II Seminário das
Licenciaturas - IFC
Formação de professores: discussões e
aproximações necessárias para a
reestruturação curricular
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Formação Inicial de
professores para a educação
básica: o desafio curricular
Palestrante : Leda Scheibe
(UFSC/UNOESC)[email protected]
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1) ATUAIS CRÍTICAS SOBRE AS LICENCIATURAS
Segundo Bernadete Gatti ( O ESTADO DE SÃO PAULO 01/08/2014 - SÃO PAULO, SP):
licenciaturas são frágeis e não oferecem formação suficiente aos
futuros professores
As licenciaturas têm currículos muito frágeis, as ementas e
bibliografias são genéricas, não dão formação suficiente. Há uma
redução de formação de conhecimento oferecido em boa parte das
instituições.
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As instituições não estão encarando a formação desse
profissional com seriedade.
O currículo continua tradicional, com estrutura do início do
século 20. Não tem 10% de formação em educação, de
metodologia, prática de ensino, didática. Esse aluno vai para
uma escola sem saber onde está, o que é uma rede, uma sala de
aula.
Cada licenciatura está no seu nicho e não se encontram.
Não há no país uma base formativa comum para todos
licenciados
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Estudos têm mostrado que os docentes das faculdades ou
institutos de formação de professores têm dificuldade de ensinar.
O programa de iniciação à docência do MEC (Ministério da
Educação), o Pibid, mostra esta dificuldade nos projetos para
atuar na escola: envolve aluno, professor supervisor e escola.
Outros países se preocuparam com a preparação do professor
paralelamente com a reforma curricular. E o Brasil ainda não faz
isso.
.
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Falta financiamento para os estágios.
Tem de mudar a formação, mas também fazer estrutura de
carreira mais condizente. A carreira não é só salário inicial. Pela
pesquisa que fizemos de atratividade, vimos que o jovem pensa
na projeção a longo prazo. Qualquer profissional atua mais
tranquilamente com melhor salário e carreira.
Hoje há dificuldade de olhar o professor como um profissional.
Não tem prestígio.
A União precisa pôr mais dinheiro no Fundeb (Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação).
*BERNADETE GATTI É PESQUISADORA DA FUNDAÇÃO CARLOS
CHAGAS E ESPECIALISTA EM FORMAÇÃO DE PROFESSORES
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2 – MODELOS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES, com
base na história da formação:
Saviani (2009, p. 149), configura dois grandes modelos de
formação de professores:
o dos “conteúdos culturais cognitivos”, no qual a formação dos
professores situa-se e se esgota na cultura geral e no domínio
específico dos conteúdos da área de conhecimento para a qual o
docente é preparado;
e o “modelo pedagógico didático”, no qual a formação só se
completa com o preparo pedagógico-didático do professor.
O autor destaca o caráter antielitista deste segundo modelo de
formação que centraliza sobretudo a socialização do
conhecimento na tarefa do ensino e na possibilidade de ensinar
tudo a todos.
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3 - AVANÇOS LEGAIS A PARTIR DA LDB/1996:
Foi dada uma configuração específica aos cursos de
licenciatura, distinguindo-os, de certa forma, dos cursos de
bacharelado e aproximando-os mais do “modelo pedagógicodidático”.
Bordas (2009) afirma que a nova configuração favorece,
potencialmente, o aprofundamento da discussão sobre aspectos
teórico-práticos desta formação, e precisa ser mais
enfaticamente estabelecida. A implantação das atuais diretrizes,
decorrentes da LDB, nos cursos de formação de professor, no
entanto, ainda encontra problemas na sua implementação nas
universidades e requer continuidade e acompanhamento.
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Segundo a Resolução CNE/CP 01/02, art. 11, os critérios de
organização curricular, de alocação de tempos e espaços
curriculares, devem contemplar as seguintes dimensões:
I - eixo articulador dos diferentes âmbitos de conhecimento
profissional;
II - eixo articulador da interação e da comunicação, bem como do
desenvolvimento da autonomia intelectual e profissional;
III - eixo articulador entre disciplinaridade e interdisciplinaridade;
IV - eixo articulador da formação comum com a formação
específica;
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V - eixo articulador dos conhecimentos a serem ensinados e
dos conhecimentos filosóficos, educacionais e pedagógicos que
fundamentam a ação educativa;
VI - eixo articulador das dimensões teóricas e práticas.
Parágrafo único. Nas licenciaturas em educação infantil e anos
iniciais do ensino fundamental deverão preponderar os tempos
dedicados à constituição de conhecimento sobre os objetos de
ensino e nas demais licenciaturas o tempo dedicado às
dimensões pedagógicas não será inferior à quinta parte da
carga horária total.
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Segundo a Resolução CNE/CP 01/02, a seleção e o ordenamento
dos conteúdos dos diferentes âmbitos de conhecimento que
compõem a matriz curricular para a formação de professores são
de competência das instituições de ensino.
Quanto à organização curricular, pretende-se permitir ao
graduando opções que favoreçam a escolha da etapa da educação
básica para a qual se habilitará e a complementação de estudos
que viabilize sua habilitação para outra etapa da educação básica.
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Resolução CNE/CP 02/02 estabelece:
Art. 1º
A carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação
Básica, em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação
plena, será efetivada mediante a integralização de, no mínimo, 2800
(duas mil e oitocentas) horas, nas quais a articulação teoria-prática
garanta, nos termos dos seus projetos pedagógicos, as seguintes
dimensões dos componentes comuns:
I - 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular,
vivenciadas ao longo do curso;
II - 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a
partir do início da segunda metade do curso;
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III - 1800 (mil e oitocentas) horas de aulas para os conteúdos
curriculares de natureza científico-cultural;
IV - 200 (duzentas) horas para outras formas de atividades
acadêmico-científico-culturais.
Parágrafo único. Os alunos que exerçam atividade docente regular na
educação básica poderão ter redução da carga horária do estágio
curricular supervisionado até o máximo de 200 (duzentas) horas.
Art. 2° A duração da carga horária prevista no Art. 1º desta
Resolução, obedecidos os 200 (duzentos) dias letivos/ano dispostos
na LDB, será integralizada em, no mínimo, 3 (três) anos letivos.
(Resolução CNE/CP 02/ 02)
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Quanto à estrutura do curso de Pedagogia, respeitando a
diversidade nacional e a autonomia, a orientação expressa nas
Diretrizes curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia
(Resolução CNE/CP no 01/06), diz que ele deverá se constituir
por :
I - um núcleo de estudos básicos,
II - um núcleo de aprofundamento e diversificação de
estudos e
III - um núcleo de estudos integradores.
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Quanto ao curso de Pedagogia o Parecer CNE/CP nº: 5/05 e,
posteriormente a Resolução CNE/CP nº 01/06, que instituiu as
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em
Pedagogia, licenciatura, definiu que sua carga horária deveria ser
de, no mínimo, 3.200 horas de efetivo trabalho acadêmico, com a
seguinte distribuição:
- 2.800 horas dedicadas às atividades formativas como assistência
a aulas, realização de seminários, participação na realização de
pesquisas, consultas a bibliotecas e centros de documentação,
visitas a instituições educacionais e culturais, atividades práticas
de diferente natureza, participação em grupos cooperativos de
estudos;
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-300 horas dedicadas ao Estágio Supervisionado
prioritariamente em Educação Infantil e nos anos iniciais do
Ensino Fundamental, contemplando também outras áreas
específicas, se for o caso, conforme o projeto pedagógico da
instituição;
- 100 horas de atividades teórico-práticas de aprofundamento
em áreas específicas de interesse dos alunos, por meio, da
iniciação científica, da extensão e da monitoria.
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Os programas de educação superior devem incluir, nos
currículos, conteúdos, itens ou disciplinas relacionados à
pessoa portadora de deficiência (Decreto no 3.298/99; Lei
no 10.172/01; Lei no 10.436/02; Decreto no 5.626/05;
Resolução CNE/CP 01/2006).
Esses dispositivos devem ser considerados nos diferentes
cursos de formação de professores, sobretudo se
considerarmos a universalização da educação obrigatória,
de quatro a 17 anos, até 2016.
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4 -O professor que queremos
O professor que queremos é um profissional capaz de contribuir para
a construção da escola que idealizamos, preparado para propor e
implementar as ações necessárias à sua transformação. Para tanto, tal
profissional precisa de:
1. formação teórica ampla e consistente, visão contextualizada dos
conteúdos de sua área de atuação, de forma a garantir segurança em
seu trabalho e viabilizar o estabelecimento de parcerias com vistas ao
desenvolvimento de ações e à produção interdisciplinar;
2. formação ampla e consistente sobre educação e sobre princípios
políticos e éticos pertinentes à profissão docente;
3. compromisso ético e político com a promoção e o fortalecimento
da cidadania;
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4. formação que permita entender a gestão democrática como
instrumento para mudança das relações de poder nas diversas
instâncias do sistema educacional;
5. domínio das tecnologias de informação e comunicação;
6. capacidade de se manter permanentemente atualizado
7. visão clara sobre quem são seus alunos e o espaço cultural em
que se encontram estudantes e escola;
8. capacidade e segurança para migrar do papel de reprodutor de
conhecimento produzido por terceiros para o de produtor de
conhecimento
9. compreensão dos processos de aprendizagem de modo a ser
capaz de trabalhar as diferenças individuais e necessidades
especiais dos estudantes.
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O QUE FAZER?
QUE PROPOSTA PRECISAMOS CONSTRUIR NOS
INSTITUTOS FEDERAIS PARA INICIAR UMA NOVA
PROPOSTA EDUCACIONAL PARA A FORMAÇÃO
DOCENTE?
QUAL CURRICULO?
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5 -PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO PARA A FORMAÇÃO DE
PROFESSORES:
Aspectos caracterizadores: (Pró-Licenciatura 18/07/05)
1. Ser voltado para a construção de uma escola capaz de
promover a formação integral dos alunos, educando-os para o
exercício consciente da cidadania e adotando a perspectiva de
articulação entre as áreas de conhecimento;
2. possuir foco na formação da identidade do professor;
3. articular explicitamente teoria pedagógica e prática docente
ao longo do curso;
4. ter forte orientação interdisciplinar;
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5. apresentar discussão pertinente a questões inerentes ao
jovem e ao adolescente;
6. tratar os diversos conteúdos de forma contextualizada;
7. incluir no sistema de avaliação diferentes formas e
instrumentos de avaliação formativa e somativa, inclusive
valorizando a prática como educador do professo/raluno;
8. usar material didático com suportes variados (mídias) entre
eles, pelo menos, material impresso, inclusive livros
publicados, material em vídeo (não obrigatoriamente
desenvolvido para o Programa) e material em meio digital;
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9. levar, gradualmente, o educador a produzir material que
viabilize compartilhar sua experiência. O que se busca é o
desenvolvimento de capacidade de expressão e
representação em algum meio que viabilize a troca com pares;
10. levar cada professor/aluno a:
a. manter um registro regular por escrito de suas atividades, um
diário de bordo ou portfólio, onde constarão a evolução de seu
aprendizado, as descobertas que realizou, as experiências que
vivenciou etc: será uma memória viva de seu processo;
b. desenvolver, ao longo do curso, uma monografia e pelo menos
um produto em suporte ou meio de comunicação não
exclusivamente textual, como, por exemplo, animação, simulação
ou hipertexto;
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11. estimular e avaliar fortemente a produção textual dos
professores-alunos;
12. Incluir estratégias que levem o professor/aluno a experimentar
práticas de produção cooperativa;
13. possibilitar ao professor/aluno:
a. ampliar sua formação no conteúdo específico de sua disciplina;
b. atualizar-se nos conteúdos, tratando dos temas contemporâneos
da pesquisa em sua área;
c. aprofundar-se em questões pedagógicas, sócioculturais e temas
contemporâneos, tais como juventudes, cidadania, gestão
democrática, entre outros, sempre buscando aproximar teoria e
prática;
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d. experimentar e aprimorar práticas de ensino-aprendizagem;
e. estabelecer vínculos entre os conteúdos das diversas áreas do
conhecimento;
f. criar propostas concretas de integração das diferentes áreas do
conhecimento;
g. tratar o conhecimento de forma contextualizada, tendo em conta
a realidade social e cultural de sua região;
h. produzir materiais de apoio à prática docente;
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i.
discutir o papel social da escola e suas relações com a
comunidade;
j. criar propostas de intervenção social da escola;
k. trabalhar com tecnologias de informação e comunicação.
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6 - BASE COMUM NACIONAL para a formação dos
professores , com base numa concepção sócio-histórica da
educação (ANFOPE)
a) sólida formação teórica nos conteúdos específicos a serem
ensinados na educação básica, bem como nos conteúdos
especificamente pedagógicos;
b) ampla formação cultural;
c) atividade docente como foco formativo;
d) contato com a realidade escolar desde o início até o final do
curso, integrando a teoria à prática pedagógica;
e) pesquisa como princípio formativo;
f) domínio das novas tecnologias de comunicação e da
informação e capacidade para integrá-las à prática do magistério;
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g) análise dos temas atuais da sociedade, da cultura e da
economia;
h) inclusão das questões relativas à educação dos alunos com
necessidades especiais e das questões de gênero, de etnia e de
direitos humanos nos programas de formação;
i) trabalho coletivo interdisciplinar;
j) vivência, durante o curso, de formas de gestão democrática
do ensino;
k) desenvolvimento do compromisso social e político do
magistério;
l) conhecimento e aplicação das diretrizes curriculares
nacionais dos níveis e modalidades da educação básica.
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Base Comum Nacional não é definição nacional de
matriz curricular, ou de maneira ainda mais restrita,
retomada de currículos mínimos ou dinâmicas
similares.
Trata-se de estabelecimento de diretrizes nacionais
para a formação de professores que garantam
unidade na diversidade o que não se coaduna à
padronização ou rigidez curricular.
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7 - Desafios à formação de professores
De um modo geral, os cursos de formação de professores para
a educação básica devem ser organizados para atender a um
conjunto de requisitos legais, dentre eles:
a) compatibilidade com a etapa da educação básica em que
atuarão os graduados
b) possibilidade de complementação de estudos, de modo a
permitir aos graduados a atuação em outra etapa da educação
básica;
c) formação básica comum, com concepção curricular
integrada, de modo a assegurar as especificidades do trabalho
do professor na formação para atuação multidisciplinar e em
campos específicos do conhecimento;
d) articulação entre os cursos de formação inicial e os
diferentes programas e processos de formação continuada. 30
Em recente pesquisa sobre o Trabalho Docente no País ( Trabalho
docente na Educação Básica no Brasil) foram apresentadas as
seguintes temáticas como as que os professores se sentem menos
preparados:
Utilização de tecnologias para o ensino
Domínio dos aspectos administrativos da unidade educacional
Domínio dos conteúdos
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8)- PRÍNCÍPIOS ORIENTADORES em construção para a formação
de professores (Doc. do Fórum Estadual Permanente de apoio à
Formação Docente de Santa Catarina)
a) articulação teoria/prática;
b) formação que oportunize maior vivência/experiência do processo
pedagógico específico da educação básica;
c) construção da prática pedagógica como espaço de criação e
reflexão, possibilitando a produção de conhecimentos;
d) ampliação do espaço educativo (Família, movimentos sociais,
comunidade);
e) implementação de práticas interdisciplinares;
f) estruturação da prática como componente curricular;
g) articulação e fortalecimento das parcerias entre IES e campo de
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estágio;
h) formação continuada para o professor formador;
i) articulação da avaliação institucional com as avaliações externas;
j) articulação entre Ensino, Pesquisa e Extensão, com ênfase nas
demandas da educação básica;
k) promoção da inclusão na instituição;
l) abordagem das questões da inclusão e da diversidade no percurso
curricular;
m) utilização de novas metodologias e uso de tecnologias no
processo de ensino e de aprendizagem;
n) discussão sobre o sujeito aprendente e a sociedade, Psicologia
da Infância e Adolescência para que o professor compreenda os
jovens de hoje;
o) efetivação da Gestão Democrática;
p) valorização da identidade docente.
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9) Uma Proposta para a formação : Prof. Luiz Carlos de
Menezes/USP e CTC da EB da CAPES
-estabelecer co-responsabilidade entre escolas e centros formadores
-escola não somente como objeto de estudo, mas também
responsável pela qualidade da formação promovida
-implica uma escola que assuma as dimensões práticas da formação
inicial dos professores, e não apenas ser usuária dessa formação.
-articulação institucional com a escola como campus avançado dos
centros formadores
-a escola com formadores entre seus quadros, cujo trabalho deve ser
parte do seu projeto educativo e, portanto, assumida como
finalidade da instituição.
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Profa. Dra. Leda Scheibe