativamente mais tranqüilo, parece ser decorrente do aumento da saturação sistêmica e da redução da carga volumétrica ventricular esquerda, conseqüência de: a) manutenção de regime de pressão normal nos sistemas venosos coronário, renal e hepático; b) pressão média na veia cava superior aceitável. Estas vantagens, tornam-se relevantes quando se considera pacientes com cardiopatia congênita complexa candidatos ideais para o procedimento de Fontan. A anastomose cavo-pulmonar bidirecional, permite a reconstrução simultânea das artérias pulmonares, redução da regurgitação da válvula atrioventricular esquerda (ou comum), melhora da contratilidade ventricular pelo aumento da saturação de oxigênio sistêmico e redução da sobrecarga volumétrica. seus pacientes. Em uma série envolvendo 50 pacientes, Pridjian et al 19 relataram como fatores de risco para alta mortalidade a presença de elevada resistência vascular pulmonar (acima de 3 unidades Wood), bem como distorções da árvore arterial pulmonar; porém a idade abaixo de 1 ano, o índice de Nakata menor do que 200 mm²/m², o diagnóstico primário ou procedimentos cirúrgicos concomitantes não tiveram qualquer valor significativo. Na literatura existe pouca informação sobre a duração de hospitalização na anastomose cavo-pulmonar bidirecional. Chang et al 21 relataram duração média de 6 dias para os 17 lactentes menores do que 7 meses de vida. Também Bridges et al 18 encontraram valores próximos, com duração média de 8 dias no grupo de 38 pacientes estudados, cuja idade média foi de 26 meses. O diagnóstico primário parece ter influência estatisticamente significativa na duração da internação. Assim a anomalia de Ebstein, a atresia mitral e a hipoplasia do coração esquerdo são responsáveis por maior permanência hospitalar. Também as anomalias das válvulas atrioventriculares, particularmente em lactentes, estão associadas não só a maior permanência hospitalar, bem como a maior mortalidade. Os resultados pouco favoráveis a longo prazo da cirurgia de Fontan tem estimulado alguns investigadores em substituí-la pela anastomose cavopulmonar bidirecional como procedimento paliativo definitivo em cardiopatias com o ventrículo direito não funcionante. Bonnet et al 26 realizaram a anastomose cavopulmonar bidirecional em 115 pacientes com idade entre 1 mês e 22 anos (4,3 ± 4,5 anos), sendo que em 84 pacientes o procedimento foi eletivo. A mortalidade operatória foi de 4% e 15% dos pacientes apresentaram complicações importantes. As complicações foram menores (2,4%) no grupo com indicação eletiva, sendo que em seguimento de 4,8 ± 3,2 anos, 95% dos pacientes estavam clinicamente bem, apesar de cianose discreta (86 ± 6% de saturação de O²). Embora a experiência dos autores seja pequena a longo prazo, nos parece que esta conduta seja aceitável, evitando-se assim as complicações da cirurgia de Fontan. Já há algum tempo que grande número de investigadores vem analisando as possibilidades de alternativas cirúrgicas nas cardiopatias com um ventrículo funcionante 27, 28. Weipert et al 27 reviram sua experiência em 263 pacientes e concluíram que não só a anastomose cavopulmonar bidirecional como a cavopulmonar total apresentam melhores resultados do que a cirurgia de Fontan. Na tabela 1 estão os resultados dos 3 tipos de procedimento cirúrgico. Cirurgia: A mortalidade operatória da anastomose cavopulmonar bidirecional, em grandes centros de referência, varia de 0% a 10% (x=6,3%) 17-25. Em função do pequeno tamanho da amostra, a maioria das publicações não analisam alguns fatores de risco. Kopf et al 25 encontraram mortalidade significativamente maior (31%) em pacientes com idade inferior a 1 ano, comparada com mortalidade de 7,7% do conjunto de sua amostra de 91 pacientes. Entretanto esse estudo somente analisou os pacientes submetidos ao clássico procedimento de Glenn. Já Chang et al 21 relataram série consecutiva de 17 lactentes com idade de 4,2 a 6,5 meses (x=6,1 meses), com peso médio de 6,1 Kg, submetidos a anastomose cavo-pulmonar bidirecional, que apresentaram mortalidade de 5,9% (1/17), sugerindo não haver aumento de mortalidade nesta faixa etária. Alejos et al 20 chamam a atenção como fatores de risco, as anomalias de conexão venosa pulmonar e o aumento da pressão arterial pulmonar (>18mmHg), entretanto a idade e a presença de regurgitação das válvulas atrioventriculares não apresentaram qualquer fator significativo na mortalidade de Tabela 1 – Comparação dos resultados cirúrgicos do procedimento de Fontan, do cavopulmonar bidirecional e do cavopulmonar total. Cavopulmonar total Número Mortalidade inicial Sobrevida total Reoperação Fontan Cavopulmonar bidirecional 182 10% 66 ± 5% 29 ± 5% 43 2% 71 ± 12% 18 ± 10% Acreditam os autores que nos pacientes com cavopulmonar bidirecional eletiva, a conversão para a cavopulmonar total deveria ser indicada dentro de 1 ano. Um importante questionamento para aqueles que 22 Untitled-1 22 34 3% 85 ± 7% 6 ± 4% 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras defendem a anastomose cavopulmonar bidirecional como procedimento paliativo definitivo diz respeito da necessidade ou não de uma fonte de perfusão pulmonar adicional. McElhinney et al 29 estudaram 160 pacientes submetidos a anastomose cavopulmonar bidirecional nos quais 58% tiveram alguma fonte de fluxo sangüíneo adicional para o pulmão. A mortalidade total foi de 7,5% (n=12), sendo que em 11 houve necessidade de nova intervenção no sentido de diminuir (n=8) ou aumentar (n=3) a quantidade de fluxo sangüíneo pulmonar. Acreditam os autores que ainda há necessidade de novos estudos para que se possa estabelecer definitivamente esta conduta como mais uma alternativa de tratamento. Além do fluxo sangüíneo pulmonar adicional outra controvérsia na fisiologia da anastomose cavopulmonar bidirecional diz respeito a importância da pulsatilidade do fluxo na função endotelial pulmonar. Kurotobi et al 30 determinaram a velocidade de fluxo pulmonar administrando acetilcolina e posteriormente nitroglicerina em um grupo de 10 pacientes pós anastomose cavopulmonar bidirecional, com uma fonte de fluxo adicional e em um grupo controle. Os resultados de suas observações foram que existe atenuação da função endotelial pulmonar pós anastomose cavopulmonar bidirecional e que a diminuição da pulsatilidade do fluxo cavopulmonar é a principal responsável por essa anormalidade endotelial. As conexões colaterais venosas podem se desenvolver em qualquer época após a criação da anastomose cavo-pulmonar bidirecional. Além disso podem apresentar tamanho e repercussão de graus variáveis 32-35. Em algumas situações elas podem ser letais 35 pela subitaneidade de aparecimento e pelo desenvolvimento de insaturação incompatível com a vida. Já em alguns pacientes elas são diagnosticadas mais tardiamente, não produzindo distúrbios fisiológicos mais importantes. O que não está totalmente esclarecido na literatura é porque alguns pacientes desenvolvem estas conexões colaterais venosas e outros não, e porque a freqüência e extensão desta malformação variam tanto de um paciente para outro. O que se sabe é que o aparecimento destas conexões colaterais está relacionado com a diferença de pressão entre os sistemas da veia cava superior e inferior, muito embora estas diferenças de pressão sejam relativamente pequenas. Os estudos de de Leval 36 e Van Haesdonck 37 sugerem, através da análise da dinâmica “computacional” de fluídos na anastomose cavo-pulmonar, que pequenas variações na pressão, podem refletir diferenças significativas na conservação de energia. A anatomia venosa natural do paciente, bem como o gradiente transpulmonar seriam certamente outros fatores responsáveis pelo desenvolvimento dessas conexões colaterais venosas, pois somente sua persistência e não necessariamente sua existência deveria ser considerada como situação anormal. Na investigação hemodinâmica pós-anastomose cavo-pulmonar tem sido observado diminuição significativa e até mesmo, ausência do fluxo sangüíneo pulmonar do lobo superior. Parece haver uma relação entre ausência de fluxo sangüíneo pulmonar e desenvolvimento de conexões colaterais venosas, ou seja as conexões colaterais são mais freqüentes quando existe ausência de fluxo sangüíneo para o lobo superior 33. A anastomose cavo-pulmonar bidirecional é em alguns centros procedimento intermediário para a cirurgia de Fontan (modificado). Sendo assim, as conexões colaterais venosas que drenam abaixo do diafragma não tem a menor significação fisiológica e evidentemente nessas circunstâncias não precisam serem embolizadas. Contrariamente, as conexões colaterais que drenam no átrio venoso pulmonar precisam serem embolizadas no momento do diagnóstico. Nos pacientes cujas conexões colaterais drenam diretamente no coração, como no seio coronário ou na junção cavo-atrial, também a embolização é inquestionável já que elas representam um shunt obrigatório da direita para a esquerda. Além dessa complicação vascular, a anastomose cavo-pulmonar bidirecional pode propiciar o aparecimento de malformações arteriovenosas pulmonares e colaterais aorto-pulmonares 38-40. As malformações arteriovenosas pulmonares se desenvolvem em cerca de 15 a 25% dos pacientes pós anastomose cavopulmonar bidirecional. Elas sempre deverão serem lembradas em situações em que a insaturação arterial é identificada meses após o procedimento. Malhotra et al 41 acreditam que possivelmente estas malformações estejam associadas a alterações do tonus vascular pulmonar. Experimentalmente estes autores demonstraram que essas malformações vasculares seriam decorrentes de diminuição dos níveis circulantes de angiotensina II. Assim após a anastomose cavopulmonar bidirecional haveria uma incapacidade do endotélio pulmonar em regular o tonus vascular que estaria de certa forma Conexões colaterais venosas: O princípio da anastomose cavo-pulmonar bidirecional é o fornecimento de fluxo pulmonar efetivo controlado, de baixa pressão e que tem crescimento potencial, bem como a redução da sobrecarga volumétrica ventricular 9. Na fisiologia da anastomose cavo-pulmonar bidirecional a veia cava superior e as artérias pulmonares estão em continuidade e com o mesmo nível pressórico. Por outro lado a veia cava inferior mantém o mesmo nível pressórico com o átrio direito (venoso sistêmico) e esquerdo (venoso pulmonar), desde que se assuma uma comunicação interatrial não restritiva. Como a pressão nas artérias pulmonares deve ser mais elevada do que a pressão no átrio venoso pulmonar, para vencer a resistência vascular pulmonar, a pressão na veia cava superior encontra-se mais elevada do que a pressão na veia cava inferior, ao grau que é equivalente ao gradiente de pressão transpulmonar. Como já se sabe, através de estudos em laboratório 31 e ensaios clínicos 32, este tipo de disposição fisiológica da circulação pode levar ao desenvolvimento de conexões colaterais venosas entre o sistema da veia cava superior, com maior pressão, e o da veia cava inferior, de menor pressão. Este achado tem sido confirmado em diversas publicações, não só de clássico Glenn 33, como também da anastomose cavo-pulmonar bidirecional 18, 34, 35. Sendo assim a anastomose cavo-pulmonar bidirecional pode potencialmente criar uma conexão entre os sistemas da veia cava superior e da veia cava inferior. Esta situação produz uma descompressão do sistema da veia cava superior, de pressão mais elevada, e concomitantemente redução do fluxo pulmonar e da saturação de oxigênio arterial. Em situações mais graves esta complicação pode levar ao quadro de acentuada hipoxemia, cujo tratamento é realizado pela oclusão dessas conexões colaterais através da ligação cirúrgica ou pela embolização percutânea com espirais de liberação não controlada. 23 Untitled-1 23 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras inibido. Portanto a dilatação da vasculatura pulmonar contribuiria para o remodelamento vascular desordenado induzido pela anastomose cavopulmonar. Em outra publicação Starnes et al 42, utilizando método imunohistoquímico demostrou que a cianose progressiva produzida por malformações arteriovenosas pulmonares eram conseqüentes de uma angiogênese anormal. Assim através de biópsia pulmonar de crianças que foram submetidas a anastomose cavopulmonar ficou demonstrado um aumento do fator de crescimento do endotélio vascular que poderia ser mediador da angiogênese nos pulmões desses pacientes pós anastomose cavopulmonar. Além desse fator também a dilatação vascular e o remodelamento participariam de todo esse processo. Embora a anastomose cavo-pulmonar bidirecional não seja uma correção fisiológica total (os pacientes permanecem insaturados), ela vem ganhando cada vez mais aceitação, basicamente em função de: a) baixa mortalidade em lactentes com baixo peso; b) aceitável qualidade de vida dos pacientes a longo prazo; c) reprodutibilidade, principalmente em centros menos desenvolvidos. Por outro lado existe demonstração 43 de que a contribuição de fluxo sangüíneo da veia cava inferior para o retorno venoso sistêmico total nos pacientes com anastomose cavo-pulmonar total é menor do que o da veia cava superior. Além disso, os pacientes com anastomose cavo-pulmonar total parecem sofrer os efeitos deletérios da gravidade e do ciclo respiratório sobre o retorno venoso infradiafragmático 44. 24. Referências Bibliográficas: 41. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. Rodbar S, Wagner D. Bypassing the right ventricle. Proceedings of the Society for Experimental Biology and Medicine 1949; 71: 69-70. Carlon CA, Mondini PG, Demarchi R. Surgical treatment of some cardiovascular diseases. J Int Coll Surg 1951; 16: 1-11. Warden, HE. Discussion. J Thorac Surg 1955; 30: 511. Hurwitt ES, Young D, Escher JW. 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Circulation 2000; 102 (Suppl III): 148-53. 24 Untitled-1 24 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras INDICAÇÃO DE REVASCULARIZAÇÃO MIOCÁRDICA NA DOENÇA CORONARIANA CRÔNICA FELIPE JOSÉ MONASSA PITTELLA * Cirurgia de Revascularização Miocárdica X Terapia Médica A Cirurgia de Revascularização Miocárdica (CRM) é um procedimento eficaz na melhora da sobrevida, em subgrupos de pacientes com maior risco, quando comparado ao tratamento médico. (1-4). Nos pacientes em que o aumento da sobrevida não pode ser esperado, ela é indicada no alívio dos sintomas e na melhora da qualidade de vida.(1) A indicação da CRM é baseada em estudos randomizados, realizados entre 1972 e 1984, comparando a CRM com o tratamento médico.(1) ESTUDO VA ECSS CASS TEXAS OREGON NZ TOTAL repouso. (5,7) No estudo European Coronary Surgery Study (ECSS) houve maior benefício da CRM em relação à terapia médica na sobrevida, nos pacientes multiarteriais com doença significativa proximal da artéria descendente anterior (DA), naqueles com evidência de isquemia miocárdica ou IAM no ECG de repouso, nos idosos, na presença de doença arterial periférica, e nos pacientes com resposta isquêmica no teste de esforço. (8-9) O estudo Coronary Artery Surgery Study (CASS) mostrou melhora significativa da sobrevida nos pacientes de alto risco, como aqueles com disfunção ventricular, e fração de ejeção entre 35 e 50%. (10) PACIENTES 686 767 780 116 100 100 2549 Quanto maior a gravidade dos sintomas, a extensão da doença arterial coronariana (DAC) e a disfunção ventricular, maior o beneficio da CRM na melhora da sobrevida.(1) Os estudos mostram que a CRM prolonga a vida nos pacientes com doença significativa de TCE, nos multiarteriais com disfunção ventricular esquerda, nos triarteriais com envolvimento da DA proximal ( independente da função ventricular). (1,11). Apesar das importantes limitações desses estudos a respeito de: seleção de pacientes, fatores cirúrgicos e a terapia médica usada, eles foram consistentes em seus achados e suas conclusões devem ser usadas na prática atual. A maior mensagem desses estudos, é que o beneficio da CRM sobre o tratamento médico em relação à sobrevida, é maior nos pacientes de alto risco, definido pela gravidade da angina e/ou isquemia, extensão da doença arterial coronariana ( numero de vasos com doença significativa e presença de doença proximal), e presença ou não de disfunção ventricular esquerda. ( 1,5,6) O beneficio da CRM também pode se estender aos pacientes de baixo risco, na melhora dos sintomas. Cerca de 80 a 90% dos pacientes sintomáticos, apesar da terapia médica, podem se tornar assintomáticos com a CRM .(1) O alívio dos sintomas está relacionado à revascularização completa e à manutenção da perviedade dos enxertos. Os benefícios no alivio dos sintomas diminuem com o tempo, em função da oclusão dos enxertos e da progressão da doença no leito nativo.(5). A meta -análise desses sete estudos mostrou que os pacientes de alto risco (4,8% mortalidade anual) e moderado risco (2.,5% mortalidade anual ), tiveram aumento significativo na sobrevida nos 5, 7 e 10 anos de acompanhamento, porém aqueles de baixo risco (1,2% mortalidade anual) não tiveram melhora na sobrevida .(1) A recorrencia da angina após a CRM acontece na taxa de 3 a 20% ao ano. Em dois estudos (12,13) a taxa de perviedade dos enxertos aos 7,5 anos foi de 93% para arteria mamária interna (AMI) e de 52% para os enxertos venosos. Cerca de 3 a 12% dos enxertos venosos ocluem com ou sem sintomas no 1º mês após a CRM . Durante o primeiro ano 15% dos enxertos venosos estão ocluidos, com uma taxa de oclusão anual em torno de 1 a 2% entre 1 e 6 anos, e de 4 % entre 6 e 10 anos .(13) No estudo Veterans Administration Coronary Artery Bypass (VA) somente os subgrupos de maior risco, tiveram melhora significativa na sobrevida com a CRM. Esses subgrupos foram definidos angiográficamente pela presença de doença significativa de tronco da coronária esquerda (TCE) e doença trivascular com disfunção ventricular esquerda, ou clinicamente pela presença de dois ou mais dos seguintes fatores de risco :angina classe funcional III ou IV., história prévia de IAM ou hipertensão arterial, e depressão do segmento ST no eletrocardiograma (ECG) de Após 10 anos somente 60% dos enxertos venosos estão pérvios e somente 50% estão livres de estenose significativa. (13) Embora exista superioridade do enxerto da AMI anastomosada na DA em comparação com a veia safena na melhora da sobrevida, não existe diferença significativa ´*Médico da Divisão de Doença Coronariana do INC -Mestrando em Cardiologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) 25 Untitled-1 25 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras na evolução sem angina após a CRM. (14) de ejeção variando de 50 a 63% . Foram excluidos as lesões de TCE, oclusão total crônica, doença difusa, anatomia ou lesões desfavoráveis a ATC e foram incluídos poucos pacientes com disfunção ventricular significativa. (21,25) Enquanto a preservação do fluxo na AMI é importante na sobrevida, outros fatores como a oclusão dos enxertos venosos e a progressão da DAC nos vasos nativos influenciam no retorno da angina. (15) Conseqüentemente uma grande proporção de pacientes eram de baixo risco, cujos os estudos anteriores(5,8,10,27) não tinham mostrado melhora na sobrevida com a CRM quando comparado com o tratamento médico. Possivemente o beneficio da CRM sobre a ATC no grupo de médio e alto risco foi mascarado pela maior inclusão dos pacientes de baixo risco. Doença Univascular Nos pacientes univasculares em que a angina esteja incontrolável clinicamente, a revascularização miocárdica é uma alternativa. É possível, que no futuro, estudos comparativos entre CRM e os stents recobertos com drogas sejam realizados e então poderemos ver resultados próximos entre as 2 opções de tratamento, principalmente quanto à necessidade de novas intervenções nos pacientes multiarteriais. Nenhum estudo mostrou melhora da sobrevida com a CRM em comparação com a terápia médica. (5,16,17) Estudos randomizados que comparam angioplastia transluminal coronária (ATC) com o tratamento médico, como o estudo ACME (Comparison of Angioplasty with Medical Therapy) , também não encontraram diferença na mortalidade em ambos os grupos de tratamento, porém a ATC ofereceu maior alívio da angina e melhor tolerância ao esforço. (18) Diabéticos Apesar de piores resultados observados com a CRM e a ATC em diabéticos, a analise deste subgrupo no estudo BARI ( 353 pacientes)(21) em que não se utilizaram stents, os pacientes com lesões multiarteriais submetidos a CRM tiveram maior sobrevida quando comparado com a ATC.(21) Outros estudos que compararam CRM com a ATC ( 16,17,19) não mostraram diferença significativa na mortalidade e incidência de IAM em ambos os grupos no acompanhamento de 2.5 anos. Houve uma tendência semelhante no estudos EAST (25) e CABRI (22). A melhor sobrevida observada no estudo BARI (21) foi por uma redução na mortalidade de causa cardíaca e foi constatado somente entre os pacientes que receberam enxerto da AMI para artéria descendente anterior . Dados do subestudo ARTS (24) que comparou CRM e ATC com stents em diabéticos(208 pacientes), mostrou uma melhor sobrevida livre de eventos (morte, IAM, AVE, nova revascularização) no seguimento de um ano no grupo da CRM quando comparado com stents (84,4% x 63,4% p<0.001). Na análise da mortalidade não houve diferença significativa entre os dois grupos(3,1% x 6,3% p=ns).A diferença na incidência de eventos se deveu ao maior índice de novas revascularizações entre os diabéticos submetidos a ATC com stents. Embora a mortalidade depois da CRM seja aumentada em diabéticos, as evidências disponíveis apontam no sentido de que a CRM com enxertos arteriais se associam com os melhores resultados a longo prazo em comparação à ATC, em pacientes multiarteriais, melhorando a sobrevida e diminuindo a necessidade de novos procedimentos. A CRM levou a um melhor alivio dos sintomas e menor necessidade de novos procedimentos quando comparado a ATC. A indicação de revascularização miocárdica em pacientes univasculares é bem definida, já que nenhum estudo mostrou beneficio da CRM ou ATC sobre a terapia médica em relação a sobrevida. A indicação é baseadana melhora dos sintomas e/ ou na eliminação da isquemia miocárdica evidenciadas por testes funcionais. (20) Doença Multivascular Estudos randomizados que comparam CRM e ATC em pacientes com lesões multiarteriais (21-25) mostraram risco semelhante de morte e IAM no acompanhamento que variou de 1 a 5 anos. A CRM foi associada com melhor alivio dos sintomas e menor necessidade de drogas anti-anginosas quando comparado com a ATC. A ATC foi associada a maior necessidade de novos procedimentos que variou de 36,5% (23) a 62%(25) durante o acompanhamento de 1 e 3 anos respectivamente. No grupo da CRM a necessidade de novos procedimentos variou de 3,5% ( 23) a 13,5% (25 ). Indicação de Revascularização Miocárdica No estudo ARTS (24) que comparou CRM e stent a necessidade de novos procedimentos foi de 3,5% e 16,8% respectivamente. O estudo MASS II ( 26 ) comparou CRM , ATC e tratamento médico em pacientes multiarteriais, com angina estável e função ventricular preservada, e não mostrou diferença na sobrevida nos 3 grupos. A CRM foi associada a maior alívio dos sintomas e menor necessidade de novos procedimentos quando comparada com os outros 2 grupos. A maioria dos pacientes randomizados para estes estudos que comparam CRM e ATC tinham lesões de 2 e 3 vasos, exceto o estudo RITA que incluiu 45% de pacientes uniarteriais. A função ventricular era preservada com a fração 26 Untitled-1 26 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras 14- Loop FD, Lytte BW, Cosgrove DM, et al. Influence of the internal mamary artery graft on 10-year survival and other cardiac events. N Eng J Med 1986; 314:1 15-Kirklin JW, Naftel DC, Blackstone EH, Pohost GM. 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Apresentam enorme relevância nas mais diversas situações clínicas, tanto em vigência de cardiopatia estrutural, quando em corações aparentemente normais. É digno de nota que o prognóstico e o manuseio de uma determinada condição cardíaca depende inúmeras vezes da presença ou não de arritmias no caso em particular. A necessidade de um diagnóstico correto das anormalidades do ritmo cardíaco tem sido comprovada pelo aumento crescente das técnicas de investigações nas últimas décadas. Apesar de dispormos hoje de diversos recursos e meios de investigação sofisticados, inclusive acoplados a sistemas robustos de software, é sempre oportuno relembrar que o diagnóstico à beira do leito ainda guarda informações precisas e muitas vezes insubstituíveis quanto ao contexto clínico. do coração é comprometida, mais do que propriamente o mecanismo pelo qual este distúrbio é produzido, que vai determinar o tipo e a gravidade dos sintomas associados a arritmia (1). A queixa de palpitação, significa que o paciente esta consciente do seu batimento cardíaco. A palpitação associada a extra-sístole é geralmente decorrente do primeiro batimento pós-extrassistólico devido ao seu maior volume sistólico. A extra-sístole propriamente dita, por ser fraca (produz menor débito) é geralmente desapercebida. Um surpreendente sintoma, não muito raro, tem sido relatado como uma tosse involuntária simultaneamente com cada extra-sistole. Sugere um reflexo originado no coração cujo mecanismo ainda não esta esclarecido (1,2). Pacientes com taquicardia sinusal ou flutter atrial paroxístico, com uma resposta ventricular regular não conseguem, via de regra, reconhecer precisamente quando a frequência acelerada começou ou quando terminou. Por outro lado, pacientes com taquicardia paroxística supraventricular (TPSV) geralmente conseguem identificar o momento de início e término súbitos do episódio com precisão. Um paciente com fibrilação atrial com uma resposta ventricular lenta pode ser assintomático, apresentando sintomas de palpitação apenas com exercício físico, estresse ou outro estímulo. Surtos paroxísticos de taquicardia ventricular (TV) apresentam maior incidência em indivíduos com formas significativas de doença cardíaca tais como passado de infarto do miocárdio ou doença arterial coronariana. O início súbito da TV com freqüência cardíaca elevada pode ser referida pelo paciente como palpitação e muitas vezes associado a sintomas mais sérios como: dispnéia, angina pectoris, manifestações de baixo débito cardíaco e/ou cerebral, entre outros.Quando o episódio de TV ocorre na ausência de cardiopatia estrutural de base a TV pode ser tolerada por horas ou mesmo dias sem sintomas ou oligossintomática (3). A TPSV representa a taquiarritmia paroxística mais freguente em crianças e adolescentes com coração estruturalmente normal, sendo a Síndrome de WPW a causa principal vindo em primeiro lugar e o mecanismo de reentrada nodal AV em segundo lugar, sendo no adulto o inverso. A manifestação respiratória dos ritmos ectópicos taquicárdicos é geralmente referida pelo paciente como “respiração curta”, mais do que dispnéia propriamente dita, salvo nos casos de insuficiência cardíaca associada. Em situação de freqüências ventriculares extremamente lentas como nos altos graus de BAV a dispnéia está muitas vezes ausentes em repouso, mas ocorre comumente com o Muitas das arritmias mais comuns podem ser reconhecidas à beira do leito com razoável precisão sem se utilizar o eletrocardiograma(ECG); aplicando-se conhecimentos fisiopatológicos básicos a achados clínicos particulares. Isto não quer dizer, em hipótese alguma, que devemos abrir mão do ECG, e sim que este deve ser rotineiramente utilizado para confirmar o diagnóstico médico à beira do leito. A realização do ECG, é inclusive mandatória para se ter documentado o evento elétrico em questão. É nossa intenção fazer uma breve revisão mostrando como podemos à beira do leito, através da clínica e dados de exame físico cuidadoso reconhecer elementos que nos dêem pistas quanto ao diagnóstico e as repercussões de muitos distúrbios do ritmo cardíaco; é o nosso tributo a semiótica médica. A História Clínica Um levantamento detalhado da natureza dos sintomas do paciente, e em particular o modo de aparecimento e desaparecimento analisados em termos da idade do paciente e da presença ou ausência de doença cardíaca de base pode ser de valor considerável no diagnóstico das arritmias, principalmente quando a documentação eletrocardiográfica do episódio não estiver presente no momento do exame. Não existe, no entanto, sintomas peculiares de um distúrbio do ritmo específico, além do mais, qualquer sintoma particular, sob condições apropriadas, pode ocorrer em vigência de ritmo lento ou rápido, regular ou irregular. Em outras palavras, é a extensão na qual a função de bomba *CHEFE DO DEPARTAMENTO DE ARRITMIA E ELETROFISIOLOGIA CLÍNICA DO INC 28 Untitled-1 28 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras esforço. Arritmias nas quais a queda do débito cardíaco causa um declínio súbito no fluxo sangüíneo cerebral podem levar a quadros de síncope. A gravidade destes episódios depende: (a) da subitaneidade, intensidade e duração da queda do débito cardíaco, e (b) do estado das artérias cerebrais (4,5). Sabidamente os extremos de frequência podem ser responsáveis por quadros sincopais, ou seja, tanto taquiarritmias quanto bradiarritmias significativas. Convém relembrar que dois fatores na história clínica são extremamente importantes na tentativa de se julgar a natureza da arritmia sugerida pelos sintomas já descritos. A saber: (a) a idade do paciente (b) e a presença ou não de doença cardíaca estrutural. A freqüência cardíaca normal é um fenômeno idadedependente. (ver tabela I abaixo). O EXAME FÍSICO Um exame cuidadoso do pulso arterial quanto a freqüência, ritmicidade, forma e intensidade é essencial e altamente informativo para o diagnóstico à beira do leito dos distúrbios do ritmo cardíaco. Apenas por curiosidade, é interessante lembrar que a medicina oriental, em particular a chinesa consegue descrever mais de 100 sinais através do pulso arterial (11 ). Os achados do pulso arterial devem ser correlacionados com a palpação do precórdio (ictus cordis), pulso venoso jugular e com as características dos ruídos cardíacos. A presença de um pulso regular com freqüência dentro da faixa de normalidade não exclui arritmias; em outras palavras, não é prova conclusiva de que o estimulo cardíaco esta se originado no nódulo sinusal, nem exclui distúrbios de condução elétrico. A fig. 1, à título de recordação mostra uma composição gráfica do pulso venoso jugular normal e sua relação com as bulhas cardíacas (B1 e B2) do Fonocardiograma e o traçado eletrocardiográfico. Tabela I. A FC NORMAL NAS DIVERSAS FAIXAS ETÁRIAS (1) IDADE Recém-nascidos Primeira semana Um ano De 2 a 4 anos 6 anos Adolescente Adultos FREQUÊNCIA CARDÍACA (bpm) 110 a150 100 a 140 100 a 120 85 a 115 65 a 100 60 a 100 (média 90) 60 a 100 (média 70 a 80) Em crianças de baixa idade, taquicardia sinusal com freqüências de até 220 bpm, pode ser encontrada. Em adultos taquicardia sinusal dificilmente ultrapassa 180 bpm e freqüências cardíacas em adultos em repouso que excedam 150 bpm provavelmente deve-se a mecanismo ectópico e não a ritmo sinusal. A bradicardia sinusal não é comum em crianças saudáveis, mas é comum em adultos, especialmente em atletas ou indivíduos bem condicionados fisicamente. Uma FC lenta em crianças com coração estruturalmente normal, sem ser decorrente de medicação cronotrópica, e principalmente com história de morte súbita na família; devese levantar a suspeita de Síndrome do QT longo congênito (SQTLC), mesmo que o ECG não mostre intervalos QT prolongados (pode ser a forma oculta da doença). É fundamental medir o intervalo QT no batimento pósextrassistólico. Outro aspecto importante neste tipo de indivíduos é o relato de síncope desencadeada por esforço físico e/ou estresse emocional, que também sugere SQTLC (6,7) ou arritmia adrenérgica (6,7). O pulso venoso jugular, na verdade um pulso de volume, caracteriza-se no registro de fonocardiograma por 3 deflecções positivas, ondas a, c e v. seguindo-se as ondas positivas c e v ocorrem deflecções descendentes x e y respectivamente. A onda a é produzida pela sístole atrial direita. A onda c é breve e praticamente inconspícua A onda x descendente é atribuída ao deslocamento inferior da junção atrioventricular durante a fase de ejeção ventricular ocorrendo abrupto aumento da cavidade atrial. A onda v representa elevação de pressão e volume no AD devido a entrada de sangue nas veias e atrio, durante o final da sístole ventricular, começa após a 1ª bulha e ocupa a maior parte da sístole. A onda y representa a rampa de descida da onda v; começa com a abertura da válvula tricúpide. Nesta fase o sangue flui rapidamente para o interior do VD a pressão do AD e VD chegam a ficar virtualmente iguais. Os melhores pontos de referência para identificação dos componentes do pulso venoso jugular à beira do leito são o pulso carotídeo e as bulhas cardíacas. A ascensão da onda Temos informações precisas, através de trabalhos da literatura (8,9) e do nosso grupo (10) de crianças com história de episódios de crises convulsivas, tratadas como disritmia cerebral e que eram na verdade casos de taquicardia ventricular polimórfica tipo Torsades de Pointes (na SQTLC) e do tipo TV catecolaminérgica produzindo os referidos sintomas. Como podemos ver a história clínica familiar e as características dos eventos são fundamentais nestes casos para direcionarmos uma investigação mais especializada. Uma freqüência cardíaca lenta em criança com CIV sugere BAVT congênito, ou após cirurgia cardíaca BAVT adquirido pós-comprometimento do sistema de condução. 29 Untitled-1 29 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras a ocorre antes do pulso carotideo e da primeira bulha; e o pico da onda v ocorre imediatamente após a incisura dicrótica do pulso carotideo e a segunda bulha (12). Nas TPSV ou no flutter atrial, pose-se perceber ondulações finas e rápidas no pescoço sugerindo uma atividade atrial rápida. Na fibrilação atrial as ondas a estão ausentes. A onda a é o equivalente mecânico da onda P do ECG. O exame do pulso jugular durante pausa produzida por parada sinusal e/ou bloqueio sinoatrial revelará completa ausência de todas as pulsações durante a pausa. No BAVT existe ausência de enlace AV, ou seja a sístole atrial dissociada da sístole ventricular portanto ocorre ondas a independentes, mas de difícil identificação por serem pequenas, porém a combinação de onda a + onda v, ou seja ondas a em canhão, resultantes da contração do AD contra uma válvula tricúspide fechada em determinados momentos permite o diagnóstico pelo pulso venoso jugular juntamente com a observação de um lento e regular, de BAVT. A figura 2 ilustra estes fenômenos. O retardo de ativação do VD no BRD completo resulta em amplo desdobramento da 2ª bulha em foco pulmonar e melhor percebido na inspiração profunda. No BRE pode ocorrer desdobramento paradoxal de B2 ou seja a 2ª bulha torna-se com um menor desdobramento ou única com a inspiração e mais amplamente desdobrada com a expiração (14). Um sopro sistólico em focos da base é comum no BAVT e caracteristicamente varia de intensidade de batimentopara-batimento; e devido ao aumento de volume sistólico através das válvulas semilunares em relação a freqüência ventricular lenta (15). Em paciente com WPW intermitente pode-se identificar um sopro sistólico mitral durante momentos de pré-excitação que desaparece com o restabelecimento da condução AV normal (15) A compressão do seio carotídeo (CSC) pode ser de inestimável valor diagnóstico com qualquer freqüência cardíaca de base. Quando a freqüência está abaixo de 50 bpm e regular, a CSC poderá diferenciar 3 possíveis distúrbios: bradicardia sinusal, BAV 2:1 e BAV Total. Caso a freqüência cardíaca permanaça inalterada pela manobra, provavelmente trata-se de BAV Total. Se o alentecimento for gradual com a manobra e houver um retorno também gradual para a freqüência basal o ritmo deve ser bradicardia sinusal. Quando a queda da FC e a subsequente aceleração forem abruptas, o mecanismo provavelmente é BAV 2:1 (1) Em vigência de uma freqüência cardíaca rápida (120 a 280 bpm) e regular, a CSC pode ser decisiva na diferenciação entre taquicardia sinusal, TPSV, Flutter atrial e TV. Se a manobra interrompe abruptamente a taquicardia e a freqüência se mantém-se lenta ou normal e regular, é bastante provável tratar-se de TPSV. Caso o alentecimento seja suave e gradual e seguido de um retorno semelhante deve-se estar diante de uma taquicardia sinusal. Caso a freqüência seja alentecida temporariamente muito provavelmente não se trata de TV paroxística ou TPSV clássica (1). Não se consegue uma conclusão definitiva sobre a natureza da taquicardia caso a CSC não altere significativamente a FC, apesar de nesta situação ser sugestivo de TV. Apresentamos na tabela II um sumário dos parâmetros clínicos nas arritmias cardíacas mais comuns que nos permitem muitas vezes um importante auxílio diagnóstico. A intensidade da primeira bulha é determinada primariamente pela posição das válvulas AV no início da sístole ventricular. Esta posição depende, em grande parte do intervalo entre as sístole atriais e ventriculares. Deste modo uma 1ª bulha hiperfonética ocorre na taquicardia sinusal, TPSV e no flutter atrial 1:1 (1). Surpreendentemente, a maioria dos paciente com Síndrome de Wolff-Parkinson-White não apresentam uma 1ª bulha hiperfonética apesar do intervalo PR curto, isto tem sido explicado com base na ativação assincrônica dos dois ventrículos, principalmente na prematuridade da ativação do VD nas vias anômalas direita. Reforçam esta hipótese o fato da 1ª bulha não ser acentuada quando existe PR curto e QRS de duração normal (Sind.de Lown-GanongLevine) (1,13). A mudança de intensidade da 1ª bulha de ciclo para ciclo (independente da respiração) ocorre em qualquer tipo de dissociação AV, quer a freqüência cardíaca esteja rápida, normal ou lenta. Na fibrilação atrial ocorre variação de intensidade da 1ª bulha devido a variações dos ciclos cardíacos, uma vez que não há contribuição ao enchimento ventricular e nenhum efeito na posição das válvulas AV. Ciclos curtos acentuam B1 e longos diminuem sua intensidade. A 2ª bulha na FA também sofre variações de intensidade devido a variações na pressão aortica central de batimento-para-batimento. Conclusões Novas tecnologias surgiram propriciando crescente auxílio rápido e preciso para chegarmos ao diagnóstico correto de diversas entidades clínicas, estando, evidentemente as arritmias cardíacas inseridas neste aspecto. No entanto, a abordagem do paciente à beira do leito jamais deixou de ter o seu papel fundamental, no sentido de fornecer informações, muitas vezes insubstituíveis, sobre eventos transitórios e/ou persistentes, para que se possa entender a natureza dos sintomas produzidos, suas particularidades desencadeadoras, suas repercussões e também para direcionarem com racionalidade e praticidade, os melhores meios de investigação adicionais. 30 Untitled-1 30 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras Referências Bibliográficos 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Silber EN, and Kata LN. Heart Disease. Chap.20.,p 466-485. Macmillian Publishing Co, Inc. New York 1975. Scherf D: Premature beats and extrasystoles. Mod Concpts Cardiovasc. Dis. 27: 489,1958. Dimond EG, and Hayes wl: Benign paroxymal ventrucular tachycardia Report of a case. Ann Intern. Med, 53:1255,1960. KapoorWN:Syncope in the old person. J Am Geriatr Soc 42:426,1994. Morillo CA, Eckberg DL, Ellenboger KA et al: Vagal and sympathetic mechanisms in patients with orthostatic vasovagal syncope Circ 96:2509-2513,1997. Laver MP and Sung RJ. Exercise-Induced Cardiac Arrhythmias- chap.79 in Zipes DP, Jalife J (Eds): Cardiac Electrophysilogy- From Cell to Bedside. Philadelphia, WB Sauders, 200 pp.710-716. Bourte JP and Doig. Ventricular Tachyarrhythmias in the Normal Heart. Vol.8 Clinical Appoaches to Tachyarrhythmias. Camn AJ (Ed.) New York. Futura Publishing Co, Inc. 1998. Leenhardt A, Glaser E, Burguera M. Nurnberg M, Maiso-Blanche P, Coumel P. Short-coupled variant of torsale de pointes. 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Bergland JM, Ructier WR, Reeves JT and Surawica R: Preexcitation as a cause of appearance and increased intersity of systolic murmurs. Circulation, 33:131 1996. 31 Untitled-1 31 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras DEPARTAMENTO DE DOENÇAS OROVALVARES ESTENOSE AÓRTICA VALVAR – INDICAÇÃO CIRÚRGICA Jacob Fuks* O desenvolvimento de novas técnicas cirúrgicas, novos meios de proteção miocárdica durante a cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea, diminui muito a mortalidade e morbidade cirúrgica e em especial da troca valvar aórtica, mas este risco ainda é alto. Além do mais, na indicação de uma troca valvar, não devemos esquecer que estaremos trocando uma patologia por outra, a curto ou longo prazo. O sucesso dependerá de uma indicação precisa da cirurgia, e o paciente deverá estar apto a assumir um tratamento por vezes incômodo. Tentaremos reavaliar algumas normas da literatura, na indicação cirúrgica da estenose aórtica valvar sintomática ou assintomática, principalmente no idoso. A indicação cirúrgica é indiscutível em pacientes portadores de estenose aórtica grave quando do aparecimento de sintomas como angina, síncope e insuficiência cardíaca. Nesses, o atraso na realização da mesma, implica em mortalidade acentuada . No adulto ( 1,3 ) com estenose aórtica valvar, a obstrução ao fluxo de saída do ventrículo esquerdo, faz-se gradualmente por muitos anos. Desde que uma diminuição da área valvar aórtica ocorre antes dos sintomas, muitos pacientes têm seu diagnóstico feito pelo achado de um sopro sístólico no exame , durante seu período assintomático. freqüentemente é difícil saber se o início dos sintomas indica severidade da estenose aórtica ou doença coronariana associada. O conhecimento da anatomia coronariana é mandatório para a indicação cirúrgica, levando em conta que essa associação para o planejamento cirúrgico, pois, isto implicará em maior ou menor risco da cirurgia. A mortalidade operatória da estenose aórtica associada a doença coronariana , varia de 1,1% a 4,8% quando é feita a cirurgia combinada (2,3,4). Se a troca valvar é feita isolada, sem revascularização, quando esta é necessária, a mortalidade sobe para 4% a 13% no per e pós operatório imediato , devido ao fluxo miocárdio inadequado( 1,2,3 ). Entretanto, a mortalidade dobra se os pacientes necessitam de revascularização e esta não é feita. E sabemos também que a mortalidade é maior também no sexo feminino. Risco cirúrgico Tipo de lesão Inicio dos sintomas Etiopatogenia Idade Válvula Aórtica bicúspide 50 a 60 anos Válvula Aórtica degenerativa 70 a 80 anos Válvula Aórtica reumática 20 a 50 anos Mortalidade Estenose Aórtica isolada até 70 a 2,7 a 8,3% Estenose Aórtica isolada >70 a 2,7 a 16% Estenose Aórtica + d. coronariana até 70a 4,4 a 12,8% Estenose Aórtica + d. coronariana > 70 a 8 a 21% Nos pacientes assintomáticos cuja velocidade de fluxo através da válvula é maior que 4m/s, cerca de 80% necessitarão de troca valvar em 2 anos , sugerindo que se este paciente necessitar de uma cirurgia de revascularização miocárdica, seria apropriada a troca valvar. Nos pacientes assintomáticos com velocidade de fluxo entre 3 a 4 m/s , 40% necessitarão de troca valvar em dois anos . Neste grupo, a necessidade de revascularização, e a indicação da troca associada deverá ser individualizada para cada caso. Já nos pacientes cuja velocidade de fluxo é menor que 3 m/ s, havendo a necessidade de revascularização, somente esta deverá ser indicada. O outro problema que surge para o clínico é a disfunção do Ventrículo esquerdo com gradiente transvalvar baixo e débito cardíaco baixo. A mortalidade clínica ou cirúrgica é alta, e um dilema se apresenta: qual o paciente poderia se beneficiar da troca valvar? É importante lembrar que nestes casos a área valvar pode ser subestimada pela condição de débito baixo, impedindo que a válvula se abra completamente devido a um inadequado fluxo, sendo o ecocardiograma de stress com dobutamina ( 3,5,6 ) um determinante na sua fisiopatogenia Neste raciocínio, três resultados podem ser encontrados: O ecocardiograma com Doppler é o exame complementar mais importante para o diagnóstico e acompanhamento da estenose aórtica ( 1,2,3 ). Avalia-se a velocidade de jato ejetivo através da válvula comprometida e a área valvar . Em casos de difícil avaliação ou de dúvida podemos utilizar o ecocardiograma com stress medicamentoso ( 3 ). A freqüência dos sintomas em relação à velocidade de fluxo através da válvula aórtica é: · 8% ao ano com velocidade < 3 m/s · 17% ao ano com velocidade entre 3 e 4 m/s · 40% ao ano com velocidade > 4 m/s Além da própria estenose, outros fatores influenciam a presença de sintomas em pacientes ditos assintomáticos, a saber: gravidez, regurgitação mitral associada, febre e anemia ( 4,3 ). Em pacientes idosos com estenose aórtica assintomática, que começam a apresentar angina, * MÉDICO DO DEPARTAMENTO DE DOENÇA OROVALVAR DO INC 32 Untitled-1 32 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras 1. O gradiente médio aumenta em pelo menos 10 mm Hg , sem mudança significante da área valvar. Esses são os pacientes com estenose aórtica fixa e que podem se beneficiar com a cirurgia. 2. O gradiente médio aumenta ligeiramente ( <10mmHg) com um aumento da área valvar. Estes são pacientes com estenose aórtica moderada, cujo débito baixo, faz com que a válvula não se abra completamente, subestimando a área valvar e falseando a gravidade da estenose. Tais pacientes deverão ser considerados como tendo estenose relativa ao fluxo baixo transvalvar. 3. Pacientes com disfunção de ventrículo esquerdo caracterizada por fibrose severa, que não tem aumento significativo do volume sistólico durante a infusão de dobutamina. Em tais pacientes não é possível determinar a severidade da estenose aórtica , embora a falha do ventrículo esquerdo em responder a o inotrópico, seja uma indicação de pobre prognóstico. Esses pacientes se beneficiam mais de transplante cardíaco do que troca valvar. Ainda em relação a pacientes assintomáticos com estenose aórtica severa, a execução de um teste de esforço modificado , em ambiente hospitalar, poderemos rastear pacientes que se dizem assintomáticos mas não o são, e sim se limitam . O aparecimento de sintomas, arritmia e / ou hipotensão indicarão a cirurgia em pacientes anteriormente ditos assintomáticos. A estenose aórtica assintomática no idoso é um outro problema a ser abordado. Sabemos que a população geriátrica apresenta uma série de comorbidades como; doença coronariana, hipertensão arterial, diabettes mellitus, doença arterial periférica, alteração da função renal e pulmonar. Geralmente os pacientes com idade menor de 70 anos tem morbidade e mortalidade menores que os pacientes acima de 70 – 75 anos (3,4). Nestes pacientes acima de 75 anos, principalmente com doença coronariana associada, a mortalidade cirúrgica é maior e a sobrevida menor, que o tratamento clínico. Assim sendo, o objetivo da cirurgia de troca valvar aórtica no idoso é diferente do indivíduo jovem. O importante é aliviar os sintomas, melhorar a capacidade física e a qualidade de vida, mais do que prolongá-la. As decisões deverão ser individualizadas, levando-se em conta as expectativas e opiniões do paciente, sendo ele informado de todos os riscos e benefícios que a cirurgia poderá lhe trazer. Nos indivíduos com estenose aórtica grave e com sintomas, a cirurgia poderá ser indicada, pois a expectativa de vida nos octogenários foi maior com o tratamento cirúrgico( 5,1 anos) que com o clínico ( 1,6 anos). Valvuloplastia por balão Existe pouco benefício desse procedimento no adulto com estenose aórtica calcificada. A mortalidade não foi diferente na valvuloplastia e do tratamento clínico , e girou em torno de 35 a 50% ao ano. Poderia servir naqueles pacientes francamente sintomáticos e muito graves, como um passo inicial, na tentativa de melhorar as condições clínicas para depois submetê-lo a troca valvar cirúrgica. A valvuloplastia está apenas indicada em crianças e adultos jovens com estenose aórtica congênita com 95.5 % de sucesso e 2% de mortalidade. Referências bibliográficas: 1. Otto, M.C.: W. Saunders Company, 1999.Valvular Heart Desease. 2. Braunwald, Libby, MD: Heart Desease- 6 th edition - A Textbook of Cardiovascular Desease. 3. Crawford, HM; Di Marco, Pjonh- Cardiology-Mosby2001. 4. Borges, Jairo Lins- Manual de Cardio Geriatria- Lemos editorialç 2002. 5. Heidi M. Connolly, MD; Jae K. Oh, MD; Hartzell V. Schaff, MDSevere. Aortic Stenosis with Low Transvalvular Gradient and Severe Left Ventricular Dysfunction. Circulation.2000; 101:1940. 6. Rahimtoola, S.H. Severe Aortic Stenosis With Low Systolic Gradient: The God and Bad News. Circulation2000; 101: 1892-1894. 33 Untitled-1 33 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras SÍNCOPE VASO-VAGAL E TESTE DA MESA DE INCLINAÇÃO Paulo Roberto Benchimol Barbosa, Roberto Luiz Messing de Sá, Ivan Cordovil*. Luís Carlos Bernardino Júnior, A síncope é uma síndrome de significativa relevância na prática clínica, estimada em 3% a 5% de todas as visitas em emergência e 1% a 6% de todas as internações hospitalares. É definida como perda súbita e transitória da consciência acompanhada de perda do tônus muscular postural, decorrente de baixo fluxo sangüíneo cerebral, e recuperação total e espontânea. Sua definição varia pouco com o ambiente clínico em que foi diagnosticada no que se refere à recuperação total ou parcial. Estima-se que até 40% de eventos sincopais avaliados em paciente ambulatoriais seja de natureza vago-mediada. O chamado componente vasodepressor da síncope foi inicialmente sugerido por Hunter, em 1773, referindo-se a um paciente que apresentou desmaio após uma flebotomia. Uma das primeiras descrições do componente cardioinibitório da síncope vago-mediada foi feita por Foster, em 1888, que sugeriu que a bradicardia intensa determinaria redução do fluxo sangüíneo cerebral, incompatível com a manutenção da consciência. Filho, RESPOSTA VASO-VAGAL AO ORTOSTATISMO O modelo mais comumente evocado como causa dos distúrbios vaso-vagais é o reflexo Bezold-Jarish. Este reflexo pode ser interpretado como uma exacerbação do fenômeno fisiológico de adaptação ao postural: o acúmulo de sangue nos membros inferiores provoca redução do volume diastólico final e queda da PA, desencadeando intensa atividade simpática. O aumento da atividade simpática reflexa provoca aumento do inotropismo cardíaco, o que ativa os presso-receptores localizados nas paredes ínfero-basais do ventrículo esquerdo aumentando paradoxalmente o trânsito neural aferente vago-mediado e resultando em intensa vasodilatação acompanhada de bradicardia. Na síncope observada em alguns pacientes durante a flebotomia, a reação de ansiedade associada ao procedimento e conseqüente aumento da atividade simpática desencadeia o aumento do inotropismo cardíaco com ativação dos presso-receptores ventriculares provocando vasodilatação e bradicardia, independente da redução do volume diastólico final. Esse fato é corroborado por estudos do volume ventricular durante a síncope induzida com uso de drogas simpaticomiméticas como o isoproterenol. Entretanto, mecanismos independentes do reflexo Bezold-Jarish têm sido implicados no desencadeamento da síncope vaso-vagal. A presença de resposta vasodepressora na ausência de bradicardia é observada na síncope induzida em pacientes pós-transplante cardíaco. Considerando a denervação cardíaca a que estes pacientes são submetidos, que interrompe as transmissões neurais cardíacas aferentes e eferentes, os mecanismos implicados no REGULAÇÃO NEURO-CARDIOVASCULAR DA PRESSÃO ARTERIAL: A regulação da pressão arterial (PA) dentro dos limites fisiológicos envolve o processamento de sinais multisistêmicos aferentes pelo sistema nervoso central, permitindo a modulação do coração e dos órgãos alvo. A regulação fásica (batimento-a-batimento) da PA é controlada predominantemente pelo presso-receptores carotídeos e aórticos, que, respectivamente, transmitem os sinais aferentes através dos nervos Vago e Glossofaríngeo. A distensão vascular que ocorre na fase sistólica do ciclo cardíaco determina o disparo dos nervos presso-receptores, que convergem para o núcleo do trato solitário, no tronco cerebral, resultando em inibição da descarga simpática. Em oposição, a queda da PA durante a diástole acompanha-se de aumento da descarga simpática. Com a redução da PA média sistêmica observa-se aumento do tônus simpático e redução do tônus parassimpático. Por outro lado, o aumento da PA média provoca redução do tônus simpático e aumento do tônus vagal. Desta forma, os barorreceptores regulam não somente as descargas fásicas mas também determinam o tônus vago-simpático. A regulação vago-simpática é também controlada por receptores de baixa pressão localizados na parede posterior do músculo cardíaco e nos vasos sangüíneos intratorácicos. * CHEFE DO DEPARTAMENTO DE HIPERTENSÃO ARTERIAL DO INC 34 34 Barbosa Aumento do volume diastólico final provoca distensão dos receptores cardíacos resultando em bradicardia e a redução acarreta taquicardia. O aumento da força de contração (inotropismo) é também um forte estímulo para a excitação desses receptores cardíacos, observando-se bradicardia intensa. A adaptação fisiológica à posição ortostática envolve a participação desses receptores carotídeos, aórticos e cardíacos para manutenção da homeostase e preservação do fluxo sangüíneo cerebral. Assim, o acúmulo de sangue nos membros inferiores decorrentes do ortostatismo reduz o volume intravascular a nível ventricular e aórtico-carotídeo, o que reduz o tráfico neural aferente destes receptores provocando aumento do tônus simpático eferente ao coração e à resistência vascular periférica. Como resultado, observase aumento do inotropismo e da freqüência cardíaca (FC) e vasoconstricção periférica. INTRODUÇÃO: Untitled-1 José 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras desencadeamento da síncope podem ser de natureza diversa. Fatores límbicos e neuro-humorais, incluindo a serotonina, adenosina, endorfinas e naloxona amplificam o barorreflexo cardiopulmonar de excitação. Efeitos modulatórios do lobo frontal e do hipotálamo sobre os nervos vagais eferentes podem ter contribuição importante em pacientes com ventrículo denervado os nos casos de estímulos nociceptivos. O óxido nítrico (NO) tem sido implicado como fator de modulação do efeito vasodilatador da síncope vaso-vagal. Evidências da existência de terminações oxinitrérgicas nos tecidos musculares esqueléticos e aumento do metabolismo do óxido nítrico em pacientes com síncope vaso-vagal implicam o NO como fator participante do mecanismo de vasodilatação durante a síncope vaso-vagal. Entretanto, a ineficácia do L-NAME, um inibidor do metabolismo do NO, na prevenção da vasodilatação durante a síncope indicam que o NO não pode ser implicado isoladamente no mecanismo dessa síndrome. Neste contexto, é razoável afirmar que a síncope vasovagal é uma síndrome multifatorial, que inclui reflexos neurais centrais e periféricos. e 75° em relação à horizontal. O acúmulo de sangue nos membros inferiores provoca a resposta reflexa naqueles pacientes susceptíveis, desencadeando hipotensão, bradicardia e reprodução dos sintomas previamente referidos pelo paciente. Uma meta-análise dos estudos publicados na literatura envolvendo a investigação de síncope de causa desconhecida com o teste da mesa de inclinação demonstrou 42,9% de sensibilidade e 95% de especificidade. A reprodutibilidade do teste de inclinação depende do grau da inclinação da mesa, do tempo de inclinação, do intervalo de tempo entre os exames e da utilização de drogas potencializadoras do reflexo de Bezold-Jarish. Nos exames realizados com inclinação isolada, o resultado sincopal positivo foi confirmado em 59,8% dos exames e a resposta negativa confirmada em 83,6%. Já nos exame realizados com potencialização pelo isoproterenol, os resultados positivos foram reproduzidos em 86,8% e os negativos em 88,6%. A baixa taxa de reprodutibilidade dos exames positivos realizados com a inclinação isolada parece estar relacionado a processo de adaptação. Provavelmente, mecanismos neurais e neurais e psicológicos estão envolvidos. Alguns testes farmacológicos têm sido empregados para induzir a resposta positiva, caso o exame isolado não tenha desencadeado a resposta esperada e a história clínica seja muito sugestiva. Um dos mais investigados é o teste de inclinação potencializado com isoproterenol. A droga simpaticomimética parece estimular os presso-receptores ventriculares desencadeando o reflexo anormal naqueles pacientes susceptíveis, sem alterar significativamente a resposta naqueles indivíduos sem história prévia de síncope. Recentemente, o emprego de dinitrato de isossorbida sublingual em dose baixa tem sido recomendado em substituição ao isoproterenol, por ser de administração mais simples. O mecanismo de ação reflete a ação da droga, que aumenta o represamento de sangue nos membros inferiores durante a inclinação e intensifica a resposta reflexa anômala naqueles pacientes susceptíveis. O teste com o dinitrato parece aumentar a sensibilidade do exame. Entretanto, observa-se em alguns casos com administração da droga, hipotensão ortostática sintomática imediatamente após a inclinação, não associada a qualquer resposta sugestiva de mediação vagal, o que parece estar associada ao efeito vasodilatador intenso da medicação. Desta forma, como em todos os teste provocativos, seu emprego está condicionado à avaliação judiciosa do médico assistente. AVALIAÇÃO CLÍNICA DA SÍNCOPE VASO-VAGAL História Clínica e Exame Físico A história clínica minuciosa é de importância ímpar na identificação da síncope vagomediada. Os sintomas vaso-vagais são mais freqüentemente observados nos extremos da vida: adolescentes, adultos jovens e idosos, ocorrendo em qualquer faixa de idade. O início dos sintomas é geralmente insidioso, podendo ocorrer em alguns casos perda súbita da consciência. A avaliação das condições que o rodeiam no momento da síncope pode ser útil, que pode ser precipitada por visão ou perda de sangue, episódio de dor intensa, manipulação cirúrgica ou trauma. Os sintomas premonitórios podem marcantes: palpitação ou taquicardia intensas precedendo náuseas, sudorese profusa e turvação visual são características e podem ser acompanhados de fraqueza, palidez, bocejamento e hiperventilação, antes da síncope. Após a recuperação da consciência o paciente pode ser queixar de sensação de fraqueza mas geralmente encontra-se lúcido e orientado. Nenhum achado do exame físico tem sido relacionado à síncope vaso-vagal. Respostas Cardio-hemodinâmicas ao Teste de Inclinação Teste da Mesa de Inclinação (“Tilt-table Test”) O teste da mesa de inclinação tem sido utilizado como ferramenta diagnóstica padrão para o estudo da síndrome associada à síncope vaso-vagal. Considera-se que o mecanismo que provoque os sintomas desencadeados pelo teste seja o reflexo de Bezold-Jarish. O teste é realizado utilizando-se uma mesa de inclinação especialmente fabricada para este propósito. A mesa é composta de um mecanismo de catracas e retentores elétricos e/ou mecânicos que permite a inclinação precisa. O paciente é mantido sobre a mesa, retido por cintos de segurança que, durante a inclinação, o sustentam, juntamente com uma base sob os pés. A base pode, por sua vez, ser retirada potencializando-se o teste. Durante o teste, o paciente é inclinado de cabeça-para-cima entre 60° A adaptação ao ortostatismo durante o teste da mesa de inclinação desencadeia respostas hemodinâmicas e cardíacas que representam os processos fisiológicos e anômalos observados nas diversas condições. De forma acadêmica, durante o teste de inclinação, os dois parâmetros monitorizados, a FC e PA, apresentam três tipos de resposta: estabilidade, aumento ou redução. Em repouso supino, a FC mantêm-se relativamente estável, variando de batimento-a-batimento em torno de um valor médio. Em condições fisiológicas, a resposta ao ortostatismo caracteriza-se pela elevação súbita da FC, mudando o valor médio em torno do qual oscila (Figura 1). Este nível médio de oscilação se mantêm constante durante 35 Untitled-1 35 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras toda a fase de inclinação (entre as setas), retornando aos valores pré-teste quando a inclinação é desfeita (após a segunda seta). Em pacientes com síndrome de intolerância ortostática vago-mediada, a FC apresenta resposta característica ao teste de inclinação: durante a fase de inclinação a FC sobe progressivamente até a ocorrência de uma redução abrupta acompanhada de sintomas (Figura 2). Neste caso, o retorno à posição supina deve ser imediato, com o objetivo de restabelecer o mais rapidamente possível o fluxo sangüíneo cerebral. Um segundo padrão de resposta anormal de adaptação ao ortostatismo durante o teste de inclinação, caracterizase pelo aumento acelerado e linear da FC, atingindo valores elevados que se acompanham de sintomas de pré-sincope (Figura 3). Neste caso, ao se desfazer a inclinação, a FC retorna lentamente aos valores pré-teste. O padrão descrito é conhecido com síndrome da taquicardia postural ortostática (ou POTS). Um terceiro padrão de resposta anormal de adaptação ao ortostatismo freqüentemente, observado em pacientes com disfunção autonômica central ou periférica, como na paramiloidose, no Parkinson ou no diabete melito avançado. A resposta anormal caracteriza-se por oscilação reduzida da FC durante o repouso e, na fase de inclinação, aumento gradual e limitado da FC, atingindo valores em torno de 100 bpm, que evoluindo até o aparecimento de sintomas (Figura 4). O retorno á posição supina acompanha-se de redução gradual da FC até atingir níveis pré-teste. com o objetivo de atingir um grau de condicionamento cardiovascular. O condicionamento cardiovascular bloqueia a resposta reflexa simpática ao ortostatismo, auxiliando eficazmente no controle os sintomas. Recomenda-se o uso de meias elástica para redução do represamento do sangue nos membro inferiores e aumento do retorno venoso ao coração. Drogas beta-bloqueadoras, tanto as beta-1 quanto as não-seletivas, são capazes de controlar os sintomas por reduzir o tônus simpático. Em idosos, entretanto, o beta-bloqueador pode precipitar uma resposta hipotensora, desencadeada pela bradicardia, que pode ser corrigida reduzindo-se a dose. A classe de medicamentos que expandem o volume vascular tem sido empregada com sucesso na redução dos episódios e controle dos sintomas. A fludrocortizona, um mineralocorticóide, é largamente empregada e sua ação acarreta aumenta o volume vascular, retenção de sódio e água, permitindo o controle dos sintomas e redução das recorrências. Seu preço, no entanto, restringe o uso de forma generalizada. Outras drogas têm sido empregadas na tentativa de reduzir o número de episódios e controlar os sintomas. Entre elas estão os bloqueadores colinérgicos, como a escopolamina e atropina, que reduzem a descarga vagal aferente e eferente, reduzindo os sintomas. Pacientes idosos devem ser informados de efeitos de drogas como diuréticos, sildenafil, antidepressivos tricíclicos, nitratos e inibidores da enzima de conversão, e sobre a ingestão de bebidas alcoólicas que podem potencializar ou induzir o aparecimento de sintomas. Na maioria dos casos, o sucesso do tratamento consiste no controle dos sintomas e na redução da freqüência de episódios mais do que na sua remissão completa. Em jovens, os sintomas podem ser controlados com períodos longos de remissão (> 5 anos), considerando a possibilidade de condicionamento cardiovascular. HISTÓRIA NATURAL: A síncope geralmente se apresenta em surtos. Seguem-se períodos assintomáticos relativamente longos. Pacientes com exames positivos na mesa de inclinação apresentam baixa probabilidade de recorrência nos primeiros meses após o exame, que atinge a 51% de recorrência após 3 anos. A probabilidade de recorrência após o teste está positivamente relacionada tanto ao número quanto à freqüência de eventos sincopais pré-teste. Um achado clínico interessante é que a freqüência de episódios reduz significativamente (em média de 0,3 para 0,03 episódio por mês) após o teste de inclinação positivo. Trata-se de um achado que reproduz fielmente um efeito terapêutico positivo. Provavelmente, fatores como aconselhamento para evitar situações desfavoráveis e manobras de prevenção durante a pré-síncope podem influenciar a recorrência dos sintomas. TRATAMENTO: REFERÊNCIA: 1) Fenton, AM; Hammill, SC; Rea, RF; Low, PA; Shen, W, 2000, Vasovagal Syncope. Ann Intern Med, vol. 133, n. 9, pp. 714-725. 2) Foster, M, 1890, A Text Book of Physiology. 5th ed. London: Macmillan. 3) Hunter, J, 1837, The Works of John Hunter/with Notes. Palmer JF, (Ed). London: Longman, Rees, Orme, Brown, Green, and Longman. Ross, B; Ruskin, JN, 1995, Evaluation of the Patient with Unexplained Syncope. In: Zipes DP, Jalife J (Eds). Cardiac Electrophysiology: From Cell to Bedside. 2ª edição, Philadelphia, W.B. Saunders Company, pp. 1247. A síncope vaso-vagal induzida pelo teste de inclinação apresenta excelente prognóstico. Medidas gerais, como aconselhamento para evitar situações que exponham o paciente a risco de acidentes (evitar trabalhar ou passear por lugares altos sem proteção adequada, evitar a condução de veículos durante os surto, evitar exercícios extremos e desidratação). O aumento da ingesta de sódio pode auxiliar a controlar os sintomas. Mudanças posturais que provoquem represamento de sangue nos membros inferiores devem ser evitadas, e aconselhar a realização de manobras que previnam síncope, como a valsalva, abaixar a cabeça, sentar-se ou deitar-se ao apresentar prodromos. Aos jovens que não tenham doença cardíaca subjacente recomenda-se atividade física supervisionada, 36 Untitled-1 36 4/6/2004, 17:11 Editorial Laranjeiras Inclinação Inclinação Pré-síncope Basal Basal Figura 1 Resposta fisiológica de adaptação da FC ao ortostatismo (vide texto). Figura 2 - Resposta anormal de adaptação da FC ao ortostatismo Cardioinibitória (vide texto) Inclinação Inclinação Basal Basal Pré-síncope Figura 3 - Resposta anormal de adaptação da FC FC ao ortostatismo - POTS (vide texto). Pré-síncope Figura 4 - Resposta anormal de adaptação da FC FC ao ortostatismo Disautonomia (vide texto). 37 Untitled-1 37 4/6/2004, 17:12 Editorial Laranjeiras DESENHOS DE ESTUDOS: UM GUIA PARA A INVESTIGAÇÃO EM SAÚDE Bernardo Rangel Tura* agravamento, recidiva ou novos episódios de uma doença preexistente. Com o passar do tempo, cada vez mais é exigido do profissional de saúde e, em especial, do profissional da área da cardiologia um conhecimento atualizado sobre estudos científicos de seu campo de trabalho. De fato seja para escrever um resumo para uma apresentação em congresso, um artigo, uma monografia de fim de curso ou tese ou mesmo para acompanhar os progressos da área é necessário saber o que cada tipo de estudo significa e quando deve ser aplicado. Esta série de artigos tem como objetivo familiarizar o leitor com os diversos tipos de estudos do campo da saúde e assim permitir que se possa julgar sua adequação ao problema clínico que se queira investigar, conhecer, tratar. A organização geral será: · Introdução · Estudos Descritivos · Estudos Observacionais · Estudos de Intervenção · Estudos de revisão Estudos Descritivos A principal característica de um estudo descritivo é ter por objetivo detalhar a apresentação de um achado médico sem se preocupar em buscar associações de fatores entre si. Este tipo de estudo descreve uma observação, sem contudo, analisá-la (estudos analíticos) 3,4,5. São estudos descritivos o relato de caso (case report), o estudo de série de casos ( case series ) e o estudo correlacional ou ecológico5. Os dois primeiros apresentamse como uma descrição detalhada e cuidadosa, realizada por um ou mais médicos, da história de um paciente ou de vários pacientes com características semelhantes. O estudo ecológico ou correlacional compara o padrão da doença (dados agregados) entre populações distintas no tempo (a mesma população em épocas diferentes), no espaço (populações de lugares diferentes numa mesma época) ou no espaço e no tempo. Nos estudos descritivos não existe tratamento estatístico dos dados pois o objetivo do estudo não é analítico. Por isso, normalmente, eles são considerados estudos de menor importância epidemiológica, porém esta é uma visão equivocada, posto que eles são de suma importância por duas razões4: · São capazes de gerar novas hipótese sobre doenças ou suas formas clínicas particulares · São uma valiosa fonte de evidência em situações novas ou em doenças raras Quando uma investigação é planejada ela segue uma certa organização que podemos distinguir como uma determinada perspectiva do “pensamento epidemiológico”. No contexto dessa abordagem, a conclusão ou descoberta é baseada na soma dos resultados de várias pesquisas e não apenas em uma única e isolada investigação. Ou seja, se está encaminhado a dimensão de um acúmulo de conhecimentos que se produz pela contribuição de inúmeros esforços de investigação e produção de conhecimento, tendo em vista que o progresso em uma área do saber depende da articulação e do encadeamento de diferentes estudos e de inúmeras bases de dados 3,5. Os estudos são construídos essencialmente para analisar a causalidade ou a intervenção na doença. Quando se analisa a causalidade, pode-se utilizar uma visão determinística da doença o que vai exigir a reunião de um conjunto de causas da doença ou uma visão probabilística. Nesta visão, existem fatores que influenciam na história natural da doença 3,5: · · · Muitas novidades na medicina foram descritas ou questionadas inicialmente em estudos descritivos. Estudos Observacionais Diferente dos estudos descritivos, estes trabalhos pretendem avaliar se existe associação entre um determinado fator e um desfecho, sem, entretanto, intervir diretamente na relação analisada. Neste caso, é essencial o tratamento estatístico dos dados coletados na pesquisa, o que caracteriza uma estudo analítico. Existem três desenhos clássicos de estudo observacionais: o corte transversal, o caso-controle e o coorte 3,4,5. O corte transversal (croos-sectional ou population survey) é o mais simples dos estudos observacionais4. Neste caso o pesquisador irá ver a associação entre a exposição e o desfecho em apenas um instante na linha do tempo e, assim, é possível avaliar a prevalência da doença e utilizar a razão de prevalência para avaliar a força da associação Fatores de Risco: aumentam a chance de desenvolver a doença Fatores de Proteção: reduzem a chance de desenvolver a doença Fatores de Prognóstico: Alteram a morbimortalidade da doença Quanto à intervenção, pode-se analisar uma forma de tratamento ou de prevenção, que deve ser entendida como primária (se o indivíduo ainda não tem a doença) ou secundária, e cujo objetivo é evitar complicação, * CHEFE DA DIVISÃO DE ENSINO E PESQUISA DO INC 38 Untitled-1 38 4/6/2004, 17:12 Editorial Laranjeiras entre a exposição e a doença. O estudo de coorte (cohort) e o caso-controle (casecontrol study) são estudos observacionais chamados de longitudinais 3,4,5. Ou seja, eles acompanham a linha do tempo. Isto significa que cada observação é analisada, pelo menos, duas vezes. De acordo com a forma que esta observação se faz, pode-se classificar um estudo longitudinal em prospectivo ou retrospectivo. Neste ponto, vale destacar que existe uma tendência muito comum em afirmar que os estudo de coorte são prospectivos e os de caso-controle são retrospectivos. No entanto, o que deve ser considerado retrospectivo é aquele em que o pesquisador estuda os pacientes a partir do desfecho e é prospectivo aquele em que o desfecho ainda não tiver ocorrido5. A diferença entre um estudo de coorte e um casocontrole está no seu foco. O primeiro distingue pacientes expostos e não expostos – verifica a exposição - enquanto que o segundo avalia quem apresentou o desfecho ou não 3,4,5 . Um estudo de coorte tem as pessoas classificadas pelo seu grau de exposição e avalia o número de casos novos do desfecho estudado de acordo com o grupo. Existem, no mínimo dois instantes na pesquisa: o momento de entrada e o de saída, porém em muitos casos o paciente é avaliado mais de 2 vezes. Por isso, é possível saber a incidência deste desfecho e, por conseqüência, analisar o risco de desenvolve-lo. Neste tipo de investigação, a análise é através da comparação dos riscos entre os grupos, utilizando o risco relativo e realizando outras medidas pertinentes1,2,7. Um coorte pode iniciar antes ou depois do desfecho ter ocorrido, sendo classificado de prospectivo ou retrospectivo respectivamente. No estudo de caso-controle, as pessoas são classificadas pelo desfecho, sendo o grupo caso o que apresenta o desfecho, enquanto o grupo controle é um grupo de pessoas comparáveis ao grupo caso. Posteriormente, é comparada a proporção da exposição em cada grupo. Neste caso, o pesquisador está realizando sua análise após o desfecho sendo por isso um estudo retrospectivo. O grupo controle é composto por um ou mais indivíduos para cada caso estudado. Ao contrario do que muitos pensam, os controles não precisam ser saudáveis. De fato o grupo controle é um assunto crucial e será melhor detalhado quando falarmos especificamente deste tipo de estudo. O estudo de caso-controle não permite saber quais são os casos novos e também não apresenta a real prevalência do desfecho na população por isso não é correto calcular a incidência e verificar o risco relativo neste tipo de estudo. A análise neste tipo de estudo é realizada utilizando o odds ratio (razão de chances) e medidas similares1,2,7. Uma destas modalidades é conhecida como estudo antes-depois (before-after study). Ela é parecida com um estudo de coorte diferindo dele por que, em vez de uma exposição, existe uma intervenção. Em vez de um grupo exposto e um não exposto tem-se um grupo tratado e um não tratado. Este tipo de investigação não exige uma maior preocupação com o rigor da padronização da terapia, não demanda um tempo determinado para sua avaliação nem tem necessidade de randomização dos pacientes entre os grupos. Outro tipo de estudo é o chamado estudo clínico randomizado (randomized clinical trial) que tem estado muito em voga ultimamente. Ele é considerado o de melhor qualidade para avaliar a eficácia de uma terapia4. Neste tipo de pesquisa, a randomização é tão importante que faz parte até de sua designação. Isto ocorre porque uma randomização bem feita permite que os dois grupos (tratamento e controle ou placebo) do estudo sejam iguais até em fatores desconhecidos 3,4,5. Estes estudos podem ser classificados como aberto, simples cego, duplo cego e triplo cego, se considerarmos o conhecimento dos pacientes, médicos e do bioestatístico sobre o pertencimento ao grupo tratamento ou não. A analise estatística dos estudos clínicos randomizados é feita avaliando se o grupo tratado apresentou melhor desempenho que o grupo controle. Neste caso, são utilizadas medidas como risco relativo, redução de risco, tempo de sobrevida 1,2,7 etc. Mais recentemente novas medidas estão sendo introduzidas para tornar a interpretação da redução do risco e da eficácia mais fácil como o NNT e o NNTus, respectivamente6. Estudos de revisão Atualmente novos trabalhos começaram a ser realizados. Eles não investigam diretamente pacientes ou doenças mas um conjunto estudos e, por isso, são conhecidos como estudos de revisão. Os principais representantes desta classe são denominados como metaanálise e revisão sistemática 3,4,5. A meta-análise reúne diversos estudos de um mesmo tipo, normalmente estudos de intervenção, focalizando um determinado assunto e se apropriando de toda a informação possível para determinar qual a melhor estratégia para os pacientes. Sua análise utiliza várias ferramentas como, por exemplo, o odds ratio de Mantel-Haenszel. A revisão sistemática generaliza a idéia da metaanálise, utilizando todos os tipos de estudos disponíveis para tentar obter o máximo de informação a respeito dos dados da literatura com a intenção de tomar uma decisão sobre alguma questão relevante. Considerações Finais Estudos de Intervenção Ao contrário do que algumas pessoas advogam, todos os estudos são válidos e fornecem evidências importantes para a prática médica, desde que tenham sido observados os cuidados metodológicos próprios. Na realidade, cada tipo de estudo tem um motivo para a sua utilização, vantagens e desvantagens 3,4,5. Os estudos descritivos são importantes porque nos O estudo de intervenção é caracterizado pela presença de uma intervenção, ou seja, o pesquisador interfere diretamente na história natural da doença. Ou seja, eles intentam avaliar a terapêutica de uma determinada condição 3,4,5 . 39 Untitled-1 39 4/6/2004, 17:12 Editorial Laranjeiras auxiliam a gerar novas hipóteses, descrever novidades no tratamento de pacientes ou no estudo de doenças raras. Por outro lado, por não ter um grupo controle, há uma imprecisão na avaliação da eficácia dos tratamentos utilizados e não avaliam bem relações prognósticas. O estudo transversal é de fácil execução, baixo custo, simples de analisar e rápido, porém não estabelece uma seqüência de eventos, pode sofrer efeito de algum viés e é inadequado para avaliar hipóteses. O estudo de caso-controle é bom para doenças raras permite avaliar múltiplas exposições ao mesmo tempo e é relativamente rápido, porém pode sofrer com o viés de medida ou de seleção, não afere a incidência, só permite avaliar um desfecho e pode ter problemas se a freqüência da exposição for muito baixa. O estudo de coorte permite avaliar a incidência e o risco da exposição, pode trabalhar com vários desfechos ao mesmo tempo, porém é vulnerável a perdas e inadequado para doenças raras ou com tempo de latência longo. O estudo clínico randomizado apresenta uma grande validade interna, fornece uma boa avaliação da eficácia do tratamento, porém sofre com viés de vários tipos, é de baixa generalização, tem alto custo e pode apresentar problemas de cointervenção. O que torna o estudo bom é a correta escolha do modelo, o cuidado metodológico em sua construção e o rigoroso controle de sua qualidade durante a sua execução. Referência bibliográficas 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. ARMITAGE, P. e BERRY,G. Statistical methods in medical research, Blackwell, 3 ed, Science, 1994 FISHER, D.F. e BELLE, G.V. Biostatistics: a methodology for health sciences, Wiley Science, 1993 FLETCHER, R.H., FLETCHER, S.W. e WAGNER, E.H. Epidemiologia clínica: elementos essenciais, 3 ed, Porto Alegre, Artmed, 1996 GOMES, M.M. Medicina baseada em evidências: princípios e práticas, Rio de Janeiro, Reichmann & Affonso, 2001 HENNENCKENS, C.H. e BURING, J.E. Epidemiology in medicine, Boston, Little, Brown and company 1987 Mancini, J.G.B. e Schulzer, M. Reporting risks and benefits of therapy by use of the concepts of unqualified success and unmitigated failure: applications to highly cited trials in cardiovascular medicine, Circulation v.99:377-83, 1999 SOARES, J.F. e SIQUEIRA, A. L. Introdução a estatística médica, Belo Horizonte, Dep.Est/UFMG, 1999 40 Untitled-1 40 4/6/2004, 17:12 Editorial Laranjeiras CIRURGIA DE RASTELLI COM A UTILIZAÇÃO DE HOMOENXERTO PULMONAR CRIOPRESERVADO: RELATO DE CASO Andrey Monteiro; Rodrigo Barbosa; Milton Meier; Jose Aldrovando* APRESENTAÇÃO: Em junho de 2002 iniciamos a experiência com o transplante de enxerto homólogo. Pela primeira vez no estado do Rio de Janeiro uma criança recebeu um homoenxerto com a finalidade de conectar o ventrículo direito à artéria pulmonar. do septo ventricular e persistência do ducto arterioso ),que em Julho de 1999 ( com 2 anos e 11 meses ) foi submetida à confecção de “shunt” sistêmico –pulmonar à esquerda com ligadura de colateral aorto-pulmonar. A cavidade ventricular direita era de bom tamanho, a saturação de oxigênio antes da cirurgia de correção total era de 88% em ar ambiente e apresentava estenose no ramo pulmonar esquerdo junto da anastomose do enxerto. Foi indicado o tratamento cirúrgico definitivo ( CIRURGIA DE RASTELLI ) . IDENTIFICAÇÃO: MPS, feminina, 5 anos, parda, 16 kg. HISTÓRICO: Paciente portadora de cardiopatia congênita complexa ( atresia pulmonar, defeito do septo atrial , defeito Figura 1 Figura 3 Legenda: Ao - Aorta; TP - Tronco da Artéria Pulmonar; Hx - Homoenxerto Pulmonar; VD - Ventrículo Direito; PeB - Pericárdio Bovino. Figura 1 - Evidenciamos o tronco da artéria pulmonar atrésico. Figura 2a e 2b - Desenho esquemático da cirurgia realizada. Figura 3 - Homoenxerto pulmonar interposto entre o ventrículo direito e a bifurcação dos ramos pulmonares. EVOLUÇÃO : A cirurgia transcorreu sem complicação e a paciente foi levada ao CTI pós operatório hemodinamicamente estável sem necessidade de aminas e extubada cerca de 4 horas após a cirurgia. Ecocardiograma no 5° dia evidenciou: insuficiência pulmonar leve, ausência de gradiente transvalvar pulmonar, boa função ventricular. O tempo de permanência na CTI foi inferior a 36 hs e a paciente teve alta no 6° dia. TRATAMENTO CIRÚRGICO : Foi submetida à ligadura do “shunt’ sistêmico pulmonar esquerdo e do ducto arterioso, ventriculosseptoplastia , implante de enxerto pulmonar homólogo criopreservado conectando o ventrículo direito à artéria pulmonar e atriosseptoplastia . Para o fechamento do defeito do septo ventricular foi utilizada placa de pericárdio bovino. O segmento distal do homoenxerto, que correspondia à artéria pulmonar do doador, foi anastomosada à artéria pulmonar da paciente e o segmento proximal suturado à abertura da parede anterior do ventrículo direito. Uma placa de pericárdio bovino em” meia lua”foi interposta para evitar acotovelamento do homoenxerto. Este homoenxerto foi fornecido pelo Banco de Homoenxerto Valvares da Santa Casa de Curitiba e pertencia a uma menina de 11 anos. O diâmetro interno do anel era 17mm e o comprimento da artéria pulmonar de 1,7cm. CONCLUSÃO : Pretendemos reproduzir resultados cirúrgicos semelhantes em outros pacientes candidatos à CIRURGIA DE RASTELLI. Com a utilização de homoenxerto pulmonar esperamos menores efeitos indesejáveis tais como: fenômenos tromboembólicos, gradiente transvalvar, endocardite em prótese e menor degradação do tecido; conseqüentemente com menor incidência de reintervenções. * CHEFE DO SERVIÇO DE CIRURGIA CARDÍACA PEDIÁTRICA DO INC 41 Untitled-1 41 4/6/2004, 17:12 Editorial Laranjeiras TROMBOSE DE PRÓTESE MITRAL Márcia Barbeito, Wilma Felix, Claudia Cantanheda**, Clara Weksler* na face atrial da prótese. Área de 2,1 cm2. Gradiente transprotético médio de 03 mm Hg ( Fig. 2 A e B) . Recebeu alta em classe funcional I, em uso de cumarínico e ácido acetil salicílico . A Fig. 3 (A , B e C) mostra o ETE pré alta hospitalar, em 15/02/02, onde registra-se uma área valvar mitral de 2,8cm, gradiente transvalvar médio de 03mmHg e PSAP de 38mmHg. A prótese encontrava-se normofuncionante e sem trombos. Foi investigada para trombofilia, sendo os marcadores negativos. A incidência relatada de trombose de prótese valvar em posição mitral varia de 0,2% a 6% /paciente/ano1.Vários fatores fisiopatológicos contribuem para esse evento, incluindo a trombogenicidade do material valvar, estagnação e separação do fluxo e danos aos elementos do sangue e ao endotélio, com ativação das plaquetas e liberação de fatores trombogênicos. A apresentação clínica pode ser lenta e gradual ou abrupta. O tratamento depende do estado hemodinâmico do paciente. Apesar da alta mortalidade cirúrgica nos pacientes com instabilidade hemodinâmica, a indicação é de cirurgia de troca valvar. A terapia trombolítica tem sido proposta como uma abordagem alternativa para esse grupo de pacientes2, 3. Relatamos um caso de trombose de prótese valvar em posição mitral, classe funcional III, tratada com terapia trombolítica. DISCUSSÃO Com uma incidência de 0,2% a 6%/paciente/ano, a trombose de prótese valvar em posição mitral está entre os eventos tromboembólicos, como uma das maiores causas de morbidade.1, 2 . Outros fatores que contribuem para aumentar o risco de eventos tromboembólicos nesses pacientes são a presença de fibrilação atrial, átrio esquerdo aumentado, dilatação e disfunção sistólica do ventrículo esquerdo, além de anticoagulação inadequada 3 . No caso relatado, a paciente encontrava-se com INR abaixo do nível ideal para prótese mecânica em posição mitral e tinha átrio esquerdo aumentado. O ETE é aceito como método diagnóstico de escolha para confirmar suspeita clínica de trombose de prótese valvar 4 . Em nossa paciente, o ETT já nos possibilitou a tomada de decisão antes mesmo da realização do ETE uma vez que os dados obtidos mostrava uma prótese estenótica e regurgitante com pressão sistólica de artéria pulmonar ( PSAP ) elevada e gradientes transprotéticos elevados, dados esses, não existentes no último ETE realizado na paciente. Essa comparação nos levou à conclusão que tratava-se de trombose de prótese, apesar da não visualização do trombo. O tratamento da trombose de prótese valvar em pacientes com comprometimento agudo de suas condições hemodinâmicas é cirúrgico5.A terapia trombolítica tem sido proposta como abordagem alternativa com altos índices de sucesso( 70% a 90% ) em pequenas séries. No entanto, os riscos desse tratamento são altos em algumas séries com 20% de morte, 16% de embolia sistêmica e 22% de necessidade de cirurgia de urgência. 6, 7. No caso que relatamos, optamos pela terapia trombolítica , apesar dos riscos descritos, por tratar-se de paciente jovem, reoperação e rápida e progressiva piora das condições hemodinâmicas. O sucesso do tratamento pode ser observado no ETE 48hs após a terapia (fig. 2) com a paciente em classe funcional I e no ETE pré-alta hospitalar (fig. 3). RELATO DO CASO Mulher de 26 anos, submetida à cirurgia para implante de prótese mitral mecânica (carbomedics) em 06/ 11/01, por insuficiência mitral aguda após valvuloplastia mitral por balão sem sucesso. Em 07/11/01, apresentou diminuição de pulso em membro inferior direito com doppler demonstrando trombose de artéria femoral e então submetida a tromboembolectomia em 09/11/01, com sucesso. Obteve alta assintomática em uso de cumarínico.Fig. 1. O ecocardiograma em 16/11/01 mostrava prótese normofuncionante com gradiente transprotético médio de 03 mmHg e máximo de 06mmHg, área valvar de 1,83cm sem trombos ou vegetações. Em 18/01/02 vem a consulta ambulatorial, apresentando-se assintomática , exame clínico demonstrando presença de clic metálico da prótese, ritmo sinusal , e INR de 2,5. Em 01/02/02, dá entrada no Serviço de Pronto Atendimento com dispnéia , taquicardia , sem ruído da prótese à ausculta ,mas normotensa. O ECG mostrava flutter atrial . Ecocardiograma transtorácico( ETT) em 01/02/02, apresentava área protética de 0,68, gradiente transprotético médio de 15 e máximo de 29 mm Hg , PAP de 79 mm Hg, disfunção de prótese com dupla lesão e predomínio de estenose. Não foram visualizados trombos ou vegetações. Foi transferida pra a Unidade de Apoio Terapêutico evoluindo com insuficiência ventricular direita , optando-se pelo inicio do tratamento com streptoquinase apesar da ausência de visualização de trombo no ETT e enquanto se aguardava a realização do ecocardiograma transesofágico( ETE ). Após 48hs em uso de trombolítico (Stretoquinase, protocolo padrão) a paciente encontrava-se em classe funcional I e já ouvíamos o ruído da prótese. O ETE em 04/02/02 após 48 hs de trombolítico, mostrava imagem sugestiva de trombo * CHEFE DO DEPARTAMENTO DE DOENÇAS OROVALVARES - ** MÉDICA DO SERVIÇO DE PRONTO ATENDIMENTO 42 Untitled-1 42 4/6/2004, 17:12 Editorial Laranjeiras A. S. Eds. Textbook of Clinical Echocardigraphy. Philadelphia: W.B.Saunders 1999: 279-304. 5. Lengyel, M. Fuster, V. Keltai, M. Et al. Guidelines for management of left-sided prosthetic valve thrombolisis: A role for thrombolytic therapy. J Am Coll Cardiol 1997; 30:1521-26. 6. Roudaut, R. Labbe, T. Lorient-Roudaut, M. F. et al. Mechanical cardiac valve thrombosis. Is fibrinolysis justified? Circulation 1992; 85 (suppl. II ): II-8-II-15.0 7. Vitale, N. Renzulli, A. Cerasuolo, F. et al. Prosthetic valve obstruction: thrombolysis versus operation. Ann Thorac Surg 1994; 57: 365-70. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Lengyel, M. Vegh, G. Vandor, L. Thrombolysis is superior to heparin for non-obstructive mitral mechanical valve thrombosis.J Heart Valve Dis 1999; 8: 167-73. 2. Otto,C. M. Valvular Heart Disease.1st ed. Philadelphia : W. B. Saunders Company; 1999. 3. Edmunds, L. H. Jr. Thromboembolic complications or current cardiac valvular prostheses.Ann Thorac Surg 1982; 34: 96-106. 4. Otto, C. M. Pearlman, A. S: Echocardiographic evaluation of prosthetic valve dysfunction. In: Otto, C. M. Pearlman, Fig. 2 ETE em 04/02/02 Fig 1 Radiografia de tórax em 19/11/01 Fig. 3 ETE pré-alta em 15/02/02. B Fig 2 A C B 43 Untitled-1 43 4/6/2004, 17:12 Editorial Laranjeiras PONTO DE VISTA DIRETRIZES DE CONDUTAS MÉDICAS (“GUIDELINES”): CAMISA DE FORÇA ? Berdj A. Meguerian* Nesses últimos vinte anos nossa forma de pensar modificou-se; nós médicos, deslumbrados pela aplicação da tecnologia, notadamente da informática, iniciamos nossa aproximação das Ciências Exatas e num determinado momento, achamos necessário incorporá-la ao nosso cotidiano. Foi um passo acertado, mas como tudo que é novo, o entusiasmo vem levando a certos excessos. englobaram todas as possibilidades ? É possível isso ? Passamos a ter uma segunda Biblia ? Tudo que está escrito numa Diretriz é a VERDADE ? Será que não estamos iniciando uma nova inquisição, onde quem não se submeter às diretrizes é um herege da Medicina ? Na minha especialidade (Medicina Nuclear) e assim deve ocorrer com alguns colegas de outras áreas, quando me atrevo a modificar ou introduzir um protocolo de exame, com as devidas justificativas fisiológicas e fisiopatológicas, alguns colegas me olham desconfiados e perguntam : em que “Guideline” você viu isso? Alguns colegas vão mais longe e querem certificar-se que o “Guideline” é dos nossos vizinhos do Norte que são considerados do primeiro mundo , pois caso contrário levantam dúvidas quanto à sua aplicabilidade ! Nas faculdades de medicina, estamos muito preocupados em passar milhares de dados sobre as doenças e a forma de diagnosticá-las e tratá-las, num prazo exíguo, pois essa tarefa é realizada nos mesmos seis anos de estudo que levavam para formar um médico cinquenta ou mais anos atrás, apesar da notável evolução da medicina, sobretudo a partir dos anos quarenta. Essa ansiedade de passar ao aluno tanto conhecimento, nos fez esquecer de ensiná-lo como pensar: não temos a cadeira de filosofia nas faculdades de medicina. É preciso entender que não estou simplesmente clamando o abandono das Diretrizes;não. Quero alertar contra os fundamentalistas de Diretrizes e lembrar-lhes que elas tomam por base a média de uma população e não especificamente o nosso paciente daquele momento, pois nem sempre é salutar sacrificar o específico para o bem do geral. Inicialmente vivemos a era da reengenharia, conceito muito querido aos médicos, uma vez que esta filosofia de trabalho consagrava a decisão na ponta, na extremidade da linha de produção: à beira do leito; exatamente o que fazemos todo dia: tomamos decisões baseadas nos nossos conhecimentos e na nossa experiência. Naturalmente este tipo de atuação implica em acertos e erros e quando se erra, o único responsável é o decisor, isto é, o médico: nós ! À medida que o ensino teórico e prático da medicina sofreram da exiguidade de prazo nas faculdades, os erros aumentaram. Passados alguns anos, a reengenharia foi abandonada, pois para os mentores de novos conceitos de trabalho ela “deshomogeneizava” o pensamento único, muitas vezes indo contra os objetivos básicos da empreitada, por exemplo numa indústria, no comércio ou numa clínica. Surgiu então o conceito da Qualidade Total: o óbvio ululante, isto é, a obrigação de realizar tarefas com cuidado e esmero, passou a ser regida por leis e normas; aquilo que era obrigação passou a ser uma virtude quantificável através das Isos. Na verdade deve se dar à Diretriz o que é da Diretriz, sem esquecer o outro lado da moeda: nossa experiência e cultura médica; a heurísitica da decisão médica. Termino esta apresentação recorrendo a uma citação de Epicteto,que li num artigo sobre Medicina Baseada em Evidência(S. Álvarez Ruiz A. Canut Blasco E.Rodeño Ortiz de Zárate I. Barbero Martínez J. I. Alonso Colmenares J. Cortés Hernández P .AlcortaArmentia. Revist Española de Medicina Nuclear: Medicina basada en la evidencia. Aplicación a la medicina nuclear.Vertiente diagnóstica.ParteII Vol 20, No. 05 p. 393 – 412) : Há coisas que são o que parecem ser, ou não são e não parecem ser, ou são e não parecem ser,ou não são embora parecem ser. A Qualidade Total invadiu todas as atividades, inclusive a área da saúde e hoje temos normas que cerceam nossas atividades e somos obrigados a obdecê-las. No bôjo da qualidade total vieram as famosas Diretrizes Médicas ( Guidelines) . Não tem dúvida que eles propiciam o balizamento da maioria das decisões, mas nós médicos, não podemos esquecer um dos nossos lemas mais verdadeiros : CADA CASO É UM CASO e aí devemos ter o bom senso de antes de mergulhar na Diretriz, verificar sua aplicabilidade e o custo-benefício clínico para o nosso paciente, não esquecendo da qualidade de vida que vamos propiciar a ele. É verdade que as diretrizes são elaboradas por grupos de colegas experientes , mas será que *CHEFE DO SERVIÇO DE MEDICINA NUCLEAR DO INC 44 Untitled-1 44 4/6/2004, 17:12 Editorial Laranjeiras REGRAS PARA PUBLICAÇÃO A Revista EDITORIAL LARANJEIRAS do Instituto Nacional de Cardiologia tem como objetivo divulgar o saber na área de Cardiologia baseandose na publicação de artigos originais,de revisão e atualização além de relatos de casos especiais e documentados. Os trabalhos para publicação deverão ser enviados ao Conselho editorial da revista para apreciação e julgamento, e só serão aceitos se forem inéditos, não sendo permitido sua publicação em quaisquer outras revistas. Os artigos poderão ser enviados em português, espanhol ou Ingles e terão como limite de extensão 20 páginas de texto para os artigos originais, de revisão e atualização (incluindo ilustrações, tabelas e anexos);para os casos clínicos o limite é de 2 páginas, incluindo ilustrações. Todos os tipos de trabalho deverão apresentar o resumo em Ingles. Os autores deverão enviar 2 cópias impressas em papel ofício, digitadas em espaço duplo, com margens de 2.5 cm e páginas numeradas, bem como um disquete na versão Word for Windows 6.0 A sequência dos artigos deverá ser a seguinte: a) título do trabalho em letra maiúscula b) nome completo dos autores, e no rodapé da primeira página sua formação profissional,títulos e serviços a que se vinculam, bem como o endereço para correspondência c) resumo de até 250 palavras, na língua original em que foi escrito o artigo e descritores ou ‘palavras-chave’ que identificam o conteúdo do trabalho, que devem estar contidos nos “Descritores em Ciências da Sáude (DeCS) publicada pela Bireme d) introdução constando o objetivo do trabalho e) Casuística e Métodos constando a análise estatística utilizada f) resultados g) Comentários ou Discussão h) Conclusões i) título, resumo e descritores em ingles (abstract e Key words) j) agradecimentos , se houver. k) referências bibliográficas e l) legenda e ilustrações. As ilustrações (quadros, tabelas, figuras, gráficos) deverão ser numeradas em algarismos arábicos, sendo as tabelas e quadros com os títulos na parte superior de cada coluna e as abreviaturas, se houver, no rodapé.Todas as ilustrações devem constar em folhas separadas , numeradas normalmente, seguindo as referências bibliográficas. As ilustraçoes podem utilizar cores. As regras para publicação na EDITORIAL LARANJEIRAS estão fundamentadas nas recomendações do International Committeé of Medical Journals Editors. Uniform requirements for manuscripts submited to biomedica journal. N Engl Med l991: 324:424-8, que recomendam observações como: Referências Bibliográficas: Somente os trabalhos consultados devem ser mencionados, e os autores deverão ser citados no texto. Informações ou referências a trabalhos não publicados deverão ser apresentadas em notas de rodapé , na mesma página em que forem citadas no texto, e identificadas por asteriscos. Referências Bibliográficas no texto: Deverão seguir a ordem de citação no texto e serem numeradas sequencialmente em algarismos arábicos. Os autores citados podem ser identificados apenas pelo número índice ou então pelo ultimo sobrenome,seguido do número indice. Ex. Cunha 1 relatou...Simões, Cunha 23 ou segundo varios autores 4,5,6 Lista de Referências Bibliográficas: Deverão ser apresentadas ao final do trabalho e respeitando a ordem de citação do autor no texto. Tratando-se de trabalhos de colaboração deverão ser citados até 6 autores, seguindo a expressão et al. Os títulos de periódicos deverão ser abreviados de acordo com a List of Journals Indexed in Index Medicus, publicada no fascículo de janeiro do Index Médico de 1997. Artigo de Periódico:Sobrenome e iniciais do prenome dos autores.Título do artigo. Título do periódico abreviado. Ano e mês abreviado: volume (n.º do fascículo): número das páginas inicial e final. Em publicações em que as páginas são continuadas a cada volume pode-se omitir o n.º do fascículo e o mês.Ex: Bigger JT, Fleiss JL , Steinmam RC, Rolnitzky LM , Kleiger RE & Rottman JN . Correlations among time and frequency domain measures of heart period variability two weeks after acute myocardial infarction. Am J Cardiol 1992 ; 69: 891-898. Volume com suplemento: Nesse caso após o n.º do volume acrescentar (Suppl I). Livro: Sobrenome e iniciais do prenome dos autores. Título do livro.N.º da edição. Local da publicação:Editora, ano. Capítulo de livro: Sobrenome e iniciais do prenome dos autores do capítulo. In: Sobrenome e iniciais do prenome dos autores do livro. Título do livro: Subtítulo. Local da publicação : Editora, ano : páginas específicas do capítulo. Tese ou dissertação: Sobrenome e iniciais do prenome do autor.Título (Grau acadêmico do trabalho).Local de publicação: Instituição onde foi defendida, ano. Ex: . Pedrosa,CR. Contribuição ao estudo da etiopatogenia do distúrbio de condução e da eletrogênese na cardiopatia chagásica crônica. Efeitos de anticorpos IgG de pacientes chagásicos crônicos na eletrogênese e no sistema de condução do coração isolado de mamíferos. Tese de Doutorado.Rio de Janeiro: Faculdade de Medicina. Universidade Federal do Rio de Janeiro,1998. Procedimentos para publicação: Enviar os trabalhos para o Centro de Estudo do Instituto Nacional de Cardiologia, à R. das Laranjeiras, 374-12º andar . Cep 22.240.002. Rio de Janeiro – RJ. Em caso de dúvidas entrar em contato com o Centro de Estudo pelo tel. (0XX-21)2557-0894. Conselho Editorial: O Conselho Editorial determinará se os trabalhos estão aptos à publicação e poderá sugerir ao autor a modificação do trabalho ou sua adequação às normas da EDITORIAL LARANJEIRAS. A responsabilidade pelas citações, afirmações, opiniões e conceitos veiculados através dos trabalhos será de inteira responsabilidade dos autores. Será permitida a reprodução em parte ou no todo , de artigos publicados em EDITORIAL LARANJEIRAS, porém com indicação da origem e nome dos autores, de acordo com a legislação sobre direitos autorais. 45 Untitled-1 45 4/6/2004, 17:12 Editorial Laranjeiras 46 Untitled-1 46 4/6/2004, 17:12 Editorial Laranjeiras 47 Untitled-1 47 4/6/2004, 17:12 Editorial Laranjeiras 48 Untitled-1 48 4/6/2004, 17:12