OCORRÊNCIA DE LISTERIA SPP. EM INSTALAÇÕES, UTENSÍLIOS E CARCAÇAS EM MATADOURO-FRIGORÍFICO DE BOVINOS OCURRENCE OF LISTERIA SPP. IN INSTALLATIONS, TOOLS AND CARCASSES IN BOVINE SLAUGHTERHOUSE Jonas Coruja Cardoso1, Maurício Silva Fischmann1, Guiomar Pedro Bergmann2, Liris Kindlein2. 1 Acadêmico de Medicina Veterinária – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Bolsista de Iniciação Científica - Centro de Ensino, Pesquisa e Tecnologia de Carnes (CEPETEC). 2 Professor Adjunto, Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, CEPETEC, UFRGS. Palavras-chave: contaminação, listeriose, segurança alimentar. Introdução Embora a indústria cárnea tenha novas tecnologias e ferramentas de gestão de qualidade para o controle da contaminação microbiana, esta ainda é uma das principais preocupações do setor para garantir a segurança alimentar. Entre as principais doenças transmitidas por alimentos destaca-se a listeriose, que diferentemente de outras patogenias é causada por uma bactéria que apresenta características pisicrotróficas podendo desenvolver-se e multiplicar-se em alimentos mantidos sob refrigeração (DYKES, 2003). Além disso, bactérias do gênero Listeria sp. tem a capacidade de formação de biofilmes sobre várias superfícies tornando difícil sua eliminação (TAKHISTOV e GEORGE, 2004). O objetivo deste estudo foi avaliar a ocorrência de Listeria spp. em instalações, utensílios e carcaças bovinas abatidas em um matadouro-frigorífico com SIF (Serviço de Inspeção Federal) localizado na região serrana do Rio Grande do Sul. Material e Métodos Para análise bacteriológica qualitativa de Listeria spp. foram coletadas um total de 60 amostras por meio de suabes de superfície com 50 cm2 de área (ABNT, 1988). Os pontos de amostragem foram: instalações (piso e teto), utensílios (caixas plásticas, facas de sangria e ganchos da câmara fria) e carcaças na região do músculo longissimus dorsi em duas etapas do processo de abate, carcaça quente (0 hora após abate) e caracaça fria (24 horas após abate). Para isolamento de Listeria spp. foi utilizado a metodologia preconizada pelo USDA (1996). Os suabes foram imersos em tubos de ensaio contendo 10mL de caldo UVM e transportados para o Centro de Ensino, Pesquisa e Tecnologia de Carnes (CEPETEC) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde permaneceram em estufa a 30°C para o processo de enriquecimento primário. Após esse período uma alíquota de 1mL dessa solução foi adicionada em 9mL de caldo Fraser para enriquecimento seletivo secundário com incubação a 30°C por 24h. Cada amostra foi repicada para placas contendo Ágar ALOA e incubadas a 30°C. A leitura foi realizada após 24h, considerando a presença de Listeria spp. em amostras onde houve crescimento de colônias características. Resultados e Discussão Os resultados obtidos (Tabela 1) indicam que houve presença de Listeria spp. em 23,3% da totalidade das amostras analisadas (60). O micro-organismo foi identificado em 18,75% das amostras coletadas nas instalações, em 41,66% dos utensílios e em 5% das carcaças. Apesar da baixa ocorrência do micro-organismo nas carcaças (5%), os resultados demonstram um deficiente processo de higienização, em especial nos utensílios. Similarmente, Barros et al. (2004) observaram a presença de Listeria spp. em 33,7% das amostras de instalações e utensílios analisados em abatedouros de bovinos. Entretanto, Silva et al. (2004), analisando as condições higiênico-sanitárias de uma planta de processamento de linguiça frescal em Pelotas-RS, identificaram a presença de Listeria spp. em 100% das amostras. Tabela 1. Ocorrência de Listeria spp. em instalações, utensílios e carcaças em Matadouro-frigorífico de bovinos com SIF localizado na região serrana do RS. PONTOS DE AMOSTRAGEM OCORRÊNCIA (%) TOTAL DE AMOTRAS Instalações 18,75 (3) 16 Piso da câmara fria 37,5 (3) 8 Teto da câmara fria 0 8 Utensílios 41,6 (10) 24 Ganchos na câmara fria 37,5 (3) 8 Caixas plásticas 50,0 (4) 8 Facas de sangria 37,5 (3) 8 Carcaças 5,0 (1) 20 Carcaça quente (0 h após abate) 10,0 (1) 10 Carcaça fria (24 h após abate) 0 10 TOTAL 23,3 (14) 60 Segundo COELHO et al. (1998), embora apenas L. monocytogenes seja patogênica para os humanos, todas as espécies de Listeria apresentam crescimento e comportamentos similares. Portanto, a presença de Listeria spp. nas amostras aumenta a probabilidade da ocorrência de L. monocytogenes, constituindo um fator de risco à segurança alimentar. Conclusões A identificação do micro-organismo em utensílios e instalações demonstra a possibilidade de contaminação durante o processamento da carne, representando risco à saúde pública bem como a necessidade de melhor higienização da planta frigorífica. A baixa incidência de Listeria spp. nas carcaças indica uma boa higienização no processo de abate. Referências Bibliográficas ABNT. Associação Brasileira De Normas Técnicas. Preparo da amostra para exame microbiológico: NBR 10203. Rio de Janeiro: ABNT, 1988.3p. BARROS, M.A.F. et al. Listeria spp.: ocorrência em equipamentos e ambientes de processamento de carne bovina. Ciências agrárias, v.25, n.4, p.341-348, out./dez.. 2004. COELHO, C.P. et al. Efeito, in vitro, de pH e nitrito de sódio sobre Listeria spp. In: Congresso Brasileiro de Ciência e tecnologia de Alimentos, 16., 1998, Rio de Janeiro, RJ. Anais... Rio de Janeiro: SBCTA, 1998. v.2, p. 889-892. DYKES, G.A. Influence of the adaptation of Listeria monocytogenes populations to structured or homogeneous habitats on subsequent growth on chilled processed meat. International Journal of Food Microbiology, v.85, p.301-306, 2003. SILVA, W.P. et al. Listeria spp. no processamento de linguiça frescal em frigoríficos de Pelotas, RS, Brasil. Ciência Rural, Santa Maria, v.34, n.3, p. 911-916, mai-jun, 2004. TAKHISTOV, P.; GEORGE, B. Early events and pattern formation in Listeria monocytogenes biofilms.Biofilms, v.1, p.351-359, 2004. USDA. United States Departament Of Agriculture. Food Safety and Inspection Service. Rules and Regulations. Federal Register, Washington, v.61, n.144, p.38931, july,1996. Autor a ser contactado: Liris Kindlein, Professora Adjunta do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, Centro de Ensino, Pesquisa e Tecnologia de Carnes, UFRGS, Porto Alegre. Email: [email protected]