___________________________________________________________________ DIREITO NA REALIDADE DE UM CONTEXTO NACIONAL José Antonio da Conceição1 RESUMO: O presente artigo tem o objetivo de analisar o Direito dentro de nosso contexto social, dando conotação a sociologia jurídica de desenvolvimento nacionalista. O nosso país recebeu uma herança nefasta da colonização portuguesa, oriunda de diversos fatores, principalmente a excessiva exploração e a disseminação da corrupção em todos os níveis, que acabaram influenciando em muito a formação da nossa sociedade. Para explanar sobre o assunto foram utilizados os estudos de Norberto Bobbio e, Manoel Gonçalves Ferreira Filho. Palavras-chave: Direito, Sociologia do Direito, Realidade do Direito em âmbito Nacional. O presente artigo tem o objetivo de analisar o Direito dentro de nosso contexto social, dando conotação a sociologia jurídica de desenvolvimento nacionalista. O nosso país recebeu uma herança nefasta da colonização portuguesa, oriunda de diversos fatores, principalmente a excessiva exploração e a disseminação da corrupção em todos os níveis, que acabaram influenciando em muito a formação da nossa sociedade. Nossa formação foi construída dentro de uma civilização de raízes rurais e não agrícolas no período colonial. Já no período monárquico continuavam os fazendeiros escravocratas e seus filhos educados em profissões liberais, geralmente no exterior, prevalecendo – se na política e tendo o domínio dos parlamentos. Surgiu neste período um processo de violência imposta como autodefesa e de regulação precária de Direitos da vida em sociedade. A falta de regulação jurídica gerava esta forma exposta para se auto-regularem, nascendo assim, uma forma estranha de manifestação. A figura do fazendeiro detinha poder no contexto, onde na maioria das vezes era o representante do Estado, sendo delegado e juiz 1 O autor é Mestre em Direito Internacional pela WIU – Wisconsin International University - USA; é Diretor Geral da FACCREI/FACED – Faculdade Cristo Rei e Faculdade Educacional de Cornélio Procópio, Estado do Paraná. ___________________________________________________________________ 2 das situações: o coronelismo puro. Desta forma as audiências eram feitas em casa e assim resolviam-se os problemas.Estes representantes do Estado se valiam de poder e também de até utilizar –se da coisa pública como sua, sem mais contestações por parte de ninguém. Se notarmos até hoje é assim, às vezes perguntamos de onde vem isto, é de apenas alguns anos atrás. Tais situações já foram vistas em algum lugar. Épocas diferentes e situações até, mais as intenções eram as mesmas: lesar o patrimônio público para uns e para outros, o processo de aglutinar riquezas e poder. Assim, levamos isto até hoje, lesamos o Direito alheio para explorar e formar riquezas e poder. Todo este processo ocorreu em um período recente, onde fazendeiros utilizavam – se de uma mão de obra escrava. Depois disso, após a abolição da escravatura, houve a exploração de uma mão de obra barata, na sua maioria os próprios escravos libertos e pessoas que vinham de outros países para tentar a vida no nosso país, na esperança de melhorias. No decorrer destes quinhentos anos, devemos notar que as transformações ocorridas, quer sejam positivas ou negativas, levaram sempre ao mesmo lugar, com a exploração de uma grande parcela da sociedade e de enriquecimento de uma minoria. Esta exploração e o empobrecimento da grande maioria da sociedade, veio ao longo destes anos, trazendo consigo na bagagem, vários problemas, que hoje refletem impiedosamente no nosso contexto. Hoje, problemas como a miséria e a violência, se tornam cada vez mais evidentes, se sobrepondo a regulação da sociedade pelo Estado de Direito. Estes reflexos também são oriundos de um sistema capitalista imposto na nossa sociedade, sem as devidas adaptações à nossa realidade e aos aspectos culturais e produtivos do povo brasileiro. O sistema capitalista imposto na nossa sociedade, vem ferindo a nossa constituição em diversos aspectos. Também devemos constar que sem o Direito o capitalismo não floresceria, visto a necessidade de garantir um mínimo de estabilidade social e econômica para a expansão do mercado inserido na eterna e conflitante relação do capital com o trabalho. A estabilidade social é fator preponderante em uma sociedade. Estamos notando uma instabilidade freqüente ___________________________________________________________________ 3 com o aumento da violência e a impunidade mais evidente, demonstrando uma insegurança jurídica. “Onde está o Direito neste contexto?”, questiona a sociedade diante de vários fatos que vêm assombrando, a cada dia que passa, pela instabilidade instalada, pela impunidade e pelos braços cruzados do Estado. Fatos que vêm levando a própria sociedade a se organizar, pleiteando Direitos tão diferentes de alguns anos atrás. Hoje, para se auto-defender de uma verocidade de instabilidade social, advinda da exploração da grande massa trabalhadora pelo capitalismo, a sociedade pleiteia Direitos que eram utilizados para regular outras situações. Também devemos ponderar alguns fatores, vislumbrando uma dissonância entre o fato social e o Direito, uma vez que o primeiro é dinâmico e multifacetado e o segundo, conservador, conseguindo abrigar somente parte das relações sociais. Deve haver um aperfeiçoamento do Direito frente à evolução da sociedade, se não via legislativa, ao menos jurisprudencial, pautando – se na democracia, na solidariedade e no respeito à dignidade das pessoas. O Direito é ao mesmo tempo causa e efeito das relações sociais, porquanto se configura em si um fenômeno social. Pois o Direito não é determinado por si próprio e sim, a partir de normas e princípios superiores abstratos, mais tendo como referência à sociedade como fenômeno social que o produz. O Direito é fonte instrumental de coexistência social. Assim, devemos ponderar também algumas colocações. Segundo HANS KELSEN: o direito é uma ordem da conduta humana. Uma ‘ordem’ é um sistema de regras. O Direito não é, como às vezes se diz, uma regra. É um conjunto de regras que possui o tipo de unidade que entendemos por sistema. É impossível conhecermos a natureza do Direito se restringirmos nossa atenção a uma regra isolada. As relações que concatenam as regras específicas de uma ordem jurídica também são essenciais à natureza do Direito. Apenas com base numa compreensão clara das relações que constituem a ordem jurídica é que a natureza do Direito pode ser plenamente entendida. Não se pode perder a perspectiva de que o Direito é um sistema de referência cruzada em relação à realidade social que o legitima. Desta forma, o Direito é tão mais legítimo quanto melhor representar as aspirações da sociedade. ___________________________________________________________________ 4 O homem, pelo seu instinto social, prefere a vida em comunidade, pois assim realiza melhor suas necessidades materiais e espirituais, é "essencialmente coexistência", vez que não vive apenas, mas coexiste, seja em família, escola, empresas, partidos políticos, etc. Desses convívios é natural surgir conflitos de interesses que deverão ser solucionados por normas gerais e abstratas que atendam às necessidades de equilíbrio de toda a sociedade. Tal é a razão da edição das leis, fórmulas do "dever ser", normas de previsibilidade. Enfim, o nosso Direito, neste contexto atual e nacional, está seriamente necessitando de reorganização, de se prevalecer como fonte para a sociedade e se garantir na convivência em comum. Para que a insegurança e a instabilidade social sejam eliminadas do nosso sistema, acredito que o Direito deva ser instituído de forma a prevalecer à vontade social, no sentido de acabar com os fatores de ordem antisocial, como a exploração e a violência. Além de garantir todos os elementos integradores da nossa sociedade, quer sejam fatores que levam a um sistema de princípios éticos, morais dentre outros. A nossa sociedade necessita desta reformulação garantindo realmente Direitos, que estejam inseridos no contexto social, econômico, cultural e político, a ponto de gerar a reorganização social, aonde venha realmente de encontro com a maioria necessitada. Com a satisfação desta maioria, a estabilidade social estará entrando em um processo de retomada à ordem e à segurança jurídica pretendida. Devemos realmente nos render ao fato de que o Direito é um dos instrumentos fortíssimos para garantir a nossa estabilidade social, caso contrário, onde iremos parar com esta instabilidade. O nosso Direito vem sendo violado em todos os aspectos, a começar pela nossa própria Constituição Federal. Se não a respeitamos, imagine as demais legislações. A todo dia vemos a nossa Constituição ser violada pelos poderes constituídos e também pela própria sociedade. Pois se o próprio instituidor da norma e os guardiões dela não a respeitam, quanto mais uma maioria sendo usurpada irá respeitar. Assim o nosso Direito Brasileiro está sem respeito. Diante da situação apresentada, questiona-se de como e para que serve o Direito. Estamos realmente maus, precisando urgente de uma renovação de algo que mereça realmente respeito, para que nossas aspirações sejam válidas, que a ___________________________________________________________________ 5 estabilidade paire e a segurança jurídica, dentro deste contexto, volte a florescer como garantia de Direitos Fundamentais. Passam-se anos lutando por Direitos meramente mínimos, conseguindo – os, ao invés de usarmos a oportunidade de termos vários, e de suma importância, estamos ainda a ponto de perder o que conseguimos. Devemos sim, como uma sociedade organizada, manter, respeitar e renovar até o que se precisa, para manter uma ordem necessária à sobrevivência da sociedade humana. Hoje, na era da Globalização, como podemos integrar esta realidade se dentro do nosso próprio país não estamos conseguindo manter a estabilidade social e nem tão pouco, preservar o que de mais nobre que toda sociedade detém, que é o Direito. Podemos pensar nesta integração, mais também devemos levar em consideração outros fatos, como o da nossa formação. Isto realmente influencia em muito a nossa situação atual. As nossas raízes são problemáticas. Porém a sociedade evolui e se reestrutura através de fatores por ela mesma gerados, ocasionando mudanças positivas e criando soluções criativas para problemas crônicos. Com a ajuda de Juristas e Sociólogos, que integram o rol de cidadãos preocupados em ajudar e com vontade de realizar as mudanças necessárias, o processo de reestruturação social e do Direito deixa de ser utopia e passa a ser uma realidade. Acho que diante de tantos fatos e outros que ainda poderiam ser expostos, se demonstra bem que o Direito na nossa realidade nacional está desrespeitado e precisando urgente de reformulação para que se possa prevalecer a segurança jurídica, dando garantia à estabilidade social. Enfim, temos tudo para resgatarmos e montar o nosso Direito rasgado aos pedaços. Se não o fizermos logo, nem conseguiremos mais achar as partes para colar. O processo pode ser doloroso e árduo, mais é preciso. Não há mais tempo para esta reestruturação, assim como, o de outras necessárias para a convivência em comum na sociedade. As aspirações são muitas e diversas. Além de interesses difusos, devemos respeitar o contexto global dos direitos fundamentais, os interesses de uma maioria institucional organizada, de maneira a atender a grande parcela que também nem tem forças para pleitear algo, dentro deste processo, por estar totalmente excluída do contexto. Mais devemos preparar uma nova ordem jurídico – social, também abrangendo o processo de globalização, onde já possua ___________________________________________________________________ 6 uma pré – definição de Direitos distantes e importantes para o nosso processo de reestruturação. Direitos que determinem nossa independência, autonomia econômica, ou seja, se libertando do processo capitalista – explorador, integrando um processo de capital-trabalho definindo regras claras, para que o processo de exploração não continue sendo incutido e prevalecendo como instrumento de destruição do Direito – Social. A evolução humana gerou sociedades cada vez mais complexas e culturalmente diferenciadas. A necessidade de crescimento e desenvolvimento fez surgir normas e regras de convívio e relacionamentos sociais e comerciais. Do básico homem das cavernas ao sofisticado empresário da Avenida Paulista vê-se a importância do Direito na condução, influência e solução dos problemas pela socialização do homem. O Brasil é um país jovem, mas “importou” problemas seculares. Somos uma nação de todas as raças, todos os credos, enfim, de todos os povos, que vieram para cá ou aqui nasceram com suas culturas e normas sociais. Como conciliar esta variedade de necessidades com um contexto global ao mesmo tempo específico, de características próprias, mas sem esquecer nossa autonomia como Nação? Seria tão simples, tão básico criar leis capazes de unir nossa variedade cultural para conduzirmos essa Nação de forma ordeira, com ética e seriedade. O Direito tentou conduzir e orientar a evolução da sociedade brasileira desde seus primeiros passos. Mas existe o homem. Voraz e egoísta. Capaz de rasgar e usurpar páginas e páginas de nossa Carta Magna, desde nossos primórdios. E a sociedade se deixou dominar e esqueceu-se do Direito, das leis, das regras, da ética e do bem viver. Deixou de acreditar no que deve ser justo para o que eu preciso que seja justo. Para onde foi à justiça? Cercada de profissionais preocupados em seu bem estar e não de sua sociedade. Acostumados à impunidade e ao corporativismo, oriundos da época do coronelismo. Para que servem as leis, as normas, as regras sociais? Se elas só beneficiam uns poucos, diante da massa marginalizada da sociedade? Servem para alertar que algo está errado. Que algo precisa ser mudado. E que depende de nós, sociedade constituída, realizar as mudanças necessárias. Somos exemplo mundial como um país que defende, nas leis, os direitos humanos, sociais e nacionais. Ao mesmo tempo, nossa sociedade é exemplo de exploração de mão-de-obra escrava, ___________________________________________________________________ 7 é generalizada a injustiça das relações de trabalho, a degradação da natureza é comum, a impunidade em todas as esferas sociais para os mais diversos crimes, faz a imagem de nosso país cair em desgraça. A sociedade brasileira chegou ao seu limite. Acordou de sua inércia social e passou a exigir mudanças e comprometimento ético. Clama por justiça em cada esquina, em cada casa. Saiu do seu casulo e agora olha por si e por todos, pois sentiu que o todo influencia diretamente o individual e que a condução correta de toda sociedade proporciona uma vida melhor e mais segura. E onde está o Direito? Está em cada linha, em cada afirmação, em cada passo que a sociedade dá, seja por uma direção, seja por outra. Influenciando, conduzindo e alertando o destino de nossa sociedade. Mudando, adaptando-se ao novo, conservando costumes e tradições, reescrevendo normas e gerando oportunidades para uma sociedade em constante evolução. REFERÊNCIAS BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. São Paulo: Globo, 2001. REALE, Miguel. Filosofia do direito. São Paulo: Saraiva, 1999. MARQUES, Eduardo Lorenzetti. Introdução ao estudo do direito. São Paulo: LTr, 1999. . Direitos humanos fundamentais. São Paulo: Saraiva, 2002. MARX, Karl. O capital: crítica da economia política: livro II. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.