IMPORTÂNCIA DA LISTERIA MONOCYTOGENES EM ALIMENTOS DE ORIGEM ANIMAL. IMPORTANCE OF LISTERIA MONOCYTOGENES ON FOODS FROM ANIMAL ORIGIN. Samira Pirola Santos Mantilla1; Robson Maia Franco²; Luiz Antônio Trindade Oliveira2; Érica Barbosa Santos3, Raquel Gouvêa4 RESUMO A Listeria monocytogenes é encontrada na natureza e no trato intestinal dos animais, logo, é comum a contaminação da carcaça e cortes de carne durante o abate e o processamento. Este microrganismo é considerado um patógeno emergente, podendo ocasionar listeriose em humanos através da ingestão de alimentos contaminados com o mesmo. A listeriose é uma zoonose de grande importância em Saúde Pública, visto que pode ocasionar aborto, septicemias e meningites. Existe um grupo de risco composto por mulheres grávidas, crianças, idosos e pacientes imunodeprimidos, nos quais a doença é altamente perigosa. Sua importância em alimentos está relacionada com a sua capacidade de resistir a temperaturas de refrigeração, alta ocorrência em alimentos e diversos surtos de listeriose envolvendo ingestão de alimentos manipulados inadequadamente ou mal cozidos. Palavras-chave: Listeria monocytogenes, sobrevivência, alimentos ABSTRACT Listeria monocytogenes is commonly found on nature and on intestinal tract of animals, therefore contamination of carcass and cut piece of meat is common during slaughter and industrial processing. This microrganism is considered as an emergent pathogen, which is capable to provoke listeriosis in humans through ingestion of contaminated food by Listeria spp. The listeriosis is a zoonosis of great importance on public health, considering that it may cause abortion, sepsis and meningitis. Pregnant women, children, the old and immunodeficient patients form the risk group of people to listeriosis. The importance of 1 Mestre. Higiene Veterinária e PTPOA, UFF, Niterói-RJ. [email protected] Docentes. Dpto Tecnologia de Alimentos, UFF, [email protected], [email protected] 3 Pós-Graduanda, Irradiação de alimentos, UFF, [email protected], Niterói, RJ. 4 Médica Veterinária, UFF, quelgouvê[email protected], Niterói, RJ. 2 Revista da FZVA. Uruguaiana, v.14, n.1, p. 180-192. 2007 181 Importância da Listeria... Listeria spp. on food is related to its resistance to refrigeration temperatures, to the high occurrence related to food and to listeriosis outbreaks involving the ingestion of badly cooked food or unsuitable processed food. Key words: Listeria monocytogenes, survive, food origem INTRODUÇÃO alimentar (FABER & PETERKIN,1991; OLIVEIRA, 1993). Segundo CORRÊA & CORRÊA A listeriose humana é uma doença (1992), em 1929, Munay, Webb e Swann, esporádica observada durante todo o ano, durante uma epizootia entre coelhos e com pico de ocorrência nos meses mais cobaias de um biotério em Cambridge, quentes. isolaram microrganismos que causavam associadas ao consumo de leite, queijo, intensa monocitose, nomeando o agente carne inadequadamente cozida, vegetais como Bacterium monocytogenes. Um ano crus não lavados e repolho contaminados mais tarde, na África do Sul, observou-se (MURRAY et. al., 2000). uma doença similar em roedor selvagem e, Epidemias focais têm sido A morbidade é variável com a em honra a Lister, denominou-se o agente espécie, como doença individual esporádica ou como surto Listerella hepatolytica, porém, podendo apresentar-se como considerando ser parecido com o agente epidêmico, isolado pelos outros autores ingleses, letalidade também é variável, ficando propôs geralmente entre 20-50% (CORRÊA & a denominação monocytogenes. havia um de Listerella Posteriormente, gênero vegetal com casos endêmicos. A como CORRÊA, 1992). A ocorrência da doença é assim baixa, porém, é uma enfermidade denominado, o agente passou a chamar-se importante por sua alta letalidade (ACHA Listeria monocytogenes. & SZYERES, 2001). O meio científico foi despertado O objetivo deste estudo é realizar para o perigo da listeriose durante a década uma revisão de literatura sobre a ocorrência de 80, quando uma série de surtos de ocorreram na América do Norte e Europa; e alimentos e a sua importância para a saúde a Listeria monocytogenes foi responsável pública. L. monocytogenes em diferentes por várias formas de listeriose humana. A As listerias são bastonetes Gram partir de 1988, principalmente nos países da positivos, não produtoras de esporo e não Europa Central, pesquisadores passaram a ácido resistente que antigamente foram investigar a listeriose como doença de denominadas como Listerella. A Revista da FZVA. Uruguaiana, v.14, n.1, p. 180-192. 2007 182 Mantilla, S.P.S. et al. denominação do gênero foi mudada em listeriose associada a queijo feito com leite 1940 para Listeria. Em certo momento, inadequadamente pasteurizado. (JAWETZ acreditou-se que as listerias estivessem et. al., 1998) Segundo relacionadas a bactérias corineformes e, de fato, foram colocadas na família JAY (2005), a L. monocytogenes está representada por 13 Corinebacteriaceae. Contudo, atualmente, sorovares, está claro que estão mais relacionadas a compartilhados por L. innocua e por L. Bacillus seeligeri. spp., Lactobacillus spp., e Streptococcus spp.(JAY, 2005). O gênero Listeria é classificado alguns dos Embora L. quais innocua são esteja representada somente por três sorovares, muitas vezes esta é considerada uma juntamente com os gêneros Lactobacillus, variante não patogênica Erysipelotrix, Brochothrix, Caryophanon e monocytogenes. A grande heterogeneidade Renibacterium. As espécies reconhecidas antigênica desta última espécie pode estar são: L. monocytogenes, L. ivanovii, L. relacionada com o grande número de innocua, L. welshimeri, L. seeligeri, L. hospedeiros animais nos quais é capaz de grayi, L. murrayi. A espécie L. denitrificans multiplicar-se. Em geral, linhagens 4b são foi transferida para o gênero Jonesia. No mais freqüentemente associadas com surtos, que diz respeito à sorologia, foram descritos enquanto 16 sorovares, sendo 15 antígenos somáticos relacionadas com produtos alimentícios. linhagens 1/2 de são L. mais “O” e cinco antígenos flagelares “H”. A A L. monocytogenes é um patógeno Listeria monocytogenes, considerada a intracelular facultativo, que pode crescer espécie patogênica para homens e animais, em contém os sorovares 1/2 a, 1/2 b, 1/2c, 3a, fibroblastos cultivados. Todas as cepas 3b, 3c, 4a, 4b, 4c, 4e, 7 (SEELIGER & virulentas produzem uma hemolisina, a JONES, 1996). listeriolisina O, que está geneticamente A classificação sorológica exige tipagem dos antígenos O e H, efetuada em macrófagos, células epiteliais e relacionada com a estreptomicina O e a pneumolisina (MURRAY et. al., 2000). laboratórios de referência. É utilizada As listerias crescem em temperatura basicamente para estudos epidemiológicos. de 1 a 45°C, sendo a faixa ótima de 30 a Os sorotipos 1/2a, 1/2b e 4b constituem 37°C, embora existam relatos sobre o mais de 90% dos microrganismos isolados crescimento a 0°C. Suportam repetidos em seres humanos. Constatou-se que o congelamentos sorotipo 4b provocou uma epidemia de (FRANCO & e descongelamentos. LANDGRAF, 1996; Revista da FZVA. Uruguaiana, v.14, n.1, p. 180-192. 2007 183 Importância da Listeria... A Listeria spp. após entrar no LOVETT & TWEDT, 1988; SEELIGER & organismo hospedeiro por via oral, atinge o JONES, 1996) psicrotrófica trato intestinal aderindo e invadindo a depende da integridade celular e do sistema mucosa. A partir do momento que atinge a de transporte energético resistente ao frio, corrente sangüínea, a célula bacteriana é que estimula o metabolismo sob baixas fagocitada por macrófagos e após a lise do temperaturas, altas fagossoma, é liberada no citoplasma da concentrações de substratos intracelulares e célula do hospedeiro onde se multiplica uma fase lag prolongada em temperaturas rapidamente (FRANCO & LANDGRAF, de refrigeração (OLIVEIRA, 1993). 1996; LOVETT & TWEDT, 1988). A característica propiciando A hemolisina durante a infecção De acordo com JAY (2005), das espécies de Listeria, a L. monocytogenes é provoca o os especialmente aquelas formadas entre os humanos. Embora a L. ivanovii possa vacúolos fagocitários e os lisossomas, não multiplicar-se de permitindo, portanto, a formação dos crescimento de 10 6 células não causa fagolisossomas, que poderiam destruir a infecção. L. innocua, L. welshimeri e L. bactéria por meio das hidrolases ácidas aí seeligeri não são patogênicas, embora a existentes. Isto permite que a Listeria última produza hemólise. sobreviva e se multiplique dentro das patógeno Os de em importância ratos, mecanismos o pelos para grau quais a células rompimento das fagocitárias. membranas, As enzimas Listeria monocytogenes causa listeriose hidrolíticas, após a ruptura das membranas ainda não estão bem definidos. Sabe-se, dos lisossomas, são liberadas e provocam a entretanto, que a bactéria produz algumas destruição dos macrófagos e monócitos. toxinas, (CORRÊA & CORRÊA, 1992) destacando-se as toxinas hemolíticas (hemolisinas) e as toxinas A listeriose possui uma ampla lipolíticas; responsáveis pelo aumento na variedade de hospedeiros animais tanto produção de monócitos e pela depressão na domésticos como silvestres. A infecção foi atividade de linfócitos. Entre as toxinas comprovada isoladas incluem uma toxina hemorrágica, mamíferos dométiscos e silvestres, em aves, uma fração pirogênica e uma toxina capaz e inclusive em animais poiquilotermos. As de causar alterações eletrocardiográficas espécies domésticas mais susceptíveis em (MARTH, 1988). ordem decrescente de importância são: em grande número de Revista da FZVA. Uruguaiana, v.14, n.1, p. 180-192. 2007 Mantilla, S.P.S. et al. ovina, caprina e bovina (ACHA & PETERKIN, 1991; FRANCO 184 & LANDGRAF, 1996; LOVETT & TWEDT, SZYERES, 2001). Com exceção da listeriose neonatal, 1988; MARTH, 1988). A infecção ocorre em qualquer faixa que é transmitida da mãe para o feto, as são etária, sendo sua ocorrência maior no recém provavelmente adquiridas pelo contato nascido, crianças e pessoas idosas. Nestes direto com animais doentes ou seus dois últimos a mortalidade é bastante alta, excrementos, possivelmente pela inalação em média 70% (CASTRO, 1989). outras de formas poeira de ou listeriose ingestão de A listeriose invasiva é uma infecção alimentos de origem alimentar com alta morbidade e contaminados (CASTRO, 1989). A transmissão da Listeria spp. pode mortalidade em adultos que adquirem ocorrer tanto por contato direto quanto meningoencefalite e, em recém nascidos indireto com fontes contaminadas; por via que oral, septicemia severa (SCHLECH, 1996). ocular, cutânea, respiratória e desenvolvem Em urogenital. O organismo pode estar presente uma mulheres síndrome grávidas de produz em secreções oculares, nasal e purulenta da geralmente sintomas de gripe, mas pode epiderme e na urina, placenta de bovino haver invasão do feto e, dependendo do infectado; outros tecidos contaminados, estágio em que a gravidez se encontra, pode fezes e sangue. Porém, a transmissão por ocorrer aborto, parto prematuro, nascimento alimentos mais de natimorto, septicemia neonatal ou importante (MARTH, 1988; SILVA, 1996). meningite no recém nascido (FRANCO & parece ser a forma A listeriose no organismo humano e LANDGRAF, 1996; SILVA, 1996). O no animal tem um quadro diferente da aborto listérico na mulher maioria das outras doenças enquadradas somente ocorre na segunda metade da como agentes gravidez, com mais freqüência no terceiro etiológicos são transmitidos por alimentos. trimestre. Os sintomas que precedem em Isto alguns dias ou semanas ao aborto ou ao enfermidades se deve à cujos natureza intracelular facultativa do seu agente causal que parto rompendo as células produz septicemia, o aumento da temperatura corporal, ligeira que irritação propicia a infecção de tecidos podem e consistir às em vezes calafrios, sintomas normalmente não afetados, como o sistema gastrointestinais (ACHA & SZYERES, nervoso central, a placenta e o útero 2001). gravídico (CASTRO, 1989; FABER & Revista da FZVA. Uruguaiana, v.14, n.1, p. 180-192. 2007 185 Importância da Listeria... O Nos casos de comprometimento do primeiro caso de listeriose sistema nervoso central, a manifestação dá- humana foi denunciado em 1929, e desde se através do aparecimento de meningite, então encefalite e de abcessos. Entre outras enfermidade se apresenta esporadicamente formas localizadas de listeriose podem ser em todo o mundo. L. monocytogenes é o citadas a endocardite e osteomielite, porém agente etiológico de aproximadamente 98% são mais raras. (FRANCO & LANDGRAF, dos casos que ocorrem em pessoas e 85% 1996) dos casos que ocorrem nos animais. Pelo A ingestão contaminados com de alimentos Listeria spp. é particularmente perigosa para gestantes, se tem comprovado que esta menos três casos de enfermidade em pessoas foram causados por L. ivanovii e somente um por L. seeligeri (JAY, 2005). recém nascidos, indivíduos com síndrome A ampla distribuição de Listeria de imunodeficiência adquirida, carcinomas spp. na natureza e nas fezes dos animais e outras doenças e medicamentos que explica que sua presença em carnes cruas é provoquem comprometimento do sistema quase inevitável. A presença em carnes imunológico. (FRANCO & LANDGRAF, cruas pode variar de zero a 68%. A carne 1996; HOBBS & ROBERTS, 1992) suína é a mais contaminada, porém, Devido à ocorrência de muitos também é freqüente a contaminação de surtos de listeriose de origem alimentar na carne América do Norte e Europa, inclusive com informação sobre a virulência das cepas de casos fatais, vem ocorrendo um aumento de L. interesse na presença ou ausência de (JOHNSON et al. (1992) apud ACHA & Listeria SZYERES, 2001) monocytogenes em alimentos. crua de monocytogenes aves. Existe isoladas de pouca carnes Contagens acima de 106 por grama têm Os estudos e procedimentos para sido encontradas em queijos moles e patês isolamento e enumeração de Listeria spp. e de carne. Em uma grande proporção de Listeria monocytogenes em alimentos têm alimentos comumente encontrados aumentado muito nos últimos anos. As pequenos números de L. monocytogenes, mudanças nas características e nos hábitos porém especificações alimentares, a forma em que os alimentos microbiológicas estipulam a ausência de L. são produzidos, a habilidade da Listeria de monocytogenes em 25 g de alimento sobreviver em condições adversas, sua (HARRIGAN, 1998). capacidade de crescer em temperatura de são muitas refrigeração, aliado à sua resistência ao Revista da FZVA. Uruguaiana, v.14, n.1, p. 180-192. 2007 186 Mantilla, S.P.S. et al. congelamento, ao calor e aos diversos seguida por L. monocytogenes (29,3%) e L. antibióticos, tornaram esse microrganismo welshimeri (24,4%). De 63 amostras de carcaças de emergente e de grande importância entre os patógenos transmitidos por alimentos e frango analisadas em Portugal, todas atualmente representa um grande problema apresentavam-se para as indústrias de alimentos e órgãos Listeria spp., sendo que 26 amostras (41%) oficiais de regulamentação (DONELLY et foram positivas para L. monocytogenes al., 1992; FABER & PETERKIN,1991). (ANTUNES et al., 2002). contaminadas com No estudo realizado por YUCEL et De acordo com os resultados obtidos al. (2005), 146 amostras de carnes bovina por BERSOT et al. (2001), das 30 amostras inteira e moída e de frango, cruas e cozidas, de mortadela analisadas, 11 (36,7%) foram foram analisadas em relação à presença de positivas para Listeria spp., sendo oito Listeria spp. Destas, 79 amostras (54,10%) (26,7%) para L. monocytogenes. Na apresentaram-se contaminadas por Listeria pesquisa realizada por spp., sendo que a maior ocorrência de GONÇALVES (1998), das 40 amostras de isolamento (86,4%) ocorreu na carne carne de frango congeladas, isoloram-se bovina moída crua. L. monocytogenes foi 246 cepas de Listeria spp., sendo 52 cepas isolada em nove das 79 amostras (6,16%), de L. monocytogenes, três de L. ivanovii, 24 sendo L. innocua isolada em 68 amostras de L. seeligeri, 35 de L. innocua e 132 de L. (46,57%). welshimeri. De um total de 400 amostras de Das monocytogenes, cepas 51,9% de L. pertenciam ao carne moída analisadas, sendo bovina (211) sorotipo ½ b, 30,8% ao 4 b e 17,3% ao ½ c. e suína (189), FANTELLI & STEPHAN ARAÚJO (2002), encontrou em 80 L. % das amostras de blanquet de peru fatiado monocytogenes (10,75%). Destas, 19 cepas e em 90 % das amostras de presunto de pertenciam ao sorotipo 1/2a, duas ao peru fatiado contaminação por Listeria spp.. sorotipo 1/2b, 12 ao sorotipo1/2c e dez ao Destas, 52 cepas eram L. monocytogenes, sorotipo 4b. sendo (2001) isolaram 43 cepas de SILVA et al. (2004), isolou Listeria spp. em 100% das 41 amostras de lingüiças mistas do tipo frescal analisadas. Dentre as 51,9%, 34,6%, 7,7%, 5,8%, pertencentes as sorotipos 4b, 1/2c, 1/2b e 1/2a, respectivamente. No trabalho desenvolvido por diferentes espécies, L. innocua foi isolada MENA et al. (2004), vários tipos de com maior freqüência (97,6% das amostras) produtos alimentícios foram analisados Revista da FZVA. Uruguaiana, v.14, n.1, p. 180-192. 2007 187 Importância da Listeria... quanto a presença de L. monocytogenes em amostras analisadas incluíam produtos crus Portugal. Das 1035 amostras (leite, carne, (carne, peixes crus, e alimento termicamente processados processados e fermentados), 72 (7,0%) vegetais congelados e salmão defumado). A foram positivas para L. monocytogenes. Das maior ocorrência de Listeria spp. foi 17 amostras de carne bovina crua, 3 encontrada em amostras de carne de frango (17,7%) L. crua (76,3%) seguidas por amostras de monocytogenes. A carne de frango crua carne moída vermelha bovina e suína obteve maior número de amostras positivas (62,3%). Similarmente, a maior ocorrência (60%) comparando-se com os alimentos de L. monocytogenes foi detectada nestes analisados. produtos (36,1% e 34,9% respectivamente). foram positivas para KASNOWSKI (2005) isolou um leite e frango) (carne curada e produtos e cozida, L. innocua (13,0%) e L. monocytogenes total de 173 cepas de Listeria spp. de (8,3%) foram as espécies mais amostras de carne bovina (alcatra). Destas, extensivamente distribuídas nos produtos 72 (41,62%) foram originadas da carne em geral. Das 295 amostras de carne bovina inteira e 101 (58,38%) da carne moída. A e suína crua, 103 (34,9%) apresentaram-se espécie mais isolada foi a Listeria innocua contaminadas com L. monocytogenes, 103 6a, totalizando 91 cepas, seguida da (34,9%) com L. innocua, 45 (15,1%) com Listeria monocytogenes 4b com 45 cepas L. welshimeri e 4 (1,6%) com L. seeligeri. identificadas. Também foram isoladas 11 LUND et al. (1991) analisaram cepas de Listeria innocua 6b, uma de L. amostras de leite cru quanto à presença de innocua rugosa, 18 de L. innocua não bactérias do gênero Listeria. A ocorrência tipável e sete de L. monocytogenes 1/2b. de Listeria spp. foi 28%, sendo 3% L. No trabalho realizado por SAMADPOUR et al. (2006) de um total de monocytogenes, 26,7% L. innocua e 1,7% L. welshimeri. 512 amostras de carne moída analisadas YUCEL et al. (2004) isolaram através da “Polymerase Chain Reaction” 8,25% de L. monocytogenes de três tipos de (PCR) seguido pela confirmação da cultura, carne crua: carne moída, carne de frango e 18 carne bovina. Das nove cepas de L. (3,5%) foram positivas para L. monocytogenes. monocytogenes, duas foram obtidas a partir VITAS et al. (2004) investigaram a das amostras de carne moída, cinco da presença de Listeria spp. num total de 3685 carne de frango e duas da carne bovina. Em amostras obtidas no Norte da Espanha. As relação às outras espécies isoladas, 90% Revista da FZVA. Uruguaiana, v.14, n.1, p. 180-192. 2007 188 Mantilla, S.P.S. et al. eram L. innocua e 1,2% L. welshimeri. Das estabelecidos para amostra indicativa ou 98 cepas de L. innocua, 49, 26 e 23 foram amostra representativa, ou aqueles cujos isoladas das amostras de carne moída, carne resultados de frango e carne bovina respectivamente. presença ou a quantificação de outros SIRELI & EROL (1988), analisaram 100 amostras de carne moída em Ankara, analíticos demonstram a microrganismos patogênicos ou toxinas que representem risco à saúde do consumidor. Segundo JAY (2005), a Comissão Turquia quanto à presença e grau de contaminação com Listeria spp. O método Internacional utilizado para o isolamento e identificação Microbiológicas deste gênero bacteriano foi o do “United (“International States Department of Agriculture-Food Microbiological Specifications for Foods” – Safety and Inspection Service” (“USDA- “ICMSF”) parece ter concluído que, se esse FSIS”). Diferentes espécies de Listeria microrganismo não exceder 100 UFC/g de foram isoladas em 97% das 100 amostras alimento, analisadas. L. innocua foi a espécie aceitável para indivíduos que não estão sob prevalente risco. (92%), seguida pela L. em Especificações para Alimentos Commission este pode ser on considerado monocytognes (28%), L. murrayi (10%), L. grayi (9%), L seeligeri (3%) e L. CONCLUSÃO welshimeri (2%). L. ivanovii não foi A L. monocytogenes é um patógeno detectada em nenhuma amostra testada. amplamente encontrado no ambiente e no Estes resultados confirmam estudos prévios intestino de homens e animais, facilitando a de que a carne moída é uma das maiores contaminação de água e alimentos. É um fontes de Listeria spp. e pode ser um perigo patógeno em os enfermidade transmitida por alimentos consumidores desta carne crua ou mal conhecida como listeriose, que possui um cozida. curso diferente das outras doenças de potencial principalmente para No Brasil, não há um limite capaz de ocasionar uma origem alimentar, visto que, ao causar L. septicemia, o microrganismo pode atingir monocytogenes, entretanto, de acordo com diversos órgãos como o sistema nervoso a Resolução RDC n° 12 (BRASIL, 2001), central e a placenta ocasionando meningites são considerados produtos em condições e abortos sanitárias presença específico estipulado insatisfatórias para aqueles cujos resultados analíticos estão acima dos limites alimentos, listéricos. de L. Sendo assim, monocytogenes representa um perigo a em em Revista da FZVA. Uruguaiana, v.14, n.1, p. 180-192. 2007 189 Importância da Listeria... potencial para a saúde coletiva, devendo-se BERSOT, L.S.; intensificar a fiscalização de produtos de FRANCO, D.D.G.; origem Production of mortadella: behavior of L. animal quanto à inocuidade monocytogenes alimentar. LANDGRAF, during M.; DESTRO, M.T. processing and storage conditions. Meat Science. v. 57, REFERÊNCIAS p.19-26, 2001 ACHA, P.N. & SZYFRES, B. Bacterioses y Micosis. In:__ Zoonosis y enfermidades BRASIL. Ministério da Saúde. Agência transmisbles communes al hombre y a los Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução animales. 3 ed, parte 1, v.1, Washington: RDC n° 12 de 02 de janeiro de 2001. OPS, 2001 Aprova o Regulamento Técnico sobre Padrões Microbiológicos para Alimentos. ANTUNES, P.; REU, C.; SOUSA, J.C.; Disponível PESTANA, N.; PEIXE, L. Incidence and legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.p susceptibility to antimicrobial agents of hp? id=144&word=>. Acesso em: 19 jun. 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