Conclusões da Tertúlia Diocesana de 10 de Abril de 2011 –
Secretariado Porto
1. Que factos/ acções/ experiências de vida concreta conheces que afectam a dignidade
dos jovens? Descreve-as de forma sucinta
a)
Situação dos subsídios de apoio ao ensino (básico, secundário e superior) –
muitos jocistas estudantes deparam-se com :
- a injustiça nos critérios de distribuição de bolsas: por exemplo, as pessoas do
agregado familiar, com a excepção do candidato à bolsa, são consideradas como “fracções”
para o cálculo da bolsa e não como um indivíduo por completo;
- o grande número de casos incoerentes: alunos que têm direito a bolsa de estudo e
que não têm necessidade de tal por terem uma boa situação económica – visível todos os dias
na escola, e outros alunos com dificuldades que se vêm obrigados a trabalhar ou a deixar os
estudos porque não têm direito a subsídio, ou o resultado sai tardiamente;
- com a falta de informação pelas entidades (escolas, serviços sociais) aos alunos e pais
destes
- com a diferença de atribuição destes a subsídios a escolas públicas/ privadas e cursos
gerais/profissionais
b)
Trabalhadora numa instituição de solidariedade - esta rapariga assistia todos
os dias ao desrespeito pela dignidade das pessoas que procuravam ajuda nesta instituição,
assim como daquelas que contribuíam para ajudar os mais indefesos. Os funcionários faziam
telefonemas falsos com vista à obtenção de dinheiro/géneros alimentícios e eram inventadas
histórias para mobilizar a ajuda das pessoas. Os donativos, como roupa e alimentos eram
muitas vezes divididos pelos funcionários e patrões, ou então deitados fora porque não eram
precisos por eles.
Quanto aos trabalhadores, todos eles eram mulheres, sofriam grandes pressões por
parte da entidade patronal, não tinham um horário definido e por isso não existiam tempos
livres – trabalhavam de manhã até ao final do dia e o almoço tinha de ser feito na sala de
trabalho.
c)
Discriminação dos jovens quanto à sua orientação sexual e racismo – os dois
casos apresentados representam o desrespeito pela “pessoa” no seu todo e a discriminação
das pessoas diferentes. O “Zé”, jovem de 23 anos, aluno de Medicina, desde os seus 14 anos
sente-se uma pessoa diferente, porque nunca teve uma namorada e porque se sentia mais
feliz à beira de rapazes. Sempre foi gozado na escola pela turma, e chamado de “gay” e de
“maricas”. Durante anos foi vítima de bullying psicológico e a sua forma de contrariar as piadas
e partidas dos colegas foi refugiar-se nos estudos e tornar-se o melhor aluno da turma. Passou
a ser o “crânio” e o “marrão”. Mas ele não se importava deste novo rótulo: tudo menos
“maricas”.
Com a entrada na vida adulta, “Zé” percebeu aos poucos que era homossexual, teve a
coragem de se afirmar perante amigos e família, entrou na universidade no curso que queria,
arranjou namorado. Tudo parecia correr lindamente, até começar a surgir as primeiras
adversidades da vida. A universidade não é o secundário e as notas começaram a não ser tão
elevadas como eram anteriormente, as pressões de trabalhos e afins…tudo isto levou ao “Zé” a
entrar em ansiedade e a não conseguir dormir. Andou a ser “mal tratado”, uma vez que
procurou ajuda de um médico que não o ajudou, levando ao agravamento da situação.
Procurou uma segunda ajuda, melhorou por um período de tempo, até à próxima época de
exames. Aí voltou a ansiedade, as noites passadas em claras até ao culminar da situação, que o
levou ao internamento num hospital psiquiátrico.
Esta situação pode ser o reflexo de anos em que “Zé” se viu obrigado a esconder e
negar que sentia, e depois de se ter encontrado, a discriminação que sofria todos os dias de
todas as partes. É uma pessoa corajosa porque todos os dias levantava a cabeça, mas que não
aguentou com tanta pressão desta sociedade actual.
Outro caso de racismo descrito foi uma situação pontual, assistida nas ruas de Itália,
em que se desenrolou uma briga entre várias pessoas, e tudo começou por uma troca de
palavra entre dois Italinos em Roma, e em que um dos protagonistas era uma pessoa
“nómada” (que optou por um estilo de vida diferente- vive na rua, com uma mochila nas
costas e salta de cidade em cidade, país em país, e vive do dinheiro que consegue arranjar
através de espectáculos de malabarismo, teatro, através da pintura,etc…) e com pronúncia do
Norte (em Itália há uma grande rivalidade entre os habitantes do Norte e Sul) . A discussão
iniciou-se devido a esta “diferença” e a pessoa foi acusada de ser “drogada” pelo outro
protagonista. Num instante gerou-se uma cena de violência física, com mais pessoas
envolvidas, e todas elas contra o “rapaz diferente”
d)
Situação de uma rapariga recém-licenciada, que consegue o seu primeiro
emprego e assina contrato numa clínica para tratar de miúdos. Quando começa a trabalhar
apercebe-se que o número de crianças a trabalhar não preenche o horário completo do seu
trabalho e, quando isso acontece, é requisitada para fazer trabalho administrativo. Para além
disso, o salário que recebe é inferior ao acordado inicialmente, e estabelecido no contrato.
2. Quais as causas e consequências (pessoais, ambientais, estruturais, culturais, etc)
destas situações?
a)
Causas
Consequências
– Falta de informação e formação na
dimensão financeira
- Abandono escolar
- Tempo de crise
- Falta de valores de partilha e entre-ajuda
b)
Causas
Consequências
- Ganância dos patrões
- Mau ambiente laboral
- Ambição pelo dinheiro
- Descrença da população geral nas
Instituições de Solidariedade
- Falta de emprego
- Falta de valores éticos e humanos (pelos
trabalhadores e nas histórias e que
inventavam)
- Desrespeito pela condição humana
- Falta de união
trabalhadores
- Falta de
trabalhadores)
e
cidadania
diálogo
- Falta de auto-estima pela trabalhadora,
sente-se usada como um objecto
- Depressões dos funcionários
- Alterações na maneira de ser e agir
entre
(patrões
e
- Falta de coragem da nossa parte para
denunciar estas situações
- Desumanização dos trabalhadores e
restantes
Influência da tristeza no trabalho e na vida
do trabalhador
- Falta de dignidade
c) Causas
Consequências
- Mentalidades
- Depressões e Psicoses
- Preconceitos
- Violência psicológica e física
- Cultura de cada país
- Injustiça
- Indiferença por quem é “diferente”
- Ignorância
- Xenofobia
d) Causas
- Aproveitamento por parte da entidade
patronal do tempo de crise e da situação
actual de desemprego para “jogar” com os
trabalhadores
Consequências:
- Sujeitar-se a situações precoces
- Desmotivação
Sugestões de dinamização da CE – resultados dos inquéritos:
- Utilizar a JO, blogue e facebook para divulgar CE;
- Folha dos resultados dos inquéritos serem divulgados na JO
- Cada utilizador do facebook postar 1 foto relativa à dignidade, num dia certo, todos juntos;
- Cartazes nas paróquias “Sabia que”… para fazer chegar a mensagem da CE
- Escrever notícias nos jornais locais
- Sessão de esclarecimento nas paróquias sobre a CE e inquéritos realizados
- Grupos de base reflectirem os inquéritos e partirem daí para acções nas paróquias
- Tertúlias mais alargada, por exemplo num café, e envolver a comunicação social
- Aproveitar o 1º de Maio para divulgar inquéritos
- Realizar peças de teatro que demonstrem situações partilhadas no fim de um debate, mas
realizado de norte a sul
- Divulgar os resultados dos inquéritos nas escolas primárias
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