ESCOLA DE ENSINO SUPERIOR ANÍSIO TEIXEIRA
FACULDADE CESAT
CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
MARIA DALVA SOUZA DO ROSÁRIO MACHADO
SANDRA MARTA ALVES SIMAM
SHIRLEY CHRISTINE CAMPOS
SIONEIA ANDRADE DRUMOND ALVARENGA
FRACASSO ESCOLAR
NO ENSINO FUNDAMENTAL
SERRA
2011
MARIA DALVA SOUZA DO ROSÁRIO MACHADO
SANDRA MARTA ALVES SIMAM
SHIRLEY CHRISTINE CAMPOS
SIONEIA ANDRADE DRUMOND ALVARENGA
FRACASSO ESCOLAR
NO ENSINO FUNDAMENTAL
Monografia apresentada ao Curso de
Licenciatura em Pedagogia da
Faculdade Serravix, como requisito
parcial para obtenção do grau
Licenciatura em Pedagogia.
Prof. Orientador Dr. Davis. M. Alvim.
SERRA
2011
MARIA DALVA SOUZA DO ROSÁRIO MACHADO
SANDRA MARTA ALVES SIMAM
SIONEIA ANDRADE DRUMOND ALVARENGA
SHIRLEY CHRISTINE CAMPOS
FRACASSO ESCOLAR
NO ENSINO FUNDAMENTAL
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade
Serravix, como requisito parcial para obtenção do grau Licenciatura em Pedagogia.
Aprovada em ____ / ____ / ___
COMISSÃO EXAMINADORA
_____________________________________
Prof. Dr. Davis M.Alvim
Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira
Orientador
____________________________________
Prof. Ms. Vânia Rosa Rodrigues
Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira
_____________________________________
Prof. Dr. Oscar Omar Carrasco Delgado
Escola Superior de Ensino Anísio Teixeira
Agradecemos primeiramente a Deus, por
ter nos dado a oportunidade de fazermos
este curso, alcançarmos mais esta
conquista em nossas vidas.
A todos os nossos familiares pelo apoio e
compreensão ao longo destes anos.
Ao nosso orientador, professor Davis
Alvim,
pela
colaboração
no
desenvolvimento desta pesquisa.
A todos que de alguma forma
contribuíram com este estudo.
A educação é um ato de amor, por isso,
um ato de coragem. Não pode temer o
debate. A análise da realidade. Não pode
fugir à discussão criadora, sob pena de
ser uma farsa.
Paulo Freire, 1996.
RESUMO
Mostrar as principais causas do fracasso escolar nas instituições públicas de ensino
brasileiras, considerando o elevado número de analfabetos funcionais e que apenas
cerca de 25% dos alunos conseguem sair da escola sabendo ler e escrever. O
referencial teórico fundamentado pela pesquisa bibliográfica e pelo método
qualitativo descreve o conceito, apresenta diferentes concepções e um breve
panorama deste fenômeno no Brasil, a posição da família, a falta de qualificação do
professor e, ainda, a falta de parceria ente escola e família. Com essa proposta
destaca a realidade da educação em nossa sociedade. A pesquisa de campo
realizada com uma pedagoga e uma professora de uma escola da rede pública
municipal de ensino, de Serra, apresenta duas percepções do fracasso escolar em
uma mesma instituição. Os resultados permitem evidenciar que na teoria e na
prática em relação ao fracasso escolar a realidade está muito equidistante do
cotidiano da sala de aula e da escola brasileira.
Palavras-chave: Fracasso Escolar. Família. Qualificação.
SUMÁRIO
Capítulo 1.. ................................................................................................................. 9
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
Capítulo 2.. ............................................................................................................... 12
2 FRACASSO ESCOLAR – CONCEITOS E CONCEPÇÕES .................................. 12
2.1 FRACASSO ESCOLAR - CONCEITOS .............................................................. 13
2.2 BREVE PANORAMA DO FRACASSO ESCOLAR NO BRASIL .......................... 17
Capítulo 3.. ............................................................................................................... 21
3 CAUSAS DO FRACASSO ESCOLAR ................................................................. 21
3.1 FAMÍLIA DESESTRUTURADA E OMISSA ......................................................... 24
3.2 FAMÍLIA E ESCOLA: FALTA DE PARCERIA ..................................................... 26
3.3 O PROFESSOR E A FALTA DE QUALIFICAÇÃO .............................................. 28
Capítulo 4.. ............................................................................................................... 30
4 ESTUDO DE CASO .............................................................................................. 30
4.1 PERCEPÇÃO DA PEDAGOGA SOBRE O FRACASSO ESCOLAR .................. 30
4.2 PERCEPÇÃO DA PROFESSORA SOBRE O FRACASSO ESCOLAR .............. 32
Capítulo 5.. ............................................................................................................... 35
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 35
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 37
ANEXO - QUESTIONÁRIO ...................................................................................... 39
9
Capítulo 1
INTRODUÇÃO
O fracasso escolar é um tema que provoca debates no cenário da educação. No
entanto, para entender os fatores que levam a este problema é preciso, antes,
ressaltar que a educação é um direito de todos determina o art. 205 da Constituição
Federal e “dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
De modo mais específico, o ECRIAD (Estatuto da Criança e do Adolescente), em
seu art. 4 reafirma o disposto no art. 227 da CF/88 acrescentando que esse dever
também é de responsabilidade do poder público. Nesse contexto, são parceiros
fundamentais da educação a família, escola, Conselho Tutelar, Conselho da
Educação, Conselho da Criança e do Adolescente, Diretoria de Ensino, Secretarias
de Educação, Assistência Social e Saúde, Universidades, Policia Militar e Civil,
Ministério Público e Judiciário.
Levando em conta que o fracasso escolar é um dos maiores problemas e desafios
do sistema educacional, definiu-se como tema de pesquisa a ser desenvolvido: O
fracasso escolar no Ensino Fundamental, com enfoque nas séries iniciais. Há algum
tempo se discute no âmbito social e da educação os fatores que levam ao fracasso
escolar nas escolas brasileiras.
A esse problema pesquisadores e estudiosos associam a pouca participação da
família, a falta de qualidade e a carência de mão de obra qualificada em função da
falta de treinamento dos professores, ao modelo de gestão, entre outros. Nessa
perspectiva, a proposta desta pesquisa é buscar resposta para a seguinte questão:
Quais os fatores contribuem para o fracasso escolar no Ensino Fundamental com
enfoque nas séries iniciais?
10
O objetivo geral consiste em identificar as causas do fracasso escolar e seus
diferentes fatores.
Os objetivos específicos foram assim definidos:
- Descrever as principais características e significado do conceito de fracasso
escolar;
- Identificar as causas e consequências do fracasso escolar;
- Apontar ações de enfrentamento para o problema do fracasso escolar, entre elas a
relação escola família, a qualificação profissional.
O fracasso escolar é um fenômeno que acontece nas escolas e, apesar de ser um
fato conhecido de todos, não se tem pensado uma ação pedagógica eficiente na
maioria das entidades escolares para intervir nesta realidade. Não depende só dos
professores, mas de toda comunidade escolar, pais, coordenadores, pedagogos e
demais colaboradores da instituição de ensino e principalmente de todos os alunos.
Na educação, quando se trata da dificuldade de aprendizagem, de imediato se
associa a questão à classe menos favorecida, na sua realidade de vida no meio
social em que vivem, ou seja, no seu histórico familiar, diante disso iremos nos
aprofundar para sabermos a origem da falta de êxito da aprendizagem, o fracasso
escolar na escola pública.
Salienta-se a importância deste estudo em função de dois aspectos: social e
profissional. O social por apresentar um apelo maior no sentido de as ações públicas
e políticas tomarem a educação como prioridade em todos os seus aspectos e
sentidos. O profissional buscando contribuir para a diminuição deste problema, haja
vista as condições de trabalho e, principalmente, do ensino oferecido ao cidadão
brasileiro.
Os sujeitos da pesquisa são a pedagoga e uma professora de uma escola do Ensino
Fundamental, da rede pública municipal de Serra (ES). Tais sujeitos de pesquisa
foram escolhidos em função do nível de conhecimento do objeto de pesquisa
descrito na introdução deste trabalho, e pela percepção da realidade do fracasso
11
escolar. Os alunos não são sujeitos em função do objetivo da proposta deste estudo
buscar identificar os fatores que contribuem para o fracasso escolar e nesse sentido
o professor é o elemento capaz de apontar, a partir de suas concepções, que fatores
são esses.
Para a coleta de dados foi aplicado um questionário semiestruturado com questões
relacionadas a qualificação profissional, relação escola e família e fracasso escolar.
A análise e interpretação dos dados se processam de modo quantitativo, através da
análise da realidade vivida pelos atores analisados e o marco teórico descrito.
Uma das limitações desta pesquisa foi sua aplicação estudo em apenas uma escola.
Mas apesar dessa limitação, este estudo demonstra sua relevância ao pesquisar o
fracasso escolar, esperando contribuir com outros estudos da mesma natureza e
que abra novos canais de investigação. Este estudo apresenta a seguinte estrutura:
No Capítulo 1, apresenta-se a introdução, onde são expostos termos relevantes à
temática do fracasso escolar, descrição do problema, objetivos, justificativa e
metodologia aplicada.
No Capítulo 2, fracasso escolar com apresentação do significado do conceito e
concepções que analisam, pesquisam e estudam a temática, bem como um breve
panorama do fracasso escolar no sistema de ensino brasileiro.
No Capítulo 3, descrição das principais causas do fracasso escolar, com enfoque na
família, escola e na falta de qualificação do professor.
No Capítulo 4, pesquisa de campo apresentando os dados coletados e na´lise dos
resultados obtidos junto a uma pedagoga e uma professora da rede estadual de
ensino, escola situada no município de Serra, identificando suas concepções sobre o
fracasso escolar.
No Capítulo 5, as considerações finais do desenvolvimento deste estudo.
12
Capítulo 2
2 FRACASSO ESCOLAR: CONCEITOS E CONCEPÇÕES
Este capítulo apresenta concepções acerca do fracasso escolar destacando suas
diferentes conceituações objetivando descrever suas principais características e
compreender a influência desse fenômeno no processo de aprendizagem do aluno
como agente e do professor como mediador do conhecimento. Acreditamos ser de
fundamental importância conhecer mais das escolas de ensino fundamental, palco
das ações, reações e representações dos atores nele envolvidos, para solucionar
esse fenômeno real da escola brasileira. Em pleno século XXI, não é mais possível
crer no pouco acesso a bens culturais. A pobreza e a falta de participação dos pais
na vida escolar dos filhos é o indicativo para a não aprendizagem, levando à
reprovação.
A importância nos aprofundarmos neste conceito está em mostrar o fracasso escolar
no processo de aprendizagem é uma questão desafiadora que correspondem às
necessidades do educando e também às perspectivas do educador, trazendo
consequências irreparáveis para o aluno. O fracasso escolar não é apenas orgânico,
é também a estrutura funcional da escola, a qualidade de ensino e, principalmente, a
relação que o aluno desenvolve em sua aprendizagem.
Cordié (1996) enfatiza que, na realidade atual, o fracasso escolar pode ser sinônimo
de fracasso de vida, dentro do contexto social, reproduzindo as diferenças de
classes existentes na sociedade. Neste sentido, as diferenças culturais e sociais dos
alunos seriam reproduzidas na escola através de rendimento escolar.
Segundo Patto (1999), os alunos de nível socioeconômico cultural baixo apresentam
desempenho escolar inferior, sendo, portanto, os principais candidatos a repetência
e a evasão, levando-os ao fracasso escolar, devido a qualidade de ensino que é
oferecida. Destaca-se assim a importância de um trabalho interdisciplinar na
13
tentativa de superação do fracasso, para a produção de um conhecimento
consciente a respeito desta questão, entendendo seu papel social para que se
assuma um compromisso político e responsável para com a escola e seus alunos, já
que ela, ainda, ela ainda é seletiva e classificatória.
A realidade do fracasso escolar constitui um desafio que precisa ser enfrentado no
que se refere à identificação dos fatores e ao planejamento de ações voltado para
construção do sucesso escolar. Entendemos, no entanto que os alunos não são os
responsáveis por saírem da primeira série do ensino fundamental público brasileiro
sem adquirir o leque de conhecimento que os capacite a decifrar os códigos da
leitura e da escrita, pois como afirma Bossa, O fracasso escolar é o fracasso do
Sistema educacional.
De acordo com as palavras citadas pela psicopedagoga Nadia Bossa, observa-se
que o sistema de ensino deixa a educação a desejar em se tratando do tema
“fracasso escolar”, levando o sistema público-educacional a ter sua parcela de
responsabilidade. As escolas não estão preparadas para receber e acolher os
alunos da maneira adequada e culpa principalmente da gestão publica que cada vez
menos investem na educação. Com isso a maior parte dos alunos que está
concluindo o ensino fundamental sai da escola sem saber ler e escrever.
2.1 FRACASSO ESCOLAR - CONCEITOS
O tema fracasso escolar não constitui uma novidade no cenário da educação
brasileira. No entanto, mesmo sendo uma questão bem conhecida por professores,
gestores escolares e pela família, ser foco de pesquisa e análise de estudiosos e
especialistas, ainda não se definiu uma ação pedagógica eficaz e eficiente para
controlar e/ou eliminar este problema.
A expressão fracasso fora do contexto escolar significa „desgraça, desastre, ruína;
perda, mau êxito, malogro‟. No ambiente da educação, dentre os significados
14
apresentados por Ferreira (1998), a palavra está associada ao mau êxito na
aprendizagem que implica em evasão, reprovação, repetência e fraco desempenho
do aluno e da escola.
O mau êxito no processo de ensino-aprendizagem se apresenta nas dificuldades de
aquisição da leitura, da escrita, duas condições necessárias para que o cidadão
possa se integrar socialmente, estabelecer suas relações interpessoais, de trabalho
e não fazer parte da classificação de analfabeto ou iletrado. O fracasso escolar
“chegou com a escolaridade obrigatória no fim do século XIX, tornado-se uma das
preocupações de nossos contemporâneos em consequência de uma mudança
radical da sociedade” (CORDIÉ, 1996, p.17).
É interessante observar que a educação tem um registro histórico de evolução, de
mudanças. Mas, o fracasso escolar parece ter mantido as origens de seu conceito
ao longo de tantas transformações, sucessos e conquistas do sistema de ensino.
Nesse sentido, o conceito de fracasso escolar “opondo-se ao sucesso, implica um
julgamento de valor; ora, esse valor é função de um ideal. Um sujeito se constrói
perseguindo ideais que se apresentam a ele no decorrer de sua existência”
(CORDIÉ, 1996, p.20).
Complementando e explicando seu conceito, Cordié (1996) enfatiza que na
realidade atual fracasso escolar é sinônimo de fracasso de vida, levando-se em
conta que a inexistência de uma causa única para este fenômeno, havendo, então,
uma
conjunção
de
diferentes
causas
agem
uma
sobre
as
outras
e,
consequentemente, influenciam e interferem na vida escolar do aluno.
Pesquisas e estudos relacionados ao fracasso escolar têm como base teorias que
focam o discurso pedagógico liberal que apenas servem de “pano de fundo às
explicações do fracasso escolar durante o percurso da pesquisa da política
educacional no país” (PATTO, 1999, p. 51).
Ainda na análise de Patto (1999), no decorrer da história da educação brasileira
essas pesquisas foram marcadas, inicialmente, pelo discurso biológico, no qual as
15
causas do fracasso eram associadas a fatores genéticos, raciais ou hereditários dos
indivíduos e em função dessas pesquisas e estudos. Na década de 1970 um novo
discurso questionando essas teorias e apontando como as causas do fracasso
escolar aspectos culturais dos alunos defendendo, assim, que a origem as teorias da
carência cultural.
É importante frisar que a literatura algumas pesquisas mudam o eixo das discussões
sobre o fracasso escolar centrando o problema no contexto do „pensamento histórico
brasileiro‟, cujo objetivo é mostrar como se consolidam e são construídas as ideias
de desvalorização e os preconceitos em relação aos indivíduos da classe
trabalhadora (KRAMER, LEITE, 1997; MACHADO, 1994).
Essa linha de pensamento que analisa o fracasso escolar fundamentada no contexto
do „pensamento histórico brasileiro‟ no entendimento de Kramer e Leite (1997) o
associa aos problemas que acompanham a sociedade brasileira cujos propósitos
buscaram e ainda visam desvelar o processo de construção da desvalorização,
preconceitos, separação social com bases na classificação da classe trabalhadora.
Pesquisas com esse fundamento revela que a escola reproduz as desigualdades
sociais, a dominação criando contradições favoráveis às ideias e atitudes cuja
tendência é promover o rompimento dos discursos e práticas que se processam e
cristalizam no interior da instituição de ensino. Nesse contexto, o fracasso é
caracterizado como um fenômeno cujas causas estão nos aspectos familiares,
culturais e emocionais.
O fracasso escolar associado aos aspectos culturais encontra, para alguns autores,
sustentação na diversidade cultural, fruto de pesquisas em várias partes do mundo,
presente nas salas de aulas e que na opinião de Souza (2000, p.22), constata-se
“que crianças oriundas de grupo social, cultural ou etnicamente marginalizado têm
um rendimento escolar inferior à média das crianças dos grupos culturalmente
dominantes [...]”.
16
Para o fato de que questões culturais envolvem o fracasso escolar em função dos
inúmeros fatores presentes neste contexto. Por exemplo, alunos migrantes que se
deparam com problemas relacionados a aprendizagem da língua, assim, a falta do
domínio linguístico, simbólicos e também a assimilação da cultura local constituem
um fator mais ligado à dificuldade de aprendizagem e que servem de explicação
para o fracasso escolar.
Não se pode somente levar em conta a questão do aluno marginalizado
culturalmente (migrantes, no caso), até mesmo porque estudos culturais destacam
como ultrapassadas as teorias racistas, bem como a de privação cultural. Há outra
vertente que explica “o fracasso escolar como uma forma de resistência, uma
maneira dos estudantes pertencentes ao grupo marginalizado social, cultural ou
etnicamente afirmar sua diferença e sua identidade” (SOUZA, 2000, p.25).
Percebe-se pela análise de Souza que a questão cultural pode ser usada como uma
das explicações do fracasso escolar na rede no sistema de ensino brasileiro, mas
esta justificativa não se aplica para todos os problemas que cerceiam a educação
nacional.
Em suas pesquisas relacionadas a questão cultural e fracasso escolar, Garcia
(1995, p.133), afirma,
As crianças, ao fracassarem, estariam resistindo ao processo de inculcação
a que são submetidas na escola, e as que têm sucesso, seriam as „negras
de alma branca‟ ou que foram „embranquecendo‟ para serem aceitas, e
terem sucesso, na escola e fora dela. Muitas crianças e jovens,
intuitivamente e inconscientemente, criam formas de resistência ao
processo de aculturação imposto pela escola, que lhes faz perder a sua
identidade cultural própria. A resistência se pode verificar na indisciplina, no
desinteresse, no absenteísmo, na agressividade, tão conhecidos das
professoras, e tão pouco estudados do seu ponto de vista.
Entre os muitos problemas e desafios da rede de ensino brasileiro, está muito
distante a apresentação de uma solução para o fracasso escolar porque falta o
interesse político, social e da própria educação em resolver essa questão haja vista
que as medidas adotadas podem ser classificadas como paliativas. A preocupação
está centrada em solucionar problemas originados da dificuldade de aprendizagem,
como se isto fosse por fim ao fracasso escolar.
17
Considerar as diferentes realidades que se apresentam na sociedade brasileira
como um ponto de partida para a análise das causas do fracasso escolar pode ser
uma alternativa ou um caminho para melhor trabalhar e/ou controlar esse problema.
Mas, visualizar essa possibilidade exige uma abordagem mais detalhada no
universo da educação brasileira.
2.2 UM BREVE PANORAMA DO FRACASSO ESCOLAR NO BRASIL
O sistema educacional Brasileiro é alvo de crítica negativa quando se enfatiza a falta
de infraestrutura, a qualidade do ensino, as condições de trabalho do professor, o
número de escolas e a qualidade dos alunos em sala de aula. A escola e a
educação brasileira vivem hoje uma crise sem precedentes. A falta de espaço físico
na instituição pública brasileira é antiga devido às raízes do passado da
infraestrutura fraca e ineficiente. Isso resulta na má qualificação dos profissionais da
educação e na falta de comprometimento, fazendo com que as escolas se tornem
alvo de especulação e comentários maldosos.
A realidade do fracasso escolar constitui um desafio que precisa ser enfrentado no
que se refere á identificação dos fatores e ao planejamento de ações voltadas para a
construção do sucesso escolar. Entendemos, no entanto que o aluno não é o
responsável por sair da primeira série do ensino fundamental público sem adquirir
conhecimento que os capacite a decifrar os códigos da leitura e da escrita. A
expressão fracasso escolar se aplica “fazer referência aos alunos que após finalizar
sua permanência na escola, não alcançaram os conhecimentos e a habilidade
necessária” (MARCHESI apud BOSSA, 2002, p. 35).
A realidade pode ser percebida quando se verifica na sociedade brasileira, segundo
o Censo Escolar de 2000 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), que 31.4% (cerca de 42.844.220 pessoas) que a população acima de dez
18
anos de idade são analfabetas funcionais1, ou seja, ficaram menos de quatro anos
na escola. Conseguem ler, mas não interpretam.
Ainda de acordo com o IBGE (2000), de 68 milhões de brasileiros, acima de 15
anos e com o Ensino Fundamental incompleto, 7,6 milhões (aproximadamente 10%)
estiveram sentados em um banco escolar em 2003. Em 2005, o relatório do 5º
Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (INAF), apontou que 26% da população
brasileira, com idade entre 15 e 64 anos de idade são classificados como
alfabetizados (70% são jovens com até 34 anos).
Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira INEP (2007) mostram o fracasso escolar na rede pública brasileira ao apontar que:
41% dos alunos matriculados na 1ª série do Ensino Fundamental não chegam à 8ª
série e no Ensino Médio, 26% não concluem.
De modo mais específico, o ECRIAD (Estatuto da Criança e do Adolescente), em
seu art. 4 reafirma o disposto no art. 227 da CF/88 acrescentando que esse dever
também é de responsabilidade do poder público. Nesse contexto, são parceiros
fundamentais da educação a família, escola, Conselho Tutelar, Conselho da
Educação, Conselho da Criança e do Adolescente, Diretoria de Ensino, Secretarias
de Educação, Assistência Social e Saúde, Universidades, Policia Militar e Civil,
Ministério Público e Judiciário.
Traçar um paralelo do fracasso escolar de antigamente com a realidade de hoje não
é uma questão fácil se levar em conta as inúmeras e diferentes mudanças ocorridas
na sociedade e no sistema de ensino.
O que se percebe na educação brasileira em se tratando de aquisição do
conhecimento é que o indivíduo se vê obrigado a aprender para sobreviver em
1
Analfabetos funcionais é um conceito criado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura) em 1978 para definir os indivíduos que conseguem ler, mas não
compreender, embora reconheçam números não conseguem ir além das operações básicas.
19
função de a aprendizagem estar cada vez mais centrada e direcionada para a
formação técnica, ou seja, para o aluno ser preparado para o mercado de trabalho
(mas essa formação tem qualidade?), haja vista que a falta de empregos que leva à
redução dos índices de escolaridade e aumenta as dificuldades de inserção de
indivíduos excluídos do processo de escolarização. A análise e interpretação dos
dados se processam de modo quantitativo, através da análise da realidade vivida
pelos atores analisados e o marco teórico descrito.
O fracasso escolar no Brasil é um tema recorrente nos meios acadêmicos, na mídia
e nas várias classes sociais. Prolifera a abordagem sociológica, psicológica e
pedagógica, relacional e cognitiva. Analisam-se os processos sociais de exclusão; a
dinâmica de funcionamento das escolas. Ora se atribui o fracasso escolar ao aluno,
ao professor e á família. É um sintoma que revela a situação em nosso país. Assim
o Sistema no Brasil apresenta uma pluralidade de fatores de forma isolada, que
mantém uma relação de interdependência entre si com os demais na produção do
fracasso escolar.
Também dados apurados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira - INEP (2007) mostram o fracasso escolar na rede
pública brasileira ao apontar que 41% dos alunos matriculados na 1ª série do Ensino
Fundamental não chegam à 8ª série e no Ensino Médio, 26% não concluem.
Entender o fracasso escolar exige, numa primeira abordagem, uma análise da
política educacional, da proposta de educação, das condições das instituições de
ensino, da estrutura das famílias de menor poder aquisitivo e compõe o perfil do
aluno da escola pública, a condição do aluno que deixa a escola para trabalhar e
aumenta a renda familiar, as dificuldades de aprendizagem, a postura e
comportamento do professor em sala de aula, pois o fracasso escolar encontra
fundamento na evasão, reprovação, repetência, desempenho da escola estando
mais presente nas classes do Ensino Fundamental.
Na realidade do ensino brasileiro, os dados são alarmantes e se tratando de evasão
e fracasso que está associado ao desempenho do aluno, da escola (em termos de
20
proposta) e do professor (em qualificação e formação). Não se pode negar que
neste cenário, aparentemente desfavorável, há alunos, professores e escolas que se
destacam em todos estes requisitos, mas não é um resultado global.
21
Capítulo 3
3 CAUSAS DO FRACASSO ESCOLAR BRASILEIRO
Este capítulo aborda as causas do fracasso escolar e do insucesso da
aprendizagem dos alunos no ensino fundamental, tendo com base teórica estudos
de Bossa (2000), Costa (2003), Bicudo (2007), Freire (1996) sobre a família, já as
pesquisas de Paro (2000) sobre a relação família e escola; Demo (2002) sobre a
importância da qualificação do professor.
Poucas discussões têm sido acaloradas e tão recorrentes no Brasil quanto a que
gira em torno da reprovação de alunos. O fracasso escolar é compreendido como
alvo e vínculo da autoestima no processo de aprendizagem em que invibializa a
capacidade do aluno de aprender, de acreditar e sentir digno de que pode se
apropriar do conhecimento.
Quando falamos do fracasso escolar, é importante salientarmos sobre a dificuldade
e a fragilidade do sistema da escola, centrado no aluno com todo seu insucesso de
aprendizagem. Focando na falta de comprometimento familiar e da falta do
conhecimento do professor em se tratando da didática do corpo docente que está
incorporado no fracasso escolar (REVISTA ÉPOCA, 2011).
A presidente Dilma Rousseff, em discurso sobre a educação no país, afirma que
está na hora de acabar com “essa trágica ilusão de ver aluno passar de ano sem
aprender quase nada” (REVISTA ÉPOCA, 2011, p.66).
Em dissonância com o MEC (Ministério da Educação e Cultura) recomenda o
oposto: que os alunos não sejam reprovados até o 3° ano do ensino fundamental. As
principais causas do fracasso escolar é o sistema que não consegue atender as
necessidades presentes nas escolas. Onde eles localizam as inadaptações á
22
aprendizagem. Muitos fatores são apontados como causas do fracasso escolar no
contexto brasileiro.
É necessário repensar os objetivos da escola brasileira, considerando que o
fracasso escolar se inclui nas condições de ensino, na relação escola família, no
ambiente família, na formação do professor, etc., assim, pode se afirmar que o
“fracasso da família é uma das principais causas do fracasso escolar. Estudos atuais
sobre o fracasso escolar apontam o fracasso da família como uma de suas causas
principais” (BOSSA, 2002, p.45).
Com a colocação de Bossa entende-se que as causas do fracasso escolar podem
ser encontradas na família, na instituição de ensino e nos professores. Nesta
perspectiva é interessante apresentar as características, objetivos e função desses
três elementos no processo de ensino-aprendizagem.
Contudo, Costa (2003) avalia que atribuir a causa do fracasso escolar à criança é
tira dela sua característica de vítima do sistema de educação por sofrer as
consequências de um sistema que não oferece condições de uma aprendizagem de
qualidade, aquisição do conhecimento científico formal e transformá-la em réu.
É preciso enfatizar que as escolas brasileiras não proporcionam uma educação de
qualidade e isso implica na aquisição de conhecimento pouco significativo, estes
fatos podem ser comprovados com os resultados apontados pelas avaliações do
desempenho do sistema educacional brasileiro caracterizado como fraco, ineficiente,
com algumas exceções destacadas como aceitáveis e até acima da expectativa.
Nessa perspectiva, pode-se explicar o fracasso escolar como sendo “o aumento
expressivo de alunos que não obtêm progressos em sua vida escolar e que assim,
aumenta o número de crianças mal sucedidas destro da escola” (BICUDO, 2007, p.
02).
Levando em conta essa perspectiva, ou seja, do elevado número de alunos com
fraco desempenho escolar, pode-se associar este problema à falta de formação dos
23
professores, desinteresse e/ou outros objetivos dos alunos em relação a educação,
principalmente no Ensino Fundamental.
A colocação de Bicudo coloca o aluno como o centro da causa do fracasso escolar
em função da aprendizagem que recebe e das dificuldades que enfrenta. Mas, por
outro lado, e a título de complementação, estudos realizados por Patto (2002)
apontam que fracasso escolar apresenta-se em quatro fases, como descrito no
Quadro 1.
CAUSA
O fracasso escolar como um problema
psíquico.
O fracasso escolar como um problema
técnico.
O fracasso escolar como questão
institucional.
O fracasso escolar como questão política.
CARACTERÍSTICAS
A culpabilização das crianças e de seus
pais.
A culpabilização do professor.
A lógica excludente da educação escolar.
Cultura escolar, cultura popular e relações
de poder.
Quadro 1 – Causas do fracasso escolar
Fonte: Patto (2002)
São vários os argumentos, conforme destacou Patto (2002) que estão associados
ao fracasso escolar, e todos são tratados como causas com sentido de, a partir
deles, melhorar ou buscar alternativas para solucionar o problema.
As causas do fracasso escolar apontadas por Patto analisam quatro perspectivas: a
criança, o professor, o sistema de ensino e as ações políticas. Contudo, outros
fatores contribuem significativamente para o fracasso escolar e estão inseridos
dentro da proposta de educação nacional: progressão continuada/aprovação
automática nos ciclos de aprendizagem.
A questão da progressão continuada/aprovação automática nos ciclos de
aprendizagem é foco de debate e discussões quanto a sua contribuição para a
aprendizagem do aluno, estando mais voltada para ser causa de melhor
desempenho da escola brasileira. Nesse sentido,
O sistema de avaliação denominado progressão continuada na rede
estadual de ensino, tal como vem sendo realizado, resulta na simples
aprovação automática dos alunos, ou seja, muitos alunos vêm sendo
24
promovidos aos ciclos seguintes sem que tenham absorvido os conteúdos
ministrados [...].
A aprovação automática produziu uma verdadeira geração perdida. Na
medida em que a esses alunos não foram asseguradas as condições para a
absorção do conhecimento historicamente construído pela sociedade e,
desta forma, a própria Constituição Federal foi desrespeitada no que se
refere ao direito ao conhecimento que deve ser garantido como patrimônio
de todos os cidadãos, sobretudo as crianças e jovens (NORONHA, 2006,
p.4-6).
Nesse sentido, as colocações de Noronha (2006) apontam os argumentos de
percepção do fracasso escolar utilizados para explicar este fenômeno, contudo deixa
de fora uma de suas principais vertentes: a escola. Mas também a família faz parte
deste processo, constituindo outro pilar do fracasso escolar.
3.1 FAMÍLIA DESESTRUTURADA E OMISSA
A família é o ambiente no qual a criança vive suas primeiras experiências e que
deixam marcas indeléveis. No ambiente do lar, os pais figuram como modelo e em
espelhos para os filhos. A família está reduzindo sua participação na socialização
infantil e já perdeu muito das suas funções que são ou foram assumidas por outras
instituições, como por exemplo, a escola.
A influência da família é extensa, profunda e decisiva na formação escolar e no
comportamento e postura dos filhos. A família está passando por um processo
gradual de dissolução e de desestruturação motivado por fatores econômicos,
financeiro, pelo conflito familiar (parentes, filhos, etc.), divergências pessoais,
traição. A família que não participa do processo de educação do filho contribui com o
fracasso escolar, quando não assume sua responsabilidade e não estimula a crença
a buscar o conhecimento.
A família tem como função criar, auxiliar e compreender a promoção de experiências
positivas que ajudem no desenvolvimento de cada indivíduo. Nessa conjuntura, vale
ressaltar que “uma das tarefas pedagógicas dos pais é deixar claro e evidente aos
filhos que sua participação no processo de tomadas de decisões deles não é uma
25
intromissão, mas um dever até, desde que assumam a missão de decidir por eles”
(FREIRE, 1996, p.120). Assim como a família, a escola também enfrenta uma crise
sem precedentes em relação aos seus objetivos, função e papel social.
A crise na escola, principalmente nas instituições públicas brasileiras, é antiga, traz
em suas raízes resquícios do passado, ou seja, é reflexo de uma infraestrutura fraca
e menosprezada desde a sua origem. A educação é um fenômeno social e, é parte
integrante das relações sociais, econômicas, políticas e culturais de uma
determinada sociedade.
O fracasso acontece na vida da criança seja na família ou na educação escolar. O
desenvolvimento dos indivíduos em relação social que apesar de não se restringir,
ocorre sempre que o individuo, criança ou adultos se comprometem com novas
representações sociais na medida em que participam na vida de um grupo. A família
é o ambiente no qual a criança tem seu primeiro contato e vive suas primeiras
experiências que deixam marcas para sempre. Ela é extensa e profunda na decisão
e formação escolar e no comportamento do filho.
Os problemas da dificuldade do aluno muitas vezes estão alem da criança. A família
tem que participar do processo de educação de seu filho. A família que não participa
contribui com o insucesso, tem que estimular o seu filho à buscar conhecimento.
Apesar de que a família hoje estar passando por um processo gradual de dissolução
e de desestruturação motivado por vários fatores conflitais como, por exemplo:
econômico, familiar, divergências pessoais, traição, etc.
Quando se fala de família, fala da família que corresponde à demanda e à
possibilidade de aprendizagem (FERNÁNDEZ, 2001). A tendência é excluir as
famílias de baixa renda, a mesma sem possibilidade de fornecer qualidade de vida
satisfatória,
alimentação,
adequação
ao
acesso
de
vida
cultural
para
o
conhecimento, sem facilitar assim uma aprendizagem significativa ao modelo
melhorizado. O histórico familiar de alunos que moram em ambientes mais pobres,
favelas, ou periferias estão expostos às coisas cruéis e dos modelos de adultos que
essas crianças têm. São pessoas mais rudes. Esta concepção é bastante difundida
26
na intelectualidade brasileira e é herdeira das analises e marcas profundas do
pensamento educacional brasileiro.
Ao reconhecer a concentração maciça do aluno nas camadas mais pobres da
população tende a identificar as dificuldades interpostas á escolaridade dos
problemas enfrentados pela pobreza. Ambos os professores afirmam quando tal
comportamento se trata das diferenças socioeconômicas. O silêncio prevalecia no
conjunto dos educadores do ensino fundamental.
Atendendo crianças de origens sociais diversificadas a afirmar a neutralidade de
suas ações e avaliações, investindo na heterogeneidade dos alunos e na ausência
de testes seletivos para ingressar nas séries iniciais enfatizando a imparcialidade
dos critérios de avaliação. Na literatura educacional, a discussão sobre as razões do
fracasso escolar é antiga e proficio e têm frequentemente oscilado.
A culpabilização da família, a busca de causas intraescolares, contudo vem
indicando que múltiplas dimensões interferem nesse processo e que é preciso levar
em conta tanto as condições socioeconômicas e culturais de origem da criança, as
condições funcionais da escola, o preparo dos professores, os critérios de
avaliações, etc. O que essa literatura não tem abordado com devida profundidade é
o fato de que quando se fracassa na escola, fracassa-se em ensinar.
3.2 FAMÍLIA E ESCOLA: FALTA DE PARCERIA
São inúmeros os problemas que afetam as escolas brasileiras, principalmente as da
rede pública: professores desqualificados, salas de aulas superlotadas, condições
de trabalho inadequadas e que não atendem as necessidades dos profissionais e
dos alunos, infraestrutura e espaço escolar.
“A escola tem falhado também e principalmente porque não tem dado a devida
importância ao que acontece fora e antes dela, com seus educandos” (PARO, 2000,
27
p.15). Essa afirmação destaca a relação da classe social e educação e nessa
perspectiva fica evidente que o aluno é a intercessão que une a escola e a família e
essa interligação permite que o indivíduo concretize a sua formação.
Em síntese, com base nas colocações de Paro (2000), a escola deve ajudar, mas
não pode assumir individualmente esse compromisso ou ser responsabilizada por
falhas que possam ocorrer neste processo. A família e a escola devem trabalhar em
conjunto no sentido de combater a violência familiar e promover a autoestima dos
filhos e alunos.
Figura 3 – Aluno: o elo de interseção entre escola, família e professor.
A falta de uma relação mais efetiva entre escola e família, mesmo sendo o aluno o
agente integrador desta parceria, não pode configurar o professor como o
responsável para detectar as causas do fracasso escolar, mas discutir alternativas
que possam combatê-lo, pois enquanto profissional da educação agir de forma
diferente é eximir-se de uma responsabilidade que é inerente ao seu papel e função
social. O fracasso escolar é uma questão complicada de ser discutida principalmente
se o objetivo é apontar culpados e responsáveis por sua existência.
28
3.3 O PROFESSOR E A FALTA DE QUALIFICAÇÃO
O professor no processo de aquisição do conhecimento pode atuar em duas frentes:
ser agente de combate do fracasso escolar ou ser uma de suas principais causas,
considerando que mantém contato direto e diário com o aluno podendo, portanto,
diagnosticar as necessidades, falhas e ajustes necessários ao processo de ensinoaprendizagem. Para evitar as duas situações necessitam de qualificação para
exercer suas atividades e cumprir seu papel social, ou seja, formar cidadãos.
Um professor não pode se agarrar à sua formação acadêmica. Para Demo (2002,
p.72), a formação do profissional representa papel preponderante no que tange à
qualidade da educação, pois “a qualidade da educação depende, em primeiro lugar,
da qualidade do professor”. Pode-se, entender que compete ao professor a
responsabilidade de formar cidadãos, o que torna a sua própria formação
fundamental.
A formação do professor sempre é uma questão crítica para os órgãos
governamentais responsáveis pela educação pública. Para Demo (2002) aprender é
reconstruir que significa evoluir, acrescentando sua marca política (formação do
sujeito) e emocional (envolvimento que a aprendizagem acarreta). Aprender significa
pesquisar, elaborar, argumentar, fundamentar, questionar, refazer e o professor
precisa ter essa capacidade, pois só assim poderá ser eficiente na educação de
seus alunos.
O fato de ser professor já abrange virtudes mais exigentes do que apenas dar aula,
é preciso acabar com a tática de encurtamento, abreviação, banalização porque
formar é um fenômeno
que acarreta certa plenitude. Mais do que outros
profissionais exige-se do professor uma formação primorosa. Nesse aspecto, a sua
formação inicial merece destaque por constituir o pré-requisito legal para o exercício
da profissão e o substrato sobre o qual é construída toda a sua carreira. E a
precariedade que cerceia a formação inicial do professor, bem avaliada por Demo
(2002), torna explícita a necessidade de uma via de compensação e/ou
29
complementação. É necessidade da formação continuada, do direito do professor
estudar, se reciclar, se formar, se aperfeiçoar.
Não se pode esquecer que aluno, professor, escola e a família (existem neste
universo as pessoas que participam e cobram bons resultados) buscam quando se
identifica o fracasso escolar são várias e diferentes as motivações que levaram à
não aprendizagem, à evasão escolar, à caracterização do fracasso escolar. Não é
possível, com base na literatura e diferentes concepções descritas apontar apenas
um culpado devido a abrangência e amplitude que envolve o fracasso escolar, como
por exemplo, família, escola, professor e a própria sociedade.
O fato de ser professor já abrange virtudes mais exigentes do que apenas dar aula,
é preciso acabar com a tática de encurtamento, abreviação, banalização porque
formar é um fenômeno que acarreta certa plenitude. Não compete ao educador
detectar as causas do fracasso escolar, mas discutir alternativas que possam
combatê-lo, pois enquanto profissional da educação agir de forma diferente é eximirse de uma responsabilidade que é inerente ao seu papel e função social.
30
Capítulo 4
4 ESTUDO DE CASO
Este capítulo apresenta os dados coletados por meio de entrevista com duas
profissionais da educação da rede pública estadual de ensino, localizada no
município de Serra, Estado do Espírito Santo, uma pedagoga e uma professora, com
o objetivo de apresentar como compreendem o fenômeno do fracasso escolar.
Assim, foi aplicado o mesmo questionário com dez questões abertas. O resultado
aponta diferentes percepções do fracasso escolar no mesmo ambiente escolar.
4.1 PERCEPÇÃO DA PEDAGOGA SOBRE O FRACASSO ESCOLAR
Pós-graduada em Processo Educacional e mestre em Educação, a Pedagoga
preferiu não apontar seu tempo de experiência profissional com alunos do Ensino
Fundamental da rede pública. Quando questionada como avalia a aprendizagem do
aluno em relação ao fracasso escolar, ressaltou que há bastante tempo está fora da
sala de aula, assim, não poderia emitir a sua opinião.
Em se tratando do significado da expressão fracasso escolar, argumentou,
O fracasso escolar pode ser atribuído há vários fatores: falta de
motivação dos alunos por não verem nos estudos uma possível
mudança em sua condição social; a falta de preparo do profissional
da educação; o pouco envolvimento familiar passando para a escola
competências que são suas. O investimento na educação estadual
tem sido grande, mas o retorno será a grande prazo (PEDAGOGA,
2011).
O entendimento da pedagoga é coerente com o que descreve a literatura, ou seja,
aluno, formação profissional e família são elementos que contribuem para o fracasso
escolar. Uma argumentação centrada na experiência profissional e no conhecimento
31
do dia a dia no ambiente escolar poderia, num primeiro momento, apontar fatores
diferentes dos apresentados em livros, pesquisas científicas. Em se tratando dos
fatores que contribuem para o fracasso escolar, a pedagoga preferiu não emitir a
sua opinião.
Nem mesmo na discussão que a literatura apresenta o professor como culpado pelo
fracasso escolar, a pedagoga apresentou uma argumentação mais significativa, se
limitou a destacar que “não existem culpados e sim políticas de despreparo e por
parte de uma pequena minoria que não tem na educação que promovem”
(PEDAGOGA, 2011).
Embora tenha afirmado que não há culpados neste processo quando destaca a
„política de despreparo‟ subtende-se que possa ser profissionais desqualificados,
gestores escolares despreparados e, ainda, representantes do poder público e da
instituição familiar, ambos desinteressados por uma educação que promovam
eficazmente a aquisição do conhecimento.
Bastante resumida é a opinião da pedagoga quando o assunto envolve interação
escola-família ao comentar que “a interação poderia ser melhor, mas comparecem
em grande parcela quando são solicitados”. Não apresenta sequer uma alternativa e
nem informa como a escola em que atua trabalha no sentido de atrair a família,
fortalecer a relação.
Esse entendimento entra em conflito quando questionada sobre a atuação da escola
e favorecer o sucesso escolar. Para a Pedagoga (2011) a “atuação deve ser de
parceria, pois a escola e a família devem ter os mesmos objetivos: caminhar juntos
na educação dos filhos”. O discurso não é coerente com a realidade da relação
escola-família, quando as duas instituições trabalham um processo de uma atribuir a
outras muitas de suas funções.
Mas, em relação a apenas 25% dos alunos brasileiros sair da escola sabendo ler e
escrever, a pedagoga faz a seguinte análise,
Temos um grande porcentual de analfabetos funcionais e cabe
principalmente à escola dar ênfase na leitura de uma maneira geral, para
32
que os alunos sejam bem sucedidos. Quem lê bem tem mais facilidades
não só em Língua Portuguesa, mas em todas as disciplinas e na vida
prática (PEDAGOGA, 2011).
A leitura e a escrita são essenciais na vida do cidadão. Mas é preciso ressaltar que a
aprendizagem da língua escrita e da leitura é um processo que não se realiza da
mesma forma para todos os alunos, logo não se pode atribuir à leitura a
responsabilidade do sucesso escolar, haja vista que na educação brasileira alunos
demonstram facilidade para a leitura e dificuldade para a escrita. O sucesso escolar
está na fluência da leitura e da escrita.
Ao expressar sua opinião acerca dos problemas relacionados ao fracasso escolar, o
posicionamento da pedagoga escolar é significativamente limitado, com palavras
medidas e sem uma análise mais abrangente e profunda sobre a questão. Os
profissionais da educação, principalmente aqueles que ocupam cargos que podem
ser considerados estratégicos no sistema de ensino, são as bases que dão
fundamento e suporte às pesquisas educacionais.
4.2
PERCEPÇÃO
DA
PROFESSORA
SOBRE
O
FRACASSO
ESCOLAR
Com 50 anos de idade, 27 de profissão e com Especialização em Educação pela
Universidade Federal do Espírito Santo, em 1992, atualmente ensina alunos da 4ª
série e 5º ano.
O fracasso escolar, “é resultado da ação coletiva da unidade escolar, não apenas do
aluno ou do professor regente, sim da falta de estrutura para atender casos que
demandam ações diferenciadas” (PROFESSORA, 2011).
Essa opinião apresenta um aspecto que deve ser mais discutido no âmbito da
educação, ou seja, a falta de estrutura para trabalhar as questões diferenciadas,
pois o pressuposto é trabalhar essas questões coletivamente.
33
Também é interessante os elementos que aponta como contribuintes do fracasso
escolar, “material didático inadequado, interação professor/aluno deficiente, escola
descomprometida com a comunidade escolar, número grande de alunos nas
classes” (PROFESSORA, 2011).
A literatura não destaca a superlotação das salas de aulas e pouco comenta a
questão do material escolar.
Em se tratando do professor ser “culpado” pelo fracasso escolar, a opinião expressa
soa como um desabafo quando a professor afirma,
Já acreditei que minha atuação fosse competente o suficiente, sofri quando
dei conta que não era bem assim, mesmo planejando e cumprindo o
planejado não há como um professor regente atender todas as
necessidades. O reforço no contraturno é capaz de fazer a diferença,
possibilita aprendizagem e favorece tudo (PROFESSORA, 2011).
Teorias à parte, a experiência revela nuances do fracasso escolar que não está na
lista de atenção das escolas e da proposta de ensino. A mesma visão crítica é
expressa em relação a questão da interação escola-família,
Atuo na mesma escola há 12 anos, a comunidade conhece meu trabalho,
leciono para irmãos, primos e amigos dos mesmos e assim eles falam sobre
minhas ações, atitudes e no início do ano faço os combinados do trimestre e
o planejamento das atividades, etc. Não fico mudando as regras do jogo,
assim, ganho confiança e garanto participação e aprendizado
(PROFESSORA, 2011).
Não inovar, não mudar regras pode significar acomodação, mas neste sentido é um
comodismo que, segundo a professora, garante o aprendizado e a participação da
família. Mas, mudar e não obedecer cegamente as regras do jogo, significa avançar.
O sucesso escolar está em “selecionar adequadamente os objetivos e facilitar a
interação dos educadores para um trabalho coletivo” (PROFESSORA, 2011).
Por fim, o fato de apenas 25% dos alunos saírem da escola sabendo ler e escrever,
é triste, mas consegue ver na atualidade “mais educandos tendo acesso à escola,
há mais informações e precisamos ser mais críticos que em décadas passadas”
(PROFESSORA, 2011).
34
A percepção e concepção da professora sobre o fracasso escolar, suas causas e
consequências se mostrou mais clara e coerente com a realidade escolar e a rotina
do dia a dia na sala de aula.
Embora as duas sejam profissionais da educação, talvez o cargo que ocupam pedagoga e professora - proporcione essa distinção acerca do problema, haja vista
que a professor mantém contato mais direto com o aluno; mas a pedagoga tem mais
acesso às informações dos problemas que atingem a escola e,além disso deve
produzir
e difundir conhecimentos no campo educacional, mas com o fracasso
escolar para que isso ocorra é preciso que esse profissional tenha conhecimento de
dados, fatos e da realidade da escola na qual atua.
O modo diferenciado como os profissionais da educação concebem o fracasso
escolar poderia ser o ponto central das discussões sobre como promover o sucesso
escolar e diminuir, gradualmente ou não, esse fenômeno nas escolas brasileiras.
35
Capítulo 5
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As questões educacionais relacionadas aos índices de analfabetismo, fracasso
escolar e a qualificação dos profissionais de educação tem sido veiculadas nos
meios de comunicação e mesmo de posse de informações, dados e pesquisas de
diversos estudiosos não são prioridades da política nacional.
A família, o poder público e a escola são corresponsáveis pela educação e formação
da criança e nesse contexto, o fracasso escolar constitui um elemento negativo no
processo de formação. É grande a dimensão da evasão escolar e/ou fracasso
escolar, mas existe a possibilidade de eliminar este problema ainda que predomine
na sociedade a desigualdade econômica.
Este estudo buscou, através de pesquisa bibliográfica, enfocar a questão do
fracasso escolar apresentando seu conceito, causas, concepções e possíveis
formas teóricas de intervenção. Combater o fracasso e desenvolver o sucesso
escolar é um problema que envolve a escola, família e órgãos públicos sem eximir
nenhuma instituição da responsabilidade de buscar alternativas para o problema.
Ao se analisar o fracasso escolar pontuando como suas causas a família, escola não
participativa, a desmotivação do aluno, a desqualificação profissional e as questões
sociais, observou-se que compete a todos estes componentes propor debates,
discussões e lutar para combater esse fenômeno que atinge as escolas brasileiras
em todos os seus níveis de ensino.
Eliminar ou reduzir o fracasso escolar não se trata de uma utopia, mas sim de um
objetivo passível de sucesso, mesmo que os fatores que solidifica esse
acontecimento transcendam os muros da escola. Não se deve esquecer que o
professor tem a responsabilidade de formar cidadãos com potencial crítico e
36
capacidade de participar da sociedade na qual está inserido, seja sugerindo
mudanças ou integrando o processo de transformação da sociedade. Não combater
ou se omitir da luta contra a evasão é deixar de formar cidadãos críticos e com
capacidade de transformar a sociedade.
O resultado obtido com a pesquisa qualitativa mostrou duas percepções muito
diferentes de um mesmo ambiente, mas com um ponto em comum: os profissionais,
por mais que as mudanças sejam evidentes na educação, ainda se prendem à teoria
e ideias expressas nem inúmeras obras, estudos e pesquisas, não apontam
nenhuma alternativa ou contribuições para a solução do problema.
37
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Psicopedagogia On line, São Paulo. Disponível em: Outubro 2003.
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FERNÁNDEZ, A O saber em jogo. Porto Alegre: Artmed, 2001.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 13 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
KRAMER, S. e LEITE, M.I. (orgs). Infância: fios e desafios da pesquisa. 2 ed.
Campinas, SP: Papirus; 1997.
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automática? Disponível em <www.crmariocovas.sp.gov.br>. Acesso 2m 30 mai.
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PARO, V. H. Qualidade do ensino: a contribuição dos pais. São Paulo: Xamã,
2000.
38
PATTO, M.H.S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e
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______. O estado da arte da pesquisa sobre o fracasso escolar (1991-2002): um
estudo introdutório. Educação e Pesquisa. Jan./abr. 2004, vol. 30, n° 1, p. 51-72.
SOUZA, Denise Trento Rebello de. Formação continuada de professores e fracasso
escolar: problematizando o argumento da incompetência. Educação e Pesquisa.
São Paulo, v. 32, n° 3, p. 477-492, set./ dez. 2000.
39
ANEXO A – QUESTIONÁRIO
1-Identificação do professor:
Nome: (Fictício)____________________________________________________
Sexo: ( ) M
( )F
Idade:__________Anos
Graduação _________________Especialização______________
2. Há quantos anos você é professor das séries iniciais do ensino fundamental em
escola pública?
3. No corrente ano você é professor de qual série/ano?
4. Como você avalia a aprendizagem de seus alunos, especificamente em relação à
leitura e à escrita?
4. Nosso TCC estuda o fracasso escolar nas séries iniciais do ensino fundamental,
em escola pública, especificamente em relação à não aquisição das habilidades
relacionadas à leitura e à escrita. Para você o que significa a expressão fracasso
escolar?
5. Cite dois (02) fatores que, em sua opinião, contribuem para o fracasso escolar?
6. Como você analisa opiniões frequentes que culpabilizam o professor pelo
fracasso escolar?
7. Relate como se dá a interação das famílias de seus alunos com a escola?
8. Como deve ser atuação da escola com vistas a favorecer o sucesso escolar dos
alunos?
9. Ao ser confrontado com a seguinte informação: “só 25 % saem da escola sabendo
ler e escrever”, que análise você faz?
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