ANÁLISE DA INTERAÇÃO COMUNICATIVA DO PROFESSOR COM O ALUNO DEFICIENTE AUDITIVO PALAVRAS CHAVE: DEFICIENCIA AUDITIVA, EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO. INTRODUÇÃO Discute-se no panorama nacional, na área da Educação, a participação de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular, temática conhecida como “inclusão”. Os alunos deficientes auditivos fazem parte desse contingente de alunos. Paralelamente a estas discussões, ocorrem alterações no Sistema Nacional de Saúde e também avanços tecnológicos para favorecer o acesso ao som, como é o caso dos aparelhos de amplificação sonora individual (AASI), sistema de freqüência modulada (FM) e implante coclear (IC). As mudanças no Sistema Nacional de Saúde aumentarão a possibilidade de crianças deficientes auditivas terem diagnóstico precoce, tratamento e (re) habilitação adequados a suas necessidades e também a utilização dos recursos tecnológicos que possibilitam acesso aos sons de fala. O Ministério da Saúde, com o objetivo de organizar o atendimento às pessoas com deficiência auditiva nos diversos níveis de atenção do Sistema Único de Saúde, publicou a Portaria GM nº 2.073/04, de 28 de setembro de 2004 que instituiu a Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva. Também foram publicadas portarias complementares (587 e 589) no mesmo ano(1, 2). Atualmente existem alunos, da rede pública de ensino, que utilizam recursos tecnológicos como o implante coclear ou AASI. Com a efetivação da Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva um número maior de crianças deficientes auditivas, poderá ter acesso aos referidos recursos tecnológicos, porém só trarão benefícios se forem associados à adequadas situações de comunicação. Os recursos tecnológicos na área de audiologia, como o implante coclear e o AASI têm permitido um aprimoramento nas estratégias de codificação do sinal da fala. No entanto, fatores, como o ruído, dificultam a compreensão da fala e tornam a comunicação um processo estressante (3). Desta forma é de suma importância que professores estejam preparados profissionalmente para essa atuação prática. A atuação adequada e consciente de professores da rede pública de ensino é condição essencial para que se obtenham resultados efetivos, com as novas alternativas de atendimento educacional aos alunos com necessidades especiais (4). As estratégias de comunicação são imprescindíveis para facilitar o aprendizado do aluno deficiente auditivo. Assim, o professor deve ter conhecimento de “como” e “o que” falar com o aluno (5) . Os professores precisam fazer uso destas estratégias, para que sejam atendidas as necessidades peculiares à aprendizagem dessas crianças. Torna-se assim, um grande desafio à sociedade promover uma educação de qualidade, atendendo as necessidades especiais de cada aluno inserido no contexto escolar e proporcionando condições para que a criança com necessidade especial possa ter uma adequada inserção social (6). Esse estudo tem como objetivo analisar a interação comunicativa de professores e alunos deficientes auditivos no ambiente escolar, da sala de aula. METODOLOGIA Participaram desse estudo nove professores e seus respectivos alunos com perda auditiva neurossensorial profunda bilateral. Estes alunos são usuários de implante coclear (n=6) e AASI (n=3) e participam de um programa de (re) habilitação com ênfase na comunicação oral. Os alunos deste estudo encontram-se regularmente matriculados na Educação Básica e no 1º ciclo do Ensino Fundamental da Rede Municipal e Privada de Ensino. Foi realizada uma filmagem no contexto de sala de aula, durante 30 minutos. Os resultados foram analisados a partir da observação de comportamentos na interação professor - aluno deficiente auditivo. Foi elaborado um protocolo, adaptado de um roteiro utilizado para análise de filmagens(7). O protocolo consta de 24 itens, avaliados por uma escala de pontuação variando de 1 a 7, sendo que de 1 a 3 pontos corresponde aos comportamentos “nunca observados”, 4 pontos refere-se aos “observados” e de 5 a 7 corresponde aos “sempre observados”. Primeiramente foram analisados os comportamentos relacionados às estratégias utilizadas para explicação do conteúdo em sala de aula, como por exemplo, a utilização de diversos recursos visuais, a possibilidade do aluno demonstrar o que entendeu, à distância e o posicionamento do professor durante a explicação. Em seguida foram analisadas as estratégias de comunicação utilizadas pelo professor, entre elas, a utilização da comunicação por meio de um contexto significativo, a ênfase de palavras-chave, a utilização de sentenças adequadas ao nível lingüístico da criança, a repetição da mensagem, a resposta à comunicação do aluno de forma que possibilite tanto a expansão semântica e gramatical quanto a continuidade do diálogo. As gravações foram pontuadas, independentemente, por quatro pesquisadores da área. RESULTADOS E DISCUSSÕES A ocorrência dos comportamentos foi pontuada e analisada de acordo com a concordância dos pesquisadores. Os resultados demonstraram que professores não utilizaram, com freqüência, estratégias que facilitavam a compreensão do conteúdo pelo deficiente auditivo. O único aspecto positivo observado em 7 interações entre professores e seus alunos foi à permanência do professor no campo visual da criança. Os demais aspectos que poderiam propiciar uma participação efetiva do aluno no contexto escolar, como a utilização de diversos recursos visuais, a possibilidade do aluno demonstrar o que entendeu, a distância e o posicionamento do professor durante a explicação, foram classificados, como “nunca observados”. Em relação às estratégias de comunicação foram pontuadas como “sempre observadas” à utilização da voz em tom adequado para se comunicar com o aluno deficiente auditivo e a utilização de um contexto significativo durante a comunicação, em 6 interações professores e alunos deficientes auditivos. Os demais itens que promoveriam a comunicação professor-aluno e poderiam facilitar a aprendizagem, foram classificados, em 8 interações, como “nunca observado”. Entre estes podem ser citados a percepção do professor em saber se o aluno “perdeu” a atenção, a ênfase de palavras chaves, a utilização de sentenças adequadas ao nível lingüístico da criança, a repetição da mensagem e a resposta à comunicação do aluno de forma que possibilitasse tanto a expansão semântica e gramatical quanto a continuidade do diálogo. Foi possível constatar que os professores não incorporaram estratégias de comunicação em seus comportamentos em sala de aula que beneficiassem o entendimento do conteúdo pedagógico ao aluno deficiente auditivo. As estratégias de comunicação auxiliam professores a acompanharem de maneira mais completa o desenvolvimento da criança. Trata-se de uma forma mais efetiva de sistematizar o trabalho e não perder nenhuma atividade ou evento que tenha sido significativo para a criança(8). Pôde-se observar que aqueles que apresentaram alguma estratégia de comunicação, não as utilizaram de forma eficaz, ou seja, associando com outras estratégias que poderiam auxiliar o aluno deficiente auditivo a compreender sistematicamente a mensagem por meio da explicação e não pelo contexto. O professor deve apoiar e estimular os alunos a envolverem-se ativamente em sua própria aprendizagem, adotando algumas posturas ao se relacionar com o deficiente auditivo, para que o mesmo tenha melhor compreensão das atividades propostas(5). Dessa forma, seria desejável que o professor soubesse as implicações que as estratégias de comunicação utilizadas com assiduidade e rigor trazem a aprendizagem escolar e o quanto elas estão ligadas a efetividade do desenvolvimento pedagógico e social do aluno deficiente auditivo. A partir desse conhecimento, o professor poderá desenvolver habilidade, sensibilidade e ter flexibilidade para fazer as adaptações necessárias para favorecer o desenvolvimento da criança e sua efetiva inclusão escolar(5). CONCLUSÃO Os resultados demonstram que os professores não fazem uso sistemático e efetivo de estratégias que auxiliem na comunicação com o aluno deficiente auditivo usuário de implante coclear ou AASI. As dificuldades de comunicação efetiva e principalmente da compreensão por parte do aluno, no contexto escolar, poderá acarretar dificuldades no desenvolvimento acadêmico desses alunos. É necessário que programas de intervenção abordem, de maneira prática, conteúdos que permitam aos professores visualizar o impacto das estratégias de comunicação e a necessidade de possibilitar ao aluno deficiente auditivo que demonstre “o que” está compreendendo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria GM nº 2.073/04. Política Nacional de Saúde Auditiva. [página na internet]. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/cidadao/visualizar_texto.cfm?idtxt=24335&janela=1. Acesso em 26 de maio de 2008. 2. Conselho Regional de Fonoaudiologia 2a Região / SP. [página na internet]. Disponível em: http://www.fonosp.org.br/publicar/publicacoes/atuacao_fonoaudiologica_2a_rev.pdf. Acesso em 26 de maio de 2008. 3. NASCIMENTO, L. T.; BEVILACQUA, M. C. Avaliação da percepção da fala com ruído competitivo em adultos com Implante Coclear. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, v. 71, n 4, São Paulo, July / Aug. 2005. 4. DELGADO-PINHEIRO, E. M. C. Professores do ensino regular e a educação inclusiva de alunos com perda auditiva. 2003. 170 f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2003. 5. BUFFA, M. J. M. B. O que os pais de crianças deficientes auditivas devem saber sobre a escola. In: BEVILACQUA, M. C.; MORET, A. L. M. (Ed.). Deficiência auditiva: conversando com familiares e profissionais da saúde. São José dos Campos: Pulso, 2005. p 295-306. 6. ANGELIDES, P.; ARAVI, C. The development of inclusive practices as a result of the process of integrating deaf/hard of hearing students. European Journal of Special Needs Education, v. 22, n. 1, p. 63-74, Feb. 2007. 7. COLE, E. B. Listening and talking: a guide to promoting spoken language in young hearing – impaired. Washington: Ed. Alexander Graham Bell, 1992. 8. BEVILACQUA, M. C.; FORMIGONI, G. M. P. Audiologia educacional: uma opção terapêutica para a criança deficiente auditiva. Barueri: Pró-Fono, 2003.