○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Resenha A teoria e a prática de EAD GIUSTA, Agnela da Silva; FRANCO, Iara Melo (orgs.). Educação a Distância: uma articulação entre a teoria e a prática Paulo Roberto Salles Garcia Mestre em Comunicação Social pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e diretor de Comunicação e Marketing do IMS (Instituto Metodista de Ensino Superior). Q ue as novas tecnologias de comunicação e informação estão mediando a educação ninguém desconhece. Que tais transformações estão alterando significativamente os processos de ensino/aprendizagem a partir da inserção de disciplinas semipresenciais ou totalmente a distância no ensino superior, muitos (especialmente instituições de ensino superior mais atentas às tendências educacionais e alguns estudiosos) já percebem. Que há ainda um longo caminho a trilhar, o qual passa pela organização pedagógica, pela capacitação do corpo docente e pela percepção de estudantes a respeito da eficácia desse novo formato de ensino, entre outros, nisto todos concordam. É por essas e outras questões que Educação a Distância: uma articulação entre a teoria e a prática Revista de Educação do Cogeime Há ainda um longo caminho a trilhar, o qual passa pela organização pedagógica ○ ○ ○ 75 ○ ○ ○ é especialmente oportuna. Podese dizer que o nascedouro desta obra remete a 1998, quando reitores e representantes de governos se reuniram em Paris, na Conferência Mundial sobre o Ensino Superior e assumiram o compromisso de democratizar e universalizar o ensino superior. A iniciativa, capitaneada pela Unesco, motivou a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) a mergulhar profundamente nessa empreitada, cujo principal desdobramento foi a criação da PUC Minas Virtual. Desse projeto, que tem como ênfase a inserção da instituição no mundo da educação a distância – mediada pelos avanços tecnológicos no campo da comunicação e da informação –, foi proposto o curso de atualização em Educação a Distância. Da contribuição de diversos proAno 15 - n . 28 – junho / 2006 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ritmo de cada aluno sejam pressupostos no cenário de EAD, o que move essa modalidade de educação é um programa criterioso e avançado em relação ao processo ensino/aprendizagem, em que o professor desempenha um papel ainda mais relevante. Cabe a ele suplantar a condição de mero repassador de conteúdo para assumir a tarefa de criar condições que possibilitem a maior interação possível com os alunos e entre eles, associada a um cuidado especial no preparo dos materiais didáticos, na escolha dos conteúdos a serem discutidos com a “turma”, conhecer os alunos e avaliá-los continuamente para fundamentar o atendimento individualizado. Recorremos novamente a Agnela Giusta para destacar que o que ○ fessores-estudiosos da temática resultou este livro. Alguns temas essenciais saltam aos olhos nessa obra. E não podia ser diferente, em se tratando de EAD. O primeiro deles é a democratização da educação, vista na perspectiva de que diante de uma sociedade globalizada, a necessidade de aprender a aprender para processar as informações e atualizar conhecimentos e a ênfase para a educação continuada, entre outros fatores, tornam o acesso ao ensino um instrumento imprescindível para manter-se competitivo nesse cenário e determinante para acentuar ou atenuar as diferenças nas relações que as nações estabelecem entre si e entre sua população. É uma questão de sobrevivência, como aponta Agnela da Silva Giusta, autora de um dos artigos e uma das organizadoras do livro. Nesse cenário, a educação a distância vem preencher uma lacuna significativa, exatamente por abrir possibilidades para que jovens e adultos, motivados por diferentes aspectos, tenham acesso a ambientes de aprendizagem. Outro tema abordado diz respeito ao peso que se dá às novas tecnologias de comunicação e informação. Está claro que elas representam um avanço sem precedentes no processo educacional, mas não podem ser entendidas como proposta de autodidatismo. Mesmo que a autonomia intelectual e o respeito às possibilidades e ao ○ A educação a distância vem preencher uma lacuna significativa O que move essa modalidade de educação é um programa criterioso e avançado determina o valor da EAD é a qualidade do projeto pedagógico a ser implementado: seus objetivos, a concepção de processo ensino/ aprendizagem adotada, a pertinência e a atualidade dos conteúdos, as estratégias didáticas, as relações entre os participantes, a liberdade para buscar informações e colocar e discutir problemas reais levantados pelo grupo. Não é possível falar de EAD sem se demorar um pouco na discussão sobre o processo ensino/aprendizagem. Não é à toa que um dos artigos que compõem o livro trata das diferentes – e divergentes – concepções acerca dessa relação, ao passar ○ ○ ○ 76 ○ ○ ○ Ano 15 - n . 28 – junho / 2006 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ pelas perspectivas empirista e racionalista, pela solução construtivista e pela abordagem sócio-histórica da psicologia soviética. O que está em jogo é a necessidade de se pensar sobre conceitos que estão relacionados a esse processo, entre eles a comunicação entre os sujeitos envolvidos, a ampliação das relações humanas em sala de aula, uma nova mentalidade e uma nova prática de avaliação e o trabalho coletivo. A propósito especificamente ao aspecto da avaliação, o livro apresenta importante contribuição. Apesar de trazer à luz elementos que são comuns ao modelo de ensino presencial, o enfoque ao ensino a distância é ressaltado, mostrando, por exemplo, a necessidade de que haja forte interatividade entre o aluno e o professor, para que a avaliação formativa tenha espaço assegurado. Tal avaliação acontece ao longo do processo ensino/aprendizagem, permitindo com isso que, ao observar e compreender o desempenho de cada aluno, haja possibilidades de ajustes das intervenções pedagógicas e das situações didáticas, aumentando assim as chances de aprendizagem. Sem deixar de apontar alguns instrumentos e estratégias de avaliação, a obra chama atenção para o fato de que o desempenho do aluno não deve ser o único elemento a ser considerado objeto de avaliação. É preciso que sejam levados em conta também a infra-estrutura Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A obra chama atenção para o fato de que o desempenho do aluno não deve ser o único elemento a ser considerado objeto de avaliação O correio eletrônico deve ter um uso restrito ○ ○ ○ 77 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ de apoio oferecida – relacionada especialmente às tecnologias de comunicação e informação e à coordenação acadêmico-pedagógica –, a metodologia a ser aplicada, a atuação de professores e tutores e a didática proposta. Educação a Distância mostra também as mídias privilegiadas nessa modalidade de ensino. Sem desmerecer os recursos impressos, naturalmente as preferidas são as que se utilizam das novas tecnologias de comunicação e informação e incluem, especialmente, o computador, as teleconferências e as videoconferências. No primeiro caso, a internet ganha destaque diferenciado, pelo fato de permitir inúmeras possibilidades no processo ensino/ aprendizagem, aliadas a condições concretas de interatividade. Seu uso alcança desde os fóruns de discussão até os chats, passando também pelos blogs. Na avaliação de Iara Melo Franco, que propõe a discussão, o correio eletrônico deve ter um uso restrito, voltado apenas para discussão de aspectos específicos que digam respeito tão-somente ao aluno. Ela cita o exemplo da PUC Minas Virtual, que utiliza o Correio Acadêmico, termo criado pela instituição para nominar uma base de dados que organiza os e-mails segundo algumas categorias: questões tecnológicas, administrativas e aquelas voltadas para a coordenação do curso, entre outras. Uma das vantagens é a transparência, defende a autora, na medida em que vários Ano 15 - n . 28 – junho / 2006 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ profissionais (professores, coordenadores, tutores, equipe tecnológica e administrativa) têm condições de acompanhar a troca de correspondências entre a instituição e os estudantes. Além disso, essa ferramenta permite a sistematização de dados visando a identificação de possíveis falhas e o fornecimento de informações para pesquisas acadêmicas. A preocupação em oferecer ao leitor as diversas ferramentas tecnológicas que podem estar a serviço da EAD é presente no livro. Em alguns casos, de forma bastante técnica, a apresentação vem acompanhada de análises sobre a eficiência de tais ferramentas, bem como os requisitos necessários no que diz respeito à viabilidade técnica (softwares desejáveis, assim como a capacidade de armazenamento deles, e hardwares, por exemplo). Entre as possibilidades para o contexto de EAD, é destacado o uso de áudios, vídeos, teleconferências e videoconferências. Os autores vão ainda mais longe: orientam, para cada uma dessas possibilidades, a respeito dos aspectos mais práticos como custos, produção, prazos, modalidades, equipamentos básicos etc. Naturalmente, a escolha por uma (ou mais de uma) mídia eletrônica deve ser feita a partir das possibilidades financeiras, do público de interesse do curso e dos objetivos que se deseja alcançar. Entretanto, como sugere Iara Franco, a superação do medo diante das novas tecnologias de Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A escolha por uma (ou mais de uma) mídia eletrônica deve ser feita a partir das possibilidades financeiras A grande ênfase gira em torno de cuidados para garantir a atratividade do material ○ ○ ○ 78 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ comunicação e informação representa uma conduta saudável diante das inúmeras possibilidades que elas oferecem no âmbito dessa modalidade de ensino. É importante lembrar também que, apesar de todo o aparato tecnológico que se coloca importante e necessário no ensino em EAD, o material impresso ocupa um lugar de destaque em diversas circunstâncias, em virtude de algumas facilidades que o caracterizam, como a fácil manipulação e a possibilidade de transportá-lo para quaisquer ambientes. Durante muito tempo ainda, terá o seu papel de facilitador na oferta dos cursos a distância, associado às outras mídias hoje existentes. Por isso, Educação a Distância traz, de modo pormenorizado, pistas a respeito dos principais impressos utilizados em EAD (manual, livro didático, cartaz e cartilha), apontando-lhes as características principais, bem como a melhor forma de organizar os conteúdos. A grande ênfase gira em torno de cuidados para garantir a atratividade do material, como utilização de cores, organização espacial do texto, diagramação, ilustrações, movimento etc. Em EAD também não se admite improvisação. Isso se justifica pelo fato de que, pouco a pouco, aumentam as instituições de ensino superior que, impulsionadas com as portarias do MEC que regulamentam o oferecimento de cursos de graduação e de pós-graduação a distância Ano 15 - n . 28 – junho / 2006 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ (sem falar nas disciplinas semipresenciais dos cursos presenciais), enveredam-se por esse caminho. Isso, por si só, tende a criar uma concorrência nesse segmento, e só se manterão no mercado aquelas cujas propostas e marca de qualidade sejam suficientes para atrair e manter os alunos. Ao lado disso, também extremamente importante, é a preocupação de se estruturar, sob o ponto de vista tecnológico e também de projeto pedagógico, de corpo docente, de objetivos estratégicos a serem alcançados. Para dar conta desse desafio, torna-se imprescindível o planejamento, tema aprofundado nesse livro. Se a tarefa não é exclusiva ao ensino de EAD, isso não o livra de olhá-la com cuidado e atenção. Por isso, são apresentadas cinco etapas requeridas na elaboração e execução de um projeto na modalidade a distância. A primeira delas diz respeito à definição da natureza, do nível e do alcance do curso, baseada nos objetivos, valores e filosofias de aprendizagem e educação da instituição. Em segundo lugar, destaca-se a necessidade de estruturar a equipe responsável pelo projeto. Nesse caso, um grupo multidisciplinar é requerido, especialmente por conta das inúmeras ações que o trabalho de concepção da proposta impõe; entretanto, uma das primeiras decisões relaciona-se à escolha dos professores, cuja qualificação é determinante para a elaboração do projeto pedagógico. Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Só se manterão no mercado aquelas cujas propostas e marca de qualidade sejam suficientes para atrair e manter os alunos A implementação do curso, a qual requer uma série de procedimentos administrativos, tecnológicos e didáticos para que a oferta seja bem-sucedida ○ ○ ○ 79 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A terceira etapa refere-se à elaboração do projeto didáticopedagógico do curso, e deve considerar medidas que envolvem a definição do perfil do público a ser alcançado, a identificação de objetivos (que precisa estar vinculado às necessidades e aos interesses dos alunos e não a um projeto pessoal do professor), a definição de estrutura curricular, conteúdos e programas, a especificação de materiais, recursos educacionais e sistema de apoio ao desempenho do aluno e a avaliação. A produção do curso, aqui considerada o processo de operacionalização das ações previstas no projeto pedagógico discutido anteriormente, é a quarta etapa, que antecede à quinta, que corresponde à implementação do curso, a qual requer uma série de procedimentos administrativos, tecnológicos e didáticos para que a oferta seja bem-sucedida. À contribuição dos diversos autores, somam-se à obra dois anexos. O primeiro refere-se à legislação de EAD – que inclui as normas para funcionamento de cursos de pós-graduação (lato sensu e stricto sensu) a distância – e o segundo diz respeito à Lei de Direitos Autorais, tema da maior relevância no contexto do oferecimento dessa modalidade de ensino. Educação a Distância, portanto, oferece subsídios teóricos para a discussão sobre a temática de EAD, mas não deixa de lado a identificação de aspectos práticos, sem os quais todo o projeto pedaAno 15 - n . 28 – junho / 2006 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ gógico e os objetivos a ele associados correm o risco de se perderem ao longo do processo. Por isso, ler esse livro, levando em conta essa dupla dimensão, Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ possivelmente iluminará o caminho daqueles que já estão envolvidos com essa modalidade de ensino e de tantos outros que por ela se interessam. ○ ○ ○ 80 ○ ○ ○ Ano 15 - n . 28 – junho / 2006