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Educação &
Políticas
Educacionais –
Ensino Superior
Docência universitária – cotidiano
escolar e diversidade humana
University teaching – the school’s daily
life and human diversity
Silvana Malusá
Doutora em Educação pela UNIMEP
Professora do Programa de Mestrado em Educação Superior
da UNIT/MG
Maria Isabel de Araújo
Professora de Educação Superior na UNIT/MG
Valéria G. Ulhôa Biasi
Professora de Educação Superior na UNIT/MG
R e s u m o
Este artigo trata da capacitação de docentes para o ensino superior em consonância com as necessidades de uma
sociedade globalizada. Estão em foco, ainda, o papel do professor universitário e a relação entre o educador e o educando.
O texto ressalta a importância da educação continuada, bem como do estabelecimento de um vínculo entre as situações
vividas na escola e as experimentadas no dia-a-dia fora do ambiente de ensino.
Unitermos: capacitação; globalização; educação continuada; interação
Synopsis
This article deals with the teachers’ qualification for higher education according to the needs of a globalized society. Also
in focus are the professor’s role and the relationship between the educator and the student. The text emphasizes the
importance of the continued education, as well as the establishment of a bond between the situations lived within the
school and those experienced in the daily life outside the teaching set.
Terms: qualification, globalization, continued education, interaction
Resumen
Este artículo trata de la capacitación de docentes para la enseñanza superior en consonancia con las necesidades del
profesor universitario y la relación entre el educador y el educando. El texto resalta la importancia de la educación
continuada, así como del establecimiento de un vínculo entre las situaciones vividas en la escuela y las experimentadas
todos los días en el ambiente de enseñanza.
Términos: capacitación; globalización; educación continuada; interacción
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Introdução
O
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presente artigo é resultado de
um trabalho teórico de um subprojeto de pesquisa intitulado
“Capacitação docente no ensino superior”, vinculado a um projeto maior
denominado “A docência universitária; questões pertinentes”, formado
por um conjunto de investigações na
área da educação superior. Especificamente, este subprojeto converge
suas pesquisas para analisar a prática docente no ensino superior, estando vinculado à Linha 2 de pesquisa:
“A docência no ensino superior”, do
Programa de Pós-Graduação em Educação Superior do Centro Universitário do Triângulo – UNIT/MG.
Sobre essa temática, “docência
universitária”, apenas recentemente
começou-se a voltar as atenções, pensando na dificuldade do docente em
organizar e socializar o conhecimento. Essa deficiência dá-se, também,
em função da não exigência de uma
formação pedagógica nos cursos de
educação superior. Nessa realidade,
o presente trabalho procura analisar
as relações existentes no cotidiano
escolar e a diversidade relativa a elas
num mundo globalizado, considerando o papel primordial da educação
na construção e preservação de valores individuais do homem do terceiro milênio. Discute o papel do professor universitário frente a essa
diversidade, os caminhos, os posicionamentos, a sua própria formação, bem como o relacionamento
entre educador e educando nos processos de ensino e de aprendizagem.
Por que ainda temos
um ensino que não
respeita as diferenças
e as diversidades?
Essa deficiência dá-se
em função da não
exigência de uma
formação pedagógica
nos cursos de
educação superior
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Com essa discussão, chega-se à construção de saberes voltados às necessidades individuais, contextualizada
às exigências de um mundo em rápido processo de transformação. Isso
justifica o papel fundamental da educação pautado nos pilares de Delors1 :
aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. Assim perguntamos: se o
homem é sujeito da produção de si
mesmo, por que ainda temos um ensino que não respeita as diferenças e
as diversidades, impedindo o aluno
de ser o sujeito de sua ação à medida em que recebe conhecimentos e
valores que não condizem com suas
necessidades?
O processo da globalização remete-nos a efeitos de transformação
que vêm afetando o mundo e as pessoas nos campos sociais, econômicos e políticos. Não se trata de um
processo neutro, pois gera uma exclusão social nunca antes vista em
toda história da acumulação capitalista. Apesar dos discursos neoliberais, a ideologização de valores
historicamente construídos é apresentada como verdade absoluta à
grande massa da população que não
consegue alcançar os benefícios dos
avanços tecnológicos e científicos,
agravando, assim, a desigualdade
social por meio do desemprego estrutural. Isso leva a um exacerbado processo de individualismo e
competitividade. Segundo Malusá 2 ,
a requalificação da educação nesse
contexto é peça fundamental na preparação da mão de obra para o atual
mercado de trabalho. A autora aler-
1
Jacques Delors. Educação um tesouro a descobrir: relatório para a UNESCO da comissão internacional sobre educação
para o século XXI, 1998.
2
Silvana Malusá. O sistema socioeconômico atual, a ética e os desafios à educação. In: Revista de Educação do COGEIME
COGEIME,
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ta-nos para o fato de que a filosofia
neoliberal existente coloca em segundo plano a solidariedade e a cidadania, elegendo o mercado e os
seus funcionamentos para redimensionar a educação. Comenta ainda
que as políticas para a educação e a
discussão sobre seu papel vivem um
momento peculiar. O mundo desenvolvido e globalizado faz afirmar
que realização educacional e sucesso econômico estão estritamente ligados e que a causa do reerguimento das nações no regime de
livre comércio deveria estar em
privilegiar, primeiramente, a sala
de aula.
Essa realidade faz com que nós,
educadores, nos sintamos, de certa
forma, perdidos e, muitas vezes, tomados por forte sentimento de insegurança. É verdade que a humanidade tem
toda a sua trajetória marcada, desde o
início dos tempos, por situações de
crise, nas quais experiências e valores
anteriores parecem, de repente, perder
sentido. E ainda, a definição de novos
rumos adequados a novas necessidades e novos interesses, especialmente
ao bem-estar e à felicidade coletivos,
se apresenta como tarefa penosa e de
difícil realização.
As perspectivas para este século
indicam a educação como pilar para
alicerçar os ideais de justiça, solidariedade e liberdade. As transformações econômicas, políticas e sociais
pelas quais o mundo vem passando
são reais. A humanidade tem sido
desafiada a assistir duas transições
importantes que afetam profundamente a sociedade: o advento da
sociedade do conhecimento e a
globalização.
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As exigências de uma
economia globalizada
afetam diretamente a
formação dos
profissionais em todas
as áreas do
conhecimento
As transformações
econômicas, políticas
e sociais pelas quais o
mundo vem passando
são reais
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A acelerada mudança em todos os
níveis leva o homem a ponderar sobre uma educação mundial e
globalizante. Educar, hoje, instiga a
refletir sobre o processo de globalização que tem passado a integrar
os sistemas financeiros, econômicos,
políticos e sociais das nações. Paralelamente, ocorre a transição da sociedade industrial, voltada para a
produção de bens materiais, para a
sociedade do conhecimento, que tem
como meta a produção intelectual
com uso intensivo de novas
tecnologias.
As exigências de uma economia
globalizada afetam diretamente a formação dos profissionais em todas as
áreas do conhecimento. É necessário
enfatizarmos que o profissional esperado para atuar na sociedade do conhecimento deve possuir uma formação qualitativa diferenciada do que
se tem ofertado, atualmente, em um
grande número de universidades.
Acreditamos que um dos desafio das
universidades, hoje, seria o de
instrumentalizar os alunos para um
processo de educação continuada, o
qual deverá acompanhá-lo em toda
a sua vida. Nesta perspectiva, o professor precisa repensar sua prática
pedagógica, conscientizando-se de
que não pode absorver todo o universo de informações e passá-las
para seus alunos. Como as informações, hoje, são inúmeras, o professor
precisa passar do ensinar para o
enfocar do aprender e, principalmente, o aprender a aprender 3 .
Percebemos que os avanços
tecnológicos, científicos e eletrônicos não estão trazendo a vida em plenitude para o homem. Ao contrário,
José Manuel Moran; Marcos T. Masetto; Marilda Aparecida Behrens. Novas tecnologias e mediação pedagógica
pedagógica, 2000.
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o novo desafio, a competitividade
exacerbada, tem gerado, em muitos
casos, a angústia, levando o homem
ao estresse. Há, portanto, uma necessidade de se resgatar valores essenciais. Assim, queremos aqui nos pautar nas questões relacionadas à
diversidade e na formação de professores, repensando uma prática em
sala de aula baseada nos quatros pilares do conhecimento defendido por
Delors4 .
O Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação
para o Século XXI aponta, como principal conseqüência da sociedade do
conhecimento, a necessidade de uma
educação continuada, assentada nos
pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e
aprender a ser. No primeiro deles
encontramos:
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Aprender a fazer não pode, pois, continuar a ter o significado simples de preparar alguém para tarefa material bem
determinada, para fazê-lo participar no
fabrico de alguma coisa. Como conseqüência, as aprendizagens devem evoluir e não podem mais ser consideradas como simples transmissão de práticas mais ou menos rotineiras(...).6
Este tipo de aprendizagem que visa
não tanto à aquisição de um repertório de saberes codificados, mas antes ao domínio dos próprios instrumentos do conhecimento pode ser
considerado, simultaneamente, como
meio e como finalidade da vida humana (...) se pretende que cada um
aprenda a compreender o mundo que
o rodeia (...) seu fundamento é o prazer de compreender, de conhecer, de
descobrir.5
Trata-se, portanto, de ir além da tarefa repetitiva, do ato de repetir o que
está feito, mas sim de buscar o fazer na
criação com criatividade e autonomia.
O terceiro pilar refere-se ao aprender a viver juntos: “levar os alunos a
tomarem consciência da semelhanças
e da interdependência entre todos os
seres humanos no planeta”7 . Portanto, precisam reaprender a viver juntos, a respeitar as individualidades
num processo coletivo para aprender
e se emancipar, atos fundamentais
para o trabalho com a diversidade
humana. A validade desse pilar implica redimensionar as práticas pedagógicas dos professores em todos os níveis de ensino. Os professores e os
alunos passam a ser parceiros de um
projeto comum. Os processos de ajuda mútua, de colaboração, de cooperação, precisam ser instigados sob
pena de o aluno não estar preparado
para enfrentar as exigências que a
sociedade vem apresentando nos diversos segmentos.
No quarto pilar, aprender a ser, a
ênfase da educação está em contribuir
para o desenvolvimento integral do
homem “espírito e corpo, inteligência,
Os professores e os
alunos passam a ser
parceiros de um
projeto comum
Como segundo pilar, Delors apresenta o aprender a fazer, aprendizagem indissociável do aprender a conhecer, e recomenda:
4
Jacques Delors. Educação um tesouro a descobrir: relatório para a UNESCO da comissão internacional sobre educação
para o século XXI, 1998.
5
Idem, Ibidem, p. 91.
6
Idem, Ibidem p. 93.
7
Idem, Ibidem, p. 97.
8
Idem, Ibidem, p. 99.
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sensibilidade (...), para elaborar pensamentos autônomos e críticos e para
formular os seus próprios juízos de
valor (...)”8 . Com essa visão, o quarto
pilar tenta superar a desumanização
do mundo, conferindo ao homem a liberdade de pensamento e responsabilidade por seus atos.
Vivemos num período de rápidas
mudanças, em que a experiência da
crise traz o sentimento de que algo
envelheceu e de que o novo está para
surgir, sem que se enxergue esse
novo, ainda, com a clareza necessária. É quase sempre um momento de
dor, de angústia, de inquietação, tanto mais profundas quanto mais graves forem as circunstâncias e a urgência de uma vida nova e sempre
melhor. E é justamente nesses momentos, como também aconteceu em
outras “crises” históricas, que se vivem tendências conflitantes em todos os campos da vida: uns, mais
conservadores, tendem a preservar
o antigo, vendo no novo um risco, um
perigo; outros, talvez mais afoitos,
rompem definitivamente com o velho
e se lançam em busca do novo, utilizando como critério cortes radicais
na tradição. Tanto uns quanto outros,
em geral, se desiludem, pois a história não se faz com conservadorismo
ou com rupturas radicais, havendo
sempre algo no velho que permanece novo e havendo, no que se presume como radicalmente novo, germes
envelhecidos do passado.
O momento que vivemos representa uma dessas desafiadoras ocasiões para a educação. De repente,
parece que todos os nossos valores
se esvaziaram de sentido, pairando
no ar uma insatisfação generalizada
e também uma dúvida atroz com relação a tudo o que, até há pouco, se
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A experiência da crise
traz o sentimento de
que algo envelheceu e
de que o novo está
para surgir
O conhecimento, o
Estado, a sociedade e
o trabalho sofrem
fragmentações no que
antes parecia ser
verdade absoluta
A história não se faz
com conservadorismo
ou com rupturas
radicais
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constituía para nós em padrões seguros de agir, em formas corretas de
pessoas, em conhecimento indubitável do real. É na ciência, na economia, nos costumes e valores morais, na política, é em tudo, afinal,
que se instauram essa insatisfação
e essa dúvida. O mundo globalizouse por meio, especialmente, da comunicação em tempo real: hoje assistimos ao que está acontecendo
agora do outro lado da Terra. De tal
forma que entram pela porta de nossas salas novos costumes, novos
valores, novas idéias, novos comportamentos, novas necessidades,
novas formas de pensar, de ver, de
julgar, de sentir, os quais não pudemos imaginar um dia conhecer e
vivenciar. Com a globalização da
comunicação e com a unificação do
mundo em termos de visão da realidade, vivemos uma experiência nova
com rupturas de paradigmas, em
que o conhecimento, o Estado, a
sociedade e o trabalho sofrem fragmentações no que antes parecia ser
verdade absoluta, dando lugar à
pluralidade cultural, ao respeito à
diversidade e a “novos” conceitos de
ver a educação, o homem e o mundo. Conceitos estes pautados nos
ideais de educação para todos, e
sustentados também em quatro pilares do conhecimento, como conseqüência da necessidade de se repensar paradigmas tradicionais.
O que fazer? Para onde caminha
a humanidade? Talvez a resposta
possa ser a de Tedesco:
A crise, em conseqüência, já não provém da forma deficiente de como a
educação cumpre os objetivos sociais
que lhe são atribuídos, mas, o que é
ainda mais grave, do fato de não sa-
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Essas “novidades” acompanham,
de perto, o fenômeno histórico da
globalização , e a própria Unesco já
se refere à escola, hoje, como a escola global. Talvez seja essa idéia – a
idéia de uma “escola global”, em que
tanto o intra como o extra-escolar
ganham igual relevância – a nota característica essencial da tendência
maior da educação no século XXI.
Porém, muito há que se fazer, ainda,
para a realização dessa tendência: a
superação do analfabetismo, a conquista da paz, a democratização do
ensino. A busca, permanente e concreta, pelos governos e pelos povos,
de uma melhor forma de conviver,
num mundo de menos violência, num
mundo mais humano e justo. Há uma
inexorável missão que nos é imposta, a nós educadores, como tendência a ser assumida dentro das graves
circunstâncias e das novas realidades do mundo em que vivemos, para
salvaguarda mínima das condições
de sobrevivência, de forma digna, da
humanidade: a missão de fazer da
escola uma “escola global”, mas,
muito mais que isso, de fazer da escola global uma escola ética .
É neste contexto que nasce, a nosso ver, a necessidade de materializar
a tendência mais atual de conciliar
Educação-Globalização-Diversidade
Humana. Frente a este novo paradigma, um dos aspectos relevantes e
que merece bastante atenção é a forma como estão sendo efetivadas as
relações de construção do conhecimento escolar primando pelo respeito à diversidade humana, baseado nas
políticas que recomendam a reestruturação do sistema escolar envolto por uma clientela heterogênea,
bermos que finalidade ela deve cumprir e para onde deve efetivamente
orientar suas ações. Essa mudança na
natureza da crise também se reflete
no âmbito dos críticos. Enquanto se
tratava de deficiências, os críticos encontravam-se entre os próprios educadores, pesquisadores e acadêmicos
em geral. Agora que a crise já não implica acrescentar mais da mesma coisa, mas modificar orientações e comportamentos, os críticos encontram-se
especialmente entre os atores externos ao processo pedagógico e às instituições educacionais.9
Ou ainda na própria LDB, 9.394/
96, em seu artigo 3º, no qual se estabelece que o ensino será ministrado
nos princípios de: igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola; liberdade de aprender,
ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
pluralismo de idéias e de concepções
pedagógicas; respeito à liberdade e
apreço à tolerância e coexistência de
instituições públicas e privadas de
ensino e outros.
A escola, hoje, representa um papel fundamental que é o de, junto a
seu aluno e a sociedade em geral, buscar e acompanhar as mudanças ocorridas num mundo globalizado. Esta
prática não é fácil, mas respeitando a
diversidade a ela inerente, aprendendo a conhecê-la, para compreendê-la,
aprendendo a fazer, para poder agir,
aprendendo a viver juntos, a fim de
participar e cooperar com os outros
em todas as atividades humanas e, finalmente, aprendendo a ser é que
encontraremos coerência nas ações e
propostas em vias de mudança.
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Nasce a necessidade
de materializar a
tendência mais atual
de conciliar educaçãoglobalizaçãodiversidade humana
Juan Carlos Tedesco. O novo pacto educativo
educativo: educação, competitividade e cidadania na sociedade moderna, 1998, p. 15.
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que deve ser permeada pelos quatro
pilares do conhecimento. Assim, se
estamos nos propondo discorrer sobre estas questões, faz-se necessário
buscar as relações que existem entre
conhecimento científico escolar e cotidiano, para uma melhor compreensão das situações de atendimento
acerca da diversidade.
Cotidiano escolar
e diversidade humana
Para falarmos em diversidade
humana e educação, esta, entendida
como cotidiano escolar, é importante ressaltar que conhecimento científico e conhecimento cotidiano, em
momento algum, são colocados à
parte por nós, visto que acreditamos
serem eles o ponto principal para a
prática escolar em prol da diversidade humana. E é por meio da construção cotidiana e científica do conhecimento que serão estruturadas as
bases dos saberes escolares. Segundo José e Arnay 10 , ambas as formas
de conhecimento, científico e cotidiano, “co-evoluem, isto é, evoluem conjuntamente no tempo, graças a
esta interação, o que significa que
não mudam independentemente um
do outro”.
O conhecimento escolar é a própria instância onde se modifica o conhecimento cotidiano mediante o
confronto com o conhecimento científico, o que produz a maneira de pensar de cada um, sua visão de mundo
e sua conseqüente postura de transformação da realidade. A hipótese da
incompatibilidade entre o científico
e o cotidiano, na intervenção
educativa, se configura na proposta
de uma mudança conceitual unida à
10
Conhecimentocientífico
econhecimento
cotidiano, em momento
algum, são colocados à
parte por nós
A educação só é
educação quando
trabalha as diferenças
Oconhecimentoescolar
é a própria instância
onde se modifica o
conhecimento
cotidiano mediante o
confronto com o
conhecimentocientífico
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instrução das idéias constitutivas
dos alunos às idéias científicas. Nessa visão, o saber escolar é o produto
e o processo. Ao mesmo tempo, para
se chegar a ele, é preciso ter como
enfoque a diversidade humana. Mas,
para isso, é preciso considerá-la em
seu contexto social, político, econômico, cultural e educacional, tendo
em vista suas bases de organização
e estruturação no movimento constituído pelo homem e as relações sobre sua ação. Assim, pode-se dizer
que o conhecimento escolar se dá no
processo de ensino e aprendizagem,
e este acontece de acordo com a visão de cada um.
Ao se falar em conhecimento escolar, vem à nossa mente o complexo panorama que existe hoje. Numa
visão sociocultural em que o conhecimento é fruto de uma construção,
nos deparamos com as diferentes
construções existentes no âmbito do
cotidiano escolar. E a educação só é
educação quando trabalha as diferenças, pois o mais importante é que
somos diferentes e que crescemos
uns com os outros; crescemos com
o diferente. Os alunos, diversos entre si em função da singularidade, da
visão de homem e de mundo de cada
um, constroem o conhecimento, cada
qual ao seu modo, em um universo
conceitual, onde descobrem a sua
personalidade e realidade individual.
Tem-se, assim, diferentes cenários ou
saberes em um único ambiente: o
escolar.
Tal construção conceitual, no entanto, só se tornará uma elaboração de
cunho mais epistemológico e científico se o ambiente do cotidiano escolar propiciar condições para se trabalhar de forma a instigar o aluno a
Maria José; José R. Arnay (org.). Conhecimento cotidiano, escolar e científico: representação e mudança, 1998, p. 87.
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conceber uma nova visão ou forma
de conhecimento. Desse modo, ele
poderá atuar na realidade de uma
forma mais crítica e construtiva, isto
é, com capacidade para transformar
tal realidade.
Essa prática baseia-se no respeito à diversidade humana, na aceitação do diferente como um indivíduo
que contribui para uma reflexão de
uma práxis dinâmica. Portanto, é de
suma importância a visão que se tem
de homem/educação e quais conhecimentos e objetivos sustentam tal
prática. Esses serão determinantes
na ação do educador: o que, como e
para quem ensinar? Tal postura pode
contribuir para a formação, no âmbito do cotidiano escolar, de sujeitos
donos de sua própria história e da
sua educação.
É preciso, inicialmente, buscar o
saber do aluno, sua visão contextual
do mundo, de maneira a acrescentar
mais ao saber cotidiano e, então, partir para o saber científico. Contudo,
é imprescindível que não haja
dicotomias entre o que o aluno quer
ou precisa saber e o que o professor
quer ensinar. A meta é a aquisição do
saber elaborado ou científico. Mas
isso deve acontecer de uma forma
crítica e, acima de tudo, contextualizada para se organizar e produzir novas perspectivas. Essa visão da
construção do cotidiano escolar vem
ao encontro de uma visão dialética
do próprio conhecimento e do ser
humano, ambos em constante transformação e, conforme os objetivos,
metas e interesses de cada um ou do
momento histórico: “o conhecimento escolar deve coletar o pensamento próprio de cada cultura, pensa11
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É de suma
importância a visão
que se tem de
homem/educação e
quais conhecimentos
e objetivos sustentam
tal prática
É imprescindível que
não haja dicotomias
entre o que o aluno
quer ou precisa saber
e o que o professor
quer ensinar
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mento que se organiza em diferentes
sistemas de idéias” 11 . Isso evidencia
uma visão crítica da ideologia que
perpassa todos os conhecimentos, as
crenças e os valores, mas que separa o que é determinado do que é
determinante, pois não basta compreender a complexidade que circunda o ser humano e suas relações, nem
a diversidade que o compõe. O mais
importante é saber entender e construir o devir, o vir a ser de novos
paradigmas. Estes são procedimentos orientados por propostas como
da ONU, a qual tem desenvolvido
ações em prol do atendimento a todos, enfatizando o respeito aos direitos individuais e à liberdade dos outros, o reconhecimento e a aceitação
das liberdades individuais e o apreço pela diversidade cultural, o que
implica não conferir a nenhuma cultura, nação ou religião o monopólio
do saber ou da verdade.
Pautar-se em aspectos da diversidade humana; aspectos das relações do homem com os outros homens na construção de um conceito
de educação que vislumbre a singularidade, é fundamental. Em outras
palavras, que cada indivíduo possa
adquirir condições de delinear o seu
caminho, a sua visão, com base na
junção de toda sua trajetória nos papéis de cidadão, aluno, filho, esposo,
professor etc. E é essa junção que lhe
proporcionará a organização de sua
visão de mundo, sua postura política, filosófica, educacional e, por conseqüência, sua forma de agir e
interagir no meio em que vive.
Isso posto, é fácil perceber a complexidade que envolve o cotidiano
escolar em suas várias interfaces.
Idem, Ibidem, p. 95.
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Estas estão imersas em um sistema
político educacional permeado por
documentos que, conceitualmente,
determinam que se tenham ações
que atendam à sociedade plural, universal, globalizada e, ao mesmo tempo, se organizem para não excluir o
singular, o individual. Prova disto é a
Declaração Mundial sobre a Educação do Século XXI, em que a Unesco
busca resgatar e contribuir para a
união dos países globalizados por
meio do respeito à democracia, do
diálogo entre as culturas – que são
expressos em uma educação para a
cidadania -, da não violência e do
combate aos conflitos sociais.
Nessa perspectiva, encontramos
na LDB, 9394/96, avanços significativos em sua leitura sobre a formação
docente; porém suas ações ou políticas de efetivação tendem a seguir
uma linearidade, como a questão dos
temas transversais dos PCN –
Parâmetros Curriculares Nacionais.
Tudo isto nos faz pensar em cotidiano escolar e diversidade humana.
Pois, se o cotidiano escolar deve ser
o espaço onde se organiza, se reorganiza, se analisa, e se constrói formas de pensamento embasadas na
própria história de cada um e da sociedade no conjunto das relações,
temos então que observar como se
processa o saber diante dessa diversidade; esse conhecimento ou forma
de conceber o mundo de cada um.
Nesse sentido é que nossa investigação acerca do cotidiano escolar no
trato com a diversidade humana vem
nos proporcionar o fenômeno do
vivenciar e acompanhar esta organização dinâmica que ocorre dentro do
cotidiano escolar, permeado pela di12
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O século XX terminou
com uma avalanche
de reformas no
campo educativo
No cotidiano escolar, é
possível percebermos
uma dificuldade para
se trabalhar dentro
das propostas de
transformação
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versidade, que é fruto de um mundo
globalizado. É neste universo que
percebemos o significado e a freqüência de cada manifestação ou relação
de professores e alunos e o contexto
em que estão inseridos.
Temos nos deparado com novos
paradigmas, nos quais o que se busca resgatar é uma organização em
que o saber e o ensino sejam algo
contextualizado e integrado à realidade. E que no contato com novas
idéias, seja possível, também, a
estruturação e concretização de novas ações. O século XX terminou com
uma avalanche de reformas no campo educativo: mudaram-se as leis e
normas que regulam o funcionamento dos sistemas escolares, mudaramse a própria organização da escola,
os currículos, os sistemas de formação docente, a avaliação. Porém, a
milagrosa transformação educativa
tarda para fazer-se presente.
A partir disto, no cotidiano escolar, é possível percebermos uma dificuldade para se trabalhar dentro das
propostas de transformação; não por
vontade, mas por desconhecimento,
pois os profissionais da educação
foram formados em uma visão
dicotômica do ensino, na qual aos
alunos cabia aprender, e aos mestres,
ensinar. Isso nos remete a citação de
Freire, ao afirmar que “ensinar não é
transferir conhecimento, conteúdos,
nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma
a um corpo indeciso e acomodado”12 .
Conclusão
Voltemos à pergunta que pautou
este trabalho: se o homem é sujeito
Paulo Freire. Pedagogia da autonomia
autonomia: saberes necessários à prática educativa, 1996, p. 25.
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da produção de si mesmo, por que
ainda temos um ensino que não respeita as diferenças e as diversidades,
impedindo o aluno de ser o sujeito
de sua ação à medida em que recebe
conhecimentos e valores que não
condizem com suas necessidades?
De acordo a reflexão que fizemos
sobre o assunto, o ensino precisa ter
uma relação de cumplicidade, em que
educador e educando interajam de
modo a conhecer as necessidades e
potencialidades de cada um. Assim,
professores e alunos poderão
estruturar sua forma de ensinar e
aprender de maneira coerente com
as necessidades individuais. Quando
não há interação no processo de ensino e aprendizagem, há uma tendência a se patologizar o cotidiano escolar. Em outras palavras, busca-se
transformar as diversidades e diferenças de necessidade em dificuldades, distúrbios, atrasos e carência
cultural. Isso porque, ao ignorar a
complexa diversidade do cotidiano e
ter uma visão de conhecimento único, pronto e acabado, o professor
perde a oportunidade de explorar as
riquezas e crescimentos que essa diversidade traz. É por meio da diversidade da relação com o outro que
construímos nossos saberes, nossa
trajetória.
Hoje, se impõem em nosso cotidiano desafios que convergem para
reflexões sobre o profissional que se
quer formar. Mas ainda não foi levada a efeito, de forma tranqüila, essa
proposta de formar para diversidade. Talvez por haver dificuldades
para se trabalhar em um contexto
heterogêneo, onde a homogeneidade
seja improvável; onde o ensinar para
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O ensino precisa ter
uma relação de
cumplicidade, em que
educador e educando
interajam
Não é difícil perceber
o grande desafio
enfrentado pelos
educadores frente às
diversidades do
cotidiano escolar
É por meio da
diversidade da
relação com o outro
que construímos
nossos saberes, nossa
trajetória
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todos igualmente tornou-se algo que
tem “balançado” o cotidiano escolar.
Trabalhar com a diversidade implica práticas cotidianas também
diversificadas, algo que, às vezes,
tem sido bastante conflituoso considerando que, enquanto algumas escolas vivenciam práticas que avançam no sentido de democratização,
favorecendo o desempenho escolar
das crianças, outras “dificultam esse
processo, negando a muitos alunos
os benefícios do acesso ao saber e
limitando suas possibilidades de participação social”13 .
Não é difícil perceber o grande
desafio enfrentado pelos educadores
frente às diversidades do cotidiano
escolar, com os diferentes tipos de
aprendizagem, motivações, interesses e necessidades de cada educando. Tal desafio deriva do fato de que
ainda perdura uma visão de ensino
como algo que é previamente organizado e selecionado. Nesse caso, é
necessário então, acabar com esta
dicotomia entre escola e vida; ou
seja, na escola, os conteúdos
curriculares, na vida, os problemas
e situações do dia-a-dia. É preciso
vinculá-los, pois são saberes e, como
tal, devem ser tratados. E se há um
espaço privilegiado para se levar a
efeito tal tratamento, isto é, discussão e análise, esse espaço é o cotidiano escolar, que será enriquecido
exatamente pelas várias situações e
diversidades inerentes e vividas por
cada ser humano e exploradas nos
processo de ensino e de aprendizagem, pautados pelos quatro pilares
do conhecimento.
Para conseguir trabalhar dentro
de novos paradigmas, temos de aliar
Marli André (org.). Pedagogia das diferenças na sala de aula
aula, 1999, p.85.
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as necessidades atuais ao saber acumulado e, com isso, proporcionar
um pensamento ativo com o devido
estímulo para se chegar a abstrações maiores e elaborações de no-
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vos saberes. Trabalhar em conformidade com os ritmos e tempos de
cada um, sem que com isso se deixe
de trabalhar de forma crítica e
contextualizada.
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Referências bibliográficas
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Docência universitária – cotidiano escolar e diversidade