Desenvolvimento de estratégia de testes para placas de circuito impresso Os fabricantes de equipamentos de teste e inspeção aperfeiçoaram seus produtos e, hoje, um leque de soluções de teste é oferecido para a indústria eletrônica Por Ricardo Serafini Volpato A demanda do mercado por produtos cada vez menores e com mais funcionalidades, levou à miniaturização dos componentes eletrônicos e aumentou a complexidade das placas de circuito impresso (PCB). Este cenário criou vários desafios para os engenheiros de testes, que passaram a ter que testar mais funcionalidades em uma placa cada vez mais susceptível a defeitos. Seguindo essa tendência do mercado, os fabricantes de equipamentos de teste e inspeção aperfeiçoaram seus produtos e, hoje, um leque de soluções de teste é oferecido para a indústria eletrônica e cabe à engenharia de teste avaliar quais soluções disponíveis são as mais indicadas para o teste da sua PCB [1]. Estratégia de Teste e Inspeção No processo de montagem de uma PCB, uma infinidade de defeitos é gerada por fatores diversos (máquina, material, mão de obra, processo, etc). A maneira como esses defeitos serão verificados depende da estratégia de teste e de inspeção adotadas pela engenharia de testes. Há várias filosofias que norteiam uma estratégia de testes. Alguns engenheiros preferem executar uma bateria exaustiva de testes funcionais para chegar em 100% dos defeitos cobertos, outros se concentram mais no emprego de técnicas de teste e inspeção na linha de montagem (inspeção ótica automática, testador in-circuit, etc). Existe ainda um terceiro grupo que prefere investir em procedimentos de controle de processo no lugar de equipamentos de testes. Mas, independente da filosofia, em qualquer estratégia de teste deve-se ter atenção sobre dois aspectos importantes: as oportunidades de defeito da PCB e o histórico de defeitos do processo produtivo. Analise das oportunidades de defeito da PCB Durante sua montagem, a PCB está sujeita a ocorrência de uma série de defeitos como ausência, deslocamento, curtos, abertos, part_number incorreto, etc. Conhecer todos os potenciais defeitos da PCB é fundamental para se ter êxito na escolha das técnicas de teste. Por conta disso, a análise das oportunidades de defeito é o passo inicial na elaboração de uma estratégia de teste. Ela visa identificar cada potencial defeito da PCB e calcular sua quantidade. Essa análise leva em conta os encapsulamentos montados e os processos de montagem envolvidos (printer, forno, solda onda, etc.). O histórico de defeitos do processo também é considerado, para enfatizar os defeitos mais frequentes frente aos de baixa incidência. Com o resultado da análise é possível saber quantos defeitos estão associados às juntas de solda, quais componentes possuem polaridade, quais estão sujeitos à tombstone, quais não possuem serigrafia de identificação, etc. Essas informações servirão para justificar o emprego de uma técnica de teste em relação à outra e, assim, guiar o desenvolvimento da estratégia. Escolha das técnicas de Teste e Inspeção Definir técnicas adequadas para compor a solução de teste compartilhado é uma atividade que exige experiência do time de testes. Cada técnica tem suas vantagens e limitações, portanto, o correto é reunir diferentes técnicas para criar um filtro impermeável a defeitos [2]. Figura 1 – Uso várias técnicas As técnicas de inspeção (AOI, raio-X, inspeção visual) verificam se a montagem dos componentes está conforme, mas nada garantem sobre seu funcionamento. Já as técnicas de teste (ICT, MDA, Boundary-scan, teste funcional) verificam o funcionamento dos componentes e da placa, mas são insensíveis a defeitos de deslocamento e insuficiência de solda. Portanto, toda estratégia de teste deve reunir pelo menos uma técnica de cada tipo. Outro aspecto importante no desenvolvimento da estratégia de testes é a redução de custos. Na tentativa de maximizar a cobertura de defeitos, a Figura 2 – Cobertura de teste compartilhada engenharia de teste também deve se preocupar em minimizar a sobreposição da cobertura entre as diferentes técnicas. Aquelas que possuem a operação mais onerosa (ex. teste funcional) devem ser minimizadas, visto que muitos defeitos já estão cobertos pelas demais técnicas utilizadas na linha de montagem (SPI, AOI, ICT, etc.). Análise da Cobertura de Defeitos Atualmente é comum encontrar cálculos equivocados para expressar a cobertura de defeitos de uma solução de teste. Alguns fabricantes de equipamentos de teste costumam usar a relação (%) de componentes testados por componentes totais como forma de apresentar a eficácia da sua solução. Outros, principalmente de ICTs, assumem que a cobertura do teste é a relação entre nós acessíveis por nós totais da placa [3]. Ambas as abordagens são falhas por não levarem em conta todos os possíveis defeitos da PCB e trazem percentuais de cobertura sempre acima do que efetivamente está coberto. Além disso, essa abordagem não é clara em relação aos defeitos não cobertos, dificultando a definição de técnicas de teste/inspeção complementares. Algumas métricas surgiram para tornar o cálculo da cobertura de defeitos mais assertivo, dentre elas se destaca a PCOLA-SOQ da Agilent. Essa métrica considera que todo componente está sujeito aos defeitos de presença (P), valor incorreto (C), polaridade (O), funcionamento inadequado (L), deslocamento (A), curtos (S), abertos (O) e insuficiência de solda (Q). Naturalmente, alguns dos defeitos acima não se aplicam para determinados tipos de componente (ex. resistores não possuem defeitos de polaridade) e essas particularidades são levadas em consideração no cálculo das oportunidades de defeito da PCB (tabela 1). A cobertura de cada técnica é avaliada separadamente. A tabela 2 representa a cobertura de defeitos dada por uma AOI. O percentual de cobertura é dado pela relação do número de defeitos cobertos (DC) pelo número de defeitos totais da PCB (DT), conforme a equação CAOI = (DC/DT)*100% solução de teste compartilhado muito dependente de uma única técnica. Além disso, a adoção de regras DFT tem um forte impacto no custo da solução de teste, principalmente na montagem de fixtures para ICT/MDA. DFT – DESIGN FOR TEST As regras de DFT compreendem um conjunto de regras que visam facilitar e maximizar a cobertura de defeitos da PCB [4]. Elas devem ser seguidas no início do projeto da placa, mesmo que as técnicas de teste/inspeção de produção ainda não tenham sido definidas. Placas que tenham seguido regras de DFT são mais flexíveis e podem ser testadas em diferentes cenários, não deixando a indutores SMT (esses componentes são mais robustos à ESD e provem de fornecedores de qualidade); APLICAÇÕES A metodologia para desenvolvimento de uma estratégia de teste descrita nos tópicos anteriores foi aplicada em uma placa-mãe de um computador tipo Desktop. A etapa inicial de análise apontou que existiam 18116 oportunidades de defeitos, distribuídas em 1141 componentes e 5588 juntas de solda. A ocorrência de alguns defeitos foi descartada devido à baixíssima incidência no histórico de montagem. Foram eles: • Curtos em componentes discretos (resistores, capacitores, diodos, SOT23, etc); • Defeito de funcionamento inadequado em resistores, capacitores e A tabela 3 apresenta as oportunidades de defeito calculadas para a PCB em estudo, classificadas de acordo com a métrica PCOLA-SOQ. A maioria dos defeitos (80%) está associada às juntas de solda, por se tratar de uma placa com vários CI’s e BGA’s. Tabela 1 – Tabela de oportunidades Tabela 2 – Defeitos coberto AOI (1-coberto, 0 não coberto) defeitos (1-aplicável, N-não aplicável) Tabela 3 – Tabela de oportunidades de defeito A solução de teste desenvolvida combinou as técnicas AOI e MDA. Essas duas técnicas foram escolhidas porque são complementares entre si. A AOI possui bom desempenho na inspeção do corpo dos componentes (P-C-OrientA-Q), e o MDA é eficaz no teste do seu funcionamento (L), e detecção de curtos nas juntas de solda. Combinadas, as técnicas promoveram cobertura de 75,3% dos defeitos. O percentual não foi maior devido à falta de acesso em alguns nós elétricos da placa (pontos de teste). Além disso, como o MDA não faz teste com a placa energizada, componentes ativos (analógicos e digitais) não puderam ser completamente testados. A tabela 4 apresenta em detalhes a cobertura das técnicas para cada tipo de defeito. Uma lista contendo os defeitos não cobertos foi gerada, e serviu de referência para que a equipe de teste adicionasse procedimentos de inspeção dedicados a esses defeitos (inspeção visual). O teste funcional da PCB também foi revisado, buscando estender a cobertura sobre os componentes não cobertos. O desenvolvimento de estratégias de testes com o rigor de análise apresentado neste artigo ainda é raridade na indústria eletrônica. A maioria das empresas sequer conhece métricas para cálculo da testabilidade de placa, como a PCOLA-SOQ, e ainda continuam se equivocando no cálculo da cobertura de defeitos. Alguns softwares de análise de testabilidade foram lançados no mercado para dar suporte à equipe de engenharia, mas ainda não possuem preços atrativos. Enquanto isso, as empresas continuam a utilizar um conjunto padronizado de equipamentos de teste e inspeção para todas as placas montadas, deixando de economizar recursos se praticassem uma abordagem mais dedicada. Referências [1] Stig Oresjo, “New thoughts on test strategies” [2] Stig Oresjo, “A new test Strategy for complex printed circuit board assemblies” [3] Kathy Hird, “Test Coverage: What Does It Mean when a Board Test Passes?” [4] SMTA TMAG Testability Guidelines Ricardo Serafini Volpato engenheiro de testes, e Renato Scavone, coordenador da Garantia da Qualidade, são servidores da Fundação Certi - [email protected] Benefícios da soldagem com o uso de nitrogênio O gás nitrogênio (N2) é o gás mais abundante no ar que respiramos. Cerca de 78% do ar é composto por nitrogênio. Sua principal característica para o processo de soldagem de placas eletrônicas é que ele é inerte, isto significa que ele não reage com os materiais envolvidos no processo, ao contrário do oxigênio que causa a oxidação dos metais envolvidos na soldagem. Como ele é o gás inerte com menor custo, é largamente utilizado neste processo. O nitrogênio é obtido através da separação dos gases do ar. Ele pode ser retirado do ar através de um processo criogênico, ou utilizando membranas que ab/adsorvem determinados gases. Processos diferentes irão gerar gases com níveis de pureza diferentes. O nível de pureza determina qual o percentual de outros gases presentes, no entanto, o gás que mais influência no processo é o oxigênio, então é comum determinar-se o percentual de oxigênio residual. Baixos percentuais de oxigênio residual irão alterar o desempenho [1] dos processos que envolvem materiais reativos, como metais não nobres e os ácidos fracos presentes nos fluxos. As principais alterações de propriedades que ocorrem com a redução do oxigênio residual são a redução da atividade do processo de oxidação e alteração da tensão superficial [1]. Estas duas propriedades são muito importantes para o processo e independentemente do tipo de soldagem utilizada (soldagem por onda ou por refusão) a dinâmica do processo será alterada. Defeitos que estão relacionados a molhabilidade e espalhamento como curtos, estalactites, solder balls são melhoradas com o uso de uma atmosfera inerte. No entanto apenas estas características nem sempre compensam o custo no uso destes gases, que deve ser absorvido por reduções no custo do processo ou custo da não qualidade. No processo de soldagem por onda, o uso de nitrogênio tem um efeito imediato na redução dos custos do processo. Como o equipamento possui um tanque de solda com o metal líquido circulando por uma bomba durante todo o processo, ocorre rapidamente oxidação do mesmo, formando uma borra. Esta borra consiste em perda de material e consequentemente custo com reposição da solda. A redução do oxigênio residual reduz ou até inibe a oxidação do material no tanque, promovendo economia de material que pode financiar o uso do gás inerte. Por outro lado, ganhos com redução de defeitos através do aumento da molhabilidade e redução da tensão superficial não são tão simples de serem calculados, defeitos dependem muito de características como componentes e layout da placa, e melhorias relativas à redução de defeitos têm que ser identificadas dentro de um número grande de amostras, para que sejam significativamente observadas. Testes deste tipo chegam a durar até dois anos [2], um ano sem a utilização do nitrogênio e outro ano utilizando. É o caso, por exemplo, do benefício causado pela ausência de oxigênio durante o pré-aquecimento da soldagem por onda. Neste caso ocorre redução na oxidação dos metais aparentes nos componentes e placa, bem como do fluxo e benefícios oriundos destes fenômenos são visualizados apenas na redução dos defeitos de processo. Este também é o caso do processo de refusão. Com o desenvolvimento de fluxos no-clean para soldagem no ar, é comum que estudos sobre o uso de nitrogênio não apresentem reduções significativas no número de defeitos, uma vez que elementos como tipo de componentes e layout possuem um efeito muito maior nos defeitos. No processo de refusão, o efeito do uso de nitrogênio é mais aparente no caso da redução do pitch, principalmente em casos onde o produto exige o uso de pastas de solda com tamanho de partícula reduzido. A redução da metade do diâmetro da partícula promove um aumento da área de material exposta à atmosfera em quatro vezes, acelerando o processo de oxidação. O uso de ligas sem chumbo também, com frequência, evidencia o benefício do nitrogênio. Isto é devido ao aumento da atividade do estanho para oxidação, neste caso uma atmosfera inerte passa a ficar mais importante. Outro fator que leva ao uso de nitrogênio é o aumento da confiabilidade da junta de solda. Em equipamentos que trabalham em ambientes hostis, ou que demandam altos níveis de confiabilidade, a redução na oxidação dos componentes, melhoria da molhabilidade e até mesmo redução dos teores de resíduos iônicos presentes na montagem final podem aumentar a vida útil através do uso de nitrogênio no processo [3]. Com o atual cenário de montagem de placas eletrônicas, o custo da introdução de nitrogênio no processo somente deve ser aceito caso retorne em benefícios para a empresa. Estes benefícios são normalmente observados em campo. Por este motivo, o LABelectron, como laboratório de desenvolvimento de processos, passa a contar agora com condições de testar e produzir placas eletrônicas utilizando um processo com atmosfera inerte. Os fornos de refusão, tanto para a linha de pequenas séries, quanto para a célula de introdução de novos produtos, estão aptos ao uso de nitrogênio. As máquinas de solda, tanto por onda quanto seletiva, também estão prontas para o uso de nitrogênio. A máquina de solda seletiva com inertização no pote de solda e a máquina de solda por onda com um sistema de inertização completo, chamado de túnel. O sistema de inertização em túnel é o sistema mais avançado de inertização do processo de soldagem de placas. Neste sistema a placa é afastada do oxigênio já na etapa do pré-aquecimento, e a pureza final do nitrogênio na área de soldagem é superior, desta forma, não apenas a oxidação do material do pote de solda é evitada, como também os benefícios da soldagem com nitrogênio são mais aparentes. Para maiores informações sobre soldagem com o uso de nitrogênio, entre em contato com: Engº José Carlos Boareto, coordenador da Área de Introdução de Novos Produtos do CPC [email protected] Referências [1] S.M. Adams; E.K. Chang; M.J. Kirschner; Atmospheres and Performance During Soldering; Nepcon West 1994. [2] Gerhard, M. & H.-E. Kiecker; Quality Improvement by the Implementation of Reflow Soldering with Nitrogen; Productronica Conference, Munich 1996. [3] Ehrlich, M., Laneus, G.S., & Reichelt, G.E.; Investigations about the Reliability of Atmospheric and Inert Wave-soldered 1812-Capacitors at Various Footprint- Configurations. Nepcon West 1994.