SÍNDROME DA EMBOLIA GORDUROSA Simone Tortato 1. INTRODUÇÃO o o o o Diagnosticada por von Bergmann em 1873, após fratura de fêmur Entre as principais causas de morbimortalidade em politraumatizados Observada em todas as idades, mais comum entre 20-40 anos Palmitina e estearina não produzem tantos êmbolos como a oleína (adultos) 1. INTRODUÇÃO o Embolia gordurosa: presença de glóbulos de gordura no parênquima pulmonar / circulação periférica após fratura de osso longo ou trauma severo o Síndrome da embolia gordurosa: sintomas provocados pelos êmbolos, seja de causa traumática ou não 2. PREVALÊNCIA o o o o Estima-se que embolia gordurosa ocorra em 90% dos traumas graves, na forma subclínica Em pacientes com fraturas, a incidência da síndrome varia entre 0,25 a 1,25% Duis, 1988: fratura de tíbia com 1 a 3,5% Robert, 1993: até 10% naqueles com fraturas múltiplas ou bilaterais ou de pelve 2. PREVALÊNCIA 3. FISIOPATOLOGIA o - - TEORIA MECÂNICA Glóbulos de gordura provenientes da medula óssea penetram na circulação venosa através de vasos rompidos A teoria exige a lesão de vasos, liberação da gordura e aumento da pressão intramedular 3. FISIOPATOLOGIA - Acredita que a origem é a medula dos ossos longos 3. FISIOPATOLOGIA - - Schemitsch et al, 1997, observaram o mecanismo em cão e demonstraram que a seqüência de eventos após migração para o sistema pulmonar seria a hipertensão pulmonar, hipoxemia e falha da troca gasosa A gordura permanece intravascular por até 72 horas 3. FISIOPATOLOGIA o - - TEORIA BIOQUÍMICA A lipase pulmonar hidrolisa a gordura em ácidos graxos tóxicos que causam lesão inflamatória endotelial e alteram a permeabilidade capilar, levando à SARA Parece ser o mecanismo com menor participação 3. FISIOPATOLOGIA o A fisiopatologia ainda não está bem estabelecida o Logo após a fratura, a tromboplastina, junto com elementos da medula, ativam a cascata de coagulação extrínseca e causam atividade inflamatória intensa 3. FISIOPATOLOGIA o O que nos leva a acreditar que o êmbolo gorduroso na circulação é apenas um pequeno componente deste mecanismo o Ainda falta explicar porque a maioria dos êmbolos circulantes não causam nenhum dano ao paciente enquanto uma pequena porcentagem causa a síndrome 4. QUADRO CLÍNICO o o Existem 3 formas de apresentação: fulminante, clássica e incompleta, de acordo com o tempo de evolução e gravidade dos sintomas Sintomas comumente presentes: dispnéia, taquicardia, temperatura > 39°, petéquias e alterações neurológicas 4. QUADRO CLÍNICO o - - Forma fulminante: Paciente previamente acordado e orientado torna-se agitado e evolui em algumas horas para letargia, coma e morte Na necrópsia: evidências de embolia pulmonar, renal, cerebral e em outros órgãos 4. QUADRO CLÍNICO o - - Forma clássica ou sub-aguda: Início de 24-72 horas após o trauma, com mais sintomas cerebrais Precedido por súbito da temperatura e taquicardia Paciente torna-se agitado e confuso Em horas evolui para torpor e coma Sinais neurológicos focais podem ocorrer 4. QUADRO CLÍNICO - Exame de fundo de olho com petéquias - Líquor costuma ser normal - Taquipnéia e cianose são comuns pelo infarto pulmonar, podendo evoluir para SARA - Petéquias na parte superior do tórax, nas axilas, nos braços, no lábio inferior e conjuntiva são quase patognomônicas de embolia gordurosa 4. QUADRO CLÍNICO o - - Forma incompleta ou subclínica: Forma fragmentada da forma clássica com alguns dos sintomas e sinais surgindo transitoriamente Tem curso benigno e o paciente costuma recuperar-se sem seqüelas 5. EXAMES COMPLEMENTARES o LABORATORIAIS: - Hipoxemia Trombocitopenia Anemia Hipocalcemia Tempo de trombina e protrombina 5. EXAMES COMPLEMENTARES o o ECG: - Alterações inespecíficas do lado direito Rx DE TÓRAX: - Normal nos casos leves e moderados - Rx inicial normal e com infiltrados difusos bilaterais “padrão nevasca” em até 72h 5. EXAMES COMPLEMENTARES o LAVAGEM BRONCOALVEOLAR: - Uso controverso - A contagem de macrófagos alveolares contendo gordura nos pacientes com a síndrome e na população controle variam muito - Reiner, 1987, sem significância estatística 5. EXAMES COMPLEMENTARES o o TAC: - Pode revelar edema cerebral pela ausência dos sulcos corticais RNM: - Imagens ponderadas em T2 são mais sensíveis para a embolia cerebral - Áreas hiperintensas progressivas que regridem em até 2 semanas 6. DIAGNÓSTICO o o o o Critérios foram estabelecidos por Gurd and Wilson, em 1974 Dividem-se em maiores e menores O diagnóstico exige pelo menos 1 maior e 4 menores Não avaliam medidas de gases do sangue arterial 6. DIAGNÓSTICO 6. DIAGNÓSTICO o o Lindeque et al, 1987, formularam os 3 critérios respiratórios Segundo os autores, 16% dos casos passava despercebido sem os novos critérios: - - - PaO2 < 8,0 PaCO2 < 7,5 ou pH < 7,3 FR > 35 / min 7. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL o Pulmonar n Pneumonia aspirativa n Tromboembolia n Embolia gasosa n Contusão pulmonar n Edema cardiogênico n Atelectasia difusa 7. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL o o Cardiovascular: n Hipovolemia n IAM / CIVD Neurológico: n TCE n Encefalopatia metabólica / neoplásica / infecciosa 8. TRATAMENTO o “O tratamento da Síndrome da embolia gordurosa baseia-se na terapia de apoio pulmonar, tratamento definitivo das fraturas e no tratamento do choque.” Rockwood C.A. et al. Fractures in Adults. Philadelphia: Lippincott. 6ª ed 8. TRATAMENTO o Apoio respiratório: n Manter PaO2 > 90% o Tratamento do choque: n Melhorar a pré-carga e restituir o DC com cristalóides n Metilprednisolona 10mg/kg de 8/8h 8. TRATAMENTO o Fixação das fraturas: - A movimentação das extremidades aumenta a descarga de êmbolos - Wolinsky et al., 1998, induziram SARA em ovelhas e avaliaram os efeitos da fresagem ou não de ossos longos para fixação de haste intramedular - Não observaram efeitos adicionais 8. TRATAMENTO - Naudeck et al., 1992: não há diferenças entre a fixação extra ou intramedular em ovelhas - Carlson, 1998: pacientes com fratura de fêmur e SARA, não observou efeitos adversos após fixação intramedular - Pape, 2001, observou declínio dos gases arteriais logo após fixação intramedular com fresagem em politraumatizados 8. TRATAMENTO - Alguns estudos concluem que a fresagem piora o estado daqueles com alteração neurológica - A fixação definitiva das fraturas deve ser imediata - Ainda não está estabelecido o custo-benefício da fixação intra ou extra medular, nem da fresagem ou não nos casos das hastes intramedulares 9. RESUMO o o o o Embolia gordurosa ≠ Sd. embolia gordurosa Risco aumenta quanto maior a intensidade do trauma Sintomas comuns: dispnéia, taquicardia, febre, petéquias e alterações neurológicas Diagnóstico é clínico! 9. RESUMO o o o o o Tratamento: função pulmonar, choque e fratura Metilprednisolona 10mg/kg de 8/8h Fixação imediata e definitiva das fraturas Fixação: intra x extra medular Se intra-medular: fesada x não fresada 10. REFERÊNCIAS o o o o Rockwood C.A. et al. Fractures in Adults. Philadelphia: Lippincott. 6ª ed Hebert Sizínio et al. Ortopedia e traumatologia: princípios e prática. Porto Alegre: Artmed. 3ª ed Robinson CM; Current concepts of respiratory insufficiency syndromes after fracture.; J Bone Joint Surg Br. 2001 Aug; 83(6):781-91. Johnson MJ, Lucas GL; Orthopedics. 1996 Jan;19(1):41-8