0 DALMO ALBERTO DOS SANTOS DALVA BARBINO LAMBORGUINI ÉLSON DAS NEVES LIMA BENEFÍCIOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA PARA ALUNOS COM SÍNDROME DE DOWN DA ASSOCIAÇÃO PESTALOZZI DE OURO PRETO DO OESTE/RO JI-PARANÁ/RO 2007 1 DALMO ALBERTO DOS SANTOS DALVA BARBINO LAMBORGUINI ÉLSON DAS NEVES LIMA BENEFÍCIOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA PARA ALUNOS COM SÍNDROME DE DOWN DA ASSOCIAÇÃO PESTALOZZI DE OURO PRETO DO OESTE/RO Monografia apresentada à Universidade Federal de Rondônia, como requisito final para a conclusão do curso de Educação Física. Sob a orientação do Prof. Esp. Daniel Oliveira de Souza. JI-PARANÁ/RO 2007 2 UNIR ― FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE SAÚDE DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA A COMISSÃO EXAMINADORA, ABAIXO ASSINADA, APROVA A MONOGRAFIA. BENEFÍCIOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA PARA ALUNOS COM SÍNDROME DE DOWN DA ASSOCIAÇÃO PESTALOZZI DE OURO PRETO DO OESTE/RO ELABORADA POR: Dalmo Alberto dos Santos Dalva Barbino Lamborguini Élson das Neves Lima BANCA EXAMINADORA Orientador Prof. Espec. Daniel Oliveira de Souza Prof. Ms. Ricardo Faria Santos Canto Prof. Esp. José Roberto de Maio Godoi JI-PARANÁ/RO 2007 3 A Educação Física exerce um papel de fundamental importância para o desenvolvimento do aluno. Através dela podemos proporcionar-lhe condições de vida compatíveis com as da sociedade, buscando assim o caráter da normalização, a instrução, o direito, a socialização e sua conscientização como forma de integração em seu ambiente, respeito as suas diferenças individuais, suas necessidades, possibilidades e limites pessoais [...] Gorla (1997, p. 18) 4 Aos professores da UNIR, especialmente a Daniel Oliveira de Souza, pela atenção na orientação deste trabalho. Aos colegas do curso, pois as idéias aqui contidas, em grande parte, nasceram das discussões em sala de aula. Aos nossos familiares, que constituem a força que nos move para a consecução dos objetivos. 5 AGRADECIMENTOS Eu, Dalmo, agradeço a Daniel O. Souza, pelas opiniões enriquecedoras no direcionamento deste trabalho. Eu, Dalva, agradeço a Deus por nos iluminar no desenvolvimento de um tema que requer mais atenção e investimento sócio-escolar. Eu, Élson, agradeço a Deus por me dar forças para realizar este trabalho. 6 LISTA DE TABELAS, QUADROS, GRÁFICOS E FIGURAS Tabela 1: IMC para adultos ....................................................................................... 25 Tabela 2: IMC para crianças e adolescentes ............................................................ 26 Tabela 3: Doenças e distúrbios gerados pela obesidade .......................................... 27 Tabela 4: Referências para o teste de flexibilidade "sentar e alcançar" .................... 34 Tabela 5: Referências do Teste de Cooper ............................................................... 35 Tabela 6: Referências de VO2 máx. .......................................................................... 35 Tabela 7: IMC dos alunos pesquisados .................................................................... 40 Tabela 8: Medidas de RCQ (em m) ........................................................................... 41 Tabela 9: Medidas de flexibilidade (em cm) .............................................................. 43 Tabela 10: VO2 máx. dos alunos ............................................................................... 44 Tabela 11: IMC inicial e final do grupo de pesquisa .................................................. 54 Tabela 12: RCQ inicial e final do grupo de pesquisa ................................................. 55 Tabela 13: Comparativo dos resultados do teste de flexibilidade.............................. 56 Tabela 14: VO2 máx. inicial e final do grupo da pesquisa ......................................... 56 Tabela 15: Comparativo de diferenças de resultados de todas as avaliações (estágios inicial e final, em %) ................................................................................... 57 Quadro 1: Idade dos alunos do grupo de pesquisa ................................................... 39 Quadro 2: Síntese das avaliações: IMC, RCQ e VO2 máx. ....................................... 45 Quadro 3: Síntese das atividades aplicadas ............................................................. 46 Gráfico 1: Local onde há preconceito contra pessoas com SD (em %) .................... 12 Gráfico 2: Idade do público-alvo, por fases (em %)................................................... 40 Gráfico 3: Dados de IMC dos alunos, de forma comparativa (em %) ........................ 41 Gráfico 4: Percentuais de distribuição das medidas de RCQ (em m) ....................... 42 Gráfico 6: Distribuição dos resultados da avaliação de flexibilidade (em %) ............. 43 Figura 1: Estrutura da saúde pessoal ........................................................................ 23 Figura 3: Ilustração do instrumento para medida de flexibilidade do tronco .............. 34 7 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APAE ― ASSOCIAÇÃO DE PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS CM ― CENTÍMETRO IMC ― ÍNDICE DE MASSA CORPORAL M ― METRO MEC ― MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA OMS ― ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE PCN’S ― PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS RCQ ― RELAÇÃO ENTRE CINTURA E QUADRIL, EM METRO SD ― SÍNDROME DE DOWN VO2 MÁX. ― VOLUME MÁXIMO DE OXIGÊNIO CONSUMIDO 8 RESUMO Esta é uma pesquisa-ação que partiu da seguinte problemática: Como as atividades de Educação Física podem favorecer ao desenvolvimento das pessoas com síndrome de Down? O objetivo geral é demonstrar os benefícios das atividades de Educação Física para os alunos com a síndrome. Os objetivos específicos são: definir o que é a síndrome de Down; situar a pessoa com síndrome de Down no contexto histórico-cultural das sociedades; apontar os benefícios da Educação Física para as pessoas com Down; destacar os benefícios das atividades físicas para as pessoas com Down na Associação Pestalozzi, de Ouro Preto do Oeste/RO. A síndrome de Down é um acidente genético que afeta as pessoas do mundo inteiro, pela presença de mais um cromossomo em sua genética. Quem é acometido tem mais propensão à obesidade, diabetes e outros distúrbios ou doenças, mas estudos mostram que as pessoas com Down têm vivido mais e melhor, inclusive trabalhando e constituindo famílias. Na Associação Pestalozzi, trabalhou-se com 13 alunos durante esta pesquisa. O primeiro passo consistiu em diagnosticar a condição dos alunos e traçar o seu perfil, por meio de uma entrevista com a diretoria da escola e testes de verificação da aptidão às atividades físicas, que incluíram o IMC, a RCQ e a verificação da flexibilidade e do VO2 máx. Os resultados demonstraram que a grande maioria encontra-se com obesidade leve ou moderada, gordura localizada no abdome, má flexibilidade e baixo VO2 máx. O plano de atividades físicas envolveu 12 jogos, ao final dos quais os alunos demonstraram um significativo avanço, tanto na socialização quanto na melhoria de suas capacidades (aeróbica e de flexibilidade). Palavras-chaves: corpo, movimento, síndrome, necessidade, oportunidade. 9 ABSTRACT This is a search-action that left the following problem: How the activities of Physical Education can promote the development of people with Down Syndrome? The general objective is to demonstrate the benefits of the activities of Physical Education for students with the syndrome. The specific objectives are: define what is the Down Syndrome; locate the person with Down syndrome in the context of the historicalcultural societies; pointing the benefits of Physical Education for people with Down; highlight the benefits of physical activities for people Down with the Association Pestalozzi, of Ouro Preto do Oeste/RO. Down's syndrome is a genetic accident that affects people worldwide, by the presence of one chromosome in their genetic. Who is affected has more propensity to obesity, diabetes and other disorders or diseases, but studies show that people with Down have lived more and better, and is even working families. In Pestalozzi Association, worked there with 13 students during this search. The first step was to diagnose the condition of the students and trace its profile through an interview with the board of the school and tests for verifying the suitability of physical activities, which included the IMC, the RCQ and verification of flexibility and the VO 2 Max. The results showed that the vast majority finds itself with mild or moderate obesity, fat located in the abdomen, poor flexibility and lower VO 2 max. The plan of physical activities involved 12 games, the end of which students showed significant progress, both in socialization as in the improvement of their capabilities (aerobic and flexibility). Keywords: body, movement Syndrome, need, opportunity. 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 11 PROBLEMATIZAÇÃO ............................................................................... 11 Questões específicas de pesquisa .............................................. 12 JUSTIFICATIVA ........................................................................................ 13 OBJETIVOS .............................................................................................. 14 Objetivo geral ............................................................................... 14 Objetivos específicos ................................................................... 14 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................... 15 DEFINIÇÕES DA SÍNDROME DE DOWN ................................................ 15 RECONHECIMENTO DA SÍNDROME ...................................................... 16 DESENVOLVIMENTO DA PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN ......... 17 CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL DAS PESSOAS COM DOWN ..... 19 BENEFÍCIOS DAS ATIVIDADES FÍSICAS ............................................... 22 A prevenção ou o combate à obesidade ...................................... 24 FUNDAMENTAÇÃO LEGAL ..................................................................... 28 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................ 31 AMBIENTE DA PESQUISA ....................................................................... 31 POPULAÇÃO E AMOSTRA ...................................................................... 32 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ............................................. 32 PROCEDIMENTOS................................................................................... 33 PLANO DE ATIVIDADES DE INTERFERÊNCIA ...................................... 36 TRATAMENTO ESTATÍSTICO ................................................................. 36 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 38 PERFIL INICIAL DO GRUPO .................................................................... 38 APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES PROGRAMADAS .................................. 45 PERFIL FINAL DO GRUPO NO ESTÁGIO ............................................... 53 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 58 SUGESTÕES DE PESQUISA .................................................................. 59 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 61 APÊNDICE: PLANO DE ATIVIDADES DE INTERFERÊNCIA............................. 63 11 1 INTRODUÇÃO Esta pesquisa tem uma abordagem histórico-cultural a respeito das pessoas com Síndrome de Down (SD), um acidente genético que afeta a qualidade de vida, mas não anula o sujeito. Há aqui a descrição de um trabalho de Educação Física feito junto a treze crianças na Associação Pestalozzi, de Ouro Preto do Oeste/RO, no segundo semestre deste ano. 1.1 PROBLEMATIZAÇÃO Um dos discursos recorrentes no meio educacional consiste na educação inclusiva, que é a oferta de oportunidades a todas as pessoas, inclusive as que possuem necessidades educativas especiais, na rede regular de ensino. Entretanto, sabe-se que currículos, programas, estruturas e formações profissionais não têm se adequado à nova exigência, de modo que as escolas precisam, progressivamente, desenvolver projetos que ofereçam às pessoas com deficiência as oportunidades necessárias ao seu desenvolvimento. Não é apenas uma exigência legal, mas uma questão humanitária, porque todas as pessoas (tanto pela democracia quanto pelo espírito de solidariedade) gozam do direito de uma formação adequada para a vida. Há muitas barreiras a serem rompidas, agrupadas em dois tipos: as barreiras estruturais, que correspondem aos recursos para o bem-estar do estudante com a síndrome; e as barreiras atitudinais, ainda mais graves. Segundo dados do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de São Luís, citado por Cavalcante (2006), o preconceito tem ocorrido em grandes percentuais justamente naqueles locais em que a criança afim deveria receber mais acolhida e atenção, conforme mostra o gráfico a seguir: 12 Gráfico 1: Local onde há preconceito contra pessoas com SD (em %) Fonte: Adaptado de Cavalcante (2006, p. 36) A proporção de 20,9% de preconceito nas escolas é preocupante, posto que se trata de um lugar onde as pessoas devem se aceitar e se apoiar continuamente. Os grupos não podem ser alheios, mas formar equipes que busquem cumprir seus objetivos: ensinar e aprender. Em vista do quadro, sente-se a necessidade ainda maior de ver as escolas aplicando projetos favoráveis às pessoas com Down, mas as evidências são poucas. A questão geral da pesquisa aqui apresentada é a seguinte: Como as atividades de Educação Física podem favorecer o desenvolvimento das pessoas com SD? 1.1.1 Questões Específicas de Pesquisa A pergunta problematizadora colocada acima desdobra-se nas seguintes questões específicas: a) O que é a síndrome de Down? 13 b) Como se situa a pessoa com síndrome de Down no contexto históricocultural das sociedades? c) Quais os benefícios da Educação Física para as pessoas com Down? d) Que benefícios podem ser conquistados com a aplicação de atividades físicas envolvendo as pessoas com Down na Associação Pestalozzi, de Ouro Preto do Oeste/RO? 1.2 JUSTIFICATIVA Novos estudos a respeito das pessoas com síndrome de Down são sempre muito interessantes, porque a sociedade passa por várias transformações, motivadas pela inovação tecnológica, pelo aumento das intercomunicações e dos intercâmbios e, dentre outras situações, pela necessidade de cumprir determinantes legais que vieram surgindo ao longo dos tempos. Um texto de Rodrigues e Castellón (2006, p. 26) aponta para isso: “A atual geração de pessoas com síndrome de Down vive mais, trabalha, pratica esporte e casa.” Onde estão essas pessoas? Como estão vivendo e se desenvolvendo? São questões que precisam ser respondidas para que se atinja progressivamente o referencial de atendimento às pessoas com necessidades educativas especiais. A oportunidade para o estudo é boa, porque coloca, no âmago da escola e na ênfase da Educação Física escolar, uma temática que precisa ser desenvolvida o mais possível, a fim de que a educação inclusiva não seja limitada a poucos casos de sucesso e a fim de que seja evidenciada a necessidade de projetos diferenciados. Há uma série de pessoas beneficiadas com a intervenção prática. São envolvidos alunos, professores, pais, coordenadores, membros da comunidade em geral, instituições e outros órgãos ou pessoas que podem colaborar para o melhor atendimento na formação das pessoas com Down. Além disso, o trabalho aqui apresentado tornou-se uma forma de apresentar, na universidade, os resultados de uma experiência valorosa em termos de educação solidária, democrática e construtivista. 14 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Geral O objetivo deste trabalho consiste em demonstrar os benefícios das atividades de Educação Física para os alunos com síndrome de Down. 1.3.2 Específicos Situar a pessoa com síndrome de Down no contexto histórico-cultural das sociedades; Apontar os benefícios da Educação Física para as pessoas com Down, antes e depois da aplicação de um programa de atividades; Destacar os benefícios das atividades físicas para as pessoas com Down na Associação Pestalozzi, de Ouro Preto do Oeste/RO. 15 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 DEFINIÇÃO DA SÍNDROME DE DOWN O problema da definição sempre esbarra no problema das concepções que se tem a respeito dos campos temáticos em discussão. A síndrome de Down consiste numa das modalidades de necessidades especiais em que as pessoas se envolvem, dentre as quais podem ser citadas as deficiências auditivas, visuais, físicas, múltiplas. O conceito pode carregar um ou vários preconceitos, ao passo que pode também significar em esforço de definição que permita a visualização do problema de uma forma objetiva, justa, sem ofensivas. Nesse contexto, a palavra se hipersemantiza, pois necessidade pode significar tudo aquilo que o indivíduo busca para sua sobrevivência, bem-estar, desenvolvimento. Assim, uma necessidade especial não corresponde apenas às deficiências relativas, mas também a problemas que podem ser sociais, emocionais, políticos. Por exemplo, um aluno que possui distorção entre a idade e a série e trabalha longas jornadas diárias para, então, estudar à noite, possui uma necessidade educativa especial. Feiffer, citado pelo Caderno de Educação Especial do MEC ― Ministério da Educação e Cultura (1998, p. 9) trata da problemática com bom humor, ao exemplificar o caso: Eu pensava que era pobre. Aí, disseram que eu não era pobre, eu era necessitado. Aí, disseram que era autodefesa eu me considerar necessitado, eu era deficiente. Aí, disseram que deficiente era uma péssima imagem, eu era carente. Aí, disseram que carente era um termo inadequado. Eu era desprivilegiado. Até hoje eu não tenho um tostão, mas já tenho um grande vocabulário. Todavia, a questão aqui é mais complexa e envolve apenas os casos de pessoas que possuem as deficiências relativas relacionadas principalmente aos seus campos mental, físico, emocional e cognitivo. Nesse campo, houve uma preocupação com as terminologias e, segundo o Caderno do MEC (1998), a evolução foi a seguinte: excepcional pessoa deficiente pessoa portadora de 16 deficiência pessoa portadora de necessidades especiais pessoa portadora de necessidades educativas especiais. Muito recentemente, tem-se usado a expressão “pessoa com necessidade especial”. O temo “pessoa deficiente”, segundo o Caderno do MEC (1998), é equivocado porque pressupõe que a pessoa não possua eficiência, o que não é verdade ― as pessoas com necessidades especiais são capazes de realizar muitos trabalhos, e até melhor em determinadas situações (como na revelação de fotografias, em que um cego, com o tato mais acentuado do que o de uma pessoa comum, é capaz de manipular melhor os materiais na ausência da luz). Segundo o informativo Síndrome de Down, do Ministério da Saúde (1994, p. 9), “[...] o nome Síndrome de Down surgiu a partir da descrição de John Langdon Down, médico inglês que descreveu em 1866, pela primeira vez, as características de uma criança com esta síndrome.” Portanto, o nome carrega um princípio de autoria de descoberta. Entretanto, outro nome foi e continua sendo usado para definir a síndrome: mongolismo. O termo é pejorativo e, por isso mesmo, ofensivo, tanto que a Rede Globo de Televisão veiculou, na novela Páginas da Vida (2007), um núcleo narrativo em que Joana Mocarzel, de 7 anos, portadora da síndrome, pôs em xeque a concepção equivocada de exclusão social às pessoas com necessidades especiais. A Rede Globo reproduziu cenas que combatem o termo mongolismo e critica a falta de assunção de parentes em aceitar o compromisso de incluir e amar a pessoa com necessidade especial no seio da família. Existe ainda um tabu nesse sentido, pois, segundo Cavalcante (2006), 73% das pessoas da família não aceitam a pessoa com Down imediatamente, 2% rejeitam e apenas 25% aceitam de prontidão. 2.2 RECONHECIMENTO DA SÍNDROME Uma pessoa não pode ser punida por suas heranças de útero, tampouco por conseqüências históricas da dinâmica das humanidades. Todos são responsáveis por todos, em certa medida. De acordo com Rodrigues e Castellón (2006, p. 29), a síndrome 17 [...] é provocada por uma alteração na quantidade de cromossomos, as estruturas que carregam as informações genéticas. Normalmente, o ser humano tem 46, agrupados em 23 duplas. Porém, uma em cada 600 crianças nasce com uma cópia a mais no par 21. Ou seja, tem três cromossomos em vez de dois. Esse excesso de material genético gera uma série de características [...] Portanto, não se pode esperar que todos sejam iguais aos padrões impostos socialmente, visto que a genética está além do alcance da interferência das pessoas, não raro. As características citadas por Rodrigues e Castellón (2006, p. 29) são: No aspecto físico: baixa estatura, face larga, pálpebras oblíquas, mãos pequenas e dedos curtos; No aspecto fisiológico: a glândula tireóide, que produz hormônios relacionados ao aumento de peso, pode ser afetada; No aspecto mental: indivíduos com Down ficam mais propensos ao mal de Alzheimer, precocemente, aos 40 ou 50 anos; No aspecto da saúde em geral: tendência à obesidade e, por extensão, ao problema do colesterol, diabete e doenças cardiovasculares, além de possibilidade de leucemia, câncer sangüíneo e distúrbios auditivos. Com atenção aos indivíduos com Down, é possível prevenir todos os problemas listados, e a atividade física é imprescindível no processo. Segundo Rodrigues e Castellón (2006), tais indivíduos estão vivendo mais tempo agora e constituindo família. Nesse último caso, é preciso cautela, uma vez que se um dos membros tiver Down, as chances para que seus filhos venham a ter o mesmo problema são de 50%, e sobem para 75% se ambos tiverem o acidente genético. 2.3 DESENVOLVIMENTO DA PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN As pessoas que sofrem o acidente genético síndrome de Down possuem amplas capacidades de desenvolvimento, porém, em geral, as capacidades são inferiores em relação às pessoas que não possuem necessidades especiais. Por isso, desde crianças, as pessoas com Down necessitam de uma atenção maior quanto ao desenvolvimento psicomotor, cognitivo, da linguagem e da fisiologia ampla. 18 Segundo o informativo do Ministério da Saúde (1994), ocorre a hipotonia, que é uma deficiência originada no sistema nervoso central, capaz de afetar toda a musculatura e ligamentos. Ou seja, trata-se de uma flacidez dos músculos, que pode ser reduzida com um trabalho psicomotor envolvendo, segundo o Ministério da Saúde (MS,1994, p. 9): [...] ― o equilíbrio;― a coordenação de movimentos;― a estruturação do esquema corporal; ― a orientação espacial;― o ritmo;― a sensibilidade;― os hábitos posturais;― os exercícios respiratórios. Esses aspectos devem ser trabalhados de modo interessante para as pessoas, e as atividades de Educação Física podem cumprir bem o requisito, já que, com os jogos, é possível trabalhar todos os pontos, com uma ou várias atividades. No campo cognitivo, as pessoas com Down também apresentam maiores dificuldades, mas não há impossibilidades de desenvolvimento. O rótulo “deficiente mental” limitava as pessoas a não buscarem alternativas de ensino e aprendizagem para os Down, mas hoje já se sabe que eles podem aprender suficientemente mesmo em escolas regulares, conquanto sejam-lhes dadas oportunidades e não haja comparações com outras pessoas. Todo sujeito, em seu desenvolvimento, deve ser comparado consigo mesmo, em seus estágios de desenvolvimento. Segundo o Ministério da Saúde (1994, p. 10), é preciso: [...] ― respeitar a variação intelectual de cada um, oferecendo iguais possibilidades de desenvolvimento, independente do ritmo individual; ― valorizar a criança ou jovem, incentivando-o em seu processo educacional; ― realizar planejamentos e avaliações periódicas [...] São orientações, aliás, que se aplicam a todo tipo de aluno no âmbito educacional, com a ressalva de que, nesse caso, deve haver uma atenção a metodologias diferenciadas de atendimento. A filosofia do atendimento solidário sempre deve prevalecer. A criança com Down também tem dificuldade de desenvolvimento da linguagem, em função de problemas como a hipotonia da musculatura oro-facial, baixa acuidade e discriminação auditiva, doenças respiratórias freqüentes, língua grande ou cavidade oral pequena, dentre outros problemas elencados pelo Ministério da Saúde (1994, p. 11), que sugere as seguintes orientações: Promover a superação de problemas por meio de exercícios adequados; 19 Orientar os pais quanto à necessidade de criar um ambiente favorável e estimulador, que não anule a pessoa com Down enquanto sujeito crítico; Fornecer apoio e informações aos pais; Promover o desenvolvimento global (motor, cognitivo, social e emocional); Fazer atendimentos personalizados às pessoas com necessidades especiais. Somente assim as pessoas com Down serão estimuladas em seu desenvolvimento, com possibilidades de ampliação crescente de suas competências, habilidades e bem-estar consigo mesmas e com os grupos dos quais fazem parte. Atividades de estimulação visual, auditiva, sensitiva, labiríntica e social devem ser propiciadas desde cedo, orienta o Ministério da Saúde (1994), a fim de que a criança vá desenvolvendo sua acuidade, equilíbrio e domínio no espaço e no tempo, na relação consigo mesma e com as outras pessoas. 2.4 CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL DAS PESSOAS COM DOWN O pensamento das sociedades evoluiu muito em relação às pessoas com necessidades especiais, saindo-se da perspectiva da eugenia para atingir a perspectiva humanitária. Esta também evoluiu, passando do protecionismo para a busca da construção da autonomia. O Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental, com ênfase em Deficiência Mental (1997, p. 14), do MEC, traz um trecho da obra Sobre a ira, do filósofo e poeta romano Sêneca (4 a. C.), onde se diz: Nós matamos os cães danados, os touros ferozes e indomáveis, degolamos as ovelhas doentes com medo que infectem o rebanho, asfixiamos os recém-nascidos mal constituídos; mesmo as crianças, se forem débeis ou anormais, nós as afogamos: não se trata de ódio, mas da razão que nos convida a separar das partes sãs aquelas que podem corrompê-las. Isso é eugenia. Isso levou Hitler a dizimar milhares de negros e judeus na Alemanha. Isso ainda teve reflexos no Brasil, no propósito de se manter a “pureza” e a “qualidade” da raça branca, excluindo-se para tanto os negros e pessoas com deficiência do padrão. Isso previa distância entre pessoas, a esterilização de 20 deficientes, conforme mostram os PCN’s ― Parâmetros Curriculares Nacionais (1997). Isso é nada mais do que isto: preconceito histórico, gerado no âmago do desconhecimento do significado de um ser humano e das possibilidades de desenvolvimento do mesmo. A exclusão ocorre desde longa data. Na Idade Média, havia ambigüidades e contradições. Uma pessoa com necessidade especial podia ser considerada como “possuída pelo demônio”, como uma punição divina aos pais ou ainda como um sinal de que algumas pessoas poderiam ser supervalorizadas, tendo conhecimento para além das pessoas comuns ― a necessidade especial era vista então como um privilégio, uma visão de superação de alguns em relação à humanidade como um todo. É o que mostra o Programa do MEC (1997, p. 15), com esta ressalva: É importante, lembrar, entretanto, que a Idade Média se estendeu por um longo período da história da humanidade, marcado por diversos sentimentos frente aos portadores de deficiência: rejeição, piedade, proteção e, até mesmo, supervalorização. Esses sentimentos e atitudes eram radicais, ambivalentes, marcados pela dúvida, ignorância, religiosidade e se caracterizavam por uma mistura de culpa, piedade e reparação. Tanto é verdade que Santo Agostinho (354-430 d. C.), ainda conforme o Programa do MEC (1997, p. 15-6), dizia a respeito das crianças com deficiência: “São às vezes tão repelentes que não têm mais espírito do que o gado.” E São Tomás de Aquino: “[...] é uma espécie de demência natural, não é absolutamente um pecado.” A igreja contribuiu para que se disseminasse uma concepção equivocada a respeito das pessoas com necessidades especiais ― era a concepção da punição divina. Durante o Renascimento, a concepção passou a ser patológica, embora houvesse ocorrido um avanço no pensamento, uma vez que as pessoas com necessidades especiais passaram a ser vistas em sua condição humana, continua o Programa do MEC (1997, p. 16), que traz este texto como ilustração do pensamento da época: Por seus pais, alguns, entre os imbecis, recebem um caráter hereditário, e são causas internas que são, então, responsáveis pela imbecilidade: daí decorre muitas vezes que, como os homens ativos e inteligentes concebem seres semelhantes a eles, assim também os improdutivos concebem crianças de espírito embotado. 21 O conceito é grave porque, agora, a ofensa ocorre também em relação aos pais. Tanto estes quanto os filhos são taxados de imbecis, ignorantes. Assim, a tendência ao abandono ou à agressão era comum, tanto que os nazistas não só sacrificaram negros e judeus; fizeram-no também em relação às pessoas com problemas mentais, em vista da eugenia. No século XX, continua o Programa do MEC (1997), alimentou-se a idéia da segregação, ou seja, do distanciamento da pessoa com necessidades especiais em relação às outras. A “deficiência mental” (destaque do autor), segundo o princípio do “mal hereditário” (destaque do autor), é assim comentada no caderno do Programa do MEC (1997, p. 18): [...] é preciso identificá-la e tratá-la. Quanto ao tratamento a ser aplicado, a segregação em colônia parece, no atual estado dos conhecimentos, um método ideal e perfeitamente satisfatório. Há afirmações mais agressivas, que sugerem a repressão à pessoa com necessidade especial, como esta afirmação, também apresentada pelo Programa do MEC (1997, p. 18-9): Todo deficiente mental e, sobretudo o imbecil leve é um criminoso em potencial, que não tem necessidade de um meio ambiente favorável para desenvolver e exprimir suas tendências criminosas... torna-se então indispensável que essa nação adote leis sociais que assegurem que esses incapazes não propagarão a sua espécie. Ao lado do preconceito existe o equívoco de concepções. A agressão, o abandono e a super-proteção são três problemas sérios. Mesmo a busca de soluções humanitárias está ainda em três vieses: a segregação, a integração e a inclusão. O Caderno do MEC (1998) defende o sistema do tipo “caleidoscópio”, pelo qual todas as pessoas são valorizadas. É o sistema inclusivo, onde as pessoas com necessidades especiais devem cursar suas séries na escola regular. De outra forma, ocorre o sistema do tipo “cascata”, em que a pessoa progride ou regride do sistema mais ou menos segregativo para o mais ou menos inclusivo. Como fase intermediária tem-se a integração, pela qual há contatos temporários da pessoa segregada com a pessoa da rede regular de ensino. Assim, não basta ter salas especiais nas escolas, pois elas serão apenas integradoras. Embora a integração seja um avanço, é preciso avançar mais e chegar à inclusão, que consiste em ter todos numa mesma sala. 22 Entretanto, não dá para promover a inclusão para depois gerar a exclusão, ou seja, incluir mas não dar o suporte necessário para o avanço real das pessoas com síndrome de Down. A inclusão não se faz apenas “de corpo” (destaque do autor), mas do todo da pessoa, para que seja capaz de agir crítica e autonomamente no meio social, dentro e fora da escola. É preciso inverter o pensamento: acreditar mais nos potenciais e menos nas limitações. 2.5 BENEFÍCIOS DAS ATIVIDADES FÍSICAS Brincadeiras, jogos e esportes são estratégias favoráveis ao desenvolvimento de qualquer pessoa, inclusive a que possui síndrome de Down. Lopes (2002) mostra que é possível trabalhar a ansiedade, rever os limites, reduzir a descrença na autocapacidade de realização, dentre outros objetivos. Um dos que mais se destacam é a construção da autonomia. Lopes (2002, p. 41) mostra que “[...] o desenvolvimento da autonomia na criança é aspecto fundamental para a maturidade emocional e o equilíbrio entre o psíquico e o mental.” O desenvolvimento pressupõe, ainda, no caso de quem possui Down, o aprimoramento da coordenação motora, a organização espacial, a melhoria do controle segmentar. Segundo Lopes (2002, p. 43), quem “[...] não possui um controle segmentar, faz força com o braço inteiro, com os ombros, com o pescoço, com a mandíbula, com a testa e com os olhos”, resultando em fadiga, tensão e desânimo. Pelas atividades físicas, Lopes (2002) afirma que aumentam-se a atenção e a concentração, a antecipação e estratégia, a discriminação auditiva, o raciocínio lógico, a criatividade, a percepção de figura e fundo e a melhoria do desenvolvimento do próprio jogo. Acrescente-se ao elenco de vantagens o desenvolvimento da musculatura, que é fundamental para quem possui SD, uma vez que uma das características dessa pessoa é a hipotonia generalizada. O desenvolvimento corporal, conforme Gorla (1997), é importante também porque melhora a auto-estima e a interação social, uma vez que um corpo bem desenvolvido tem melhor estética e faz com que o indivíduo seja melhor aceito. Afinal, vive-se numa sociedade que preza muito as aparências. Elas não devem ser os aspectos principais de atenção no desenvolvimento das atividades esportivas (o 23 que mais importa é a saúde), mas é certo que não pode ser desprezada e implica nos relacionamentos. Gorla (1997, p. 15) comenta a respeito: Um corpo fisicamente apto em geral é associado com uma aparência física mais desejável. A imagem corporal de pessoas deficientes muitas vezes é bem negativa, devido as suas necessidades específicas. Esta atitude negativa com o corpo é muitas vezes generalizado e domina seus ideais de como aparecem para os outros. Aumentando a aptidão física dos indivíduos portadores de deficiência, uma mudança positiva pode ocorrer. Com as atividades físicas, é possível superar em boa parte as deficiências geradas pela síndrome, como a hipotonia e a tendência à obesidade, diabetes e outros problemas já relacionados. Numa concepção de saúde, a aptidão física é assim estruturada: Figura 1: Estrutura da saúde pessoal Fonte: Adaptado de Gorla (1997, p. 17) Em atendimento aos quatro pólos de interferência, segundo Gorla (1997) pretende-se atingir, além da saúde, as habilidades esportivas, que envolvem agilidade, equilíbrio, potência, tempo de reação, coordenação e velocidade. Acrescenta se aí, o desenvolvimento da flexibilidade, a melhoria da coordenação, o desenvolvimento do tônus muscular, dentre as outras vantagens que corroboram com Lopes (2002), no âmbito do desenvolvimento das pessoas. Tanto na escola regular ou na especial, as atividades de Educação Física, são fundamentais para o desenvolvimento da pessoa com Down ou qualquer outra necessidade especial. Nas pesquisas de Gorla (1997, p. 18) em que expõe as vantagens da área tratando da seguinte maneira: 24 A Educação Física exerce um papel de fundamental importância para o desenvolvimento do aluno. Através dela podemos proporcionar-lhe condições de vida compatíveis com as da sociedade, buscando assim o caráter da normalização, a instrução, o direito, a socialização e sua conscientização como forma de integração em seu ambiente, respeito as suas diferenças individuais, suas necessidades, possibilidades e limites pessoais [...] Numa sociedade, exige se das pessoas as competências para as funções cotidianas; necessita-se de saúde para o bem-estar; requer-se integração para a permanência num processo de inclusão. A escola deve reproduzir esse sistema, de forma crítica, oferecendo oportunidades a todas as pessoas, especialmente àquelas que mais necessitam. De outra forma, elas se negarão à vida e à sociedade, e estas se negarão àquelas ou simplesmente as ignorarão. 2.5.1 A prevenção ou o combate à obesidade Um dos principais fatores de afetação da vida da pessoa com Down é a obesidade, pois o acidente genético predispõe a pessoa à mesma, e a mesma afeta a qualidade de vida de qualquer pessoa. A obesidade é um distúrbio orgânico que vem afetando cada vez mais pessoas no mundo inteiro. De acordo com trabalhos realizados pelo ABC da Saúde (2007), “[...] denomina-se obesidade uma enfermidade caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, associada a problemas de saúde, ou seja, que traz prejuízos à saúde do indivíduo.” A obesidade é tão séria que se a considera uma doença, e de fato é, em função dos problemas que gera no indivíduo. Suas causas são várias, e uma das mais importantes é a genética, que a pessoa com SD possui ― seu acidente genético tem como conseqüência a probabilidade ao aumento de peso, mas que pode ser evitado com atividades físicas, alimentação balanceada e outras medidas para a qualidade de vida. A obesidade também pode ser desenvolvida por pessoas que não nasceram com propensão a ela, quando convivem num ambiente que predispõe ao ganho de peso, como em famílias ou grupos sociais que optam por uma alimentação de alto valor calórico, que inclui comidas gordurosas e muito açúcar, ou seja, os alimentos do topo da pirâmide alimentar; por outro lado, costuma haver o desprezo das frutas 25 e verduras in natura, os principais alimentos para a manutenção da saúde e a prevenção do ganho de peso. Há práticas que precisam ser instauradas (freqüentar uma academia, praticar esportes diversos) e hábitos que precisam ser evitados ou combatidos. Além da má escolha do que comer, existe a má escolha da forma como comer. Alimentar-se diante da TV é um problema, porque não permite que o cérebro anuncie ao organismo, a tempo, quando ocorre a satisfação, de modo que as pessoas (especialmente as crianças, que mais ficam diante da TV, videogames e computadores) acabam extrapolando no consumo; também há o problema do consumo de alimentos “ocos”, ou seja, aqueles industrializados, repletos de corantes, aromatizantes e conservantes, cujo valor nutricional é muito baixo se comparado aos alimentos in natura. Assim, é importante uma avaliação continuada das pessoas para uma percepção da situação de si, é um alerta que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem feito constantemente. O conhecimento do Índice de Massa Corporal (IMC), por exemplo, é necessário para que a pessoa esteja alerta e procure acompanhar e controlar o seu peso no sentido de que possa evitar o sobrepeso e até mesmo a obesidade. Trata-se de uma medida simples que pode ser feita com apenas uma fita métrica e balança. Faz-se a divisão do peso pela altura ao quadrado e, com base nos referenciais da tabela abaixo, uma pessoa adulta pode deduzir se está ou não com o peso ideal: Tabela 1: IMC para adultos Referências Abaixo do peso Normal Obesidade leve Obesidade moderada Obesidade grave ou mórbida Fonte: Pense Magro (2007) Mulher abaixo de 19 19 a 23,9 24 a 28,9 29 a 38,9 acima de 39 Homem abaixo de 20 20 a 24,9 25 a 29,9 30 a 39,9 acima de 40 Os referenciais da mulher são menores porque sua densidade corporal é um pouco inferior à do homem. A tabela, todavia, não pode ser tomada como único referencial, porque há pessoas com peso acima de 23,9 ou 24,9 que não apresentam obesidade (ou sobrepeso), porque têm muita massa muscular, como ocorre com os fisiculturistas. Mesmo assim, trata-se de um importante paradigma, pois aponta eficazmente para as condições da grande maioria das pessoas. 26 Para as crianças e adolescentes, a obesidade é um problema mais grave ainda, porque, nessas fases, a tendência do organismo é multiplicar células de gordura, e não simplesmente aumentá-las, como ocorre na fase adulta. Assim, quando as crianças e adolescentes tornarem-se adultos, terão ainda mais problemas, porque é muito mais difícil eliminar do que reduzir células de gordura. Tendo-as em maior quantidade, maior a probabilidade de ocorrer a obesidade. É o que explica Dobgenski (2007). Portanto, é melhor que ocorra uma orientação desde cedo, como ocorre diante de qualquer problema, inclusive quanto ao sedentarismo. Para as crianças e adolescentes, os referenciais de IMC são diferenciados, conforme consta a seguir: Tabela 2: IMC para crianças e adolescentes Idade Sexo Baixo Peso Normal Sobrepeso Obeso 6 anos MAS FEM Abaixo de 14,1 Abaixo de 13,7 14,1 - 17,2 13,7 - 17,0 17,2 - 18,8 17,0 - 17,5 Acima de 18,0 Acima de 17,5 7 anos MAS FEM Abaixo de 14,4 Abaixo de 14,1 14,4 - 17,5 14,1 - 17,5 17,5 - 18,2 17,5 - 18,3 Acima de 18,2 Acima de 18,3 8 anos MAS FEM Abaixo de 14,3 Abaixo de 14,1 14,3 - 18,0 14,1 - 18,7 18,0 - 19,1 18,7 - 19,8 Acima de 19,1 Acima de 19,8 9 anos MAS FEM Abaixo de 14,6 Abaixo de 14,6 14,6 - 19,0 14,6 - 19,8 19,0 - 19,9 19,8 - 21,2 Acima de 19,9 Acima de 21,2 10 anos MAS FEM Abaixo de 15,0 Abaixo de 14,5 15,0 - 19,8 14,5 - 20,7 19,8 - 198 20,7 - 22,0 Acima de 19,8 Acima de 22,0 11 anos MAS FEM Abaixo de 15,1 Abaixo de 15,3 15,1 - 21,5 15,3 - 21,8 21,5 - 22,5 21,8 - 23,4 Acima de 22,5 Acima de 23,4 12 anos MAS FEM Abaixo de 15,7 Abaixo de 15,6 15,7 - 21,7 15,6 - 23,1 21,7 - 23,7 23,1 - 24,6 Acima de 23,7 Acima de 24,6 13 anos MAS FEM Abaixo de 16,4 Abaixo de 16,3 16,4 - 22,2 16,3 - 23,8 22,2 - 24,0 23,8 - 25,2 Acima de 24,0 Acima de 25,2 14 anos MAS FEM Abaixo de 17,0 Abaixo de 17,1 17,0 - 23,1 17,1 - 24,7 23,1 - 24,2 27,7 - 26,2 Acima de 24,2 Acima de 26,2 15 anos MAS FEM Abaixo de 17,5 Abaixo de 17,5 17,5 - 23,4 17,5 - 24,1 23,4 - 24,1 24,1 - 25,6 Acima de 24,1 Acima de 25,6 16 anos MAS FEM Abaixo de 18,5 Abaixo de 18,3 18,5 - 24,8 18,3 - 25,7 24,8 - 25,9 25,7 - 26,8 Acima de 25,9 Acima de 26,8 17 anos MAS FEM Abaixo de 18,4 Abaixo de 17,9 18,4 - 24,9 17,9 - 25,7 24,9 - 26,1 25,7 - 26,2 Acima de 26,1 Acima de 26,2 Fonte: Pense Magro (2007) 27 Apenas a partir dos 17 anos é que o adolescentes começa a ter os padrões do adulto, quanto ao IMC. Os índices de magreza ou baixo peso também são preocupantes, pois podem estar ligados à desnutrição. Há muitas jovens, em especial, que se abstêm de uma alimentação regular em função de padrões de moda que alimentam seus sonhos de serem modelos profissionais. Quando se atinge o nível da obesidade moderada ou obesidade mórbida, a preocupação é grande, porque as pessoas manifestam grande tendência a terem doenças e distúrbios como os que seguem na tabela 3, a seguir. Tabela 3: Doenças e distúrbios gerados pela obesidade Doenças Hipertensão arterial Doenças cardiovasculares Doenças cérebro-vasculares Diabetes Mellitus tipo II Câncer Osteoartrite Coledocolitíase Fonte: ABC da Saúde (2007) Distúrbios Distúrbios lipídicos Hipercolesterolemia Diminuição de HDL ("colesterol bom") Aumento da insulina Intolerância à glicose Distúrbios menstruais/Infertilidade Apnéia do sono As pessoas com Down, que já enfrentam o problema do preconceito e da falta de oportunidades, se ficarem obesas, verão ampliadas as limitações que lhe serão impostas ou que desenvolverem, em função das doenças, distúrbios e preconceitos. Por isso, novamente se realça a importância da atividade física. Há três tipos de obesidade, um dos quais as pessoas propensas irão desenvolver, conforme o site ABC da Saúde (2007): Obesidade difusa ou generalizada, que se apresenta em todo o corpo; Obesidade andróide ou troncular (centrípeta), cuja forma corporal da pessoa assemelha-se a uma maçã: gera alto risco de doenças cardiovasculares e metabólicas, em função da gordura visceral; Obesidade ginecóide, cuja forma corporal do paciente apresenta a forma de uma pêra: como a deposição de gordura predomina no quadril, a tendência maior é para artrose e varizes. De um ou outro tipo, a obesidade sempre é problemática, de modo que precisa ser evitada ou combatida. Hoje em dia há recursos medicinais, como o uso de medicamentos e lipoaspiração, mas os melhores resultados são atingidos pela atividade física, porque favorece à saúde em geral e tem baixíssimo risco. 28 Uma forma de melhorar a definição da obesidade localizada é a medida da relação cintura-quadril ― RCQ, que consiste na divisão da medida da cintura abdominal (CA) pela medida do quadril (MQ) (extensão máxima das nádegas). RCQ = CA/MQ No homem, o resultado deve ser 0,9 e, na mulher, 0,8, no máximo, acima do que há os riscos metabólicos, segundo o ABC da Saúde (2007). No homem, uma cintura de 94 cm consiste num risco aumentado, e ainda mais se a medida for superior a 102 cm; na mulher, as proporções de risco são acima de 80 e 88 cm, respectivamente. Se a pretensão do avaliador do paciente é obter uma acurácia ainda maior de resultados, recomendam-se outras medidas, como a bioimpedância, a tomografia computadorizada, o ultrassom, a ressonância magnética, a medida das dobras cutâneas. 2.6 FUNDAMENTAÇÃO LEGAL A Constituição Federal garante atendimento especial às pessoas com necessidades especiais e sugere a educação inclusiva. No mundo, um dos principais documentos que ensejam a educação inclusiva é a Declaração de Salamanca, na Espanha, que partiu da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, e a Conferência Mundial sobre a Educação Para Todos, de 1990, cujo texto é enfático neste trecho, no que concerne à responsabilidade dos governos: “Adotem o princípio da educação inclusiva em forma de lei ou de política, matriculando todas as crianças em escolas regulares, a menos que existam fontes para agir de outra forma” (In Caderno do MEC, 1998, p. 105). Nota-se a ressalva “a menos que” no trecho, o que tem permitido aos governos não cumprirem totalmente o preceito. A ressalva ocorre também na Constituição Federal, artigo 208, inciso III, e se repete na Lei 9394/96, das Diretrizes e Bases da Educação Nacional, artigo 58: “Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente 29 na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais” (In site da Presidência da República, 2007). O que emperra uma maior abrangência do atendimento tem sido tal ressalva, mas a mesma não será extinguida enquanto escolas e professores não estiverem preparados para a educação inclusiva real. Segundo Guimarães (2003, p. 46), “[...] a legislação mais recente sobre o assunto é a Convenção de Guatemala. O documento, promulgado no Brasil por decreto de 2001, reafirma que as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos e liberdades que as demais.” Um dos direitos é o desporto, assegurado no Estatuto da Pessoa Portadora de Deficiência ― um projeto de lei do Senado, de 2003, cujo número é 6. O artigo 44, inciso III, diz que é preciso adotar a seguinte medida: “incentivar a prática desportiva formal e não-formal como direito de cada um e o lazer como forma de promoção social.” Há, pois, muitas razões para a promoção das atividades de Educação Física às pessoas com necessidades especiais, faltando apenas a iniciativa e a preparação para o trabalho lúdico. As oportunidades também são várias. Juncken, Oliveira e Malta (1987, p. 19) mostram que [...] os esportes podem ser praticados pelos deficientes mentais em quase sua totalidade, considerando-se seu grau de deficiência e suas dificuldades, devido a estas são feitas algumas modificações de regras e adequações que facilitem a prática, promovendo a participação de um maior número de indivíduos deficientes mentais. Afora a terminologia inapropriada (“deficientes mentais”), percebe-se que desde há muito existe a compreensão de que a Educação Física é uma importante área para o desenvolvimento global das pessoas. Isso se ratifica hoje, como no artigo de Rodrigues e Castellón (2006, p. 28), que asseguram o avanço das pessoas com Down nas práticas cotidianas. Os autores argumentam e exemplificam que: [...] muita gente se surpreende ao notar que esses homens e mulheres [com Down] podem trabalhar, estudar e namorar. Tudo depende de como foram estimulados. Mariana Amato, 27 anos, filha de Glória, da Carpe Diem, conseguiu emprego num banco da capital paulista, continua estudando e gosta de se divertir com os amigos e o namorado. O Ministério da Saúde (1994) afirma que não se pode precisar até onde cada pessoa pode chegar com autonomia, porque, conforme argumentam ainda Rodrigues e Castellón (2006), todos possuem muitas variáveis, sejam pessoas com deficiência ou não. Todavia, hoje é comum a certeza de que as pessoas com Down 30 são muito mais capazes do que se acreditava há cerca de uns 20 anos. Não foi a natureza das pessoas que mudou, mas sim o pensamento filosófico, as ideologias, a compreensão da realidade. O Ministério da Saúde (1994, p. 19) afirma que “[...] os conteúdos acadêmicos devem ser voltados não só para a leitura, escrita e as operações matemáticas, mas para a preparação do indivíduo para a vida”, pressupondo a necessidade de orientação vocacional, de construção da autonomia, de conquista da independência e de valorização pessoal e social. 31 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Esta pesquisa é experimental, de campo, qualitativa, com teste e reteste. Segundo o conceito de Thiollent (1985), citado por Gil (1996, p. 60), pode ser classificada como pesquisa-ação, pois assim se pressupõe: [...] um tipo de pesquisa com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. Trata-se de uma interferência na realidade de um grupo de pessoas que usufruíram perfeitamente dos benefícios de atividades físicas planejadas e aplicadas de forma crítica, num dado espaço e tempo. 3.1 AMBIENTE DA PESQUISA A escola Associação Pestalozzi, de Ouro Preto do Oeste/RO, localiza-se à rua Ana Nery, 342, Jardim Tropical. É uma entidade beneficente de assistência social mantida pela sua diretoria, que trabalha com convênios e parcerias para a sustentação da entidade. Possui um setor clínico que faz uma triagem dos alunos, envolvendo avaliações e discussões multidisciplinares para determinar o plano de tratamento clínico e a forma de inclusão na escola, conforme demonstra o seu folder de divulgação. A entidade possui salas de aula com professores capacitados, funcionando em dois turnos com o Ensino Fundamental. Oferece, em seu refeitório, café da manhã, almoço e lanche à tarde. Possui uma sala de informática, brinquedoteca, oficina artesanal e uma mini-padaria, com a qual se gera renda para a escola e, principalmente, prepara os alunos para uma fatia do mercado de trabalho. Atende crianças desde o zero ano de idade. Além de buscar um ensino formador para a vida, conta com um setor clínico que envolve as seções de 32 psicologia, fisioterapia, fonoaudiologia e assistência social, que são fundamentais para alunos e familiares de alunos que convivem com as necessidades educativas especiais. Seu lema, “Educar Para Integrar”, posto em prática desde sua fundação, em 1987, baseia-se na filosofia do pedagogo suíço Johan Heirich Pestalozzi (17461827), cuja dedicação às crianças carentes inovou a pedagogia de sua época e influenciou a educação especial, conforme divulga o seu folder. 3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA Foram envolvidos diretamente 13 alunos com síndrome de Down, matriculados em turmas de 1.ª à 4.ª série do Ensino Fundamental. Eles correspondem a 100% do alunado com a síndrome, no curso. Indiretamente, participaram a equipe técnico-pedagógica e os pais dos alunos, que poderão usufruir dos resultados da pesquisa e do trabalho de intervenção. A pesquisa ocorreu num período de 12 semanas, compreendidas entre julho e setembro de 2007. Os trabalhos foram realizados duas vezes por semana, durante duas horas por dia, com intervalo de 15 minutos no período. A amostra é dependente, com dois momentos e interferência dos pesquisadores. 3.3 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS Para a coleta de dados relacionados ao IMC, foram usadas uma fita métrica simples, uma régua, uma balança e uma tabela para anotação dos resultados das medidas; para a medida de RCQ, foi usada a mesma fita métrica e outra tabela para anotação de resultados; para o teste de flexibilidade, um banco especialmente construído, conforme descrição a seguir, e uma terceira tabela; para as medidas de VO2 max., um apito, um cronômetro e uma quarta tabela. 33 3.4 PROCEDIMENTOS O trabalho se divide em três etapas: avaliação inicial (diagnóstica), intervenção e avaliação final. Autorizados pela diretoria da escola (que se encarregou de solicitar a autorização dos pais) a realizar o trabalho de pesquisa, os pesquisadores fizeram uma avaliação diagnóstica dos alunos. Como se tratava de aplicação de atividades físicas para a melhoria do desenvolvimento dos alunos, a atenção ao peso e sua distribuição corporal foram considerados com prioridade. Para tanto, foram realizadas medidas de IMC e de RCQ. Os dados de IMC foram tomados da seguinte forma: para a medida de altura, o aluno foi posto de pé, encostado numa parede branca e lisa. Uma régua sobre a cabeça do avaliando aponta a altura máxima, depois medida com uma fita métrica; o peso foi tomado com uma balança simples. Os dados foram postos numa tabela. As medidas de cintura e quadril também foram tomadas com uma fita métrica simples e anotadas em outra tabela. A penúltima medida de avaliação física tomada foi o teste de flexibilidade do tipo “sentar-e-alcançar”, em que se verifica a flexibilidade da região do quadril e coluna lombar, associados aos músculos posteriores da coxa. Foi construído um aparelho segundo as orientações de Gorla (1997, p. 56): Uma caixa de madeira especialmente construída apresentando dimensões de 30,5 x 30,5 centímetros, tendo a parte superior plana com 56,5 centímetros de comprimento, na qual é fixada de medida sendo que o valor 23 coincide com a linha onde o avaliado deverá acomodar os seus pés. Para fazer a medida, o aluno posicionou-se descalço, com os pés tocando a parte inferior do aparelho, sentado sobre um colchonete comum. Com as pernas esticadas, os braços estendidos e mão sobre mão (com as palmas para baixo), o avaliando flexionou seu dorso para procurar atingir a maior distância possível, medida em centímetros e milímetros, até o total de toda a parte superior plana. Assim o avaliando deveria ultrapassar a linha dos 23 centímetros, em três tentativas, anotando-se as três e tomando-se a melhor delas como validade. A figura a seguir demonstra o aparelho usado. 34 Figura 2: Ilustração do instrumento para medida de flexibilidade do tronco 56,5 cm 30,5 cm Linha 23 30,5 cm Fonte: Autores desta monografia (2007) O trabalho foi feito lentamente e após um breve aquecimento com caminhadas e corridas leves em torno da quadra de esportes. As medidas de referência para avaliação são as que constam na tabela a seguir, apresentada por Gorla (1997, p. 58). Tabela 4: Referências para o teste de flexibilidade "sentar e alcançar" Avaliação Excelente Bom Médio Regular Fraco Fonte: Gorla (1997, p. 58) Referência (em cm) 22 ou mais Entre 19 e 21 Entre 14 e 18 Entre 12 e 13 11 ou menos Com os dados de IMC, RCQ e níveis de flexibilidade, foi traçado o perfil inicial físico dos envolvidos. Depois, foi feito o diagnóstico de sua resistência cardiorrespiratória (VO2 máximo). Antes, verificou-se, junto à diretoria da Associação Pestalozzi, a condição dos alunos, considerando as contra-indicações dos testes de esforço, conforme as orientações de Pitanga (2001), que sugere as seguintes possibilidades: a) Contra-indicações absolutas: infarto agudo do miocárdio, recente; angina instável; arritmia atrial não controlada; insuficiência cardíaca congestiva; infecção aguda; bloqueio aurículo-ventricular de 3.º grau; angústia emocional significativa; embolia pulmonar ou sistêmica recente; b) Contra-indicações relativas: problemas de pressão arterial; uso de marcapasso; doenças metabólicas não controladas; outras doenças que possam interferir negativamente; 35 c) Contra-indicações momentâneas: pedir para parar; queda ou aumento de pressão arterial significativa; delírio, confusão mental, palidez e náuseas; outras reações que levem à interrupção do teste. O Teste de Cooper consiste em verificar a maior distância percorrida por uma pessoa em 12 minutos, com ritmo constante, conforme sua forma original, proposta por Kenneth H. Cooper, em 1968. Para realizar o teste, utilizou-se um cronômetro, um apito e uma tabela, exposta a seguir. Os alunos foram motivados ao teste, porque esse é um dos preceitos do mesmo: só são atingidos os melhores resultados se houver predisposição ao teste, conforme orienta o site Copacabana Runners (2007). Os alunos percorreram o perímetro da quadra esportiva, com marcações de giz a cada metro. Os resultados de cada um foram anotadas ao lado das referências esperadas, conforme consta na tabela a seguir. Tabela 5: Referências do Teste de Cooper Idade Bom 2400 - 2700 m 1900 - 2000 m 2500 - 2800 m 2000 - 2100 m 2700 - 3000 m 2100 - 2300 m Médio 2200 - 2399 m 1600 - 1899 m 2300 - 2499 m 1900 - 1999 m 2500 - 2699 m 1800 - 2099 m Ruim 2100 - 2199 m 1500 - 1599 m 2200 - 2299 m 1600 - 1699 m 2300 - 2499 m 1700 - 1799 m Muito Ruim 2100- m 1500- m 2200- m 1600- m 2300- m 1700- m M 2800+ m 2400 - 2800 m F 2700+ m 2200 - 2700 m M 2700+ m 2300 - 2700 m 30-39 F 2500+ m 2000 - 2500 m M 2500+ m 2100 - 2500 m 40-49 F 2300+ m 1900 - 2300 m M 2400+ m 2000 - 2400 m 50 + F 2200+ m 1700 - 2200 m Fonte: Copacabana Runners (2007) 2200 - 2399 m 1800 - 2199 m 1900 - 2299 m 1700 - 1999 m 1700 - 2099 m 1500 - 1899 m 1600 - 1999 m 1400 - 1699 m 1600 - 2199 m 1500 - 1799 m 1500 - 1899 m 1400 - 1699 m 1400 - 1699 m 1200 - 1499 m 1300 - 1599 m 1100 - 1399 m 1600- m 1500- m 1500- m 1400- m 1400- m 1200- m 1300- m 1100- m 13-14 15-16 17-20 Sexo M F M F M F Muito Bom 2700+ m 2000+ m 2800+ m 2100+ m 3000+ m 2300+ m 20-29 Essas referências foram usadas para o cálculo do teste de VO 2 máximo, que consiste na verificação do consumo máximo de oxigênio no tempo de percurso, cuja fórmula é: VO2 máx. = (distância em metros – 505)/45. Para a classificação dos resultados, foram usadas as referências que constam na tabela 9. Tabela 6: Referências de VO2 máx. Idade 13-19 20-29 Sexo M F M F Muito Fraca - 35,0 - 25,0 - 33,0 - 23,6 Fraca Regular Boa Excelente 35,1 a 38,3 25,1 a 39,9 33,1 a 36,4 23,7 a 28,9 38,4 a 45,1 31,0 a 34,9 36,5 a 42,4 29,0 a 32,9 45,2 a 50,9 35,0 a 38,9 42,5 a 46,4 33,0 a 36,9 51,0 a 55,9 39,0 a 41,9 46,5 a 52,4 37,0 a 40,9 Superior > 56,0 > 42,0 > 52,5 > 41,0 36 Continuação da tabela 9: Referências de VO2 máx. Muito Fraca Regular Boa Fraca M - 31,5 31,6 a 35,4 35,5 a 40,9 41,0 a 44,9 30-39 F - 22,8 22,9 a 26,9 27,0 a 31,4 31,5 a 35,6 M - 30,2 30,3 a 33,5 33,6 a 38,9 39,0 a 43,7 40-49 F - 21,0 21,1 a 24,4 24,5 a 28,9 29,0 a 32,8 M - 26,1 26,2 a 30,9 31,0 a 35,7 35,8 a 40,9 50-59 F - 20,2 20,3 a 22,7 22,8 a 26,9 27,0 a 31,4 M - 20,5 20,6 a 26,0 26,1 a 32,3 32,3 a 36,4 60 + F - 17,5 17,6 a 20,1 20,2 a 24,4 24,5 a 30,2 Fonte: Cooper (1982), citado por Saúde em Movimento (2007) Idade Sexo Excelente 45,0 a 49,4 35,7 a 40,0 43,8 a 48,0 32,9 a 36,9 41,0 a 45,3 31,5 a 35,7 36,5 a 44,2 30,3 a 31,4 Superior > 49,5 > 40,1 > 48,1 > 37,0 > 45,4 > 35,8 > 44,3 > 31,5 As anotações dos resultados dos alunos pesquisados constaram numa nova tabela. Com a avaliação física pronta, pôs-se em prática o plano de atividades de interferência, que caracterizam a pesquisa-ação. 3.5 PLANO DE ATIVIDADES DE INTERFERÊNCIA O plano de atividades envolve jogos e brincadeiras para a melhoria da socialização, auto-estima e desenvolvimento dos alunos. Foram planejadas 12 atividades de domínio tradicional e popular, uma para cada semana. Assim, cada atividade foi aplicada duas vezes, já que houve dois encontros por semana. As atividades foram adaptadas conforme o espaço, o público-alvo e os objetivos desta pesquisa. Trata-se de atividades lúdicas, e a ludicidade é fundamental para o envolvimento dos alunos em qualquer processo de ensino e aprendizagem. Favorece ao envolvimento, ao prazer de fazer, à facilitação do trabalho com os conceitos e a própria prática, já que o aluno é sempre sujeito crítico de sua ação. 3.6 TRATAMENTO ESTATÍSTICO Os dados foram avaliados à luz dos referenciais apontados para cada tipo de teste aplicado, conforme constam na literatura apresentada e neste próprio capítulo da metodologia aplicada. Tais referenciais envolvem os níveis de aproveitamento 37 num teste ou a indicação de classificação do estado em que se encontram as pessoas, quando submetidas às medidas de IMC, RCQ, flexibilidade e capacidade cardiorrespiratória. Os resultados estão apresentados percentualmente, por meio de gráficos e tabelas; estão apresentados ainda de forma comparativa, considerando-se as seguintes relações: estágio inicial e estágio final da pesquisa; apresentação de uma medida (como o IMC) paralela a outra (como a RCQ); apresentação de medidas com diferenciação de gêneros. Ou seja, o trabalho apresenta os resultados da pesquisa de campo no sentido de demonstrar se houve avanço por meio do projeto de intervenção crítica, considerando variáveis importantes na interpretação dos resultados e evitando-se generalizações que não podem ser feitas. Afinal, entre os gêneros, os resultados mudam; o resultado de uma medida como a de IMC tem relação íntima com a medida de RCQ, pois excesso de peso geralmente implica em gordura localizada. Situações do tipo apontam para um tratamento estatístico em que são privilegiadas avaliações progressivas do trabalho, que tendem a demonstrar, aos poucos, os resultados de uma forma tão específica quanto abrangente. 38 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO A primeira avaliação, que é diagnóstica, serviu para traçar o perfil inicial dos alunos. Durante a aplicação das atividades, houve uma avaliação formativa, por meio da qual foram verificados os limites e possibilidades dos alunos, bem como o interesse nas propostas. Ao final, foi feita uma nova bateria de exames de IMC, RCQ, flexibilidade do dorso e VO2 máx. Com ela, traçou-se o perfil final dos alunos, verificando se houve avanços, estagnação ou até mesmo retrocessos nas condições dos avaliandos. Os dados foram dispostos em tabelas e gráficos que constarão a seguir. As tabelas e gráficos também foram divulgados à diretoria da escola, como sugestão para avaliação de seus alunos. Afinal, com os dados relativos aos dois perfis dos alunos, tornar-se-á possível uma melhor intervenção em outros projetos que vierem a ser aplicados. Um bom conhecimento do público com o qual se trabalha é importante para a melhoria do desenvolvimento do projeto pedagógico da escola. Um trabalho com um grupo como o envolvido nesta pesquisa necessita de um longo período de execução, mas, durante as 12 semanas de trabalho, pôde-se propor situações novas aos alunos e obter resultados satisfatórios, com avanço em alguns aspectos. Afinal, como apostam Rodrigues e Castellón (2006, p. 26), as pessoas com SD “[...] estão vivendo mais tempo, mostrando com tudo isso que, ao contrário do que muitos acreditam, não são doentes.” Também não são “inválidas”, “incapazes” ou “impossibilitadas”. São, isto sim, pessoas que possuem necessidades especiais com as quais os professores precisam aprender a trabalhar. 4.1 PERFIL INICIAL DO GRUPO O grupo de alunos pesquisados é formado por pessoas com idades muito variadas, todas acima dos 14 anos, embora matriculadas nas séries do Ensino Fundamental. É compreensível que as pessoas com Down tenham a necessidade 39 de um tempo maior para sua formação e que esta não pode ser comparada com a formação das pessoas em geral, mas a distorção idade-série é maior do que a esperada. Dentre as razões possíveis, tem-se como hipóteses a matrícula tardia na escola, as dificuldades de aprendizagem ou até mesmo a falta de uma pedagogia mais apropriada. Todavia, a pesquisa não adentrou por esta vertente. No grupo, há dois alunos apenas que estão na fase da adolescência, o que corresponde a 15,38% do público. Os demais estão em idade adulta, muitos já com a idade avançada, como o caso de uma aluna com 51 anos e um aluno com 45. Portanto, o grupo é bastante heterogêneo e requer muita atenção às necessidades e interesses. O quadro a seguir demonstra os níveis de idade. Quadro 1: Idade dos alunos do grupo de pesquisa Alunos A B C D E F G H I J L M N Sexo Feminino Masculino Feminino Masculino Masculino Masculino Masculino Masculino Feminino Masculino Masculino Masculino Feminino Idade 27 26 51 30 45 29 33 22 17 14 38 28 35 A maioria é formada por pessoas do sexo masculino, correspondendo a 69,23% do público-alvo. Todavia, os estudos não demonstram que haja prevalência do acidente genético em homens, conforme explicações da síndrome, por Rodrigues e Castellón (2006). Trata-se simplesmente de um “erro genético” ― um cromossomo a mais no par 21. Por fases, as idades são apresentadas no gráfico a seguir: 40 Gráfico 2: Idade do público-alvo, por fases (em %) A grande maioria são pessoas jovens (46,15%), mas com um grupo cuja idade já está avançando (23,08%), que se enquadram na fase de maior maturidade ou fase intermediária. As idades apontam para um problema sério em relação ao IMC, pois a dificuldade de perder peso é maior na adultidade, diz Dobgenski (2007). Tabela 7: IMC dos alunos pesquisados Aluno A B C D E F G H I J L M N Altura 1,47 1,50 1,47 1,61 1,63 1,56 1,51 1,58 1,63 1,62 1,65 1,59 1,74 2 Altura 2,16 2,25 2,16 2,59 2,66 2,43 2,28 2,50 2,66 2,62 2,72 2,53 3,03 Peso 56,20 61,00 76,20 57,20 60,00 78,10 70,10 59,30 74,70 76,40 59,60 58,30 70,76 IMC 26,01 27,11 35,26 22,07 22,58 32,09 30,74 23,75 28,12 29,11 21,89 23,06 23,37 Avaliação final Obesidade leve Obesidade leve Obesidade moderada Normal Normal Obesidade moderada Obesidade moderada Normal Obesidade leve Obesidade leve Normal Normal Normal Pouco mais da metade do estrato de pesquisa estava com problema de obesidade, mas na maioria das vezes ela é leve, de modo que o grupo favorece imensamente a um trabalho de interferência, que deve envolver atividades físicas e educação alimentar. O gráfico a seguir mostra os resultados de forma comparativa. 41 Gráfico 3: Dados de IMC dos alunos, de forma comparativa (em %) Os quase 54% de alunos com obesidade não apresentaram diferenciações significativas entre os sexos, nem entre as idades, apesar do aluno com a idade mais avançada ter atingido o maior peso corporal total. Assim, o programa de interferência passa a ser válido para todos, no sentido de redução de peso ou controle, porque a propensão dos que possuem IMC normal atingirem o nível da obesidade existe, em função do seu acidente genético predispô-los a tanto, conforme as caracterizações da síndrome, feitas por Rodrigues e Castellón (2006). As medidas de cintura e quadril apresentaram resultados negativos, comprovando que há um problema sério de gordura localizada. Tabela 8: Medidas de RCQ (em m) Alunos A B C D E F G H I J L M N Cintura 0,80 0,91 1,10 0,84 0,97 0,98 0,96 0,78 0,74 0,69 1,32 0,85 1,05 Quadril 0,75 1,00 1,13 0,90 0,92 1,60 1,40 0,83 0,94 0,86 1,24 0,88 1,17 RCQ 0,94 1,10 1,03 1,07 0,95 1,63 1,46 1,06 1,27 1,25 0,94 1,04 1,11 Avaliação final Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico 42 Todos os alunos em análise apresentaram um resultado deficitário na avaliação, uma vez que a RCQ do homem não deve ultrapassar os 90 centímetros, e a da mulher, os 80, conforme referenciais presentes no site do ABC da Saúde (2007. O gráfico 4 demonstra a relação dos casos, dos menos para os mais graves. Gráfico 4: Percentuais de distribuição das medidas de RCQ (em m) Há casos de risco altíssimo, como em relação às medidas de 1,46 e 1,63 m, que correspondem a níveis acentuados de adiposidade abdominal, favorecendo à ocorrência de doenças coronarianas, dentre outras, conforme ainda o site ABC da Saúde (2007). Em geral, mais de 70% estão com a RCQ bem acima do nível normal. Os que estão com as medidas abaixo do esperado são alunos que não possuem um corpo apto, ou seja, que não se adéquam aos referenciais de saúde, à aparência desejável e aos princípios de desenvolvimento corporal, que envolvem condicionamento, conforme as definições de Gorla (2007). Para este autor, a gordura localizada ou o excesso de gordura geram uma aparência indesejável no meio social, razão pela qual as pessoas procuram pelas atividades físicas, não raro. A flexibilidade, que consiste na possibilidade de extensão dos músculos e da movimentação das articulações, também apresentou resultados negativos, comprovando que está havendo uma necessidade de investimento em atividades físicas de formação geral. Os dados constam na próxima tabela. 43 Tabela 9: Medidas de flexibilidade (em cm) Alunos A B C D E F G H I J L M N Valor Assinalado 10,2 8,7 12,5 14,8 6,9 9,8 14,6 11,3 8,5 10,6 13,2 18,5 12,1 Avaliação Fraco Fraco Regular Médio Fraco Fraco Médio Fraco Fraco Fraco Regular Médio Regular A quantidade de resultados ruins é muito alta, e o gráfico seguinte mostra a distribuição dos mesmos conforme o conceito aplicado, também de Gorla (2007), que considera as medidas de flexibilidade numa área importante e extensa do corpo: a verificação da região do quadril e coluna lombar, associada aos músculos posteriores da coxa. Gráfico 5: Distribuição dos resultados da avaliação de flexibilidade (em %) 60,00 53,85 50,00 40,00 30,00 23,08 23,08 Regular Médio 20,00 10,00 0,00 Fraco A flexibilidade é importante porque, quando existe, ajuda a prevenir lesões, às quais as pessoas com Down são mais sujeitas, em função de sua hipotonia e predisposição a problemas nas articulações, de acordo com a caracterização da síndrome, feita por Rodrigues e Castellón (2006). Mais da metade dos avaliandos encontravam-se com um resultado muito fraco, de modo que o programa de 44 atividades de interferência primou por apresentar atividades com metodologias que incluíram o aquecimento e o alongamento. O programa consistiu numa oportunidade de reforçar o princípio da importância das atividades físicas no âmbito escolar. Desde a mais tenra idade, as pessoas devem procurar harmonizar-se no, pelo e para o movimento. Quanto mais praticam atividades físicas, mas ficam aptas aos mesmos e mais saúde conquistam, numa busca intensiva e constante. O investimento em tais atividades não pode ser provisório, parcial ou elementar. Antes de instituir o programa, foi feita a avaliação cardiorrespiratória do grupo de alunos, a fim de verificar seu VO2 máx. Todos os alunos estavam aptos à avaliação, entretanto apenas 61,53 % (8 alunos) se dispuseram ao Teste de Cooper, cujo resultado foi o seguinte: Tabela 10: VO2 máx. dos alunos Alunos VO2 máx. Atingido A ― B 6,70 C ― D ― E 18,25 F ― G ― H 15,23 I 14,23 J 31,01 L 11,90 M 19,03 N 10,68 Fonte: Autores desta monografia (2007) VO2 máx. Referencial Bom ― 42,5 a 46,4 ― ― 39,0 a 43,7 ― ― 42,5 a 46,4 35,0 a 38,9 45,2 a 50,9 41,0 a 44,9 42,5 a 46,4 31,5 a 35,6 Avaliação Final da Freqüência Cardíaca ― Muito fraca ― ― Muito fraca ― ― Muito fraca Muito fraca Muito fraca Muito fraca Muito fraca Muito fraca Todos os alunos demonstraram uma freqüência cardíaca muito ruim, com a avaliação “muito fraca”, segundo os parâmetros de Cooper (1982), citado pelo site Saúde em Movimento (2007). Além disso, os alunos demonstraram muita falta de força durante o teste, assim como pouca motivação e bastante cansaço. Os alunos ficaram à vontade durante o teste, porém com a orientação de que era importante para eles irem até o fim do desafio, a fim de terem uma avaliação mais específica. O baixo resultado no Teste de Cooper tem relação com o IMC e a RCQ, porque o peso acima do normal e a gordura localizada dificultam o trabalho adequado do organismo e, com isso, geram fadiga, cansaço, mal-estar. 45 O quadro a seguir expressa um comparativo de resultados das três avaliações relacionadas ao físico e ao fisiológico. Quadro 2: Síntese das avaliações: IMC, RCQ e VO2 máx. Aluno A B C D E F G H I J L M N IMC Obesidade leve Obesidade leve Obesidade moderada Normal Normal Obesidade moderada Obesidade moderada Normal Obesidade leve Obesidade leve Normal Normal Normal RCQ Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico Medida de risco metabólico VO2 máx. ― Muito fraca ― ― Muito fraca ― ― Muito fraca Muito fraca Muito fraca Muito fraca Muito fraca Muito fraca Quase metade dos alunos não apresentam problema de obesidade, mas todos possuem gordura localizada no abdômen. Mesmo assim, seria possível um resultado melhor de VO2 máx. O fato dos alunos com IMC normal não terem um bom rendimento no Teste de Cooper pode ser explicado por uma suposta ausência de maior investimento nas atividades físicas, permitindo-se indivíduos um tanto sedentários. 4.2 APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES PROGRAMADAS Felizmente, a disposição dos alunos aos jogos e brincadeiras foi muito maior do que em relação às avaliações físicas. O lúdico é motivador. Revelou que, não importando o grupo com o qual se trabalha, sempre há respostas positivas aos desafios das atividades. No plano de elaboração e da aplicação das atividades, seguiu-se o seguinte preceito, de Favaretto, Pretto e Vaz (2006, p. 54): “As aulas de educação física devem ser prazerosas, e não precisamos ter a vitória e a derrota como cerne das atividades. Os nossos objetivos podem ser amplos e voltados ao grande grupo, buscando uma inter-relação sadia.” 46 Os grupos foram aclamados como vitoriosos em suas tarefas, porque um dos objetivos do jogo é a superação de desafios, obstáculos e até de pessoas, mas de uma forma que não seja depreciativa. Assim, a vitória e a derrota, junto aos alunos, foram tratadas como uma conseqüência natural do jogo. Favaretto, Pretto e Vaz (2006, p. 56) dizem que “[...] a confrontação com uma derrota, se bem assistida pelos professores, pode ser crucial para a visão sobre os reveses da vida futura dos alunos”, sejam eles de classe especial ou não, acrescente-se. Foi dito que vencer é importante, mas que participar é ainda muito melhor. Comprovou-se a teoria com uma dinâmica de variação na formação dos grupos em jogo, pois, a cada atividade proposta, as equipes eram remodeladas com novos integrantes ou simplesmente se formavam diferentes equipes. Consistiu numa forma de manter a inclusão, porque, mesmo dentro de um sistema de educação inclusiva, pode haver a exclusão, quando alguns alunos, menos motivados ou menos aptos a certas atividades, não recebem o apoio devido para participarem. Outro diferencial durante o desenvolvimento das atividades foi a falta de abstenções: todos os alunos se dispuseram a participar, ficando lacuna apenas daqueles que não compareceram à escola no dia das atividades (os quais consistiram em casos raros). É importante essa comprovação da educação física como atividade motivadora e envolvente, pois, por ela, é possível trabalhar uma série de conteúdos e promover o desenvolvimento global dos alunos. As múltiplas inteligências foram trabalhadas de forma intensiva, porque se pôde notar uma mudança significativa no comportamento dos alunos ― eles tornaram-se muito mais sociáveis, colaborativos e participativos. A princípio, eram um pouco dispersos, depois começaram a desenvolver a habilidade e o interesse de trabalhar em equipe, tornando-se menos individualistas ou mais aproximados uns dos outros. O quadro a seguir mostra a síntese das atividades aplicadas (vide apêndice deste trabalho) e o objetivo geral destas. Quadro 3: Síntese das atividades aplicadas Ordem 1 2 3 4 Atividade Queimada Roubar bandeira Fundamento do futsal: toque Fundamento do basquete: arremesso Objetivo geral Desenvolver habilidades motoras Desenvolver a velocidade. Desenvolver a habilidade de recepção e toque de bola de futsal. Desenvolver habilidades motoras. 47 Continuação do quadro 3: Síntese das atividades aplicadas Atividade Objetivo geral Promover o desenvolvimento físico e motor. 10 Corrida na areia Andar sobre uma linha Pular corda Salto em altura Brincadeiras com bola e sem bola Pega-bola 11 Corrida de animais 12 Encher bexigas e trocar de lugar Ordem 5 6 7 8 9 Realizar uma atividade física que aprimore o equilíbrio. Desenvolver a psicomotricidade. Desenvolver a capacidade física. Desenvolver a capacidade de agir em grupo. Promover o desenvolvimento de habilidades psicomotoras. Melhoria do desenvolvimento psicomotor e da capacidade de representação corporal. Desenvolver habilidades psicomotoras e aumentar a percepção da importância da colaboração. Em geral, as atividades físicas propostas sempre tiveram em vista o desenvolvimento da psicomotricidade. O pensamento moderno educacional não desvincula o desenvolvimento do corpo do desenvolvimento da mente e da emoção. Isso é visto nas teorias de Lopes (2002). Ademais, vinculam-se os campos de desenvolvimento interno aos campos externos, como o das inter-relações, da cultura, da história, da política, do comportamento. Assim, da mesma forma que se pensa a Educação Física como uma oportunidade para o desenvolvimento de múltiplos conhecimentos na educação geral, na educação especial ela assume uma crucial importância, porque pelas atividades físicas prepara-se para a vida. A melhoria da socialização dos alunos, somada à maior concentração, cooperação e, dentre outras vantagens, à motivação para o próprio jogo, favoreceu ao avanço no desenvolvimento dos alunos, mas com a ressalva de que o tempo de interferência desta pesquisa-ação foi muito curto. É importante, entretanto, que se plantaram sementes e se regaram muitas boas teorias já ali presentes, a fim de que bons frutos surgissem com as atividades. É o que se percebe com a análise do resultado de cada atividade, a seguir. Adiante-se que todas as atividades foram aplicadas com atenção à saúde dos educandos, de modo que sempre houve aquecimento e alongamento do corpo, nesta seqüência, antes da maioria das atividades. Nesse processo, percebeu-se que os alunos possuem pouca flexibilidade dos membros e do tronco. Por isso, procurouse intensificar as atividades de alongamento durante a aplicação do plano de intervenção. Durante todo o projeto, foram levados sucos naturais e frutas para serem distribuídos aos alunos, a fim de “alimentar” uma “cultura” da saúde no grupo pesquisado. A distribuição era sempre feita ao final das atividades, após um 48 descanso. Durante o lanche, os pesquisadores falavam da importância de uma alimentação saudável. Os alunos apreciaram bastante as frutas regionais, como banana, abacaxi, laranja, melancia e sucos exóticos, como de açaí e graviola. Não são apresentadas fotos do trabalho aqui por uma opção da escola onde foi feita a pesquisa. 1) Queimada Aplicou-se primeiro esta atividade porque ela é simples e bastante motivadora. Os alunos, entretanto, não tiveram iniciativa para a formação dos grupos, de modo que os orientadores do plano de atividades organizaram as equipes, traçaram os campos e orientaram quanto às regras. Perguntaram aos alunos se eles tinham sugestão a respeito das regras propostas e, como não houve, iniciou-se o jogo. As dificuldades de movimentação foram bastante comuns, mas dentro do que se esperava para uma turma com VO2 máx. baixo e sem maiores investimentos em atividades físicas (ao menos, não com a intensidade devida). Freire (2004, p. 118) assim caracteriza a importância da queimada: Sem dúvida, um jogo como esse ensina muito bem pelo menos duas coisas: é mais vantajoso passar até encontrar alguém bem posicionado para queimar, o que prova o valor do passe, portanto, da cooperação. Em segundo lugar, de tanto passar, os jogadores desenvolvem melhor a habilidade de passar, sem as repetições mecânicas, portanto, monótonas, das práticas mais antigas. A queimada é também uma estratégia interessante para o desenvolvimento de outros jogos, especialmente aqueles que envolvem passe e recepção, como o vôlei e o basquete, que, embora exijam técnicas diferentes, aproveitam-se de habilidades como visão de jogo, domínio de bola e a competência da manifestação do espírito de equipe. 2) Roubar bandeira Já se estava na segunda semana, de modo que os alunos mostravam-se mais à vontade na sua atividade e com os pesquisadores. Procurou-se adotar 49 sempre uma postura de amizade, companheirismo, com atenção aos interesses, necessidades e desenvolvimento da turma. A atividade de “roubar bandeira” iniciou-se revelando uma relativa desorganização dos alunos. Eles corriam rumo ao alvo sofrendo e provocando muitos “encontrões”, mas logo se organizaram e começaram a definir melhor seu tempo e campo de ação. No segundo dia da atividade, já demonstravam uma boa noção de lateralidade e organização espacial. 3) Fundamento do futsal: toque O domínio de bola é importante, agora com os pés. As atividades de Educação Física devem se atentar sempre à corporeidade, que consiste nessa concepção de formação global das pessoas, tão ensejadas por autores como Henri Wallon, citado pela revista Escola (s. d.). Segundo ela, Wallon fundamentou suas teorias em quatro bases fundamentais: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa. O movimento é uma forma da pessoa conquistar sua autonomia, auto-afirmarse num grupo, desenvolver a saúde e o bem-estar geral. É também uma forma de desenvolver habilidades de manipulação, tão requeridas em esportes como o futsal. A princípio, os alunos apresentaram muito pouco domínio na recepção e passe da bola, mas, aos poucos, começaram a definir maiores índices de acertos no toque. Com essa atividade, percebeu-se também a grande preferência que os alunos têm em relação aos jogos com bola, pois ficaram bastante motivados com a experiência. 4) Fundamento do basquete: arremesso É importante essa triangulação entre brincadeiras, jogos e esportes; e entre manipulação de bolas com os pés e com as mãos. Assim, tem-se uma formação bem mais ampla e muito mais interessante, pela variação e complementaridade entre as atividades. Se houvesse uma visão tradicionalista (e equivocada) do jogo, dir-se-ia que os resultados foram uma catástrofe, porque os alunos quase sempre não conseguiram acertar a cesta. Todavia, como a visão principal é a do processo, da evolução do aluno, e não do resultado, constatou-se que houve grande valia da 50 atividade, porque os alunos começaram a ter mais domínio da bola, a jogar com mais organização e a ter mais paciência para esperar a sua vez. É isto o que mais importa, para qualquer grupo com o qual se trabalhe: promover a evolução pessoal em vários campos da formação. As pessoas com Down necessitam muito dessa formação ampla, porque ela traz reflexos muito positivos para a superação de problemas mais específicos, como a melhoria do rendimento cardiorrespiratório ― afinal, os alunos foram orientados a respirar profundamente umas duas ou três vezes antes dos arremessos. 5) Corrida na areia Essa atividade visava fundamentalmente ao desenvolvimento físico, mas também prestou-se a um maior desprendimento dos alunos. Era de manhã e eles puderam correr com os pés descalços. O contato da pele com a areia proporcionou uma sensação interessante para eles, tanto que, após a corrida, muitos ficaram caminhando pela areia, enterrando os pés nela e espalhando-a inadvertidamente. A atividade foi bastante motivadora, comprovando que a simplicidade também traz bons resultados. 6) Andar sobre uma linha O equilíbrio é um ponto importante no desenvolvimento do corpo, porque permite observar a psicomotricidade do aluno. Os que possuem Down têm a sua capacidade psicomotora um pouco comprometida, de modo que as atividades que exigem e desenvolvem o equilíbrio devem ser priorizadas. Segundo Rezende et. al (2007), o equilíbrio reúne um conjunto de aptidões estáticas (sem movimento) e dinâmicas (com movimento), abrangendo o controle postural e o desenvolvimento das aquisições de locomoção. O equilíbrio estático caracteriza-se pelo tipo de equilíbrio conseguido em determinada posição, ou de apresentar a capacidade de manter certa postura sobre uma base. O equilíbrio dinâmico é aquele conseguido com o corpo em movimento, determinando sucessivas alterações da base de sustentação. No caso da atividade aplicada, trabalhou-se muito mais com o equilíbrio dinâmico; o estático foi observado no momento em que os alunos erravam e 51 pisavam fora da linha, recuperando sua direção orientada em seguida. Alguns demoravam um certo tempo para recompor o equilíbrio e voltar ao movimento. A atividade gerou entusiasmo, porque os alunos sentiram que havia um desafio para eles, nem muito simples, nem impossível. Divertiram-se bastante com os erros de si e dos outros. Todavia, nem todos quiseram fazer todo o percurso demarcado (andar sobre todas as linhas da quadra), mas a parte cumprida já valeu a pena pela tentativa de vencer. 7) Pular corda Os alunos tiveram grandes dificuldades na realização desta atividade, porque ela exige agilidade e resistência. Começou-se com a orientação para que os alunos tivessem atenção aos colegas, especialmente os que girariam a corda, tomando-se o cuidado para não girá-la rápido demais; o aumento da velocidade do giro ocorria gradativamente, conforme o aluno na ação de pular solicitasse o avanço. Dentre as vantagens dessa atividade, o Site Médico (2007) apresenta estas: “é barato, de fácil acesso, coloca em ação grandes e importantes grupos musculares, trabalha a coordenação, a resistência aeróbica e anaeróbica, a força de resistência de membros inferiores, exercita o cérebro e muitas outras.” Como desvantagem, cita o risco de lesões nas articulações para quem está com excesso de peso. Assim, orientou-se para que os alunos fizessem antes um aquecimento, com caminhada seguida de corrida ao redor da quadra esportiva; depois foi feito um alongamento dos membros inferiores ― com o corpo aquecido, previnem-se lesões que podem ocorrer até mesmo pelo alongamento. A atividade foi bastante divertida. A ludicidade de pular corda rememora tempos da infância, ao mesmo tempo que incita o aluno a superar um desafio crescente, que consiste em pular a corda cada vez mais rápido, enquanto ela passa sobre a cabeça e sob os pés sem tocar no corpo. Houve muitos erros, mas também um acerto: investir numa atividade motivadora e que leva a um desenvolvimento psicomotor amplo. 52 8) Salto em altura A fim de prevenir lesões pela sobrecarga numa perna, durante o salto, a atividade foi desenvolvida na quadra de areia. Orientou-se para que os alunos variassem a perna de impulso, conforme sugestões de Matthiesen (2005), que também discute a importância desta atividade na escola. Para ele, o salto é motivador porque implica na superação de desafios; para o caso desta pesquisa, ele foi interessante também para gerar a motivação ao movimento, seja qual seja. Os alunos julgaram a atividade interessante, tanto que solicitaram várias oportunidades para o seu salto. Havia a programação de realizar apenas o salto em altura, mas, diante da motivação, foi realizado também o salto em distância. Novamente percebeu-se a alegria da liberdade de ação e do contato da pele com a areia, como algo espontâneo e renovador do espírito. 9) Brincadeiras com bola e sem bola Matthiesen (2007) procura deixar claro que Educação Física não se resume a esportes, e os esportes não se resumem ao futebol. Entretanto, as atividades com bola são sempre as mais motivadoras ― seja em função da cultura nacional, que idolatra o futebol; seja em função do envolvimento que o objeto provoca nas pessoas. Para variar melhor as atividades, introduziram-se atividades com bola e sem bola, ficando clara a preferência, mas sem menosprezo às outras atividades. Nesta fase do projeto, os alunos já tinham um domínio maior da bola e já apresentavam maior interação entre si nas atividades, de modo que os resultados despontavam de forma bastante alvissareira ― os alunos despontavam com grandes promessas de evolução no seu desenvolvimento psicomotor. 10) Pega-bola Novamente houve uma atividade motivadora pela presença da bola. O grupo, cada vez mais desinibido e interessado em pôr o corpo em movimento, divertiu-se bastante com a atividade, ao mesmo tempo que pôde adiantar o seu corpo ainda mais na seqüência de desafios para o desenvolvimento global de seu ser. A 53 globalização incluía a socialização e o desenvolvimento de competências e habilidades nas ações. 11) Corrida de animais Nesta atividade tinha-se um elemento novo: associava-se ao desenvolvimento físico, psicomotor a capacidade de representação. Assim, tinha-se a ludicidade num alto nível, favorável ao bem-estar, à alegria de viver, à motivação em agir. Dentre as representações feitas, as que mais se destacaram, pela alegria geral, foram as representações de um sapo, galinha, gato e cachorro. A representação foi tão interessante para o grupo que foi possível desviar um pouco mais o foco de atenção, muito mais centrado no desenvolvimento corporal, atingindo o âmago das necessidades que as pessoas com Down possuem de expor o seu eu, a sua capacidade de ser com liberdade. Nesse sentido, esta foi uma das atividades mais promissoras. 12) Encher bexigas e trocar de lugar Com esta atividade, tinha-se novamente dois focos de atenção: o desenvolvimento da capacidade cardiorrespiratória (no encher bexigas) e a capacidade de assumir papéis e posições (trocar de lugar). As pessoas com Down possuem grande tendência a desenvolver problemas cardiorrespiratórios, ao mesmo tempo que possuem poucas oportunidades de assumirem lugares diferentes na sociedade ― geralmente ficam muito segregadas em casa ou nas escolas especiais. Daí que a atividade permitiu trabalhar com o físico, o fisiológico e o social. 4.3 PERFIL FINAL DO GRUPO NO ESTÁGIO Em 12 semanas, não é possível um trabalho de superação tão significativo em termos de distribuição de massa corporal, porque o emagrecimento demanda mais tempo e envolve um processo de mudança de hábitos que envolve a família, a 54 escola, a sociedade, a cultura, a história. Ou seja, não é fácil incentivar o consumo de alimentos saudáveis se, a cada momento, a mídia bombardeia o público com alimentos “ocos”, artificializados; nem é fácil incentivar a atividade física numa sociedade cada vez mais sedentária, agarrada que está às suas TVs, computadores, videogames, automóveis. Todavia, não se pode desistir e, de fato, aos poucos, os resultados aparecem positivamente. A tabela a seguir é uma demonstração de que os índices de IMC dos alunos melhoraram, embora os que estivessem acima da faixa “normal” ainda se encontrem na mesma posição. Tabela 11: IMC inicial e final do grupo de pesquisa Aluno IMC Inicial IMC Final Diferença (%) A 26,01 25,30 2,73 B 27,11 26,09 3,76 C 35,26 35,54 -0,79 D 22,07 23,00 -4,21 E 22,58 21,59 4,38 F 32,09 31,15 2,93 G 30,74 29,26 4,81 H 23,75 24,29 -2,27 I 28,12 27,92 0,71 J 29,11 30,15 -3,57 L 21,89 22,05 -0,73 M 23,06 23,00 0,26 N 23,37 23,42 -0,21 * Os sinais negativos representam que houve ganho de peso. Classificação Obesidade leve Obesidade leve Obesidade moderada Normal Normal Obesidade moderada Obesidade moderada Normal Obesidade leve Obesidade leve Normal Normal Normal As diferenças, para mais ou menos peso, foram bem pequenas, mas certamente as vantagens aumentarão, em função da “cultura” da atividade física e da boa alimentação que foi defendida durante o estágio. Por conseguinte, a RCQ também não sofreu mudanças significativas, para mais ou para menos, mas vale o mesmo discurso em relação aos resultados de IMC: as respostas virão com o tempo, se for mantida a estratégia de maior investimento em atividades diversificadas e em uma pedagogia que vise à formação global do aluno. Não se julga que a escola onde foi feita a pesquisa tenha uma pedagogia deficitária, apenas reforça-se aqui a importância do investimento em projetos diferenciados de trabalho na área de Educação Física. Para a melhoria da circunferência abdominal serão necessários investimentos em dieta, atividades físicas freqüentes e, dentre as quais, atividades físicas 55 localizadas ― os exercícios abdominais, que enrijecem a musculatura local e favorecem ao ganho de medidas. Esse investimento deve ser feito, inclusive, durante toda a vida, porque o organismo se adapta às condições às quais se sujeita. A próxima tabela traz os dados de RCQ, comparando-se os estágios. Tabela 12: RCQ inicial e final do grupo de pesquisa Alunos RCQ Inicial RCQ Final Diferença (%) Avaliação final A 0,9 2,85 Medida de risco metabólico 0,94 B Medida de risco metabólico 1,04 3,98 1,10 C Medida de risco metabólico 1,06 -0,77 1,03 D Medida de risco metabólico 1,14 -3,96 1,07 E Medida de risco metabólico 0,89 4,68 0,95 F Medida de risco metabólico 1,56 3,06 1,63 G Medida de risco metabólico 1,39 5,06 1,46 H Medida de risco metabólico 1,09 -2,21 1,06 I Medida de risco metabólico 1,26 0,72 1,27 J Medida de risco metabólico 1,32 -3,38 1,25 L Medida de risco metabólico 0,96 -0,72 0,94 M Medida de risco metabólico 1,03 0,26 1,04 N Medida de risco metabólico 1,09 -0,22 1,11 * Os sinais negativos representam que houve ganho de circunferência abdominal. Percebe-se aí uma quase igualdade de número de alunos com ganho e perda de medida da cintura em relação ao quadril, mas onde houve avanços na RCQ eles foram mais significativos do que onde houve perdas. Num longo prazo, com um bom programa de atividades físicas, haverá uma melhora do percentual de gordura e da hipotonia, que é difusa nas pessoas com Down. Melhorarão ainda as condições dos ligamentos, porque músculos fortes ajudam a protegê-los. O enrijecimento do abdome, por exemplo, ajuda na proteção da coluna vertebral, por ajudar a sustentar melhor o tronco e regular um pouco mais a postura corporal. Por outro lado, os resultados nos testes de flexibilidade e VO2 máx. foram bastante salutares. Isso é um aspecto altamente positivo, porque a flexibilidade é um dos fatores que predispõem ao condicionamento, e este favorece ao bem-estar, à saúde, à capacidade de realização de atividades com menores riscos de lesões ― fator tão caro às pessoas com SD. Os resultados iniciais e finais da pesquisa encontram-se no comparativo da tabela 19. 56 Tabela 13: Comparativo dos resultados do teste de flexibilidade Alunos Dados Iniciais A 10,2 B 8,7 C 12,5 D 14,8 E 6,9 F 9,8 G 14,6 H 11,3 I 8,5 J 10,6 L 13,2 M 18,5 N 12,1 Fonte: Autores desta monografia (2007) Dados Finais 12,1 10,5 14,6 17,2 9,5 10,9 15,8 13,2 10,6 13,8 15,7 18,8 14,2 Avaliação Final Regular Fraco Médio Médio Fraco Fraco Médio Regular Fraco Regular Médio Médio Médio Diferença (%) 18,63 20,69 16,80 16,22 37,68 11,22 8,22 16,81 24,71 30,19 18,94 1,62 17,36 O resultado foi altamente satisfatório, pois somente 30,77% permaneceram com o seu referencial “fraco”, mas mesmo eles apresentaram avanços, dois com mais de 30% de melhoria na sua performance. A tendência é para que, com a prática regular de atividades físicas, haja uma melhoria constante, até se atingirem resultados “bons” e “excelentes”. Grande vantagem, em termos de resultados corporais, correspondeu também ao aumento do VO2 máx. dos alunos, conforme mostra a tabela 21, a seguir, cujos referenciais são os mesmos de Cooper (1982), citados pelo site Saúde em Movimento (2007). Tabela 14: VO2 máx. inicial e final do grupo da pesquisa Alunos VO2 máx. Atingido Inicial VO2 máx. Referencial Bom A ― 35,0 a 38,9 B 6,70 42,5 a 46,4 C ― 27,0 a 31,4 D ― 41,0 a 44,9 E 18,25 39,0 a 43,7 F ― ― G ― ― H 15,23 42,5 a 46,4 I 14,23 35,0 a 38,9 J 31,01 45,2 a 50,9 L 11,90 41,0 a 44,9 M 19,03 42,5 a 46,4 N 10,68 31,5 a 35,6 Fonte: Autores desta monografia (2007) VO2 máx. Atingido Final 16,75 9,85 6,63 13,71 22,40 ― ― 16,75 19,25 35,04 13,74 22,90 12,39 Diferença (%) Entre o VO2 máx. Inicial e o Final ― 47,01 ― ― 22,74 ― ― 9,98 35,28 13,00 15,46 20,34 16,01 Avaliação Final da Freqüência Cardíaca Muito fraca Muito fraca Muito fraca Muito fraca Muito fraca ― ― Muito fraca Muito fraca Fraca Muito fraca Muito fraca Muito fraca 57 Os alunos estão longe de terem um resultado satisfatório, mas evoluíram muito em sua freqüência cardiorrespiratória, com alguns tendo mais de 30% e chegando a 47,01% de melhoria. A grande maioria teve avanços de mais de 15%, o que é bastante salutar durante 12 semanas de interferência. A motivação e o interesse também ajudam nos resultados de VO2 máx., tanto que os alunos que se negaram ao teste reduziram-se de cinco para dois. Esses aspectos também são fundamentais no desenvolvimento das atividades físicas e no atingimento dos objetivos deste trabalho. Com motivação e interesse, qualquer pessoa sempre irá avançar mais. A próxima e última tabela demonstra as diferenças de resultados obtidos em todas as avaliações físicas, lado a lado. Tabela 15: Comparativo de diferenças de resultados de todas as avaliações (estágios inicial e final, em %) Alunos IMC RCQ FLEXIBIL. VO2 MÁX. A ― 2,73 2,85 18,63 B 3,76 3,98 20,69 47,01 C -0,79 -0,77 16,80 ― D -4,21 -3,96 16,22 ― E 4,38 4,68 37,68 22,74 F 2,93 3,06 11,22 ― G 4,81 5,06 8,22 ― H -2,27 -2,21 16,81 9,98 I 0,71 0,72 24,71 35,28 J -3,57 -3,38 30,19 13,00 L -0,73 -0,72 18,94 15,46 M 0,26 0,26 1,62 20,34 N -0,21 -0,22 17,36 16,01 * Valores negativos significam ganham de peso ou medida e, portanto, prejuízos para a saúde. Por exemplo, o aluno B teve vantagens em todas as avaliações, enquanto o J teve desvantagens nas medidas de IMC e RCQ. Uma tabela do tipo é importante para a escola verificar em quais aspectos os alunos mais avançaram e em quais requerem maior atenção. Sugere-se um trabalho maior com o equilíbrio de peso, porque no desenvolvimento de capacidades os alunos avançaram muito, e o avanço será logo superado se permanecer o investimento nas atividades físicas variadas e mediadas por uma orientação que vise à saúde global do Down. 58 5 CONCLUSÃO Mesmo numa escola de educação especial, como a Associação Pestalozzi, há uma atenção sempre freqüente para a qualidade do plano estratégico, a fim de que as pessoas com Down avancem ao máximo dentro de suas possibilidades. O desafio é grande, tanto em função da natureza do grupo discutido, quanto em relação à diversidade dentro da escola, no que se refere a idade e tipos de necessidades (além de pessoas com Down, a Associação atende pessoas com outras necessidades especiais, como deficiências visuais, auditivas, físicas e múltiplas). A Educação Física é uma área que se presta imensamente à melhoria do atendimento das pessoas com necessidades especiais, porque ela age com vistas à formação global do ser. Toda disciplina está aberta da mesma forma, mas a Educação Física tem a particularidade de poder colocar o corpo em movimento e em simbiose, de uma forma que cada um e todos se beneficiem, ao mesmo tempo, de um processo de formação interna e externa. O movimento é um requisito importante na escola, pois, por meio dele, as pessoas reconhecem a si mesmas, experimentam o universo, a relação com o outro, a capacidade de si, a representação de situações. As atividades físicas, geradoras do movimento em seu mais elevado grau, se bem selecionadas, são capazes de melhorar a qualidade de vida na proporção que oportunizam as pessoas cada vez mais ao crescimento e superação de limitações e desafios. Para as pessoas com Down são ainda mais valorosas, porque melhoram as capacidades de um grupo que necessita imensamente de uma intervenção pedagógica eficiente, que auxilie nos cuidados com o corpo e a mente, de uma forma muito especial, intensiva e continuada. Com elas, é possível promover a educação inclusiva dentro da escola especial, pois as brincadeiras, jogos e esportes comparecem como oportunidades de crescimento e bem-estar (bem viver) a qualquer pessoa. Enquanto as escolas regulares estão se preparando para atender às pessoas com necessidades educativas especiais, entidades como a Associação Pestalozzi abrem-se como janelas para o horizonte, onde se descortinam futuros muito 59 promissores para as pessoas com Down, não raro ainda vistas erroneamente como limitadas além do real e incapazes. O projeto aplicado na Associação Pestalozzi permitiu evidenciar que as atividades físicas, embora não tragam resultados elevados em pouco tempo, consistem em oportunidades imprescindíveis para as melhorias continuadas da condição das pessoas com Down. O grupo com o qual se trabalhou mostrou-se, ao final do projeto, muito mais motivado, cooperativo, entrosado, dinâmico e apto a novas atividades. Ele aprendeu a se predispor para o jogo; aprendeu a jogar no jogo; aprendeu a se preparar para novos jogos. 5.1 SUGESTÕES DE PESQUISA A principal sugestão a fazer à Associação Pestalozzi é que os projetos de intervenção com atividades físicas permaneçam na escola, especialmente os que estiverem voltados à melhoria da aptidão física dos alunos. O IMC e a RCQ apresentam valores que precisam ser melhorados, mas o que requer ainda mais atenção é o VO2 máx., que, como se viu, tem grandes tendências a melhoras. A sugestão também vale para os grupos que não possuem necessidades especiais, porque as atividades físicas são benéficas em qualquer tipo de escola, grupos (definidos por idade, gênero, classe social) e sociedades. A ressalva é feita porque, geralmente, tem-se assistido a um grande descaso quanto às atividades físicas, muito mais aplicadas com vistas a torneios do que à melhoria da saúde e do desenvolvimento em geral das pessoas. Esta pesquisa abre perspectivas para outras dentro da mesma escola, com problemáticas que podem ser assim definidas: quais os hábitos alimentares dos alunos em suas residências e que alternativas podem ser propostas? Como melhorar a flexibilidade e o VO2 máx. por meio do atletismo? Como transformar as atividades físicas em oportunidades para a melhoria da alfabetização? Além dessas, há outras propostas, considerando-se a necessidade de aprimorar o condicionamento físico e de manter a expectativa de sucesso no envolvimento dos alunos com a aprendizagem, conforme se vivenciou com a experiência aqui relatada. 60 Fora da escola, uma pesquisa interessante seria verificar quais as condições que as escolas de ensino regular, de Ouro Preto/RO, possuem para receber o aluno com Down e oferecer-lhe uma educação de qualidade; o mesmo pode ser verificado em outras associações beneficentes. Há muitas oportunidades de pesquisa, em função da vantagem de a Educação Física ser uma área aberta, inclusiva, extensiva. 61 REFERÊNCIAS ABC da Saúde. Obesidade. Disponível em http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?303. Acesso em 6 de outubro de 2007. BRASIL. Ministério da Saúde. Informações sobre a síndrome de Down: destinada a profissionais de unidade de saúde/Programa Nacional de Atenção à Pessoa Portadora de Deficiência. Brasília: MS, 1994. ______. Secretaria de Educação Especial. Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental: Deficiência Mental. Brasília: SEESP, 1997. ______. Secretaria de Educação Especial. Educação especial: caderno de estudo. Brasília: MEC, 1998. (Série Atualidades Pedagógicas). ______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: educação física. Brasília: MEC, 1997. ______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução. Brasília: MEC, 1997. ______. Senado Federal. Estatuto da pessoa portadora de deficiência: projeto de lei n.º 6. Brasília, 2003. CARNAVAL, Paulo Eduardo. Medidas e avaliação em ciências do esporte. 3.ed., São Paulo: Sprint, 1998. CAVALCANTE, Meire. A sociedade em busca de mais tolerância. A sociedade em busca de mais tolerância. In: ESCOLA. São Paulo: Abril, outubro de 2006. COOPERATIVA do Fitness. Avaliação corporal. Disponível em http://www.cdof.com.br/avalia1.htm. Acesso em 6 de outubro de 2007. COPACABANA Runners. Teste de Cooper. Disponível em http://www.copacabanarunners.net/teste-cooper.html. Acesso em 7 de outubro de 2007. DOBGENSKI, Vinicius. Obesidade infantil: atitudes simples para você ajudar seu filho a não precisar de ajuda depois! In: WEB Academia, http://www.webacademia.com.br/mat-74-Obesidade-Infantil.html. Acesso em 6 de outubro de 2007. ESCOLA. Henri Wallon: o educador integral. São Paulo: Abril, [s. d.]. (Ed. Especial). FAVARETTO, Luciano, PRETTO, Luciano e VAZ, Robinson Beneduzi. O esporte na escola é inclusivo para quem? In: PÁTIO. Porto Alegre: Artmed, fev/abril de 2006. 62 FREIRE, João Batista. Fundamentos do jogo. In: Jogo, corpo e escola. Brasília: UNB/CEAD, 2004. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1996. GORLA, José Irineu. Educação física especial: testes. Rolândia/PR, 1997. GUIMARAES, Arthur. Inclusão que funciona. In: ESCOLA. São Paulo: Abril, setembro de 2003. JUNCKEN, Jorge Tadeu, OLIVEIRA, Sérgio Coelho de e MALTA, Simone Teresa Mitidieri Malta. Rio de Janeiro: Rotary Club do Rio de Janeiro, 1987. LEI de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. In: PRESIDÊNCIA da República, http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso em 5 de dezembro de 2007. LOPES, Maria da Glória. Jogos na educação: criar, fazer, jogar. 5.ed., São Paulo: Cortez, 2002. MATTHIESEN, Sara Quenzer. Uma abordagem escolar do atletismo como manifestação esportiva. In: Manifestações dos esportes. Brasília: UNB/CEAD, 2005. PENSE Magro. O que é obesidade. Disponível em http://www.pensemagro.com.br/oquee.asp. Acesso em 6 de outubro de 2007. PESTALOZZI, Associação. Educar para integrar. Ouro Preto do Oeste/RO: [s. n.], [s. d.]. (Folder). PITANGA, Francisco José Gondim. Testes, medidas e avaliação em educação física e esportes. Salvador: Edição do Autor, 2001. REZENDE, Joelmary Cristina Guimarães de et al. Bateria psicomotora de Fonseca: uma análise com o portador de deficiência mental. Disponível em http://www.efdeportes.com/efd62/fonseca.htm. Acesso em 10 de outubro de 2007. RODRIGUES, Greice e CASTELLÓN, Lena. Cada vez menos Down. In: ISTO É na Escola. 2.ed., São Paulo: Três, agosto de 2006. SAÚDE em Movimento. Tabelas de referência. Disponível em http://www.saudeemmovimento.com.br/saude/tabelas/tabela_de_referencia_vo2.htm Acesso em 7 de outubro de 2007. SITE Médico. Pular corda ― um excelente exercício físico. Disponível em http://www.sitemedico.com.br/sm/materias/index.php?mat=469. Acesso em 10 de outubro de 2007. 63 APÊNDICE: PLANO DE ATIVIDADES DE INTERFERÊNCIA 64 PLANO DE ATIVIDADES As atividades foram aplicadas a todos os alunos juntos, uma vez que se tratava de um grupo pequeno e cujas atividades são adequadas a qualquer pessoa. São atividades lúdicas, de fácil aplicação e que trazem bons resultados. 1 QUEIMADA 1.1 Objetivo geral Desenvolver habilidades motoras. 1.2 Objetivos específicos Melhorar a coordenação motora; Desenvolver a percepção espaço-temporal; Motivar o espírito cooperativo. 1.3 Desenvolvimento Foram divididos dois grupos iguais, localizados na quadra de vôlei, delimitando-se um campo para cada jogador, ao estilo tradicional. Quando a bola fosse pega, a jogada seria de quem a pegou; se caísse no campo adversário, haveria um revezamento de jogadores, a fim de que todos tivessem a chance de “atacar”. 65 1.4 Recursos materiais Uma bola de papel-jornal confeccionada pelos próprios alunos e pelos autores e pelos pesquisadores, um giz para demarcação dos campos e um caderno para anotação dos resultados da equipe. 1.5 Avaliação Em todas as experiências, a avaliação foi aplicada com atenção à participação, interesse, progressão ao longo das aulas. Para tanto, foi utilizada a observação direta e a anotação de dados. Assim, para as demais atividades, não será necessário repetir este tópico, visto que ele comum para todas. 2 ROUBAR BANDEIRA 2.1 Objetivo geral Desenvolver a velocidade. 2.2 Objetivos específicos Desenvolver a atenção durante a velocidade; Acurar a rapidez de reação; Aumentar as competências de superação de desafio. 66 2.3 Desenvolvimento A quadra de vôlei é dividida ao meio. Ao final dos campos coloca-se uma bandeira. A um sinal de apito, os alunos devem buscar a bandeira dos adversários e voltar ao campo sem que sejam tocados pelos adversários. A atividade é repetida enquanto durar a motivação. Cada vez que a bandeira é roubada, a equipe que a roubou marca ponto. 2.4 Recursos materiais Duas bandeiras, um apito e tabelas de anotação de resultados. 3 FUNDAMENTO DO FUTSAL: TOQUE 3.1 Objetivo geral Desenvolver a habilidade de recepção e toque de bola de futsal. 3.2 Objetivos específicos Desenvolver o toque rasteiro; Orientar os alunos à posição ideal para a realização e recepção do toque; Desenvolver a habilidade de recepção da bola. 67 3.3 Desenvolvimento São formadas duas filas de alunos, uma de frente para a outra, a uma distância de cinco metros entre si. Cada aluno passa para a bola ao aluno que está à sua frente, para recebê-la em seguida, sempre seguindo orientações. Os erros e acertos compõem pontuações positivas ou negativas e são anotados num caderno. Ao final, são dados os resultados, mas sempre trabalhando-se o sentido de vitória e derrota numa atividade e grupo do tipo. É preciso salientar que a participação é muito mais importante que o resultado, apesar do resultado ter grande significação para as pessoas. 3.4 Recursos materiais Uma bola de futsal, caneta e caderno de anotação. 4 FUNDAMENTO DO BASQUETE: ARREMESSO 4.1 Objetivo geral Desenvolver habilidades motoras. 4.2 Objetivos específicos Desenvolver a habilidade do arremesso; Melhorar a capacidade de reação aos estímulos; Desenvolver a coordenação motora ampla e a fina. 68 4.3 Desenvolvimento Primeiro, ao sinal de um apito, os alunos arremessam a bola parados, um a um, de detrás da linha do garrafão, tentando fazer “cesta”. Depois, a bola é posta em movimento e “passada” pelo orientador àquele aluno que deverá tentar o arremesso, obedecendo o tempo de permanência com a bola, sem incorrer em “falta” no jogo. Novamente, são formadas duas equipes, cujos pontos serão marcados. Os membros da equipe devem ir variando entre si a cada jogo, a fim de melhorar a interação entre os alunos. 4.4 Recursos materiais Uma bola de basquete, apito e materiais para anotações. 5 CORRIDA NA AREIA 5.1 Objetivo geral Promover o desenvolvimento físico e motor. 5.2 Objetivos específicos Desenvolver os fundamentos do atletismo; Melhorar a capacidade cardiovascular; Aprimorar habilidades no e para o jogo. 69 5.3 Metodologia Primeiro, fazer um aquecimento com uma corrida leve, na quadra; depois, aplicar uma sessão de alongamento dos membros inferiores, a fim de evitar lesões. Prepara-se, assim, para a realização da corrida na quadra de areia, após um sinal do orientador. A corrida é realizada para verificação da velocidade. Os alunos vão ao final da quadra e voltam, um de cada vez. Os resultados são anotados numa tabela. Ao final, todos são convidados a caminhar pela quadra, para manter uma melhor regulação do sistema respiratório, pois os sprints causam fadiga e, para evitar distúrbios, o ideal é desacelerar o organismo aos poucos. 5.4 Recursos materiais Apito e materiais para anotação de resultados dos alunos. 6 ANDAR SOBRE UMA LINHA 6.1 Objetivo geral Realizar uma atividade física que aprimore o equilíbrio. 6.2 Objetivos específicos Melhorar a orientação espaço-temporal; Aguçar a acuidade visual; Propor desafios geradores de maior autonomia. 70 6.3 Metodologia Os alunos são orientados a andar sobre a linha lateral da quadra, colocandose sempre um pé na frente do outro. Verifica-se aí o número de erros cometidos pelos alunos. Ao final da atividade, dedica-se um tempo para a realização de alguma atividade sugerida pelos alunos. 6.4 Recursos materiais São utilizados, além da quadra esportiva, materiais para anotação de resultados dos alunos. 7 PULAR CORDA 7.1 Objetivo geral Desenvolver a psicomotricidade. 7.2 Objetivos específicos Desenvolver a coordenação motora; Melhorar a atenção; Aprimorar a percepção da relação entre espaço, tempo e movimento; Motivar à resposta a um incentivo (pular a corda). 71 7.3 Desenvolvimento Promove-se o aquecimento dos alunos com uma caminhada livre e randômica pela quadra de esportes. Depois, faz-se um alongamento de pescoço, tronco, membros e coluna vertebral: elevar as mãos ao alto; tentar colocar a ponta dos dedos das mãos no chão, com as pernas retas; girar o pescoço em círculo e depois fazer movimentos de “sim” e de “não”; sentados, procurar atingir a ponta dos pés, com as pernas retas. De três em três, fazer a brincadeira: dois alunos ficam um em cada ponta da corda e a giram num movimento que desenha um círculo, ao passo que outro aluno pula sobre ela quando a mesma passa rente ao chão. Os alunos devem se alternar entre si, a fim de que todos “pulem” e todos girem a corda. 7.4 Recursos materiais Quatro cordas e materiais para anotação de rendimentos dos grupos. 7.5 SALTO EM ALTURA 7.6 Objetivo geral Desenvolver a capacidade física. 7.7 Objetivos específicos Aprimorar habilidades psicomotoras; 72 Melhorar a coordenação; Desenvolver a percepção espaço-temporal, já que não se pode errar a bola e se deve tocá-la após um chamado; Treinar habilidades para jogos com bola, de toque manual. 7.8 Desenvolvimento Primeiro são feitos o aquecimento e o alongamento, da mesma forma que na atividade número 7. Em seguida, o orientador amarra uma bola de socobol numa linha e chama cada aluno para tocar na mesma. A altura da bola varia conforme a altura dos alunos. 7.9 Recursos materiais Uma bola de socobol, barbante e materiais para anotação de resultados. 8 BRINCADEIRAS COM BOLA E SEM BOLA 8.1 Objetivo geral Desenvolver a capacidade de agir em grupo. 8.2 Objetivos específicos Desenvolver habilidades de atenção e concentração; 73 Melhorar a lateralidade e a rapidez de resposta; Favorecer ao desenvolvimento do espírito de companheirismo; Orientar à tomada de atitude nas situações de inversão (ora com bola, ora sem bola). 8.3 Desenvolvimento Sugere-se narrar uma história para que, conforme as ações do enredo, os alunos façam os movimentos relacionados, como levantar os braços para apanhar algo, dar alguns passos, representar com expressões faciais (de medo, susto, dor, surpresa). “Chapeuzinho amarelo” é um exemplo de história que pode ser usada. Depois, sugere-se a atividade de “passe e repasse”: os alunos ficam de mãos dados em círculo e, assim, com os pés, passam uma bola de salão para o colega indicado pelo orientador, de modo que todos toquem na bola. Sugere-se ainda a atividade de “pega-pega”: todos sentam-se em roda para ouvir como será a brincadeira. Um aluno começa como sendo o “pegador”. Aquele que for tocado por ele passará a ser o novo pegador, ficando o primeiro como o “perseguido”, juntamente com os demais. Ao final, é feita uma atividade de relaxamento, que inclui um debate a respeito das brincadeiras: se gostaram ou não, o que poderia ter sido mudado, dentre outras oportunidades que variam conforme os grupos. 8.4 Recursos materiais Uma bola de futebol de salão e materiais para anotação das ocorrências. 74 9 PEGA-BOLA 9.1 Objetivo geral Promover o desenvolvimento de habilidades psicomotoras. 9.2 Objetivos específicos Desenvolver a agilidade de correr; Melhorar a capacidade de reação; Ampliar a resistência e força nas pernas; Aprimorar a habilidade de desviar-se de obstáculos e assumir uma posição definida. 9.3 Desenvolvimento Os alunos são divididos em duas equipes, organizados em duas fileiras, na quadra de esportes. É mercada uma distância de 20 metros em relação às fileiras. No final da metragem, são colocadas duas bolas. Ao sinal de um apito, o aluno da frente de cada fileira sai correndo, pega uma das bolas, entrega para o segundo da fileira e vai para o final da mesma. A equipe onde todos os alunos fizerem o mesmo primeiro será a vencedora. Depois, os alunos voltam à calma. Andam pela quadra ou se sentam, inspirando e expirando o ar várias vezes, cautelosamente. 75 10 CORRIDA DE ANIMAIS 10.1 Objetivo geral Melhoria do desenvolvimento psicomotor e da capacidade de representação corporal. 10.2 Objetivos específicos Desenvolver a agilidade na corrida; Melhorar a iniciativa, o autodomínio e a linguagem. 10.3 Procedimentos Faz-se um aquecimento com caminhadas pela quadra de esportes, seguidas das brincadeiras “pula-corda” e “morto-vivo”. Em seguida, faz-se um alongamento do pescoço, tronco e membros, conforme já descrito em atividade anterior. É traçada uma linha na quadra de esportes, atrás da qual ficam todos os alunos. A uma distância de 10 metros desta linha é marcada outra. O orientador explica que os alunos, após o sinal de um apito, irão correr até esta segunda linha e voltar correndo novamente, chegando com um pulo sobre a primeira linha. Aquele que chegar primeiro, irá imitar um animal de sua escolha. Os demais voltam ao mesmo desafio por mais duas vezes, definindo-se os três primeiros colocados. Os demais também irão imitar um bicho, mas todos ao mesmo tempo, como forma de descontração. Os alunos sentam-se no chão e conversam sobre a brincadeira, com atenção à capacidade de cada um de poder superar desafios e fazer representações. 76 10.4 Recursos materiais Giz, apito, cordas e materiais para anotação dos resultados da atividade. 11 ENCHER BEXIGAS E TROCAR DE LUGAR 11.1 Objetivo geral Desenvolver habilidades psicomotoras e aumentar a percepção da importância da colaboração. 11.2 Objetivos específicos Promover o desenvolvimento da atividade pulmonar; Desenvolver o espírito da solidariedade; Melhorar a concentração. 11.3 PROCEDIMENTOS São distribuídas bexigas coloridas aos alunos, uma para cada qual: verdes, vermelhas, amarelas, azuis, rosa, brancas. Eles devem enchê-las, ficando dispersos pelo pátio. Quando estiverem com elas cheias, devem soltá-las e tocarem-nas para o alto, não as deixando cair no chão. Após alguns minutos, os alunos, com suas bexigas, colocam-se em duas fileiras, uma de frente para a outra, distanciadas a uns 10 metros. Ao sinal de um grito do orientador, que indicará o nome de uma das cores, os alunos com as 77 bexigas correspondentes irão trocar de lugar imediatamente e o mais rápido possível. O processo é repetido com as outras cores, podendo se estender enquanto houver motivação para a brincadeira. 11.4 Recursos materiais Bexigas nas cores citadas, giz para marcação das linhas e instrumentos para anotação dos resultados.