UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
NÚCLEO DE TEORIA E PESQUISA DO COMPORTAMENTO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEORIA E PESQUISA DO
COMPORTAMENTO
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
Mayara Barbosa Sindeaux Lima
Belém – Pará
Março/2011
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
NÚCLEO DE TEORIA E PESQUISA DO COMPORTAMENTO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TEORIA E PESQUISA DO
COMPORTAMENTO
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
Mayara Barbosa Sindeaux Lima
Dissertação de Mestrado em Ecoetologia
submetido ao Programa de Pós-Graduação
em Teoria e Pesquisa do Comportamento
como requisito parcial à obtenção do título
de Mestre em Ecoetologia, tendo como
orientadora a Prof.ª. Drª. Celina Maria
Colino Magalhães.
Belém – Pará
Março/2011
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que contribuíram para a realização deste trabalho, em especial à
Deus, à Professora Celina Maria Colino Magalhães, à minha família, ao meu noivo, aos meus
amigos e a todos que aceitaram participar desta pesquisa.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
v
SUMÁRIO
Sumário .................................................................................................................
v
Lista de Figuras .....................................................................................................
vi
Lista de Tabelas .....................................................................................................
vii
Resumo ..................................................................................................................
viii
Abstract .................................................................................................................
ix
Introdução .............................................................................................................
O brincar ........................................................................................................
O hospital .......................................................................................................
A brinquedoteca hospitalar ............................................................................
01
02
06
11
Objetivos ...............................................................................................................
21
Método ..................................................................................................................
Participante ....................................................................................................
Ambiente .........................................................................................................
Instrumentos e material ..................................................................................
Procedimento ..................................................................................................
22
22
30
32
33
Análise dos dados ..................................................................................................
34
Resultados e Discussão .........................................................................................
I Seção ............................................................................................................
II Seção ..........................................................................................................
III Seção .........................................................................................................
36
36
76
95
Considerações Finais .............................................................................................
126
Referências ............................................................................................................
132
Anexos ..................................................................................................................
Anexo A ..........................................................................................................
Anexo B ...........................................................................................................
Anexo C ...........................................................................................................
145
146
150
152
Apêndices ..............................................................................................................
Apêndice A ......................................................................................................
Apêndice B ......................................................................................................
Apêndice C ......................................................................................................
Apêndice D ......................................................................................................
Apêndice E ......................................................................................................
Apêndice F ......................................................................................................
153
154
155
156
157
158
159
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
vi
LISTA DE FIGURAS
Figura 01
Figura 02
Figura 03
Figura 04
Figura 05
Figura 06
Figura 07
Figura 08
Figura 09
Figura 10
Figura 11
Figura 12
Figura 13
Figura 14
Figura 15
Figura 16
Figura 17
Figura 18
Figura 19
Figura 20
Figura 21
Figura 22
Figura 23
Figura 24
Figura 25
Figura 26
Figura 27
Figura 28
Figura 29
Figura 30
Figura 31
Figura 32
Figura 33
Figura 34
Figura 35
Figura 36
Figura 37
Figura 38
Figura 39
Figura 40
Diagrama da brinquedoteca do H1 .............................
Visão externa da brinquedoteca do H1 ........................................
Estante com brinquedos e jogos do H1 .......................................
Mesas de atividades do H1 ..........................................................
Um dos armários do H1 ...............................................................
Brinquedos de faz-de-conta do H1 ..............................................
Equipamentos áudio-visuais do H1 .............................................
Espaço para a leitura do H1 .........................................................
Área administrativa do H1 ...........................................................
Diagrama da brinquedoteca do H2 ..............................................
Área externa à brinquedoteca do H2 ...........................................
Vista de uma das laterais do H2 ..................................................
Uma das portas de entrada do H2 ................................................
Vista de uma das laterais do H2 ...................................................
Murais do H2 ...............................................................................
Camarim do H2 ...........................................................................
Estante com brinquedos do H2 ....................................................
Brinquedos de faz-de-conta do H2 ..............................................
Diagrama da brinquedoteca do H3 ..............................................
Porta da brinquedoteca do H3 .....................................................
Brinquedos de faz-de-conta do H3 ..............................................
Porta de entrada do H3 ................................................................
Imagem ampla do espaço do H3 ..................................................
Equipamentos eletrônicos do H3 .................................................
Alguns dos computadores do H3 ................................................
Vista da lateral direita do H3 .......................................................
Um dos cantos do espaço do H3 .................................................
Diagrama da brinquedoteca do H4 ..............................................
Prédio branco ao fundo é o hospital do H4 .................................
Entrada da brinquedoteca do H4 .................................................
Área adjacente do H4 ..................................................................
Área externa do H4 .....................................................................
Entrada da área interna do H4 ....................................................
Área interna do H4 ......................................................................
Uma das laterais do H4 ................................................................
Brinquedos de faz-de-conta do H4 .............................................
Resposta dos técnicos do H1 aos itens 1 a 27 da EAIQ ..............
Resposta dos técnicos do H2 aos itens 1 a 27 da EAIQ ..............
Resposta dos técnicos do H3 aos itens 1 a 27 da EAIQ ..............
Resposta dos técnicos do H4 aos itens 1 a 27 da EAIQ ..............
43
45
45
45
45
45
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Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
vii
LISTA DE TABELAS
Tabela 01
Tabela 02
Tabela 03
Tabela 04
Tabela 05
Tabela 06
Tabela 07
Tabela 08
Tabela 09
Tabela 10
Tabela 11
Tabela 12
Tabela 13
Descrição dos técnicos participantes de cada hospital em função
do sexo, formação superior e função ...........................................
22
Características das crianças e adolescentes participantes da
pesquisa no H1 .............................................................................
24
Características das crianças e adolescentes participantes da
pesquisa no H2 .............................................................................
25
Características das crianças e adolescentes participantes da
pesquisa no H3 .............................................................................
26
Características das crianças e adolescentes participantes da
pesquisa no H4 .............................................................................
27
Características dos acompanhantes que participaram da
pesquisa no H1 .............................................................................
28
Características dos acompanhantes que participaram da
pesquisa no H2 .............................................................................
28
Características dos acompanhantes que participaram da
pesquisa no H3 .............................................................................
29
Características dos acompanhantes que participaram da
pesquisa no H4 .............................................................................
30
Respostas dos técnicos da brinquedoteca do H1 aos itens 28, 29
e 30 da EAIQ ...............................................................................
84
Respostas dos técnicos da brinquedoteca do H2 aos itens 28, 29
e 30 da EAIQ ...............................................................................
86
Respostas dos técnicos da brinquedoteca do H3 aos itens 28, 29
e 30 da EAIQ ...............................................................................
89
Respostas dos técnicos da brinquedoteca do H4 os itens 28, 29
e 30 da EAIQ ...............................................................................
91
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
viii
RESUMO
Lima, M. B. S. Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém. Belém,
159. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Teoria e
Pesquisa do Comportamento. Universidade Federal do Pará. Brasil. 2011.
A brinquedoteca hospitalar é um direito legalmente assegurado às crianças por meio da Lei
11.104/05, entretanto ainda não concretizado integralmente no país. O presente estudo
objetivou descrever e analisar as condições de serviços e espaços disponibilizados pelas
brinquedotecas hospitalares em Belém do Pará. Fizeram parte da pesquisa quatro hospitais
que possuem este serviço. A pesquisa envolveu 10 técnicos e 39 crianças e seus
acompanhantes. Para os técnicos foram utilizados um roteiro de Entrevista; a Escala
Autoavaliativa de Índices de Qualidade (EAIQ), sendo do tipo Likert, composta por 27 itens
fechados e três abertos. Para as crianças e seus responsáveis foram aplicados roteiros de
entrevista. Foram realizados também observações e registro fotográfico. A coleta de dados foi
iniciada após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, as entrevistas e a
aplicação da EAIQ foram feitas individualmente. Os dados oriundos das entrevistas foram
agrupados em categorias a partir dos tópicos presentes nos roteiros e os da escala segundo a
literatura, ambos analisados qualitativamente. Dentre os principais resultados encontrados
estão: a- Todos os hospitais do estudo eram público; b- no tocante a conceituação do espaço,
as resposta dos técnicos e acompanhantes esteve em consonância com a literatura e a
legislação vigente; c- existem poucos registros acerca da implantação e funcionamento dos
espaços; d- as equipes se diferiram tanto em relação ao número de membros quanto à
formação, sendo que em metade delas falta uma rotina sistemática de reuniões, contudo foram
avaliadas positivamente pela clientela, e- verificou-se que três delas funcionam no mínimo
cinco dias por semana e que todas oferecem atividades livres, dirigidas; f- no tocante ao
acervo lúdico, este se diferenciou em relação à quantidade, mas as instituições dispunham de
brinquedos de faz-de-conta, blocos de montar e jogos de tabuleiro, g- verificou-se que as
crianças apresentaram pouca restrição às brincadeiras que gostariam de realizar no hospital e
relataram que o local preferido dentro desse contexto é aquele em que podem brincar. O
estudo permitiu traçar um perfil destas brinquedotecas, verificar os aspectos que favorecem a
concretização dos objetivos desses espaços e reflexões sobre possibilidades de melhorias.
Palavras-chave: desenvolvimento humano; hospitalização infantil; brinquedoteca hospitalar.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
ix
ABSTRACT
Lima, M. B. S. Description and Evaluation of toy libraries in Belém, Pará, Brazil. Belém, 159.
Dissertation submitted to the Post Graduate Program on Behavior Theory and Research.
Federal University of Pará. Brazil. 2011.
The toy library is a legal right guaranteed to children through Law 11.104/05, though not yet
fully implemented in the country. This study aimed to describe and analyze the conditions of
services and facilities made available by toy library in Belém, Pará. Four hospitals with this
service participated in the research. The research involved 10 technicians and 39 children and
their caretakers. For the technicians, an interview script was used – the Escala Autoavaliativa
de Índices de Qualidade (EAIQ), of the Likert type, composed of 27 closed items and three
open ones. For the children and their caretakers, interview scripts were used. Observations
were carried out and a photographical record was made. Data collection was initiated after
signing the Term of Consent – the interviews and EAIQ were done individually. The data
from the interviews were grouped into categories from the topics in the scripts and the topics
in the scale according to the literature, both qualitatively analyzed. Among the main results
are: a- All hospitals in the study were public ones; b- Regarding the conceptualization of the
space, the response from technicians and caretakers was in accordance with the literature and
law; c- There are few records regarding the deployment and operation of the spaces; d- The
teams differed in terms of both number of members and qualification, and in half of them
there is a lack of a systematic routine of meetings, yet they were positively evaluated by
clients, e- It was found that three of them operated at least five days a week and that all of
them offer free, targeted activities, f- In relation to the collection of toys, it differed in
quantity, but the institutions had make-believe toys, building blocks and board games; g- It
was found that the children showed little restriction to the games they would like to play in
the hospital and they reported that the preferred place within this context is the one in which
they can play. The study allowed us to sketch a profile of these toy libraries, verify aspects
that favor the aims of these spaces and reflect on possible improvements.
Keywords: human development; child hospitalization; hospital toy library
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
1
Segundo Reis (2007), a concepção de criança sempre esteve associada à organização
de cada sociedade e às estruturas econômicas e sociais vigentes. Desta forma, as pesquisas
sobre o universo infantil são realizadas sob a ótica dominante de cada época, o que torna
necessário demarcar a partir de que perspectiva estão sendo realizadas. Dentre os estudiosos
do desenvolvimento humano, optou-se pelas teorias de Bronfenbrenner (1996) e Rogoff
(2005), pois estes consideraram o desenvolvimento como um processo complexo,
intrinsecamente ligado aos contextos dos quais o ser em desenvolvimento participa
ativamente.
Bronfenbrenner (1996), ao discorrer sobre a ecologia do desenvolvimento humano,
escreve que esta: “(...) envolve o estudo científico da acomodação progressiva, mútua, entre
um ser humano ativo, em desenvolvimento, e as propriedades mutantes dos ambientes
imediatos em que a pessoa em desenvolvimento vive conforme esse processo é afetado pelas
relações entre esses ambientes, e pelos contextos mais amplos em que os ambientes estão
inseridos” (p. 19).
O primeiro ponto a ser destacado nessa definição é a consideração do ser humano
como agente de seu desenvolvimento, que apreende os símbolos, crenças e valores de sua
cultura de maneira atuante. E, devido a isto, pode adaptá-los e reconstruí-los de acordo com
demandas que surgem na sua inserção social, ou como Rogoff (2005) escreve: na sua
participação variável nas atividades socioculturais de sua comunidade cultural. Essa
participação ocorreria nas interações que a criança mantém com seus pares, adultos e práticas
culturais.
Carvalho e Pedrosa (2002) destacam que a atenção ao papel ativo da criança na
construção de sua história individual e ao papel da interação criança-criança nesse processo é
uma convergência complementar entre perspectivas biológicas (ou psicoetológicas) e
perspectivas sócio-históricas. Esta noção é praticamente consensual na cultura da Psicologia
do Desenvolvimento, que se distancia cada vez mais de uma visão do desenvolvimento como
o enquadramento da criança nas normas sociais ou sua maturação biológica.
O segundo ponto a ser destacado, da definição da ecologia do desenvolvimento
humano é a afirmação de que os ambientes/contextos se modificam em co-evolução com o ser
em desenvolvimento. Alguns conceitos orientadores de Rogoff (2005) podem auxiliar na
compreensão da mutabilidade dos contextos citados por Bronfenbrenner (1996): as práticas
culturais se ajustam e estão conectadas, e somente podem ser entendidas a partir da relação
entre os aspectos constituintes destas práticas e da interação destas com outras. Esses aspectos
operam de forma integrada, variam juntos e com formas padronizadas.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
2
Sobre o desenvolvimento humano, Rogoff (2005) assinala que ele é orientado por
objetivos locais, cujas prioridades são: aprender sobre as instituições e tecnologias culturais
da comunidade e a funcionar no âmbito destas. Assim, pode-se compreender que o processo
de socialização irá (ou pelo menos pretenderá) habilitar o indivíduo a participar da sua
comunidade cultural. Isto propiciará ao ser desenvolvente se integrar aos demais membros
desta comunidade, em um compartilhar que vai além de símbolos, crenças e tecnologias,
alcançando a afetividade.
Segundo Rogoff (2005), uma de nossas heranças biológicas é justamente uma ampla
flexibilidade, o que nos permite apresentar uma variabilidade de arranjos culturais para o
atendimento das demandas de sobrevivência. Em outras palavras, a história filogenética nos
“dotou” de uma flexibilidade que permitiu que diferentes padrões comportamentais pudessem
ser adaptativos para contextos ora semelhantes ora diferentes, e consequentemente estes
padrões também se constituíram (e se constituem) em pressões seletivas.
O brincar é um dos comportamentos associados à flexibilidade e à criatividade da
espécie humana no seu palco de evolução que continua sendo relevante à adaptação da
criança ao seu nicho de desenvolvimento. A hipótese ontogenética da brincadeira conduz à
reflexão de que, mais do que tornar um adulto capaz de solucionar problemas, a brincadeira é
um recurso que favorece a adaptação da criança ao nicho da infância, tendo benefícios e
funções imediatas e especializadas à fase em que se encontram os filhotes (King & Bjorkland,
2010; K. C. Reis, 2008).
O BRINCAR
A brincadeira tem sido alvo de estudos e vem sendo utilizada como instrumento de
intervenção por diferentes perspectivas dentro da Psicologia (Caldeira & Oliver, 2007;
Cordazzo, Martins, Macarini & Vieira, 2007; Rieber, 1996; Santos & Koller, 2003). Em
geral, ressalta-se o papel fundamental do brincar no desenvolvimento da criança, devido seus
benefícios imediatos e em longo prazo.
Apesar de ser um comportamento amplamente estudado, uma definição consensual a
respeito do brincar ainda é inexistente, provavelmente por sua complexidade e por ser objeto
de estudo de diferentes áreas. Burghardt (2005) define o brincar com base em cinco grupos de
critérios denominados de “Big Five da brincadeira”: 1-comportamento incompletamente
funcional no contexto em que se apresenta; 2- diferença estrutural e temporal de muitas outras
versões sérias; 3- ocorre repetidamente de maneira similar, mas não estereotipada; 4-há um
componente endógeno, devido seu caráter espontâneo, voluntário, recompensador e à
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
3
realização em beneficio próprio; 5- e que ocorre quando o animal está em um ambiente
relaxado, livre de estresse e necessidades físicas urgentes.
Condizente com a definição anterior, Kishimoto (2008) e Smith e Pellegrini (2008)
definem o brincar como um comportamento que possui um fim em si mesmo, cujo surgimento
é livre, sem noção de obrigatoriedade e que se realiza pelo simples prazer que a criança tem
em praticá-lo. Dessa forma, a ausência de preocupação com os resultados e a motivação
intrínseca do brincar estimulariam a ação para explorações livres.
Na espécie humana, o brincar é um comportamento tanto adaptado quanto adaptativo,
pois sendo universal apresenta peculiaridades na cultura lúdica e na cultura do brinquedo
(Hansen, Macarini, Martins, Wanderlind & Vieira, 2007). Yamamoto e Carvalho (2002)
alertam que a atribuição de funções adaptativas à brincadeira não implica que o
comportamento individual, do ponto de vista ambiental, fisiológico ou sócio-cultural seja
determinado por essas funções. A criança não brinca porque isso a torna mais competente,
agora ou no futuro. Do ponto de vista próximo, o brincar é motivado intrinsecamente pela
própria atividade. Essa motivação é que foi criada ao longo da evolução, devido suas
consequências adaptativas.
Burghardt (2005) ressalta que existem algumas evidências plausíveis que apoiam a
importância da brincadeira para aspectos emocionais e cognitivos, à fisiologia, ao repertório
comportamental e, consequentemente, as repercussões disto para o desenvolvimento de
muitos animais, incluindo os seres humanos. Contudo, este autor, assim como Bock (2004),
destaca que a função do brincar é multifacetado, variável e muitas vezes envolvem processos
complexos, indiretos e sutis.
Friedmann (1996) salienta que as atividades lúdicas permitem à criança exercitar suas
capacidades, criatividade e auto-expressão, desenvolver os aspectos cognitivos, afetivos,
moral e motor, além de possibilitar interações ambientais e sociais, que ajudam no seu
desenvolvimento integral. Semelhante a isto, a revisão de literatura realizada por Hansen e
cols. (2007) indica a relação entre a brincadeira e diversos aspectos do desenvolvimento
infantil.
Na revisão bibliográfica de Cordazzo e cols. (2007) para identificar as perspectivas no
estudo do brincar, a partir de resumos de artigos, foi realizada uma busca sistemática nas
bases de dados bibliográficos PsycInfo – APA, Scielo e Index Psi. Na primeira foram
utilizadas as palavras play e toy no campo de key-words, já que é uma base internacional, e
nas demais, as palavras brincar, brinquedo e brincadeira, que podiam estar em qualquer
campo do registro. Foram encontrados 181 trabalhos, dos quais o Desenvolvimento infantil
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
4
foi a temática mais investigada (46,4%), seguida da Psicologia clínica (12,7%) e a
Educacional (8,3%), os artigos vinculados à saúde obtiveram o menor percentual (7,7%). De
acordo com os autores, necessita-se de mais estudos a respeito dos aspectos educacionais e do
processo saúde-doença. Eles destacam ainda a relevância de pesquisas que evidenciem a
importância do brincar como uma atividade terapêutica. Em consonância com estes
pesquisadores, K. C. Reis (2008) também afirma que as pesquisas acerca da brincadeira no
hospital ainda são escassas e com temáticas pouco abrangentes.
A relação entre as brincadeiras e os aspectos físicos do desenvolvimento da criança se
constitui em um dos benefícios mais explícitos do brincar, já que durante a sua execução se
desenvolve a coordenação motora ampla, a psicomotricidade fina, o controle e a consciência
corporal, a habilidade de correr, de rastejar e as capacidades físicas básicas como a força,
resistência, velocidade e amplitude do movimento (Cordazzo, 2008; Garófano & Caveda,
2008; Smith & Pellegrini, 2008). Segundo Friedmann (1996), a atividade sensório-motor é
importante para o desenvolvimento de conceitos espaciais e na habilidade de utilizar termos
linguísticos espaciais.
A respeito do desenvolvimento cognitivo, o brincar estaria relacionado com a
capacidade de concentração, memória, o desenvolvimento da linguagem, da lógica e
resoluções de problemas. Verificadas em brincadeiras que envolvem números, charadas,
utilizam o raciocínio lógico, o pensamento abstrato, rapidez de raciocínio e, ao mesmo tempo,
é combinada com atividades que requeiram ação e entusiasmam as crianças (Cordazzo,
Westphal, Tagliari, Vieira, & Oliveira, 2008; Garófano & Caveda, 2008; Kishimoto, 2008;
Pereira & Bonfin, 2009; Oliveira, 2000a; Roeder, 2008).
De acordo com Oliveira, Vieira e Cordazzo (2008), a cognição e o desenvolvimento
intelectual são exercitados em jogos em que a criança possa testar principalmente a relação
causa-efeito, o que em geral, é impedido pelos adultos para que sejam evitados possíveis
acidentes. No jogo, a criança precisa planejar estratégias para vencer e relacioná-las com as
consequências e os resultados, além de treinar o convívio social e lidar com os conflitos que
podem surgir durante a execução da brincadeira.
Os aspectos afetivos e sociais parecem estar intimamente ligados. O comportamento
de brincar contribui de forma efetiva para o relacionamento social das crianças, tendo em
vista que é uma forma livre e autônoma de interação entre elas. Permite ainda conhecer
melhor a si e o outro, pois oportuniza, por exemplo, conhecer nos colegas atitudes e
habilidades que causem ou não admiração, combinem com sua maneira de pensar, e
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
5
consequentemente o brincar está relacionado ao desenvolvimento das primeiras amizades
(Cordazzo, 2008; Macarini & Vieira, 2006; Smith & Pellegrini, 2008; Oliveira, 2000a).
A literatura destaca o papel da brincadeira no processo de socialização, por meio do
brincar a criança ativamente pode aprender a importância da negociação, conquista, de
conviver com regras e a resolver conflitos, resgatar e re-significar valores, práticas e
sentimentos, como a responsabilidade e autonomia. Além disso, a criança pode por meio da
brincadeira exprimir sua agressividade, dominar suas angústias e trabalhar a ansiedade
(Adamuz, Batista & Zamberlan, 2003; Azevedo, 2010b; Conti & Sperb, 2001; Cordazzo,
2008; Cunha, 2007; Friedmann; 1996; Oliveira, 2000a; Ramalho & Silva, 2004; Silva, Cabral
& Christoffel, 2008; Vygotski, 1998).
A brincadeira de faz-de-conta, em particular, está associada ao desenvolvimento da
imaginação e da adoção da perspectiva do outro, ao treino na inversão de papéis e à
compreensão da complementaridade de papéis sociais, flexibilidade de comportamento,
percepção de pistas sociais, inclusive sinais de brincadeira, manipulação e enganação,
apreensão de valores, normas e crenças culturais, além de treino de atividades. (Bomtempo,
2000, 2008; Hansen & cols. 2007; K. C. Reis, 2008; Oliveira, 2000b).
Cordazzo (2003) e Oliveira e cols. (2008), ao discorrerem sobre a relação entre o
brincar e o aspecto social, afirmam que este último pode ser estimulado pelas brincadeiras de
faz-de-conta, jogos em grupos, jogos de mesa e as modalidades esportivas, pois nestes jogos,
assim como nas brincadeiras turbulentas, as relações de gênero e com os papéis são
evidenciadas. O desempenho da criança na brincadeira pode ser um fator decisivo no seu
relacionamento com o grupo e pode influenciar na sua auto-estima.
A separação entre aspectos físicos, cognitivos, sociais e afetivos do brincar ocorre
mais por uma questão didática do que pelos impactos que os diferentes tipos de brincadeira
trazem ao desenvolvimento. A brincadeira de pega-pega, por exemplo, não permite apenas
medir forças e o desenvolver da coordenação motora ampla, mas verificar até quando se pode
brincar sem machucar o colega, experimentar a alternância de papéis e acordar as regras. A
respeito disso, Oliveira e cols. (2008) ressaltam que um determinado tipo de brincadeira pode
estar inserido e exercer influência em mais de um aspecto do desenvolvimento.
Essas discussões podem ser entendidas à luz das proposições feitas por
Bronfenbrenner (1996), quando salienta que a pessoa é ator de seu desenvolvimento,
entendido como um processo em que se adquire uma concepção mais ampliada, diferenciada
e válida do meio ecológico. E, se torna mais motivado e capaz de se envolver em atividades
que revelam suas propriedades, sustentam ou reestruturam os ambientes imediatos e mais
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
6
distantes nos quais está inserido. Quando brinca, a criança se desenvolve e apreende o mundo
a sua volta, participa ativamente da cultura lúdica e de uma cultura construída durante as
brincadeiras com os pares (Bomtempo, 2008; Brougère, 2008; Carvalho & Pedrosa, 2002;
Peters, 2009; Porto, 2008; Pontes & Magalhães, 2002).
Além dos estudiosos da área de Desenvolvimento humano, os da Saúde também tem
buscado estudar o brincar e, particularmente, descrever seus benefícios à promoção do
desenvolvimento saudável da criança. Sobre o processo de internação, Oliveira, Gabarra,
Marcon, Silva e Macchiaverni (2009) destacam que, recentemente, o hospital vem sendo
pensado como um contexto que apresenta uma dimensão educativa e que possibilita
aprendizados significativos referentes à situação de adoecimento.
O hospital pode ser considerado um contexto de desenvolvimento infantil por torna-se
parte da vivência da criança, interferindo em suas relações psicossociais. Ao estar no hospital,
a criança passa a se inserir em um novo microssistema, onde estabelece relações imediatas e
com significados específicos junto às pessoas com as quais interage face-a-face (Bersch,
2005; Oliveira & cols., 2008; Oliveira & cols., 2009).
O HOSPITAL
Sobre a hospitalização infantil, a literatura aponta que este é um evento potencialmente
estressante à criança e sua família. Pois, somada a fragilidade física provocada pelo próprio
adoecer, há a estranheza frente aos instrumentos hospitalares, a submissão a procedimentos
médicos invasivos e a limitação de movimentos, bem como, uma brusca mudança de hábitos e
costumes: a inserção em um ambiente frio, desconhecido e com normas rígidas, a convivência
com pessoas estranhas e a distância de pessoas significativas (Antônio, Munari & Costa,
2002; Capelli, 1990; Carmo, 2008; Cunha, 2008; Mitre & Gomes, 2007; Parcianello & Felin,
2008; Pérez-Ramos, 2006; Silva, 2006).
A hospitalização pode gerar uma série de alterações comportamentais na criança, tais
como: diminuição da vocalização, redução de estímulos motores, regressão no processo de
maturação psicoafetiva, hipermotricidade, distúrbios alimentares e do sono, comportamentos
agressivos, agitação ou apatia, choro constante, isolamento e dificuldades escolares após a alta
(Junqueira, 2003; Macedo, 2008; Pérez-Ramos, 2006; Vieira & Carneiro, 2006).
Alguns fatores de riscos para o desenvolvimento de distúrbios psicológicos durante a
hospitalização são: distúrbio psiquiátrico em um dos pais ou na criança; relacionamento paiscriança inadequado; faixa etária, quanto menor a idade, mais vulnerabilidade; tipo e gravidade
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
7
da doença; situações estressantes do ambiente, como pouca estimulação sensorial e falta de
estética; rotina rígida, monotonia, atendimento despersonalizado; experiências traumáticas em
situações de adoecimento anterior (Baldini & Krebs; 1999; Bersch & Yunes, 2008; Capelli,
1990; Silva, Borges & Mendonça, 2010).
Segundo Oliveira, Dantas e Fonseca (2005), as crianças que experimentam longo
período de hospitalização ou repetidas internações correm maior risco de terem seu
desenvolvimento comprometido. A respeito disto, Viegas (2006) destaca que elas podem
desenvolver uma doença denominada de nanismo psicossocial, devido à influência do
hormônio do hipotálamo, a criança para de crescer.
Todavia, o processo de desenvolvimento da criança é contínuo, a hospitalização não o
interrompe, mas insere a criança em um novo microssistema. É a partir das relações mútuas
que se estabelecem entre essa criança, este contexto e aqueles mais amplos, que tal evento
pode se tornar prejudicial ou favorecer um desenvolvimento saudável. O hospital trás consigo
novas experiências, sensações e, a oportunidade de se relacionar com pessoas de forma
imediata e com significados específicos, além disso, possibilita aprendizados significativos
referentes à situação de adoecimento (Bersch, 2005; Oliveira & cols., 2009).
Diante disto, a promoção da saúde no contexto hospitalar envolve mais que a busca
pelo equilíbrio orgânico, incluindo a preservação e estimulação dos aspectos saudáveis do
desenvolvimento da criança. O brincar de crianças hospitalizadas pode permitir-lhes a
expressão de sentidos sobre seu processo saúde/doença e reconstituí-los de forma a amenizar
suas angústias (Carmo, 2008; Carvalho & Begnis, 2006; Fonseca, 2010; Motta & Enumo,
2004a; Oliveira & cols. 2009).
Bersch e Yunes (2008) salientam que o hospital como instituição é disciplinar, onde as
regras já estão estabelecidas e se exige a obediência às normas. Isto pode levar as pessoas a
acreditarem que nesse contexto não há lugar para a brincadeira. À medida que o brincar
propõe novos padrões de relacionamento entre as crianças, os familiares e a equipe técnica,
ele subverte a ordem hospitalar, estimulando a atividade e podendo gerar desconfiança
(Fortuna, 2008).
Quando brinca no hospital, a criança modifica o ambiente em que se encontra,
tornando-o mais familiar, pois pode desempenhar uma atividade prazerosa do seu cotidiano,
em que é perita. A identificação por parte da criança de que ela é capaz e tem a possibilidade
de alterar esse novo ambiente, a fim de produzir um estado de relaxamento e liberdade,
favorece a integração gradativa de aspectos negativos (sofrimento) e aspectos positivos
(construção de parcerias) da hospitalização e de se estar doente. Assim, os momentos de lazer
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
8
diminuem o estresse e podem levá-la a adquirir maior resistência imunológica (Azevedo,
Santos, Justino, Miranda & Simpson, 2008; Camargo & cols. 2003; Carmo, 2008; Moreira &
Macedo, 2009; Ribeiro & Angelo, 2005; Schmitz, Piccoli, & Vieira, 2003).
Os estudos acerca do brincar como recurso terapêutico no hospital, em especial os
relatos de experiência, descrevem mudanças significativas no comportamento de crianças e
adolescentes e as oportunidades de continuar a se desenvolver nas áreas da linguagem,
motricidade e afetividade. Em geral, são assinalados aumento da frequência de interações,
inclusive da tomada de iniciativa, maior capacidade de concentração; melhora do humor,
menor resistência e maior cooperação à submissão de procedimentos. Desta maneira, a
brincadeira favorece uma maior a adesão ao tratamento e menos prejuízos desenvolvimentais
(Capelli, 1990; Costa Junior, Coutinho & Ferreira, 2006; Foltran & Paula, 2007; Goulart &
Morais, 2003; Lenzi, 1992; Lindquist,1992; Parcianello & Felin, 2008; Weber, 2010).
A investigação de Frota, Gurgel, Pinheiro, Martins e Tavares (2007) ilustra as
modificações que as atividades lúdicas podem ocasionar aos pacientes. Participaram 10
crianças hospitalizadas, com idade de três a seis anos, cujos comportamentos foram
observados antes e após a realização de oficinas que envolviam brincadeiras, utilizando-se
como instrumento uma ficha em que se registrava a identificação da criança e
comportamentos como agressão, expressão verbal e de emoção. Alguns dos resultados
encontrados foram: o comportamento de chorar observado em 40% das crianças antes da
oficina esteve ausente ao final desta, enquanto que o percentual das que sorriram aumentou de
60% para 80%, também foi verificado um aumento na quantidade de interações dos
participantes.
Diante disso, a ludicidade adquire dentro da assistência à saúde, o caráter de um
instrumento, que pode auxiliar no diagnóstico, na intervenção e no relacionamento de
diversos profissionais com as crianças, seus acompanhantes e com o próprio paciente adulto.
O brincar então deixa de ser considerado como algo de menos valia para se tornar uma
proposta que contribui na busca pela recuperação da saúde (Carmo 2008; Moraes, Buffa &
Motti, 2009; Oliveira, 2010).
A respeito das concepções sobre o brincar de crianças hospitalizadas, a pesquisa de
Mello, Goulart, Ew, Moreira e Sperb (1999) apresenta resultados relevantes. O estudo
envolveu 118 técnicos de sete hospitais de Porto Alegre, os quais responderam a um
questionário e a uma entrevista semi-estruturada. Verificou-se que foram atribuídas funções
diferenciadas ao brincar no cotidiano e no ambiente hospitalar, enquanto no primeiro contexto
o desenvolvimento foi indicado como sua função primordial, no segundo ela não foi
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
9
mencionada. Neste foi enfatizada a redução de sofrimento por meio de uma distração. Além
disso, o brincar com um membro da equipe e com objetos que remetam ao hospital foram
considerados como inadequados para a criança hospitalizada.
No que diz respeito à avaliação da própria criança sobre o brincar, Motta e Enumo
(2004a) pesquisaram a importância que crianças davam às brincadeiras e caracterizavam as
possíveis atividades lúdicas em um ambiente hospitalar. Participaram 28 crianças e
adolescentes na faixa etária entre seis a 12 anos, submetidos a uma entrevista e à “Avaliação
das Estratégias de Enfrentamento da Hospitalização (AEH – Conjunto B)”, um instrumento
para a caracterização do brincar no hospital que contém 20 desenhos de brinquedos e
brincadeiras. Os principais resultados foram: 67,8% das crianças definiram o brincar,
destacando o divertimento, alegria e prazer e 25% o fizeram a partir da descrição de
brincadeiras e brinquedos. A maioria delas relatou que gostaria de brincar com as crianças que
frequentavam o hospital, devido a estas “ser do mesmo tamanho”. E, em geral, apresentaram
poucas restrições aos tipos de brincadeiras que gostariam de fazer no hospital. Estes
pesquisadores também investigaram as estratégias de enfrentamento citadas por estes
participantes, para isso foi aplicado a AEH – Conjunto A, composto por 21 pranchas, destas
as que obtiveram maior número de respostas “sim” foram: “Brincar” e “Tomar remédio”,
ambos com percentual de 92,9% (Motta & Enumo (2004b).
Apesar do desejo de brincar de maneira indiscriminada, relatada pelos participantes do
estudo anterior, é comum que os aspectos físicos do adoecimento e principalmente o ambiente
físico do hospital tragam algumas limitações aos tipos de brincadeiras possíveis. No artigo de
Aragão, Azevedo e Soares (2001) sobre as preferências de recursos e de atividades lúdicas
oferecidas a 36 crianças, de nove meses a 12 anos, em uma enfermaria, foram citados alguns
tipos de atividades e de brinquedos utilizados pelas crianças ou oferecidos a elas, sendo que
algumas foram verificadas em diferentes faixas etárias, como é caso do desenho, da massinha
e do quebra-cabeça. Contudo está ausente do relato a proposição ou a presença de atividades
lúdicas que envolvessem mais esforço ou mobilidade física.
Sobre a relação entre o brincar e a organização dos espaços lúdicos dentro do contexto
hospitalar, Carvalho e Begnis (2006) realizaram um estudo com 50 crianças, na faixa etária de
dois a 10 anos, a fim de investigar a influência do brincar em crianças internadas em unidades
pediátricas, buscando relacionar o comportamento lúdico com a estruturação do ambiente. A
metade das crianças se encontrava em uma instituição que dispunha de um espaço planejado
para incentivar a brincadeira e a outra, em uma onde o espaço recreativo existia, mas sem
planejamento. A coleta de dados se deu por meio da técnica de sujeito focal associada à
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
10
varredura com registro cursivo, quando as crianças estavam em atividades livres. Os
resultados mostraram que na primeira instituição as crianças foram mais independentes na
seleção do brinquedo e na inserção no grupo que na segunda, onde se observou uma baixa
frequência das crianças no local de recreação e atividades pouco variadas.
No tocante ao uso do lúdico como instrumento de intervenção, Motta e Enumo (2010)
avaliaram os efeitos comportamentais de um programa de intervenção psicológica lúdica em
12 crianças, de sete a 12 anos, em tratamento oncológico, em regime de internação. Estas
foram divididas em dois grupos: G1, submetido à intervenção psicológica lúdica centrada no
enfrentamento, embora tenha continuado a participar do brincar livre promovido pelo hospital
e G2, submetido somente ao brincar livre tradicional. Ambos os grupos foram submetidos ao
Instrumento Informatizado de Avaliação do Enfrentamento da Hospitalização (AEHcomp)
antes e após o período de intervenção no G1: Na comparação intergrupos, não houve
diferenças significativas nos comportamentos facilitadores e não-facilitadores, avaliados no
pré e pós-teste. Todavia, na comparação intragrupo, G1 diminuiu significativamente os
comportamentos não-facilitadores no pós-teste, sugerindo possível efeito positivo do
programa de intervenção centrado no problema.
A relação entre a brincadeira e o enfrentamento da hospitalização também foi
investigada por Salmela, Salantera, Ruotsalainen e Aronen (2010), que verificaram as
estratégias de enfrentamento relacionadas ao medo do hospital a partir do relato de crianças
pré-escolares. Dos participantes, 34 estavam em um hospital e 48 em creches, sendo os dados
coletados por meio de uma entrevista semiestruturada, usando como suporte de imagens de
crianças em ambiente hospitalar. Averiguo-se que os participantes apresentaram muitas
estratégias, especialmente aquelas em que desempenham papel ativo, o que favorece um
sentimento de controle do ambiente hospitalar e do tratamento, as mais citadas foram: a
presença dos pais, recorrer ao enfermeiro, receber informações, brincar e criar imagens
positivas. Sendo que os hospitalizados mencionaram significativamente mais vezes o brincar
e algum brinquedo próprio do que os demais. De acordo com as pesquisadoras, os dados
salientam a importância do papel ativo da criança e que as estratégias de enfrentamento
essenciais são aquelas que fazem parte das atividades cotidianas da criança e de sua família.
Sobre o foco que os trabalhos científicos e técnicos podem dar ao brincar da criança
que está doente, deve-se fazer uma alerta: muitas vezes a ênfase em demonstrar que a
brincadeira é uma estratégia de enfrentamento da hospitalização, acaba por restringir a própria
função do brincar para o desenvolvimento da criança (Gomes, 2009; Lima & Magalhães,
2009). K. C. Reis (2008) apresenta a hipótese de que a brincadeira se constitui no próprio
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
11
processo de coping da criança, em situações estressantes ou não, na medida em que o brincar
é sua ação simbólica no mundo.
Estas observações vão ao encontro de Gomes (2009), pois a autora argumenta que, em
geral, as investigações de brincadeiras de crianças que possuem algum problema de saúde
enfatizam sobremaneira as questões de enfrentamento da doença e do tratamento,
particularmente, como o brincar pode ser um veículo à manifestação e elaboração de
angústias.
Gomes (2009) realizou um estudo visando descrever e caracterizar as atividades
lúdicas de crianças em fase de tratamento oncológico no contexto de casa de apoio. Foram
observados 10 participantes, para cada um deles foi realizado uma sessão de 30 minutos, que
iniciava-se quando a criança estava no pátio e envolvido em alguma atividade lúdica.
Constatou-se que as brincadeiras com temáticas diretamente relacionadas à doença ou
procedimentos médicos estiveram ausentes. As questões envolvidas ao adoecimento
pareceram interferir na escolha de certas brincadeiras, mas não em seus conteúdos, nas formas
de interação e organização do grupo de brincadeira. A autora conclui que esses resultados
evidenciam que as crianças brincam em qualquer condição, desde que tenham a condição
mínima para isso.
Como se pode perceber deve ser garantido à criança o desenvolvimento de brincadeiras
livres, mesmo naquelas instituições onde o brinquedo terapêutico é utilizado, já que neste as
atividades são direcionadas por um profissional com um objetivo específico. Dentro do
hospital isso pode ser favorecido pela implantação da brinquedoteca. Este espaço surgiu com
a finalidade de resgatar o brincar livre e espontâneo como elemento essencial para o
desenvolvimento integral da criança (Chaves & Sá, 2008; Friedmann, 1996; Magalhães &
Pontes, 2002; Romano & Faria, 2008).
A revisão da literatura acerca da brinquedoteca hospitalar mostrou que este é um
contexto pouco explorado pelos estudiosos do desenvolvimento humano. Faz-se necessário
que as informações oriundas das observações dos profissionais inseridos neste ambiente, de
relatórios de estagiários e de pesquisas exploratórias sejam tomadas como questões científicas
a serem investigadas com exaustão.
A BRINQUEDOTECA HOSPITALAR
O reconhecimento legal da importância da brincadeira pode ser visto na Declaração
dos Direitos da Criança, aprovada pelas Nações Unidas em 1959, no qual se afirma que a
criança terá ampla oportunidade para brincar e se divertir e que a sociedade e as autoridades
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
12
públicas empenhar-se-ão em promover o gozo deste direito. Esta Declaração foi ratificada no
Brasil por meio do art. 84 da Constituição e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei
8.069/1990), neste o brincar é legitimado como um direito da criança ao ser incluído no artigo
16 que dispõe sobre o direito à liberdade.
Em 2005, o direito de brincar das crianças brasileiras ganhou mais um aparato
legal, as brinquedotecas hospitalares são garantidas por meio da Lei nº 11.104/2005 que trata
da obrigatoriedade da existência de brinquedotecas nas unidades de saúde que atendem
crianças em regime de internação; sua inobservância se configura em infração à legislação
sanitária federal, cujas penalidades estão previstas no inciso II do art. 10 da Lei nº 6.437/77.
Diante disto, algumas questões acerca das implicações práticas da promulgação da
lei podem ser levantadas, tais como: verificar se ela está sendo cumprida; traçar o perfil das
brinquedotecas que estão em funcionamento; averiguar os indicativos e instrumentos que se
dispõem à avaliação das brinquedotecas; construir parâmetros que permitam demonstrar a
eficácia desta instituição à promoção de saúde e desenvolvimento das crianças.
A implantação da brinquedoteca hospitalar, além de cumprir a lei 11.104/05, é uma
ação condizente com o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar PNHAH (Brasil, 2004), por tornar o ambiente hospitalar mais acolhedor; aumentar a
colaboração da criança ao tratamento; minimizar os prejuízos comportamentais causados pela
hospitalização, o que resulta em menor uso de medicamento e dias de internação;
proporcionar à criança a manutenção de sua identidade e autonomia à medida que pode
escolher com o quê e como brincar; dando continuidade ao seu desenvolvimento integral
(Carmo, 2008).
Questionamentos de cunho teórico também se mostram relevantes, a exemplo: como
produzir ciência e tecnologias a partir da inserção da Psicologia na brinquedoteca? A partir de
que perspectivas os estudos sobre a brinquedoteca hospitalar estão sendo realizados e que
discussões são produzidas por meio dos dados coletados? As respostas, mesmo que parciais, a
estas indagações podem trazer conteúdos relevantes para um entendimento científico mais
aprimorado sobre o brincar e sobre a relação entre o processo saúde-doença e a brinquedoteca
hospitalar. Bem como tornar as práticas e o próprio ambiente físico da brinquedoteca mais
eficazes na promoção de desenvolvimento.
Estudos que explicitem as ideias e sentimentos provocados pela brinquedoteca
hospitalar em seus clientes (criança, adolescentes, familiares), profissionais e frequentadores
em potencial, parecem fornecer indicadores da dinâmica relacional e dos tipos de atividades
propiciadas por esse espaço, assim como alguns indícios sutis de que determinados objetivos
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
13
podem estar sendo, pelo menos parcialmente, alcançados. No entanto, um conhecimento
cientificamente mais concreto de como os processos relacionais se dão na brinquedoteca e dos
papéis em que as pessoas se colocam quando estão em um ambiente lúdico, ainda está aquém
do esperado.
As brinquedotecas se constituem em espaço de animação sociocultural, pois se
encarrega da transmissão da cultura infantil, bem como da construção, integração e
socialização das representações infantis, sendo comumente definida como uma instituição
com ambiente alegre, colorido, agradável e seguro. Acrescido a isto, deve dispor de uma
variedade de brinquedos e estar organizada de maneira a estimular o brincar livre, a
manifestação das potencialidades, das necessidades lúdicas e da criatividade de crianças e
adultos, o que não significa ausência de regras a serem cumpridas (Carmo, 2008; Cunha,
2007; K. C. Reis, 2008; Macarini & Vieira, 2006).
Segundo o Art. 3 da Portaria 2.262/05 que estabelece o regulamento e dá as diretrizes de
implantação e funcionamento, a brinquedoteca é “o espaço provido de brinquedos e jogos
educativos, destinado a estimular as crianças e seus acompanhantes a brincar, contribuindo
para a construção e/ou fortalecimento das relações de vínculo e afeto entre as crianças e seu
meio social”.
Alguns dos objetivos das brinquedoteca de modo geral são: a) valorizar os brinquedos
e as atividades lúdicas e criativas; b) possibilitar o acesso e empréstimo de brinquedos; c) dar
orientações sobre adequação e utilização dos mesmos; d) ajudar a criança a desvincular o
brinquedo de seu aspecto de posse e consumo; e) possibilitar a interação espontânea e sem
preconceitos, com seus coetâneos e adultos e, no caso destes últimos, oportunizar à criança
um relacionamento livre do formalismo comum nas situações estruturadas em instituições; f)
propiciar um espaço de enriquecimento das relações familiares; e g) estimular o
desenvolvimento de habilidades físicas, cognitivas, sociais e afetivas (Cunha, 1998, 2002;
Macarini & Vieira, 2006).
A respeito da criação de uma brinquedoteca hospitalar, Oliveira (2008) salienta que
deve ocorrer dentro de um enfoque operacional profissional que lhe configure confiabilidade,
segurança e suporte para suas ações e atividades. Para que isto ocorra, algumas precauções
devem ser tomadas antes que uma rotina de funcionamento seja efetivada. Macedo (2008)
enfatiza que são necessários: a) levantamento bibliográfico a respeito dos objetivos que irão
fundamentar a brinquedoteca, considerando as especificidades locais; b) estudo das condições
físicas mais adequadas para a instalação; c) observação e a análise crítica do tipo de relações
que se estabelecem dentro do hospital; d) demonstração da função e da importância da
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
14
brinquedoteca para a direção do hospital e para as pessoas que participarão dela.
Após a implantação da brinquedoteca hospitalar, alguns aspectos citados acima
continuam a ser importante para a manutenção e qualidade dos serviços oferecidos, como a
contínua demonstração dos resultados da brinquedoteca aos dirigentes, técnicos e usuários.
Além disso, Viegas e Cunha (2008) acrescentam alguns critérios que devem ser considerados
para que os objetivos sejam alcançados: o apoio da direção do hospital; a disponibilidade de
recursos materiais; engajamento da equipe responsável pela brinquedoteca na construção do
seu projeto; planejamento dos locais e das atividades desenvolvidas; participação da família
na brinquedoteca; respeito às regras do hospital; prevenção da contaminação hospitalar por
meio dos brinquedos e análise da repercussão da brinquedoteca na qualidade de vida das
crianças e dos familiares atendidos.
Entretanto, em muitos casos as brinquedotecas nascem do entusiasmo de seus
criadores e pouco de sistemático existe escrito acerca delas, a começar pelo projeto, a falta de
um planejamento dos objetivos e das ações a serem empreendidas podem comprometer o bom
funcionamento do espaço. Assim como um projeto inflexível, sem espaço para acolher as
necessidades que surgem durante o seu desenvolvimento é prejudicial (Aflalo, 1992; Dietz &
Oliveira, 2008; Magalhães & Pontes, 2002).
Autores como Chaves e Sá (2008), Correr (2006) e Silva (2006) salientam que as
brinquedotecas hospitalares, representam um valioso instrumento minimizador dos efeitos
prejudiciais que podem ser gerados no processo de internação, como os comportamentos
ansiogênicos da criança e de seus familiares. Além do enfrentamento de situações que
estimulem seu amadurecimento emocional, respeito, autocontrole, autoavaliação de suas
capacidades e limites, dentro de um contexto lúdico e, consequentemente, o desenvolvimento
integral da criança.
Sobre a promoção à adesão ao tratamento, Viegas (2006) relata que na Escola Paulista
de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, a adesão ao tratamento que em 1991 era
de apenas 29% saltou para 100% depois da implantação da brinquedoteca em 2002.
Goldenberg (2008) encontrou resultados semelhantes na Brinquedoteca do Senninha, pois a
taxa de adesão aumentou após sua criação, o que repercutiu nas taxas de sobrevida das
crianças e adolescentes. No ano de 2003, a avaliação da brinquedoteca feita por profissionais,
voluntários e clientes indicou que 95% dos pacientes e 98% dos acompanhantes estiveram no
espaço diariamente. Além disso, a brinquedoteca, juntamente com o tratamento, foi um dos
principais motivos apontados a não resistência dos pacientes virem ao hospital.
Objetivando verificar o significado atribuído à brinquedoteca de um ambulatório para
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
15
tratamento de HIV/AIDS, Drummond, Pinto, Santana, Modena e Schall (2009) realizaram um
estudo com 57 pessoas, das quais 24 eram membros da equipe técnica, cinco estagiários de
psicologia e 28 usuários divididos igualmente entre acompanhantes e crianças/adolescentes. A
seleção destes foi orientada pelos seguintes critérios: frequência à brinquedoteca,
soropositividade e consentimento em participar da pesquisa. Os dados foram obtidos por meio
de entrevista semiestruturada e da observação participante, realizada semanalmente, no
período de julho de 2003 a dezembro de 2004. Todavia, informações mais detalhadas de como
estas observações foram realizadas estão ausentes do relato. Apesar disto, a pesquisa fornece
dados relevantes, tendo em vista que abrange as concepções dos diversos atores envolvidos na
brinquedoteca. A análise dos dados levou à organização de seis categorias de significado:
estímulo à adesão ao tratamento; espaço terapêutico; de acolhimento; de troca de
experiências; de empoderamento; e de formação de recursos humanos.
Azevedo e cols. (2008) realizaram um estudo objetivando verificar o nível de
aceitação das atividades da brinquedoteca e dos “Doutores da brincadeira” em um hospital
universitário. A coleta de dados ocorreu por meio de um questionário, respondido por 16
acompanhantes de crianças na faixa etária de um a seis anos. De acordo com os dados, houve
uma avaliação positiva do trabalho desenvolvido, já que os participantes afirmaram que
recomendariam este tipo de assistência a outras instituições; que as atividades favorecem a
aceitação aos procedimentos clínicos e que eles, assim como as crianças se distraem durante
as atividades. A respeito do período de internação das crianças, 93,7% dos entrevistados
responderam que acreditam que o trabalho consegue diminuí-lo.
Vieira e Carneiro (2006) encontraram dados diferentes ao investigarem as
representações do brincar em uma sala de espera (Canto do Brincar) que atendia crianças com
doenças crônicas. Os estagiários do “Canto do Brincar” foram orientados a registrarem em
seus relatórios as falas de pais e médicos, produzidas espontaneamente, e os comportamentos
destes que estivessem relacionados com o espaço e suas atividades, sendo a análise de dados
qualitativa. Do ponto de vista dos pais, existem aspectos negativos e positivos. Os primeiros
se referem ao brincar como empecilho, observado nas ocasiões em que a criança queria levar
o brinquedo para o consultório ou para casa e resistia a ir ao consultório ou ir embora; o que
para os autores é uma visão adultocêntrica. Os segundos dizem respeito às representações do
brincar como algo prazeroso, que alivia as tensões, como compensação ao sofrimento do
adoecer, oportunidade para estreitar vínculos, meio para conhecer e se comunicar com a
criança, dentre outras.
A fim de verificar a visão de familiares a respeito da influência de atividades
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
16
recreativas e expressivas na hospitalização de crianças submetidas à cirurgia, Moraes (2007)
realizou um estudo descritivo por meio de aplicação de formulário de entrevista. Participaram
138 familiares que acompanhavam crianças de sete a 12 anos, em condição pré e pósoperatória. Constatou-se que para 74,6% dos entrevistados a participação na brinquedoteca
contribuiu para melhorar o estado emocional da criança e favoreceu, na opinião de 90,6%, o
relacionamento interpessoal, além disso, 99,3%, disseram que contribui para o crescimento e
o desenvolvimento infantil.
Condizente com isso, Ferreira, Pinto, Parreira, Gonçalves e Coelho (2005) relatam que
os acompanhantes ficam nitidamente satisfeitos ao perceberem que o filho está resgatando
uma atividade de sua rotina. Esta percepção, somada às orientações recebidas sobre o brincar,
auxilia para que eles compreendam a relação entre a interação criança-brinquedo com o ciclo
ininterrupto do desenvolvimento neuropsicomotor da criança.
A hospitalização requer uma série de cuidados do acompanhante em relação ao
paciente, que em muitas situações se encontra exausto e sem condições emocionais para isso.
O brincar livre e espontâneo, experimentados pelas crianças e adultos na brinquedoteca
propicia a interação em momentos prazerosos. Durante a brincadeira, pais e filhos deixam de
ser “cuidadores” e “cuidados” e criam uma relação horizontal (Ferreira e cols., 2005).
O envolvimento do adulto na brincadeira valoriza o brincar da criança e propicia o
fortalecimento do vínculo e afeto entre eles. Além de incentivar estes aspectos, a
brinquedoteca objetiva a estimulação do comportamento de brincar do próprio adulto, o
resgate de sua cultura lúdica e sua interação com as demais pessoas, o que pode ser favorecido
pela disponibilidade de recursos e atividades de interesse dos pais/acompanhantes, tais como
revistas, livros e alguns tipos de jogos (Dietz &Menezes, 2006; Ferreira & cols., 2005; Santos,
2003).
Heaslip (2006) considera que o adulto deve assumir um papel proativo no brincar,
entretanto a importância desse como capacitador e promotor do brincar que leva ao
desenvolvimento tem sido negligenciada com frequência. O papel do adulto na brincadeira
seria o de organizar o espaço, interagir com as crianças, selecionar brinquedos e papéis
durante a brincadeira de faz de conta, propor desafios a serem superados, dentre outros, desde
que não entrem em conflito com a ação voluntária da criança (Kitson, 2006; Macarini &
Vieira, 2006)
Em consonância com esses autores, Carvalho e Vieira (2005) identificaram no
contexto da saúde alguns aspectos que tornam relevante a presença do adulto com a criança,
dentre eles: otimização da função terapêutica do brincar, enriquecimento da brincadeira e
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
17
oferecimento de suporte nas situações que a criança precisa ser acolhida, como quanto ela tem
que se submeter a procedimentos dolorosos.
Diante disso, um aspecto fundamental para a concretização dos objetivos de uma
brinquedoteca diz respeito a quem atuará nela. O momento de preparação da brinquedoteca
envolve a preparação da equipe e do espaço, somente uma equipe bem organizada e afinada
em seus objetivos conseguirá estruturar um espaço coerente. Para isso, é necessário clareza
quanto o perfil da clientela, do uso dos brinquedos e espaço, bem como a reserva de um
horário para a formação continuada, avaliação e planejamento (Aflalo, 1992; Dietz &
Oliveira, 2008; Magalhães & Pontes, 2002).
De acordo com as diretrizes de implantação da brinquedoteca hospitalar, a
implementação da brinquedoteca deverá ser precedida de um trabalho de divulgação e
sensibilização junto à equipe hospitalar e de voluntários, os quais deverão estimular e facilitar
o acesso das crianças aos brinquedos, aos jogos e aos livros (Portaria 2.261/05, Art. 5, inciso
V). No entanto, não estão discriminadas as quais qualificações devem ser exigidas deste
profissional, assim como o número de membros da equipe e o vínculo empregatício que
devem ter, podendo ser compostas tanto de profissionais especializados quanto de voluntários.
O reconhecimento do brinquedista enquanto uma nova profissão ainda está em
processo, sua definição ainda é feita com certa dificuldade e recorrendo-se a formação
anterior, sendo geralmente definido a partir do seu lugar de trabalho e às vezes de sua
ferramenta, a brinquedoteca e o jogo. Dentre as razões que estariam dificultando a
consolidação desta categoria profissional estão a dimensão informal de parte de suas
atividades e a desvalorização do jogo (Langendonckt, 2007a, 2007b).
Alguns dados da experiência francesa, apresentados por Natália Ensnantechercheuse
Roques em entrevista a La Gazzete Sante Social (nº 46 novembre 2008), indicavam um
crescimento no número de cursos de formação para brinquedista, entretanto estes
apresentavam diferenças evidentes do ponto de vista do conteúdo e dos níveis de educação.
Para a entrevistada, tais disparidades e o exercício da profissão sob a égide de diversas outras,
levaria a uma diversidade de práticas, o que desfavoreceria a legitimação da profissão no
mercado de trabalho. Já no Brasil, temos outro panorama, a Associação Brasileira de
Brinquedotecas (ABBRI) orienta que este profissional deve ser preparado por cursos
vinculados a ela, mas reconhece as dificuldades para se ter acesso a eles, particularmente pela
extensão territorial e a falta de filiais nos diversos estados (Viegas & Cunha, 2008).
Em relação à formação teórica, ela deve contemplar o desenvolvimento infantil, a
aprendizagem, o brincar, os jogos e as brincadeiras tradicionais; no caso do contexto
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
18
hospitalar, deve ser agregado o conhecimento acerca da doença, levando em consideração os
aspectos psicológicos, físicos, o prognóstico e o tratamento, já que são aspectos importantes
para instrumentalizar o profissional para o cuidado que a criança deverá receber. Dentre as
características ou qualidades pessoais, a literatura tem destacado: sensibilidade, descrita como
capacidade de respeitar a criança e seus sentimentos, agindo sem limitar ou coagir as
manifestações espontâneas; entusiasmo, entendido como o encantar-se diante do lúdico e
determinação, manter um ritmo de trabalho, apesar das dificuldades (Cunha, 2007, 2008;
Negrini, 2002; Viegas & Cunha, 2008).
Mais que apresentar o acervo lúdico, o brinquedista deve ser um parceiro disponível
para a brincadeira, ele deve auxiliar a criança a entender o que está acontecendo com ela e a
sua volta, e estimular os comportamentos lúdicos da clientela; isto requer formação teórica e
características pessoais adequadas (Cunha, 2007, 2008; Negrini, 2002; Viegas & Cunha,
2008).
Além do brinquedista, o Guia de orientação da brinquedoteca hospitalar (Cunha &
Viegas, 2004) e outras publicações vinculadas a ABBRI salientam que o espaço exige tarefas
diferenciadas e, portanto, funções também distintas. Enquanto o brinquedista é o profissional
especializado no atendimento à clientela, o coordenador das atividades desenvolvidas deve
supervisionar a manutenção do contexto, o que inclui higienização, conservação e
organização dos brinquedos.
A respeito da infraestrutura, a brinquedoteca deve possuir acústica, ventilação e
iluminação adequadas, bem como boas condições de higienização (Aflalo, 1992; Fortuna,
2005). Segundo Batista, Xavier e Staff (2008), o ambiente constitui a expressão de um
sistema social com suas rotinas, relações e ideologias, onde a criança tem a possibilidade de
se engajar em atividade exploratória e criativa. Particularmente, na brinquedoteca, o ambiente
deve incentivar a criança a brincar e a explorar, sendo indispensável dar atenção especial ao
uso de cores, à decoração das paredes e ambientes, à diversidade, adequação e arrumação dos
brinquedos, ao tamanho das estantes e à mudança temporária nessa arrumação (Carmo, 2008;
Magalhães & Pontes, 2002).
A disponibilização de material lúdico diversificado e de fácil acesso à clientela, com o
devido cuidado à segurança da criança, favorece uma acolhida mais eficiente aos diferentes
públicos do espaço, o que incentiva a participação de diferentes faixas etárias em torno da
brincadeira (Correr, 2006).
Em relação ao que está posto na legislação, as brinquedotecas deverão disponibilizar
brinquedos variados, propiciar atividades com jogos, brinquedos, figuras, leitura e
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
19
entretenimento como instrumentos de aprendizagem educacional e de estímulos positivos na
recuperação da saúde; proporcionando o brincar como forma de lazer, alívio de tensões e
como instrumento privilegiado de crescimento e desenvolvimento infantil (Art. 5, inciso I e II,
Lei 11.104/05).
Paula, Gil & Marcon (2002) investigaram as brinquedotecas de oito instituições no
Estado do Paraná e constaram que elas tinham identidades próprias, cada uma delas possuía
uma concepção de criança, do brincar e da saúde que se fazia presente nos projetos
desenvolvidos. Contudo, poucas brinquedotecas apresentavam um caráter mais sistematizado
nos acervos, nas formas de operacionalização e nos espaços físicos. Apesar destas limitações,
elas desenvolviam projetos artísticos, recreativos, culturais, educacionais e científicos
envolvendo o brinquedo, o que levou os autores a concluírem que estas brinquedotecas
perpetuavam a importância da brincadeira no ambiente hospitalar e funcionam como um
passo inicial à estruturação de projetos de brinquedotecas mais planejadas.
No tocante a higienização dos brinquedos, Freitas, Silva, Carvalho, Pedigone, e
Martins (2007), após avaliarem a presença de bactérias nos brinquedos de uma brinquedoteca
hospitalar e analisarem o perfil de resistência dessas às drogas, concluíram que os riscos dos
brinquedos causarem infecção cruzada são evidentes e que, portanto, medidas preventivas são
essenciais. Segundo a legislação, na implementação da brinquedoteca deve ser prevista uma
área para guarda e higienização dos brinquedos, cujo procedimento deve ser conforme o
definido pela Comissão de Controle de Infecção do Hospital (Portaria 2.261/05 ART 6 o Art.
06, incisos I e II).
Apesar dos avanços representados pela promulgação da Lei 11.104/05 ainda é comum
encontrar instituições sem estes espaços (Carmo, 2008). A própria regulamentação (Portaria nº
2.261/2005), que estabelece as diretrizes de instalação e funcionamento das brinquedotecas
hospitalares, oferece poucos parâmetros a sua estruturação e formação do corpo técnico.
Neste sentido, existe a necessidade de se atentar para a qualidade desses espaços, para que
seja preservada a filosofia de uma brinquedoteca (Oliveira, 2005).
Algumas estratégias, tanto no âmbito internacional quanto nacional, tem sido
desenvolvidas a fim de garantir a qualidade do espaço e dos serviços oferecidos pelas
brinquedotecas hospitalares. Uma destas é a Carta de Qualidade das Ludotecas FrancesasCLF (Lucot, 2005), uma ferramenta para a investigação de indicadores de qualidade. Outra é
o artigo intitulado “Normas para a Brinquedoteca Hospitalar” lançado em 2007 pela
Associação Brasileira de Brinquedotecas, no qual são abordadas as diretrizes para a criação e
funcionamento da brinquedoteca hospitalar. Ambas apresentam propostas de caráter geral que
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
20
permitem a adaptação e a preservação das especificidades do contexto em que a
brinquedoteca está inserida.
Dentre as pesquisas que tem feito o levantamento e a análise das brinquedotecas
hospitalares em função de critérios de qualidade, as desenvolvidas no ABC paulista (Santo
André, São Bernardo e São Caetano) tem apresentado resultados e instrumentos de coleta de
dados relevantes. Elas utilizaram a Escala Autoavaliativa de Índices de Qualidade (Oliveira,
2010) baseado na CLF (Lucot, 2005), aplicada aos responsáveis das brinquedotecas, seguido
de entrevista semi-dirigida. Dos seus resultados, o primeiro que se destaca é o
descumprimento da lei 11.104/05. O segundo são os aspectos positivos encontrados em
relação aos serviços oferecidos e à acolhida das crianças e familiares; os participantes
pareceram comprometidos com a promoção de um atendimento mais humanizado por meio
do espaço lúdico, embora alguns aspectos tenham sido insatisfatórios, como funcionamento, a
formação profissional da equipe e a obtenção de parcerias para seu suporte financeiro. Sobre
os instrumentos utilizados, eles permitiram: a conversão dos itens da CLF em uma escala do
tipo likert e a identificação de itens relativos à qualidade das brinquedotecas, além de ser de
fácil aplicação (Correr, 2006; Dietz & Menezes, 2006; Dietz & Oliveira, 2008; Direste, 2006).
Diante do exposto, verifica-se a relevância de pesquisas que avaliem a qualidade dos
serviços e espaço das brinquedotecas hospitalares, bem como a dinâmica das relações que ali
são construídas entre as crianças, familiares, visitantes e equipe hospitalar. Tendo em vista o
aprimoramento do conhecimento científico sobre esses contextos, sobre o brincar e a criança;
a construção de parâmetro para a implantação de novas brinquedotecas e a proposição de
melhorias das já existentes, e em particular, a garantia do direito da criança de brincar.
No que diz respeito ao município de Belém, o Cadastro Nacional de Estabelecimentos
de Saúde (CNESnet) atualizado em setembro de 2010, indica a existência de 32
estabelecimentos de saúde que oferecem leitos pediátricos. Contudo, apenas cinco instituições
hospitalares em Belém possuem brinquedotecas em suas dependências.
Como se pode perceber há uma discrepância entre o que rege a lei nº 11.104 e a
realidade constatada no município de Belém. Desta maneira, se faz necessário investigar a
situação em que se encontram as brinquedotecas hospitalares nesta cidade. O que permitirá
traçar o perfil destas brinquedotecas no que tange ao seu modo de funcionamento,
composição da equipe, materiais, historicidade, objetivos e peculiaridades. A obtenção destas
informações poderá ajudar na construção de conhecimento sobre as brinquedotecas
hospitalares e na promoção de um atendimento mais humanizado, uma vez que os estudos
nesta área são recentes e pouco difundidos.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
21
Objetivo geral
Descrever e analisar as condições de serviços e espaços disponibilizados pelas
brinquedotecas hospitalares existentes no município de Belém, cujos hospitais são referidos
no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNESnet) como fornecedores do
serviço de internação pediátrica.
Objetivos específicos

Traçar um panorama das condições de criação e funcionamento das brinquedotecas
hospitalares, bem como da formação e experiência profissional dos seus coordenadores.

Investigar como os responsáveis pelas brinquedotecas avaliam-na, a partir de índices
de qualidade, sugeridos por Lucot (2005) na Carta das Ludotecas Francesas como: Ética e o
papel de uma ludoteca; Projeto; Parcerias; Equipe; Tipos de serviços oferecidos; Locais e
espaços; Acervo de jogos e brinquedos; Funcionamento; Público; Acolhida e Comunicação
(Anexo A).

Verificar o conceito e o papel atribuído à brinquedoteca por seus responsáveis e pelo
público adulto.

Investigar como a clientela avalia o espaço e os serviços oferecidos.

Descrever as atividades desenvolvidas pelas crianças e seus acompanhantes, bem
como suas preferências lúdicas e locais na brinquedoteca.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
22
MÉTODO
Participantes
Fizeram parte do estudo quatro instituições, que estavam referidas no Cadastro
Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNESnet) como fornecedoras do serviço de
internação pediátrica. Nesses contextos foram entrevistados 10 técnicos, que exerciam
atividades nas brinquedotecas hospitalares. A tabela 01 descreve os participantes no que diz
respeito ao hospital em que trabalhavam, ao sexo, à formação e à função que exerciam
durante a pesquisa.
Tabela 01
Descrição dos técnicos participantes de cada hospital em função do sexo, formação
superior e função.
Hospital Participante
H1
H2
Sexo
Formação superior
Função
TH1A
M
Terapeuta Ocupacional
Técnico/Docente
TH1B
F
Terapeuta Ocupacional
Técnico
TH1C
F
Pedagoga
Técnico
TH2A
F
Terapeuta Ocupacional
Técnico
TH2B
F
Terapia Ocupacional
Técnico/Docente
TH2C
F
Psicóloga
Técnico
TH3A
F
Pedagoga
Técnico
TH3B
F
Pedagoga
Coordenador
TH4A
F
Terapeuta Ocupacional
Técnico
TH4B
F
Docente de Terapia Ocupacional
Docente
H3
H4
Em três dos quatro hospitais investigados, participaram 10 pacientes internados na ala
pediátrica e seus respectivos acompanhantes, tendo em vista que a coordenação da
brinquedoteca de um dos hospitais estipulou o tempo que a coleta de dados poderia ocorrer, o
que possibilitou a participação de apenas nove pares paciente-acompanhante. Em relação à
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
23
idade dos pacientes, foi definida a idade de seis anos como a mínima para participar da
pesquisa, já que as crianças mais novas apresentam, em geral, menor fluência verbal e
compreensão.
As tabelas 02 a 05 apresentam a descrição das crianças e adolescentes que fizeram
parte do estudo em função do hospital em que estavam inseridos, do sexo, da idade, da
escolaridade, da patologia, do tipo e tempo de tratamento e do local de origem. No que se
refere ao tempo de tratamento, a letra “d” se refere a dia, “a” a ano e “m” a meses. Em relação
ao tipo de tratamento, utilizou-se o “A” para designar ambulatorial e “H” para hospitalar.
Acerca da escolaridade, foram usadas as siglas: EFI- Ensino Fundamental Incompleto; EFCEnsino Fundamental Incompleto; EMI- Ensino Médio Incompleto; EMC- Ensino Médio
Completo e; ESI- Ensino Superior Incompleto. Nos casos em que faltou a informação,
utilizou-se a sigla FI.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém

24
Hospital 1 (H1)
Tabela 02
Características das crianças e adolescentes participantes da pesquisa no H1.
Participante Sexo Idade
Escolaridade
Patologia
(criança)
Tipo de
Tempo de
tratamento
tratamento
Origem
CH1-1
F
12
5º ano
Escalpelamento
A
1 a e 5m
Interior
CH1-2
M
07
2 º ano
Renal
H
4d
Interior
09
2º ano
Aguardando diagnóstico
H
4d
Interior
CH1-3
CH1-4
F
11
5 º ano
Febre Reumática
H
8d
Interior
CH1-5
F
10
4 º ano
Escalpelamento
A
5a
Interior
CH1-6
F
08
4 º ano
Renal
H
15 d
Região Metropolitana
CH1-7
F
08
3 º ano
Queda à cavaleiro
H
16 d
Interior
CH1-8
F
12
5 º ano
Hemorragia digestiva alta
H
27 d
Interior
CH1-9
M
09
4 º ano
Guillain-Barré
H
10 d
Região Metropolitana
CH1-10
F
08
Hepato e renal
H
22 d
Região Metropolitana
3 º ano
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
25
 Hospital 2 (H2)
Tabela 03
Características das crianças e adolescentes participantes da pesquisa no H2.
Participante
Sexo
Idade
Escolaridade
Patologia
(criança)
Tipo de
Tempo de
tratamento
tratamento
Origem
CH2-1
M
11
6 º ano
Cardiopatia
H
07 d
Região Metropolitana
CH2-2
F
12
6 º ano
Cardiopatia
H
08 d
Interior
CH2-3
F
09
3 º ano
Cardiopatia
H
08 d
Interior
CH2-4
F
07
2 º ano
Cardiopatia
H
08 d
Interior
CH2-5
F
08
3 º ano
Renal
H
14 d
Região Metropolitana
CH2-6
F
08
3 º ano
Cardiopatia
H
07 d
Interior
CH2-7
F
07
2 º ano
Cardiopatia
H
03 d
Região Metropolitana
CH2-8
M
12
8 º ano
Cardiopatia
H
14 d
Interior
CH2-9
M
07
2 º ano
Renal
H
20 d
Interior
CH2-10
F
09
FI
Cardiopatia
H
30 d
Interior
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
26
 Hospital 3 (H3)
Tabela 04
Características das crianças e adolescentes participantes da pesquisa no H3.
Participante
Sexo
Idade
Escolaridade
Patologia
(criança)
Tipo de
Tempo de
tratamento
tratamento
Origem
CH3-1
F
11
5 º ano
Câncer
A
2m
Interior
CH3-2
M
08
3 º ano
Câncer
A
4a
Interior
CH3-3
F
14
FI
Câncer
A
8m
Região Metropolitana
CH3-4
F
08
2 º ano
Câncer
H
3d
Região Metropolitana
CH3-5
F
11
6º ano
Câncer
A
4a
Interior
CH3-6
M
09
4 º ano
Câncer
A
2ae2m
Interior
CH3-7
M
08
3 º ano
Câncer
A
1ae4m
Região Metropolitana
CH3-8
M
11
FI
Câncer
A
8m
Região Metropolitana
CH3-9
M
16
9 º ano
Câncer
A
FI
Região Metropolitana
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
27
 Hospital 4 (H4)
Tabela 05
Características das crianças e adolescentes participantes da pesquisa no H4.
Participante
Sexo
Idade
Escolaridade
Patologia
(criança)
Tipo de
Tempo de
tratamento
tratamento
Origem
CH4-1
F
10
3 º ano
Aguardando diagnóstico-
H
14 d
Interior
CH4-2
M
11
5 º ano
Meningite
H
08 d
Região Metropolitana
CH4-3
M
12
5 º ano
Meningite
H
06 d
Região Metropolitana
CH4-4
M
10
5 º ano
Meningite
H
23 d
Interior
CH4-5
M
09
4 º ano
Aguardando diagnóstico
H
07 d
Interior
CH4-6
F
09
4 º ano
Dengue hemorrágica
H
7d
Região Metropolitana
CH4-7
M
11
5 º ano
Leptospirose
H
7d
Região Metropolitana
CH4-8
M
06
Educ. Infantil
Cirrose Hepática
H
20 d
Interior
CH4-9
M
12
6 º ano
Pneumonia
H
14 d
Interior
CH4-10
M
11
4 º ano
Pneumonia
H
3d
Região Metropolitana
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
28
As tabelas 06 a 09 apresentam a descrição dos acompanhantes que participaram da
pesquisa de acordo com o hospital em que estavam inseridos, do sexo, da idade e da
escolaridade.
 Hospital 1 (H1)
Tabela 06
Características dos acompanhantes que participaram da pesquisa no H1.
Participante
Sexo
Idade
Escolaridade
AH1-1
F
37
EFI
AH1-2
F
71
EMC
AH1-3
F
43
EMI
AH1-4
F
31
EMI
AH1-5
M
37
Analfabeto
AH1-6
F
35
EFC
AH1-7
F
38
EFI
AH1-8
F
37
EFC
AH1-9
F
26
EFI
AH1-10
F
32
EMI
(acompanhante)
 Hospital 2 (H2)
Tabela 07
Características dos acompanhantes que participaram da pesquisa no H2.
Participante
Sexo
Idade
Escolaridade
F
31
EMI
(acompanhante)
AH2-1
Continua
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
Continuação
AH2-2
F
49
EFI
AH2-3
F
32
EFI
AH2-4
F
37
EMI
AH2-5
F
24
EMC
AH2-6
F
37
EFC
AH2-7
F
48
EFC
AH2-8
F
34
EMI
AH2-9
F
32
Analfabeta
AH2-10
M
FI
FI
 Hospital 3 (H3)
Tabela 08
Características dos acompanhantes que participaram da pesquisa no H3.
Participante
Sexo
Idade
Escolaridade
AH3-1
F
37
EFI
AH3-2
F
52
EFI
AH3-3
F
40
EMC
AH3-4
F
28
EFC
AH3-5
F
35
EFI
AH3-6
F
29
EMC
AH3-7
F
33
EFI
AH3-8
F
35
EFI
AH3-9
F
40
EMC
(acompanhante)
29
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
30
 Hospital 4 (H4)
Tabela 09
Características dos acompanhantes que participaram da pesquisa no H4.
Participante
Sexo
Idade
Escolaridade
AH4-1
F
FI
EFI
AH4-2
M
50
Analfabeto
AH4-3
F
33
EFC
AH4-4
F
27
EMI
AH4-5
F
25
EMC
AH4-6
F
25
EMI
AH4-7
F
20
EFC
AH4-8
F
56
Analfabeta
AH4-9
M
35
EFI
AH4-10
F
FI
FI
(acompanhante)
No tocante aos dados referidos nas tabelas, podemos sintetizar que o estudo
entrevistou 10 técnicos, 39 crianças e adolescente e seus respectivos acompanhantes.
Ambiente
Para resguardar a identidade dos hospitais, esses foram assinalados por número:
Hospital 1, Hospital 2, Hospital 3 e Hospital 4, respectivamente, H1, H2, H3, H4. A seguir,
apresenta-se uma breve descrição dos ambientes, salientando quando foram criados, bem
como as principais especialidades médicas e o vínculo institucional.

H1
É um hospital de Ensino, conforme Portaria Interministerial MS/MEC n° 2378 de 26
de Outubro de 2004, sendo um órgão da administração indireta, vinculado à Secretaria de
Estado de Saúde Pública. A instituição oferece serviços ambulatoriais e de internação, sendo
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
31
referência na atenção à gestação de alto risco e ao recém nascido, sendo 44 o número de leitos
pediátricos (CNESnet, 2010).
O referido hospital oferece atendimento ambulatorial e de internação, tendo três
enfermarias pediátricas. Uma delas se encontra no térreo e atende crianças desnutridas, as
outras duas estão no primeiro andar de um outro prédio, destas uma recebe pacientes que
farão cirurgias eletivas e a outra, crianças em tratamento medicamentoso e/ou que aguardam
submissão a exames. A brinquedoteca deste hospital atende as crianças que estão
hospitalizadas, estando situada no primeiro andar em um anexo à última enfermaria citada.
 H2
É uma instituição do Governo do Estado do Pará, vinculada à Câmara Setorial de
Políticas Sociais, referência estadual em psiquiatria, cardiologia e nefrologia, oferecendo
atendimento ambulatorial e hospitalar de média e alta complexidade. Além disso, o hospital
recebe estagiários curriculares de diversos cursos da área da saúde. Em relação ao número de
leitos pediátricos, estes são 20 (CNESnet, 2010).
A clientela infantil é atendida na UTI neo-natal e na clínica pediátrica, situada no 2º
andar, onde também se encontra a brinquedoteca.

H3
Teve início com a criação do Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Pará,
inaugurado no dia 06 de outubro de 1912. Atualmente é referência em tratamento oncológico
da rede de saúde pública do Norte e Nordeste brasileiro e atua como hospital de ensino,
mantendo convênio com instituições de ensino público e privado.
No referido hospital há três setores que oferecem atendimento à clientela infantil, o de
quimioterapia, o Hospital Dia e o de internação pediátrica, contando com 26 leitos pediátricos
(CNESnet, 2010).

H4
É uma instituição da Universidade Federal do Pará (UFPa), com certificado de
Hospital de Ensino, realizando atividades de ensino, pesquisa e extensão. O hospital presta
assistência em regime de internação e ambulatorial, sendo referência em pneumologia,
infectologia, endocrinologia e diabetes.
O setor de internação pediátrica está localizado no segundo andar e tem oito
enfermarias, cujo número de leitos é 43 (CNESnet, 2010). A brinquedoteca desta instituição
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
32
atende pacientes pediátricos que estão internados e localiza-se em uma área externa ao prédio
da instituição, próximo ao estacionamento.
Instrumentos e Material
Foi aplicado um Roteiro de entrevista I (Apêndice A) com os técnicos da
brinquedoteca, cujo objetivo foi obter informações sobre o histórico da brinquedoteca
hospitalar (criação e implantação), seu funcionamento atual, equipe e perfil da clientela. Esse
instrumento foi confeccionado pela equipe de pesquisa e é composto por 12 perguntas que
subsidiaram a entrevista.
Um Roteiro de observação (Apêndice B) composto por quatro tópicos. O objetivo
deste foi coletar informações sobre a infraestrutura, funcionamento, acessibilidade, recursos
humanos e materiais da brinquedoteca, bem como a respeito da divulgação da mesma.
Um dos materiais utilizados para coletar dados a respeito das condições físicas dos
espaços utilizados pela brinquedoteca foi o Registro fotográfico.
Foi utilizada a Escala Autoavaliativa de Índices de Qualidade – EAIQ (Anexo B)
por Oliveira (2010). O instrumento se baseia nos critérios da Carta de Qualidade das
Ludotecas Francesas e objetivou verificar como o responsável pela brinquedoteca hospitalar
avaliava esta a partir de determinados indicadores de qualidade. O instrumento é composto
por: a) um cabeçalho que solicita informações sobre o nome do hospital e do técnico, qual
função este exerce e a data da aplicação do instrumento; b) as instruções de preenchimento; c)
27 itens fechados em forma de afirmativas, para as quais o participante deve assinalar em uma
escala do tipo Likert: 0 (não sei), 1 (afirmação incorreta), 2 (afirmação parcialmente correta) e
3 (afirmação plenamente correta) ou assinalar “N” caso não houvesse brinquedoteca; c) dois
itens abertos que investigam o conceito de brinquedoteca hospitalar e o papel da família no
espaço. Neste estudo foi acrescentado mais um item referente à função do espaço.
A fim de se verificar como a criança e seu acompanhante avaliavam o espaço e os
serviços oferecidos pela brinquedoteca, foram utilizados o Roteiro de entrevista II com o
acompanhante (Apêndice C) e o Roteiro de entrevista III com a criança (Apêndice D). O
primeiro é composto por nove tópicos e o segundo por 14.
O primeiro objetivou coletar informações sobre: o conceito e função atribuídos ao
espaço, meio de divulgação do espaço, conhecimento acerca da rotina de funcionamento,
participação- frequência, comportamentos, preferências por local e atividades da
brinquedoteca; críticas e sugestões. O segundo visava averiguar o espaço do hospital e o local
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
33
da brinquedoteca preferido, atividades desenvolvidas, preferência de parceiros; e críticas e
sugestões. Os dados foram analisados conforme a análise do discurso.
Procedimento
O projeto foi submetido ao Comitê de Ética de Pesquisas com Seres Humanos do
Instituto de Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Pará CCS- UFPa com o objetivo
de se obter aprovação quanto aos procedimentos previstos para a coleta de dados, de acordo
com a Resolução 196/1996, do Conselho Nacional de Saúde, o número do protocolo de
aprovação foi 068/09 (Anexo C).
Após a autorização do comitê, foi feito um levantamento de todas as unidades de
atendimento à saúde na cidade de Belém que oferecem regime de internação, de acordo com o
CNESnet. Esse levantamento implicou em busca junto ao conselho da listagem com os
endereços e telefones dos hospitais. Em seguida estes foram contatados por telefone,
objetivando saber se internavam crianças e se ofereciam o serviço de brinquedoteca.
Os hospitais que possuíam brinquedotecas foram abordados por meio de ofício,
explicitando os objetivos do estudo e uma cópia da autorização do Comitê de Ética em
Pesquisa, solicitando a realização do estudo na instituição. Dos quatro hospitais encontrados,
três possuíam comitê de ética em pesquisa, sendo o projeto reavaliado. Somente após a
autorização da instituição, foi iniciada a coleta de dados. Todos os hospitais foram submetidos
a cinco etapas de coleta de dados, a saber:
1.
Autorização Oficial: Foi agendado um horário com os técnicos que atuavam na
brinquedoteca hospitalar para que fosse entregue e lido o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE), neste momento foram explicitados os objetivos do estudo, o sigilo das
informações coletadas e o compromisso em divulgar os resultados para a instituição
participante, assim como o esclarecimento de algumas dúvidas. Após a assinatura do TCLE
(Apêndice E) iniciou-se a coleta de dados.
2.
Coleta de dados com os técnicos: O Roteiro de Entrevista I (Apêndice A) foi
aplicado a todos os técnicos que atuavam nas brinquedotecas, tendo em vista que em parte
delas a figura do coordenador estava ausente. A maioria das entrevistas foi gravada em áudio,
já que em algumas houve problemas técnicos que impossibilitaram esta forma de registro,
sendo as informações anotadas cursivamente. Aplicação do roteiro ocorreu no mesmo dia da
assinatura do TCLC ou posteriormente, dependendo da disponibilidade de horário do
participante. Estas foram realizadas individualmente em uma sala reservada ou na própria
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
34
brinquedoteca, caso esta se encontrasse fechada aos usuários.
Ao final da entrevista, foi entregue a cada participante a Escala Autoavaliativa
Índices de qualidade (EAIQ), fornecendo-se também as instruções quanto ao seu
preenchimento, em seguida se agendava o dia para o recolhimento do instrumento.
3.
Registro fotográfico: Foi realizado quando a brinquedoteca estava fechada aos
usuários, sendo fotografado o ambiente interior e exterior a ela.
4.
Observação: Ocorreu segundo o Roteiro de observação (Apêndice B), o número
de visitas a cada brinquedoteca foi de no mínimo cinco, finalizando quando todos os itens do
roteiro foram contemplados; em relação aos dias, estes foram alternados a fim de permitir o
acesso a uma possível variação na rotina, o tempo das sessões variou entre 90 a 120 minutos.
5.
Coleta de dados com os usuários: Nesta etapa foi aplicado o Roteiro de entrevista
com o acompanhante e com a criança que estava sob sua responsabilidade. As entrevistas
ocorreram no próprio ambiente da brinquedoteca ou nos leitos.
Foram escolhidos os 10 primeiros acompanhantes e suas respectivas crianças que
atendessem aos seguintes critérios de inclusão: o paciente pediátrico ter idade igual ou
superior a seis anos e que este já tivesse frequentado a brinquedoteca; concordância do
acompanhante e da criança/adolescente em ser participante da pesquisa e, por fim, a
assinatura do TCLE-II (Apêndice F) pelo acompanhante, onde afirmava que autorizava a
participação da criança, era conhecedor dos objetivos da pesquisa, bem como da manutenção
do sigilo da sua identidade e do paciente.
Após a assinatura do TCLE-II, iniciava-se a entrevista, utilizando-se o Roteiro de
entrevista II com o acompanhante e ao término desta, aplicava-se o Roteiro de entrevista III
com a criança ou adolescente.
Análise dos dados
Inicialmente os dados foram transcritos para programas do Microsoft Office. Em
seguida, foram organizados por hospital (H1, H2, H3 e H4) e por grupo de participantes
(técnicos, acompanhantes e crianças).
As informações oriundas das entrevistas com os técnicos foram agrupadas e analisadas
de acordo com as seguintes categorias: 1- Implantação, 2- Localização e acessibilidade; 3Estrutura física e Acervo de jogos e brinquedos; 4- Higienização; 5-Coordenação/Equipe; 6Clientela e 7- Planejamento e atividades desenvolvidas. Além disso, o relato verbal destes foi
confrontado com os dados obtidos por meio da Observação e do Registro fotográfico.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
35
Os dados da Escala Autoavaliativa de Índices de Qualidade- EAIQ referentes aos itens
1 a 27 foram categorizados conforme Oliveira (2010) e analisados qualitativamente, a saber:
1- Planejamento: se refere a existência de um diagnóstico prévio à implantação do
espaço, bem como de um projeto discriminando seus objetivos e a operacionalização. Foram
incluídas nesta categoria as afirmativas (A): 1, 2, 3, 4, 5.
2- Funcionamento: diz respeito ao funcionamento atual, considerando-se a gratuidade,
regularidade, divulgação, adaptação à clientela, controle da frequência e identificação de
possíveis parceiros. Compõem esta categoria as afirmativas (A): 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13,17.
3- Equipe: envolve a formação acadêmica e profissional, suas atribuições, acolhida à
clientela, integração com a família, domínio da utilização dos jogos; cujas afirmativas (A)
são: 14, 15, 16, 18, 19, 22.
4- Ambiente e acervo lúdico: refere-se à segurança, diversidade, adequação à
clientela, classificação, armazenamento, higienização, acesso e circulação dos jogos e dos
brinquedos. Fazem parte desta categoria as afirmativas (A): 20, 21, 23, 24, 25, 26, 27.
Os dados dos itens 28 a 30 da EAIQ, bem como das entrevistas com os acompanhantes
e suas crianças foram analisados conforme a análise de conteúdo proposto por Minayo (2000).
No que diz respeito aos acompanhantes, as respostas referentes a cada instituição
foram agrupadas segundo os tópicos do Roteiro de entrevista II: conceito e função atribuídos
ao espaço; meio de divulgação do espaço; conhecimento acerca da rotina de funcionamento;
participação- frequência ao espaço, comportamentos, preferências por local e atividades da
brinquedoteca; críticas e sugestões.
De forma semelhante, os dados obtidos com as crianças foram organizados segundo o
Roteiro de entrevista III, que investigava o espaço do hospital e o local da brinquedoteca
preferido; atividades desenvolvidas; preferência de parceiros e críticas e sugestões.
Após a categorização dos dados, procedeu-se uma análise qualitativa intra e inter
hospitais. Primeiramente, foram averiguadas as similaridades e diferenças entre as respostas
fornecidas pelos participantes de cada brinquedoteca. Em seguida, tomou-se como unidade de
análise cada brinquedoteca, comparando-as entre si e destacando as semelhanças e
peculiaridades de cada uma, discutindo-as conforme a literatura.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
36
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O objetivo de descrever e avaliar as brinquedotecas hospitalares belenenses, no que
tange aos serviços e espaços oferecidos, implicou em um método que permitisse fazê-lo a
partir de múltiplos e complementares focos. Devido a isto, os resultados e a discussão dos
dados obtidos foram organizados por seções: I- Perfil das brinquedotecas; II- Autoavaliação e
Concepção da brinquedoteca a partir de indicadores de qualidade; III- Avaliação da
brinquedoteca segundo a clientela.
I SEÇÃO – PERFIL DAS BRINQUEDOTECAS
Os resultados que se seguem são referentes às entrevistas realizadas com os técnicos
da brinquedoteca, bem como dados observacionais e registro fotográfico, os quais foram
organizados nos seguintes tópicos: 1-Projeto e implantação da brinquedoteca; 2- Localização
e divulgação; 3- Estrutura física e Acervo de jogos e brinquedos; 4-Higienização; 5Coordenação/Equipe; 6- Clientela e; 7- Planejamento e atividades desenvolvidas.
Para cada tópico foram expostos os dados encontrados em cada hospital, em seguida é
apresentada na discussão uma síntese destes, verificando semelhanças e particularidades entre
as instituições, e analisando-as conforme a literatura.
1- Implantação da brinquedoteca

H1
A Brinquedoteca “Brincar é coisa séria” foi implantada em 2006, ou seja, após a
promulgação da Lei 11.104/05. Os técnicos informantes não eram funcionários do referido
hospital neste período e, portanto, estavam ausentes da elaboração do projeto e da efetiva
construção do espaço. Devido a isto, eles relataram ter conhecimento de parte do processo que
resultou na brinquedoteca, como pode ser observado nos parágrafos a seguir.
Os técnicos TH1A e TH1B destacaram dois fatores que suscitaram a criação do
espaço, um é o entendimento por parte da equipe de que a pediatria que se deve propiciar à
criança a continuidade de seu desenvolvimento e o outro a promulgação da Lei 11.104/05. Já
a participante TH1C discorreu apenas acerca do primeiro aspecto. As falas a seguir ilustram
tais observações: “[profissionais] viram a necessidade de se ter uma brinquedoteca, até como
forma de cumprir a lei que é de 2005” (TH1B) e “(...) as pessoas perceberam que a criança
precisava de um espaço pra fazer escolhas, pra ser ela, ser criança, poder brincar”. (TH1C).
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
37
Em relação aos técnicos que estiveram envolvidos na implantação do serviço de
brinquedoteca, foram citados profissionais da Pedagogia, Terapia ocupacional, Serviço social,
Fonoaudiologia e Medicina. Vale ressaltar que nem todos os entrevistados enumeraram os
mesmos profissionais.
Acrescido a isso, os técnicos apresentaram informações incongruentes ao serem
questionados se houve um levantamento das demandas à brinquedoteca e se o projeto
continha uma descrição de como esta deveria ser organizada, como se verifica na seguinte
fala: “Olha eu não sei [levantamento de demandas], mas eu acredito que sim (...). O projeto
foi feito, mas eu não sei se descrevia como ia funcionar...” (TH1A).
Os técnicos foram unânimes ao afirmarem que a criação da brinquedoteca foi
viabilizada por meio de parceria entre o setor público e privado. Eles relataram que o projeto
de implantação foi enviado a uma empresa que custeou a infraestrutura, os materiais lúdicos e
os de escritório, ficando sob responsabilidade do hospital a lotação e remuneração de pessoal,
o que foi efetivado por meio de concurso público.

H2
De acordo com os participantes, a brinquedoteca “Espaço Curumim” iniciou suas
atividades em 2002, depois que a instituição havia ganhado o título de hospital da criança, o
que estimulou o desenvolvimento de ações direcionadas a essa clientela.
Entretanto o espaço em que a brinquedoteca funciona havia sido planejado como área
de recreação às crianças hospitalizadas desde o projeto arquitetônico do prédio hospitalar.
Segundo uma das técnicas: “A arquiteta já projetou o prédio com esse espaço e não existia
ainda a lei, mas ela teve essa sensibilidade” (TH2A). Apesar de ser denominada de
brinquedoteca desde 2001, TH2A afirmou que o espaço funcionava como sala de recreação, já
que seu acesso era restrito e havia poucos brinquedos.
Os profissionais envolvidos na implantação do espaço foram uma terapeuta
ocupacional e uma psicóloga, as quais não fazem mais parte da equipe. Em relação à
construção de um projeto prévio e de um levantamento das demandas a serem atendidas pelo
espaço, os entrevistados afirmaram desconhecer se algum deles ou ambos foram realizados.
A brinquedoteca é um dos oito subprojetos do Projeto Curumim, o qual foi escrito em
2006, mas desde 2009 está em fase de atualização, devido à entrada de novos profissionais
(assistente social e pedagogo). Contudo, até o final da coleta de dados o mesmo não havia
sido concluído, pois ainda carecia de que alguns técnicos escrevessem acerca de suas
atividades e do seu papel. Algumas das atividades desenvolvidas pelo Projeto Curumim são os
grupos de orientação e escuta de acompanhantes e o Espelho-espelho meu, realizado por
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
38
voluntários que vão ao hospital e oferecem aos acompanhantes e as crianças serviços de salão
de beleza.

H3
A brinquedoteca foi construída há aproximadamente 10 anos, mas o hospital dispunha
antes de uma sala de recreação com brinquedos, em outra dependência da instituição.
Somente TH3A trabalhava no hospital neste período e, segundo esta, o que suscitou a criação
da brinquedoteca foi que as crianças ficavam deprimidas, ociosas e não queriam fazer o
tratamento.
Apesar de TH3A atuar na sala de recreação durante a implantação do espaço, a mesma
afirma não ter participado da confecção do projeto e da aquisição dos recursos lúdicos e de
expediente. No que concerne a idealização da brinquedoteca, as técnicas destacaram a
participação de profissionais da enfermagem e, TH3A acrescentou ainda, os do Serviço
Social, a diretoria e um arquiteto. De acordo com TH3A, o projeto que orientou a criação do
espaço foi desenvolvido pelos dois últimos e contemplava os aspectos de infraestrutura.
Sobre um possível levantamento de demandas à brinquedoteca para subsidiar sua
implantação, TH3B afirmou desconhecer se houve esta análise, justificando que nesse período
exercia suas atividades profissionais fora do hospital. Já TH3A verbalizou: “Não, não teve
levantamento, (...) fizeram [diretoria e arquiteto] apenas a parte arquitetônica, não o projeto da
brinquedoteca”.
Segundo as técnicas, o espaço faz parte do Projeto Prosseguir, que inclui também a
classe hospitalar. Esse foi construído por profissionais da Pedagogia e do Serviço social e
pode ter seus eventos conhecidos por meio da página eletrônica http://prosseguirseducpa.
blogspot.com/

H4
A brinquedoteca foi criada no ano 2000, sendo que somente a TH4A atuava no
hospital durante a implantação, contudo sua vinculação era com uma instituição de ensino
superior, cuja atividade de docência era realizada no referido hospital. A técnica TH4B
afirmou ter poucas informações sobre o processo de criação da brinquedoteca, argumentando
que sua atuação no H4 é de somente um ano.
TH4A aponta dois fatores que teriam motivado a implantação do serviço: um diz
respeito às práticas e as demandas pertinentes à atuação na pediatria e o outro, aos resultados
do uso do lúdico pelos profissionais da Terapia ocupacional, o que pode ser verificado nas
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
39
falas a seguir: “(...) houve uma necessidade do cotidiano delas [assistentes sociais], da prática
(...)” e “(...) essa realidade da brincadeira dentro do hospital [promovida pela terapia
ocupacional] despertou isso, de ver que naquele espaço as crianças ficavam mais alegres, mais
calmas, mais participativas, que tinha uma influencia na enfermaria (...)”.
Segundo as participantes, os técnicos do hospital envolvidos com a criação do espaço
eram da área da assistência social. Entretanto, houve discordância entre suas respostas no que
se refere à realização de um levantamento de demandas e à elaboração de um projeto de
implantação. Como se pode verificar nas seguintes verbalizações:
“Acho que sim, porque eles precisavam compor um documento do porquê da
brinquedoteca”. (TH4B)
“(...) então não teve: „vamos sentar aqui pra ver, pra fazer [projeto]‟. (...) Eu sempre
digo que a gente fez um caminho inverso, a gente não saiu da teorização pra concretizar, mas
foi a partir da nossa vivência prática”. (TH4A).
De acordo com TH4A, as assistentes sociais procuraram um espaço em que a
brinquedoteca pudesse funcionar e solicitaram-no à direção do hospital, que atendeu ao
pedido. O local havia sido planejado para ser uma lanchonete, mas estava desocupado, então a
instituição cedeu o espaço e um aparelho de som, e as técnicas adquiriram os brinquedos,
mesas e cadeiras por meio de doações.
2- Localização e Acessibilidade
Este tópico refere-se aos locais onde as brinquedotecas estão inseridas fisicamente e se
há algum tipo de sinalização. Estes dados foram extraídos das entrevistas com os técnicos e
das observações.
 H1
A brinquedoteca faz parte de um anexo com dois pisos, o térreo é de piso grosso e não
há paredes, há apenas colunas. Neste espaço, são realizadas festinhas e celebrações de datas
festivas; os usuários tem acesso a este por meio de uma escada que se encontra em uma das
enfermarias pediátricas. No térreo há ainda uma área arborizada, com chão de terra e alguns
equipamentos como balanços, gangorras e escorregadores. É também neste espaço que os
acompanhantes podem lavar e estender suas roupas, as crianças sem restrição ao leito podem
fazer uso do espaço. O andar superior é a brinquedoteca propriamente dita, a entrada é
realizada pela enfermaria citada anteriormente.
As crianças que se encontram na enfermaria que dá acesso ao espaço podem ir até ele
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
40
espontaneamente, caso não apresentem restrição de contato. O acesso daquelas que se
encontram nas outras duas enfermarias é restrito, sendo realizado, em geral, pela ida dos
brinquedistas aos leitos. As crianças e acompanhantes da enfermaria que atende pacientes
cirúrgicos (EC) participam somente quando liberadas pela equipe de enfermagem, sendo
trazidas por algum dos técnicos. Aquelas que se encontram na enfermaria que recebe
pacientes desnutridos (ED), além das restrições relacionadas ao seu estado clínico, tem seu
acesso dificultado devido à distância que se encontram da brinquedoteca, pois ela está situada
no andar térreo de outro prédio do hospital.
As falas de TH1C a seguir confirmam os dados apresentados anteriormente: “ED é
quando tem demanda (...). Até porque ED é um pouco distante, é fora. Então as mães vem
com a crianças... a assistente social trás. Então a participação deles não é diária” e “(...) às
vezes ela [terapeuta ocupacional da EC] procura a gente e pede que a gente vá lá, porque tem
uma criança muito deprimida que tá precisando de uma maior atenção, mas que não pode vir”.
Apesar do hospital também oferecer atendimento ambulatorial, inexiste uma
brinquedoteca para atender esse público, entretanto as crianças vítimas de escalpelamento
continuam a frequentar a brinquedoteca após o período de internação, durante o tratamento
ambulatorial.
A divulgação do espaço é feita por meio de uma placa de inauguração ao lado da porta
que dá acesso ao anexo da brinquedoteca, cujo nome é “Brincar é coisa séria”. Tanto a porta
do anexo quanto da própria brinquedoteca já são uma forma de divulgá-la, pois são feitas de
vidro transparente, o que permite a visão do interior do espaço e as atividades que estão sendo
desenvolvidas. Além disso, na porta da brinquedoteca há um cartaz com seguintes regras:
entrar descalço, lavar as mãos, não deixar a porta aberta, não levar nenhum tipo de alimento
ou se alimentar no espaço.
 H2
A brinquedoteca do referido hospital fica no 2º andar, onde se encontra a clínica
pediátrica. Deste modo, as crianças internadas e seus acompanhantes tem livre acesso a ela. O
espaço tem duas portas de madeira, que ficam abertas durante o horário de funcionamento do
período matutino e são fechadas à tarde quando o ar condicionado é acionado. Mesmo quando
fechadas, é possível que as atividades e o espaço da brinquedoteca sejam vistos por quem está
do lado de fora, pois há uma parte de vidro nas portas.
Acrescido à visualização do espaço através das portas, sua divulgação é feita também
por meio de uma placa com os dizeres: “Espaço Curumim- Brinquedoteca Hospitalar”. O
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
41
espaço da brinquedoteca é diferenciado também na sua parte externa, que fica para o corredor,
em que há desenhos de crianças brincando ao ar livre.
 H3
Este hospital é o único, cuja brinquedoteca caracteriza-se como ambulatorial. Ela
funciona no 1º andar, no setor de atendimento oncológico, onde também estão situados a
classe hospitalar, um posto de enfermagem, os consultórios dos oncologistas e a enfermaria
infantil de quimioterapia, no qual as crianças permanecem enquanto estão recebendo os
medicamentos quimioterápicos, sendo liberadas após a consulta ou o término do
procedimento.
O setor de quimioterapia apresenta decoração diferenciada dos demais, com desenhos
e gravuras coladas nas paredes e portas. É possível identificar a brinquedoteca por meio de
uma das placas que se encontra na porta, onde está escrito “Brinquedoteca”, na outra está
escrito os dizeres: “Seja bem-vindo”, acrescido a isto, há duas janelas de vidro transparente,
uma em cada lado da porta, que permitem a visualização do espaço por quem anda pelo
corredor.
Segundo os participantes, os pacientes pediátricos atendidos no andar em que se
encontra a brinquedoteca, tem livre acesso a esta e, frequentemente, o fazem enquanto
aguardam consulta, submissão de exames ou tratamento. Já as crianças que se encontram no
Hospital Dia podem se deslocar à brinquedoteca desde que estejam liberados pela equipe de
enfermagem desse setor. Isto pôde ser confirmado por meio de observações e durante a fase
de entrevistas com a clientela.
As crianças que estão hospitalizadas podem realizar atividades lúdicas em uma sala de
recreação que se encontra no mesmo andar. Neste espaço há alguns brinquedos, jogos, livros,
um aparelho de TV, uma área que funciona como refeitório e algumas mesas onde os
funcionários fazem suas refeições.
A brinquedoteca e a sala de recreação, como denominadas pelos coordenadores de
ambos os espaços, apresentam seu funcionamento de maneira independente. Ao ser convidada
para participar da pesquisa, a coordenadora da sala de recreação afirmou que o espaço não se
configurava como brinquedoteca, sendo um de seus principais argumentos o fato de haver
uma área de refeitório dentro da sala para a equipe técnica.
Apesar de atender clientelas infantis diferentes, haja vista que a brinquedoteca atende
no ambulatório e a sala de recreação no setor de internação pediátrica, e de ter a organização
funcional e espacial diferenciados, ambos são espaços de promoção da ludicidade dentro do
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
42
contexto hospitalar. Talvez, por isso, tenha havido desencontro de informações quando a
diretoria acadêmica do hospital foi procurada pela primeira vez para avaliar o projeto desta
pesquisa, posto que um de seus técnicos afirmou que não havia uma brinquedoteca no
hospital, mas sim um espaço com brinquedos, que também servia como refeitório e descanso
para profissionais.
 H4
A brinquedoteca é externa ao edifício do hospital, é um local arborizado e próximo ao
estacionamento, ao lado dela há um parquinho de madeira com equipamentos como balanço,
escada e escorregador, que pode ser utilizado por crianças em tratamento ambulatorial.
As técnicas fizeram críticas a respeito do espaço onde a brinquedoteca está situada, pois
além de ser fora do hospital, foi planejado para outro fim. Entretanto, afirmam que este foi o
local que permitiu efetivar a implantação da mesma. Tais observações podem ser
comprovadas nos dados a seguir:
“não foi [espaço] projetado para a brinquedoteca, aí era pra funcionar uma lanchonete, só que tava
sem uso (...) na verdade o ideal era que a brinquedoteca fosse dentro desse espaço da internação ou
próximo dele, mas o hospital não tinha um espaço pra isso, o hospital é da década de 70 (...)”. (TH4A).
“ (...) uma das poucas brinquedotecas que é fora do espaço hospitalar, que é externo, mas não
porque a gente quis, mas é porque era o que a gente tinha (...)”. (TH4B).
Diante dos aspectos expostos acima, o acesso da clientela à brinquedoteca é reduzido
tanto por questões clínicas quanto estruturais. Tendo em vista que na área de dentro do
hospital que as crianças precisam percorrer, existem pacientes aguardando atendimento
ambulatorial em várias especialidades; a distância aumenta a dificuldade para se andar com
suporte para soro e drenos, por exemplo; são inexistentes rampas da enfermaria pediátrica ao
térreo; a falta de equipamentos próximos à brinquedoteca, como balão de oxigênio, bem como
de profissionais da enfermagem e medicina, diminuem o número de crianças que poderiam
estar aptas a frequentar uma brinquedoteca. As falas a seguir ilustram os dados apresentados:
“esse é o primeiro pensamento, se não trás risco nenhum, porque a gente tá se deslocando daqui
lá pra fora, então eu não tenho o mesmo suporte que eu tenho aqui” (TH4A)
“pra descer eu preciso da ajuda dos estagiários (...) às vezes, tem uns abençoados [crianças
muito ativas] e a gente tem que ficar de olho, porque a partir do momento que eles descem a
responsabilidade é toda minha”. (TH4A)
“normalmente se desce de escada, porque o elevador daqui, como geralmente... tá em
manutenção, fora que o risco de contaminação é muito grande, então só vai de elevador se a criança
tiver em cadeiras de rodas (...)”. (TH4B)
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
43
Apesar da ausência de placa ou cartaz que sinalize a brinquedoteca, o fato da pintura
externa ser nas cores rosa e azul, bem como a presença de um cercado de madeira colorido,
gera um contraste com o branco do hospital e torna a construção, mesmo quando fechada, em
um espaço diferenciado e com aspectos lúdicos.
3- Estrutura física e Acervo de jogos e brinquedos
 H1
O espaço apresenta 8,29 metros de comprimento e 7,92 metros de largura, tendo,
portanto, uma área de 65,66 m². A figura 01 apresenta um diagrama do espaço, vale ressaltar
que algumas modificações em sua organização espacial foram constatadas durante a coleta de
dados, quando, por exemplo, estava próximo de alguma festividade.
Figura 01. Diagrama da brinquedoteca do H1.
1- Conjunto de duas mesas de plástico, cuja altura é de 72 cm e a área é de 67,5 cm², com
cadeiras.
2- Estantes com brinquedos: estas são divididas em três compartimentos para colocar os
brinquedos, não há portas e as crianças observadas alcançavam os brinquedos das duas
divisões mais baixas. A altura total das estantes é de 107 centímetros, sendo que a distância do
chão à primeira prateleira é de 73 centímetros. Na primeira estante (sentido horário) estavam,
em geral, os brinquedos de plásticos, que em sua maioria representa meios de transporte, tais
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
44
como carros, motos e caminhões, além de boliche. Na prateleira superior, estão os jogos de
tabuleiro, quebra-cabeça, jogo da memória e outros. Na segunda, haviam sido colocados
utensílios domésticos nas prateleiras inferiores e na parte superior os ábacos e blocos de
montar. Na terceira encontravam-se, em geral, brinquedos sonoros e brinquedos de madeira,
principalmente barcos.
3- Espaço para o bebê: onde estavam cinco colchonetes, almofadas e móbiles.
4- Tapete de encaixe com tema alfabético.
5- Cômoda com um aparelho de TV, DVD, e aparelho de som, sendo que em volta da TV se
encontram brinquedos pequenos (animais, bonecos, carros...).
6- Mesa com buzinas e cornetas, acima dela se encontra um cabide onde estavam alguns
chapéus e máscaras.
7- Teatro: na parte da frente tem uma estrutura para teatro de fantoches e atrás dela se
encontra uma caixa com fantoches.
8- Espaço de leitura: tem um banquinho, um tapete pequeno e duas estantes de livros com
exemplares de literatura infantil, infanto-juvenil, romances, crônicas, contos e poesias.
9- Banheiro de uso exclusivos dos funcionários, ao lado dele há uma pia, cuja altura é de 79
centímetros, onde a clientela é solicitada a lavar as mãos.
10- Mesa de plástico, onde os brinquedos de borracha são colocados, particularmente
miniaturas de animais e bonecos de super-heróis. Acima destas mesas há um mural com
desenhos ou pinturas feitas por crianças.
11- Armário onde estavam guardados os materiais descartáveis e material de expediente
(grampeador, furador, papel, lápis de cor, tintas).
12- Neste local havia uma casinha e utensílios domésticos, como fogão.
13- Mesas e cadeiras infantis, a altura das primeiras é de 61 centímetros, largura de 51,5 cm e
comprimento de 65 cm. As medidas das segundas são de 35 centímetros do chão até o assento
e de mais 40 centímetros até o final do espaldo.
14- Armário onde estão guardados os brinquedos de reserva e estoque de material de
expediente.
15- Espaço onde há um bebedouro, um arquivo onde estavam guardados documentos e
objetos pessoais dos técnicos, um cesto com diversos tipos de papéis, um quadro de aviso, um
computador para uso dos técnicos, um cesto de lixo e um cesto para depositar brinquedos
utilizados.
A iluminação do espaço é tanto natural quanto artificial, a primeira por meio da luz
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
45
solar, através de janelas de vidro transparente e a segunda de seis lâmpadas, que são ligadas
conforme a claridade solar. Em relação à ventilação, as janelas ficam fechadas, já que o
controle da temperatura é feito pelo uso de ar condicionado.
Verificou-se que a brinquedoteca dispõe de material lúdico diversificado, com
brinquedos para diferentes faixas etárias, como poderá ser verificado pelo registro fotográfico.
Contudo estão ausentes jogos eletrônicos, computador e internet para a clientela.
Em relação à disposição dos brinquedos, foi observado que aqueles compostos por
peças pequenas e móveis ficavam dispostos nas prateleiras mais altas, o que torna o ambiente
mais seguro.
A seguir são apresentadas algumas figuras obtidas por meio do registro fotográfico.
Figura 02. Visão externa da brinquedoteca.
Figura 03. Estante com brinquedos e jogos.
Figura 04. Mesas de atividades.
Figura 05. Um dos armários.
Figura 06. Brinquedos de faz-de-conta.
Figura 07. Equipamentos áudio-visuais.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
46
.
Figura 08. Espaço para a leitura.
Figura 09. Área administrativa.
 H2
As medidas do espaço são: 7,23 metros de comprimento e 5,8 metros de largura,
tendo, portanto, uma área de 41,9 m². O espaço foi construído com o formato e as dimensões
das enfermarias situadas na ala de internação pediátrica. A figura a seguir é um diagrama da
organização da brinquedoteca e cabe ressaltar que algumas modificações na disposição dos
objetos foram constatadas durante a coleta de dados, como permuta da disposição de alguns
brinquedos.
Figura 10. Diagrama da brinquedoteca do H2.
1- Estante com livros infantis, gibis e revistas, tem duas divisões, mas também se fazia uso da
parte de cima dela. Suas dimensões são 81 centímetros de altura por 43 centímetros de
largura.
2- Estante sem portas com brinquedos, na primeira parte existem duas divisões horizontais e
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
47
na segunda três, os brinquedos também são dispostos na parte de cima da estante. A altura da
prateleira mais baixa é de 66 centímetros e da mais alta é de 2 metros e 16 centímetros.
3- Copa, mas funciona também como área administrativa, tem arquivos de documentos
técnicos que podem estar ou não relacionados à brinquedoteca; pastas com as atividades de
pintura, desenho e colagem de cada criança, os quais serão entregues a elas no momento da
alta; armário onde estavam guardados materiais de expediente, objetos pessoais dos técnicos;
brinquedos para serem higienizados, restaurados quando possível ou que aguardam
catalogação; caixas com artigos de festa e uma pia para uso dos técnicos e estagiários.
4- Espaço que conta com duas mesas de atividades e um bebê conforto.
5- Espaço onde estão dois fogões e duas casinhas de plástico.
6- Camarim: onde estão dispostas fantasias e um baú com máscaras e adereços. Embaixo do
cabide também há duas caixas transparentes com blocos de encaixar.
7- Baú de atividades com instrumentos musicais, bolas de vários tipos, pinos e bola de
boliche.
8- Mesas e cadeiras de madeira, as medidas das primeiras são: 57 centímetros de altura, 141
centímetros de comprimento e 81 centímetros de largura; já as da segunda são: altura de 70
centímetros, sendo que o assento está a 32 centímetros do chão.
- Cesto de lixo
- Cadeiras acolchoadas.
- Aparelho de TV e DVD alocados em um suporte.
- Brinquedos que possibilitam à criança locomoção ou movimento (como anda
cavalinho, balanço e veículo não elétrico).
A brinquedoteca faz uso da iluminação solar, existem duas janelas de vidro que
ocupam uma parede praticamente toda e ficam abertas durante a manhã, quando necessário a
iluminação artificial é feita com quatro lâmpadas fluorescentes. Em relação à ventilação, no
período matutino ela é feita por meio das janelas que ficam abertas e no vespertino é ligado o
ar condicionado. São inexistentes banheiro e bebedouro dentro do espaço.
Em relação ao acervo lúdico, verifica-se na figura 10 que há somente uma estante com
brinquedos, porém há materiais lúdicos no chão próximos as paredes, o que facilita o acesso a
eles.
Apesar de uma quantidade menor de brinquedo, em comparação a brinquedoteca do
H1, apresenta material diversificado, tais como jogos de regras, quebra-cabeças de diferentes
níveis de complexidade, brinquedos sonoros e de faz-de-conta. No espaço estão ausentes
jogos eletrônicos, bem como ao acesso à internet.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
48
No tocante a disposição dos brinquedos, foi observado que aqueles que exigem uma
destreza fina ou é composto por peças pequenas e móveis foram guardados na parte superior
da estante, favorecendo um espaço mais seguro para bebês e crianças pré-escolares, os quais
tem fácil acesso aos brinquedos produzidos a esta faixa etária. A seguir são apresentadas
algumas figuras oriundas do registro fotográfico.
Figura 11. Área externa à brinquedoteca.
Figura 12. Vista de uma das laterais.
Figura 13. Uma das portas de entrada.
Figura 14. Vista de uma das laterais.
Figura 15. Murais.
Figura 16. Camarim.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
Figura 17. Estante com brinquedos.
49
Figura 18. Brinquedos de faz-de-conta.
 H3
O espaço tem 7,3 metros de comprimento e 5,69 metros de largura, tendo, portanto,
uma área de 41,4 m². A figura 19 apresenta um diagrama da organização da brinquedoteca,
sendo que esta sofreu algumas alterações ao longo da coleta de dados, como a disposição das
mesas.
Figura 19. Diagrama da brinquedoteca do H3.
1- Armários: em um deles estavam guardados materiais de expediente e no outro os jogos de
tabuleiro e quebra-cabeças.
2- Área onde se encontram bonecas, carrinhos de bonecas, fogão, geladeira, casinha e guardaroupa. Na parede desta área tem um mural com fotos de crianças e de atividades promovidas
pelo Projeto Prosseguir.
3- Estantes de 2,15 metros de altura por 92 centímetros de comprimento, divididas por cinco
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
50
prateleiras, sem portas, onde estão guardados brinquedos, como diversos tipos de jogos de
encaixe (quebra-cabeça, lego e construtor entre outros), jogos de tabuleiro, bonecas,
carrinhos, barquinhos e navios, bonecos, brinquedos sonoros.
4- Mesas de plástico com cadeiras, as medidas das primeiras são: 50 centímetros de altura,
165 centímetros de largura e 46 de comprimento. As segundas tem 56 centímetros de altura,
sendo que o assento está a 26 centímetros do chão.
5- Área com recursos áudio-visuais: televisão, aparelho de som e DVD, jogos de vídeo-game.
6- Área onde estão guardados alguns brinquedos, velocípedes, papéis diversos, tintas e outros.
7- Banheiro utilizado tanto pela brinquedista quanto pela clientela.
8- Mesa de ping-pong com cadeiras estofadas, o tamanho da primeira era de 74 centímetros
de altura e 199 centímetros de comprimento; já a altura das segundas era de 82 centímetros,
estando o assento a 43 centímetros do piso.
9- Prateleira com quatro divisórias, onde estão expostos livros e revistas, com 93 centímetros
comprimento e 100 centímetros de altura.
- Cestos de lixo.
- Computadores com jogos.
- Bebedouro e pia.
A iluminação da sala é feita por seis lâmpadas fluorescentes e a luz solar, que entra por
meio de janelas de vidro transparente. A temperatura é controlada por um ar condicionado.
Como pôde ser observado no diagrama do espaço e no registro fotográfico, ela tem
duas estante com brinquedos, onde são dispostos brinquedos diversos e para diferentes faixas
etárias, mas há também brinquedos dispostos no chão próximos à parede. Parte dos jogos de
tabuleiro e quebra-cabeças fica na parte superior da estante e a outra dentro de um dos
armários, para ter acesso a este a clientela solicita-os à TH3A, o que dificulta a perda de
componentes do brinquedo e acidentes com eles. Cabe ressaltar, que o uso do vídeo-game é
permitido dependendo do dia da semana.
A seguir são apresentadas algumas figuras obtidas por meio do registro fotográfico.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
51
Figura 20. Porta da brinquedoteca.
Figura 21. Brinquedos de faz-de-conta.
Figura 22. Porta de entrada.
Figura 23. Imagem ampla do espaço.
Figura 24. Equipamentos eletrônicos.
Figura 25. Alguns dos computadores.
Figura 26. Vista da lateral direita
Figura 27. Um dos cantos do espaço.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém

52
H4
A brinquedoteca deste hospital pode ser dividida em área interna e externa. Na primeira
ficam guardados os brinquedos, as mesas e cadeiras, há lajotas no chão e nas paredes (do chão
até a metade da altura); suas medidas são 5,2 metros de largura por 4,29 metros de
comprimento, sendo sua área, portanto, de 22,3 m². A segunda parte tem o chão grosso, sendo
delimitada por um cercado de madeira. Quando a brinquedoteca está funcionando, é neste
espaço que são colocadas as mesas e cadeiras; esta parte tem 5,8 metros de largura e 5,26 de
comprimento, tendo, assim, uma área de 30,5 m².
A área onde a brinquedoteca está inserida, também se torna parte dela à medida que
algumas crianças e acompanhantes fazem uso de um equipamento, situado nela, ou utilizam o
espaço para brincadeiras de exercício, como andar de bicicleta.
A figura 28 é um diagrama da referida brinquedoteca. Todavia, durante a coleta de
dados a disposição de alguns materiais e brinquedos foi permutada.
2
3
1
4
5
5
5
Figura 28. Diagrama da brinquedoteca do H4.
1 – Armário: 275 centímetros de comprimento por 65 cm de altura, sendo colocado a 25 cm
do chão, há uma prateleira no meio e três portas de cada lado dela. Em cima do armário
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
53
estavam dispostos bonecos, carros, dinossauros e robôs. Na prateleira haviam sido colocados
alguns jogos, como jogo da memória, pega varetas, 3 em 1, dominó de figuras e o tradicional.
A parte de dentro do armário ficava trancada e guardava brinquedos para serem doados ou
permutados com os que estavam expostos, além de materias de expediente e de atividades
expressivas, como por exemplo, lápis, tinta e papel. Em baixo do armário, estavam
empilhados alguns colchonetes.
2- Armário igual ao descrito no item 1, contudo os brinquedos expostos em cima eram
bonecas, miniatura de utensílios de casa, alguns personagens de desenho animado em plástico,
na prateleira estavam dispostos brinquedos sonoros e cubos de atividades. Semelhante ao
armário anterior, a parte de dentro ficava trancada e guardava os mesmos materiais desse. Em
baixo do armário estavam colocados os carros maiores.
3- Pia: 90 cm de altura, em baixo dela há um cesto com bolas armazenadas dentro de um saco.
4- Local onde ficam empilhadas as mesas e cadeiras de plástico que não estão sendo utilizadas
durante o atendimento. Em geral, estas cadeiras são utilizadas pelas mães no espaço externo.
A brinquedoteca possui quatro mesas, cuja altura é de 72 centímetros e a área é de 67,5 cm², o
número de cadeiras totaliza 24, sendo a altura do assento 44 centímetros e do espaldo 38
centímetros. Pendurados na janela acima das cadeiras estão bambolês e bolas.
5- Mesas de madeira: são um total de três e cada uma delas tem 59,5 cm de altura e uma área
de 72 cm². Há também 24 cadeiras, cuja altura é 61 centímetros, estando o assento a 29
centímetros do piso.
- Bicicleta, duas caixas de plástico transparentes com utensílios domésticos, pinos e bola
de boliche.
- Carrinhos de bonecas, bonecas, velocípede, veículos não elétricos, penteadeira de
brinquedo, cadeira de balanço, carrinho de supermercado com kit de praia (baldes e pás).
- Três conjuntos de mesas e cadeiras infantis de plástico. As mesas tem 46 centímetros de
altura e uma área de 59 cm² e as cadeiras medem 56 centímetros de altura, estando o assento a
29 centímetros do piso.
- Aparelho de madeira em formato de casinha, tem escorregadores, balanços, escadas,
dentre outros equipamentos, as crianças podem utilizá-lo desde que acompanhadas por um
adulto.
- Área arborizada e com chão de terra.
Tanto a iluminação quanto a ventilação da brinquedoteca é natural, já que grande parte
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
54
dela é aberta.
Como apresentado na descrição da organização da brinquedoteca, o H4 conta com
brinquedos variados. Todavia, são em grande parte voltados para a primeira infância,
carecendo de materiais lúdicos que talvez estimulem uma maior participação dos préadolescentes e acompanhantes, como por exemplo: jogos sociais, computadores com jogos e
acesso à internet e livros. A disposição do acervo facilita o acesso das crianças, contudo
requer que os adultos estejam atentos ao manuseio de jogos com botões e peças pequenas por
crianças menores.
Segundo TH4A, a ausência de livros se deve às condições estruturais do ambiente,
pois os que haviam no espaço mofaram.
A seguir são apresentadas as imagens obtidas por meio do registro fotográfico.
Figura 29. Prédio branco ao fundo é o
hospital.
Figura 30. Entrada da brinquedoteca.
Figura 31. Área adjacente.
Figura 32. Área externa.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
55
Figura 33. Entrada da área interna.
Figura 34. Área interna.
Figura 35. Uma das laterais.
Figura 36. Brinquedos de faz-de-conta.
4- Higienização
 H1
Segundo os participantes, o espaço é limpo duas vezes ao dia. Os brinquedos
utilizados são limpos diariamente, sendo que aqueles que foram ao chão são depositados em
um cesto e lavados com água e detergente, os outros são limpos com álcool 70%. Uma vez
por semana é feita a lavagem das paredes e do chão, bem como dos brinquedos que não
haviam sido manipulados.
O chão é limpo por funcionários que realizam a assepsia de todo o hospital, contudo os
materiais lúdicos são higienizados por uma pessoa lotada exclusivamente na brinquedoteca,
esta também realiza pequenos reparos em alguns brinquedos e faz parte da equipe.
Como foi possível verificar nas observações e no registro fotográfico, a brinquedoteca
tem uma pia para uso da clientela e incentiva sua utilização de várias formas: por meio de um
cartaz com as regras do espaço, em que uma delas se refere a lavagem das mãos quando se
entra e sai da brinquedoteca; solicitando ou conduzindo a criança até o local e lhe oferecendo
ajuda e, quando necessário, solicitando que o acompanhante lave as mãos da criança. Além
disto, o espaço conta com cestos de lixo e de material a serem higienizados.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
56
O espaço também é utilizado para desenvolver atividades sem caráter lúdico por outras
equipes ou grupos, como reuniões e grupos de escuta.
As informações prestadas pelos participantes foram confirmadas durante a coleta de
dados.
 H2
A limpeza ocorre duas vezes ao dia, sendo que uma vez por mês a brinquedoteca fecha
para a lavagem da sala e dos brinquedos, a higienização destes últimos é feita com água e
sabão e/ou álcool 70%. Os responsáveis pela limpeza são profissionais do serviço geral que
realizam a limpeza de outras dependências do hospital.
Como apresentado no tópico 3 (Estrutura física e acervo de jogos), há uma pia dentro da
brinquedoteca, entretanto não foi verificada sua utilização pela clientela durante as
observações.

H3
A higienização é feita duas vezes ao dia. De acordo com TH3A, a limpeza do espaço
físico, como chão e mesas, é feita por funcionários responsáveis pela higienização do hospital,
enquanto a dos brinquedos é realizada por ela, que solicita o auxílio das mães, utilizando o
álcool, 70% para desinfecção.
A lavagem das mãos tanto pela equipe quanto pela clientela pode ser feita dentro da
própria brinquedoteca nas pias, que estão no banheiro e ao lado do bebedouro.

H4
Em relação à higienização, a participante TH4A verbalizou ter tido dificuldades para
que a limpeza dos brinquedos fosse devidamente feita, como se verifica na seguinte fala: “(...)
a limpeza do espaço em si sempre foi feita (...), mas brinquedo era assim: ninguém tocava”.
Ela acrescentou que isto fez com que o funcionamento da brinquedoteca fosse interrompido
durante um semestre.
Diante desta situação, TH4A relatou que solicitou às instâncias competentes do
hospital que garantissem a limpeza tanto da estrutura física quanto do material lúdico. Além
disso, elaborou em parceria com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) um
manual de como a higienização da brinquedoteca deveria acontecer e o encaminhou a quem o
competia. Como mostra este trecho: “nós [TH4A e estagiários] fotografamos os brinquedos
mofados, imundos, fiz um documento e encaminhei (...). E paralelo a isso, eu fui construindo
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
57
uma cartilha (...) na verdade foi junto com CCIH” (...). Disseram que seria cumprido. Não foi
cumprido nada (...)”.
Após o re-envio de documentos e solicitações, fez-se um acordo, sendo que a primeira
limpeza, tal como descrito na cartilha, havia ocorrido duas semanas antes da entrevista, como
mostra esta verbalização: “ele [técnico do hospital responsável pelo setor de serviço geral]
me responde por escrito que só poderia ser feito [como na cartilha] se tivesse alguém lá pra
vigiar, mas ele mandou o documento por um funcionário que eu conheço a bastante tempo
(...) [o funcionário disse] que não era pra eu me incomodar que ele mesmo ia supervisionar. E
agendou essa limpeza geral (...)”.
A entrevista com a TH4B foi feita três meses depois da realizada com TH4A e de
acordo com os dados fornecidos, a falta de limpeza da brinquedoteca havia sido sanado. A
participante relatou que ao final de cada atendimento em grupo, os brinquedos manipulados
estavam sendo separados para a higienização, no mesmo dia ou no dia seguinte, com uso de
água e sabão, álcool 70% ou imerso em solução com hipoclorito, o que é condizente com a
cartilha confeccionada por TH4A.
Apesar de haver uma pia dentro da brinquedoteca e outra em uma das paredes laterais
externas, não foi verificado, durante as observações, o uso destas pela clientela e
profissionais.
5- Coordenação/Equipe

H1
Nesta brinquedoteca, está ausente a figura do coordenador, sendo a única
brinquedoteca em que havia um técnico do sexo masculino. Segundo TH1A e TH1B a equipe
é formada por seis membros, como se verifica na fala a seguir: “Uma pedagoga e dois
terapeutas ocupacional, que sou eu e a TH1B, sendo que eu tô como técnico do hospital e
supervisor de estágio da UEPA, uma bolsista de TO e uma de pedagogia, (...) e uma auxiliar
de limpeza que faz a higienização dos brinquedos. Essa equipe nova tá formada a mais ou
menos 2 anos (...). E além de nós tem quatro estagiárias curriculares, só que elas não atuam
como brinquedista porque o estágio não é na brinquedoteca, é na pediatria".
Somente após seis meses foi possível entrevistar TH1C, pois esta se encontrava de
licença, devido a isto as informações fornecidas por ela diferiram das obtidas anteriormente,
já que o contrato das bolsistas havia sido encerrado.
A partir do relato dos participantes, verificou-se a falta de reuniões periódicas,
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
58
especialmente porque a equipe estava dividida em turnos (matutino e vespertino), sendo que
apenas TH1A e a auxiliar de limpeza estavam em ambos os horários. A troca de informações
ocorre, em geral, informalmente por meio de um diário e dos profissionais que atuam em dois
turnos.
Em relação à capacitação, os entrevistados afirmaram que ela ocorre, porém a nível
pessoal, já que são os próprios técnicos que procuram um curso de aperfeiçoamento e
solicitam à direção do hospital que os liberem para participar e/ou custeiem as despesas.

H2
Nesta instituição, está ausente a figura do coordenador, a equipe está subordinada à
coordenação do setor biopsicossocial, estando lotados na clínica pediátrica, incluindo a UTI
pediátrica e a neonatal.
Segundo os participantes, a equipe é composta por nove pessoas, todas do sexo
feminino: uma psicóloga, duas terapeutas ocupacionais, das quais uma era técnica da
instituição e a outra docente, vinculada a uma instituição de ensino superior, uma assistente
social, uma pedagoga, quatro auxiliares de reabilitação e os estagiários de terapia ocupacional,
que cumprem parte do estágio curricular na pediatria do hospital. A equipe está dividida em
dois turnos: um matutino e outro vespertino.
Contudo durante a coleta de dados a pedagoga estava licenciada por um período de um
ano, o que impossibilitou entrevistá-la. Além disso, durante a pesquisa, terminou o contrato da
docente, sendo que suas funções passaram a ser exercidas pela titular da disciplina que é a
própria terapeuta ocupacional da instituição.
A partir das entrevistas com os técnicos deste hospital, observou-se que as
participantes se organizam, enquanto equipe do Projeto Curumim, do qual a brinquedoteca faz
parte, assim como grupo de orientação e acolhimento ao enlutado. Provavelmente por isso, os
entrevistados citaram a assistente social como membro da equipe, apesar de suas atividades
serem desenvolvidas fora da brinquedoteca. Durante a coleta dos dados foi observado a
presença desta no espaço, sendo inclusive submetida aos instrumentos, todavia estes foram
desconsiderados da análise.
Segundo o relato da equipe, a troca de informações a respeito da clientela ocorre,
praticamente, todos os dias ao final do expediente, bem como a avaliação e planejamento das
atividades, mas de forma informal. Também se faz uso de livros de ocorrência para favorecer
a comunicação entre os turnos.
Desta forma, falta estabelecer uma rotina de reuniões sistemáticas, com inclusão de
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
59
discussão de casos, leitura e discussão teórica (além das que se referem ao estágio
supervisionado de terapia ocupacional), já que as reuniões, quando ocorrem, são de cunho
administrativo. Como se verifica na fala a seguir:
“As reuniões são praticamente diárias pra avaliação, planejamento, mas sem planejamento
(sorriso), não tem... falta discussão de caso com os médicos, uma sistematização, porque é importante
essas reuniões serem sistematizadas, ter um horário semanal que seja fixo... e isso realmente não tem,
é mais informal” (TH2C).
.
No que se refere a reuniões com a direção do setor, os dados parecem indicar uma
participação discreta da mesma no dia-a-dia da brinquedoteca, como ilustra a fala da TH2A:
“Com a nossa chefia é que nós temos uma vez por mês (...) é a coordenadora do
biopsicossocial, que é de todo o hospital, não é só daqui da pediatria”.
Em relação à capacitação, o hospital realiza eventos de capacitação freqüentes,
organizados pela própria instituição ou por outras, como a jornada de Brinquedoteca
Hospitalar.
 H3
A brinquedoteca desta instituição faz parte de um projeto denominado “Prosseguir”,
que faz o acompanhamento pedagógico das crianças internadas e daquelas em tratamento
oncológico ambulatorial. Desta forma, tanto a brinquedoteca quanto as atividades
desenvolvidas pela classe hospitalar apresentam a mesma coordenação. No início da coleta
de dados, as coordenadoras eram duas pedagogas. Devido à obtenção de licença de uma delas,
a entrevista e a Escala Autoavaliativa de Índices de Qualidade foram aplicados em apenas
uma. A brinquedoteca conta com uma brinquedista, com formação em pedagogia, responsável
pela organização do espaço, desenvolvimento de atividades e orientação quanto ao uso dos
brinquedos e do espaço.
Durante as entrevistas, as participantes se referiram ao projeto “Prosseguir”
constantemente. Quando foram questionadas a respeito da equipe estas mencionaram as
professoras, como se verifica nesta fala: “É a TH3B mais a equipe do Prosseguir, até porque
às vezes acontece troca”.
O trabalho desenvolvido pela brinquedoteca e pela classe hospitalar são vistos pelas
participantes como complementares, sendo que as datas comemorativas são planejadas e
comemoradas juntas. Além disso, algumas atividades dirigidas da brinquedoteca estão
relacionadas com o que está sendo trabalhado na sala de aula. O que pode ser ilustrado por
meio das seguintes verbalizações: “As atividades são em conjunto (...) [a equipe do projeto]
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
60
faz a parte do planejamento” (TH3B) e “Para a equipe são realizadas reuniões de
planejamento duas vezes ao mês junto com a equipe do Prosseguir” (TH3A).
No que diz respeito a reuniões, as técnicas afirmaram que estas objetivam
planejamento de atividades e avaliação, estando ausentes estudo de caso e discussão teórica.
No que diz respeito à capacitação e atividades realizadas para a própria equipe, a
participante TH3B verbalizou que ocorre educação continuada em parceria com a SEDUC,
além da participação em congressos e apresentação de trabalhos, tendo inclusive trabalhos
premiados, para isso o autor solicita a ajuda de custo e liberação das atividades à direção do
hospital.
 H4
Nesta brinquedoteca H4 há a figura do coordenador, exercida por TH4A e da
supervisora de estágio e estagiários. Entretanto, não se configuram como equipe da
brinquedoteca, tendo em vista que somente a primeira tem vínculo com o hospital e que o
estágio sendo curricular, abrange além da enfermaria pediátrica, a adulta, por um período de
apenas dois meses, quando novos alunos entram no hospital. A TH4B está substituindo as
atividades de docência de TH4A, que é a titular da disciplina e encontra-se de licença.
.
TH4A expôs algumas dificuldades referente à coordenação da brinquedoteca, o que
pode ser averiguado nesta fala: Porque... eu coordeno a brinquedoteca, eu precisei que fosse
feito uma portaria (...) pra ser de direito e de fato, porque eu só era de fato. Então todos os
problemas que apareciam, eu tinha que ir atrás, tinha que resolver (...) mas na hora de colocar
alguma norma eu não tinha autoridade, então (...) eu pedi que fosse feito a portaria e foi feito.
Segundo TH4B, a coordenadora é responsável pela manutenção, organização e limpeza
do patrimônio da brinquedoteca, bem como pela obtenção de recursos e gerenciamento do
mesmo, ela também é responsável por disponibilizar o espaço e organizar os horários de
outros grupos que queiram usar a brinquedoteca, além de conduzir o projeto Visão do Outro
Lado.
O atendimento de crianças em grupo na brinquedoteca está sendo conduzido como parte
do estágio de terapia ocupacional, sendo desenvolvido pelos estagiários sobre supervisão de
TH4B. Tanto o projeto Visão do Outro quanto as atividades grupais serão detalhadas no
tópico 6: Planejamento e atividades desenvolvidas.
As reuniões entre a coordenadora, docente e estágio, ocorrem semanalmente e envolve
outros profissionais, caso estejam fazendo uso do espaço. Segundo TH4B são discutidos o
porquê da disposição dos materiais, avaliação das atividades desenvolvidas e da limpeza.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
61
6- Clientela
 H1
Segundo os participantes, a clientela atendida na brinquedoteca é de crianças de zero a
12 anos, em alguns casos as enfermarias pediátricas recebem pacientes com 13 anos e estes
também tem acesso ao espaço. Em relação à patologia, ela corresponde em sua maioria a
problemas respiratórios, renais, gástricos, crianças a serem submetidas a cirurgias eletivas,
tais como colostomia, que apresentam quadro de desnutrição, que foram vítimas de
escalpelamento ou abuso sexual. Há ainda os casos em que a criança ainda está sob
investigação diagnóstica.
Outros aspectos acerca da clientela se referem à cidade de origem, que pode ser tanto
da região metropolitana de Belém quanto do interior do estado, e a renda familiar, pois,
segundo as verbalizações dos técnicos, a maioria é de baixa renda. As falas de TH1C a seguir
ilustram tais informações:
“São crianças que chegam com medo, que chegam arredias. São crianças que vêm de uma
realidade diferente (...) a maioria é do interior, são pessoas que vêm de longe, dos rios, do sul do Pará,
crianças indígenas (...) agora as crianças saem melhor, a gente vê isso, melhora até o relacionamento
com a equipe de saúde, elas deixam fazer os procedimentos que antes elas não deixavam, perdem o
medo... brincam de médico...”
“A gente não tem nada assim de concreto, mas de cara no „olhomêtro‟ a gente vê assim que a
maioria é baixa renda”.
Para a TH1B, as crianças atendidas são duplamente carentes: financeira e
afetivamente, pois além de brinquedos, faltam-lhes adultos que brinquem com elas em suas
próprias residências, demandando muita atenção dos profissionais da brinquedoteca. A
participante relatou ainda que é feito um trabalho de estimulação aos acompanhantes para que
frequentem e brinquem com suas crianças, como mostra esta fala: “a estimulação é corpo a
corpo, brincar junto da criança e do acompanhante, mostrar pontos positivos, os ganhos fora
da brinquedoteca, pro desenvolvimento dessa criança”.
Ao serem confrontados, os dados obtidos por meio das entrevistas e das observações,
verificou-se congruência. Foi verificado a presença tanto de bebês quanto de pré-adolescentes
na brinquedoteca, além de acompanhantes.
 H2
Todos os técnicos afirmaram que a clientela infantil está na faixa etária de 0 a 12 anos,
mas pode se estender até os 15 anos, dependendo da avaliação da equipe médica. Como a
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
62
instituição é referência em cardiologia, a maioria das crianças hospitalizadas está em
tratamento cardiológico e aguardam cirurgia, seguidas daquelas que apresentam
comprometimento nefrológico, além de cirurgias eletivas, tais como as que se referem ao trato
urinário e a fimose.
De acordo com os técnicos, os pacientes são oriundos tanto da região metropolitana
quanto do interior do estado, sendo alguns de outros estados. Em relação ao aspecto sócioeconômico, as participantes TH2A e TH2C afirmaram que são em sua maioria de baixa renda.
O que pode ser ilustrado pela verbalização de TH2C: “Do Pará inteiro: indígenas,
comunidades ribeirinhas, que tem pais agricultores... carentes”.
 H3
Segundo TH3B, a clientela é composta de: “crianças, adolescentes, não existe
restrição da idade, os pais também”. Em relação à patologia, a maioria está fazendo
tratamento oncológico, mas há aquelas que estão no Hospital Dia aguardando leito, pacientes
da especialidade nefrológica, além dos acompanhantes dos pacientes pediátricos, como irmão
e filhos de paciente em tratamento quimioterápico. Além disso, a brinquedoteca disponibiliza
brinquedos para o Hospital Dia e para as crianças que estão internadas, por meio de
empréstimo de brinquedos, os quais são entregues aos pais.
TH3A descreve o público atendido com pessoas oriundas de diversas cidades do
estado e algumas de outros estados. No que diz respeito à classe econômica, a participante
afirmou que a brinquedoteca recebe usuários de todas as classes sociais, já que o H3 é a
instituição de referência em tratamento oncológico.
O número de pessoas atendidas na brinquedoteca diariamente é variável, a
brinquedista faz o registro dos pacientes que frequentaram o espaço, contudo está ausente o
registro das atividades desenvolvidas tanto pelos adultos quanto pelas crianças. Segundo
TH3A, permanecem dentro da brinquedoteca, durante um mesmo período de tempo, cerca de
25 crianças de manhã e de 15 à tarde e, em geral, os seus respectivos acompanhantes.
Durante as observações, estas informações foram verificadas.
 H4
Tanto TH4A quanto TH4B afirmaram que a clientela atendida é composta de crianças
de zero a 12 anos, em sua maioria estão com alguma doença infecto-contagiosa ou parasitária.
Como se observa no dado a seguir:
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
63
“A patologia varia muito dependendo do mês, é muito sazonal, tem muita criança com pneumonia,
leshimaniose, que estão com dreno pulmonar (...) tem também casos de meningite, tuberculose,
crianças soropositivos (...) crianças que sofreram acidente ofídico (...).” TH4B.
TH4B destacou ainda que a maioria é proveniente do interior do estado, mas que é difícil
precisar a renda, pois sendo o hospital referência em doenças tropicais, recebe pacientes de várias
classes sociais: “[crianças] geralmente vem bem do interior, que tem pouco contato com brinquedos,
com brinquedos, né?! Não com brincadeiras, que brincar elas brincam bastante, mas com esses
brinquedos mais urbanos... A renda eu não sei te informar, porque varia muito (...)”.
O número de pessoas que frequentam a brinquedoteca é variável, sendo difícil precisar
a média. TH4B relatou que a média de crianças que permanecem em um mesmo período seria
em torno de 15 e de acompanhantes, cinco.
7- Planejamento e atividades desenvolvidas
 H1
A equipe faz planejamento semestral e semanal dependendo da atividade em foco. A
comemoração das datas festivas são as que exigem um maior dispêndio de tempo e disposição
dos brinquedistas, sendo programadas no início do semestre, como ilustra a fala de TH1A:
“Nós fazemos o planejamento semestral das grandes festas: natal, dia da mulher, carnaval,
páscoa, dia das mães, festa junina, dia dos pais, das crianças. E temos nosso cronograma
semanal, nós temos a contação de histórias, oficinas, Sexta do cinema”.
No caso das celebrações, os técnicos foram unânimes em afirmar que a organização
fica sobre responsabilidade da equipe de um dos turnos, durante o período de um ano, sendo
os eventos realizados no horário do respectivo turno. O que pode ser comprovado por meio da
verbalização a seguir: “(...) um ano é equipe da manhã e no outro ano é a da tarde” (TH1B).
Entretanto a equipe do outro turno também participa das atividades que estão sendo
planejadas, o que pode ocorrer por meio de confecção de enfeites, adereços, promoção de
atividades expressivas relacionadas ao evento, como desenhos, pinturas, corte e colagem.
No que diz respeito às atividades diárias e semanais, também houve concordância
entre a fala dos participantes de que existe um planejamento prévio das atividades que
ocorrerão na semana. Contudo, o mesmo é sensível as demandas da clientela, sendo flexível.
Assim como as comemorações de datas festivas, as atividades são planejadas pelos técnicos
de cada turno. As falas abaixo retratam tais observações:
“a gente pensa muito por semana, porque já vimos que nosso público é muito rotativo, (...)
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
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[brinquedista] ver sempre quem tá na semana e vê as possibilidades de atividades”. (TH1C)
“Olha, a TH1B faz o planejamento dela e a gente [TH1A e TH1C] faz o nosso à tarde”
(TH1C).
Os participantes deste hospital argumentaram que as atividades dirigidas, propostas
por eles, não se tornam empecilho ao livre brincar, pois é permitida à clientela a decisão de
participar, sem que haja repreensão quanto à escolha. Uma das verbalizações que pode ilustrar
isso é a de TH1A: “Mas o nosso funcionamento é de atividade livre, nós convidamos, mas a
criança que escolhe o que quer fazer. É um espaço pra brincar livre”. Outro serviço oferecido
à clientela é o empréstimo de brinquedo.
Em relação a planejamento, TH1B acrescentou que há a pretensão de tornar o espaço
da brinquedoteca um espaço de estudo e pesquisa, tendo em vista o vínculo que o hospital tem
com instituições de ensino superior. Afirmou ainda que o objetivo a curto prazo é a aquisição
de novos materiais lúdicos e, a longo, a implementação de um programa para cadastro dos
brinquedos.
O horário de funcionamento do espaço no turno matutino é das 9:30 às 11:00 e no
vespertino das 15:00 às 17:30, de segunda a sexta-feira. No período de 7:00 às 9:00, a
brinquedoteca fica disponível a profissionais que queiram realizar algum atendimento
individualizado no espaço. De acordo com TH1B, os técnicos que requisitam a brinquedoteca
são, em geral, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e psicólogos.
Cabe ressaltar que a abertura da brinquedoteca, em ambos os turnos, pode variar para
mais ou para menos, dependendo da distribuição do lanche às crianças. Segundo os técnicos,
eles verificaram que quando as atividades da brinquedoteca iniciavam antes do lanche, parte
das crianças resistia em sair do espaço para fazer a refeição. Eles acreditam que a relação
entre a abertura da brinquedoteca e o lanche é um incentivo para que as crianças se
alimentem.
As observações permitiram confirmar os dados obtidos por meio das entrevistas no
que se refere ao horário e dias de funcionamento, as celebrações, as atividades dirigidas e a
brincadeira livre. Tendo em vista que durante o período de coleta de dados foi verificado a
realização de festinhas, como no dia das crianças, o desenvolvimento de lembranças e adornos
para a brinquedoteca e enfermaria com a temática natalina, promovida por técnicos do turno
contrário em que a comemoração se realizaria e promoção do brincar livre.
A brinquedoteca do H1 expõe algumas regras acerca de seu uso, por meio de um
cartaz afixado na porta, estas se referem: retirar os calçados, lavar as mãos quando entrar e
sair, não é permitido entrar e/ou comer dentro do espaço e deixar a porta fechada.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
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 H2
Em relação às atividades que estão sendo desenvolvidas e o seu planejamento, todas
as participantes relataram que a programação anual abrange as principais datas festivas, como
exemplifica a fala de TH2C: “Durante o ano nós comemoramos as datas festivas, no carnaval
nós fazemos um bloco (...). Em abril nós fazemos um lanche diferenciado (...) porque é a
páscoa. Em maio tem o café da manhã dos dias das mães (...). depois é a festa junina (...). Em
julho a gente faz algo que remeta a praia (...) comemoração do dia dos pais (...) dia das
crianças e atividades de jogos esportivos... e dezembro é Natal”.
No que se refere ao planejamento semanal, são desenvolvidas oficinas pelas
estagiárias de terapia ocupacional às quintas-feiras, contemplando tanto os acompanhantes
quanto as crianças e o “Dia da pipoca”, em que há exibição de filmes. As técnicas citaram
ainda outras atividades que estão vinculadas ao Projeto Curumim, ao qual a brinquedoteca faz
parte, como o “Projeto Sorria” em que um grupo de teatro vai ao hospital realizar atividades
lúdicas, visitando os leitos e a brinquedoteca. Os técnicos destacaram que são oferecidas à
clientela tanto atividades dirigidas quanto livres, cabendo-lhes escolher do que participarão
sem qualquer forma de represália.
Foram relatadas ainda a realização das campanhas “Padrinho Curumim” e “Padrinho
Solidário”, no primeiro ocorre a doação de um brinquedo novo à brinquedoteca e no segundo,
a uma criança específica.
A equipe da brinquedoteca do H2 planeja algumas ações para expandir a
brinquedoteca como demonstra a fala de TH2A: “A médio e longo prazo é a ampliação da
sala de TV como uma brinquedoteca aberta e adquirir 10 carrinhos pra fazer a brinquedoteca
ambulante. E a curto prazo é a aquisição de novos brinquedos”. Atualmente, a referida sala
tem um aparelho de TV e cadeiras fixas, sendo situada na clínica pediátrica.
A brinquedoteca funciona todos os dias da semana nos seguintes turnos: de manhã
de 8:30 às 11:30
e a tarde de 14:30 às 17 horas. Nos finais de semana e feriados, o
responsável pelo espaço é um auxiliar de reabilitação que está de plantão que pode estar
lotado em quaisquer das clínicas do hospital.
Durante as observações, foi possível verificar a veracidade das informações
fornecidas, tanto em relação atividades oferecidas quanto ao horário de funcionamento.
 H3
A brinquedoteca conta com ações planejadas a curto, médio e longo prazo, como
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
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exemplifica a fala de TH3B: “A nossa programação acompanha a programação do Prosseguir,
nós planejamos as datas comemorativas, em conjunto com a programação da sala de aula que
fazemos. E planejamos também passeios ao longo do ano, nós já fomos pra INFRAERO, já
fizemos city tour, ida ao Mangueirão...”
TH3A acrescentou que são realizadas em médio prazo oficinas na brinquedoteca e na
sala de aula como a confecção de enfeites, que em geral estão relacionadas às datas
comemorativas, cujo planejamento ocorre ao longo do ano e requerem um tempo maior para a
organização. Além destas atividades, são planejadas ainda passeios dentro do espaço do
hospital, para conhecê-lo.
As atividades semanais, cujo planejamento ocorre a curto prazo, incluíam o livre
brincar e brincadeiras dirigidas, tais como: atividades de teatro, pintura, colagem e uma vez
por mês, cinema, onde a clientela assiste a um filme. A brinquedoteca fica aberta sete horas
por dia, nos seguintes horários: de 8:00 às 12:00 h e de 14:00 às 17:00 horas, de segunda a
sexta-feira.
A brinquedoteca do H3 também realiza serviço de empréstimo de brinquedo às
crianças que estão internadas.
Durante as observações, estas informações foram verificadas.
 H4
As participantes TH4A e TH4B destacaram que o planejamento em longo prazo se
refere às atividades do projeto “Visão do outro lado” que é vinculado a ela e ocorre
mensalmente. TH4A afirmou que são planejadas também reformas na estrutura da
brinquedoteca, citando que no ano da coleta de dados havia sido renovada a pintura, feito
manutenção na porta de rolar e telhado.
Segundo as técnicas, as atividades do projeto “Visão do outro lado” são eventos sócioculturais que favorecem uma integração entre as crianças, os acompanhantes e a equipe
técnica. Fazem parte do referido projeto, profissionais de diferentes áreas: Psicologia,
Fonoaudiologia e Serviço social. A fala de TH4A expõe a origem do projeto:
“(...) esse projeto partiu da brinquedoteca, no final de 2001. (...) nós pensamos em como fazer um
piquenique na área externa do hospital (...). Aí nós fizemos e avaliamos assim: que além da criança, o
acompanhante também teve benefícios com aquela atividade a partir daí teve o projeto, então eu vejo o
projeto como uma extensão da brinquedoteca”.
Em janeiro de cada ano, os profissionais envolvidos no projeto “Visão do outro lado”
se reúnem e programam os eventos que ocorrerão em cada mês do ano, que pode ser a
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
67
celebração de alguma data festiva, um piquenique ou o festival do açaí. À medida que o dia da
atividade se aproxima, são feitas campanhas de capacitação de recursos tanto provenientes da
direção hospitalar quanto da doação de pessoas físicas e jurídicas.
Acerca das atividades planejadas em curto prazo, as participantes relataram o
atendimento em grupo de crianças na brinquedoteca, o que é feito uma vez por semana. Em
relação à periodicidade do funcionamento da brinquedoteca, TH4A fez o seguinte relato:
“Como a gente tem essa particularidade, da brinquedoteca ser externa ao espaço da
internação, não tem como a gente dispor pra criança tá lá todo dia, é impossível, não tem
como nós estarmos fazendo essa descida todos os dias, porque nós não temos pessoal
suficiente pra fazer isso, a pediatria está no segundo andar e a brinquedoteca está no
estacionamento no térreo (...).
Como exposto no tópico 4, Coordenação e equipe, a atividade semanal da
brinquedoteca fica a cargo do estágio de Terapia Ocupacional, cuja supervisão está sendo feita
por TH4B. De acordo esta, o planejamento começa a ser feito na terça-feira por uma dupla de
alunos, no dia seguinte estes lhes repassam as atividades que pretendem desenvolver, então é
feita uma avaliação a respeito da adequabilidade da programação à clientela e ao espaço,
ocorrendo na quinta-feira a atividade. Na semana seguinte, a atividade ficará a cargo de outra
dupla de estagiários.
As técnicas afirmaram que podem ser oferecidos tanto o livre brincar quanto
atividades direcionadas. De acordo com TH4B, nas primeiras semanas em que os estagiários
atendem o grupo de crianças na brinquedoteca, é promovido o brincar livre, nas semanas
sucessivas fica a critério da dupla de estagiários que tipo de atividade irá ocorrer.
TH4B enfatizou, durante a entrevista, a existência e a importância de algumas normas
de como os estagiários devem proceder no dia da atividade, como se verifica em uma de suas
verbalizações: “[estagiários] tem que seguir todo um procedimento pra descer as crianças e
seguir esse procedimento a risca, porque é um espaço que é externo ao hospital”.
A preparação para a ida das crianças à brinquedoteca se inicia por volta de oito e meia,
os estagiários vão à enfermaria pediátrica e convidam as crianças e seus acompanhantes para
o atendimento em grupo na brinquedoteca. Entretanto, é oferecida ao acompanhante uma
atividade concorrente e incompatível, em geral, oficinas que ocorrem na sala de aula, situada
na própria enfermaria. Isto foi verificado por meio das observações e fica claro nestas falas:
“a gente também utilizava [espaço da brinquedoteca] pra oficina com os acompanhantes, mas
o que a gente viu: que as crianças interferiam na oficina das acompanhantes e que as acompanhantes
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
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interferiam na brincadeira das crianças (...) além do que, o espaço é pequeno”. TH4A.
“[estagiários] passam em todas as enfermarias convidando as crianças e os pais a participarem
de um atendimento em grupo, aí eles explicam que é na brinquedoteca (...). A gente aproveita o ensejo
pra convidar o pai, a mãe, a participar de um grupo que é paralelo a ele”. TH4B.
“A gente deixou só as crianças lá em baixo, e tem uma oficina pras mães aqui em cima (...)
mas assim, as mães que querem descer com as crianças (...) descem e são integradas lá. Até porque
tem aquela criança que só vai descer com a mãe (...)”. TH4A.
Durante a visita, em que é feito o convite para participar do espaço, a dupla de
estagiários faz uma listagem das possíveis crianças que tem condições clínicas para irem à
brinquedoteca. Esta primeira seleção é encaminhada para a chefia de enfermagem, que
confere a real possibilidade daquelas crianças descerem, atentando-se para exames e
procedimentos agendados no mesmo horário do funcionamento da brinquedoteca, se há
necessidade de repouso, dentre outros fatores. Após esta avaliação é feita uma segunda lista,
onde consta os nomes daqueles que estão aptos a saírem da enfermaria, uma cópia da listagem
fica na enfermaria e a outra com os estagiários.
Por volta de nove e meia os estagiários vão à brinquedoteca, abrem-na para ventilar,
colocam na área externa as cadeira e mesas, caso haja algum material a ser utilizado durante o
atendimento, este é separado e organizado. Às dez horas eles sobem e começam a chamar as
crianças para o ponto de encontro que fica na frente do posto de enfermagem. A volta à
enfermaria acontece por volta de 11:30, 11:45, pois segundo as participantes, ao meio dia é
servido o almoço e parte das crianças recebem medicação nesse horário.
Nos demais dias da semana, o espaço pode ser utilizado para atendimento terapêutico
individualizado por profissionais da terapia ocupacional e psicologia, por exemplo.
A brinquedoteca do H4 realiza empréstimo de brinquedos, sendo registrado em um livro o
nome da criança, a enfermaria, o leito e quem disponibilizou o brinquedo do acervo. Segundo
TH4B, em geral, o empréstimo ocorre por um período de 24 horas. Entretanto, se a criança
estiver sem previsão de alta, esse prazo pode ser estendido.
Discussão
Como se verifica na fala dos técnicos, a criação da brinquedoteca nos hospitais
pesquisados parece ter sido suscitada pela percepção de alguns profissionais de que as
demandas da criança são diferentes daquelas do paciente adulto. O que sugere a concepção de
que a criança se encontra em uma fase peculiar do desenvolvimento e que isto não deve ser
negligenciado no contexto hospitalar. A brincadeira parece se tornar, então, tanto uma medida
para estimular os aspectos que se mantém saudáveis quanto para favorecer a recuperação mais
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
69
rápida da criança enferma.
Deste modo, os dados indicam que a implantação da brinquedoteca foi uma estratégia
para garantir à criança um atendimento mais qualificado e a continuidade de seu
desenvolvimento. Isto é reforçado pelo fato de que em apenas um hospital (H1) a criação da
brinquedoteca ocorreu após a promulgação da lei 11.104/05.
Como apresentado nos resultados, somente uma brinquedoteca é do tipo ambulatorial,
o que implica em algumas especificidades, quando comparadas com aqueles que atendem
crianças internadas. Um deles é que a clientela se encontra em “estado de espera” e o outro é
o grande fluxo de pessoas.
Todavia, relatos de experiências como os de Azevedo (2010a) e Drummond e cols.
(2009) oferecem reflexões pertinentes acerca das brinquedotecas ambulatoriais, onde se
aponta que estes serviços acalmam, descontraem e auxiliam na preparação das crianças à
submissão de exames. Para os adultos os benefícios estariam relacionados à oportunidade de
observar e brincar com as crianças, a percepção de que o brincar favorece uma maior
aceitação da criança aos procedimentos hospitalares. A autora considera que os relatos de
experiências “articulados” a estudos teóricos e investigativos podem certificar uma prática
competente e sistematizada nos hospitais.
No que diz respeito aos profissionais que estiveram envolvidos na implementação da
brinquedoteca, foram encontradas diferenças tanto em relação ao número de pessoas quanto à
formação, destacando os assistentes sociais que foram citados em três dos quatro hospitais.
No tocante ao projeto de implantação, observou-se que somente no H1 foi elaborado
um projeto de implantação da brinquedoteca que contemplasse outros aspectos além de
infraestruturais. Em apenas neste, foi relatada uma parceria entre o poder público e empresas
privadas. Acrescido a isto, há pouca informação acerca de uma possível investigação com fins
de discriminar as demandas que o serviço de brinquedoteca atenderia, o que pode ser em parte
explicado pelo fato de que a maioria dos entrevistados trabalhavam em outras instituições
durante o processo de implantação.
Quase todas brinquedotecas investigadas carecem de um projeto ou de documentos
que tratem da organização, funcionamento e dos recursos humanos e financeiros necessários à
manutenção do espaço e das atividades oferecidas. Contudo, vale ressaltar a iniciativa de H2 e
H3 em escrever um projeto que contenha o funcionamento atual de suas brinquedotecas, são
estes hospitais em que o serviço de brinquedoteca faz parte de um projeto mais amplo.
Os dados desta pesquisa vão ao encontro da observação de Dietz e Oliveira (2008) e
Magalhães e Pontes (2002) de que em muitos casos a implantação da brinquedoteca ocorre
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
70
sem que haja uma sistematização de como isto deve ser feito, o que pode se estender ao
próprio período de manutenção.
Um caso semelhante à criação das brinquedotecas hospitalares belenenses pode ser
encontrado no relato de experiência de Viegas (2002), quando afirma que a brinquedoteca em
que atuava havia surgido de necessidades naturais e não de um planejamento, faltando-lhe
ainda um sistema mais detalhado de registro de brinquedos, de um método de avaliação
periódica e preparação técnica (curso de preparação de brinquedista). Ressalta-se, tal como
argumentado pelos autores Magalhães e Pontes (2002), que um projeto de brinquedoteca deve
ser flexível e adaptável às demandas que surgem. Isto ratifica o alerta de que algumas
precauções devam ser tomadas, antes de se efetivar uma rotina de funcionamento, tais como:
engajamento da equipe responsável pela brinquedoteca na construção do seu projeto; traçar os
objetivos que irão fundamentar a brinquedoteca; obter apoio da direção do hospital; análise
crítica do tipo de relações que se estabelecem dentro do hospital; disponibilidade de recursos
e estudo das condições físicas mais adequadas.
No que se refere à localização, a brinquedoteca do H4 é a única situada na área externa
da instituição. Contudo, o fato de uma das enfermarias pediátrica do H1ser em um prédio
diferente daquele em que a brinquedoteca foi construída, também restringe uma maior
participação da clientela. Se por um lado a localização da brinquedoteca do H4 impossibilita
que parte das crianças não tenha acesso a ela, devido à falta de acessibilidade e suas condições
clínicas; por outro, para quem pode frequentá-la há a possibilidade de se insere em um
contexto que pouco lembra o hospitalar, um local arborizado e que favorece o
desenvolvimento de brincadeiras de exercício físico.
Os principais sinalizadores da localização das brinquedotecas pesquisadas parecem ser
uma pintura diferenciada e a visualização de seu espaço interior através de portas e janelas de
vidro transparente. Além disso, em três dos quatro hospitais investigados há uma placa com o
nome brinquedoteca.
Como se pôde verificar pelos dados, as brinquedotecas investigadas tem áreas
diferentes, sendo a menor delas a do H3 e a maior a do H1, caso seja desconsiderado a área
arborizada que a brinquedoteca do H4 está inserida.
Os resultados referentes à estrutura física, ventilação, iluminação, diversidade e acesso
ao material lúdico são alguns indicadores pertinentes do alcance dos objetivos que a
brinquedoteca se propôs, devendo ter uma infraestrutura adequada à clientela (Fortuna, 2005)
e uma atenção especial ao uso de cores, à decoração, adequação e arrumação dos brinquedos,
ao tamanho das estantes entres outros (Carmo, 2008; Magalhães & Pontes, 2002).
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
71
Em relação à iluminação e ventilação, também foram encontradas diferenças já que,
dependendo do local e das janelas da brinquedoteca, havia necessidade ou não do uso de luz
artificial e ar condicionado. Foi verificado que somente no hospital H3 existem banheiros para
atender a clientela. No caso dos H1 e H2, a proximidade da brinquedoteca com os banheiros
da enfermaria parece justificar a ausência dos mesmos. Entretanto, para que a clientela do H4
possa utilizar os banheiros, precisa se deslocar até o prédio do hospital.
No que diz respeito ao acervo, foi verificado diferenças tanto na quantidade quanto na
diversidade. Contudo, em todas brinquedotecas foram encontrados brinquedos de faz-deconta, blocos de montar e jogos de tabuleiro, como de memória e damas. Os jogos eletrônicos
e computadores foram encontrados apenas no H3, sendo que nenhuma das brinquedotecas
oferece acesso à internet para a sua clientela.
A grande presença de brinquedos tipificados culturalmente como de crianças em
comparação com aqueles que envolvem estratégias, jogos sociais e tecnologia pode
caracterizar a brinquedoteca como um espaço exclusivo para as crianças ou pouco atrativos
para adolescentes e adultos. De acordo com Cunha (2007), o enriquecimento do brincar
melhora a qualidade de vida, desse modo, a diversificação dos jogos e brincadeiras aumenta
as oportunidades de desenvolvimento.
A respeito da organização e acesso da clientela aos brinquedos, os resultados
encontrados são compatíveis com Cunha (2007), já que esta discorre que brinquedos como
jogos de construção e para estimulação do bebê devem ser colocados em prateleiras baixas,
que facilitem seu manuseio, enquanto jogos com regras e alguns outros, mesmo estando à
disposição das crianças devem ser alocados em lugares supervisionados, evitando perda de
peças e acidentes.
Outro aspecto que merece destaque se refere à disponibilidade de livros à clientela,
que foi observado em três das quatro brinquedotecas, como se pôde verificar pelo diagrama.
Destaca-se que o acervo de livros e revistas das brinquedotecas do H2 e H3 deve ser
constantemente renovado, posto que estes hospitais oferecem tratamentos de longo prazo.
Além disso, uma maior diversidade dos tipos de literatura (infanto-juvenil, nacional,
estrangeira e outros) e dos materiais que os livros foram confeccionados (papel,
emborrachado, pano...) poderia estimular a participação de pessoas de diferentes faixas etárias
no espaço e do hábito da leitura.
Acerca da higienização, os dados mostram algumas diferenças entre a frequência que
esta ocorre nas brinquedotecas pesquisadas. Salienta-se que, sendo o tempo de funcionamento
e a clientela diferenciados entre os hospitais, as demandas de higienização também são
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
72
distintas. Alguns brinquedos grandes, quando não levados à boca e em local que não haja
pessoas com doenças contagiosas, poderão ser lavados semanalmente (Cunha & Viegas,
2004).
Entretanto, as dificuldades relatadas por uma das participantes do H4 para garantir
uma limpeza adequada da brinquedoteca, mesmo que já sanadas, sugerem uma falta de
comprometimento da gestão que estava administrando o hospital no período referido pela
entrevistada. A higienização é um dos aspectos primordiais para a eficácia e sobrevivência de
uma brinquedoteca situada em um hospital, as brinquedotecas devem ter uma política de
desinfecção dos brinquedos e do espaço.
Freitas, Silva, Carvalho, Pedigone, e Martins (2007) após avaliarem a presença de
bactérias nos brinquedos de uma brinquedoteca hospitalar e analisarem o perfil de resistência
dessas às drogas, concluíram que os riscos dos brinquedos causarem infecção cruzada são
evidentes e que, portanto, medidas preventivas são essenciais.
Diante disso, considera-se que a atitude tomada por uma das técnicas de suspender o
atendimento, enquanto a higienização da brinquedoteca estava sendo feita de forma
insuficiente, está de acordo com uma visão integral de ser humano e de promoção à saúde.
Aliado a isto, a iniciativa desta em construir uma cartilha em parceria com o centro de
controle de infecção hospitalar merece ser destacada, pois o material elaborado se constitui
em documento que orienta e formaliza como a higienização deve ocorrer.
Segundo os dados levantados, o espaço que as brinquedotecas pesquisadas tem
oferecido atende em grande parte as demandas que chegam até elas, tendo em vista, por
exemplo, a altura das prateleiras de brinquedo, espaços arejados ou o uso de aparelho de ar
condicionado, mais de uma opção de iluminação, pintura e/ou decoração diferenciada das
demais dependências do hospital.
Todavia, faz-se necessário notar que provavelmente algumas destas brinquedotecas
seriam mais eficazes na concretização de seus objetivos se dispusessem de uma área mais
extensa, tivessem maior acessibilidade, maior variedade de brinquedos e livros.
Em metade das brinquedotecas está ausente a figura do coordenador, isto gerou um
dos aspectos que diferenciam o método utilizado nesta pesquisa com o de Dietz e Oliveira
(2008), que entrevistaram somente os coordenadores de cada brinquedoteca. Em relação ao
gênero, foi encontrado somente um homem como integrante da equipe da brinquedoteca, o
que se assemelha com os dados apresentados por Langendonckt (2007a), em que 85% dos
brinquedistas da Bélgica e 90% da França são mulheres.
Os dados mostram a incisiva participação dos profissionais de terapia ocupacional na
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
73
brinquedoteca, seguida pelos de Pedagogia. Em apenas uma brinquedoteca (H2) há uma
psicóloga. Além disso, foi constatado que as brinquedotecas hospitalares belenenses se
diferenciam no que se refere ao número de membros e a formação.
Alguns dos fatores que podem estar imbricados em uma composição diferenciada das
equipes são: história relativamente recente da criação das brinquedotecas no Brasil (década de
80) e, consequentemente, um desconhecimento por parte da sociedade de sua função; poucos
cursos de formação de brinquedista, particularmente, fora do eixo sul e sudeste. Além da falta
de uma efetiva regulamentação de como a equipe da brinquedoteca hospitalar deveria ser
composta, apesar da promulgação da lei 11.104/05 e da Portaria 2.261/05.
Segundo a reportagem “Ludothécaires à la recherche d‟une identité commune”, da
revista La Gazzete Sante Social (nº 46 novembre 2008), há um crescimento do número de
cursos de formação especializada para brinquedista, entretanto as diferenças do ponto de vista
do conteúdo e dos níveis de educação são evidentes. De acordo com Natália
Ensnantechercheuse Roques, entrevistada pela reportagem citada, as disparidades nos perfis
dos brinquedistas e o exercício da profissão sob a égide de diversas outras profissões, como
biblioteconomia e psicologia, leva a uma diversidade de práticas, o que contribui pouco para a
legibilidade da profissão de brinquedista no mercado de trabalho.
Em uma linha semelhante de raciocínio, Langendonckt (2007a) discute que o
brinquedista é geralmente definido segundo seu lugar de trabalho - a brinquedoteca e, às
vezes, de acordo com sua ferramenta que é o jogo. Ele acrescenta que a definição de quem
seriam estes profissionais ainda é feita com certa dificuldade, recorrendo-se à formação
anterior. Dentre as razões que estariam dificultando a consolidação do brinquedista como
profissional estão: desvalorização do jogo na cultura ocidental e a dimensão informal de parte
de suas atividades (Langendonckt, 2007 b).
Apesar dos artigos referendados serem em francês e datar de 2007, sua argumentação
parece ser válida para a realidade brasileira. Por outro lado, o envolvimento de técnicos
provenientes de diferentes formações, como o averiguado nas brinquedotecas pesquisadas,
sugere que diversas áreas do conhecimento, então, concebem a criança como um ser em
formação, onde a brincadeira, mais do que um passatempo, é um modo de apreender,
participar e transformar o mundo em que se está inserido e, portanto, deve ser garantida como
um direito independente do contexto onde a criança esteja.
O olhar diferenciado de cada profissional, também pode gerar um conhecimento mais
abrangente acerca da brinquedoteca, caso os técnicos estejam dispostos a investigar, teorizar e
divulgar acerca de suas práticas.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
74
Com exceção do H3, a clientela corresponde a pacientes pediátricos internados, cuja
faixa etária é em geral de zero a 12 anos, e a seus respectivos acompanhantes. A
brinquedoteca do H3 atende a um público mais diversificado, por ser ambulatorial. Em
relação a patologias, verificou-se que cada hospital atende a um grupo específico de agravos à
saúde, sendo que poucos deles são tratados em mais de um. Diante disso, a dinâmica de cada
uma destas brinquedotecas também deve ser peculiar, pois as diferentes patologias implicam
em tempo de internação, repouso e condições clínicas díspares.
Como relatado na seção de resultados, em metade das brinquedotecas os técnicos
afirmaram que a clientela se compõe, em sua maioria, de pessoas de baixa renda. Além disso,
eles destacaram a presença de pacientes do interior do estado em suas brinquedotecas, o que
provavelmente se deve ao fato dos hospitais investigados serem de referência no tratamento
de diversas patologias, além de serem gratuitos. Tais características devem implicar em uma
atenção perspicaz à bagagem cultural que as crianças e seus acompanhantes trazem, de forma
que a brinquedoteca possa oportunizar atividades e brinquedos que remetam ao cotidiano
desta clientela.
Em relação ao horário de funcionamento, 3 delas oferecem atendimento tanto no
período matutino quanto vespertino, sendo que uma delas abre aos domingos e feriados. A
brinquedoteca do H4 é a única que funciona somente uma vez por semana. Este atendimento
descontínuo pode comprometer a obtenção dos objetivos da brinquedoteca hospitalar
descritos na literatura, tendo em vista que pode dificultar o estreitamento de vínculo entre a
clientela e os profissionais, um conhecimento mais amplo tanto dos técnicos quanto dos
acompanhantes de como a criança está funcionando no contexto hospitalar, a realização de
atividades mais rotineiras e prazerosas da criança que é a brincadeira, e todos os
desdobramentos relativos ao desenvolvimento que estão implicados nela.
Segundo o relato dos técnicos, todas as brinquedotecas promovem atividades dirigidas,
mas sem comprometimento do livre brincar, já que a clientela pode escolher sem qualquer
forma de represália se quer participar. Acerca das celebrações de datas festivas, todas
brinquedotecas promovem-nas. Os entrevistados destacaram ainda que o planejamento das
atividades leva em consideração o perfil da clientela, que é variável em função da patologia e
idade.
Apesar da experiência de Magalhães e Pontes (2002), em assessoria, ter sido em
brinquedotecas escolares, algumas conclusões podem ser estendidas aos demais tipos de
brinquedotecas, dentre elas aquelas referentes ao planejamento da utilização temporal do
espaço. Semelhante as informações prestadas pelos participantes, estes autores afirmam que a
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
75
dinâmica de uma brinquedoteca impede que seu planejamento seja de longo prazo, com
exceção de alguns eventos como a celebração de datas comemorativas, a brinquedoteca deve
estar em sintonia com a dinâmica de desenvolvimento da clientela.
No tocante a reserva de um horário para as reuniões da equipe, em metade das
brinquedotecas falta uma rotina de reuniões sistemáticas, o que se torna mais acentuado pela
equipe ser dividida por turnos. Os técnicos destas instituições afirmaram reconhecer isto como
uma falha, causada, principalmente, pela diferença entre os horários de trabalho dos membros
da equipe e/ou da disposição de alguns deles. Algumas estratégias utilizadas para contornar
esta situação são o uso de livros de ocorrência, conversas diárias a respeito do funcionamento
da brinquedoteca e da clientela, troca de informações por meio de técnicos que tem dupla
jornada no hospital. Em relação a estudo de caso e discussão teórica, elas ocorrem nos
hospitais que oferecem estágios curriculares no momento da supervisão.
A literatura tem enfatizado a necessidade de se reservar um horário tanto para a
formação continuada quanto para avaliação e planejamento. Tendo em vista que isto permite a
atualização do conhecimento, a manutenção dos aspectos satisfatórios, análise das falhas, dos
recursos que se tem, da resolução de impasses e busca de soluções, sendo o intervalo entre
reuniões demarcado de acordo com as tarefas propostas pelo grupo, do total de pessoas
atendidas e da disponibilidade de tempo (Cunha, 2007; Magalhães & Pontes, 2002; Dietz &
Oliveira, 2008).
A análise dos dados caracteriza a brinquedoteca como uma instituição fruto de um
processo histórico, de tal modo que as relações, organização e seu funcionamento atual trazem
traços e em parte se estruturam de acordo com o modo que ela foi pensada e as condições que
estavam postas durante sua implantação. Verificou-se, ainda, que o perfil da clientela atendida
nas brinquedotecas investigadas era diferente entre si, o que trás demandas e recursos também
distintos. Diante desses aspectos, uma comparação que desconsidere as peculiaridades
inerentes ao contexto de cada brinquedoteca pode produzir um conhecimento errôneo acerca
delas.
Vale ressaltar que ao longo da pesquisa ocorreram algumas modificações tanto em
relação à equipe quanto em relação à organização e funcionamento do espaço, dentre elas a
substituição de docentes, disposição de alguns brinquedos e alteração de algumas atividades
dirigidas, o que não invalida a relevância científica dos resultados obtidos. Dessa forma, foi
apresentada a configuração encontrada quando o estudo iniciou.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
76
II SEÇÃO –AUTOVALIAÇÃO DE ÍNDICES DE QUALIDADE E CONCEPÇÃO DA
BRINQUEDOTECA
Nesta seção serão apresentados os dados oriundos da Escala Autoavaliativa de Índices
de qualidade- EAIQ (Oliveira, 2010), baseado nos indicadores da Carta de Qualidade das
Ludotecas Francesas (Lucot, 2005). O instrumento é composto por 27 itens em forma de
afirmativas onde o técnico deveria responder em uma escala do tipo Likert: 0 (não sei), 1
(afirmação incorreta), 2 (afirmação parcialmente correta) e 3 (afirmação plenamente correta);
em seguida, há três questões abertas acerca do conceito de brinquedoteca hospitalar, de sua
função e do papel da família no espaço.
A exposição dos resultados está organizada por hospital, sendo apresentada na
discussão uma síntese destes, de modo a averiguar as similaridades e diferenças entre as
instituições e com o que está posto na literatura.
Resultados referentes à EAIQ
As figuras 36, 37, 38 e 39 apresentam os dados referentes aos itens 1 a 27 da EAIQ.
As afirmativas que compunham o instrumento foram agrupadas em quatro categorias:
“Planejamento”; “Operacionalização”; “Equipe” e “Ambiente e acervo lúdico”, descritas a
seguir.
1- Planejamento: se refere à existência de um diagnóstico prévio à implantação do
espaço, bem como de um projeto discriminando seus objetivos e a operacionalização. Foram
incluídas nesta categoria as afirmativas (A): 1, 2, 3, 4, 5.
2-Funcionamento: refere-se a aspectos como: a gratuidade, regularidade, divulgação,
adaptação à clientela, controle da frequência e identificação de possíveis parceiros. Compõem
esta categoria as afirmativas (A): 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13,17.
3- Equipe: envolve a formação acadêmica e profissional, suas atribuições, acolhida à
clientela, integração com a família, domínio da utilização dos jogos; cujas afirmativas (A)
são: 14, 15, 16, 18, 19, 22.
4- Ambiente e acervo lúdico: refere-se à segurança, diversidade, adequação à
clientela, classificação, armazenamento, higienização, acesso e circulação dos jogos e dos
brinquedos. Fazem parte desta categoria as afirmativas (A): 20, 21, 23, 24, 25, 26, 27.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém

77
H1
A figura 37 apresenta os dados obtidos por meio da aplicação dos itens 1 a 27 da
Escala Autoavaliativa de Índices de Qualidade- EAIQ aos técnicos do H1.
Figura 37. Resposta dos técnicos do H1 aos itens 1 a 27 da EAIQ.
A categoria “Planejamento” foi a que obteve a menor pontuação. Para todas
afirmativas, pelo menos um técnico as considerou incorretas, não tinha conhecimento para
responder ou parcialmente corretas.
Entretanto,
das afirmativas que compunham “Funcionamento”, cinco de nove
obtiveram a pontuação máxima dos técnicos, estas se relacionavam à gratuidade do serviço,
regularidade e adaptação do funcionamento à clientela, favorecimento e promoção do brincar
livre, recuperação escolar, além de proporcionar o contato com os familiares por meio do
brincar. No entanto, falta identificar os possíveis financiadores e parceiros, bem como contato
com fabricantes e comerciantes de brinquedos para a sua compra e doação.
Em relação à categoria “Equipe”, as afirmativas 18 e 22 foram consideradas como
plenamente corretas. Segundo estas, o pessoal se mostra disponível e acolhedor à clientela,
além de ser reservado tempo para a seleção, aprendizagem, aplicação e gestão do ambiente e
do material lúdico. As afirmativas 14 (Possui brinquedista assalariado) e 16 (Conta com
voluntários) foram as únicas em que um dos técnicos respondeu como incorreta. Acerca da
A14, provavelmente houve divergência na compreensão de quem seria este profissional, pois
as respostas variaram de 1 a 3, vale ressaltar que os técnicos são concursados pelo governo do
estado e que no início da coleta de dados participavam da equipe duas acadêmicas bolsistas,
cujas bolsas não foram renovadas. De forma semelhante, a incongruência de respostas à A16
pode ser devida a uma caracterização diferente de quem seria e das atribuições esperadas do
voluntariado.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
78
A categoria “Ambiente e acervo lúdico” foi a melhor avaliada. A afirmativa 24 (Os
jogos e brinquedos estão devidamente classificados) foi a única considerada incorreta,
enquanto a 20, 23, 26 e 27 obtiveram a máxima pontuação (afirmação plenamente correta);
estas se referiam às condições de higiene do ambiente e do material lúdico, sua diversidade e
acessibilidade, além da existência de controle sobre o empréstimo de brinquedos.

H2
A figura 38 apresenta os dados obtidos por meio da aplicação dos itens 1 a 27 da
Escala Autoavaliativa de Índices de Qualidade- EAIQ aos técnicos do H2.
Figura 38. Resposta dos técnicos do H2 aos itens 1 a 27 da EAIQ.
Os dados indicam a categoria “Planejamento” como aquela menos próxima das
orientações apresentadas pela Carta de Qualidade das Ludotecas Francesas, tendo em vista
que nenhuma das afirmativas foi avaliada como plenamente correta por todos os técnicos.
Salienta-se que a afirmação 1, que se refere a realização de um diagnóstico do ambiente e da
clientela anterior à implantação da brinquedoteca, obteve as respostas “não sei” ou “afirmação
incorreta”.
Em relação às afirmativas da categoria “Funcionamento”, seis de nove foram avaliadas
favoravelmente, sendo consideradas como plenamente corretas; estas se referem à gratuidade,
a regularidade e adaptação à clientela, efetiva divulgação do espaço, controle da frequência
dos usuários, a promoção do brincar livre e espontâneo e o favorecimento do contato com
familiares através do brincar. Todavia, esta instituição ainda carece de identificação de
possíveis financiadores e parceiros, além de contato com fabricantes e comerciantes de
brinquedos para a sua compra e doação.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
79
Na categoria “Equipe”, as afirmativas 14 e 18 (“Possui brinquedista assalariado” e
“Seu pessoal mostra-se disponível e acolhedor à clientela”) obtiveram a pontuação máxima
dos técnicos, também foram consensuais as 19 e 20, consideradas como parcialmente corretas
(“Seu pessoal sabe brincar com os jogos, apresentá-los, transmitir suas regras e adaptá-los aos
diferentes públicos” e “É reservado tempo para seleção, aprendizagem, preparação”). A
afirmação 16 (Conta com voluntários) foi a única assinalada como incorreta por um dos
técnicos, enquanto os demais responderam como plenamente correta; provavelmente estes
tem critérios diferentes para definir quem seria e o tipo de envolvimento que se espera do
voluntariado.
A categoria “Ambiente e Acervo lúdico” foi a que teve a melhor avaliação, a
pontuação obtida em todas as afirmativas foi de no mínimo 2 (afirmação parcialmente
correta), sendo que a 20, 23 e 27 foram consideradas como plenamente corretas por
unanimidade, estas referiam-se às higienização e diversidade do material lúdico, bem como a
existência de controle sobre o empréstimo de brinquedos.

H3
A figura 39 apresenta os dados obtidos por meio da aplicação dos itens 1 a 27 da
Escala Autoavaliativa de Índices de Qualidade- EAIQ aos técnicos do H3.
Figura 39. Resposta dos técnicos do H3 aos itens 1 a 27 da EAIQ.
Em relação à categoria “Planejamento”, as respostas foram consensuais em quatro das
cinco afirmativas que a compunham, destas a 1, 3 e 4 obtiveram pontuação máxima e diziam
respeito sobre a existência de um diagnóstico prévio do ambiente e clientela a ser atendida, ter
definidos os objetivos a atingir e se as ações são determinadas segundo um plano de trabalho.
Na afirmativa em que houve discordância (2- Possui um projeto levando em conta as
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
80
diferentes etapas de realização e seu respectivo orçamento), um dos técnicos afirmou que não
tinha conhecimento acerca disto e o outro que a afirmativa era plenamente correta.
Na categoria “Funcionamento”, seis das nove afirmativas foram avaliadas como
plenamente corretas, a saber: 9, 10, 11, 12, 13 e 17, cujo foco era, respectivamente, a
regularidade e adaptação do funcionamento à clientela; divulgação do serviço; controle da
frequência dos usuários; favorecimento e promoção do livre brincar; o brincar associado à
recuperação escolar e o favorecimento do contato com familiares por meio do brincar. Em
contrapartida, esta instituição ainda carece de identificar possíveis financiadores e parceiros,
bem como contato com fabricantes e comerciantes de brinquedos para a sua compra e doação.
Ressalta-se que a afirmativa 8 (É gratuita), provavelmente foi interpretada de uma forma
diferente daquela pretendida pelo instrumento, tendo em vista que um dos técnicos assinalou
esta como parcialmente correta, embora não haja quaisquer cobrança aos seus usuários. Uma
das hipóteses que podem ser levantadas é que gratuidade pode ter sido compreendido como
livre acesso, já que somente os acompanhantes e pacientes em tratamento neste hospital
participam do espaço.
A “Equipe” foi a categoria com os melhores indicadores de qualidade, tendo em vista
que recebeu a pontuação máxima para todas as afirmativas. Assim, os técnicos desta
instituição consideram plenamente correto afirmar que: “Possui brinquedista assalariado”;
“Conta com um número suficiente de pessoas para desenvolver seu projeto e suas atividades”;
“Conta com voluntários”; “Seu pessoal mostra-se disponível e acolhedor à clientela”; “Seu
pessoal sabe brincar com os jogos, apresentá-los, transmitir suas regras e adaptá-las aos
diferentes públicos”; “É reservado tempo para a seleção, aprendizagem, aplicação e gestão do
ambiente e do material lúdico”.
As afirmativas da categoria “Ambiente e acervo lúdico” foram consideradas no
mínimo como parcialmente corretas, sendo que A23, A25 e A27 receberam a pontuação
máxima, as quais se referiam a diversidade, segurança e controle sobre o empréstimo dos
brinquedos. Apesar disso, salienta-se que seja necessário maior atenção para a higienização do
ambiente e do material lúdico, já que a afirmativa relacionada a este quesito foi avaliada como
parcialmente correta.

H4
A figura 40 apresenta os dados obtidos por meio da aplicação dos itens 1 a 27 da
Escala Autoavaliativa de Índices de Qualidade- EAIQ aos técnicos do H4.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
81
Figura 40. Resposta dos técnicos do H4 aos itens 1 a 27 da EAIQ.
Na categoria “Planejamento”, duas afirmativas foram consideradas plenamente
corretas, a saber: 4 e 5 que se referem, respectivamente, a existência de um plano de trabalho
onde estejam discriminadas as ações a realizar, e são definidos os meios (humanos,
financeiros e materiais) para execução deste. Entretanto, os dados indicam a ausência ou
desconhecimento sobre a construção de um projeto que levasse em conta as diferentes etapas
de realização e seu respectivo orçamento (afirmativa 2). Aliado a isso, um dos técnicos
afirmou desconhecer se a brinquedoteca tem os seus objetivos definidos (afirmativa 3)
enquanto a outra respondeu que a afirmativa em questão é parcialmente correta.
Em relação à “Funcionamento”, esta foi a categoria que obteve a melhor avaliação, de
acordo com os técnicos, sete das nove afirmativas são plenamente corretas, estas dizem
respeito à identificação de possíveis financiadores e parceiros;
gratuidade; funcionamento
regular e adaptado à clientela; divulgação efetiva do seu funcionamento; controle a respeito da
frequência dos usuários; favorecimento e promoção do brincar livre e do contato com
familiares através do brincar. A afirmativa 7 (Possui contato com fabricantes e comerciantes
de brinquedos para a sua compra e doação) foi a única que obteve pontuação 0 e 1, “não sei” e
“afirmativa incorreta”, respectivamente.
Sobre a categoria “Equipe”, os técnicos avaliaram que o pessoal se mostra disponível e
acolhedor à clientela, além de reservar um tempo para a seleção, aprendizagem, aplicação e
gestão do ambiente e do material lúdico, já que ambos assinalaram que as afirmativas 18 e 22
eram plenamente corretas. Contudo, consideraram que a brinquedoteca carece de um número
suficiente de pessoas para desenvolver seu projeto e suas atividades, o que é acentuado pela
falta de brinquedista assalariado (afirmativas 15 e 14). A afirmação 16 (Conta com
voluntários) obteve respostas incongruentes entre si, provavelmente os técnicos tem critérios
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
82
distintos para definir a participação voluntária.
Acerca da categoria “Ambiente e acervo lúdico”, os técnicos forneceram respostas
consensuais apenas nas afirmativas 23 e 26. Em relação à primeira, estes consideram como
parcialmente correto a afirmação de que o espaço conta com material lúdico diversificado,
enquanto que na segunda acreditam ser plenamente correto afirmar que os jogos e brinquedos
são de fácil acesso. No que diz respeito às condições de higiene do ambiente e do acervo
lúdico (A 20), as disparidades entre os técnicos foi semelhante àquela já apresentada na Seção
I e provavelmente se deve pelo mesmo motivo, durante o intervalo entre a coleta de dados de
um participante e de outro, houve a regularização dos procedimentos e a normalização da
limpeza. Outro dado relevante se refere à falta de uma devida classificação do acervo (A24).
Discussão referente à Escala Autoavaliativa de Índices de Qualidade- EAIQ
Observa-se que os técnicos de cada instituição avaliaram as categorias de forma
diferenciada, o que remete para a própria diversidade do processo de implantação, dos
recursos disponíveis e da organização física e humana apresentados na Seção I.
As categorias “Funcionamento” e “Ambiente e acervo lúdico” obtiveram pontuação
elevadas em três dos quatro hospitais. Em relação à “Equipe”, esta variou desde a categoria
com maior número de respostas 3 (afirmação plenamente correta) a 1 (afirmação incorreta),
referentes, respectivamente, a H3 e H4. A categoria que apresentou indicadores de qualidade
menores foi “Planejamento”, exceto o H3.
Deve ser ressaltado que os técnicos foram unânimes em avaliar que a equipe mostra-se
disponível e acolhe sua clientela; o funcionamento é regular e adaptado aos usuários, favorece
o brincar livre e espontâneo, bem como o contato com familiares por meio do brincar. Estudos
nas brinquedotecas dos municípios de Santo André, São Bernardo do Campo e Santos
indicaram que tais indicadores de qualidade também estiveram presentes, pelo menos
parcialmente (Chaves & Sá, 2008; Correr, 2006; Dietz & Menezes, 2006; Dietz & Oliveira,
2008).
No que se refere à categoria “Planejamento”, salienta-se a necessidade de um
programa de ação a curto e longo prazo às brinquedotecas, que seja construído pela equipe e
formalizado em documento escrito, o que facilita a perpetuação das ações desenvolvidas, a
avaliação das mesmas e a preservação da história do espaço, pois se identificou tanto na
entrevista quanto na EAIQ, a carência desse registro e, provavelmente, por isso, o
desconhecimento destes aspectos por parte da equipe técnica. Para Aflalo (1992), os registros
são importantes fontes de dados para a realização de avaliações.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
83
Dietz e Menezes (2006) e Dietz e Oliveira (2008) encontraram resultados semelhantes
em municípios da Grande São Paulo, utilizando a Escala Autoavaliativa de Índices de
qualidade (EAIQ). Em apenas uma brinquedoteca havia sido feito um diagnóstico da clientela
antes de sua implantação. Tal como aponta Magalhães e Pontes (2002), em muitos casos a
falta de sistematização que caracterizou o processo de implementação se mantém
posteriormente, o que pode comprometer o bom funcionamento do espaço.
No tocante a categoria “Funcionamento”, notou-se que as brinquedotecas recebem
pouco suporte externo, particularmente no que se refere ao contato com fabricantes e
comerciantes de brinquedos. Resultados semelhantes foram encontrados por Dietz e Oliveira
(2008) e Correr (2006), para estes autores o apoio de parceiros e financiadores é primordial, à
medida que propicia a troca de experiências, informações e atualizações. A baixa pontuação
obtida nestes itens sugere pouco reconhecimento deste espaço como promotor de saúde,
auxiliando a reduzir o tempo de recuperação da criança e, consequentemente, os gastos
hospitalares.
Na categoria “Equipe”, destaca-se que a afirmativa que se refere ao voluntariado
parece ter sido interpretada de diferentes formas, tendo em vista a incongruência entre as
respostas de técnicos de três hospitais. Acredita-se que os critérios para definir a participação
voluntária devem ter sido diferentes entre os técnicos. Talvez um envolvimento esporádico
tenha sido compreendido por alguns e não por outros como “conta com voluntários”, já que
nos dados expostos na seção anterior não foi mencionada a existência de voluntariado entre os
membros da equipe.
Um dos aspectos positivos averiguado nas brinquedotecas belenenses é o fato de todas
contarem com pessoal assalariado, mesmo que na maioria das vezes sua lotação seja fora da
brinquedoteca. Este dado contrasta com aqueles obtidos por Dietz e Oliveira (2008) e Matias
(2006), os quais encontraram espaços sem um brinquedista assalariado, o que pode
comprometer o funcionamento do espaço.
Em relação à “Ambiente e Acervo Lúdico”, salienta-se a avaliação favorável sobre a
diversidade do material lúdico, posto que em apenas uma instituição esta afirmativa foi
considerada parcial. Além disso, o material lúdico foi considerado de fácil acesso à clientela.
Entretanto, alerta-se para as condições de higiene do espaço e do acervo, avaliada em metade
dos hospitais como parcial, tendo em vista a fragilidade física em que se encontra a criança
hospitalizada e o risco de infecção cruzada. Dietz e Menezes (2006), ao compararem a
avaliação dos participantes no quesito acervo lúdico encontraram resultados diferentes, em
algumas instituições foi verificado a carência de uma maior diversidade e acessibilidade
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
84
enquanto em outras se observou uma boa variedade de jogos e brinquedos.
Dentro desta categoria, verificou-se a necessidade dos materiais serem devidamente
classificados, apesar de apenas um técnico ter assinalado a ausência de uma classificação,
somente um julgou que isto é feito a contento. Aflalo (1992) e Cunha (2007) argumentam que
existem diversas maneiras de registrar e classificar os brinquedos, cujo grau de detalhamento
dependerá dos objetivos da brinquedoteca. A implementação desse registro poderia facilitar o
controle de estoque e a conferência das peças que compõe os jogos.
Semelhante as considerações de Dietz e Oliveira (2008), verificou-se que existem
aspectos a serem aperfeiçoado em cada uma dos hospitais, em sua maioria relacionados ao
planejamento das brinquedotecas. Entretanto, foram identificados uma boa acolhida à
clientela e o favorecimento do livre brincar tanto nos dados provenientes da aplicação do
EAIQ quanto da observação e da entrevista com os técnicos.
Resultados referentes às questões abertas da Escala Autoavaliativa de Índices de
Qualidade – EAIQ
A seguir, estão transcritas as respostas dadas pelas participantes às questões de número
28, 29 e 30, estas eram abertas e referentes à percepção dos entrevistados acerca da definição
de brinquedoteca, da função desta e do papel da família neste espaço. Estas foram analisadas
utilizando-se a técnica de análise de conteúdo.
A tabela 10 apresenta as respostas dos participantes do H1 às questões apresentadas
acima.
Tabela 10
Respostas dos técnicos da brinquedoteca do H1 aos itens 28, 29 e 30 da EAIQ.
28. As brinquedotecas hospitalares são:
TH1A
Espaços destinados à promoção do brincar.
TH1B
Espaços que favorecem a brincadeira da criança hospitalizada, a fim de
minimizar o possível sofrimento provocado pela situação de internação.
Continua
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
85
Continuação
TH1C
Espaço que possibilita a garantia do ser criança, do brincar, do imaginar,
provando que no hospital é também lugar de brincar e de ser respeitado
como cidadão de direitos.
29. A função das brinquedotecas hospitalares é:
TH1A
Promoção do brincar de crianças em situação de hospitalização.
TH1B
Possibilitar a vivência do papel do ser brincante das crianças internadas.
TH1C
É possibilitar a interação das crianças com o brinquedo e com o livre
brincar, mediando as relações e buscando compreender os processos
psicossociais, dentre outros que permeiam as ações do brincar.
30. Na brinquedoteca hospitalar, a família:
TH1A
Desempenha um papel importante na participação e estimulação do
brincar.
TH1B
É incentivada a participar das brincadeiras junto com as crianças. Ela
também necessita de momentos lúdicos, sobretudo em situação de
internação hospitalar.
TH1C
Deve ser co-participante, incentivadora e junto com a criança, reforçando
os vínculos familiares e da família com os profissionais da saúde.
As respostas de todos os participantes do H1 sobre a definição da brinquedoteca
fizeram referência a um espaço em que se pode e se é estimulado a brincar. Apenas a
participante TH1B relacionou diretamente o espaço com o enfrentamento da hospitalização.
Os demais enfatizaram a brincadeira em si (TH1A), a compreensão de que esta é parte
inerente do ser criança, que é também sujeito de direitos (TH1C). Estes dados sugerem que
tais profissionais compreendem a brinquedoteca hospitalar como uma propulsora do processo
de desenvolvimento da criança, sendo a brincadeira uma das atividades características desta
fase.
No que diz respeito à questão 29, que se refere a função das brinquedotecas
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
86
hospitalares, os participantes TH1A e TH1B responderam que é a promoção do brincar para
crianças que estão em uma situação excepcional - internamento em uma instituição de saúde.
Como se pôde averiguar na tabela 10, a participante TH1B e TH1C fizeram referência à
brincadeira como atividade ou papel da criança. TH1C manteve o foco exposto na questão
anterior, o brincar enquanto parte do desenvolvimento.
De acordo com os dados obtidos por meio da questão 30, que se refere à relação da
família com a brinquedoteca hospitalar, a palavra participação parece representar a idéia
central dos técnicos do H1, o que se daria por meio da brincadeira entre pais e filhos. O
participante TH1B também fez menção a uma demanda proveniente dos próprios familiares
da criança que é a de ter momentos lúdicos. Aqui se pode destacar o fato do participante
afirmar que esta necessidade, apesar de proeminente no contexto hospitalar, não é
prerrogativa dele. TH1C destacou outro aspecto da brincadeira entre os membros familiares
dentro do hospital, que é o fortalecimento de vínculos, tanto entre os brincantes quanto destes
com a equipe técnica.
A tabela 11 apresenta as respostas dos participantes do H2 sobre o conceito e função
das brinquedotecas hospitalares, bem como acerca do papel da família neste espaço.
Tabela 11
Respostas dos técnicos da brinquedoteca do H2 aos itens 28, 29 e 30 da EAIQ.
28. As brinquedotecas hospitalares são:
TH2A
Um espaço para desenvolver atividades lúdicas, artesanais, expressivas, que
possibilita à criança e seus familiares a expressão, elaboração dos sentimentos
de tristeza, sofrimento e dor, relacionados à doença e hospitalização.
TH2B
Espaços humanizados e de acolhimento em que, a partir do brincar livre,
pacientes e familiares experienciam de maneira menos dolorosa o processo de
internação.
Continua
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
87
Continuação
TH2C
Excelentes espaços para minimizar o estresse da internação, meios que
facilitam a socialização, o aprendizado, o interesse pelo comportamento de
brincar e partilhar experiências através do lúdico.
TH2A
Dar continuidade ao desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo normal da
criança, prepara a criança para as situações que irá enfrentar, proporcionar
condições para que a família e amigos se encontrem com a criança em um
ambiente acolhedor e favorável às relações saudáveis, preparar a criança para
voltar para casa depois de estadia prolongada.
TH2B
Tornar o processo de hospitalização menos estressante e mais próximo das
experiências lúdicas vividas antes da internação, tanto para a criança quanto
para o seu acompanhante.
TH2C
Estão descritas acima. Através do brincar a criança extravasa seus medos reais
e imaginários dos procedimentos invasivos e dolorosos, aprende regras sociais
que melhoram o convívio na internação, tornando o ambiente hospitalar menos
agressivo, onde ela terá mais adesão ao tratamento.
30. Na brinquedoteca hospitalar, a família:
TH2A
Deve ser parceira nas abordagens oferecidas e usufruir do recurso lúdico,
garantindo, assim, o objetivo de desenvolvimento dos vínculos familiares e
formação de rede de suporte social.
Continua
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
88
Continuação
TH2B
Usufrui de um espaço disponível para vivências lúdicas, para socialização com
outras famílias internadas, para troca de experiências e conhecimento acerca de
quadros clínicos/patológicos, além de possibilidade de vivenciar o faz-deconta, o simbólico.
TH2C
É fundamental, pois através dela a criança tem uma fonte de suporte social
importante, onde podem juntos desenvolver habilidades, amenizar os sintomas
ansiogênicos, e o familiar pode conhecer e observar melhor a sua criança,
aprendendo/conhecendo suas características e como se adapta ao ambiente
hospitalar. Oportuniza “o brincar junto”, visto que, muitas vezes o
acompanhante (geralmente a mãe) não tem oportunidade em casa de promover
ou estar junto a sua criança em um momento especial e próprio desta fase de
desenvolvimento.
Os dados referentes à definição de brinquedoteca, obtidos por meio da questão 28,
conceituam-na como um espaço humanizado no hospital que, ao propiciar atividades lúdicas,
reduz o sofrimento de quem faz uso dele, auxiliando no processo de enfrentamento da
hospitalização. Ressalta-se, aqui, inclusão, feita por TH2A, da família como parte da clientela
a ser atendida no espaço. A técnica TH2C apresenta um conceito mais ampliado quando
destaca a brinquedoteca hospitalar como um espaço promotor de ganhos ao desenvolvimento:
socialização, aprendizado, partilhamento de experiências e o próprio brincar.
Os técnicos, ao completarem a sentença da questão 29 (“A função das brinquedotecas
hospitalares é”), vincularam o papel da brinquedoteca como um auxílio para a pessoa lidar
com o processo de hospitalização e fizeram algum tipo de menção ao desenvolvimento.
Isto se deu de maneira explícita pela técnica TH2A, que afirmou que a função do
espaço é promover a continuação do desenvolvimento global da criança e, de forma menos
direta, pela TH2B e TH2C, a primeira quando se remete que a criança e seu acompanhante
tem uma vivência anterior com a ludicidade e que isso precisa ser preservado durante a
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
89
internação e a segunda, quando relaciona o brincar com o aprendizado de regras sociais.
Acerca da família na brinquedoteca hospitalar, questão 30, os participantes
enfatizaram a relevância de uma presença atuante dessa no espaço, o que repercutiria em uma
série de fatores, tais como construção de rede de suporte social, padrão de interação com a
criança e a vivência do lúdico.
Os dados da questão 30 sugerem que os técnicos participantes da pesquisa entendem a
família tanto como suporte social à sua criança quanto para as demais famílias. Assim, a
brinquedoteca parece ser espaço privilegiado para que o acompanhante e a respectiva criança
desenvolvam em conjunto estratégias de enfrentamento mais adequadas, podendo
compartilhar e aprender com outras famílias que também estão inseridas no hospital.
Ao discorrer sobre a interação do familiar e da criança no contexto da brincadeira, a
participante TH2C apresenta a ideia de que o comportamento de brincar da criança traz em si
características do modo como esta criança funciona dentro e fora do hospital. Desse modo, a
brinquedoteca, além de incentivar a interação na família, criaria um setting para que esta
possa conhecer mais a sua criança.
O terceiro fator parece dizer respeito às características da espécie humana. Os dados
obtidos com todos os participantes parecem apresentar uma concepção de que o exercício da
ludicidade faz parte de todo o processo de desenvolvimento ontogenético, apesar do brincar
ser um comportamento intrínseco à infância, o adulto também teria necessidades lúdicas.
Diante disso, a brinquedoteca hospitalar se configuraria como um espaço de atendimento à
clientela adulta do hospital.
A tabela 12 apresenta as respostas dos participantes do H3 sobre o conceito e função
das brinquedotecas hospitalares, bem como acerca do papel da família neste espaço.
Tabela 12
Respostas dos técnicos da brinquedoteca do H3 aos itens 28, 29 e 30 da EAIQ.
28. As brinquedotecas hospitalares são:
TH3A
Repletas de atrativos, tais como: brinquedos e brincadeiras para essas
crianças que aqui se encontram fragilizadas pela doença.
Continua
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
90
Continuação
TH3B
Espaço de convivência, onde a clientela pode através do brincar expor
sentimentos, dificuldades, tristezas e alegrias, espaço de solidariedade.
29. A função das brinquedotecas hospitalares é:
TH3A
Oferecer atendimento pedagógico, terapêutico e psicológico, pois é
através do brincar que a criança se expressa ou não, demonstrando os
seus sentimentos e nível de conhecimento.
TH3B
Diminuir a tensão, o estresses, diminuir o impacto frente à situação de
adoecimento.
30. Na brinquedoteca hospitalar, a família:
TH3A
Participa das atividades juntamente com a criança, em quaisquer que
sejam as atividades, ou isoladamente em oficinas oferecidas na
brinquedoteca para os cuidadores.
TH3B
Participa ativamente e é um grande e fundamental parceiro para o
sucesso do tratamento.
A definição de brinquedoteca hospitalar pelos técnicos parece estar intimamente
relacionada a um espaço de promoção ao brincar. Sendo que o conceito dado por TH3A
enfatiza os aspectos vinculados ao processo de adoecimento/saúde que as crianças estão
vivenciando neste espaço. Enquanto TH3B parece destacar a socialização e expressão dos
sentimentos como características definidoras do que seria a brinquedoteca hospitalar. Apesar
da definição de TH3A, citar aspectos físicos como brinquedos, parece indicar que o uso destes
deve atender às peculiaridades de sua clientela infantil.
Quando questionados acerca da função das brinquedotecas hospitalares, o participante
TH3A apresentou uma resposta mais ampla e menos focada na condição de paciente da
criança, já que enfatizou a promoção do desenvolvimento global, bem como o acesso ao
mundo da criança por meio da brincadeira, enquanto o TH3B centrou a função de uma
brinquedoteca hospitalar no enfrentamento do adoecimento.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
91
As respostas dadas à questão 30, sobre o papel da família na brinquedoteca hospitalar,
foram semelhantes e ressaltaram a importância de trazer os cuidadores para dentro da
brinquedoteca e incentivá-los a participar das atividades com as crianças.
Os dados obtidos por meio das questões 28 a 30 foram compatíveis com as
observações realizadas, posto que a brinquedoteca se constituía em um espaço diferenciado
dentro do hospital, com recursos lúdicos e expressivos que incentivavam a brincadeira, sendo
verificado como atividade primordial o livre brincar, contudo era oferecido à clientela a
possibilidade de brincadeiras dirigidas e oficinas direcionadas tanto às crianças quanto aos
acompanhantes.
A tabela 13 apresenta as respostas dos participantes do H4sobre o conceito e função
das brinquedotecas hospitalares, bem como acerca do papel da família neste espaço.
Tabela 13
Respostas dos técnicos da brinquedoteca do H4 aos itens 28, 29 e 30 da EAIQ.
28. As brinquedotecas hospitalares são:
TH4A
Espaços para o brincar e dar possibilidades para o re-significar o
processo de hospitalização.
TH4B
Um espaço onde se diminui a dor do adoecer da criança.
29. A função das brinquedotecas hospitalares é:
TH4A
Possibilitar à criança, à família e à equipe o brincar com o objetivo de
minimizar, re-significar o processo de hospitalização.
TH4B
Garantir à criança um espaço de ser criança, favorecendo, desta forma, a
diminuição dos efeitos negativos da hospitalização.
30. Na brinquedoteca hospitalar, a família:
TH4A
Deve ser estimulada ao brincar com o objetivo de estruturar os vínculos
nesse processo de hospitalização, assim como facilitar o contato da
criança com um espaço acolhedor.
Continua
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
92
Continuação
TH4B
Participa brincando com a criança, seja seus filhos ou não e aprende a
brincar com os filhos, porque existem pais que possuem filhos que
adoeceram desde a tenra idade e, então, são pais que garantem somente
os cuidados à sobrevivência e higiene e que, algumas vezes, esquecem
ou nunca brincaram com suas crianças.
Os técnicos definiram a brinquedoteca hospitalar como um espaço que auxilia a lidar
com o processo de adoecimento e hospitalização, sendo que TH4A destacou a brinquedoteca
como um espaço para a brincadeira.
No que diz respeito às respostas à questão 29, acerca da função da brinquedoteca
hospitalar, para TH4A esta seria a promoção do brincar, o que por sua vez teria como
consequência um enfrentamento mais adequado da hospitalização, seja enquanto paciente,
familiar ou técnico. Apesar de também colocar como finalidade última a minimização dos
possíveis efeitos prejudiciais da internação, TH4B focou a criança, que vive uma etapa
peculiar do desenvolvimento. Seria, então, a própria vivência da infância na brinquedoteca
que propiciaria uma hospitalização menos danosa.
De acordo com as respostas dos técnicos acerca da relação entre a família e a
brinquedoteca hospitalar (questão 30), a sua participação seria marcada tanto pela
estimulação, que receberia no espaço, quanto por estimular a criança. O brincar seria um
facilitador do fortalecimento de vínculos e do sentimento de segurança à criança em um
espaço novo. Os dados fornecidos por TH4B sugerem ainda uma contextualização maior da
interação familiar que ocorre na brinquedoteca, quando se refere a um padrão de interação
entre pais e criança recorrentemente adoecida, supremacia do cuidado físico em detrimento do
afetivo, nestes casos a brinquedoteca teria um papel educador a essas famílias.
Discussão referente às questões abertas da EAIQ
Como se pode identificar nas respostas às questões 28 e 29, a definição da
brinquedoteca hospitalar descrita pelos participantes está vinculada ao seu papel institucional,
o que é coerente quando se toma por análise as definições apresentadas na literatura acerca
das brinquedotecas em geral, como a de Oliveira (2005) e a de Cunha (2007), para a qual:
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
93
“Brinquedoteca é um espaço para favorecer a brincadeira. É um espaço onde as crianças (e os
adultos) brincam livremente. Como todo o estímulo à manifestação de suas potencialidades e
necessidades lúdicas” pp.13.
Agregada a indissociabilidade entre o que seria a brinquedoteca hospitalar e a sua
função, as respostas dos técnicos sugerem a presença de concepções acerca de seu conceito
e/ou função que abarcam tanto um caráter amplo (o desenvolvimento) quanto específico
(enfrentamento da hospitalização). Já que segundo eles, a brinquedoteca hospitalar é um
espaço lúdico que incentiva o brincar e, por conseguinte, o desenvolver-se; constituindo-se
também como um espaço humanizado dentro do contexto hospitalar, promovendo o bem-estar
à medida que facilita a expressão de sentimentos e o desenvolvimento de comportamentos que
auxiliam a lidar com o adoecimento e suas implicações.
Estas ideias convergem com as de Cunha (2007) e Cunha e Viegas (2004), posto que
esses autores apresentam dentre os objetivos de uma brinquedoteca hospitalar: dar
continuidade à estimulação de seu desenvolvimento; preservar a saúde emocional da criança
ou do adolescente, propiciando alegria e distração por meio da brincadeira e da interação com
os pares; criar um ambiente favorável tanto para a criança quanto para seus familiares e
amigos que a visitam; preparar a criança para as situações novas que irá enfrentar no hospital.
Em linhas gerais, os técnicos destacaram a importância da inserção da família na
brinquedoteca, independente do hospital. Alguns dos benefícios citados por eles foram: a
brincadeira entre pais e filhos e, consequentemente, fortalecimento de vínculo tanto entre os
familiares quanto com a equipe técnica, favorecimento do sentimento de segurança à criança,
enquanto explora o ambiente; maior conhecimento acerca do funcionamento da criança, o que
pode conduzir a novos padrões de interação entre cuidador e a criança; a vivência do lúdico
pelo adulto; e construção de rede de suporte social com os demais acompanhantes.
As informações obtidas sobre a família se assemelham ao que é amplamente divulgado
na literatura: a participação do adulto pode dar prestígio à brincadeira, o brincar junto reforça
os laços afetivos, contribui para diminuir o estresse do processo de adoecimento/internação e,
por fim, mas não menos importante, há o resgate da própria ludicidade do adulto (Mota &
Chaves, 2005).
Neste mesmo sentido, os resultados de Chaves e Sá (2008) e Dietz e Menezes (2006)
nas brinquedotecas de São Bernardo do Campo e Santos, obtidos com o uso do mesmo
instrumento desta investigação, indicam que os responsáveis pela brinquedoteca
compreendem-na como ambiente propício da interação entre os familiares e que a presença
destes auxilia na recuperação da criança.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
94
Entretanto, como relatado pelos técnicos, teóricos como Cunha (2007) afirmam que
alguns adultos sentem dificuldades em brincar, por terem experienciado pouco a brincadeira.
A congruência destas informações explicita a ampla função social que a brinquedoteca deve
exercer independente do contexto em que ela esteja inserida, como propiciadora de interação
e aprendizado entre gerações e o resgate da ludicidade como uma de nossas características
enquanto espécie. Drummond e cols. (2009) relatam que muitas mães que inicialmente
resistiam em brincar com seus filhos foram com o passar dos dias se aproximando da
brinquedoteca e usando o lúdico como suporte na aproximação com suas crianças.
Outro fator, exposto por um dos técnicos, e que pode comprometer uma efetiva
interação na brincadeira entre os pais/adultos e a criança, se refere à própria condição de
adoecimento da criança, o que muitas vezes pode ser interpretada como necessidade de
repouso absoluto. Nesse sentido, a brinquedoteca oferece, por meio do brincar, oportunidades
da criança e seus familiares interagirem sem a perspectiva da doença, o que contribui para
estreitar o vínculo entre eles e tornar a experiência do adoecimento mais favorável para ambos
(Chaves & Sá, 2008).
Ainda que os dados obtidos por meio da questão 30 aponte a relevância da família na
brinquedoteca, a participação dos acompanhantes das crianças do H4 é estimulada apenas
parcialmente. Como exposto na seção anterior, foi relatado pelos entrevistados e confirmado
durante as observações que os acompanhantes de crianças, em geral, em idade escolar, eram
convidados a realizarem outra atividade no período que a brinquedoteca estava funcionando.
A compreensão desta incongruência entre o dizer e o fazer parece envolver aspectos
múltiplos, apesar dos dados desta pesquisa não permitirem defini-los, apresentam indicativos
de que alguns deles estejam relacionados ao processo de criação e os recursos
disponibilizados pelo hospital à referida brinquedoteca.
Um deles diz respeito à falta de um projeto de implantação, com descrição acerca da
organização e funcionamento da brinquedoteca. E mais que isso, os dados indicam uma
adesão parcial do hospital à brinquedoteca, que requer além de uma estrutura física, recursos
humanos para efetivar os objetivos pertinentes a ela, tendo em vista, a ausência de uma equipe
lotada na brinquedoteca. O acúmulo de funções pelos profissionais talvez esteja criando
contingências concorrentes entre as atividades da brinquedoteca e as demais atribuições
pertinentes ao cargo, que no H4 envolve dentre outros o atendimento clínico de pacientes
adultos e/ou supervisão de estágio.
Resultados similares foram apresentados por Bersch (2005), ao estudar a percepção de
profissionais da saúde acerca do brincar no hospital, pois os participantes associaram o
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
95
brincar com amenizador dos procedimentos dolorosos a que as crianças se submetem, além de
auxiliar e potencializar o processo de recuperação. Segundo a autora, a existência de
brinquedos em uma sala não determina por si só que a criança se sentirá bem nesse local.
III SEÇÃO – AVALIAÇÃO DA BRINQUEDOTECA SEGUNDO A CLIENTELA
Nesta seção são apresentados e discutidos os dados obtidos por meio de uma
entrevista semiestrutura com a clientela das instituições. Participaram 39 acompanhantes e
suas respectivas crianças, sendo 10 em cada hospital, excetuando H3, cujo número foi de
apenas nove, pois o período de tempo autorizado para iniciar e concluir a coleta de dados foi
insuficiente.
As entrevistas ocorreram dentro da brinquedoteca ou nos leitos e seguiram o Roteiro
de entrevista II e o Roteiro de entrevista III, (Apêndice C e D), o primeiro aplicado com o
acompanhante e o segundo com a criança. O primeiro objetivou coletar informações sobre o
conceito e função atribuídos ao espaço, meio de divulgação do espaço, conhecimento acerca
da rotina de funcionamento, participação- frequência ao espaço, comportamentos,
preferências por local e atividades da brinquedoteca, críticas e sugestões. O segundo visava
averiguar o espaço do hospital, e o local da brinquedoteca preferido, atividades desenvolvidas,
preferência de parceiros, e críticas e sugestões. Os dados foram analisados conforme a análise
do discurso.
Inicialmente estão expostos os dados obtidos pelos acompanhantes, organizados por
hospital, ao final destes apresenta-se uma síntese no qual os resultados de cada instituição são
comparados e discutidos segundo a literatura. Nesta mesma sequência, são apresentados e
discutidos os resultados referentes às entrevistas com as crianças.
Dados obtidos com os acompanhantes

H1
O conceito de brinquedoteca utilizada pelos acompanhantes esteve vinculada às
atividades (brincadeiras e atividades artísticas) que ocorrem no espaço e suas repercussões,
salientando, em particular, os benefícios que o brincar trazia às suas crianças. Tendo em vista
que nenhum participante lançou mão, unicamente, de uma descrição física para conceituá-la,
o conceito de brinquedoteca é referendado por sua função.
A brincadeira, o divertimento e a redução da ociosidade parecem ser palavras-chaves para
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
96
a definição de brinquedoteca. Ao falarem do conceito de brinquedoteca, alguns dos
acompanhantes deram informações que indicam a presença de uma concepção de que o
brincar está relacionado à redução de estresse e a um sentimento e/ou sensação de liberdade, o
que parece ganhar tons incisivos quando se é uma criança e se está adoecido. As verbalizações
a seguir são ilustrativas dessas conclusões:
“É um lugar que tem muito brinquedo, é um divertimento pras crianças (...) ela já chorou pra ir
embora, aí ela fica brincando e se conforma”. (AH1-7).
“(...) as crianças não ficam cansadas, tem onde as crianças passarem o tempo, brincarem,
desenvolverem atividades dentro a brinquedoteca”. (AH1-2).
“Tem vezes que ela tá estressada e vai pra lá, aí quando ela vem de lá ela volta melhor, menos
estressada”. (AH1-1).
“(...) nos outros hospitais não tem [brinquedoteca], não. A criança fica só ali na cama, triste,
oprimida porque não tem como brincar (...). Aí aqui não, a brincadeira faz parte de uma diversão, aí
até esquece um pouco daquilo que ele tá sofrendo, né?! (...) Muitas vezes aquela doença nem é pra
morte, mas a pessoa já morre ali só de tristeza (...) já é a segunda vez que eu fico aqui [no H1] que eu
me sinto feliz (...).” (AH1-3).
Devido a esse caráter intrínseco entre o conceito e a função, oito dos acompanhantes
retomaram as ideias apresentadas na definição da brinquedoteca quando solicitados a
discorrerem acerca do papel desta, acrescentando ou aprofundando algum aspecto. Os demais
responderam desconhecer qual seria a sua função, entretanto haviam fornecidos dados a esse
respeito anteriormente.
A partir dos resultados, o papel da brinquedoteca seria a promoção do brincar às
crianças, o que implica em divertimento e/ou alegria, palavras usadas por oito dos
acompanhantes. Outras finalidades destacadas foram: auxiliar na recuperação da saúde e
promover desenvolvimento, sendo cada uma mencionada por três deles. As falas a seguir são
ilustrativas desta análise:
“Pra divertir as crianças, pra elas ficarem mais alegres um pouquinho” (AH1-4).
“Esse espaço ele vai ajudar muito a criança que tá internada, que a criança brincando vai
desenvolvendo suas atividades, sua mentalidade, a criança que não brinca vai passar a gostar de
brincar. Eu acho que tudo isso vai ajudar a desenvolver... porque tem criança que não gosta de brincar
de boneca, vive isolada no mundo dela, eu acho que a brinquedoteca vai fazer isso, desenvolver esse
lado. (AH1-2).
“que eu acho assim que a brinquedoteca tem efeito nas crianças, que elas vão pra lá, se distraem e
já vão melhorando”. (AH1-8).
“[a brinquedoteca] É pras crianças se divertirem brincando lá, se desenvolvendo (...) aprendendo
mais coisas”. (AH1-10).
No tocante à indagação de como haviam tomado conhecimento do serviço, oito dos
acompanhantes souberam por meio dos técnicos do serviço, os quais foram aos leitos
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
97
convidá-los a frequentar o espaço. Somente dois tomaram conhecimento devido ao pedido das
próprias crianças que estavam acompanhando, posto que estas haviam sido acompanhadas
anteriormente por outras pessoas no H1 e já tinham ido à brinquedoteca.
No que se refere às indagações acerca do funcionamento e participação no espaço, oito
participantes sabiam que a brinquedoteca funcionava no período matutino e vespertino, mas
somente três souberam informar os horários que esta abre e fecha, como ilustra a seguinte
verbalização: “Eles já me falaram, né? Que é de tarde, de manhã, mas eu não sei a hora”.
(AH1-3). Todos relataram frequentar a brinquedoteca, todavia dois deles afirmaram que vão
verificar como a criança está ou o que ela está fazendo e depois saem de lá, como se pode
verificar na fala de AH1-2: “Aí eu sempre vou lá e olho pra ver o que ele tá fazendo e vou
embora”.
Em relação às atividades que desenvolvem enquanto estão na brinquedoteca, a maioria
dos entrevistados mencionou observar a criança que estava acompanhando, foram citados
também: assistir televisão e auxiliar a criança a brincar ou desenvolver alguma atividade
expressiva, citados três e duas vezes, respectivamente. As falas abaixo mostram algumas das
atividades relatadas pelos participantes:
“Eu vou lá pra ver se ele não tá fazendo peraltice.”. (AH1-2).
“(...) Aí eu fui lá, eu fiquei lá ajudando a minha sobrinha que tava brincando de
casinha, eu fiquei ajudando ela a montar a casinha que ela tava montando os encaixes tipo
uns... bloquinhos, a montar quebra-cabeça também que ela não sabe e eu tava ensinado”.
(AH1-10).
Ao serem solicitadas a discorrer acerca do que gostavam na brinquedoteca, apenas um
acompanhante verbalizou que não sabia responder, pois ia rapidamente a ela, os demais
fizeram alguma referência à criança que acompanhava, de maneira que o que lhe agradava era
justamente as atividades e/ou brinquedos que a sua criança gostava ou aquelas que
acreditavam ser importantes a ela; destas verbalizações, quatro foram direcionadas
unicamente à criança. Um acompanhante fez referência só a si e outro afirmou que o que lhe
agradava era a alegria trazida pelo brincar das crianças. As falas a seguir são ilustrativas
destes dados:
“O que eu gosto lá [brinquedoteca] é os brinquedos que lá tem que ela [CH1-5] gosta, assim... que
ela gosta de boneca, daqueles pratos (...) casinhas, tudo bonitinho, eu acho até engraçado, sabe?!
Porque no nosso meio [onde residem] não tem quem faça eles [brinquedos industrializados]”. (AH15).
“Tem várias coisas [que eu gosto]. (...) Na parte da caligrafia, do desenho, pra pintar, pra criança
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
98
desenhar, desenvolve bem a criança, ainda mais quando ela estuda, (...). Pra gente mãe, tem as leituras,
tem os brinquedos também (...). Eles conversam também com as crianças, isso é bom, né?!” (AH1-7).
“Lá é legal de ficar, eu gostei de tudo. Tem criança brincando lá, é mais alegre do que tá aqui, o
dia inteiro nesse quarto”. (AH1-8).
No que se refere ao local da brinquedoteca onde preferem estar, todos disseram que é
aquele em que a criança sob sua responsabilidade se encontra, dependendo assim da
brincadeira ou da atividade que esta gosta de realizar, o que é coerente com os dados
apresentados anteriormente, já que a maioria das atividades citadas pelos participantes está
voltada a sua criança. O que pode ser exemplificado pelo que afirmou AH1-6: “Eu fico perto
dela sentada numa cadeira. Eu fico onde ela fica, eu fico olhando ela”.
Quando solicitados a darem sugestões para aprimoramento do espaço, seis
contribuíram com as seguintes indicações: aquisição de mais gibis, vídeo-game e computador,
diversificar as brincadeiras, atividades de estudo, estimulação dos pais à leitura e oficina de
confecção de artesanato. Dentre as sugestões dadas, salienta-se que o acompanhante que
sugeriu as brincadeiras relatou não saber dá nenhum exemplo dos tipos de brincadeiras que
poderiam ser inseridas. Em relação às oficinas, estas estavam ocorrendo semanalmente.
Todavia, haviam sido suspensas, pois eram realizadas em parceria com o pessoal do estágio
curricular em Terapia Ocupacional, que haviam encerrado suas atividades naquele semestre.
A respeito da equipe da brinquedoteca, os acompanhantes elogiaram-na, destacando a
atenção que esta dispensa tanto à criança quanto a ele. Além disso, afirmaram que a equipe
conhece e sabe ensinar aos pacientes a utilizar o material lúdico disponível. Este resultado é
ilustrado com alguns dos relatos transcritos abaixo:
“Ontem elas estavam ensinando bastante legal (...). Aí elas são bastante pacientes. (...) Eles são
legais com a minha sobrinha, ela gosta muito deles, ela quer ir toda hora pra lá. Comigo também é a
mesma coisa, eles me tratam bem”. (AH1-10).
“Eles são muito atenciosos. Com a gente eles já mandam a gente participar, a gente é que não
participa, fico mais só olhando”. (AH1-6).
Novamente, o papel dos responsáveis pela criança na brinquedoteca se faz presente no
discurso dos entrevistados. O relato de AH1-6 exposto acima apresenta dois aspectos, um
deles é a atuação do brinquedista como incentivador da brincadeira entre o acompanhante e
sua criança e, mais que isso, esclarecedor da importância do brincar para o desenvolvimento e
das repercussões da brincadeira em família; o outro é de como os adultos estão se inserindo na
brinquedoteca, que pode ser desde um mero expectador a participação ativa.
O acompanhante AH1-8 quando discorre acerca dos técnicos do H1, apresenta indícios
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
99
de como o serviço de brinquedoteca pode contribuir para o desenvolvimento de
comportamentos relativos à organização e a lidar com regras, como pode ser verificado: “Eles
deixam as crianças brincarem com o que eles querem, aí depois que as crianças brincam tem
que botar o brinquedinho lá, que tem um espaço pra brinquedo usado se for usado tem que ser
colocado num espaço pra ser limpo depois”.
Os acompanhantes forneceram alguns dados, que mesmo sem estarem diretamente
relacionados aos tópicos da entrevista são relevantes para serem discutidos. Um deles é a
brinquedoteca como possibilidade de ter acesso a brinquedos que dificilmente se teria de outra
forma, verbalizado por dois entrevistados, e o outro como ambiente de potencial risco para
infecção cruzada, citado por um. O que pode ser verificado nas falas a seguir:
“A brinquedoteca é uma atividade até pra... pra ela não ficar muito parada, ela ficar
brincando, que às vezes tem uns brinquedos que lá em casa não tem (...)”. AH1-5.
“Ela vai pra lá [brinquedoteca], ela adora a professora [técnica] dela, eu que já penso e
não deixo muito ela ir por causa das outras crianças (...) que tem várias crianças com todo tipo
de doença, aí a gente tem que evitar”. AH1-6.

H2
A brinquedoteca foi conceituada como um espaço que diverte, reduz a ociosidade, o
estresse, o medo relacionado ao adoecimento e a sensação de falta de liberdade, que parecem
ser aspectos julgados como importantes para um enfrentamento mais eficaz da hospitalização.
De modo que nenhuma das definições se centrou em uma descrição da infraestrutura e do
acervo lúdico. Foram citadas, também, algumas das atividades que ocorrem no espaço, como
o brincar, o desenhar e criar vínculos. As falas a seguir exemplificam estes resultados:
“É um espaço legal pras crianças, que ficam aqui muito tempo sem ter o que fazer (...). Pra
mim também (...) que eu venho pra cá pra enrolar o tempo”. (AH2-4).
“É onde eles brincam, tiram o estresse. As crianças vêm [ao hospital] assustadas, né?! Não
pode ver uma pessoa de branco que já fica logo com medo. E lá [brinquedoteca] não, lá a gente pode
brincar com eles, que às vezes a gente não tem tempo”. (AH2-8).
“É uma coisa legal, né! Que ela [CH2-2] gosta de se divertir, é melhor pra ela (...) ela perde o
medo que ela tem de se operar, aí ela tá mais resolvida (...)”. (AH2-2).
“[a brinquedoteca] ajuda bastante... (...) pra ela [CH2-6] não se sentir assim... não ficar
trancada, porque no outro hospital ela ficava só no quarto. E aqui [H2] não, ela já não fica trancada,
vem pra cá [brinquedoteca], faz mais amizades (...)”. (AH2-6).
Ao serem solicitados a discorrem acerca da função da brinquedoteca dentro do espaço
hospitalar, oito acompanhantes mencionaram a palavra brincar ou brincadeira, relatando em
seguida as consequências que acreditam estar atreladas à brincadeira das crianças; os demais
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
100
relataram os benefícios trazidos por ela, sem fazer referência a alguma atividade. Vale
destacar que três acompanhantes afirmaram que a brinquedoteca promove aprendizado e
desenvolvimento.
Estes dados, quando analisados em conjunto com os referentes à definição da
brinquedoteca, indicam uma indissociabilidade entre seu conceito e o papel, o que fica
ressaltado quando os acompanhantes retomam algumas ideias para justificar o funcionamento
da brinquedoteca, a saber: diminuição do estresse e da sensação de se estar preso, uso da
estratégia de distração no enfrentamento da hospitalização, e uma recuperação mais rápida.
As verbalizações a seguir ilustram tais análises:
“Ela serve pra pessoa se divertir lá dentro, pra brincar, não ficar imaginando besteira” (AH26).
“Pra tirar o estresse das crianças, pra elas brincarem”. (AH2-8).
“[A brinquedoteca] distrai as crianças, elas aprendem coisas novas, as mães também (...) serve
pra várias coisas: pro aprendizado e pra fazer brincadeiras”. (AH2-8).
“(...) a criança vem [ao H2] e às vezes fica dois, três meses, aí a criança que é acostumada a
„tá‟ num lugar que tem um espaço pra brincar, né?! Ser solta, brincar, ter uma liberdade, aí chega
aqui... e fica só no leito?! Ela se sente mais sufocada, aí eu acho bom [a brinquedoteca] (...) pelo
menos as crianças vão se sentir mais em casa”. (AH2-6).
No que se refere à maneira como souberam da existência da brinquedoteca, todos
afirmaram que foi por meio de um convite feito pelos profissionais que lá atuam como
afirmou AH2-1: “A psicóloga que foi lá me avisar, que era pras crianças irem lá, ela vai nos
leitos avisando”.
Em relação ao horário de funcionamento, nove souberam relatar os turnos e os dias
que a brinquedoteca funciona. O único que desconhecia tais informações argumentou que isto
se devia ao revezamento feito pelos familiares da criança para acompanhá-la ao hospital,
particularmente por ela ir mais no período da noite do que do dia, horário em que a
brinquedoteca se encontra fechada.
Os acompanhantes foram unânimes em verbalizar que frequentam a brinquedoteca e
descreveram mais de uma atividade que desenvolvem quando estão no espaço, sendo que a
maioria citou que brinca ou auxilia a brincadeira da criança, bem como a realização de
desenho e pintura, mencionados por sete dos nove acompanhantes. Além disso, nove
entrevistados afirmaram que vão à brinquedoteca para acompanhar a criança pela qual está
responsável. Outras razões para participarem se referem à redução da ociosidade, conversar e
obter informações, o aprendizado de objetos artesanais e ler. Os discursos a seguir dão uma
amostra dos dados obtidos:
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
101
“A gente conversa umas e outras, porque tem várias mãezinhas que vão pra lá, vários
amiguinhos também, aí a gente fica conversando também, monta quebra-cabeça”. (AH2-1).
“Eu venho porque ela vem, aí eu venho pra acompanhar ela, aí eu chego aqui e tem essas
aulinhas [oficina] aqui também, pra gente aprender. Aí às vezes eu brinco com ela de jogo. (...) Pintura
que ela gosta, eu faço só o que ela gosta de fazer, eu pinto, jogo”. (AH2-6).
“Acompanhando ela e também ficar junto com a criança, ajudando ela a fazer a atividade,
brincando junto com ela, porque às vezes elas querem a presença da gente, elas não querem brincar
com outras crianças”. (AH2-7).
“Porque elas [membros da equipe da brinquedoteca falam que a gente tem que ir [à
brinquedoteca] acompanhando a filha da gente, brincando com ela, e quando eu to ali brincando eu
também to me distraindo, né?!” (AH2-3).
Ao discorrerem acerca do que lhes agradava na brinquedoteca, os acompanhantes
enumeram mais de um aspecto ou atividade, sendo que nove fizeram referência ao brincar ou
algum brinquedo/jogo específico. Destes, cinco relataram pelo menos uma brincadeira que
desenvolvem em conjunto com a criança que acompanha. Foram citados também o desenho e
a pintura, a leitura tanto para si quanto à criança e as oficinas.
“[Gosto de] Tudo. (...) Gosto de pintar, gosto de brincar com as bonecas com a [AH2-3], de
jogo de memória, gosto de brincar de dama”. (AH2-3).
“Eu gosto das brincadeiras que tem lá. (...) Na terça-feira as mães fizeram uma oficina de
massa de modelar caseira, aí eu achei interessante, que eu já levo pra minha filha aprender, aí eu
gostei”. (AH2-8).
Quando solicitados a escolher que local da brinquedoteca mais gostavam de ficar, oito
acompanhantes disseram que era sentado à mesa, pois segundo estes é mais cômodo para
brincar com jogos de tabuleiro e quebra-cabeça, bem como à pintura e ao desenho. Para os
demais é inexistente um lugar de predileção, já que permanecem no local que a criança tenha
decidido ficar.
Em relação ao que poderia ser melhorado na brinquedoteca, somente quatro deram
sugestões, a saber: aquisição de brinquedos e equipamentos, tais como jogos eletrônicos,
bebedouro e uma lousa, bem como livros e revistas, mais atividades artísticas (teatro e dança)
e ampliação do espaço.
“Ah... eu acho que não tá faltando nada, que tudo que as crianças querem tem lá: brinquedo,
carinho, tudo... das enfermeiras [técnicas e auxiliares de reabilitação], que quando „tão‟ lá elas dão pra
eles, tá faltando só a saúde mesmo”. (AH2-2).
“(...) mais bonecas pras meninas, que tem pouca, mais carrinhos, pros meninos, eu vi poucos
brinquedos pra meninos lá (...) aqueles joguinhos eletrônicos também, que eles se entretem muito com
eles (...). Poderia ter... leitura pra gente [adultos], enquanto eles [crianças] ficassem brincando a gente
ficasse lendo (...)”. (AH2-7).
No que diz respeito à avaliação da equipe, os acompanhantes afirmaram que esta
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
102
conhece os jogos, sabendo ensinar à clientela infantil como usá-los. Além disso, teceram
elogios à forma como lidam com as crianças e os acompanhantes, o que pode ser ilustrado
pelas verbalização de AH2-9: “Elas são bem legais com as crianças, tem aquele amor mesmo
pelas crianças, é bom de ver. (...) Também com as mães, não são só com as crianças, elas são
legais mesmo”.
 H3
A brinquedoteca foi conceituada a partir das atividades lúdicas desenvolvidas e da
repercussão destas às crianças, de maneira que os aspectos afetivos e sociais se sobressaem
aos físicos e de infraestrutura. As palavras-chave que caracterizam e, portanto, delineiam a
brinquedoteca de acordo com os entrevistados seriam: diversão, lazer e distração.
Ao discorrerem sobre o conceito de brinquedoteca, dois acompanhantes destacaram que
ela faz com que o hospital seja visto pela criança como um lugar que também é prazeroso,
apesar da existência de procedimentos dolorosos e incômodos. Acrescido a isso, AH3-1
associou a brinquedoteca com a redução do sentimento de tristeza. Estes resultados podem ser
exemplificados pelas seguintes verbalizações:
“Local [brinquedoteca] de descontração das crianças, pra elas verem que não é só sofrimento”.
(AH3-9).
“Eu acho que é uma diversão pras crianças, principalmente ela [CH3-1] que vem pra cá
deprimida”. (AH3-1).
A brinquedoteca também foi entendida como um espaço de interação e criação de
vínculos por um dos acompanhantes: “É um momento assim de... ocupação pra ele, porque se
caso ele fosse ficar o dia todo aqui, ele ia ficar mais tenso do ele já fica (...). Pra ele interagir
também com as pessoas, fazer amizades, ocupar o tempo dele também aqui”. (AH3-3).
Além disso, a fala de AH3-5: “É um lugar [brinquedoteca] de lazer pra eles, eles se
sentem a vontade”, sugere a ideia de que a brinquedoteca é um espaço que permite a criança
vivenciar aspectos próprios da infância, o que provavelmente seria repreendido em outros
locais do hospital.
Os dados expostos sugerem que o que define a brinquedoteca é o seu papel. Além disso,
verbalizações acerca da função da brinquedoteca trazem indícios a respeito da
inseparabilidade entre o que é e para quê ela serve, tendo em vista que os entrevistados
retomaram parte dos elementos apresentados na definição. O que pode ser exemplificado por
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
103
meio destas falas:
“AH3-4: __ Pras crianças estarem brincando, aprendendo umas coisas.
Pesquisador:__ Que coisas?
AH3-4: __A pintar, escrever, desenhar...”.
“Pro bem-estar da criança, porque é muito bom pra criança não ficar pensando no tipo de
tratamento que tão fazendo, ficar brincando...” (AH3-5).
“Pra... interagir a criança... ocupar o tempo dela, exercitar a mente, no caso do meu filho é
exercitar a mente, porque a cirurgia dele foi na cabeça”.
“(...) [forma de] tirar mais o sofrimento daqui da quimioterapia, eu acredito assim, que [a
brinquedoteca] seja muito lembrada pela maioria das crianças (...) que nem meu filho, às vem pra cá
só pra fazer exame de sangue, mas às vezes ele quer passar o dia todinho aqui”. (AH3-6).
A partir do relato dos acompanhantes, o papel da brinquedoteca seria a promoção do
brincar às crianças e/ou as implicações do serviço de brinquedoteca nos comportamentos
destas, que envolveriam: desenvolvimento cognitivo e físico, como o aperfeiçoamento da
coordenação motora fina, a redução da ociosidade, da aversividade do hospital e do
sofrimento trazido pelo adoecer e a estímulo a interação.
Os acompanhantes souberam que havia brinquedoteca no hospital por dois meios:
convite dos professores ou brinquedista para frequentarem o espaço e visualização do espaço,
relatados, respectivamente, por sete e por dois dos acompanhantes.
No que se refere aos horários de funcionamento, oito dos acompanhantes souberam
que era tanto no turno matutino quanto vespertino e de segunda a sábado. Como ilustra a fala
de AH3-8: “Abre oito, fecha de meio dia as duas e fica aberto até as dezessete (...). De
segunda a sexta, aí eles fazem atividades, brincam... o vídeo-game parece que é duas vezes na
semana... as crianças juntam, desenham, a TH3-A dá limites pra eles”.
Os acompanhantes relataram frequentar a brinquedoteca, contudo dois deles
afirmaram que isto ocorre às vezes. Em relação às atividades desenvolvidas, as mais citadas
foram: brincar ou auxiliar a brincadeira e fazer artesanato, mencionados cinco vezes; além de
ler ou folhear livros e revistas; conversar com outros acompanhantes e técnicos; observar a
criança e/ou técnicos; acompanhar o paciente e pintar. O trecho da entrevista de AH3-3
exemplifica algumas destas atividades:
“Pesquisador: __Por que você vem à brinquedoteca?
AH3-3: __ Pra ajudá-lo, a minha luta maior é dele frequentar a escola (...) a dificuldade dele é
o esquecimento, depois da cirurgia ficou pior... (...). Aí tem que se acostumar, se atualizar de novo.
Pesquisador: __E como você acha que pode ajudá-lo aqui na brinquedoteca?
AH3-3: __ Jogando com ele, jogando dama... dominó...
Pesquisador: __Tem mais alguma coisa que você faz aqui?
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
104
AH3-3: __ Quando tem alguma atividade pras mães eu venho... de artesanato (...) já fiz de
fuxico, colarzinho (...). Na maioria das vezes eu fico batendo papo aqui.
Pesquisador: __Com quem?
AH3-3: __ Geralmente com as mães, com as professoras”.
Em relação ao que gostavam, sete dos acompanhantes mencionaram alguma
brincadeira ou brinquedo. Contudo, nem todos faziam uso dos mesmos, como explicita a fala
de AH3-2, que após ter respondido gostar do computador afirmou que somente o filho
utilizava-o, como se verifica: “Não, não uso. Até mesmo que eu penso que é só pras crianças
brincarem, né?! Não é pros adultos não”.
Foram citados também: observar o brincar das crianças, livros e revistas, computador,
atividades de pintura e desenho, interagir com outras pessoas e artesanato. A fala a seguir
ilustra tais dados: “[Eu gosto de] Quebra-cabeça, Cara-a-cara, conversar... compartilhar as
dificuldades, né?! Cria vínculo de amizade... as mães”. (AH3-6).
No que diz respeito ao local da brinquedoteca que preferem ficar, o mais escolhido foi
onde está a mesa de ping-pong, citado por cinco acompanhantes, três disseram não ter
preferência, devido a ir rapidamente a ela e um afirmou que gosta de ficar próximo as
prateleiras de revistas.
Ao serem solicitados a darem sugestões à brinquedoteca, seis sugeriram ampliação do
espaço, mais atividades de artesanato, desenho e pintura, aquisição de novas revistas do tipo
caça-palavras, de tapete sintético, de instrumentos musicais, de vídeo-game e de brinquedos
novos, como quebra-cabeça, conserto dos computadores e instalação de internet, construção
de um parquinho, além de curso profissionalizante para os acompanhantes.
No que se refere à equipe da brinquedoteca, todos os acompanhantes afirmaram que
esta tinha conhecimento acerca dos jogos e que sabia ensiná-los às crianças. Além disso,
elogiaram a equipe, como mostram as falas abaixo:
“Sabe, tem esse conhecimento, preparo, as pessoas chegam aqui e já perguntam as coisas pra
TH3A”. (AH3-6).
“Sabe muito bem, explica direitinho, tem muita paciência”. (AH3-8).
 H4
Ao conceituarem a brinquedoteca, oito acompanhantes o fizeram se remetendo à
ludicidade e/ou as repercussões das atividades desenvolvidas nela às crianças. Destes, dois
verbalizaram nunca ter ido à brinquedoteca do referido hospital, conceituando-a a partir dos
relatos de outras pessoas. Tais dados indicam que a presença de brinquedos é um aspecto
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
105
relevante, mas insuficiente para definir uma brinquedoteca, segundo os entrevistados. As
respostas de alguns participantes foram expostas abaixo para ilustrar estes resultados:
“Eu iria dizer que é legal [brinquedoteca], que as crianças se divertiam, que tem um trabalho
aqui com as crianças e que é muito legal, que eles tem um carinho aqui pelas crianças (...).. O
importante é isso, é isso que a gente quer pros filhos da gente: carinho e amor (...). (AH4-1).
“É um lugar que tem muito brinquedo pra criança espairecer, pra menino e pra menina”.
(AH4-4).
“[Eu] achei muito divertido as crianças brincando, né? Tem muitos brinquedos importantes lá,
as pessoas que tem lá são muito bacanas com as crianças. Eu gostei muito de lá (...) lá ele [CH4-8]
esquece um pouco do problema daqui do hospital”. (AH4-8).
Aqueles que disseram não saber o que era uma brinquedoteca argumentaram que
nunca haviam estado em uma, nem mesmo na do H4, como por exemplo, a fala de AH4-7:
“Eu não sei que eu nunca fui lá”.
Semelhante aos dados referentes ao H1, os acompanhantes já trouxeram dados a
respeito de como visualizavam a função da brinquedoteca quando a definiram, de tal modo,
que a maioria retomou aspectos mencionados anteriormente, detalhando-os e/ou
acrescentando outros. Como exemplo, são apresentadas abaixo as verbalizações da
participante AH4-3, na primeira ela havia solicitado a conceituar a brinquedoteca e na
segunda a falar para quê ela servia:
“É um meio [a brinquedoteca] de diversão pras crianças, porque num hospital a criança se
sente muito presa (...). Se todos hospitais tivessem seria muito bom pra recuperação da criança (...),
porque ela brinca, se distrai, não fica pensando na doença”.
“Pelo o que eu já falei, pra distrair as crianças, porque elas ficam presas, muito presas no
hospital, então elas ficam mais tristes se não tiverem um brinquedo, uma pessoa que alegre elas (...)
então tendo, eles se divertem, passam o tempo, não pensam só na medicação, só no leito, sai o
estresse, porque eles ficam estressados”.
Os resultados mostram que para os acompanhantes, o papel da brinquedoteca estava
centrado nas repercussões da brincadeira no comportamento e na saúde da criança. Sete dos
nove acompanhantes expressões como recuperação da saúde, diminuição do estresse,
distração ou esquecimento da condição de doente e suas consequências. As verbalizações são
ilustrativas desta análise.
“Pra ajudar na mentalidade das crianças também (...) Porque a criança fica aqui doente, pra
desenvolver mais a criança, pra criança ficar feliz ou então não ficar tão triste (...)”. (AH4-6).
“Pra dá ânimo pras crianças que tão bem debilitada, que estão melhorzinhas, pra dar um
incentivo a mais a elas de recuperação”. (AH4-7).
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
106
Segundo os acompanhantes, eles tomaram conhecimento da existência da
brinquedoteca por meio do convite dos estagiários de terapia ocupacional ou das professoras
da classe hospitalar, como ilustra a seguinte verbalização: “Eu fiquei sabendo pela escolinha
lá, que informaram que tinha. (...) Aí aquela moça ali também [estagiária de TO]”. (AH4-9).
No que diz respeito ao funcionamento, somente quatro afirmaram saber dizê-lo,
fornecendo informações compatíveis com aquelas obtidas por meio das entrevistas com os
técnicos e as observações, como mostra a fala de AH4-3: “Dia de quinta-feira, das nove...
porque tem o horário da medicação, aí vai depender do horário da medicação das crianças (...)
aí depois da medicação em diante eles descem [à brinquedoteca], aí eles voltam 11... 11:30
pro almoço”.
No tocante à participação no espaço, seis já haviam frequentado pelo menos uma vez.
As atividades desenvolvidas por eles foram: brincar ou auxiliar a brincadeira; observar a
criança, ambos citados três vezes, artesanato e leitura para a criança, uma vez cada um. A
seguir são expostos trechos das falas de alguns participantes a esse respeito:
“Não. Porque o [estagiário] não falou que o adulto podia descer”. (AH4-2).
“Sim. Eu vou porque eu acompanho ele, eu gosto de ver ele brincar (...) coisa que ele não tem
mais aquela idade de brincar com aqueles brinquedos que tem, porque ele já tá um pré-adolescente
(...) mas é bom, ele sempre pega um carrinho e brinca, a gente nunca deixa de ser criança um pouco”.
(AH4-3).
“Eu brinco com ele lá, brinquedinho, uma dama, jogo com ele, leio um livrinho pra ele”.
Em relação ao local da brinquedoteca que preferiam, a área externa foi escolhida por
unanimidade. Segundo os acompanhantes, ela permite ouvir o canto dos pássaros, é mais
arejada e confortável às atividades desenvolvidas, embora um deles tenha destacado que, em
geral, o lugar que permanece é aquele que possibilita uma melhor observação da criança.
Ao discorrerem sobre o que gostavam na brinquedoteca, todos que haviam estado no
espaço citaram brinquedos ou brincadeiras que agradavam a criança que estava
acompanhando ou que acreditavam ter repercussões positivas ao desenvolvimento delas,
como se observa na fala de AH4-5: “O que eu gostei mesmo, que eu vi lá foi... de ver o
desenvolvimento das crianças, elas ficaram bem a vontade, elas já „tavam‟ até fugindo,
pulando pro outro lado [ri]”.
No que se refere a propostas de melhorias à brinquedoteca, cinco acompanhantes
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
107
deram sugestões, as quais foram: aquisição de brinquedos adaptados ou estimulantes para
crianças com deficiência visual, bem como daqueles voltados a crianças maiores e préadolescentes; livros e contação de história; brincadeiras de exercício físico; brincadeiras
direcionadas aos acompanhantes e ampliação da brinquedoteca.
O acompanhante AH4-8 ao discorrer acerca do tópico anterior afirmou: “O que eu não
gostei é que várias e várias mães não se sentiram a vontade. Eu achei. Eu percebi que tinha
umas mulheres lá que ficaram paradas, a menina [criança que uma destas mulheres
acompanhava] ia e convidava ela pra brincar e ela nada. (...). Ele [estagiário de TO] tava
sendo legal, eu acho que as mães que tem que ver que aquilo tava sendo legal pros filhos
delas, que são elas que tem que acompanhar e não o [estagiário de TO] (...). Não é só através
dele que as crianças tem que tá brincando”.
A equipe da brinquedoteca foi avaliada positivamente pelos acompanhantes que
participaram das suas atividades, tendo em vista que afirmaram que esta sabia ensinar às
crianças a brincar com acervo de jogos e brinquedos da brinquedoteca, além de terem
destacado a atenção e o carinho dispensado tanto aos pacientes quanto aos acompanhantes. As
verbalizações a seguir exemplificam este resultado:
“Olhe, eu acho [que a equipe sabe ensinar a usar os jogos], porque de jogo eu não entendo
muito. As pessoas daqui dão bem atenção (...). Eu acho muito importante pra criança esse carinho
numa hora dessas. (...) eu tenho gostado dessa parte. (...) Eles trataram bem a gente”. (AH4-10).
“Sabe [ensinar a usar os jogos]. Eles são muito bom com as crianças (...) Eles são muito
educados com a gente e com as crianças também (...).” (AH4-4).
Discussão
O conceito brinquedoteca parece ser estabelecido a partir das atividades e das relações
que se estabelece entre as pessoas e destas com os objetos que estão no espaço. Tendo em
vista que nenhum acompanhante tomou o acervo lúdico como única referência para
conceituá-la. Também retomaram diversos aspectos apresentados na conceituação do espaço,
quando discursavam acerca de sua finalidade.
Neste mesmo sentido, a Lei 11.104/05 apresenta o seguinte conceito: “espaço provido
de brinquedos e jogos educativos, destinado a estimular as crianças e seus acompanhantes a
brincar” (Art. 2º), o que foi complementado pela Portaria 2.261/05, que acrescenta a este
conceito a expressão “contribuindo para a construção e/ou fortalecimento das relações de
vínculo e afeto entre as crianças e seu meio social” (Art. 3º).
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
108
De forma semelhante, as definições encontradas na literatura tem sido feitas,
geralmente, a partir da função do espaço, entendido como um ambiente alegre, colorido,
agradável e seguro que incentiva o brincar livre de crianças e adultos, estimulando a
manifestação de suas potencialidades, necessidades lúdicas e criatividade, constituindo-se em
espaço de animação sociocultural (Carmo, 2008; Cunha, 2008; D. F. Reis, 2008; K. C. Reis,
2008; Kim, 2005; Macarini & Vieira, 2006; Oliveira, 2005).
Um espaço colorido e com um acervo lúdico, mesmo variado, não garante a existência
efetiva de uma brinquedoteca. Como salientado por Fortuna (2008), a brinquedoteca se
concretiza no desenvolvimento de uma consciência lúdica que implique em um
comprometimento com o brincar, existindo espaços com pouquíssimos brinquedos que podem
ser identificadas como tal. Assim, mais que o acesso ao brinquedo, ela deve proporcionar à
criança a construção de vínculos e a manutenção de sua identidade de criança, favorecendo
seu desenvolvimento saudável (Cunha, 2002; Noffs, 2000).
Verificou-se que os acompanhantes ora discursavam explicitamente acerca dos
benefícios que atribuíam ao brincar e às demais atividades lúdicas ora se referiam apenas as
repercussões do espaço para seus usuários, os quais podem ser organizados, apenas
didaticamente, em duas unidades de sentido: a saúde e o desenvolvimento. A primeira seria
auxiliar à recuperação e manutenção da saúde, a partir da promoção de sentimentos e
sensações, considerados favoráveis, como alegria, liberdade e da redução do medo, do
estresse e da ociosidade. A segunda diz respeito à promoção do desenvolvimento por meio de
atividades que estimulariam o aperfeiçoamento de habilidades físicas, cognitivas e sociais.
Drummond e cols. (2009) encontraram dados similares no que se refere às
repercussões atribuídas pelos acompanhantes às atividades da brinquedoteca. Participaram do
estudo 57 sujeitos, dos quais 14 eram acompanhantes de crianças soropositivas em tratamento
ambulatorial. Estes apontaram o espaço como um aspecto positivo no tratamento de seus
filhos, pois era um local onde estes esqueciam um pouco o tratamento e as suas
intercorrências, sendo que os brinquedos e as atividades desenvolvidas os deixavam mais
calmos e dispostos ao tratamento.
Os estudos de Moraes (2007), Silva, Borges e Mendonça (2010), Azevedo e cols.
(2008) e Jesus e cols. (2010) ao investigarem a visão de familiares de crianças acerca da
brinquedoteca e das atividades lúdicas no contexto hospitalar, verificaram uma percepção
favorável destas, promovendo alegria, bem-estar, auxiliando na adesão ao tratamento, dando a
sensação do tempo passar mais rápido, socialização e desenvolvimento.
Todavia, Vieira e Carneiro (2006), ao investigarem as representações de pais e
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
109
médicos sobre o brincar em uma sala de espera, que atendia crianças com doenças crônicas,
encontraram tanto aquelas que apresentavam aspectos positivos quanto negativos da
brincadeira nesse espaço. Dentre as representações da brincadeira estão: de que é uma
compensação ao sofrimento do adoecer, uma oportunidade para estreitar vínculos, um meio
para conhecer e se comunicar com a criança, mas também um empecilho, como quando a
criança queria levar o brinquedo para casa ou resistia para sair da sala, mesmo que fosse para
ir para casa.
Estudos acerca dos comportamentos de crianças que participaram de atividades lúdicas
no hospital apontam benefícios semelhantes àqueles apresentados pelos acompanhantes,
dentre eles: aumento da frequência de interações, inclusive da tomada de iniciativa, redução
de comportamentos agressivos, melhora do humor, menor resistência à submissão de
procedimentos e maior cooperação a estes (Azevedo, 2010a; Costa Junior & cols. 2006;
Viegas & Pecoraro, 2006; Drummond & cols., 2009; Foltran & Paula, 2007; Frota & cols.,
2007; Goldenberg, 2008; Oliveira & col., 2009; Parcianello & Felin, 2008; Silva, 2006; Silva,
Borges & Mendonça, 2010; Viegas, 2006).
O brincar parece ser compreendido pelos acompanhantes como parte da experiência de
ser criança e permiti-lo no hospital é favorecer que parte da rotina infantil seja preservada.
Isto parece agregar ao hospital sentidos diferentes daqueles comumente atribuídos. Se por um
lado existem dor e restrição da liberdade, por outro há alegria, brinquedos e carinho, sendo a
brinquedoteca a principal propiciadora disso, o que já começa pela visualização de um espaço
diferenciado, um espaço lúdico.
Considerando-se que o nível de estresse tem relação com a forma que a pessoa
percebe o processo de saúde-doença e lida com os sentimentos gerados por ele, a brincadeira
contribui para que a criança se expresse e dê novos significados às experiências que tem
vivenciado. Assim, o brincar, ao preservar as funções cognitivas da criança, favorece que esta
tenha uma compreensão mais clara da situação e possa desenvolver estratégias de
enfrentamento mais adequadas (Conti & Sperb, 2001; Cordazzo, 2008; Goldenberg, 2008;
Motta & Enumo, 2004a; Oliveira, 2008; Oliveira & cols. 2009; Silva, Borges & Mendonça,
2010).
Oliveira e cols. (2009) destacam que o hospital apresenta uma dimensão educativa e
que possibilita aprendizados significativos referentes à situação de adoecimento. O que é
potencializado pela brinquedoteca, já que a brincadeira, ao retomar parte da rotina que a
criança tinha anteriormente, contribui para amenizar a estranheza que a inserção no hospital
causa, aumentar o sentido de controle, competência e autoestima da criança, facilitar a
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
110
construção de parcerias, o que favorece a manutenção e a evolução de aspectos saudáveis do
desenvolvimento (Azevedo, 2010a; Azevedo & cols., 2008; Camargo & cols., 2003; Carmo,
2008; Cunha, 2007; Fonseca, 2010; Oliveira, 2010; Oliveira & cols., 2009; Moreira &
Macedo, 2009; Ribeiro & Angelo, 2005; Schmitz, Piccoli, & Vieira, 2003. Silva, 2006; Silva,
Borges & Mendonça, 2010; Weber, 2010).
Em consonância com isso, Carvalho e Begnis (2006) argumentam que a promoção da
saúde não se limita à busca da cura e da redução do período de hospitalização, tendo em vista
que se faz necessário auxiliar a criança a passar por essa situação com mais benefícios que
prejuízos. Tal postura pode fazer com que a internação não seja um momento unicamente de
sofrimento, mas rico em conteúdos a serem significados, contribuindo para a saúde global da
criança.
De todo modo, mesmo a hospitalização sendo um evento potencialmente estressante à
criança e sua família, nem sempre representa uma experiência traumatizante e prejudicial ao
desenvolvimento da criança (Carmo, 2008; Oliveira e cols., 2009). Dependendo de uma série
de fatores, tais como: idade, repertório comportamental, reações dos familiares com a doença
e hospitalização, as condições clínicas da criança, o tempo de hospitalização e a qualidade dos
serviços e da estimulação oferecida, os possíveis danos resultantes da internação podem ser
minimizados e superados (Baldini & Krebs; 1999; Capelli, 1990; Silva, Borges & Mendonça,
2010).
Diante disto, o contexto hospitalar, além de buscar a promoção da saúde física, deve
oferecer à criança condições para que os processos de desenvolvimento e aprendizagem sejam
continuados. Como em um círculo virtuoso, pode-se pressupor que a estimulação à
continuidade dos aspectos saudáveis do desenvolvimento por meio do brincar propiciaria um
enfrentamento mais adequado da situação de adoecimento tanto para a criança quanto para
seus familiares, o que por sua vez favoreceria um desenvolvimento saudável destes (Fonseca,
2010; Motta & Enumo, 2004a; Oliveira & cols. 2009).
Em relação ao conhecimento que os acompanhantes tem sobre o funcionamento do
espaço, em três dos hospitais investigados, pelo menos oito souberam dizer corretamente os
turnos e os dias em que a brinquedoteca estava aberta, a exceção foi o H4, onde menos da
metade o fez. Dados a esse respeito parecem fornecer indícios relevantes acerca da qualidade
do serviço prestado nas instituições, pois podem sugerir uma divulgação eficiente e um
funcionamento regular ou a falta de acessibilidade, envolvimento da clientela e
funcionamento inconstante.
Com exceção do H4, todos os participantes dos outros hospitais já haviam ido ao
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
111
espaço. Provavelmente isto se deve ao fato do atendimento na brinquedoteca do H4 ser
semanal, ter uma atividade concorrente a ela e, estar situada fora da enfermaria, diminuindo a
possibilidade ou a frequência que a criança vai até ela e, consequentemente, o acompanhante.
No entanto, vale ressaltar que todas as crianças que eram acompanhadas pelos entrevistados já
tinham participado do espaço.
Em relação às atividades realizadas pelos entrevistados, enquanto estavam no espaço,
as mais citadas foram: brincar ou auxiliar a brincadeira da criança e observar o paciente que
estava acompanhando. No entanto, a maioria dos entrevistados do H1 citou apenas a segunda,
o que sugere uma concepção de que o brincar é algo exclusivamente infantil, cabendo ao
adulto monitorá-lo e vigiá-lo. Uma investigação que objetive comparar o relato verbal dos
acompanhantes acerca de seus comportamentos com aqueles efetivamente observados no
espaço, poderá indicar se dados como estes estão associados com a ideia de que é inadequado
falar que brinca e/ou uma baixa frequência da emissão do comportamento de brincar.
Por outro lado, Oliveira (1992) salienta que quando se faz uma leitura intersemiótica
da brincadeira, se pode ter acesso à forma como a criança organiza sua experiência de vida,
ou seja, sua maneira de pensar e sentir, bem como o conteúdo de seus pensamentos. Neste
sentido, uma observação atenciosa da brincadeira pode promover um conhecimento mais
perspicaz do modo como a criança está funcionando, oferecendo pistas que ajudam a
compreendê-la e a direcionar-lhe as ações mais adequadas (Carmo, 2008).
No que se refere ao discurso dos acompanhantes que afirmaram brincar ou colaborar
com a brincadeira de sua criança, este sugere que o espaço tem propiciado a valorização do
brincar e incentiva as interações entre o adulto e a criança. Em relatos de experiência e
pesquisas como as de Drummond e cols. (2009), Oliveira e cols. (2009) e Pecoraro e Saggese
(2008), nos quais os autores descrevem comportamentos dos familiares na brinquedoteca ou
as concepções destes a respeito do espaço, são destacados o caráter valorativo atribuído ao
brincar e de como este tem sido utilizado como recurso para se aproximar e criar vínculo com
a criança.
Carvalho e Begnis (2006) afirmam que os pais se sentem mais tranquilos e satisfeitos
quando veem sua criança hospitalizada brincando, a percepção de que esta tem condições de
resgatar uma atividade de sua rotina, aliada ao recebimento de orientações acerca do brincar,
faz com que associem a brincadeira que observam com o desenvolvimento neuropsicomotor
da criança.
A forma como os adultos, em particular os familiares, concebem o brincar da criança e
interagem com ela durante a brincadeira são variáveis que influenciam no desenvolvimento
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
112
desta. O envolvimento dos adultos na brincadeira da criança pode ser relevante em vários
aspectos: construção de parcerias, enriquecimento da brincadeira, facilitar a expressão sobre o
adoecimento e oferecimento de suporte, o que favoreceria à reciprocidade, o equilíbrio de
poder e fortalecimento do apego (Bersch, 2005; Carvalho & Vieira, 2005; Ferreira & cols.,
2005).
Neste mesmo sentido, Cunha (2007), ao falar da participação do adulto na
brinquedoteca, considera que brincar com a criança é uma forma de demonstrar amor por ela,
mas somente quando esta quer o envolvimento do adulto, pois se deve respeitar o tempo e seu
jeito de brincar, evitando interferências desnecessárias.
O relato de quase todos os participantes a respeito da própria participação na
brinquedoteca, mesmo daqueles que afirmaram permanecer pouco tempo ou somente observar
a criança, mostra que o familiar/acompanhante é efetivamente um cliente do serviço, cujo
envolvimento devem ser incentivados.
Ao discorrerem acerca do que lhes agradava na brinquedoteca, a maioria dos
entrevistados, independente do hospital, fez referência a algum brinquedo ou jogo específico,
em particular àqueles preferidos por suas crianças ou que acreditavam ser promotores de
desenvolvimento. Foram mencionados também observar a brincadeira das crianças e a alegria
relacionada a ela, atividades artísticas ou artesanais, leitura e interagir com as pessoas que
estão no espaço.
Os dados obtidos vão no mesmo sentido daqueles apresentados por Pecoraro e
Saggese (2008), ao avaliarem os resultados de cinco anos do funcionamento de uma
brinquedoteca, situada no Instituto de Oncologia Pediátrica. Dentre seus participantes, foram
entrevistados 60 acompanhantes que, ao serem questionados acerca das repercussões das
atividades desenvolvidas no espaço sobre os pacientes, afirmaram que estas eram “Ótimas”
(69%), “Ajudam o tratamento” (13%), “Ajudam a relaxar” (7%), “Ajudam o procedimento”
(7%), e “Ajudam a adaptação” (4%). Em relação ao que mais gostavam de fazer foram
enumeradas “Oficinas das mães” (37%), “Ler” (20%), “Brincar com os filhos” (17%),
“Conversar com as outras mães” (15%) e “Gostam de tudo” (11%).
Como pode ser observado, tanto as implicações do espaço sobre a criança/jovem
quanto as atividades que os familiares gostam de realizar apresentadas acima, estiveram
presentes no discurso dos acompanhantes desta investigação. No relato de Pecoraro e Saggese
(2008) não foi mencionado se os acompanhantes fizeram referência ao que a criança gosta ou
ao que seria “bom” a ela, quando solicitados a falar sobre o que gostavam. Dentre as várias
possibilidades que levariam a isto, podem estar: padrões de interação distintos entre os
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
113
espaços pesquisados ou mesmo diferenças metodológicas.
Tendo em vista que o impacto de uma hospitalização se estende à família, a
brinquedoteca deve acolher e favorecer o bem-estar dos acompanhantes, direcionando
atividades e material lúdico a esse público (Cunha, 2008; Ferreira e cols., 2005; Negrini,
2002; Oliveira, 2008; Viegas & Cunha, 2008).
No tocante às repercussões do espaço sobre os acompanhantes, mesmo sem que isto
fosse questionado diretamente, os participantes as apresentaram em diversos momentos da
entrevista. Dentre elas, parecem estar: a satisfação de observar a alegria e aspectos saudáveis
da criança, a redução da ociosidade e estresse, aprender a confeccionar objetos e a interação
social. Estes dados oferecem indícios de que as brinquedotecas investigadas podem se tornar
um ambiente de desenvolvimento para os acompanhantes que a frequentam.
A pesquisa de Powell e Seaton (2007), apesar de se referir à brinquedoteca
comunitária, oferece resultados relevantes para a reflexão daquelas de outros tipos. Os dados
apontam que o benefício mais importante que o espaço trazia às famílias foi suporte, sendo
que os pais que participavam constantemente dele consideraram a socialização como o maior
ganho. Os autores salientam que em muitas brinquedotecas havia um ambiente não coercitivo,
onde as pessoas podiam falar acerca de seus problemas ou daqueles de suas crianças, tanto
entre si quanto com a equipe.
Desta forma, a brinquedoteca deve ser um contexto que amplie a visão que o adulto
tem acerca do desenvolvimento infantil, ofereça suporte social e emocional, a partir das
interações e dos vínculos que são estabelecidos e incentive o comportamento de brincar do
adulto, o que além de favorecer um relacionamento mais estreito com a criança e a equipe,
pode facilitar sua expressão de sentimentos e a elaboração das situações, redução do estresse,
da ociosidade e aumento da sensação de bem-estar. Portanto, a brinquedoteca pode facilitar o
desenvolvimento dos próprios adultos que dela participam (Azevedo, 2010a; Carmo, 2008;
Carvalho & Begnis, 2006; Cunha, 2007; Drummond e cols., 2009; Junqueira, 2003; Oliveira,
2008; Oliveira, 2010).
Contudo, nem todos entrevistados afirmaram que haviam ido ao espaço ou que eram
assíduos, o que pode limitar o impacto da brinquedoteca no desenvolvimento destes. Pois,
considerando-se o modelo ecológico, para favorecer o desenvolvimento, em geral, a pessoa
deve ser partícipe de uma atividade de maneira regular e por um período prolongado de
tempo, cuja complexidade deve ser progressiva e gradativa e que haja reciprocidade das
relações (Bronfenbrenner, 1996).
Os resultados relacionados ao local preferido do espaço apontam para os seguintes
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
114
critérios de escolha: lugar de predileção da criança, a qual o participante acompanha; conforto
e adequabilidade às atividades que gosta de realizar. Neste sentido, Viegas e Cunha (2008)
destacam que o espaço deve ter decoração alegre, colorida, incitando a curiosidade e
permitindo a exploração.
No que se refere à forma como a maioria dos participantes tomou conhecimento da
existência do espaço, tem-se a visita ao leito e o convite da equipe para o frequentarem, o que
indica uma divulgação eficaz do serviço de brinquedoteca entre a clientela e uma atuação que
se estende além das paredes do espaço, onde a brinquedoteca funciona. Em relação a isso,
Viegas e Cunha (2008) salientam que a brinquedoteca não se limita ao espaço físico que
ocupa, estendendo-se por todos os locais onde haja crianças e adolescentes hospitalizados e
impossibilitados de se locomover.
Diante do estado de fragilidade que, muitas vezes, a família se encontra durante o
processo de hospitalização, Oliveira (2010) ressalta a importância do acolhimento oferecido a
ela para sua estabilidade e para recuperação do paciente. Assim, deve ser informada de forma
adequada a respeito dos recursos disponibilizados pelo hospital para seu bem-estar. Em
consonância a isto, Cunha e Viegas (2004) destacam a relevância do brinquedista ou de algum
membro da equipe hospitalar fazer uma apresentação inicial da brinquedoteca à família,
explicando-lhe a rotina de funcionamento e os benefícios associados a ela, pois à medida que
participa do espaço a família percebe que estes são reais e passa a ser um colaborador.
A respeito da equipe da brinquedoteca, esta foi avaliada favoravelmente por todos os
participantes, independente do hospital pesquisado, já que afirmaram que esta tem domínio
sobre seu acervo lúdico, conhecendo-o e sabendo como auxiliar a criança, que desconhece
algum brinquedo ou instrução. O corpo técnico foi caracterizado também como paciente,
atencioso e afetuoso com a clientela infantil e adulta da brinquedoteca.
O brinquedista é peça fundamental para que uma brinquedoteca sobreviva e atinja seus
objetivos. Além de uma formação adequada, é necessário que se tenha um bom repertório de
habilidades sociais, sensibilidade, entusiasmo, equilíbrio social, dentre outras características
(Cunha 2007, 2008).
Ao serem solicitados a darem sugestões à brinquedoteca, 21 dos 39 o fizeram, a
aquisição ou recuperação de brinquedos e equipamentos foram mencionadas em todos os
hospitais, com destaque aos jogos eletrônicos e computadores. A necessidade de se obter
brinquedos adaptados ou estimulantes para crianças com deficiência visual, bem como
daqueles voltados a crianças maiores e pré-adolescentes, mesmo tendo sido citadas somente
por alguns participantes, alerta às brinquedotecas para estarem atentas as faixas etárias que
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
115
compõem sua clientela e as suas demandas, oferecendo um atendimento de qualidade a todos
os seus usuários. Outra sugestão pertinente ao brincar foi: diversificar as brincadeiras,
incluindo aquelas de exercício físico e direcionadas aos acompanhantes.
Em todas as instituições houve acompanhantes que propuseram maior incentivo à
leitura, tanto dos pais quanto das crianças, com uso de contação de histórias e aquisição de
livros e revistas. Excetuando-se o H1, uma das sugestões enumerada em todos os hospitais foi
a ampliação do espaço da brinquedoteca. Outras contribuições foram: aumentar as atividades
que envolvem aspectos artísticos, obtenção de instrumentos musicais, tapete, construção de
parquinho, curso profissionalizante para os acompanhantes, bebedouro, lousa e atividades de
estudo. Esta última sugerida por apenas um acompanhante, o que provavelmente se deve ao
fato dos hospitais oferecerem acompanhamento escolar por meio da classe hospitalar.
Os dados desta pesquisa não permitem conhecer qual o papel que os entrevistados
desempenham enquanto usuários da brinquedoteca, todavia indicam a relevância científica e
social de que sejam investigadas as variáveis que influenciam a adesão da brinquedoteca pelos
pais, bem como suas práticas e os sentidos que estes atribuem a sua participação.
Dados obtidos com as crianças
 H1
A brinquedoteca foi o local preferido de oito crianças, os outros espaços foram a classe
hospitalar e uma das enfermarias que apesar de não ser aquela em que o leito do participante
estava, ele havia se deslocado a ela para desenvolver atividades de artesanato. Algumas falas
que expõem as justificativas para a escolha do local são:
“Na brinquedoteca. (...) Porque lá tem brinquedo pra brincar”. CH1-8
“Na brinquedoteca. (...) Porque eu gosto de pintar, de ler‟. CH1-6
“Pra ali. [na outra enfermaria]. No lugar que tem bijouteria”. CH1-7
Dentro da brinquedoteca, o espaço preferido pela metade das crianças foi onde
estavam as bonecas e utensílios domésticos, seguido daquele que tinha o aparelho de
TV/DVD, relatado por três: um afirmou que gosta de estar sentado à mesa infantil
desenvolvendo atividades expressivas e outro, onde estão disposto bonecos e animais
emborrachados ou de plástico.
A respeito do que fazem quando estão na brinquedoteca, nove crianças citaram algum
tipo de brincadeira. Destas, seis verbalizaram que preferem brincar com alguém a sós, sendo
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
116
os pares os principais parceiros. Outras atividades relatadas foram: assistir, pintar e/ou
desenhar e ler, sendo que oito afirmaram desenvolver mais de uma atividade, como
exemplifica a fala de CH1-7: “(...) brinco de brinquedo e de pintar (...) de casinha, de copo, de
pratinho, de bule e assisto televisão”.
Ao serem solicitadas a relatarem o que havia na brinquedoteca que os desagradava,
somente três crianças enumeraram algo, referindo-se a brinquedos específicos. A fala de CH19, além de ilustrativa aponta à necessidade das brinquedotecas hospitalares se atentarem para
a larga faixa etária que, em geral, atendem: “Brinquedo de criancinha, que eu não sou bebê.
(...) Tartaruguinha [exemplo], um bocado de coisa”.
A respeito das sugestões acerca da brinquedoteca e das atividades que gostaria de
realizar enquanto estivessem em tratamento, oito deles as fizeram. Estas se referiram à
aquisição de brinquedos e desenvolvimento de brincadeiras, tais como velocípede, vídeogame, brincadeiras de exercício físico e de roda. Um entrevistado sugeriu mudança na
organização dos brinquedos e outro, aquisição de um colchonete menos quente.
As
verbalizações a seguir apresentam algumas destas idéias:
“Brincar de pira-alta (...) aquelas brincadeiras de... queimada. Mudava alguns brinquedos (...)
eu ia tirar aqueles brinquedos do chão e botar em outro lugar”. (CH1-8).
“Eu queria que tivesse ursinho, mas não tem. (...) Eu queria que tivesse o Chaves [série de
televisão] também (...) porque eu gosto de assistir”. (CH1-10).
 H2
A brinquedoteca foi o local predileto da maioria das crianças, tendo em vista que apenas
duas citaram a enfermaria como local predileto. A título de exemplo, apresenta-se a fala de
CH2-2: “Na brinquedoteca, porque lá tem brinquedo, tem um bocado de gente que vai pra lá
pra brincar, tem desenho, a gente fica montando quebra-cabeça, pintando”
Quando foram solicitadas a dizer qual parte da brinquedoteca gostavam, seis afirmaram
que era estar sentado à mesa, o que facilitava o tipo de atividade que faziam; três verbalizaram
que era permanecer próximo aos brinquedos de casa e um afirmou que preferia ficar sentado
no chão.
Em relação ao que faziam quando estavam no espaço, as crianças mencionaram a
palavra brincar ou citaram brinquedos específicos. Também foram relatadas as atividades
artísticas, assistir a filmes e ler, como ilustra a fala de CH2-9: “Vou ver o livro, assistindo,
brincando. (...) De fazer comida, de desenhar, de pintar, brincar de carro”.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
117
No tocante à escolha de parceiros, sete relataram que preferiam brincar com alguém na
brinquedoteca, o que pode ser exemplificado na fala de CH2-8: “Eu sempre chamo alguém
pra brincar comigo. (...) a minha mãe, meu pai”.
Quando questionadas acerca do que lhes desagradava no espaço, seis verbalizaram que
nada, três fizeram referência a algum jogo ou brincadeira que não gostavam e uma reclamou
da equipe. Em relação a esta, é necessário pontuar que a entrevista ocorreu logo após uma
oficina de artesanato e que, durante a atividade, a criança solicitou material para confeccionar
um terceiro objeto, o que lhe foi negado. Entretanto, o tempo da atividade já estava se
encerrando e a maioria das pessoas que estavam participando da atividade havia feito somente
um objeto. A seguir, são apresentados trechos de seu relato:
“Pesquisador: __Tem alguma coisa na brinquedoteca que você não gosta?
CH2-5: __Tem.
Pesquisador: __ O quê?
CH2-5: __Ficarem brigando com as pessoas.
Pesquisador: __ Quem fica brigando com as pessoas?
CH2-5: __A gente quer as coisas, aí a gente leva os brinquedos e quando devolve elas não
gostam ainda, ainda brigam com nós.
Pesquisador: __ E elas queriam que fosse feito como? Como é que elas pedem pra vocês
fazerem?
CH2-5: __Pra fazer tudo do jeito delas, nós „fica‟ fazendo aí elas não deixam.
Pesquisador: __E o que elas não deixam?
CH2-5: __Ficar brincando por aqui, fazer algumas coisas bonitinhas nos papéis.
Pesquisador: __ Elas não deixam?
CH2-5: __ Não, só de vez em quando.
Pesquisador: __ Como é que elas dizem?
CH2-5: __ Elas falam assim: „vocês só tem de brincar... de uma coisa, vocês não tem que pegar
algumas coisas, pegar algumas coisas e deixar bagunçado‟. Elas querem que a gente brinque só de
uma coisa, aí nós „escolhe‟ uma coisa e depois escolhe outra”.
Acerca das sugestões ao espaço e aos serviços, somente quatro as fizeram. Contudo,
estas elencaram diversas ideias que melhorariam a brinquedoteca: mais brincadeira de
exercício físico, mais brinquedos e materiais de pintura e desenho, como quebra-cabeça, lápis
e aumento da variedade de desenho, aquisição ou conserto de DVD e televisão, menor entrada
de luz solar, a possibilidade de levar quaisquer brinquedos da brinquedoteca ao leito e um
técnico para brincar com cada criança. Algumas das contribuições podem ser verificadas nas
falas abaixo:
“Eu iria botar DVD, comprar uma televisão maior. (...) E várias coisas que tão faltando: lápis de
cor novo, apontador, mais desenhos, porque os que tem lá são pouco...” (CH2-8).
“(...) que tivesse uma [técnica] pra brincar com cada criança. (...) Eu ia comprar muita boneca,
as Barbies, balancinho, castelo de diamante, casinha”. (CH2-5).
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
118
 H3
A brinquedoteca é o lugar preferido por quase todas as crianças, apenas uma afirmou
que seria a classe hospitalar. Uma fala que ilustra a escolha da maioria dos participantes é a de
CH3-7: “Aqui [Brinquedoteca]. Porque aqui é legal, tem vídeo-game, tem tudo”.
Cinco, das nove crianças entrevistadas, relataram que o local em que mais gostam de estar
é onde se encontra o aparelho de TV/DVD e vídeo-game; outros dois disseram que era estar à
mesa, posto que esta permitia o uso de jogos de tabuleiro e atividades expressivas, como se
verifica na fala de CH3-1: “Brinco lá [aponta mesa verde], às vezes a gente faz trabalho com a
tia [TH3-A] (...) um dia a gente fez um cartaz pra aula da manhã... Eu gosto de pintar lá”. Um
participante relatou que prefere ficar onde está os computadores e outro não soube responder.
Ao serem questionadas sobre o que fazem quando estão na brinquedoteca, as
verbalizações se referiram a brincar e/ou pintar, sendo que apenas uma afirmou que realiza
apenas a pintura. Em relação às brincadeiras, as mais citadas foram jogos eletrônicos e os de
encaixe. As falas a seguir ilustram tais resultados: “Ah, eu gosto de me divertir. (...) de dama,
de dominó, de vídeo-game” (CH3-6) e “Eu gosto de pintar... pintar e brincar com os
carrinhos” (CH3-2).
No que se refere à escolha de parceiros, seis crianças afirmaram que preferem brincar
com alguém, sendo que cinco afirmaram preferir a companhia de outras crianças e um do seu
acompanhante.
Sobre o que desagradava na brinquedoteca, cinco crianças disseram que nada, um
afirmou que era brincar sozinho e as demais se referiram a algum brinquedo específico.
A respeito das sugestões para melhorar a brinquedoteca, duas crianças não sugeriram,
enquanto as demais citaram uma ou mais sugestões: a inclusão de brinquedos/jogos (vídeogames, carro de controle remoto e brinquedo dos transformes); o conserto de computadores;
aquisição de uma tela de cinema; inclusão de brincadeiras como as de adivinhações;
ampliação da brinquedoteca e mudança de sua pintura. O que pode ser ilustrado pelas
seguintes falas: “Eu gostaria que fosse do jeito que é” (CH3-4); “ Eu queria o Playstation 2”
(CH3-10) e “O computador, que tem, mas não funciona (CH3-1)”.
 H4
A classe hospitalar e a própria enfermaria são os locais preferidos das crianças, sendo
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
119
citadas quatro e três vezes, respectivamente. Somente duas escolheram a brinquedoteca. As
falas a seguir apresentam algumas das justificativas para a preferência dos locais:
“Na escolinha. (...) Eu gosto dos trabalhos. (...) de pintar o Scooby-Doo, de brincar de boi. (...) os
trabalhos, o Bem 10, pintar o pica-pau”. (CH4-8).
“Aqui [enfermaria]. (...) Do corredor [da enfermaria], pra ficar brincando de bola. Eu não
gosto de sair mais pra rua não (...) desce muita escada. Só deu subir e descer aquela escada eu já to
cansado”. (...) (CH4-7).
“Aqui mesmo dentro do quarto. [enfermaria]. Tem televisão. (...) e de ficar brincando com essa
coisa de atirar água [pistola de água]”. CH4-10.
“Na brinquedoteca (...) ficar brincando com os bonecos. (...) os dinossauros, jogo de botão”
(CH4-2).
Em relação à brinquedoteca, metade das crianças afirmou que preferia permanecer na
área externa, quatro na área interna e um escolheu o parquinho, que fica na área adjacente,
como o lugar que mais gosta de estar quando vai à brinquedoteca. As verbalizações de CH4-6
e CH4-3 ilustram tais dados: “No pátio. [área de fora]. Porque bate mais vento” e “Mais lá
dentro. (...) é cheio de brinquedo, muito legal”.
Ao serem solicitadas a verbalizarem acerca do que faziam quando estavam na
brinquedoteca, as crianças responderam brincar ou citaram alguma brincadeira/brinquedo
específico, como exemplifica a fala de CH4-7: “Eu brinquei de ser guitarrista, eu brinquei de
boliche, brinquei de bola, brinquei de carrinho, brinquei de um bocado de coisa”. As
brincadeiras mais citadas foram as de faz-de-conta e as que fazem uso de jogo de regras, cada
uma foi citada por seis participantes. O equipamento ao lado da brinquedoteca serviu como
brinquedo para três entrevistados.
Devido à brinquedoteca ser externa e ao seu modo de funcionamento, algumas
crianças havia ido a ela somente uma vez. Por isso, enquanto nos demais hospitais as crianças
foram questionados se preferiam brincar sozinhos ou acompanhados, neste optou-se por
averiguar se elas haviam brincando com parceiros quando estiveram na brinquedoteca.
Somente três afirmaram ter brincado sozinhos.
No que diz respeito ao que desagradava no espaço, oito afirmaram que nada, tais
dados podem ser ilustrados por meio da verbalização de CH4-6: “Não tem nada que eu não
tenha gostado, tudo eu gostei”. Das demais, uma falou acerca de não ter brincado de futebol
devido ao tamanho da brinquedoteca e a outra da impossibilidade de levar alguns dos
brinquedos que lá se encontrava para o leito. Ressalta-se que o Serviço de terapia ocupacional
disponibiliza material lúdico aos pacientes, mas esses estão alocados na sala da TO.
As crianças deste hospital deram sugestões à referida brinquedoteca, estas foram
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
120
agrupadas em: desenvolvimento de determinadas brincadeiras, como jogo de futebol e
brincadeiras turbulentas, relatadas por sete; aquisição de brinquedos e equipamentos, tais
como quebra-cabeça e computadores, citada por cinco crianças; ampliação da brinquedoteca,
sugerida por metade dos participantes e atividades expressivas, citadas por dois entrevistados.
Tais sugestões podem ser ilustradas nas falas de CH4-7 e de CH410, respectivamente: “Eu
queria pintar, lá. (...) jogar futebol lá, mas não tem espaço” e “Eu ia aumentar lá, que ela é
pequena. (...) eu „ia‟ botar mais brinquedos”.
Discussão
A brinquedoteca é o local preferido de 28 das 39 crianças, as justificativas
apresentadas por elas foram: a existência de vários brinquedos e a possibilidade de brincar,
pintar e desenhar, dentre outras atividades, o que é um indício de que efetivamente este é um
espaço diferenciado no hospital. Contudo, no H4 apenas duas a escolheram, o que
provavelmente foi ocasionado pelo pouco acesso que se tem ao espaço e às suas atividades,
especialmente quando se analisa as justificativas para tal escolha, que em grande parte se
referem ao brincar e às atividades expressivas.
Ter um espaço colorido e aconchegante, onde se possa encontrar os pares e
compartilhar com eles brinquedos, brincadeiras e experiências dentro de uma instituição de
saúde, é criar a possibilidade de re-significar favoravelmente um ambiente que, em geral, tem
sido caracterizado como frio e impessoal (Vieira & Carneiro, 2006; Weber, 2010).
Viegas (2008) salienta que os depoimentos de usuários, os relatos de experiência e as
pesquisas acerca da brinquedoteca hospitalar tem evidenciado que esta contribui para a
melhoria da qualidade de vida de crianças e adolescentes hospitalizados. Entretanto, na
ausência desse espaço estruturado, muitas vezes a enfermaria, o corredor e outras áreas são
utilizados pelas crianças para brincar (Silva, 2006); como pôde ser verificado no relato de
alguns participantes.
Como o esperado, o comportamento de brincar é o que marca a participação da criança
no espaço, sendo mencionado por praticamente todos. Foram também citados: assistir, ler,
pintar e/ou desenhar.
No tocante aos tipos de brinquedos, às brincadeiras e à área da brinquedoteca
predileta, estes se mostraram peculiares a cada hospital, o que parece ser devido ao gênero das
crianças, do material lúdico disponível no espaço e da organização deste.
O ambiente é uma variável que deve ser considerada ao analisar o comportamento de
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
121
brincar. Em relação à organização dos espaços lúdicos dentro do contexto hospitalar, Carvalho
e Begnis (2006) encontraram diferenças significativas no tipo de brincadeira e na forma de
interação de crianças hospitalizadas em duas instituições, uma com e outra sem espaço
estruturado para a brincadeira. Verificou-se que naquela em que havia um ambiente planejado,
as crianças foram mais independentes na seleção do brinquedo e na inserção no grupo
enquanto que na outra houve menor variedade de atividades e mais interferência do adulto, o
que diminuiu a liberdade de escolha e a mobilidade, além de uma baixa frequência das
crianças no local.
Independente do hospital, a maioria dos entrevistados prefere brincar com alguém, em
geral, com seus pares. No estudo de Motta e Enumo (2004a), a maioria dos participantes,
crianças hospitalizadas, cuja idade era de seis a 12 anos, relatou que gostaria de brincar com
as crianças que frequentavam o hospital, devido a estas “ser do mesmo tamanho”.
Quando solicitadas a verbalizarem acerca do que lhes desagradava na brinquedoteca,
26 crianças afirmaram que gostavam de tudo, não elencando algo. Aquelas que o fizeram,
enumeraram em grande parte algum brinquedo/jogo específico. Outros aspectos foram:
grande quantidade de brinquedos infantis, quando comparados com aqueles direcionados a
crianças maiores e pré-adolescentes, brincar sozinho, impossibilidade de realizar
determinadas brincadeiras, que exigem um espaço maior e algumas regras ou funcionamento,
entre elas o impedimento de levar alguns brinquedos/jogos ao leito e o horário de término da
oficina. Estes aspectos, apesar de terem sido citados uma ou poucas vezes, devem ser
considerados como relevantes, pois podem apontar aspectos que influenciam na qualidade do
serviço, por conseguinte na concretização dos objetivos a que uma brinquedoteca hospitalar se
propõe.
Os dados sugerem que o brincar dos participantes tem sido respeitado nas
brinquedotecas investigadas, tendo em vista o relato do que fazem e do que lhes desagrada na
brinquedoteca. Criar a possibilidade de brincar no hospital estimula o próprio processo de
enfrentamento da criança. Posto que, é uma atividade que faz parte de sua rotina e na qual é
perita, torna o ambiente menos desconhecido e assustador, o que pode levar a um estado de
relaxamento, liberdade e autonomia, proporcionado à medida que ela exerce (mesmo que
temporariamente) alguma forma de poder, como o da escolha de algum parceiro de atividade,
de como a brincadeira será conduzida, de utilizar somente o objeto lúdico que lhe convém
(Moreira & Macedo, 2009; Mota & Enumo, 2004a; Romano & Faria, 2008; Silva, Borges &
Mendonça, 2010).
Motta e Enuno (2004b) encontraram o brincar dentre as estratégias de enfrentamento
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
122
mais citadas por 28 crianças em tratamento oncológico. Os participantes tinham de seis a 12
anos e estavam frequentando o hospital regularmente, no mínimo, uma vez por mês. Estes
foram submetidas à aplicação do instrumento “Avaliação das Estratégias de Enfrentamento da
Hospitalização” (AEH), com 41 pranchas ilustradas, das quais 21 compunham o conjunto AEnfrentamento da hospitalização, destas as que obtiveram maior número de respostas “sim”
foram: “Brincar” (A1: 92,9%), “Assistir TV” (A4: 89,3%), “Rezar” (A8: 82,1%) e “Tomar
remédio” (A18: 92,9%).
O estudo de Salmela e cols. (2010) fornece dados relevantes neste sentido. Ao
investigarem as estratégias de enfrentamento relacionadas ao medo do hospital, segundo
crianças pré-escolares hospitalizadas ou não, encontraram o brincar entre aquelas mais
citadas; sendo que as internadas mencionaram significativamente mais vezes o brincar e estar
com algum brinquedo próprio. As autoras destacaram o papel ativo da criança na maioria das
estratégias mencionadas, o que pode favorecer um sentimento de controle do ambiente
hospitalar e do tratamento. Além disso, enfatizam que as estratégias de enfrentamento
essenciais são aquelas que fazem parte das atividades cotidianas da criança e de sua família.
A autonomia, as oportunidades de socialização, bem como o desenvolvimento de
habilidades proporcionadas pelo brincar contribuem para que a criança re-signifique o
ambiente hospitalar. O desenvolvimento de atividades que esta domina e que lhe causam
satisfação ameniza o caráter impessoal e solitário que poderia ser atribuído ao hospital,
tornando-o um lugar mais previsível, controlado e divertido (Azevedo, 2010a; Drummond &
cols., 2009; Moreira & Macedo, 2009; Oliveira & cols., 2009; Weber, 2010).
O hospital trás um mundo novo em experiências, sensações e a oportunidade de se
relacionar com pessoas de forma imediata e com significados específicos. Em alguns casos
pode ser uma oportunidade de receber alimentação adequada, cuidado, atenção, brincar e
aprender (Carmo, 2008; Oliveira e cols., 2009), o que nesta pesquisa pode ser exemplificado
pela criança CH4-8 que iniciou suas atividades escolares durante a internação.
Reis e Bichara (2010) a partir de um estudo que explorava e descrevia brincadeiras e
aspectos do coping de seis crianças hospitalizadas, com idade de três a 07 anos, apresentam a
hipótese de que a brincadeira, mais que uma via, é o próprio processo de enfrentamento.
Tendo em vista que, além de representar a situação que vivencia, aprende novas formas de
lidar com esta e age sobre ela dando novos significados e a transformando.
Diante disso, pode-se considerar que a relação entre a brincadeira e o enfrentamento
de uma situação, seja ela hospitalar ou não, constitui-se a partir da interface entre o brincar e
desenvolvimento. Assim, por mais que sejam escassas as evidências empíricas que asseguram
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
123
um menor tempo de internação ou uma melhora na imunidade das crianças que brincam no
hospital, o brincar justifica-se nesse contexto por contribuir para o crescimento físico,
cognitivo, emocional e social da criança (Carmo, 2008; Silva, 2006).
Em relação a sugerir melhorias à brinquedoteca, a participação dos entrevistados foi
variável de hospital para hospital, enquanto no H2 somente quatro apresentaram sugestões, no
H4 todos o fizeram. Independente da instituição, quase todas as sugestões estavam
relacionadas com o brincar, como a aquisição de brinquedos e jogos, particularmente os
eletrônicos e a realização de brincadeiras que envolvessem exercício físico, tanto as
turbulentas quanto as de regras.
No que se refere aos jogos eletrônicos e à informática, Pecoraro e Saggese (2008)
também verificaram que estes são requisitados por crianças e adolescentes na brinquedoteca
terapêutica que haviam avaliado. Dentre seus participantes, havia 60 pacientes com idade
superior a quatro anos que foram solicitados a falar o que mais gostavam de fazer no espaço,
26% respondeu o computador e 22% o vídeo-game.
Há discordância entre os estudiosos acerca dos benefícios e prejuízos do uso de vídeogame por crianças e adolescentes. Bomtempo (2000) argumenta que existem evidências de
que o conteúdo violento de vídeo-games incita a um comportamento violento, particularmente
quando o jogo é individual. Todavia, também são disponibilizados aqueles que caracterizamse pela fantasia e ação.
Segundo Cunha (2007), o computador é um recurso que se pode usar para facilitar e
enriquecer o processo de aprendizagem, já que o ritmo de trabalho é determinado por quem o
utiliza, diminuindo a pressão pelos erros cometidos, esta situação favorece um processo mais
tranquilo, independente e estimulante à criatividade. No caso das brinquedotecas, sua
aquisição pode representar a oportunidade daquelas crianças que não tem acesso a esse
equipamento, conhecê-lo e usá-lo. Por outro lado, a autora alerta para o risco de que se
despenda muito tempo com computadores e jogos eletrônicos em detrimentos de outros tipos
de brincadeiras e jogos.
Ramos (2006) considera que a inserção nos jogos eletrônicos pode ocorrer ao mesmo
tempo daquela dos jogos tradicionais, pois determinados tipos reproduzem aspectos do mundo
real e permitem interação e manipulação, além de envolver relações humanas e sociais, como
quando são criadas comunidades virtuais. Entretanto, determinados jogos deixam de levar em
conta os aspectos culturais, que estão relacionados com a formação do juízo moral,
apresentando uma realidade virtual desconectada da real e propondo valores morais
contraditórios ao que aceito por nossa sociedade.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
124
No que diz respeito às brincadeiras e jogos que exigem locomoção rápida e vigor
físico, como o futebol, as dimensões dos espaços investigados parecem ser insuficientes.
Viegas e Cunha (2008) salientam que, havendo possibilidade, é interessante que a
brinquedoteca disponha de uma área ao ar livre, disponibilizando brinquedos de acordo com
as condições físicas dos pacientes. Em um relato de experiência acerca de uma brinquedoteca
hospitalar, Oliveira e cols. (2009) consideraram que as brincadeiras realizadas na área externa
do hospital, onde havia gramado, bancos e equipamentos como gangorra e balanço, foram
relevantes para dar continuidade ao desenvolvimento motor da criança.
Motta e Enumo (2004a) encontraram dados que também apontam que o adoecimento
físico não implica necessariamente em uma modificação dos interesses lúdicos da criança e do
adolescente. Os participantes, cuja faixa etária era de seis a 12 anos, foram submetidos a uma
entrevista e a um instrumento para a caracterização do brincar no hospital (AEH – Conjunto
B), verificou-se que, em geral, eles apresentaram pouca restrição aos diferentes tipos de
brincadeira que gostariam de fazer no hospital. Apesar do desejo de brincar de maneira
indiscriminada, muitas vezes a condição clínica e, principalmente, a forma como o ambiente
hospitalar é estruturado, limita a possibilidade de brincadeiras que exijam coordenação
motora ampla, esforço e mobilidade.
Tanto o relato do que fazem na brinquedoteca quanto das sugestões de melhorias ao
espaço, são evidências de que estas crianças continuaram a ter necessidades lúdicas apesar do
estado de adoecimento e internação (Motta & Enumo, 2010). No ambiente hospitalar, tais
demandas continuam a estar relacionadas à promoção da saúde e ao desenvolvimento da
criança, porém a recuperação da saúde pode salientar-se aos olhos de quem a acompanha, seja
este profissional ou não. Assim, deve-se ter o cuidado de garantir o livre brincar no hospital, o
que não suplanta o uso do brinquedo terapêutico, instrumento reconhecidamente eficaz no
atendimento dessa clientela.
A partir dos resultados encontrados e do que tem sido apresentado pela literatura,
propõe-se aos gestores dos hospitais e aos técnicos analisarem o discurso das crianças,
considerando o que estas gostam, suas críticas e sugestões a fim de promover um atendimento
cada vez mais adequado às demandas de sua clientela. Isto deve ser realizado sem
negligenciar as condições clínicas da criança e as implicações destas, tendo em vista que a
promoção da brincadeira, especialmente em um contexto hospitalar, deve ser feita sem que
isto comprometa a saúde dos usuários ou que os riscos sejam extremamente minimizados.
Uma fala que concretiza este alerta foi a do participante que sugeriu aquisição de ursos de
pelúcia, brinquedos considerados inapropriados à brinquedoteca hospitalar devido a forma de
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
125
higienizá-los.
Em conjunto com os dados obtidos pelos acompanhantes, estes dados levam a
pressupor que as brinquedotecas investigadas, ao promover o livre brincar e outras atividades
lúdicas, estão auxiliando as crianças a desenvolverem estratégias de enfrentamento mais
adequadas à hospitalização
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Teóricos de diferentes áreas do conhecimento, ou mesmo sob as diversas orientações
do fazer psicológico tem dado papel de destaque ao brincar. Todavia, uma compreensão
científica das relações estabelecidas na brincadeira e por meio dela ainda apresenta um vasto
campo de investigação. Nesse sentido, a brinquedoteca hospitalar se constitui em mais um
contexto para se estudar este fenômeno, sendo uma de suas peculiaridades a própria existência
de uma instituição, cuja filosofia é a valorização do brincar livre, concretizada por um espaço
visualmente lúdico e organizado para promover a brincadeira. Este espaço inusitado, já que
sua implantação no Brasil é recente, além de permitir a investigação do brincar e suas
repercussões imediatas e em longo prazo para quem o pratica, pode ser uma via de acesso às
concepções de profissionais, crianças e acompanhantes a respeito do brincar e da
brinquedoteca.
O aspecto que primeiro se destacou neste trabalho foi a infração dos direitos da
criança. Apesar do direito de brincar ser assegurado legalmente (Constituição Federal art. 84;
ECA- Lei 8.069/90; Lei 11.104/05; Resolução 41 de 13 de outubro de 1995), somente cinco
hospitais de 35 informaram dispor da brinquedoteca. E, além do descumprimento da
legislação, o que se percebe é a ausência das sanções previstas no inciso II do art. 10 da Lei nº
6.437/77.
Nas brinquedotecas investigadas, notou-se a necessidade de se resgatar a sua
historicidade, tendo em vista que sua forma de se organizar enquanto instituição está
relacionada aos objetivos que se propõe a curto, médio e longo prazo, mas também com o seu
próprio processo de implantação. A falta de um planejamento formal e documentado das
demandas que deveriam ser atendidas, dos recursos humanos, materiais e de infraestrutura
necessários, juntamente a um comprometimento superficial dos gestores hospitalares,
parecem deixar carências difíceis de serem sanadas posteriormente. Entre elas, o
desconhecimento por parte dos técnicos de como o espaço foi implementado e a aquisição de
fundos para manter o acervo lúdico diversificado e em bom estado.
Entretanto, verificou-se que estas brinquedotecas criam dentro do hospital um
ambiente alegre, descontraído, facilitador de construção de parcerias e de suporte emocional
e, principalmente, estimulante à brincadeira, o que pôde ser averiguado pelos dados oriundos
da Escala de Autoavaliativa de Índices de Qualidade (EAIQ), da observação e do fotográfico.
Tais resultados ratificam o papel da brinquedoteca na humanização da saúde e fomenta
a consolidação deste serviço como um dos instrumentos que viabiliza o Programa Nacional de
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Humanização da Assistência Hospitalar - PNHAH (Brasil, 2004), que tem como um de seus
princípios a construção de autonomia e protagonismo dos sujeitos e coletivos implicados na
rede do SUS, sendo algumas de suas ferramentas a garantia do direito dos usuários de serem
atendidos com respeito, eficiência, rapidez, informação e segurança, o que inclui a melhoria
dos locais de atendimento e, se necessário, mudanças no espaço físico.
Pode-se salientar que garantir o direito de ser atendido de maneira respeitosa e
eficiente é assegurar ao usuário um direito legalmente instituído, como o é o exercício da
brincadeira pela criança (Constituição Federal art. 84; ECA- Lei 8.069/90; Lei 11.104/05).
Dessa forma, os estudos acerca da brinquedoteca hospitalar tem evidenciado que ela torna o
ambiente hospitalar mais acolhedor, aumenta a colaboração da criança ao tratamento e
possibilita a manutenção e aprimoramento de seus aspectos sadios e de sua identidade, o que
pode resultar em uma recuperação mais rápida e a repercussões favoráveis no
desenvolvimento.
A respeito do discurso dos técnicos e dos acompanhantes acerca do conceito e da
função desses espaços, observa-se que, em geral, apresenta concepções semelhantes tanto em
relação à impossibilidade de se definir a brinquedoteca, desconsiderando seu papel, quanto a
respeito das repercussões do brincar ao bem-estar de sua clientela. Isto parece indicar que o
fracasso na efetivação do objetivo primordial da brinquedoteca, que é o brincar,
descredenciaria o espaço como tal. Esta compreensão por parte dos participantes parece se
constituir em mais um indicador de que estes tem conseguido promover o lúdico e suas
repercussões, o que poderia ser intensificado caso houvesse uma frequência e um período de
funcionamento maior.
No tocante às sugestões de melhoria, propostas pelos acompanhantes e suas crianças,
todas merecem ser avaliadas pelas instituições visando à adequação dos materiais lúdicos,
bem como dos aspectos estruturais e da dinâmica de funcionamento. Para aquelas apreciadas
como incompatíveis às normas de segurança e às regras do hospital, devem-se tornar público
as razões que conduziram a tal julgamento.
Em relação à equipe, os dados obtidos pelos instrumentos EAIQ e roteiros de
entrevista com a clientela convergem para uma avaliação positiva do acolhimento oferecido
pelas instituições. E o fato de todas contarem com profissionais assalariados, implica em um
comprometimento institucional, favorecendo um funcionamento mais regular em termos de
frequência e de continuidade das atividades desenvolvidas.
Contudo, as equipes se mostraram distintas no que se refere ao número de membros e
à formação teórica, sendo que uma delas carece inclusive de se ter realmente uma equipe
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voltada à brinquedoteca. Observou-se ainda que somente duas equipes são compostas de pelo
menos dois profissionais de áreas diferentes, e segundo o relato dos seus respectivos técnicos
falta-lhes uma rotina de reuniões sistemáticas. Uma equipe multidisciplinar cria possibilidades
para uma compreensão mais profunda das experiências e das demandas trazidas pela clientela,
representando um salto de qualidade no atendimento oferecido.
Diante disso e da relevância científica do estudo do brincar, das relações que se
estabelecem por meio dele e de suas implicações no desenvolvimento, torna-se cada vez mais
urgente a inclusão de pesquisas relativas à brincadeira e ao processo de adoecimento dentro
da academia, além de cursos classificados como os da área da Saúde, que poderiam ser
contemplados nos Projetos Político-pedagógicos dos cursos da área de Educação. Assim, a
brinquedoteca se apresenta tanto como ambiente de aprendizado, onde diversos conteúdos
científicos ganham tons de vivência, particularmente aqueles referentes ao desenvolvimento
humano, como objeto a ser teorizado e investigado.
Na perspectiva científica, ressalta-se que os resultados apontam que a brincadeira é
percebida pelos participantes como fator de prevenção e de promoção da saúde, além de
geradora de oportunidades de um desenvolvimento saudável da criança adoecida, sendo a
brinquedoteca o espaço propiciador do brincar por excelência.
O número reduzido de participantes limita a generalização desses dados às
brinquedotecas de outros municípios, entretanto indica a necessidade de investigações acerca
da história e da qualidade dos serviços e espaços oferecidos pelas brinquedotecas hospitalares
brasileiras, o que permitiria o conhecimento de seu perfil e a produção de evidências
empíricas que corroborassem ou lançassem reflexões diferentes das originadas neste trabalho.
Acredita-se que a inclusão dos gestores e de profissionais, que atendem as crianças, na
pesquisa, mas exercem suas atividades fora da brinquedoteca, poderia ter fornecido um
panorama mais amplo de como a brinquedoteca se insere institucionalmente, aspecto que
parece ser relevante na busca de indicadores de qualidade e, consequentemente, na avaliação
desses espaços. Por isso, sugere-se que pesquisas futuras nesta temática os incluam.
No tocante aos instrumentos utilizados, o uso da EAIQ nas brinquedotecas belenenses
teve a peculiaridade de ter sido aplicada em mais de uma pessoa por instituição, já que
diferente das brinquedotecas investigadas na Grande São Paulo, as brinquedotecas
investigadas nessa pesquisa, em metade estava ausente a figura do coordenador. Se por um
lado isto expôs a avaliação de diferentes atores, por outro dificultou a comparação entre os
hospitais.
A respeito das categorias de análise da EAIQ, considera-se que elas permitiram
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organizar as afirmativas, que compõem o instrumento, de forma congruente. Contudo,
averiguou-se que os itens referentes aos brinquedistas e voluntários podem ser interpretados
de diferentes formas, o que pode resultar em uma computação errônea dos dados e
comprometer a imparcialidade. Nesse sentido, sugere-se que sejam investigados os critérios
que os participantes utilizam para definir quem são e as atribuições do seu pessoal.
Salienta-se, tal como outros pesquisadores que utilizaram a EAIQ, que a análise
qualitativa dos dados obtidos por meio deste instrumento se mostrou apropriada para
investigação de indicadores de qualidade, já que longe de visar um ranqueamento entre as
brinquedotecas, os estudos tem se utilizado deste para traçar um panorama do processo de
implantação, funcionamento, clientela e equipe das brinquedotecas brasileiras, indicar que
aspectos parecem favorecer a concretização dos objetivos que estes espaços se propõem e
quais poderiam dificultá-la e construir e avaliar os próprios critérios que estão sendo
empregados para a investigação da qualidade dos serviços e locais oferecidos.
Dessa forma, a partir da EAIQ, da Carta das Ludotecas Francesas e dos resultados
encontrados propõe-se a inclusão de alguns itens que parecem representar importantes
indicadores de qualidade da brinquedoteca hospitalar: se há previsão de avaliações durante o
curso da ação e reajuste se necessário, se é feito algum relatório das atividades, bem como
avaliação quanti-qualitativa dos impactos da brinquedoteca no hospital, se há filiação à rede
nacional de brinquedotecas, se tem definidos os papéis, tarefas e responsabilidades de cada
membro da equipe, se são realizadas atividades sócio-culturais, como celebração de datas
festivas, se o acervo e a decoração contemplam aspectos culturais da comunidade da qual o
hospital faz parte e se são oportunizadas brincadeiras tradicionais, se existe um regulamento
interno, se são apresentadas as regras e o funcionamento do espaço ao público, se são afixadas
informações sobre o funcionamento na entrada e no interior da brinquedoteca e se é realizado
atendimento às crianças que estão no leito.
Pondera-se que o uso da EAIQ e de quaisquer outros instrumentos que visem
descrever e avaliar as brinquedotecas em escala nacional deve ser complementado com
indicadores de qualidade peculiares ao contexto em que a brinquedoteca está inserida. No
caso de alguns participantes deste estudo, por exemplo, a presença de ribeirinhos e indígenas,
demanda aos profissionais ter algum conhecimento sobre sua cultura e localização geográfica,
bem como dispor de acervo lúdico, decoração e oferecer atividades que façam sentido para
suas histórias de vida. Isto estimularia o comportamento de brincar da clientela, amenizaria a
estranheza frente ao ambiente hospitalar e oportunizaria o domínio sobre alguns de seus
aspectos.
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No tocante a indicadores de qualidade legalmente instituídos, verificou-se a existência
de poucos parâmetros existentes para avaliar estes espaços, o que provavelmente se deve ao
fato de que a implantação deste serviço é recente no Brasil. A regulamentação (Portaria nº
2.261/2005), que estabelece as diretrizes de instalação e funcionamento das brinquedotecas
hospitalares, oferece parcos delineadores de como ela deve ser estruturada e da formação do
corpo técnico.
Em relação aos roteiros de entrevistas, identificou-se no decorrer da coleta de dados
que poderiam ter sido incluídos naquele utilizado com as crianças e adolescentes tópicos
acerca do conceito e papel do espaço, conhecimento de sua rotina de funcionamento, relação
do brincar com a recuperação da saúde e desenvolvimento, tendo em vista que alguns
pacientes, que estavam próximos ao seu acompanhante durante a entrevista destes forneceram
informações que estavam sendo solicitadas ao adulto, ora de forma espontânea ora a pedido
do entrevistado.
Conclui-se que os dados deste estudo fornecem indícios do caráter valorativo atribuído
ao brincar por profissionais e usuários das brinquedotecas hospitalares belenenses, bem como
o favorecimento do brincar livre dentro de um contexto tradicionalmente rígido e impessoal, o
qual poderia ser potencializado se o período de funcionamento fosse estendido, se houvesse
mais investimentos em recursos humanos e materiais, a documentação de seu planejamento,
atividades e respectivas avaliações e análise das repercussões do espaço àqueles que dele
participa.
Considera-se que esta investigação contribuiu para por em evidência a necessidade do
estreitamento entre o saber científico, as práxis e as demandas sociais. Nesse sentido, a
academia pode e deve ser uma instituição que potencializa esse processo por excelência, o que
poderia ser viabilizado por meio de estágios curriculares e projetos de extensão. Apesar do
objetivo deste estudo estar vinculado a uma formação acadêmica e seus resultados atrelados a
esta finalidade, apreende-se a partir destes que os ganhos desta aproximação são mútuos.
À medida que a brinquedoteca é mais um dos contextos em as crianças podem estar
inseridas, esta se constitui em lócus para que os cientistas do desenvolvimento humano
possam hipotetizar, testar e produzir conhecimento acerca de seu objeto de estudo. Acrescido
às questões que já estão postas pelas teorias, outras emergem a partir da vivência daqueles que
participam do espaço e podem apontar diretrizes de quais aspectos poderiam ser averiguados.
Com frequência, são divulgados materiais que apresentam repercussões da
implantação da brinquedoteca para seus usuários e para o hospital com escassos ou
inconsistentes dados empíricos de como este processo se deu, as pesquisas podem auxiliar a
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preencher essa lacuna, delineando variáveis e propondo estratégias para otimizar a efetivação
dos objetivos a que o espaço se propõe.
A aproximação entre o saber científico e o saber prático, relacionado ao contexto da
brinquedoteca hospitalar, pode auxiliar a compreensão do funcionamento do sistema familiar
em uma situação de crise e suas estratégias de enfrentamento e as interrelações entre o
adoecimento, a brincadeira e a trajetória de desenvolvimento da criança, favorecendo um
atendimento cada vez mais qualificado às crianças hospitalizadas e suas famílias. Assim, as
investigações nessas temáticas podem fornecer mais subsídios para sustentar e enfatizar a
relevância de direitos já assegurados legalmente às crianças, como a oportunidade de brincar
nos hospitais e de um atendimento que leve em consideração a fase peculiar de
desenvolvimento em que se encontram.
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Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
ANEXOS
145
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
146
Anexo A- Carta de Qualidade das Ludotecas Francesas
Carta de Qualidade das Ludotecas Francesas (Alice Lucot)
Tradução: Profª Drª Vera Barros de Oliveira
Organizada pela Associação das Ludotecas Francesas, ALF,em 2003, esta carta vem a
ser um quadro de referência para todas as ludotecas francesas. Fruto de uma reflexão em
conjunto sobre a prática quotidiana, não se constitui em um regulamento propriamente dito, a
ser cumprido, mas trata da formulação das principais condições de implantação e
funcionamento de uma ludodeca, com base em sólidos critérios de qualidade, assegurando seu
reconhecimento social. Aborda 11 temas gerais: Ética e papel de uma ludoteca; Projeto
(desde a criação às ações a médio e longo prazo); Parcerias; Tipos de serviços oferecidos;
Locais/Espaços; Jogos/Brinquedos; Funcionamento; Público(s); Acolhida e Comunicação. De
forma clara e didática caracteriza cada item e fornece orientação específica para seu
desenvolvimento adequado.
1. Ética e papel de uma Ludoteca
 Ter o brincar e o brinquedo no centro de todo projeto ou atividade.
 Promover a atividade lúdica e o prazer de brincar.
 Favorecer e promover o brincar livre (livre escolha do material, de sua utilização, dos
parceiros), saber estar presente sem intervir, respeitar o jogo e o não jogo.
 Saber brincar com os jogos, apresentá-los, transmitir as regras e adaptá-los aos
diferentes públicos (idades, handicaps...) e às diferentes situações.
 Garantir as regras dos jogos, as regras do lugar e o respeito entre os jogadores.
 Valorizar o patrimônio lúdico, possuindo jogos de diferentes épocas e de diferentes
culturas.
 Permitir a experiência de uma grande diversidade de jogos e para favorecer o espírito
crítico.
 Preservar o brincar das recuperações pedagógicas, terapêuticas, comerciais e
ideológicas.
 Ficar vigilante à manutenção da neutralidade do espaço da ludoteca.
 Informar-se sobre as condições da fabricação dos jogos e brinquedos.
2. Projeto - desde a criação às ações a médio e longo prazo
 Fazer um diagnóstico prévio: estudo do meio e das necessidades.
 Definir os objetivos a atingir (gerais, específicos, a curto ou longo termo) e as
prioridades.
 Determinar as ações a realizar e estabelecer um plano de trabalho.
 Definir e buscar os meios necessários (humanos, financeiros, materiais...). Analisar a
viabilidade das ações.
 Redigir um projeto coerente e adequado ao diagnóstico, levando em conta as
diferentes etapas de realização e o orçamento.
 Saber apresentar e definir seu projeto.
 Conduzir e supervisionar as ações de acordo com os objetivos propostos.
 Prever avaliações durante o curso da ação (a médio e longo termo) para reajustar, se
necessário.
 Prever ocasiões de reuniões entre os diferentes atores responsáveis pelo projeto , assim
como um balanço das atividades do projeto.
 Realizar uma avaliação quantitativa e qualitativa.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
147
3. Parcerias
 Afirmar sua identidade ludoteca frente aos parceiros.
 Participar ativamente da rede de ludotecas, desenvolver permutas e colocar em ação
ações comuns. Filiar-se à rede nacional das ludotecas.
 Identificar parceiros potenciais (institucionais e associativos), no setor geográfico da
implantação, tomar conhecimento de seu funcionamento e missão.
 Fazer-se conhecer por estes parceiros potenciais, entrando em contato com as diversas
instituições e estruturas das redondezas da ludoteca.
 Identificar diferentes possíveis financiadores, seus campos de intervenção e suas
exigências.
 Conhecer orientações e escolhas políticas das coletividades territoriais (Municípios,
departamentos, regiões).
 Conhecer o ambiente circundante sóciocultural, educativo e situar-se de forma
complementar.
 Desenvolver parcerias com outras estruturas, construindo projetos comuns, ou
participando de atividades desenvolvidas por elas.
 Estabelecer laços, ver parceiros nos profissionais do brincar e do brinquedo (criadores,
distribuidores, fabricantes...).
 Definir o lugar e as atividades de cada um dos parceiros.
4. Equipe
 Possuir pessoal assalariado diplomado.
 Possuir pessoal em número suficiente em função do projeto e das atividades
 Possuir pessoal qualificado nos domínios das atividades exercidas.
 Definir papéis, tarefas e responsabilidades de cada um.
 Favorecer a complementaridade das competências e a combinação.
 Aderir ao projeto da ludoteca.
 Criar uma equipe dinâmica e motivar o pessoal.
 Participar das ações de formação contínua nos domínios do brincar, do brinquedo e
das ludotecas.
 Fazer reuniões regulares com a equipe.
 Favorecer a estabilidade da equipe.
5. Tipos de serviços oferecidos
 Preço gratuito ou pago.
 Brincar livre no local.
 Brincar no local com animação.
 Organização de manifestações e criação de animações temáticas à volta do jogo ou do
brinquedo.
 Animação de jogos em meio externo e em outras estruturas.
 Atelier de fabricação e de criação de jogos.
 Documentação, informação, conselho, relativo ao jogo (escolha, utilização,
interesse...).
 Formação sobre o jogo, o brinquedo e a atividade lúdica, acolhida a estagiários, a
portadores de projetos.
 “Ludobus” e outros serviços itinerantes.
 Testes de jogos e brinquedos.
6. Locais e espaços
 Ter locais reservados unicamente a ludoteca e dispor de um espaço exterior para
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém









148
brincar.
Dispor de superfície de tamanho suficiente às atividades e aos diversos públicos
acolhidos.
Possuir os tipos de locais necessários para o funcionamento da estrutura (locais para a
acolhida do público, locais técnicos, administrativos, sanitários...).
Facilitar o acesso da ludoteca ao público: proximidade dos locais de moradia,
transportes públicos , estacionamento...
Dispor de locais acessíveis a todos (cadeiras de rodas, carrinhos de bebê, etc...).
Dispor de locais claros, ensolarados, isolados, arejados.
Respeitar as regras de segurança e de higiene.
Organizar os espaços abertos ao público em função das idades, dos tipos de atividades
e dos serviços oferecidos.
Possuir mobiliário modulável e funcional, adaptado aos diferentes públicos, aos jogos,
às atividades.
Possuir locais atraentes (cores, elementos decorativos, estética do mobiliário, limpos,
em ordem...).
7. Acervo de jogos e brinquedos
 Possuir um bom conhecimento material, técnico, psicológico, pedagógico, histórico,
cultural dos jogos e brinquedos e atualizar esses conhecimentos.
 Dispor de material lúdico diversificado e em quantidade suficiente, em relação aos
projetos, às atividades e aos diversos públicos acolhidos.
 Propor material lúdico condizente às normas de segurança.
 Ter jogos e brinquedos em bom estado, completos, bem condicionados e limpos.
 Preparar a utilização dos jogos e brinquedos:proteção, cotação, inventário, registro,
marcação, aprendizagem do jogo.
 Utilizar uma classificação comum as ludotecas para analisar o material lúdico.
 Utilizar um método de arrumar os jogos e brinquedos adaptados aos diversos públicos
(indicação simples e acessibilidade).
 Gerenciar o estoque dos jogos e brinquedos desde o momento da compra ao desuso
(conhecimento do estado do estoque, renovação regular...).
 Divulgar, promover e valorizar todos os elementos do fundo de jogos/brinquedos.
 Conhecer as diferentes redes de fabricação, de edição, de distribuição do material
lúdico e os autores dos jogos.
8. Funcionamento
 Ter um regulamento interno.
 Ter dias e horas de abertura regulares, adaptados aos públicos visados e aos projetos.
 Estabelecer um emprego do tempo; abertura aos públicos diversos, acolhida às
coletividades, intervenções exteriores, manifestações, arrumação do espaço lúdico,
conservação e manutenção do material lúdico, entretenimento...
 Ter tarifas (adesão, preço) acessíveis a todos.
 Ter tempo específico e suficiente para a seleção, a descoberta, a aprendizagem, a
preparação e gestão do material lúdico, a organização dos locais...
 Manter um controle rigoroso e estatístico da frequência do público, dos empréstimos,
das adesões.
 Manter adequação entre os projetos e os orçamentos e fazer um relatório anual das
atividades.
 Conhecer a legislação em vigor (locais, públicos, atividades...).
 Assegurar ou participar da gestão administrativa e financeira da estrutura, assim como
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém

149
da gestão do pessoal.
Estar equipado com material informatizado, permitindo uma boa gestão da estrutura.
9. Público
 Acolher os diferentes públicos de discriminação de idade, cultura, handicaps...
 Favorecer os reencontros e as trocas entre esses públicos.
 Ter escuta as expectativas desses diferentes públicos e saber adaptar-se às suas
solicitações.
 Possuir conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil, a psicologia, as
particularidades específicas dos diversos públicos.
 Respeitar o ritmo e as competências dos públicos em sua apropriação do jogo.
 Responsabilizar o público pela utilização do jogo.
 Permitir aos jogadores o participar do conhecimento e o saber se conduzir referentes
ao jogo, respeitando suas regras.
 Ir ao encontro de novos públicos.
 Favorecer a participação de agregados na vida da ludoteca.
10. Acolhida
 Ter uma pessoa disponível para a acolhida.
 Ter um ponto de acolhida identificado e arrumado para tal.
 Estar disponível e ter uma atitude acolhedora.
 Apresentar as regras gerais e o funcionamento da ludoteca.
 Ter um bom conhecimento do público para poder personalizar a acolhida.
 Organizar o espaço, selecionar e preparar os jogos e brinquedos em função
públicos atendidos .
 Estar atento ao que se passa, observar e criar condições que permitam a cada
encontrar seu lugar em relação aos demais.
 Dar prova de flexibilidade e tolerância, adaptando-se caso a caso, tudo fazendo a
de respeitar o regulamento interno.
 Saber escutar sem julgar e permanecer discreto.
 Ter o cuidado de permanecer em seu papel de ludotecário e, em função
solicitações, orientar para os demais profissionais.
dos
um
fim
das
11. Comunicação
 Dar-se uma identificação específica.
 Saber apresentar a ludoteca e seu funcionamento.
 Difundir uma plaqueta de apresentação da ludoteca e de seu funcionamento.
 Ter uma boa sinalização, permitindo localizar a ludoteca.
 Afixar diversas informações sobre o funcionamento, na entrada e no interior da
ludoteca.
 Figurar nos catálogos acessíveis ao público e nos profissionais, sob a denominação
ludoteca. Equipar-se de aparelhos de comunicação (telefone, fax, internet...).
 Manter relações regulares com as mídias, com os financiadores e os parceiros.
 Organizar manifestações abertas a todos e participar de eventos da vida local com a
finalidade de promover a ludoteca.
 Informar as manifestações através de dispositivos particulares como quadros, avisos...
 Arquivar e pôr à disposição a relação dos eventos realizados na ludoteca (artigos da
imprensa, fotos...).
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
150
Anexo B- Escala Autoavaliativa de Índices de Qualidade
Hospital: ______________________________________________________________
Nome do participante: ___________________________________________________
Função: ___________________________________________
Data: ___/___/___
Instruções de preenchimento:
Leia atentamente as afirmações abaixo e, após cada uma delas, digite o número
correspondente à sua brinquedoteca hospitalar:
Digite no quadro a direita de cada afirmação:
3
2
1
0
N
Sim: afirmação plenamente correta.
Mais ou menos: afirmação parcialmente correta.
Não: afirmação incorreta.
Não sei.
Caso não haja brinquedoteca em seu hospital.
Caso queira dar sua opinião a respeito das brinquedotecas em geral, complete os itens 28, 29 e
30.
1 Antes de sua implantação, foi feito um diagnóstico do ambiente e da clientela
2 Possui um projeto levando em conta as diferentes etapas de realização e seu
respectivo orçamento.
3
Tem definidos os objetivos a atingir (gerais, específicos, a curto e longo
prazo).
4 São determinadas as ações a realizar, segundo um plano de trabalho.
5 São definidos os meios (humanos, financeiros e materiais) para execução do
plano de trabalho.
6 S\ão identificados possíveis financiadores e parceiros.
7 Possui contato com fabricantes e comerciantes de brinquedos para a sua
compra e doação.
8 É gratuita.
9 O funcionamento é regular e adaptado à clientela.
10 O funcionamento é devidamente divulgado.
11 Há controle a respeito da frequência dos usuários.
12 Favorece e promove o brincar livre e espontâneo.
13 Possibilita o brincar associado à recuperação escolar.
14 Possui brinquedista assalariado
15 Conta com um número suficiente de pessoas para desenvolver seu projeto e
suas atividades.
16 Conta com voluntários.
17 Favorece contato com familiares através do brincar.
18 Seu pessoal mostra-se disponível e acolhedor à clientela.
19 Seu pessoal sabe brincar com os jogos, apresentar-los, transmitir suas regras
e adaptá-las aos diferentes públicos.
20 Há boas condições de higiene do ambiente e do material lúdico.
21 Possui mobiliário adequado a clientela.
22 É reservado tempo para a seleção, aprendizagem, aplicação e gestão do
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
151
ambiente e do material lúdico.
23 Possui material lúdico diversificado.
24 Os jogos e brinquedos estão devidamente classificados.
25 Os jogos e brinquedos são condizentes com as normas de segurança
26 Os jogos e brinquedos são de fácil acesso
27 Há controle sobre o empréstimo de brinquedos.
28.As brinquedotecas hospitalares são___________________________________________:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
29. A função das brinquedotecas hospitalares é__________________________________:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
30. Na brinquedoteca hospitalar, a família: ________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
Anexo C- Carta de Aprovação do Comitê de Ética
152
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
APÊNDICES
153
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
154
APÊNDICE A- Roteiro de entrevista I
123456-
Quando foi a criação desta brinquedoteca?
O que suscitou a criação desta brinquedoteca?
O que havia no espaço que hoje se encontra a brinquedoteca?
Que profissionais estiveram envolvidos no planejamento da brinquedoteca?
Foi realizado levantamento de demandas à brinquedoteca?
Foi construído um projeto com descrições de como seria organizado o espaço da
brinquedoteca e de como esta funcionaria?
7- Caso tenha respondido a questão anterior afirmativamente, qual intervalo de tempo entre a
finalização do projeto e o início das atividades da brinquedoteca?
8- Quais são as ações planejadas pela brinquedoteca a médio e longo prazo?
9- Como a equipe está organizada atualmente?
10- Qual a rotina de atendimento da brinquedoteca?
11- Como é a clientela?
12- Quais são as atividades realizadas pela brinquedoteca tanto para a clientela quanto para a
própria equipe?
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
155
APÊNDICE B- Roteiro de Observação
Avaliação do Espaço físico:

1.1 Dimensão

1.2. Luminosidade

1.3. Ventilação

1.5. Acessibilidade

1.6. Banheiros

1.7. Pias

1.8. Assepsia
Avaliação da Divulgação:

Verificar quais são os meios de comunicação utilizados para divulgar a
localização da brinquedoteca e do seu funcionamento aos seus clientes.
Avaliação da Rotina:
 Verificar quais os horários de funcionamento;
 Que tipos de atividades são oferecidas (dirigida e/ou livre);
 Verificar quem são os profissionais que compões a equipe da brinquedoteca;
 Verificar quem é a clientela da brinquedoteca;
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
156
APÊNDICE C- Roteiro de Entrevista II
Nome:
Idade:
Escolaridade:
Local de Origem:
Data
1-
Quem você está acompanhando (idade, sexo, patologia)?
2-
Quanto tempo a criança que você acompanha está internada?
3-
O que é a brinquedoteca?
4Como é o funcionamento da brinquedoteca (verificar se sabe os dias e horários em que
fica aberta)?
5Como você ficou sabendo que existia esse espaço (verificar como é feita a
divulgação)?
6-
Para quê ela funciona?
7-
Por que você a frequenta?
8Quais são as coisas que você faz quando está na brinquedoteca? E a criança que você
acompanha?
9-
Quais são os locais da brinquedoteca você prefere?
10-
O que tem na brinquedoteca que você gosta (serviços e espaços)?
11-
O que falta à brinquedoteca ou o que poderia ser diferente (serviços, espaço)?
12-
Que atividades poderiam ocorrer na brinquedoteca?
13-
Que brinquedos e jogos você gostaria que tivesse aqui?
14-
A equipe da brinquedoteca sabe utilizar e ensinar a brincar com os jogos que tem?
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
157
APÊNDICE D- Roteiro de Entrevista III
Nome:
Idade:
Tipo de doença:
Tempo de Hospitalização:
Data
1- Verificar qual o lugar do hospital a criança mais gosta de ficar.
2- Verificar qual dos espaços da Brinquedoteca a criança mais gosta de ficar e por quê.
3- Verificar o que a criança gosta de fazer quando está na Brinquedoteca.
4- Verificar se a criança, quando está na Brinquedoteca, gosta de brincar sozinha ou na
companhia de alguém.
5- Verificar do que a criança gosta de brincar quando está na companhia de alguém ou sozinha
(na Brinquedoteca).
6- Verificar o que a criança gostaria de incluir, seja uma atividade ou jogo, na Brinquedoteca.
7- Verificar se há algo que a criança não gosta na Brinquedoteca.
8- Verificar qual o brinquedo da Brinquedoteca a criança mais gosta.
9- Verificar qual o turno (manhã ou tarde) a criança prefere ir à Brinquedoteca.
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
158
APÊNDICE E- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido-I
Universidade Federal do Pará
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento
Nome da Pesquisa: Brinquedotecas Hospitalares em Belém: Avaliação da qualidade dos
serviços e espaço
Você está sendo convidado (a) a participar de um mapeamento das brinquedotecas
hospitalares na cidade de Belém. Esta é uma pesquisa nacional coordenada pela Profª. Drª.
Vera Barros de Oliveira da Universidade Metodista de São Paulo. O reconhecimento da
importância das brinquedotecas e a grande expansão das mesmas tornam necessário que se
tenha um perfil de qualidade de sua criação, organização e funcionamento, o que trará
benefícios para a qualidade de atendimento do hospital como um todo.
Os dados serão coletados em duas etapas: a primeira corresponde a uma entrevista
com você, na qual será aplicado um questionário; na segunda serão realizadas visitas à
brinquedoteca, cujo registro se dará por meio de máquina fotográfica.
A sua participação é voluntária e não implica em qualquer tipo de compromisso ou
despesa. Informamos que você é livre para participar e/ou para retirar-se da pesquisa a
qualquer momento, sem qualquer forma de represália.
Asseguramos que todas as informações prestadas por você são sigilosas e serão
utilizadas somente para esta pesquisa. A divulgação destas informações será anônima e em
conjunto com as respostas de um grupo de pessoas.
____________________
____________________
______________________
Mayara B. S. Lima
Pesquisadora
Responsável
End:Tv. Santo Antônio, nº 47
fone: 8170-3070
Celina M. C. Magalhães
Orientadora
End: Gleba II, Alamesa I, casa 10,
fone: 3243-0337
Dalízia Amaral
Auxiliar de Pesquisa
fone: 8863-0899
Declaro que li esse documento, assumindo que entendi com clareza todas as
informações aqui registradas. Declaro que espontaneamente aceitei participar como voluntária
na pesquisa, cooperando com as informações solicitadas.
Belém, ___/____/_____
_______________________________
Assinatura do participante
Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará (CEPICS/UFPA)-IXComplexo
de Sala
Aula/ CCS- Sala 13 – Livre
Campus e
Universitário
do Guamá,APÊNDICE
no. 1, Guamá APÊNDICE
Termo
dedeConsentimento
Esclarecido-II
VIIICEP: 66.075-110 – Belém, Pará – Tel/Fax: 3201-8028/3201-7735
Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido-I
E-mail: [email protected]
Descrição e Avaliação das Brinquedotecas Hospitalares em Belém
159
APÊNDICE F- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido-II
Universidade Federal do Pará
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento
Nome da Pesquisa: Brinquedotecas Hospitalares em Belém: Avaliação da qualidade dos
serviços e espaço
Você está sendo convidado (a) a participar junto com ________________________
de um mapeamento das brinquedotecas hospitalares na cidade de Belém. Esta é uma pesquisa
nacional coordenada pela Profª. Drª. Vera Barros de Oliveira da Universidade Metodista de
São Paulo. O reconhecimento da importância das brinquedotecas e a grande expansão das
mesmas tornam necessário que se tenha um perfil de qualidade de sua criação, organização e
funcionamento, o que trará benefícios para a qualidade de atendimento do hospital como um
todo.
Os dados serão coletados por meio de duas entrevistas, uma com você e outra com a
criança que você está acompanhando. Ambas serão realizadas aqui na brinquedoteca.
A sua participação é voluntária e não implica em qualquer tipo de compromisso ou
despesa. Informamos que você é livre para participar e/ou para retirar-se da pesquisa a
qualquer momento, sem qualquer forma de represália.
Asseguramos que todas as informações prestadas por você são sigilosas e serão
utilizadas somente para esta pesquisa. A divulgação destas informações será anônima e em
conjunto com as respostas de um grupo de pessoas.
____________________
____________________
Mayara B. S. Lima
End:Tv. Santo Antônio, nº 47
fone: 8170-3070
Celina M. C. Magalhães
Orientadora End: Gleba II,
Alamesa I, casa 10
Declaro que li esse documento, assumindo que entendi com clareza todas as
informações aqui registradas. Declaro que espontaneamente aceitei participar como voluntária
na pesquisa, cooperando com as informações solicitadas.
Belém, ___/____/_____
_______________________________
Assinatura do participante
Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará (CEPICS/UFPA)- Complexo de Sala de Aula/ CCS- Sala 13 – Campus Universitário do Guamá, no. 1, Guamá CEP: 66.075-110 – Belém, Pará – Tel/Fax: 3201-8028/3201-7735
E-mail: [email protected]
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