ENCONTRO
SAÚDE EM PAUTA
Os Desaf io s d a Saúd e no Século XXI
Resu mo cient ífico de at ividades com Juan Gérvas
As m u danças s o c i a is e epidem iológicas e a n e ce s s id a d e d e u m a fo rte ate n çã o pr im á r i a .
N o s ú lt i m o s c i nquenta a nos , a s ociedade, a te c nologi a e a me di c i na tê m t rans for mado rad ica l m ente
e p o r isso o s si ste mas de s aú de n ão podem s e r os me s mos que de te mpos pas s ados .
G era l me nte a so c i edade tem evolu ído n o se nt i do de for ne c e r s e r v i ços bás i cos pa ra (quas e) to d a a
p o pu la ção, ta i s co mo edu caçã o, á gu a potáve l, e ne r gi a e lét r i ca, t rans porte públ i co, s aúde e m a is . Po r
e x em p lo, as casas es tã o ma is s egu ra s , pois cu mpre m as nor mas ambi e nta i s , de e let r i c i dade e ou t ra s .
Co m re lação à p o pu la ção, a mel hora n a educação e novas oport uni dade s de e mpre g o fi z e ra m co m
qu e a s fam í l i as d i min u ís s em de tama nho, ao ne c e s s i ta r me nos da força mus cula r. E e s s a m u d a n ça é,
ta lvez , a c have p a ra a s s u a s mú lt iplas impl i caçõe s . Os i ndi v í duos que v i ve m ma i s e as pi ram ter
m el ho r saúd e re j e i ta m o s ofr imento. Às ve z e s , a bus ca e x a ge rada pe la "ete r na juve nt ude " o s to rn a m
e x pe c tad o re s e e xigentes , res u lta ndo em fr us t ração, ape s a r de de s fr u ta re m de u ma s aúde qu e
nu n ca t i nha si d o tão b oa.
A te c n o l o gi a m e l horou em geral e na s apl i caçõe s mé di cas . As s i m, por e x e mplo, os t rans po rtes e a s
co mu n i caçõ e s p e rmit i ram a ex is tên cia de m a i or contato at ravé s de v i a g e ns e das te c nolog ia s d a
in fo r m ação . Co nse qu entemente, a popu la ção é ma i s móve l. Alé m di s s o, a te c nologi a apl i ca d a a o
ca m p o d a m e d i c i na pa rece qu as e mi la gros a, como os me di came ntos pa ra v í r us , como o da A I D S, a s
p róte s es d e quad r i l, o u lt ra s s om t r idimens ional, os t rans plante s ca rdí acos , as próte s e s i nt ra o cu la res ,
o " b o l so " E CG e ou t ros . Is s o permite ma is i nte r ve nçõe s , que s ão ma i s s e guras e ma i s long e d o
ho s pi tal , que não tem s empre u m "monopó l i o" da me l hor te c nolog i a.
As mu danças so c i a is e tecn ológica s t iveram u m i mpac to na e pi de mi ologi a. As doe nças a gu d a s
co nt i n u am a se r i mportantes ( infecções , frat uras e le s õe s , alguns t i pos de cânc e r, ataque s ca rd ía co s ,
et c) , mas o s p ac i e ntes s ob revivem a mu ita s de las com de fi c i ê nc i as e compl i caçõe s , e / ou
d es en vo l ve m d o e nça s crônicas ( dia b etes , ins ufi c i ê nc i a re nal, cânc e r, ps i cos e, as ma, doe nça d e
Pa r k i n s o n, i nsuf i c i ência ca rdía ca, doen ça de Alz he i me r, D PO C, et c . ) A prevalê nc i a da doe nça m u d ou ,
nã o s ó e m quant i da de, mas em qu al idade. Como por e x e mplo, os proble mas de s aúde não s e
s o m a m, m as se m ult ipl icam ent re s i. As s im, a "ca r g a da doe nça" provoca a pote nc i al i z ação d o u s o
d e s e r vi ço s p a ra cada prob lema mu lt ipl icad o pe la pre s e nça concomi tante de ou t ros proble m a s
(a gu das e c rô ni cas ) .
A res po sta m é d i ca é ca da vez ma is podero s a e pre coc e, re s ultando i me ns os be ne fí c i os , qu e d evem
s e r co lo cad o s e m equ i l íb r io com os gran de s danos , s e não, não s e or g ani z a
b e m o si ste m a d e s aú de. As s im, a s intervençõe s mé di cas s e tor nam, e m pa í s e s de s e nvolv i d o s , a
te rc e i ra causa d e mortes . Além dis s o, o cu s to au me nta s e m l i mi te s não tanto pe lo e nve l he c im ento
d a po p ulação, m as pelo au mento da "inten s i dade de cui dado" (ma i s s e r v i ços pa ra o me s mo
p ro b l em a d e saúd e) .
O qu e faz e r? A so l u çã o é u m cu idado pr imá r i o de qual i dade, mui to "forte ", capaz de for ne c er
s e r v i ço s va r i ad o s a os pacientes b em con hec i dos . As s i m, o mé di co de cui dados pr i má r i os ( m éd ico
d a fa mí l i a) é o que a ju da o pa ciente a u s a r cor retame nte os re curs os dos e s pe c i al i s tas foca is
(a mb u lató r i o s, p ro nto-s ocor ro e hos pita l) . Se ndo rac i onal, o be ne fí c i o é proporc i onal ao da n o .
Cu i da do p r i m á r i o forte é mu ito aces s ível e fle x í ve l, mui to ve rs át i l, ofe re c e long i t udi nal i dad e
(s er v i ço s va r i ad o s a o longo do tempo, em u ma re lação pe s s oal) e é capaz de coorde na r o s s erv iço s
d e es pe c i al i stas fo ca is .
M a n ej o cl í ni co do t ra bal ho cl ínico
Os m é d i co s tê m u ma enorme valor iza ção s oc i al e e le s a me re c e m pe lo s e u i mportante t ra b a l ho . N o
e nta nto, e nt re o que os médicos fazem e p ode m faz e r h á u m a bi s mo. As s i m, é ne c e s s á r i a u m a
m el ho r i a na to m ada de decis ões cl ín ica s .
N e s te cam p o, o bás ico é qu e os médicos te nh am au tonomi a e i nde pe ndê nc i a, mas com
re s po nsa bi l i d ad e socia l, cl ín ica e profis s ional. Trata- s e de te r u ma boa re pu tação. As s i m, de u m b o m
m éd i co que te nh a repu taçã o profis s iona l e s oc i al s ão e s pe rados :
1 ) Cap ac i d ade de fazer dia gnós t icos pre c i s os e oport unos ;
2) Uso p r udente dos recu rs os de preve nção, di a gnós t i cos , te rapê u t i cos e re a bi l i tad o res p a ra
m axi m i z a r o s b ene fícios e min imiza r os danos ;
3 ) Ha bi l i d ade de res pon der a dequ a dame nte às ne c e s s i dade s dos pac i e nte s complex o s em
si tuaçõ e s re a is de vá r ia s res t r ições .
E m re su m o, o bo m médico oferece s erviços com alte r nat i vas que s e adapte m as ne c e s s i da d es d o s
p a c i ente s, p a ra que s e a lcan cem os b ene fí c i os máx i mos com o mí ni mo de danos (preve nçã o
qu ater ná r i a). Faz e r a ponte ent re a e ficá cia (o me l hor e m condi çõe s i de a i s ) e e fet i v i dade ( o m el ho r
e m co nd i çõ e s i d e a is ) . Is s o requ er:
1 ) Fo co na morb idade e mortal idade pre mat ura e me di came nte ev i táve l;
2) Te r l e ald a de a o tempo, a o paciente, a profi s s ão e a or gani z ação;
3 ) Tra bal ha com a ét ica da ign orâ nci a e com a ét i ca da ne gat i va;
4) De se nvo l ver s is temas qu e in cent i ve m bom t ra bal ho a long o praz o.
Os cu idados pr i má r ios no mundo e no Bra s i l
O s p a í se s d e se nvolvidos têm u ma forte ate nção pr i má r i a pe r mi t i ndo- l he s alcança r u m e leva d o n ível
de s aú d e, a u m cus to razoável. A ex ceção é os EUA, onde pre domi na o ate ndi me nto e s pe cia l iza d o
e, p o rtanto, o gasto é o dob ro da média , e os re s ultados na s aúde s ão pobre s (me s mo pa ra o s
r i co s ) .
A ate n ção p r i m á r i a do Sis tema de s aú de n o Bras i l é for ne c i da nos c e nt ros de s aúde por
fu n c i o ná r i o s assala r iados ( de fina nciamento e de pre s tação públ i cos ). Es s e é o me s mo mo d el o d e
Es p a n ha, Fi nlând i a, Portu gal e Su écia , on de h á copa rt i c i pação pa ra v i s i ta r o mé di co de fam í l ia em
g e ra l ( exc eto na Es pan ha , on de é gratu ito). Voc ê pode obte r bons re s ultados de s aúde, ma s a
es t r u t u ra é r í gi d a.
A ate n ção p r i m á r i a em ou t ros pa ís es des en volv i dos (do Japão pa ra a Ale manh a, v i a Canad á ,
Au s t rá l i a e Áust r i a, por ex emplo) é b a s ea da na famí l i a g e ral- mé di cos que e s tão t ra bal h and o co m o
pro f i s s i o na i s i nd e p endentes e pequ en os empre s á r i os . O s i s te ma é fi nanc i ado publ i came nte, m a s
pr i va dam e nte d i sp os ição. Você pode ob ter bons re s ultados de s aúde, mas deve promove r a p rát ica
cl í n i ca d e al ta qual idade.
Qu a n do a ate nção pr imá r ia é forte o médi co g e ral- de famí l i a e s ta be le c e forte s laços com o s
pa ci e nte s e suas famí l ias , por oferecer s ervi ços va r i ados . Com i s s o alcança s ua confi ança e p o d e
pro move r a m e l ho r u t i l iza ção dos recu rs os, de modo que g rande s be ne fí c i os s ão alcançad o s co m
pou co s d ano s. A e ste res pe ito, o médico ge ral- de famí l i a coorde na os s e r v i ços ocas i ona i s
( g era l me nte e p i só dicos e tempora is ) dos es pe c i al i s tas foca i s .
Um b om m é d i co de cu ida dos pr imá r ios ad mi ni s t ra pa ra que s e us pac i e nte s re c e bam a ma io r p a rte
do s cui d ad o s e m s u a própr ia cons u lta e u t i l i z a c r i te r i os ame nte a cons ultor i a e os s e r v i ços d o s
es pe c i al i stas fo ca i s, de modo a preveni r os danos que caus am a at i v i dade de s aúde (preve n çã o
qu ate r n á r i a).
J u a n G é r vas e s m édico general jubi lado, Equi p o CES CA, M adr i d ( Esp aña) , Doctor en M edi c in a y
Pro fe so r H o no ra r i o de Salud Públ ica en la Uni versi dad Au tónoma de M adr i d, Profesor Vi si ta nte e n
S a l u d I nte r naci o nal de la Es cuela N acional de S ani dad ( M adr i d) y Profesor en la M aest r í a d e
G est i ó n y Ad m i ni st ración San ita r ia de la Fu ndaci ón Gasp a r Casal ( M adr i d) y de la Uni versi d a d
Po mp e u Fa b ra (B a rcelon a).
E ma i l : j j g e r vas@g ma i l.com
Tw i te r : @Ju a nG r vas
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