INSTRUÇÃO: em folha à parte, que deverá ser grampeada junto a esta folha, você deverá justificar cada resposta de múltipla escolha, sejam as questões sobre o texto, sejam as questões de gramática. CHEGA DE FRACASSO Até parece que faz parte das tradições nacionais: tudo aqui tem que dar errado. A começar pelo próprio país que, para muitos, nunca vai dar certo mesmo. Fracassamos até mesmo no Futebol, veja que coisa mais louca. A partir daí, todo fracasso é previsível. E então fica combinado assim: tudo – projetos, planos, principalmente os econômicos, partidos políticos, movimentos sindicais, idéias, sonhos e reflexões -, tudo passa a estar condenado a fracassar, redondissimamente. Como se fosse uma fatalidade. Terá isso haver com aquela história de que fomos descobertos por acaso? Ou a culpa – como sempre – é do governo, dos governos? Há quem jogue tudo para cima da sociedade como um todo, essa alienadona de si mesma. E aí sociedade vira algo um tanto abstrato, ninguém se vê como se fizesse parte dela, e a discussão também fracassa. O último a sair apague a luz. Mas, e o nosso Sonho Sem Fim, tão bela e metaforicamente interpretado no filme de Laurinho Escorel? Bom, o filme andou beirando o fracasso. Tanto que o Laurinho fez as malas e se mandou para Los Angeles, para ficar mais perto de Hollywood. Certo, sucesso são os outros. Lá pelos lados do Hemisfério Norte. Remember Tom Jobim, o que já disse que a saída é o Galeão. Os que partem, porém, acabam voltando, cantando o Samba do Avião. O brasileiro não é mesmo um bicho de goiaba podre? Essa terra não é a sua goiaba? Pois peguemos a sua parte boa e façamos uma goiabada palatável. Deixemos a banda podre para os podres poderes. Que se locupletem na podridão. Sei: é difícil. Tá difícil. O amigo ali da esquina sabe disso. 16 milhões de desempregados sabem disso. A classe média, do fundo do seu purgatório, também sabe. Criadores, produtores, professores, pivetes, cientistas, os bem e os mal-feitores, pés-dechinelo e doutores: todos sabem disso. Tá difícil. Quer dizer que não somos mais o país do futuro. (...) Ah, o potencial criativo desta nação! Isto ainda há de nos salvar, se os governos – e as tais das elites – não nos atrapalharem muito. Basta nos permitirem continuar vivendo e tendo o direito de trabalhar, de produzir – e que não nos sabotem mais do que já sabotaram. Essa cultura do fracasso é uma urdida que vem de cima, de forma insidiosa, com propósitos escusos, bem planejados. Desconfiemos disso. Ou melhor: é preciso, permanentemente, reagirmos contra isso. Ao sucesso! (Antônio Torres, Jornal do Brasil) 1. a) b) c) d) 2. a) b) c) d) 3. a) b) c) d) A partir do debate levantado no texto acerca da questão do fracasso em oposição a sucesso, pode-se afirmar que: Sempre houve, por parte da sociedade, a intenção de manter-se alienada, evitando refletir sobre as razões do fracasso corrente. Apesar das inegáveis dificuldades, podemos lutar, aproveitando nosso potencial para melhorar a situação vigente. É necessário averiguar de quem é a culpa do fracasso para poder-se resolver o problema. O empenho dos que enriquecem ilicitamente haverá de prejudicar o país, deixando-o sem saída. Ao longo do texto, publicado em um caderno especializado de um jornal de grande circulação, nota-se que o autor conhece o seu possível leitor. Assinale a opção em que o elemento apontado revela que o autor leva em consideração uma certa bagagem cultural de seu leitor. emprego de gírias uso de slogan publicitário (“Ao sucesso”) alusão à letra de Caetano Veloso (“podres poderes”) menção ao futebol “Criadores, produtores, professores, pivetes, cientistas, os bem e os mal-feitores, pés-de-chinelo e doutores...” Os dicionários registram as formas benfeitor e malfeitor. Por que no texto essas formas apresentam grafias diferentes? O texto quer enfatizar os prefixos formadores dessas palavras, com o intuito de discriminar bem os dois grupos. Esse é o caso em que os estudantes têm dúvida, por exemplo, bem-educado, bem-vindo, e mal-agradecido são escritos com hífen, mas nada há no texto que justifique uma inovação ortográfica. Esse é um caso de descuido ortográfico (e isso ocorre com freqüência em jornais e revistas). A frase apresenta uma listagem aleatória e incompleta, expressando, através da grafia também aleatória, uma crítica à população. 4. a) b) c) d) Marque a alternativa em que houver flexão de grau de adjetivo. “veja que coisa mais louca...” “para ficar mais perto de Hollywood” “Sei: é difícil. Tá difícil.” “Quer dizer que não somos mais o país do futuro.” 5. Complete as lacunas com a eu ou mim. 1) 2) 3) 4) 5) Minha irmã deixou toda a louça para enxugar. É muito difícil para acreditar na tua história. O amigo não tinha alugado o apartamento para ? Entregou as fotografias para selecionar as melhores. É muito incômodo, para ,ler durante uma hora seguida. A alternativa que preenche adequadamente as lacunas é: a) eu / mim / mim / eu / mim b) mim / mim / mim / mim / mim c) eu / eu / mim / mim / mim d) eu / eu / mim / eu / mim e) mim / eu / mim / eu / mim 6. a) b) c) d) Assinale a frase em que NÃO aparece um pronome pessoal. Se quiseres, venha amanhã. Sem ti nada farei. Ele fala muito de si próprio. Eles vivem em perfeita harmonia. 7. a) b) c) d) e) A carta vinha endereçada para mim, tu, por isso mim, ti, porisso mim, ti, por isso eu, ti, porisso eu, tu, por isso e para , é que a abri. INSTRUÇÃO: Comente o emprego de cada pronome do texto abaixo. OBSERVAÇÃO: os comentários deverão ser organizados em folha a ser grampeada junto a esta folha. O voto emocional 29/08/2014 02h00 SÃO PAULO -Debates eleitorais servem para alguma coisa? Imagino que sim, mas não para os fins para os quais eles foram concebidos. No modelo padrão de democracia, o eleitor decide seu voto após reunir informações sobre os candidatos e seus partidos, comparar as propostas de todos e pesar tudo isso na balança da racionalidade. Lindo, maravilhoso. O único problema com esse modelo é que ele está errado. Um volume crescente de pesquisas mostra que as pessoas tendem a ser bem menos racionais na hora de votar. Ao que tudo indica, via de regra são as emoções que ditam a escolha. A razão entra depois para providenciar justificativas para a decisão. Querem provas? Uma de minhas favoritas são os experimentos de Alexander Todorov em que ele mostrou que voluntários após olhar por um segundo para fotos de postulantes que não conheciam e apontar os mais bem-apessoados, conseguiram acertar ao menos 68% dos resultados de várias eleições para o Senado dos EUA. Bem, se o voto fosse o resultado de um processo puramente racional, a aparência dos candidatos deveria ter peso próximo a zero. Isso significa que eleições são uma espécie de concurso de miss, no qual o mais simpático sempre vence? Nem tanto. Emoções não brotam do nada. Elas ocorrem em contextos que obedecem a lógicas conhecidas. É mais provável que você se identifique com um candidato que evoque teses parecidas com as suas do que com um que defenda o que você despreza. De modo análogo, condições objetivas afetam nossa predisposição em relação àqueles que percebemos como responsáveis por elas. Assim, se a economia vai bem, é maior a chance de o candidato governista cair em nossas graças. Se vai mal... Nesse modelo, debates servem não para avaliar propostas, mas para o eleitor descobrir qual candidato personifica melhor suas inquietações e encontrar os pretextos com os quais justificará seu voto para si mesmo. Hélio Schwartsman é bacharel em filosofia, publicou 'Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão' em 2001. Escreve de terça a domingo.