Silva, V.C. Composição do Leite Caprino e Manejo Correto na Ordenha. PUBVET, Londrina, V. 2, N. 35, Art#344, Set1, 2008. PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: <http://www.pubvet.com.br/texto.php?id=344>. Composição do Leite Caprino e Manejo Correto na Ordenha1 Victor Costa e Silva2 1 Parte da monografia apresentada pelo autor ao Curso de Zootecnia da Unidade Universitária de São Luís de Montes Belos, Universidade Estadual de Goiás, para obtenção do grau de Bacharel em Zootecnia. 2 Zootecnista, estagiário do setor de forragicultura – FCAV – UNESP - Jaboticabal. RESUMO O objetivo deste trabalho foi elucidar a importância do leite caprino, bem como sua composição química. Também mostrar o efeito da ordem de lactação e boas práticas de manejo no momento da ordenha. A caprinocultura vem se destacando no cenário nacional como uma atividade em franco crescimento, o que pode ser observado pelo aumento de 200% no consumo de produtos de origem caprina nos últimos 10 anos. O leite é utilizado como alimento principalmente para crianças alérgicas ao leite de vaca, por ser hipoalergênico e a fácil digestibilidade de seus glóbulos de gordura por serem aproximadamente de duas a três vezes menores do que os glóbulos de gordura do leite de vaca. Aproximadamente 20% de seus ácidos graxos são constituídos por cadeias curtas e médias (quatro a 12 carbonos), facilitando a Silva, V.C. Composição do Leite Caprino e Manejo Correto na Ordenha. PUBVET, Londrina, V. 2, N. 35, Art#344, Set1, 2008. ação das lipases. A inexistência do planejamento na exploração de caprinos leiteiros, aliado a estacionalidade, além de prejudicar a eficiência reprodutiva do rebanho, provoca a escassez na produção de leite em alguns meses do ano de acordo com a região, ocasionando instabilidade na comercialização do produto junto ao produtor. Palavras-chave: lactação, composição, estacionalidade. Composition of Milk Goats and Right Management in Milking ABSTRACT The objective of this work was to elucidate the importance of goat milk, as well as their chemical composition. Also show the effect of the order of lactation and good management practices at the time of milking. The creation of goats has been highlighting the national scene as an activity in free growth, which can be observed by an increase of 200% in the consumption of products of origin goats in the last 10 years. The milk is used mainly as food for children allergic to cow's milk, being by little cause allergic, and easy digestibility of fat in their blood cells are approximately two to three times lower than those of fat cells from cow’s milk. Approximately 20% of its fatty acids are made of short chains and medium-sized (four to 12 carbons), facilitating the action of lipase. The absence in planning the exploitation of dairy goats, combined with seasonality, as well as affecting the reproductive efficiency of the flock, causing a shortage in milk production in some months of the year according to the region, causing instability in the marketing of the product from the producer. Key Words: lactation, composition, seasonality Silva, V.C. Composição do Leite Caprino e Manejo Correto na Ordenha. PUBVET, Londrina, V. 2, N. 35, Art#344, Set1, 2008. Introdução A exploração caprina também tem despertado interesse em várias regiões do país, notadamente nas regiões Sul e Sudeste, voltada principalmente para o mercado de leite e seus derivados e mais recentemente para o mercado de carne e derivados. Atualmente, em várias regiões brasileiras é possível encontrar inúmeros estabelecimentos registrados nos Serviços de Inspeção que produzem e comercializam leite pasteurizado, leite ultrapasteurizado (UHT), leite esterilizado, leite em pó, iogurtes, sorvetes, doces, achocolatados e queijos elaborados a partir do leite de cabra (RESENDE & TOSSETO, 2004). O termo qualidade, aplicado ao leite, refere-se à sua qualidade higiênica, composição, volume, sazonalidade, nível tecnológico e saúde do rebanho. Os ganhos em eficiência no processamento industrial, aliados às características organolépticas do produto final, fazem com que a qualidade da matéria prima seja um atributo cada vez mais considerado pelas indústrias de laticínios. Em relação ao segundo ponto, o aumento da produtividade, na maioria das vezes, otimiza o capital investido, reduz o custo de produção e, conseqüentemente, aumenta o lucro da atividade (TOSSETO, 2005). Até 1988, no Brasil não havia nenhuma comercialização legalizada de leite de cabra, e todo o pequeno comércio, era feito de maneira clandestina quanto aos aspectos sanitários e fiscais. Por ser uma atividade muito recente no país, temos que levar em consideração, quando fazemos comparações com as indústrias de outros países que estão na atividade de caprinocultura leiteira há muito tempo e dispõe de grande apoio governamental desenvolvimento destas atividades (CORDEIRO, 2005). para o Silva, V.C. Composição do Leite Caprino e Manejo Correto na Ordenha. PUBVET, Londrina, V. 2, N. 35, Art#344, Set1, 2008. 1.1 Composição do leite caprino O leite é “a secreção láctea, praticamente livre de colostro, obtida pela ordenha completa de uma ou mais fêmeas sadias, que contenha, no mínimo, 8,25% de sólidos não gordurosos (proteínas, lactose, minerais, minerais, ácidos, enzimas e vitaminas) e 3,25% de gordura láctea” (POIATTI, 2001). Segundo POIATTI (2005), o leite pode ser compreendido como um sistema trifásico em perfeito equilíbrio, a saber: • Solução – composta de 87% de água, numerosos sais minerais dissolvidos, lactose, uréia, ácido lático, creatinina, aminoácidos e vitaminas hidrossolúveis. Entre os minerais, principalmente o cálcio, sódio, cloretos e fosfatos, sendo que o cálcio se apresenta em forma facilmente absorvível; • Colóide ou solução coloidal – apresenta alta concentração de proteínas e compõe-se de agregados de moléculas protéicas formando micelas esféricas com fosfato de cálcio coloidal; • Emulsão – em sua fase lipídica, na qual as gotículas de gordura, envoltas em membranas lipo – protéicas, encontram-se finamente dispersas numa solução predominantemente aquosa, caracterizando uma emulsão que pode ser rompida por centrifugação ou repouso. A digestão do leite caprino é mais rápida que a do leite bovino pelo fato de aproximadamente 20% de seus ácidos graxos serem constituídos por cadeias curtas e médias (quatro a 12 carbonos), facilitando a ação das lipases. Possui, ainda, o dobro da quantidade de ácidos graxos voláteis comparado ao leite bovino, cuja característica pode estar associada ao sabor e principalmente ao aroma, típicos desse alimento. Acrescenta-se ainda a digestão mais rápida das proteínas e de seus aminoácidos, uma vez que esse leite possui pouca ou nenhuma s1 – caseína, formando assim um coágulo mais delicado e friável quando acidificado, como demonstra a tabela abaixo. Outro fator que pode ser responsável pela facilidade de digestão desse alimento é a sua ligeira alcalinidade, em decorrência do conteúdo protéico e diferente arranjo dos fosfatos, em relação ao leite bovino (MARTINS, 2003). Silva, V.C. Composição do Leite Caprino e Manejo Correto na Ordenha. PUBVET, Londrina, V. 2, N. 35, Art#344, Set1, 2008. Tabela 1. Principais componentes dos leites bovino e caprino. Componente Leite bovino (%) Leite caprino (%) Água 87,20 (88,50 – 88,70) 87,00 (83,80 – 90,20) Sólidos Totais 12,80 (11,30 – 14,50) 13,00 (9,80 – 16,20) Matéria Nit.Total 3,50 (2,30 – 4,40) 3,30 (2,20 – 4,40) Caseínas 2,80 (1,90 – 3,30) 2,40 (1,70 – 3,30) αs – caseína 1,40 (1,26 – 1,54) 0,72 (0,51 – 0,99) αs1 – caseína 1,11 (0,99 – 1,22) 0,12 (0,085 – 0,165) αs2 – caseína 0,29 (0,26 – 0,32) 0,60 (0,43 – 0,83) β – caseína 0,99 (0,65 – 1,20) 1,25 (0,88 – 1,72) κ - caseína 0,35 (0,23 – 0,44) 0,43 (0,31 – 0,59) Proteínas do soro 0,67 (0,44 – 0,85) 0,63 (0,37 – 1,13) Nitrogênio não 0,18 (0,12 – 0,23) 0,30 ( 0,26 – 0,34) protéico 4,90 (4,20 – 5,40) 4,50 (3,70 – 5,30) Carboidratos 3,70 (2,50 – 5,50) 4,20 (2,40 – 6,70) Gordura 0,65 (0,52 – 0,80) 0,65 (0,50 – 0,80) Minerais 0,18 (0,12 – 0,22) 0,15 (0,10 – 0,26) Ácidos Orgânicos Fonte: Prata (2001). 1.2 Leite UHT O tratamento térmico do leite é conhecido como UHT, usualmente denominado longa vida, consiste no aquecimento final entre 130 a 150°C, por dois a quatro segundos, seguido de resfriamento à temperaturas inferiores à 32°C e posterior envase, sob condições assépticas, em embalagens estéreis e hermeticamente fechadas. É necessário que o leite adentre o sistema com uma temperatura inicial já elevada, entre 75 e 90°C, permanecendo no circuito o menor tempo possível visando manter o equilíbrio trifásico do alimento. Não Silva, V.C. Composição do Leite Caprino e Manejo Correto na Ordenha. PUBVET, Londrina, V. 2, N. 35, Art#344, Set1, 2008. pode ser traduzido como tratamento esterilizante, devendo ser compreendido como um processo de pasteurização em temperatura “ultra elevada”. A esterilização do leite exige um binômio tempo – temperatura mais elevado, levando a alterações indesejáveis do produto, como caramelização, reação de Maillard e sabor queimado (PRATA et al., 1998). Para ser liberado ao mercado consumidor, o leite UHT deve ser submetido à prova de “esterilidade”, que implica em incubar as embalagens entre 35 e 37°C por sete dias. Poderá ser liberado se atender as especificações oficiais, as quais ditam que o produto não deve apresentar microrganismos patogênicos e causadores de alterações físicas, químicas e organolépticas, em condições normais de armazenamento (POIATTI, 2001). 1.3 Qualidade microbiológica do leite caprino O calor é, ainda, o principal meio utilizado para conservar a saúde do consumidor e melhorar a conservação do produto. Esta tecnologia está fundamentada na ação sobre as proteínas, desnaturando as dos microrganismos e, principalmente, inativando enzimas necessárias ao seu metabolismo. Contudo, é freqüente o descompasso entre a tecnologia empregada para aumentar a produtividade leiteira e as condições higiênico – sanitárias do leite, e novamente entre o avanço tecnológico de sua transformação industrial (POIATTI, 2001) O freqüente isolamento de microrganismos resistentes ao processo UHT tem motivado pesquisadores a estudar as fontes de contaminação, o impacto da carga contaminante sobre as características do produto armazenado em diferentes condições de tempo e temperatura e ainda a patogenicidade e toxicidade das cepas isoladas (MARTINS, 2003). O gênero Bacillus encontra-se bastante difundido na natureza e suas espécies podem ser isoladas do solo, água, poeira, ar e muitos alimentos. Este gênero caracteriza-se pela formação de esporos termo – resistentes, podendo Silva, V.C. Composição do Leite Caprino e Manejo Correto na Ordenha. PUBVET, Londrina, V. 2, N. 35, Art#344, Set1, 2008. ser considerado de extrema importância na ecologia e taxonomia dos organismos, bem como na deterioração de alimentos industrializados (POIATTI, 2005). Desde as primeiras descrições de doenças de origem alimentar causadas por B. cereus, este microrganismo tem recebido muito mais atenção e tornou-se a possível causa de toxinfecções alimentares, pela capacidade de produzir diferentes tipos de toxinas. É considerado um contaminante, freqüentemente isolado de leite cru (in natura) e de produtos lácteos; produz grande quantidade de enzimas proteolíticas que degradam caseína, conferindo sabor e odor anormais ao leite (POIATTI, 2005). Segundo PRATA (2001), existem controvérsias sobre o momento da contaminação do leite por B. cereus. Alguns autores acreditam que a contaminação ocorra após o processamento térmico, enquanto outros afirmam que há sobrevivência do microrganismo durante o processamento, principalmente se o leite in natura estiver altamente contaminado. Para POIATTI (2005), a contaminação do leite e derivados pelo B. cereus é proveniente principalmente das cepas originárias do solo, que se aderem à superfície dos tetos dos animais leiteiros e chegam até o leite in natura. Esse autores enfatizam ainda que, após a esporulação, o referido microrganismo sobrevive à pasteurização e suas células encontram-se livres da competição com outras células vegetativas que não resistiram ao tratamento térmico. 1.4 Efeito da Ordem de Lactação na Produção Leiteira Considerando a ordem de lactação um fator fisiológico que pode influenciar e determinar a produtividade leiteira, GRAMINHA (1996) encontrou em seus resultados que o maior valor de produção de leite nas cabras foi na terceira lactação decrescendo progressivamente até a sétima lactação. Silva, V.C. Composição do Leite Caprino e Manejo Correto na Ordenha. PUBVET, Londrina, V. 2, N. 35, Art#344, Set1, 2008. Com o progresso da lactação ocorre o desenvolvimento progressivo do tecido mamário secretor, aumentando a capacidade e a habilidade do organismo desses animais em responder aos estímulos fisiológicos durante o período de lactação. Especificamente, a influência da ordem de lactação mostra que a produção inicial e o pico de produção para cabras primíparas foram mais baixos do que para as multíparas e que o pico ocorreu mais tarde nas cabras de primeira lactação. A estimativa da produção no pico para cabras de diferentes grupos genéticos se encontra em média entre duas e sete semanas após o parto (PRATA et al., 1998). A estimativa da produção no pico pode ser obtida através da curva de lactação, proposta pelo uso de funções matemáticas que melhor representa os dados da produção de leite do rebanho. Outra característica que define a forma da curva é a persistência da lactação a qual é definida como a velocidade de declínio da produção diária, entre meses consecutivos próximos. Considera-se que uma curva mantém uma persistência satisfatória quando a produção diminui em trono de 10% de um mês a outro (SPINA, 2003). Conforme dados da literatura, quando na curva de lactação ocorre um pico de produção muito acentuado, geralmente há uma menor persistência, ao contrário com curvas que apresentam picos ligeiramente suaves os quais demonstram que o animal terá uma persistência mais longa. Isto, também pode ser influenciado pela raça, fator nutricional e estacionalidade de parição (GRAMINHA, 1996). A ordem da lactação não influencia apenas a produtividade, exercendo também sobre os constituintes do leite, tais como: gordura, proteína, lactose e sólidos totais, podendo ser alterados. Cabras primíparas apresentam maiores porcentagens destes em relação às multíparas (SPINA, 2003). As cabras multíparas apresentam maior persistência e maior produção no pico, portanto foi observada uma correlação positiva entre persistência de lactação e pico de produção, este resultado está ao contrário do que normalmente é observado na literatura, onde o coeficiente de persistência Silva, V.C. Composição do Leite Caprino e Manejo Correto na Ordenha. PUBVET, Londrina, V. 2, N. 35, Art#344, Set1, 2008. apresenta uma correlação negativa com o pico de produção, demorando mais tempo para atingi-lo (GRAMINHA, 1996). A gordura presente no leite é o constituinte que mais sofre alteração à medida que avança a lactação, sendo essa variação menos acentuada para proteína, lactose e sólidos totais. A produção do leite e composição em função do estágio de lactação são diretamente proporcionais, à medida que a lactação progride a concentração desses constituintes diminuem, conforme pode ser visto na Tabela 2 (SPINA, 2003). Tabela 2. Porcentagens dos constituintes do leite nos três estágios de lactação para cabras primíparas e multíparas da raça Saanen. Estágios Gordura Proteína Lactose Sólidos totais P M P M P M P M 1 4,25 aA 3,61 aB 2,29 aA 2,48 aA 4,62 aA 4,43 aA 12,53aA 11,57 aA 2 3,63 bA 3,14 aA 2,43 aA 2,49 aA 4,28 aA 3,90 bA 11,15 aA 10,23 bA 3 3,55 bA 3,26 aA 1,82 bA 2,06 bA 3,60 aA 3,73 bA 10,02 bA 9,97 bA a,b – letras iguais na mesma coluna não diferem significativamente A,B – letras iguais na mesma linha não diferem significativamente P, M – prímiparas e multíparas, respectivamente. Fonte: Spina (2003). 1.5 Manejo de Ordenha A ordenha, principalmente para os animais destinados à exploração leiteira, é um processo de suma importância tanto do ponto de vista fisiológico quanto no que tange o aspecto econômico. Ao analisarmos o aspecto fisiológico, observamos que é através da extração do leite que se obtém um melhor desempenho do aparelho mamário uma vez que, com a retirada do leite, as células secretoras estão aptas para iniciar novamente o processo de secreção e, desta forma, haverá uma manutenção da integridade celular, bem Silva, V.C. Composição do Leite Caprino e Manejo Correto na Ordenha. PUBVET, Londrina, V. 2, N. 35, Art#344, Set1, 2008. como uma secreção hormonal harmoniosa. Do ponto de vista econômico, a ordenha demanda aproximadamente 60-80% de mão-de-obra necessária nos serviços de estábulo, tornando-se, assim, indispensável à maximização de sua eficiência para obtenção de um rendimento adequado na exploração leiteira (CHAPAVAL & OLIVINDO, 2006). Sendo assim, um correto manejo de ordenha torna-se indispensável a fim de prevenir ou controlar uma das principais doenças de rebanhos leiteiros caprinos, a mastite. Medidas básicas de higiene no momento da ordenha, como também uma seqüência de ações corretas com relação ao modo de ordenhar já seriam suficientes para que casos de mastite, tanto de ordem clínica como subclínica, fossem amenizados (SÁ, 2004). 1.5.1 Linha de ordenha Um protocolo também bastante utilizado e que pode auxiliar no controle da mastite é chamado linha ou seqüência de ordenha, no qual a ordenha inicia-se pelos animais de primeira lactação, depois, cabras adultas que não estão manifestando sinais de mastite, a seguir fêmeas que apresentaram mastite, mas já foram tratadas e não apresentaram sintomas e finalmente, animais em tratamento, do caso menos grave para o mais grave, sendo desprezado o leite obtido desta última categoria animal. (RIBEIRO, 1998). 1.5.1.1 Práticas de higiene no momento da ordenha Estabelecida a linha de ordenha, faz-se necessário o uso de um conjunto de práticas, tais como: teste da caneca telada ou de fundo preto; limpeza correta dos tetos e se necessário o uso de água corrente de baixa pressão; solução desinfetante iodada a 0,25 a 1% ou à base de hipoclorito de sódio a 1 : 1000 para a pré e pós desinfecção dos tetos; a secagem dos tetos com toalhas de papel (SÁ, 2004). Silva, V.C. Composição do Leite Caprino e Manejo Correto na Ordenha. PUBVET, Londrina, V. 2, N. 35, Art#344, Set1, 2008. Figura 1. Recipiente contendo hipoclorito de sódio. O teste da caneca telada ou de fundo preto é um teste onde os primeiros jatos de leite são colocados em uma caneca de fundo escuro e observados a presença de grumos ou pus que poderá ser um indicativo de mastite clínica, esse teste também tem importância, pois ao tocar nos tetos do animal, a pessoa estará ajudando a estimular a descida do leite. Outro aspecto importante é que ao retirar os primeiros jatos de leite, remove-se uma grande carga microbiana que se encontra acumulada na ponta do teto (CHAPAVAL & OLIVINDO, 2006). Uma outra prática é a limpeza correta dos tetos com água corrente de baixa pressão ou solução desinfetante iodada seguido da secagem dos tetos do animal com toalhas de papel, lembrando que o uso da água corrente só deve acontecer em caso de extrema necessidade como quando os animais chegam à sala de ordenha sujos de esterco ou barro. Concluído a parte de higienização do úbere do animal segue-se então para a etapa da colocação correta das teteiras, e quando se faz o uso de ordenha mecânica devem ser colocadas no mínimo entre 30 segundos a um minuto após a retirada dos primeiros jatos para que o pico do hormônio ocitocina, um dos responsáveis pela liberação do leite, seja totalmente aproveitado (SÁ, 2004). Silva, V.C. Composição do Leite Caprino e Manejo Correto na Ordenha. PUBVET, Londrina, V. 2, N. 35, Art#344, Set1, 2008. FIGURA 2. SOLUÇÃO DESINFETANTE IODADA Outro ponto importante com relação ao manejo das teteiras é que estas devem ser colocadas permitindo-se a menor entrada de ar possível, o que pode ser obtido abrindo-se o registro de vácuo somente quando estiver com o conjunto de teteiras localizado embaixo das tetas do animal (CHAPAVAL & OLIVINDO, 2006). Figura 3. Teteiras colocadas corretamente. No processo de ordenha manual inicia-se o trabalho logo após a higienização do úbere do animal. Logo que o fluxo de leite cesse, deve ser feita Silva, V.C. Composição do Leite Caprino e Manejo Correto na Ordenha. PUBVET, Londrina, V. 2, N. 35, Art#344, Set1, 2008. a retirada das teteiras, em caso de ordenha mecânica, seguindo da imersão dos tetos em solução desinfetante iodada a 0,25 a 1% ou à base de hipoclorito de sódio a 1:1000. A prática de pós-desinfecção dos tetos é válida tanto para ordenha manual como para mecânica, pois é através desse procedimento que há um controle de novas infecções intramamárias, uma vez que a glicerina atua formando uma espécie de tampão do final do teto, barreira que impedirá a passagem dos microrganismos do meio ambiente para o interior dos tetos. A todos esses procedimentos podemos denominar de rotina de ordenha (SÁ, 2004). A higiene pessoal do ordenhador também é de suma importância para a obtenção de leite de qualidade e para sanidade do úbere animal. É essencial que o ordenhador mantenha suas unhas e cabelos (protegidos por uma touca) limpos e cortados, barba feita, uniforme limpo e apropriado e que se utilize botas plásticas (CHAPAVAL & OLIVINDO, 2006). O ambiente da ordenha deve ser o mais higiênico e tranqüilo possível, sendo lavado antes e após as ordenhas, não esquecendo que todos os utensílios como baldes, latões, mangueiras, copos coletores, peneiras, enfim, todo material usado na ordenha deve ser devidamente lavado, diariamente, logo após cada ordenha com detergentes alcalinos e água a 70ºC (para remoção principalmente das gorduras), detergente alcalino clorado e água 70ºC (para remoção de proteínas e minerais) seguidos do enxágüe, ácido para neutralizar resíduos, prevenir depósitos e manchas e inibir o crescimento bacteriano através da redução do pH (RIBEIRO, 1998). Silva, V.C. Composição do Leite Caprino e Manejo Correto na Ordenha. PUBVET, Londrina, V. 2, N. 35, Art#344, Set1, 2008. Figura 4. Local de ordenha sendo lavado. Se todos os cuidados e práticas de higiene forem seguidos, o resultado final de todo esse processo será a obtenção de um alimento mais saudável vindo de animais sadios, visando prioritariamente a segurança alimentar (SÁ, 2004). CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com CORDEIRO (1996), citado por TOSETTO (2005), a caprinocultura leiteira passou por fases distintas. Inicialmente atravessou uma fase de retorno expressivo ligado essencialmente à venda de matrizes e reprodutores que se baseava na multiplicação de animais puros de raças leiteiras. A segunda fase foi caracterizada pela venda de quantidades reduzidas de leite a preços elevadíssimos permitindo aos criadores alcançarem margem de lucro significativa. Atualmente, com o crescimento do rebanho leiteiro, a obtenção de resultados positivos para um criatório implica num domínio mais amplo possível de várias tecnologias relacionadas ao manejo do rebanho e processamento do leite, além de uma boa estratégia de comercialização dos produtos. Silva, V.C. Composição do Leite Caprino e Manejo Correto na Ordenha. PUBVET, Londrina, V. 2, N. 35, Art#344, Set1, 2008. A intensificação da produção de conhecimentos capazes de promover leite requer a mudanças nos aplicação de índices de produtividade, porém, não deve existir relação entre intensificação e aumento nos custos de produção, já que os conceitos são aplicados com a finalidade de tornar a exploração mais eficiente e econômica. Assim, é preciso ter cuidado, para evitar que esforços administrativos e investimentos financeiros sejam aplicados em fatores que não consigam modificar a estrutura do sistema de produção, ou seja, os índices de produtividade (RESENDE & TOSETTO, 2004). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHAPAVAL, L., OLIVINDO, C. S. Programa ovino – caprino Paraná: manejos no momento da ordenha. On line. Disponível em: www.ovinocaprino.pr.gov.br/dicas.shtml. Acesso em: 23 out. 2006. CORDEIRO, P. R. C. O mercado do leite de cabra e seus derivados. In: RESENDE, K. 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